Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disciplina: Processos I Professora: Carla Adriana Pizarro Schmidt Introdução Curtume é a indústria que transforma uma pele animal, que é um material putrescível, em couro, que é imputrescível. Esta transformação, da pele em couro, denomina-se curtimento. O curtimento de uma pele varia de acordo com: seu estado de conservação ao chegar ao curtume; raça; idade; sexo do animal ao qual pertencia; a finalidade para qual será utilizado o couro. A tendência dos curtumes é se especializarem em um ou em poucos tipos de curtimento. A pele quando recémtirada do animal, apresenta a constituição química mostrada na tabela abaixo: TABELA 1- CONSTITUIÇÃO QUÍMICA DA PELE COMPONENTES % Água 64 Proteínas 33 Gorduras 2 Sais Minerais 0,5 Outras Substâncias 0,5 Entre os constituintes acima, destacam-se as proteínas e, dentre as proteíras, o colágeno que constituiu 29% da pele. O colágeno é talvez a proteína mais abundante do reino animal. É o principal constituinte da pele, do tendão, do ligamento, da cartilagem e do osso. Normalmente apresenta-se sob a forna de feixes de fibrilas individuais, não ramificados, cujos diâmetros variam muito de tecido para tecido. Na pele, quando estes feixes são submetidos a um exame com microscópio de luz comum, parecem estar entrelaçados caoticamente, porém se observará uma ordem bem definida, se examinarmos áreas do tecido, como mostra a figura a seguir: Existem mais dois tipos de proteínas fibrosas encontradas nas peles: a reticulina e a elastina. As demais são não fibrosas e eliminadas durante o processamento da pele. a epiderme, que é a camada superior; a derme, a camada intermediária, que vai resultar na pele propriamente dita; a hipoderme, que é a camada inferior, encostada na carne do animal. A pele, assim como é recebida pelo curtume, pode ser dividida em três camadas principais : A epiderme é formada basicamente pela queratina, e nela encontramos os pêlos, também de queratina, e que são eliminados no processo de depilação. A derme é a camada mais importante e que vai resultar no couro final. Ela pode ser dividida em duas subcamadas: a camada termostática ou camada flor, na qual se encontra o restante do sistema epidénnico, ou seja, o músculo eretor do pêlo, as glândulas sebáceas e as glândulas sudoríparas; a camada reticular. Por fim, a hipoderme ou tecido adiposo é a camada inferior, eliminada pela operação de descarne, durante o processamento da pele. A textura das fibras, a espessura e outra série de características da pele variam de região para região. O curtidor brasileiro, baseado nestas características, divide a pele em três partes: o grupão, a cabeça e os flancos. O grupão, também chamado lombo ou dono, é a parte mais nobre, onde existe a melhor textura das fibras. Deve ser destinado para artigos mais nobres como jaquetas de diversos tipos, napa vestuário, napa estofamento, etc. A cabeça ou pescoço, normalmente de espessura maior, deve ser destinada a um artigo que também necessite de uma espessura maior, como é o caso de solas, artigos para esportes, etc. Os flancos, barrigas ou lados da pele, têm uma textura de fibras não tão boa como as outras partes, além de uma menor espessura. Devem ser destinados a artigos que não exijam muita resistência à ruptura e muita espessura, como forro para calçados. Fase "Ante-mortem" a) Defeitos naturais Os defeitos naturais são aqueles característicos do animal, tal como a natureza os criou. São defeitos naturais as partes esponjosas como as virilhas, rugas, marcas de costelas e da linha dorsal, redemoinhos, vasos sanguíneos, etc. b) Defeitos acidentais Os defeitos acidentais são defeitos que se originam na pele durante a sua vida provocados por agentes externos como o berne (tumor causado por uma larva de mosca), carrapato (que suga o sangue dos animais, "tinha" (causada por fungos), bicheira (infestação de larvas de mosca), sarna (erupção cutânea), marcas de fogo, de arame farpado, de espinhos, de aguilhões, etc. Marcas de Fogo: Fase "Post-mortem" Os defeitos da fase post-mortem são os que se originam a partir da esfola e do processo de conservação, como por exemplo, cortes de faca, manchas de sangue e de urina, manchas de sal, ataque bacteriano, manchas de ácidos graxos, manchas de ferro, putrefação, etc. Com exceção dos curtumes que já compram as peles em estágios adiantados de curtimento ou pré-curtimento (peles piqueladas, "wet-blue"), a grande maioria as adquire em estado "in-natura". Neste estado, elas podem ser: verdes, salmouradas, salgadas, soco-salgadas e secas. 1. Verdes (ou “frescas” ou em sangue’): Quando foram recém tiradas do animal e não passaram por nenhum tratamento de conservação preventiva. Sua utilização deve ser feita dentro de poucas horas, para que não sofram uma decomposição bioquímica natural; 2. Salmouradas: Quando apenas foram colocadas numa solução saturada de cloreto de sódio (sal comum de cozinha) durante algumas horas, sem nenhum outro tratamento preventivo. Com este tipo de conservação, a pele tem vida limitada entre 20 e 30 dias; 3. Salgadas: Esse é o tipo mais comum de comercialização, quando, além de sofrerem o mesmo processo anterior, o de salmoura, são ainda tratadas com sal médio ou grosso (salga seca), empilhadas durante 21 dias em "cura". Alguns frigoríficos juntam bactericidas ao sal. Estas peles se conservam de 130 a 360 dias; 4. Seco-salgadas: Quando as peles, depois de serem salmouradas, são secas à sombra, espichadas sobre quadros, sua conservação é quase ilimitada; 5. secas: Quando as peles são simplesmente espichadas sobre quadros e secas à sombra, sua conservação é quase ilimitada. As peles têm conservação quase ilimitada, se tratadas com produtos que evitem insetos. Existem outros processos de conservação, mas não são comuns no Brasil. Ribeira: a) Estocagem As peles, ao chegarem ao curtume, são estocadas, sendo classificadas por peso, tamanho, procedência ou qualidade, de acordo com o método de trabalho do curtume. As peles verdes logo entram no processo normal de curtimento, sem estocagem. Este local de estocagem das peles "in natura" é denominado "barraca" (ou "trapiche" ou armazém de peles). Alguns curtumes procedem ao recorte de parte da cabeça, garras, rabo e nutras partes que não interessam à industrialização, ainda na barraca, antes de colocar as peles no processo normal de curtimento. A grande maioria, no entanto, prefere cortá-las em etapas mais adiantadas do processo de curtimento, quando estas partes já se encontram caleadas. b) Remolho O primeiro processo ao qual as peles, com exceção das verdes, são submetidas é o remolho ou reverdecimento. Usa-se como veículo a água com conservantes e produtos chamados tensoativos. O processo de remolho tem a finalidade de: v eliminar os eventuais produtos utilizados para a conservação das peles e possíveis impurezas contraídas por ocasião do transporte e da estocagem; extrair eventuais restos de sangue coagulados nos vasos capilares e proteínas não-fibrosas; hidratar (dar água) a pele, deixando-a como se fosse verde. Modernamente, o processo é feito em cilindros rotativos chamados ‘‘Mães” ou “tambores” ou “fulões”. Fulão Fulões c) Depilação e caleiro Após o remolho ou reverdecimento, efetua- se a eliminação dos pelos por processo químico, utilizando-se basicamente soluçõesalcalinas fortes, constituídas com sulfeto (o mesmo que sulfureto) de sódio e hidróxido, de sódio (cal queimada ou hidratada). As quantidades de um ou de outro variam de acordo como tempo a que se submete a pele ao processo e com o fim a pele se destina. O caleiro, também chamado de encalagem, é realizado juntamente com a depilação, tendo uma ação química sobre o colágeno, a elastina e a reticulina. Dá-se um inchamento da pele com abertura das fibras que a compõem, ocorrendo a remoção do material interfibrilar e a saponificação parcial das gorduras. As peles, após passarem por estes processos, sao denominadas "tripas". d) Descarne O resíduo que dai resulta recebe o nome de carnaça. As peles verdes são descarnadas antes da depilação, sendo a primeira operação a que são submetidas. As demais peles devem ser submetidas ao descarne após o remolho, mas, por motivos de ordem econômica, muitas vez isso não acontece. Após o descarne, efetua-se um recorte na tripa, com o objetivo de eliminar partes que não interessam à industrialização, ou que dificultam operações mecânicas posteriores. Descarnadeira e) Divisão A divisão ou rachação consiste em cortar a pele em tripa no sentido de sua superfície, horizontalmente, em camadas. O número de camadas é variável, dependendo da espessura da pele. Normalmente são duas: q a parte superior, a mais nobre, onde originalmeute estavam implantados os pêlos, denominada “flor”; e q a parte inferior, considerada como subproduto, embora sirva para a elaboração de produtos nobres, tais como, camurções para calçados e vestimentas, denominada "raspa" ou "crosta". Divisora Alguns curtumes efetuam esta operação após o Curtimento. Depois da divisão, faz-se, principalmente nas raspas, um novo recorte, retirando-se as partes mais finas. Curtimento a) Descalcinação e purga Após a divisão, as tripas são recolocadas no fulão e submetidas a dois processos químicos simultâneos: a descalcinação e a purga. A finalidade da descalcinação, que também chamado de desencalagem, é baixar o grau de acidez ou seja, o pH, que na depilação chega a 13,0 , passando para 8,0 - 8,5, neutralizando a cal combinada na pele. A purga, que é um tratamento enzimático, tem por fim eliminar os restos de sangue (globulinas) porventura existentes entre as fibras e nos vasos sanguíneos, digerir gorduras naturais e melhorar as qualidades da elastina. É um processo que deve ser muito bem controlado quimicamente. Na purga, o pH baixa um pouco em razão da presença de sais neutros ou levemente ácidos com os quais é misturada. Findo o processo, as peles são lavadas com agua. b) Piquel O piquel, também realizado no fulão, é um tratamento salino-ácido que tem duas finalidades: Conservação (pode-se comercializar as peles neste estágio); e preparação das peles para o curtimento propriamente dito. O pH final do piquel varia de acordo como tipo de curtimento que será efetuado. a) Curtimento No mesmo banho do piquel, ou em uma nova solução, passamos ao processo principal: o de curtir. Basicamente são dois os tipos principais de curtimento presentemente utilizados pelos curtumes brasileiros: Vegetal: os curtentes vegetais variam muito, de acordo com a natureza dos vegetais de onde são extraidos. No Brasil, os taninos vegetais mais usados são os de acácia negra e quebracho; eventualmente são usados os de barbatimão, angico e mangue. Dependendo do vegetal, podem ser extraídos da casca, da folha ou do lenho. Este tipo de curtimento é mais usado em peles que vão originar solas, arreios de montaria, correias, cintos, alguns tipos de calçados especiais e uma série de outros artefatos. Mineral: é o tipo de curtimento mais disseminado hoje em dia, no qual o agente curtente principal são os sais de cromo (óxidos). É um curtimento rápido que torna o couro mais resistente à passagem de da água, mais elástico e flexível, e que se deixa tingir melhor. Apesar da enorme variedade de utilizações deste tipo de curtimento, é usado, principalmente, em couros que vão originar vestimentas e cabedais. Cabe aqui observar que existem muitos tipos de curtimento. mas todos muito pouco usados em escala industrial. Entre estes, podemos citar o curtimento com taninos sintéticos, com sais de alumínio de zircônio, formol, etc. f) Rebaixe A pele, agora curtida, é chamada couro. Este, para ser aproveitado industrialmente, deve apresentar uma espessura uniforme. A divisão, por mais exata que seja, não deixa a pele uniforme depois do curtimento. A explicação é a seguinte: a pele, na sua estrutura fibrilar, não é igual em todo sua superfície e, assim, em cada parte existe um certo tipo de tecido. Como o curtimento nada mais é do que a penetração e a fixação dos curtentes nos interstícios dos tecidos, a pele, após o curtimento, tende a inchar mais em um local do que em outro. Efetua-se então o enxugamento mecânico, passando a pele entre dois rolos que retiram o excesso de água, e a seguir a operação de rebaixe, que consiste em igualar a espessura da pele. Rebaixadeira Etapas do Recurtimento a) Neutralização Após o rebaixe, o couro volta ao fulão para ser submetido a novos processos químicos. Em couros curtidos ao mineral, é indispensável a neutralização. Como o nome diz, o processo visa neutralizar os ácidos livres, bem como sais de cromo e outros sais solúveis. Tais produtos, quando não eliminados adequadamente, provocam uma fixação irregular dos produtos adicionados posteriormente, como por exemplo, recurtentes, graxas e corantes, ocasionando manchas e/ou problemas de fixação. b) Recurtimento propriamente dito O recurtimento, de modo geral, é um complemento do curtimento. Neste processo são dadas certas características ao couro, não obtidas no curtimento básico. Qualquer agente curtente pode ser usado como recurtente, sozinho ou em combinação com outros. Existem, além destes, produtos específicos para este processo, sendo normalmente taninos de origem sintética ou resinas. c) Tingimento O tingimento é o processo no qual se proporciona cor ao couro através de anilinas. Como as anilinas são solúveis, transparentes, conferem a cor sem cobrir qualquer parte do couro. Este processo pode ser feito em fulão, em tanque, em máquinas de imersão, por aplicação manual com escovas, com pistolas de ar comprimido. Nesta seqüência de operações, o tingimento é efetuado em fulão. d) Engraxe O engraxe consiste na adição de lubrificantes que devem conferir ao couro a maciez desejada, sem incorrer em problemas de queda de resistência ou de migração de componentes que possam dificultar as operações seguintes. Além disso, o engraxe deve proteger as fibras contra a oxidação. Os óleos usados no engraxe do couro podem ser de origem animal, vegetal ou mineral. Também podem ser crus ou quimicamente tratados. Pré-acabamento a) Secagem Após o engraxe, o couro encontra-se totalmente molhado. Efetua-se então o processo de secagem, com o qual procura-se retirar toda água que o couro contém (dependendo do tipo de couro, pode-se submetê-lo à máquina de estirar, antes da secagem, a fim de alisar a flor do couro e permitir melhor rendimento). A operação de secagem pode ser efetuada de várias maneiras: ao ar - secagem natural, onde os couros são pendurados ou presos em quadros de madeira (estaqueados) e deixados em ambiente natural; em estufas - secagem efetuada em recintosfechados ou aparelhos com câmaras aquecidas. Os couros podem ser simplesmente pendurados, presos em quadros de madeira (estaqueados) ou de aço (toggling), deitados sobre esteiras (túneis) ou colocados em placas de vidro (pasting.). O toggling normalmente é apenas usado para a secagem do couro após o amaciamento e os túneis para a secagem dos filmes de acabamento, como veremos mais adiante; Estufa de ar quente Pasting Com água quente - sistema em que os couros são colocados sobre uma chapa de ferro, esmaltada ou não, aquecida com vapor d’água (secoterm) a vácuo - secagem feita em aparelho que gera calor e que produz no seu interior um vácuo (retirada de ar), onde está depositado o couro, fazendo as moléculas d’água se dispersarem rapidamente; outros - existem outros métodos de secagem pouco usados comercialmente, como a secagem com raios infravermelhos ou sistema de alta freqüência. b) Recondicionamento Também chamado reumedecimento ou reumidificação, o processo de recondicionamento consiste em proporcionar ao couro uma determinada umidade, uma vez que a secagem, principalmente quando muito rápida, elimina praticamente toda a água. A operação pode ser efetuada em máquina que pulveriza água, ou com pistolas manuais, sendo os couros empilhados para melhor distribuição desta umidade. Os couros secos também podem ser empilhados no meio de serragem de madeira, previamente umedecida. c) Amaciamento Após a secagem, o couro tende a ficar encartonado, principalmente devido a um ressecamento excessivo das fibras, além de outros fatores. Assim, após o reumidecimento dos couros, efetua-se o amaciamento. Antigamente a operação era feita manualmente. Hoje, os sistemas usados são mecânicos. Assim, o amaciamento pode ser efetuado das seguintes maneiras: Através do "jacaré": que é uma máquina que possui um funcionamento semelhante ao abrir e fechar das mandíbulas de um jacaré. A máquina efetua o amaciamento por meio de um esfregamento energético, que estende o couro em todos os sentidos, uniformizando-lhe as fibras; Através da máquina de amaciar vibratória: onde este "esfregamento" é feito por vários pregos ou pinos, grossos, com pontas arredondadas. que penetram em um buraco com o formato desse pino; o couro passa entre os pregos e os buracos, efetuando-se assim o amaciamento; Máquina de Amaciar Vibratória Através de fulões: onde inclusive é possível efetuar o amaciamento conjuntamente com o recondicionamento. Os couros são trabalhados em fulão seco, com serragem de madeira previamente umedecida ou mesmo com um pouco de água pura, além de bolas de ferro ou chumbo, revestidas com uma camada de borracha; Através da roda de amaciar: que consiste em uma roda giratória, com dentes arredondados, por sobre o qual se esfrega o couro, hoje praticamente não mais usada. d) Estaqueamento A operação de estaqueamento já foi comentada no item sobre secagem. É normalmente efetuada após o amaciamerto, para retirada do excesso de umidade e aumentar o rendimento do couro. Toggling Grampo para Toggiling ou Cachorrinho e) Lixamento Esta operação, também chamada bufeamento ou correção da flor, visa a uniformizar a superficie flor do couro eliminando, quando não muito profundos, eventuais defeitos existentes, além de facilitar a penetração e aderência do filme de acabamento. Os couros lixados também são chamados couros com flor corrigida. Lixadeira f) Desempoamento O desempoamento consiste simplesmente em tirar o pó do couro, produzido durante a lixagem. Tal operação é feita mecanicamente, com escovas ou por sistemas de exaustão. Após o desempoamento, ou, no caso de couros flor integral, após o estaqueamento, os couros são recortados nas bordas, onde existem partes ásperas ou outras não interessantes, sendo então classificados para receber o acabamento. g) lmpregnação Esta operação é efetuada, eventualmente, em couros que apresentam flor solta, defeito identificado pela formação de inúmeras rugas no couro, quando este é dobrado e resultante do rompimento das fibras que ligam a camada termostática (flor) à camada reticular. Consiste na aplicação de resinas especiais (bastante diluídas) que, com auxilio de penetrantes, têm a capacidade de se introduzir no couro e ligar, entre si, as camadas flor e reticular. Acabamento a) Características exigidas Os tratamentos aos quais se submete um couro diferem segundo a finalidade deste couro. Portanto, as características exigidas do acabamento dependem das propriedades individuais desejadas. Entretanto, algumas exigências são fundamentais, devendo satisfazer a qualquer acabamento: v A camada de acabamento aplicada no couro deve ser fixada de forma firme e permanente, a aplicação e distribuição deve ser uniforme, sem manchas, com exceção dos chamados produtos de apresto (acabamento) para couros afelpados como camurça, nobuc, etc; v Após a aplicação da solução líquida, esta deve secar rapidamente para evitar a aderência de sujeiras v Deve ter a propriedade de inchar facilmente, para que uma outra camada líquida aplicada se fixe bem, porém não deve inchar demasiadamente, para que, numa aplicação mais brusca, por exemplo, manualmente, de uma outra camada, não se arranque ou estropie a que está seco; v Os produtos de acabamento devem igualar o máximo possível o aspecto de couro em toda a superfície, permanecendo transparente, ou cobrindo-a completamente, dependendo do acabamento, de modo que a cabeça tenha o mesmo aspecto que o rabo; v O acabarnento não deve formar uma crosta, mas sim, carregar o menos possível a superfície, adaptando-se a ela de tal maneira, que o couro ao ser dobrado não produza rugas, conservando o toque natural; v O acabamento deve ser terminado de maneira que no armazenamento e na transformação não tome pó e seja susceptível o menos possível, para que não fique marcada impressão dos dedos, e que, ao menos possa ser limpo depois da elaboração; Na costura não deve arrebentar ao ser perfurada pela agulha, nem separar-se do couro. Não deve permanecer branda, nem pegajosa, nem tampouco endurecida; v Deve ser estável à prensagem, não modificando o tom da cor nem descolando, devendo ainda ser resistente à ação de dissolventes orgânicos como por exemplo acetona, álcoois, etc., encontrados na composição de certos adesivos, lustros, etc, v Para o uso dos artigos de couro, o que se exige principalmente do acabamento á uma boa durabilidade, para que o couro conserve o maior tempo possível o mesmo estado que apresentava antes de seu uso, o acabamento deve ser o menos susceptível possível oferecendo condições de ser limpo facilmente, sem que se deteriore pelo tratamento de limpeza; v Não deve desbotar, nem perder o brilho inicial, ou, em caso de ser fosco, não ganhar brilho; deve repelir a umidade, e a água não deve manchá-lo nem descorá-lo, nem depois do couro novamente seco, porém isso não deve prejudicar a transpiração; v Deve ser suficientemente elástico, para que não se rompa ao ser dobrado. Além de ser suficientemente duro, para que não se desgaste por abrasão, não deve ficar pegajoso, sob a ação do calor ou exposição aos raios solares, nem deve ficar quebradiço sob a ação do frio. A questão agora é como obter um acabamento que atenda a propriedades tão antagônicas. b) Tipos de acabamento Os acabamentos podem ser classificados de várias formas, seja pelo tipo de resina utilizado,pelo aspecto final apresentado, pelo tipo de couro usado, etc. Vamos aqui comentar os acabamentos em função do material corante usado, assim, os acabamentos podem ser: pigmentados (efetuado principalmente em couros onde há a necessidade de efetuar correções mais profundas, visando a atenuar defeitos do material, já que os pigmentos, sendo insolúveis, cobrem a superfície do couro); anilina (não possui pigmentos, recebendo apenas corantes, a fim de que sejam salientados o aspecto e a aparência natural do couro); semi-anilina (acabamentos anilina que sofrem a aplicação de pequenas quantidades de pigmento para uniformizar a cor ou proporcionar certos tipos de efeitos); natural (no caso de atanados, raspas acamurçadas e outros tipos, onde não é usado qualquer tipo de material que possa conferir alguma cor diferente da cor natural do curtimento). c) Aplicação Os acabamentos pigmentados são aplicados, de modo geral, em três camadas: fundo, a cobertura e o apresto ou lustro. Desta forma é que se consegue conciliar as diferentes propriedades exigidas de um acabamento. O fundo prepara o couro para aplicação da cobertura. Geralmente é à base de resinas moles, para conservar a flor suave e elástica. Sua finalidade é fechar a superfície do couro para impedir que a cobertura, conseqüentemente, os pigmentos penetrem demasiadamente no couro. O fundo deve fixar- se bem, já que dele depende a boa adesão de todo o filme de acabamento. A camada fundo não é composta necessariamente de uma só aplicação, podendo ter duas ou mais demãos, o fundo pode ser aplicado manualmente, com escovas, com máquinas munidas de escovas, máquinas de cortina, com pistola ou com máquina de gravar por pontos. Máquina de Cortina Esta última é a máquina mais recentemente desenvolvida, na qual a tinta é aplicada sobre o couro através de um rolo, cheio de pequenos buracos (pontos) simetricamente distribuídos, que retém a tinta (pela própria tensão superficial), soltando-a quando o couro passa e a absorve. A formulação do fundo compreende os seguintes irgredientes: Material de cor (pigmentos), resinas (responsáveis pela formação do filme), produtos auxiliares (penetrantes, plastificantes, ceras, etc) e solvente (água ou solvente orgânico). A quantidade de cada ingrediente varia muito de formulação para formulação, devido a diversos fatores como o tipo de couro, sua textura e seu toque, a cor do acabamento, etc. A camada de cobertura tem uma importância básica no acabamento. Sua composição, em geral, é base de resinas mais duras que as da camada de fundo. Isto melhora sua resistência à fricção. Esta camada deve ser bem fina, para que permaneça o mais elástica possível. Por isso, recomenda-se que seja aplicada com pistola, seja rotativa ou manual. Isto também facilitará a obtenção de uma maior uniformidade. A aplicação da camada de cobertura não se restringe a uma só demão, podendo ser aplicada em mais vezes. A camada lustro, também chamada top, por ser a última camada do acabamento, é a que determina, de um modo geral, o aspecto final do couro quanto a brilho, opacidade e toque da superfície. Do lustro depende a resistência aos diversos tratamentos pelos quais passa o couro, em especial a resistência à umidade e à fricção. O lustro pode influir também na resistência aos produtos de proteção e limpeza. O lustro, normalmente, é à base de resinas duras, não apresentando pigmento na sua composição. É importante que o técnico de acabamento observe que, quanto mais dura for a resina, tanto mais fina deve ser a camada, pois, do contrário, podem ser prejudicadas a estrutura da flor e a elasticidade do acabamento. Após a aplicação de cada camada. ou após cada demão, o couro é submetido a uma prensagem a quente, a fim de moldar e uniformizar as camadas, usando-se a propriedade de termoplasticidade das resinas. Para tanto, podem ser usadas a estampadeira, a prensa hidráulica ou prensa rotativa (espelhadeira). Estampadeira Prensa Hidráulica Em couro anilina, o material de cor utilizado, logicamente, é a anilina. Neste tipo de couro, existem várias possibilidades de trabalho. A anilina pode ser aplicada no processo de tingimento em fulão de modo que o couro, após a secagem, já se encontre na cor desejada. Pode, então, ainda receber uma leve correção, efetuada com pistola, e uma camada de lustro, como no caso de couros pigmentados. A anilina também pode ser aplicada na máquina de tingir por imersão, onde o couro, deitado sobre uma esteira, passa por um tanque com uma solução de corantes. Também pode ser aplicada através de pulverização com pistola, ou com a máquina de gravar por pontos. No caso de couros semi-anilina, temos um acabamento que combina corantes e pigmentos. A anilina é aplicada por um dos processos mencionados anteriormente para couros anilina. Após o couro estar seco, aplica-se uma leve camada de cobertura com pigmentos, principalmente para uniformizar a cor. No mais, recebem tratamento idêntico ao dos couros pigmentados. Couros com acabamento natural, ou seja, sem a utilização de materiais que dão cor, podem receber um acabamento especial à base de ceras ou somente resinas para a obtenção de certos efeitos. Tipos de couro Definimos a seguir alguns dos tipos de couro mais comuns encontrados no mercado brasileiro: Abufalado: Também chamado nobuc, é couro usualmente curtido ao cromo, tingido. usado principalmente para cabedais, feito de peles vacuns (inclusive bezerros), e algumas vezes de peles suínas, lixado no lado flor para dar uma superfície aveludada e suave. Anilina: Couro normalmente flor integral, tingido por imersão em banho de corantes e que não recebeu qualquer cobertura de um acabamento pigmentado, também o couro tingido com corantes por pulverização (spray”) ou outro método qualquer. Antique: Couro ao qual foi dada a aparência de velho e usado, por exemplo, pela formação, no couro tingido, de uma superfície marcada ou enrugada, usualmente de forma regular, através de gravação. Box-calf: Couro de bezerro, totalmente curtido ao cromo, liso ou graneado, usado principalmente como couro cabedal. Camurça: Termo genérico que identifica os couros afelpados. Couros muito macios, sem flor (originam-se normalmente de raspas), normalmente curtidos ao cromo e tingidos. Camurção: Camurça de grande espessura, originária de crostas vacuns (raspas). Camurcina: Camurção fino. Chamois (Chamoá): Couro de aspecto afelpado, curtido por processos envolvendo óleos marinhos ou de peixe. Couro ao cromo: Couro cujo curtimento foi efetuado com sais de cromo; pode ser recurtido com qualquer outro curtente. Couro atanado: Couro cujo curtimento foi efetuado com taninos. Flor corrigida: Couro cuja superffeie flor foi levemente lixada para remover defeitos e restaurada mais ou menos pela aplicação de acabamentos que contêm pigmentos, resinas sintéticas, etc. Flor integral: Couro cuja superfície flor permanece intacta, não possuindo qualquer cobertura pigmentada. Impregnado: Couro ao qual foi introduzida uma considerável quntidade de materiais, tais como graxas, ceras parafínicas, resinas a fim de melhorar propriedades, tais como, permeabilidade à água ou resistência ao uso. Diz-se também dos couros que sofreram a aplicação de resinas especiais, no processo de impregnação, a fim de amenizar o problema de flor solta. Naco: Couro vaqueta, espesso, resistente, destinado geralmentepara acabamento tipo verniz ou nitrocelulósicos. Napa: Couro usualmente curtido ao cromo que se caracteriza pela maciez, flor integral ou pelo acabamento de toque bem suave; usado inicialmente em estofamento e vestuário e hoje também em calçados. Nobuc: O mesmo que abufalado. Pelica: Couro fino, geralmente de cabra, podendo também ser de carneiro ou cabrito, de toque brando e macio, destinado normalmente para artigos finos. Pigmentado: Diz-se do couro que recebeu a aplicação de uma camada de cobertura resultante da mistura de pigmentos, resinas e outros produtos, que esconde a superfície flor natural. Semi-acabado: Couro que, após curtido, recurtido e engraxado, foi secado não tendo ainda recebido qualquer tratamento quanto ao seu aspecto final; couro que ainda não sofreu a aplicação da camada de acabamento. Semi-anilina: (Couro tingido, geralmente por imersão, com corantes, e que recebeu uma pigmentação bem leve, usualmente para uniformizar a cor. Semi-cromo: Couro no qual o curtimento foi efetuado em duas etapas: na primeira, ele é curtido com tanino, seguido de um curtimento ao cromo ou vice-versa. Sola: Couro curtido e acabado para solas de calçados; normalmente é curtido com tanino vegetal e tratado com cargas para aumetar-lhe a espessura e a resistência ao uso. Vaqueta: Couro curtido ao tanino, cromo ou semi-cromo, flor integral ou corrigida, liso ou estampado, mais armado que couro napa, destinado a cabedais de calçados. Wet-blue: Couro que já sofreu os processos de ribeira foi curtido ao cromo e que permanece úmido, podendo ser estocado ou comercializado neste estado.
Compartilhar