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Anulação de testamento público - Sucessões

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INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa tem o intuito de realizar uma análise das possibilidades de anulação do testamento público, uma vez que, o testamento é um ato solene que, ao lado do casamento, representa um dos atos jurídicos de direito privado que mais exige o cumprimento das solenidades estabelecidas em lei. Entre estas exigências, a referência do presente trabalho será a falta de discernimento do testador que, em caso de inobservância, acarretará a decretação da anulação da referida célula testamentária. Porém esse estudo analisa a aplicação de uma incapacidade determinada pelo direito sucessório inexistente na parte geral do Código Civil a qual, regulamenta as incapacidades para os atos da vida civil.
Assim, por ser o testamento um negócio jurídico, requer-se para sua validade, que o agente seja capaz, bem como que o objeto seja lícito e que seja seguida a forma prescrita em lei, conforme disposto no art.104, do Código Civil.
Outrossim, no que concerne a capacidade testamentária ativa a mesma é tida como sendo um conjunto de condições necessárias para que alguém possa juridicamente dispor de seu patrimônio por meio de testamento, e levando-se em perspectiva tais fundamentos a análise será produzida tendo em vista a inobservância de tais requisitos, mais especificamente, a posição da doutrina e da jurisprudência quanto à possibilidade de anulação testamentária.
1. ANULAÇÃO DE TESTAMENTO PÚBLICO
O testamento público é uma das formas do testamento ordinário, este podendo ser adotado por qualquer pessoa capaz e em qualquer condição. Mais especificamente, este testamento é uma escritura lavrada pelo tabelião ou por seu substituto legal em livro de notas, mediante atendimento à vontade do testador, feitas em língua nacional, na presença de duas testemunhas.
Em regra o testamento público é exarado verbalmente, ou seja, o testador informa ao tabelião como se dará a distribuição de seus bens, descrevendo cada um deles para que o tabelião informe em seu livro de notas.
O testamento público é uma escritura pública, um ato notarial, que deve ser lavrado ou redigido em livro de notas.
Assim sendo, a capacidade testamentária do agente determina sua validade, sendo ela verificada no instante em que é feito o testamento. A capacidade pode se dar ativamente ou passivamente, sendo a primeira definida pela análise de quem pode testar e a segunda indicando os que podem ser beneficiados com o testamento.
Conforme preceitua Sílvio de Salvo Vanosa: “O agente capaz de testar tem legitimidade ativa para o testamento. Aquele que pode receber por testamento tem legitimidade passiva testamentária.”�
Deste modo, a capacidade para fazer testamento é a condição da validade jurídica do ato de última vontade.
A esse respeito, Maria Helena Diniz, ensina com muita clareza:
A capacidade testamentária ativa é o conjunto de condições necessárias para que alguém possa, juridicamente, dispor de seu patrimônio por meio de testamento. Para que o testador tenha capacidade para testar será preciso inteligência, vontade, ou seja, discernimento, compreensão do que representa o ato e manifestação exata do que pretende. A capacidade é a regra, e a incapacidade, a exceção, só se afastando a capacidade quando a incapacidade ficar devidamente provada.�
Outrossim, além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.
Desta forma, mesmo a pessoa tendo capacidade civil, proclamada pela parte geral do Código Civil, poderá em matéria sucessória ter uma incapacidade testamentária, pois poderá estar desprovida de discernimento, em razão de estar impossibilitada de emitir vontade livre, que é um pressuposto fundamental para a efetiva realização de um testamento.
Vale dizer ainda, que a pessoa por não encontrar-se no gozo de suas faculdades mentais, não terá discernimento e assim, não terá a capacidade de testamentar.
Trazendo a colação novamente os ensinamentos de Maria Helena Diniz a esse respeito: “(...) por estarem enfermos ou sujeitos a hipnotismo, a delírios persecutórios, a espasmos cerebral seguido de hemiplegia, a arteriosclerose, a embriaguez completa, a intoxicação provocadas por remédios ou entorpecentes, a sonambulismo etc., hipóteses em que se perdem as condições de reflexão, de plena consciência, de serenidade de espírito, imprescindíveis para o ato de última vontade”�.
Ainda, o art. 1.860 do Código Civil dispõe que a capacidade testamentária é a regra, devendo ficar visível e comprovada a capacidade testamentária, verificada no instante do testamento.
Havendo divergências a nulidade do testamento poderá ser absoluta ou relativa, conforme a causa e o defeito presente no negócio jurídico. A expressão “invalidade” abrange a nulidade e a anulabilidade do negócio jurídico. Empregada para designar o negócio jurídico que não produz os efeitos desejados pelas partes, o qual pode ser classificado pela forma retro mencionada conforme o grau de imperfeição verificado.
Assim, necessário diferenciar a invalidade do negócio inexistente e do ineficaz. O negócio inexistente significa a falta de algum elemento estrutural do negocio jurídico, como por exemplo, quando não houver manifestação ou declaração de vontade. Outrossim, o negócio nulo (nulidade absoluta) é o negócio jurídico praticado com ofensa a preceitos de ordem publica, ou seja, é a falta de elemento substancial ao ato jurídico (arts. 166 e 167, do Código Civil).
Segundo Carlos Alberto da Mota Pinto define, ineficácia em sentido amplo: “sempre que um negócio não produz, por impedimento decorrente do ordenamento jurídico, no todo ou em parte, os efeitos que tenderia a produzir, segundo o teor das declarações respectivas.”� Segundo o mesmo autor: “o conceito de ineficácia em sentido estrito definir-se-á, coerentemente, pela circunstância de depender, não de uma falta ou irregularidade dos elementos internos do negócio, mas de alguma circunstância extrínseca que, conjuntamente com o negócio, integra a situação complexa (fattispecie) produtiva de efeitos jurídicos”.� Deste modo, significa dizer que o negócio jurídico foi celebrado, está valido, mas a sua eficácia esta pendente a um termo, condição ou encargo, se este verificar estaremos perante um negócio jurídico existente valido e eficaz, mas se não se verificar teremos apenas a existência e validade do negócio, mas não teremos alcançado a sua eficácia.
Portanto, a pessoa por não encontrar-se no gozo de suas faculdades mentais, não terá discernimento e assim, não terá a capacidade de testar, e em caso de efetuado testamento em tais condições o mesmo será classificado como inválido passível de anulação.
Neste sentido a jurisprudência não destoa:
SUCESSÕES. APELAÇÃO CÍVEL. ANULAÇÃO DE TESTAMENTO PÚBLICO. ALEGAÇÕES DE FALTA DE HIGIDEZ MENTAL DO DE CUJUS E DE CAPTAÇÃO DOLOSA DE SUA VONTADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. PRECLUSÃO. 1. Não há como reconhecer o cerceamento de defesa, em razão do indeferimento da produção de prova, quando a parte não recorreu da decisão no momento oportuno, operando-se a preclusão. 2. Se o testador apresentava confusão mental quando foi internado em asilo poucos dias após a confecção do testamento, obviamente não tinha condições de manifestar a sua vontade. 3. Se a vontade do testador estava totalmente comprometida, pois estava senil e não conseguia reger a sua vida, torna-se imperiosa a invalidação do ato de disposição de última vontade, pois evidente a sua incapacidade. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70072588460, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 26/04/2017)
Conforme decisão proferida pelo Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos, relator da decisão em análise, o autor, ora recorrido, comprovou satisfatoriamente o fato constitutivo do seu direito, qual seja, de que o testador não apresentava higidez mental quando manifestou sua disposição de última vontade.
Fundamentando sua decisão no aludido pressuposto de que,quem não apresenta lucidez plena, quem não tem condições sequer de morar sozinho ou gerenciar as suas coisas, obviamente não tem condições de elaborar um testamento. Assim a vontade do testador, nesse contexto, mostrou-se totalmente comprometida, o que ensejou a invalidação do ato de disposição de sua última vontade.
Cotejando-se os fundamentos da sentença referidos no acórdão, com as disposições do Código Civil, conclui-se que a decisão em análise e demais situações semelhantes que possivelmente surgirão em nosso ordenamento jurídico seguirão sendo aplicados o mesmo entendimento jurisprudencial, uma vez que em desconformidade com as exigências legais previstas em lei.
CONCLUSÃO
O direito contempla na parte geral do Código Civil, uma capacidade para que a pessoa pratique regularmente um ato jurídico. Deste modo, a realização de um testamento, também sujeita-se a essas regras, por se tratar de um ato jurídico, pois sem dúvida ele cria, modifica ou extingue direitos.
Todavia, o Direito Sucessório amplia os requisitos para que uma pessoa possa fazer um testamento. Assim, além daquelas causas da parte geral, temos regras especificas que concedem ou não uma capacidade para fazer o testamento, o que se denomina, capacidade ativa testamentária.
Essas causas criadas no direito sucessório, não estão regulamentadas na parte geral, só se aplicando para a matéria testamentária.
Ficando evidente assim, que na prática forense a maioria dessas ações, a dificuldade encontra-se em produzir a prova essencial para caracterização e comprovação da incapacidade ativa testamentária, principalmente quando se abaliza as causas próprias do direito sucessório, notadamente a falta de discernimento.
Assim, a declaração da anulação do testamento, pela falta de capacidade ativa do testador, em causas especificamente criadas para a matéria de testamentos, é ocorrência lógica natural que o Judiciário assim o declare, mesmo que o testador possa não se enquadrar as hipóteses de uma incapacidade civil tipificada na parte geral do Código Civil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 28 mai. 2017.
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível. Nº 70072588460, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 26/04/2017. Disponível em:<http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=anula%C3%A7%C3%A3o+de+testamento+i main_res_juris> Acesso em: 05 jun. 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7º volume: responsabilidade civil, 21 Ed. São Paulo:Saraiva, 2007.
GOMES, Orlando. Questões de Direito Civil (Pareceres). São Paulo: Saraiva, 1988.
PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria Geral do direito civil. 3ª ed., atual.11. reimp. Coimbra: Editora Coimbra, 1996.
VENOSA, Sílvio de Salvo . Direito Civil : Direitos Reais . v. 5 . 12a ed . São Paulo : Atlas, 2012. p. 51.
�	 VENOSA, Sílvio de Salvo . Direito Civil : Direitos Reais . v. 5 . 12a ed . São Paulo : Atlas, 2012. p. 51.
�	 DINIZ, Maria Helena . Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 4 . 25a ed. . São Paulo : Saraiva, 2010, p. 85.
�	 Ibidem, p. 92.
�	 PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria Geral do direito civil. 3ª ed., atual.11. reimp. Coimbra: Editora Coimbra, 1996. p. 102.
�	 Ibidem, p. 104.

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