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Ética Empresarial Estudo de Caso: o escândalo da Enron Prof. Me. Laerci Jansen Rodrigues Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 2 Olá! Seja bem-vindo á nossa terceira aula! Antes de iniciar, assista ao vídeo a seguir para conhecer o assunto que será abordado nesta aula. Introdução Hoje, teremos a oportunidade de fazer uma reflexão sobre tudo o que estudamos até aqui através do caso da empresa Enron. Nossa principal intenção é analisar o quanto pode ser devastador, para a empresa e para a sociedade, negligenciar os valores estabelecidos no interior do código de ética da organização e tomar decisões que colocam em xeque o princípio da responsabilidade empresarial. Desejo a todos uma excelente aula! Estudo de Caso Para começarmos nosso estudo, acompanhe a reportagem do jornal Estadão sobre o escândalo por que passou a empresa Enron em 2002: O escândalo da Enron „Nos próximos anos, o escândalo da Enron, e não o 11 de setembro, será visto como o grande divisor de águas na história da sociedade dos Estados Unidos‟, escreveu o economista Paul Krugman, no jornal The New York Times. Esta previsão começa a tomar corpo à medida que o escândalo estende seus tentáculos entre os setores financeiros e políticos dos Estados Unidos. Gigante do setor elétrico americano, empresa admirada e sétima maior dos Estados Unidos, segundo a revista Fortune, a Enron faliu, levando junto os fundos de pensão de seus funcionários e de outros investidores da mesma categoria, num rombo de, no mínimo, US$ 1,5 bilhão, e arrastando uma dívida de mais de US$ 13 bilhões. Durante anos, diretores da empresa maquiavam os balancetes, Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 3 enxugavam os prejuízos e inflavam os lucros. A mágica contábil deu certo até o final do ano passado. O final trágico da Enron abalou a confiança do sistema financeiro norte-americano. Segundo o processo movido por ex-acionistas, a Enron escondia os prejuízo e turbinava os lucros com a conivência de quem deveria periciar a saúde contábil da empresa, a auditora Arthur Andersen. A ex-auditora da Enron aprovou a contabilidade fradudenta da empresa e os esquemas ilegais que adotou para esconder prejuízos e, depois, destruiu parte das provas do crime. (Estadão On- -line, 2002 disponível em: <http://www.estadao.com.br/arquivo/economia/2002/not 20020207p24521.htm>). No texto citado, está estampado a perplexidade e o terror que a quebra da Enron representou para a vida e para os sonhos de diversas pessoas que depositaram seus sonhos na escandalosa maquiagem de saúde financeira dessa empresa. Colocado em números, a falência da Enron, decretada em 23 de dezembro de 2001, foi a maior já registrada na história e envolveu US$ 63 bilhões em ativos e perdas de US$ 32 bilhões em valor de mercado acionário. Desde então, o caso Enron se tornou um paradigma para todas as escolas de negócios − um fracasso de governança corporativa a ser evitado a todo custo e um explícito exemplo de imoralidade empresarial que não pode ser esquecido. Antes de prosseguirmos, assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre esse estudo de caso. A credibilidade da empresa A Enron, em seu auge, era um símbolo de gestão bem-sucedida, nova e revolucionária. Entretanto, o que se passou com essa empresa é o mesmo que acontece com todas as revoluções sociais, políticas e empresariais: são muito difíceis de controlar. Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 4 Um dos principais elementos que contribuíram para que essa monumental fraude acontecesse foi a falta de cuidado das autoridades em acompanhar os movimentos da empresa, aproveitada pela alta administração da Enron, que permitiu o ocultamento sistemático da realidade aos seus acionistas. Os problemas da Enron foram consequências diretas do baixo padrão ético de sua diretoria e da completa falta de honestidade e transparência, elementos fundamentais para o espírito de confiança e credibilidade que sustentam as operações do mercado de capitais. No contexto da credibilidade empresarial, a conceituação do termo aponta para a capacidade e a honestidade da empresa em priorizar o cumprimento de seus compromissos junto aos seus stakeholders. Essa capacidade está necessariamente relacionada à honestidade, à transparência da empresa em sua comunicação e à competência de levar bem o seu negócio. A história da empresa A Enron foi fundada em 1985, com foco central no setor de transmissão e distribuição de energia, porém seu crescimento vertiginoso se deu através de muitos outros tipos de investimentos. A forma agressiva e aparentemente bem- -sucedida com que se colocava no mercado fez com que a conceituada revista “Fortune Magazine” elegesse a Enron por seis anos consecutivos, de 1996 a 2001, como a mais inovadora empresa norte-americana. De acordo com o dicionário Houaiss, o termo credibilidade tem origem no latim credibilìtas − que significa o que é de acreditar, o que é de confiança − e pode ser conceituada como atributo, qualidade, característica de quem ou do que é crível, confiabilidade. O prefixo da palavra credibilidade (cred-) tem origem no latim credo, que significa crer, emprestar, confiar, entregar, recomendar, dar crédito, ter por verdadeiro, ter como certo, pensar, julgar, reputar. Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 5 Internamente, contudo, o espírito que movia a empresa não era tão virtuoso assim. Havia uma grande rivalidade entre seus principais executivos, uma atmosfera exagerada de euforia e arrogância corporativa pelo reconhecimento e pela posição no mercado, ambição, ganância excessiva e desejo por poder, alimentadas por um “surto de „exuberância irracional‟ provocado pela alta das ações das empresas de alta tecnologia integrantes da Nova Economia.” (JUNIOR, 2002) Podemos entender a Nova Economia a partir de dois aspectos fundamentais: o primeiro está ligado à utilização das atuais Tecnologias de Comunicação e Informação em rede, na condução de um novo modelo de negócios; o segundo se baseia no pressuposto de que “os ativos mais importantes das empresas de alta tecnologia não são as fábricas ou as máquinas declaradas como patrimônio em suas demonstrações contábeis, mas sim os ativos intangíveis constituídos pelas marcas, clientes ou tecnologias que desenvolveram.” (JUNIOR, 2002) Seguindo a cartilha de Milton Friedman, a Enron tinha foco somente no lucro por ação, sempre com a expectativa de melhorar seu desempenho, como podemos constatar no Relatório Anual de 2000: “Enron is laser-focused on earnings per share and we expect to continue strong earnings performance.” A meta de crescimento da empresa era ambiciosa: de 15% ao ano, em uma área de atuação que se sabia ser instável. Dentro dessa racionalidade, a Enron adotou um rigorosíssimo sistema de avaliação de seus empregados, realizando demissões de 10% dos trabalhadores anualmente. A pressão colocada sobre os funcionários levou a uma forte competição dentro da organização. Acompanhe parte do artigo de Flavio Farah a seguir: Competição Interna: Benéfica ou Danosa? Atualmente, as políticas que produzem competição interna tornaram-se comuns. Os exemplos incluem o uso do método da distribuição forçada nas avaliações de desempenho, pelo qual apenas um número limitado de funcionários podem receber a avaliação mais alta e a correspondente recompensa; prêmios atribuídos Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 6 a indivíduos por meiode programas do tipo “empregado do mês”; concursos entre departamentos ou entre funcionários de um mesmo departamento, como por exemplo, entre vendedores ou entre equipes de venda. Nos processos competitivos, a premiação de um significa a não premiação de todos os outros. Apenas o primeiro classificado é considerado “vencedor”; todos os outros recebem o rótulo de “perdedores”. Mas nas organizações, interdependência é a palavra-chave. Dentro de uma empresa, a produtividade e o desempenho dependem muito mais da cooperação entre as pessoas do que de seus esforços isolados. A competição inibe a aprendizagem e a criatividade. As pessoas envolvidas em uma disputa concentram fortemente sua atenção nos concorrentes e em suas reações e, assim, não têm tempo para aprender nem para imaginar novas maneiras de fazer as coisas. Os sistemas competitivos são incompatíveis com o trabalho em equipe. A competição interna destrói a cooperação e estimula atos imorais como a sonegação de informações, a recusa de ajuda a colegas de trabalho e até a sabotagem do trabalho alheio. (FARAH, disponível em: <http://www.ogerente.com.br/novo/colunas_ler.php?canal=16&canallocal=48&can alsub2=155&id=1321>). A despeito do caráter da empresa ter o lucro como meta fundamental e da filosofia concorrencial e altamente predatória no interior da organização, a Enron mencionava, em seus canais de comunicação, que seus principais valores eram quatro: Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 7 Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a importância da credibilidade e como a competição interna pode ser danosa para o espírito ético dentro de uma empresa. A fraude O balanço financeiro feito pela Enron no ano 2000 − um pouco antes dos golpes serem descobertos − ostentava o fabuloso lucro de US$ 101 bilhões. O fato é que, para chegar a esse número, a empresa se utilizou de um estratagema contábil a fim de manipular seus reais ganhos e maquiar suas dívidas. Com tal desempenho, os preços das ações disparavam no mercado financeiro. No final de 1996, a ação estava cotada em US $21,50, tendo passado para o patamar de US $40 ao final de 1999. O ano de 2000 foi muito bom devido aos efeitos da desregulamentação do mercado de gás e energia, o que colocou o valor da ação em outro patamar, oscilando no entorno de US $90. (JUNIOR, 2002). Para sustentar essa fraude entre os funcionários e as outras empresas próximas, que tinham conhecimento dela, a Enron estabeleceu uma política de bonificação e remuneração dos colaboradores com as próprias ações da organização. Assim, a maquiagem acabava sendo “benéfica” para todos O ponto central da maquiagem consistia em contabilizar as receitas futuras como ganho corrente. Dessa forma, eram inseridas nas demonstrações de receitas inexistentes, o que permitia chegar ao número exorbitante apresentado no balanço do ano 2000, por exemplo. Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 8 aqueles que tinham ações, principalmente os funcionários do alto escalão, além da empresa responsável pela auditoria e contabilidade e as instituições financeiras que mantinham um estreito relacionamento com a empresa. Portanto, a Enron não foi a única empresa a jogar no lixo os próprios valores sustentados em seu código de ética. Uma série de fatores econômicos tornou, em determinado momento, a enorme manipulação das receitas e das dívidas da Enron insustentável. Durante 2001, as ações da Enron caíram de US$ 86 para US$ 0,30. Em 22 de outubro, a Comissão de Valores Imobiliários começou uma investigação nos procedimentos contábeis e parceiros da Enron. Em novembro, a Enron admitiu oficialmente ter exagerado os ganhos da empresa em US$ 57 milhões desde 1997. A Enron decretou falência em dezembro de 2001. (OBRINGER, disponível em: <http://empresasefinancas.hsw.uol.com.br/fraudes-contabeis2.htm>). Consideramos as ações da Enron acima da média do mercado e mantemos nosso preço alvo de 85 dólares por ação. (Morgan Stanley Dean Witter, 12 de julho de 2001. As ações fecharam a 39,26 dólares nesse dia) A Enron tem avançado no processo de reorientar seu foco para atividades mais lucrativas [...]. Nosso preço-alvo para a ação é de 44 dólares. (Merrill Lynch, 9 de outubro de 2001. As ações fecharam a 26,55 dólares.) Mantemos nossa recomendação de compra e nosso preço-alvo para os próximos 12 meses é de 45 dólares por ação. (CIBC, 17 de outubro de 2001. Ações a 29,06 dólares) Dentre as empresas que mais contribuíram com esse jogo, estava a Arthur Andersen, uma das mais conceituadas empresas de auditoria e consultoria dos EUA e que prestou serviços à Enron por quase dez anos. Foi através dela que a Enron conseguiu os pareceres favoráveis de suas demonstrações contábeis. Mesmo quando as ações da Enron caíram vertiginosamente, as principais revistas e instituições financeiras continuaram a recomendar a compra delas. Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 9 As notícias da morte da Enron são muito exageradas. A ação deve ter um desempenho superior ao do mercado, e o preço-alvo é de 30 dólares por ação. (Bemstein Research, 1 de novembro de 2001. Haja otimismo. As ações fecharam a 9,53 dólares, e a empresa esperava uma alta de 215%). (Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6045/caso-enron#ixzz2Y81jwkeT>). Acompanhe, ainda, o que o professor tem a dizer sobre esse caso, assistindo ao vídeo. Síntese Assista ao vídeo a seguir para relembrar as questões abordadas neste estudo de caso. Saiba mais sobre esse caso no site a seguir: <http://jus.com.br/revista/texto/6045/caso-enron#ixzz2Y81jwkeT> Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 10 1. Levando em consideração os fundamentos da Ética Contratualista, podemos dizer que as práticas da empresa Enron e da Arthur Andersen feriram esses fundamentos no seguinte princípio: a. Não mantiveram o foco nos interesses verdadeiros da alta administração dentro da empresa. b. Quebraram normas de interesse social, primando por interesses particulares. c. Negligenciaram o contrato trabalhista firmado entre a empresa e seus funcionários. d. Não cumpriram verdadeiramente o que propuseram aos seus acionistas: a maximização dos lucros. 2. Podemos afirmar que a Enron, ao colocar em curso seu esquema de fraude com foco total no lucro, feriu o próprio ethos no sentido em que: a. Não colocou o cliente e o serviço a eles oferecidos como o sentido da existência do seu negócio. b. Não respeitou a leis próprias do mercado financeiro. c. Forçou outras empresas a aderirem ao seu esquema fraudulento. d. Transformou em pó os fundos de pensão de seus funcionários. Ética Empresarial | Estudo de Caso: o escândalo da Enron 11 Referências JUNIOR, S. B. Ética empresarial e contabilidade: o caso Enron. Revista Pensar Contábil n. 16, de mai-jul/2002. MALDONADO, M. Enron, Corp. Dilemas Éticos en la toma de Decisiones. Disponível em: <ftp://ftp.puce.edu.ec/Facultades/CienciasHumanas/ ResponsabilidadSocialCorporativa/Caso%20Enron%20Dilemas%20%C3%A9ti cos%20en%20la%20toma%20de%20Decisiones.%20RSC,%20PUCE.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2013. OBRINGER, L. A. Como funcionam as fraudes contábeis. Disponível em: <http://empresasefinancas.hsw.uol.com.br/fraudes-contabeis2.htm>. Acesso em: 30 jul. 2013. Relatório Anual da Enron (2000). Disponível em: <http://picker.uchicago.edu/ Enron/EnronAnnualReport2000.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2013. SILVEIRA, A.D. M. da. Fracassos corporativos associados a problemas corporativos: o caso Enron. Disponível em: <http://www.ceg.org.br/arquivos/ Arquivo_1a.pdf>. Acesso em 1 jul. 2013.
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