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Morfologia Portuguesa - Conteúdo Online

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MORFOLOGIA PORTUGUESA
AULA 1 – LÍNGUA, LINGUAGEM, SINCRONIA E DIACRONIA
A presença da palavra em nossas vidas é tão comum e seu uso tão espontâneo e natural que não vemos nela nada de especial.
No cotidiano, todos reconhecem que as palavras são símbolos que nomeiam as coisas e que as utilizamos para entrar em contato com o outro. Daí, percebemos o real emprego deste recurso, acreditando que as pessoas se comunicam e trocam idéias com a mesma destreza que executam tarefas organicamente possíveis, sempre com o objetivo de perceber o que as cerca para que possam interagir com tudo e todos.
E como o homem constrói este espaço? De que forma é possível chegar a este entendimento do mundo?
Através da faculdade da linguagem, que permite ao homem não só compreender as relações do e com o mundo, mas também explicar estas relações através de seu conhecimento.
A linguagem é o elemento indispensável da comunicação social e de domínio individual. Ao usá-la, o indivíduo se integra com os seus semelhantes. A linguagem pode ser não verbal (sem uso da palavra) ou verbal, ambas as características favorecendo a transmissão de comunicação
Linguagem verbal: identificada pela constituição de palavras faladas ou escritas nas seguintes manifestações, por exemplo: textos manuscritos, conversa ao telefone, televisão, cinema, livros, artigos, receitas, bilhetes, e-mails, reunião, encontros de amigos, missa, cultos religiosos.
Linguagem não verbal: identificada, por exemplo, nas seguintes manifestações: na pintura, pelas cores, figuras e outros elementos utilizados pelo artista; na dança, pelo movimento e ritmo; nos sinais de trânsito, nos sinais de matemática, nos símbolos utilizados em linguagem virtual; em cartuns, charges ou caricaturas.
Signos: elementos construtivos da linguagem. Podem ser verbais, as palavras e não verbais, o desenho.
Enfim, tudo isto é linguagem: representação do pensamento por sinais e/ou por palavras.
A linguagem humana é expressa por meio de um sistema de som vocal chamado língua. Esta possibilidade permite que o ser humano utilize um código linguístico, a língua, em sua materialidade verbal, para se comunicar. Cada língua apresenta o seu código, com regras e normas, sua maneira de arrumação das palavras na frase, sua própria estruturação. 
“A língua é uma forma de conhecimento e um meio de construir, estabelecer, manter e modificar relações com os outros. Por isso mesmo, uma mesma pessoa é capaz de utilizar diferentes ‘estilos’ ou registros de língua, conforme o contexto ou as finalidades da comunicação: quando se dirige a um adulto ou quando fala a uma criança, quando fala a pessoas reunidas em um auditório ou quando conversa de modo descontraído numa roda de amigos, quando escreve uma carta de candidato a emprego ou quando comparece para uma entrevista com esse mesmo objetivo, quando relata um acontecimento ou quando dá um conselho a alguém.” 
(AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha Houaiss, 2008: 57)
Então, vamos refletir...
Se o sistema da língua é social porque é comum a todos os falantes de uma comunidade linguística, podemos entender que a atividade linguística é sistematizada, ou seja, segue um conjunto de elementos lexicais (palavras) e gramaticais (organização do código) que fazem parte de uma língua, de uma organização interna desses elementos e de suas regras combinatórias.
As experiências de vida de toda ordem (no cotidiano, nos grupos de amigos, no contato com culturas diferentes), a convivência com textos de variadas espécies (poemas, lendas, crônicas), a possibilidade da fala e da escrita contribuem significativamente para esta criatividade linguística.
A linguagem humana, apresenta-se, essencialmente, fundamentada no signo.
É o instrumento através do qual a comunicação se realiza. Em uma ação de comunicação, apresentamos nossos conceitos, ideias, pensamentos; enfim, nossa visão de mundo, por meio de palavras que trazem o significado que queremos transmitir.
Daí surgem os signos linguísticos (sons da língua + significado).
Resumindo:
IMAGEM ACÚSTICA (SOM) + IMAGEM ACÚSTICA (SOM)	IMAGEM MENTAL (IDEIA)
		SIGNIFICANTE					SIGNIFICADO
					 SIGNO LINGUÍSTICO
Como exemplo de signo linguístico, podemos citar:
Para o conceito “livro”, o português utiliza o termo “livro”, o espanhol emprega “libro”, o inglês usa “book”; já no francês, temos “livre”. Variaram os significantes, mas o significado é o mesmo, mesmo conceito. 
Durante todo o processo de avanço linguístico, tanto o processo de aquisição de linguagem como a sistematização da língua em si vêm sofrendo alterações ao longo do tempo. Já houve uma época em que as línguas eram comparadas a seres vivos - nasciam, cresciam, envelheciam e morriam. Sabemos, hoje, no entanto, que em qualquer fase da sua existência histórica, a língua é dotada de uma estrutura complexa em qualquer fase que esteja. Elas são adaptáveis às novas necessidades e ondas de crescimento de expressão de uma comunidade.
Se compararmos épocas, observamos que a língua não muda de vez em quando, mas sim, de modo contínuo. Em enunciados como os apresentados abaixo, observamos signos que, ao longo do tempo, modificaram seu significante, mas que ainda permanecem em nosso sistema linguístico nos dias de hoje, em seu conceito fundamental.
Foi o linguista Ferdinand de Saussure quem nos alertou sobre a possibilidade de estudarmos a língua sob dois aspectos:
Sincrônico: procura estudar o sistema de uma língua em uma determinada época ou período.
Ex.: o plural de “pão” é “pães”; o plural de “cidadão” é “cidadãos”.
Diacrônico: mostra como as línguas se formaram, sua evolução natural.
Ex.: o vocábulo avença é um termo arcaico, que significa “acordo”; entretanto, manteve-se na palavra desavença.
Entende-se, portanto, que os estudos lexicais envolvem, principalmente, uma abordagem sincrônica, do momento atual, sem, contudo, perder de vista uma abordagem do passado, uma abordagem diacrônica.
Resumindo:
Sincronia: os membros da comunidade lingüística entendem-se e comunicam-se porque participam de um mesmo “estado da língua”, partilhando dos mesmos hábitos lingüísticos.
Diacronia: é a história interna de uma língua; uma sucessão de “estados da língua”, uma passagem sem interrupção, de uma sincronia para outra.
Conforme observamos, a língua desempenha importante papel social. Reconhecemos, inclusive, muitas vezes, a condição social de uma pessoa pela maneira de falar. Assim, há um conjunto de regras que precisamos respeitar.
A interpretação destas canções denota que o uso da língua é um ato individual. Porém, mesmo individual, esses atos são normalmente realizados na e para a comunicação entre sujeitos ou indivíduos, que para compreender-se, precisam estar “de acordo” sobre o que significam os sinais que usam. Este acordo refere-se à dimensão social e histórica da língua. SOCIAL, porque pertence a todos e HISTÓRICA, pois é transmitida de geração em geração, através dos tempos.
O fato de pertencer a todos os falantes exerce sobre o uso da língua uma pressão padronizada, cujo efeito é a semelhança de uso entre os membros da mesma comunidade linguística, a que denominamos norma.
De acordo com Azeredo (2008:63), temos, então, portanto, três conceitos fundamentais:
a) língua como estrutura abstrata, uma espécie de denominador comum de todos os seus usos: o sistema;
b) o ato concreto de falar/ouvir ou escrever/ler a língua: o uso;
c) a soma dos usos histórica e socialmente consagrados numa comunidade e adotados como um padrão que se repete: a norma.
Voltando às canções, percebemos que em ambas podemos observar um denominador comum (a língua), podemos usá-las (ouvindo/lendo a letra) e adotamos as “regras linguísticas” utilizadas tanto por Adoniran Barbosa quanto por Caetano Veloso como consagradas em uma comunidade de falantes (a norma).
Quanto à norma utilizada, principalmente na primeira canção, que esta pode ser caracterizada por ser de cunho regional,social, econômico, familiar ou de faixa etária. O mais importante na conceituação da norma é o seu caráter coletivo e sua condição de uso, quer seja por escolha, quer seja por herança sócio-histórica. Daí o conceito de variação linguística.
Cabe a cada usuário da língua avaliar o contexto de uso e escolher a forma de expressão mais apropriada. Afinal, paralelamente à sua condição de sistema, a língua é expressão da imagem que os usuários fazem da situação social em que se encontram – ou seja, é uma forma de comportamento. (AZEREDO, 2008:66)
“Falar corretamente significa o falar que a comunidade espera: o erro em linguagem corresponde a desvios dessa norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras ou formas.” 
(Celso Cunha, em Língua portuguesa e realidade brasileira, RJ: Tempo Brasileiro, 1970).
AULA 2 – MORFOLOGIA E A DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM
A existência de palavras é assumida como realidade pela maioria das pessoas. No entanto, embora sejam fáceis de reconhecer, não é tão simples definir o que é uma palavra. Na Linguística, como em outra ciência qualquer, precisamos identificar critérios para definirmos as unidades básicas de estudo.
Os critérios abordados como possíveis para o trato sobre PALAVRA são:
Critério de significado (semântico): Este critério não deve ser observado isoladamente, como afirma Mattoso Câmara, pois o sentido depende da forma, ou seja, a palavra é um somatório de forma e sentido, como mostra o exemplo da letra A abaixo, em que a palavra xadrez assume dois sentidos – uma para cada personagem –, independente dos componentes que a formam. Além disso, muitos processos de formação não mudam a classe das palavras, como mostra o exemplo B, em que a palavra coisa é, nos três exemplos, um substantivo, mesmo no grau diminutivo.
Exemplo B:
“Ó coisinha tão bonitinha do pai...”, em que coisinha significa pessoa.
Ele briga por qualquer coisinha..., em que coisinha significa motivo.
Não tive tempo de almoçar. Fui à lanchonete e comi uma coisinha! Em que coisinha significa comida.
Critério de som (fonológico): É praticamente impossível elaborar um conceito de palavra sob este critério, pois a forma de falar do brasileiro influencia bastante na distinção dos sons formadores de cada enunciado, como mostra o exemplo abaixo que explora a ambiguidade: 
O que é detergente? É o ato de prender pessoas.
Critério da funcionalidade (sintático): Parece funcionar em qualquer língua do mundo, pois as palavras recebem nomenclaturas que as diferenciam dentro dos enunciados. Porém, este é um critério que abrange somente uma definição: a de ordem da organização e funcionamento da língua, desconsiderando-se os seus elementos formadores como, no exemplo a seguir, na palavra votais, que é classificada como um verbo e que é assim reconhecida, independente neste critério, da maneira como a palavra aqui é formada
Critério formal (mórfico): É o critério que se baseia na caracterização da estrutura do vocábulo, aqui se verificando a aceitação ou não da combinação das formas, conforme mostrado abaixo nas palavras sublinhadas:
Dez doleiros giraram U$ 2,4 bi em 42 contas nos EUA.
Doleiro: palavra dólar mais o sufixo –eiro, que significa indivíduo que exerce alguma atividade em relação ao objeto que serve de base para a formação da palavra base, no caso dólar.
Bí: redução para bilhões.
EUA: sigla que remete Estados Unidos da América.
Para reforçar a opção por esses critérios, convém lembrar que a língua é organizada a partir de um sistema de elementos e de relações simultâneas.
Esse sistema é formado de sistemas menores conhecidos por níveis:
a) nível fonológico (de som);
b) nível morfossintático (de forma e funcionalidade);
c) nível semântico (significado).
Palavra e vocábulo
Segundo Kehdi, 2007,  a palavra  seria um conjunto marcado por um só acento tônico: mármore,  café, trânsito. Entretanto, a expressão com o chinelo, por exemplo, também constitui marcação com um acento tônico, na medida em que chinelo possui acentuação na sílaba do meio (ne) e os termos com e o são átonos, e isso não faz da expressão em questão uma palavra.
Os vocábulos seriam também a constituição de fonemas e sílabas mesmo que desprovidos de sentido ou de tonicidade, como  os elementos com e o citados no exemplo acima. E palavra seria mais adequado do ponto de vista semântico, como: chinelo, sapato etc. Mas ambas, para os linguistas, são equivalentes. 
Para Azeredo (2008), PALAVRA é a menor unidade significativa autônoma constituída de um ou mais elementos dispostos em uma ordem estável.
Pelo que lemos, pergunta-se:
Como podemos perceber as palavras fazendo sentido?
Como entendemos o que as pessoas querem nos dizer?
Através da articulação, ou seja, da possibilidade de análise, da divisão em partes. 
Melhor explicando, da DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM.
Na estrutura linguística, os elementos (palavras/vocábulos) que a compõem são passíveis de  divisão, de segmentação. Esta possibilidade nos conduz a refletir sobre as combinações necessárias para que estes elementos produzam sentido e possam ser utilizados em construções maiores, como no discurso, por exemplo. Dessa forma, passemos à informação que segue.
A linguagem é um sistema de sinais auditivo-orais, articulados, de emprego numa comunidade. Articular significa agrupar unidades menores numa outra maior, todas caracterizadas por uma parcela significativa, ou distintiva.
Vejamos a palavra gatinhas. À primeira vista, trata-se de uma unidade, mas se analisarmos descobriremos quatro elementos distintivos cuja soma é que nos dá o conjunto maior:
gato (1) + inho (2) + (a) 3 + s (4)
1 — o animal
2 — o tamanho
3 — o sexo
4 — a quantidade
Para o linguista francês André Martinet, que primeiro utilizou a expressão “dupla articulação da linguagem”, as combinações legítimas na língua obedecem à seguinte formatação:
DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM
1ª articulação: unidades significativas – forma, chamadas morfemas ou monemas que tem a função de SIGNIFICAR.
Ex.: gat – dá origem a palavra
 inh – demonstra o diminutivo
 a – demonstra o feminino
 s – demonstra o plural
2ª articulação: unidades fonológicas – som, unidades distintivas, chamadas fonemas, que tem a função de DISTINGUIR.
Ex.: g + a + t + i + n (nasal) + a diferente de latinha ou patinha (sons distintivos). Sons de cada letra – fonema.
Ressaltam-se aqui as seguintes características:
• estas articulações são simultâneas;
• são pertinentes à linguagem humana, distinguindo-se de quaisquer outras produções vocais não linguísticas;
• a articulação é o método mais utilizado para entendermos como se constitui ou se estrutura uma língua.
AULA 3 – MORFEMAS I
Como vimos nas aulas anteriores, a morfologia é a parte da gramática que estuda as partes que compõem uma palavra ou vocábulo. Quando olhamos uma palavra, independentemente da escolaridade, somos capazes de perceber que ela é composta por partes. Veja as palavras a seguir:
GATA – PATA – MENINA - CACHORRA
O que há de comum entre elas? 
Todas terminam com ‘-a’.
O que isso indica em termos morfológicos? 
Morfologicamente, esse ‘-a’ é uma das partes que compõem essas palavras e indica que elas estão no feminino.
Por que percebemos a flexão nessas palavras? 
Porque somos capazes de opor gato x gata; pata x pato; menina x menino.
Cada uma das partes que compõem uma palavra é chamada de morfema: “[...] as menores unidades formais dotadas de significado.” (Monteiro, 2002, p.13)
Em princípio, todo morfema se compõe de um ou vários fonemas, e destes difere, fundamentalmente, pelo fato de apresentarem significado (GLEASON JUNIOR, 1978). Como é fácil perceber, isoladamente os fonemas nada significam. Se pronunciamos /p/ ou /t/, ninguém associa ao som emitido nenhuma ideia. Mas, de modo oposto, em geral, só existe o morfema quando a unidade mínima apresenta um significado.
Se sabemos que as palavras são formadas por várias partes, como fazemos para depreender essaspartes?
Carone (1995) em seu Morfossintaxe nos apresenta dois processos de depreensão: o processo de COMUTAÇÃO e o consequente processo de SEGMENTAÇÃO. Segundo a autora, “ [...] depreensão dos morfemas de uma língua realiza-se a partir da cadeia sintagmática, isto é, a partir de um conjunto de unidades articuladas, que formam um todo maior, seja ele vocábulo ou frase”.
Comutação: Segundo Carone (1995), quando realizamos o processo de comutação, alteramos um elemento no plano da expressão, e isso gera uma alteração no plano do conteúdo. Veja os exemplos fornecidos pela autora na página 28:
Am   a va   Ø     indicativo    pretérito imperfeito
            ra          indicativo     pretérito mais-que-perfeito
            rá          indicativo     futuro do presente
            ria         indicativo     futuro do pretérito             
 sse       subjuntivo    pretérito imperfeito
A cada troca, alteramos tempo e modo, ou seja, os morfemas trocados possuem os dois valores acumulados e são, por isso, chamados de morfemas cumulativos.
Segmentação: Quando realizamos a operação de comutação, acabamos por descobrir quais são os morfemas que constituem um vocábulo. 
Exemplo: A forma verbal ‘amava’ é formada por am + a + va. 
Ao comutarmos, descobrimos também que alguns morfemas podem se repetir em conjuntos de vocábulos. Por exemplo, em ‘ cantava’ temos a repetição de ‘a’ + ‘va’, ou seja, esses morfemas se repetem. Por quê? Que tipo de morfemas são esses? 
Esses morfemas usados na flexão do verbo são chamados de morfemas gramaticais. Mas e o radical ‘cant-‘? Que tipo de morfema ele é? 
O radical é um exemplo de morfema lexical.
Um morfema gramatical é aquele que expressa um aspecto gramatical da língua. São exemplos de morfemas gramaticais: as desinências modo-temporais e número-pessoais dos verbos e as desinências de gênero e de número dos nomes.
Segundo Carone (1995, p. 29), os morfemas gramaticais “[...] pertencem a um paradigma numericamente restrito e estável, isto é, a um inventário fechado.”
Um morfema lexical é a parte da palavra em que temos o significado básico, é o núcleo semântico da palavra. Segundo Carone (1995, p. 29), esses morfemas fazem parte do inventário aberto da língua, já que novas palavras podem surgir.
Formas livres: São morfemas que podem aparecer sozinhos em um enunciado. 
Exemplo: _ Quem chegou mais cedo?
                _ Ele.
Formas presas: São morfemas que não aparecem isoladamente como, por exemplo, os sufixos, as desinências etc.
Exemplo: caseiro.
Formas dependentes: Essas formas foram classificadas por Mattoso Câmara Jr. (1970) e, segundo o autor, não são formas livres porque não constituem enunciados, e não são formas presas porque existem como vocábulos. Segundo Carone (1995, p. 32), são exemplos dessas formas dependentes: artigos, preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos.
Exemplo: café com leite.
Morfes e Morfemas
Monteiro (2002, p. 14), em Morfologia Portuguesa, apresenta-nos uma interessante relação entre morfe e morfema.
O morfe é a concretização de um morfema, ou seja, uma sequência fonêmica mínima a que se pode atribuir um significado. 
[...]
Essa distinção é muito semelhante à que existe entre fonema e fone. O fonema constitui uma entidade abstrata que, quando se realiza, pode consistir em sons diferentes. O [t], por exemplo, não se pronuncia do mesmo jeito em tela e tive. A realização de um fonema se denomina de fone e, como sempre, há mais de uma possível; todo fonema na prática apresenta diversos alofones.
Nem sempre, porém, os autores são rigorosos quanto a isso. E assim o termo morfema costuma ser usado em contextos em que seria mais preciso falar-se de morfe. Mas é bom pelo menos guardar a analogia:
Morfema :: fonema
Morfe		fone
Tipos de Morfema
Além do morfema lexical que vimos anteriormente, temos outros tipos de morfemas.
a) Morfema derivacional: São aqueles que possibilitam a criação de novas palavras. 
São exemplos de morfemas derivacionais os prefixos, os infixos e os sufixos.
Exemplos: cas [inha]; cas [eiro].
b) Morfema categórico: São morfemas flexionais, ou seja, são as desinências nominais e verbais, representando, assim, morfemas gramaticais. 
A função dos morfemas categóricos é indicar as flexões que as formas assumem. 
Exemplos: casa[s]; menin[a].
O termo categoria tem aqui sentido restrito e equivale à flexão. Há para os nomes duas categorias: a de gênero e a de número. O gênero tem as subcategorias de masculino e feminino. O número, as subcategorias de singular e plural. Nos verbos encontram-se as categorias de modo, tempo, aspecto, número e pessoa, divididas em diversas subcategorias.
c) Morfema relacional: Esses morfemas não são formas presas como o morfema categórico e o morfema derivacional.  
A função desse tipo de morfema é ligar vocábulos. São exemplos de morfemas relacionais: as preposições, as conjunções, os artigos e os pronome relativos.
Exemplos: café com leite; vinho de Portugal.
d) Morfema classificatório: As vogais temáticas representam os morfemas classificatórios e são assim chamadas porque definem a estrutura dos vocábulos em nomes e verbos. 
Exemplos: camis [a]; cant + [a] + [va]
Tipos de Morfe
Morfes alternantes: temos morfes alternantes quando o morfema se realiza mediante a permuta entre dois fones: é um caso de alternância morfofonológica. Essa alternância não é foneticamente condicionada como em incondicional / irreal (o prefixo [in] passa a [i] quando a consoante inicial é líquida).
Alternância vocálica.
Ex. Pude ≠ pôde	fiz ≠ fez	pus ≠ pôs
Em verbos da 3ª conjugação, o morfe alternante marca, no presente do indicativo, a oposição entre a 1ª pessoa e as outras rizotônicas: minto / mentes;   sinto / sentes;    sumo / somes; firo /feres;   durmo / dormes.  
Rizotônica: forma verbal cuja sílaba tônica se acha no radical.
Arrizotônica: forma verbal cuja sílaba tônica se acha fora do radical.
Exemplos de alternância consonantal. Trag - o≠ traz – es	[dig] – o ≠ [diz] – es.
Alternância acentual: Nesse caso, temos um morfema suprassegmental, ou seja, temos a variação de intensidade e altura com significado gramatical. Em português, só a intensidade tem valor gramatical, ainda que a variação de altura traga significado e possibilite a distinção entre asserção e interrogação (Ele já viajou. /Ele já viajou?).
Exemplo: fábrica/fabrica – a incidência de maior tonicidade numa ou noutra sílaba é o elemento diferenciador do comportamento gramatical de cada uma dessas palavras (nome ou verbo).
Outros exemplos: exército x exercito      retífica x retifica         história x historia
b) Morfe cumulativo: É um morfe que expressa mais de um significado (não há correspondência ideal entre morfe e morfema).
Ex.: [mos] em viajamos – desinência número-pessoal (1a. pessoa/ plural) 
GN considera que [o] em lindo é morfe cumulativo (VT + desinência de gênero)
c) Morfe redundante: Ocorre quando mais de um traço opõe duas formas.
Exemplos: 
Na flexão de número, temos avô/ avós (abertura da vogal + morfema [s] como marcas de plural). 
Outros exemplos: (BECHARA, 2000, p. 123) 
Caroço, choco, corpo, corvo, destroço, esforço, fogo, forno, fosso, imposto, jogo, miolo, olho, osso, porco, reforço, socorro, tijolo, torto, troco, troço, entre outras.
Na flexão de gênero: Nos pares esse / essa e novo / nova, temos, além da inserção da desinência que indica a flexão, a abertura da vogal.
d) Morfe homônimo: Ocorre quando um único morfe corresponde a morfemas distintos.
Ex.: [s]
A[s] casa[s] – marca plural
(tu) ama [s] – desinência número-pessoal
AULA 4 – MORFEMAS II
Vejamos o que Monteiro (2002, p. 14), em Morfologia Portuguesa, nos diz sobre a relação entre morfema e alomorfe:
“Se quisermos usar os termos de modo bem preciso, deveremos compreender que o morfema é uma entidade abstrata que não se confunde com uma única e mesma forma. Na prática, um morfema pode apresentar variações formais.Assim, se observarmos as palavras vida e vital parece evidente que em ambas existe um mesmo morfema que se realiza como [vid] e [vit]. A realização de um morfema se denomina de morfe e quando há mais de uma, já podemos adiantar que constituem alomorfes.”
Assim, o que seria alomorfia?
A palavra alomorfe vem do grego (állos = outro +  morphé = forma) e indica a realização de um morfema por dois ou mais morfes diferentes. Quer dizer, é a concretização em morfes diferentes de dois segmentos com os mesmos valores significativos.
A alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de significado: o morfe é outro, o morfema é o mesmo.
Exemplos: 
No verbo levas, o morfema –s caracteriza a 2ª pessoa do singular, que também pode ser caracterizado por –ste em levaste ou –es em levares.
O segmento / - s / marca plural, e / -es / tem a mesma função: casas x mares.
Quando ocorre a alomorfia, a forma de mais alta frequência deve  ser considerada a forma-base; a outra é uma variante, seu alomorfe.
Assim, no imperfeito do indicativo, primeira conjugação, a forma-base é –va-; a variante é –ve- (cantáveis).
No futuro do pretérito, -rie- (cantaríeis) é alomorfe de –ria-.
1º conjunto imperfeito do indicativo:
desinência    / va /					va é a norma
cantava, cantavas
Nas demais conjugações, a desinência muda e temos: corria, corrias / a / é um alomorfe. 
Ex.: partia, partias
ALGUNS EXEMPLOS  DE ALOMORFIA
Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. / ordem /, / orden-/ /ordin-/ têm a mesma significação em ordem, ordenar e ordinário.
Alomorfia no prefixo. O prefixo / in /  passa a / i / em inapto / ilegal.
Alomorfia no sufixo. No par bananal / cafezal o sufixo  / al / passa a / zal /  e no par  relator / falador o sufixo  / or /passa a / dor /.
Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o /transforma-se em/ e /.
Alomorfia na desinência de gênero. No par, avô ≠ avó, os traços distintivos / ô / e / ó / podem ser considerados alomorfes das desinências Ø (masculino) e / a / (feminino).
Alomorfia na desinência modo-temporal. Em cantáramos / cantáreis, a desinência modo-temporal / ra / passa a/ re /.
A alomorfia pode ou não ser fonologicamente condicionada:
Não condicionada. Implica variações livres que independem de causas fonéticas.  
Exemplo: alternâncias vocálicas em faz, fez, fiz.
Condicionada. Aglutinação de fonemas nas partes finais e iniciais de constituintes, acarretando mudança fonética. É uma mudança morfofonêmica = opera entre fonemas e altera o plano mórfico da língua.
Exemplo: redução de / in- /  a  / i- / diante de consoante nasal: incapaz, imutável
MORFEMA ZERO (ø)
O morfema zero ou morfe zero caracteriza-se pela ausência de segmento fônico que representaria determinada noção.
Exemplo: o contraste singular/plural: bar – bares (o morfema –s), em que a ausência do plural, morfema –s, designaria o singular, por inexistência de morfema marcador.
Essa oposição entre presença e ausência é importante – ambos são realidades morfêmicas, cada um deles só existe graças à existência do outro. A categoria gramatical de número só existe porque um par opositivo a instaura: singular e plural. Temos, nesse caso, o que se chama de ausência significativa.
Marca de gênero. 
A flexão de gênero em português acontece pelo acréscimo do morfema flexional [a] à forma masculina: o feminino é a forma marcada pela presença do morfema / a /. Sua ausência é significativa como característica de masculino – morfema zero para o masculino em português. 
Exemplos: marca de gênero: mestre / mestra; leitor / leitora; professor / professora; marquês/ marquesa; menino/menina.
Marca de número.  
Exemplos:
1. Mar – mares.  A ausência da marca de plural / -es / no morfema lexical mar indica singular.
2. Ourives, lápis, pires. O / -s / não é marca de plural: o plural dessas palavras é marcado sintaticamente.
Em muitas formas verbais encontramos o morfema zero em oposição a outros morfemas.
Exemplo:
(tu)    estud + a + va + s
(ele)  estud + a + va + ø
(ele)  estud + a +  ø  + ø
Morfe zero (Ø) para a conjugação verbal	 
Segundo Mattoso Câmara (1970), a constituição da forma verbal portuguesa é T ( R + VT) + D (DMT + DNP), ou seja, o tema é formado pela raiz e pela vogal temática e a esse tema podem ser acrescidas as desinências (desinência modo-temporal e desinência número-pessoal)
Nem todas as formas verbais possuem VT.
A DMT é Ø para o indicativo no presente, para o pretérito perfeito (até a 2ª pessoa do plural e –ra para a 3ª pessoa do plural.
Cant – Ø - o                        Cante – Ø – i                         canta- ra – m 
 A DNP é Ø:
1ª pessoa do singular do presente do indicativo (exceto quando aparece –o);
3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo.
Por que em uma palavra como ‘lápis’, que tem a mesma forma para singular e plural, não se deve considerar a existência de morfema zero na desinência de número?
O morfema s existe tanto no singular quanto no plural:
O lápis Ø/ Os lápis
O plural desse tipo de palavra não é morfológico, é sintático: será o determinante (artigo, pronome demonstrativo etc.) quem marcará o número.
b) Por que substantivos comum de dois gêneros como estudante e dentista não têm morfema zero para desinência de gênero?
O feminino em português é marcado pelo morfema [a]. Nesses substantivos, tem-se a mesma forma para os dois gêneros. O gênero desses substantivos não é morfológico, é sintático: sabe-se o gênero pelos morfemas categóricos dos termos a que eles se referem: meu dentista/ bela estudante.
Assim, em bela estudante, o feminino é marcado por dois traços: um mórfico e outro sintático.  O traço mórfico é a desinência a e o traço sintático é a presença do determinante esta.
A FLEXÃO DE GÊNERO
GÊNERO E SEXO 
Embora alguns autores falem sobre ‘sexo real ou convencional’ ou ainda sobre ‘sexo real ou fictício’, Monteiro (2002, p. 86) afirma que “O gênero é uma categoria gramatical; o sexo é um conceito biológico.” Esse é o melhor tratamento a ser dado a essa questão já que temos inúmeros substantivos que designam seres assexuados como mesa, roupa, teto, chão.
Vimos que o acréscimo do morfema [a] marca a flexão de gênero. A regra para a composição do feminino estabelece que, morfologicamente, temos o processo de flexão se adicionamos a desinência [a], retirando-se a vogal temática, se ela estiver presente no masculino. 
Exemplos: 
Professor + a = professora
Mestre + a= mestrea = mestra
Casos de alomorfia na raiz 
Monteiro (2002, p. 83) comenta que em exemplos como rei/rainha, abade/abadessa, entre outros, temos, além da desinência [a], o acréscimo de um sufixo derivacional para formar o feminino. Segundo o autor, sincronicamente não se percebe, por exemplo, [inh] como um sufixo e, assim, [rainh] e [abadess] seriam alomorfes de [re] e [abad]. O autor acrescenta: 
“Por diversas vezes, já comprovamos que mesmo professores e alunos de Letras não têm consciência da presença do sufixo. Por incrível que pareça, até em galinha, poucos destacam o elemento [inha]. E, quando o fazem, percebem que o conteúdo semântico se tornou vazio.” (p.84)
Gênero heteronímico 
No entanto, nem todas as palavras são marcadas flexionalmente. Koch e Silva (1989) em Linguística aplicada ao português:morfologia, afirmam que: 
“Em razão da ausência de distinção entre processo flexional e processo lexical, é comum ler-se em gramáticas do português que mulher é feminino de homem, que cabra é o feminino de bode. Trata-se de casos de heteronímia dos radicais, isto é, de vocábulos lexicalmente distintos, que, tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a categoria de gênero.”
Algumas classificações tradicionais de gênero 
Além da heteronímia, há outras formas de se expressar o gênero sem o uso do mecanismo flexional. A Gramática Normativa nos apresenta substantivos masculinos e femininos e estabelece que os substantivos também podem ser: 
Sobrecomuns – nomes de um só gênero gramaticalque se aplicam indistintamente a homens e mulheres.  
Exemplos: o cônjuge, a ferrugem, a criatura, a criança, o indivíduo, a pessoa, o ser, a testemunha, a vítima, entre outros. 
Eles se enquadram na subcategoria do feminino ou do masculino, uma vez que os determinantes que os acompanham terão que apresentar um ou outro gênero. ‘O cônjuge’, independentemente do sexo do referente, será sempre do gênero masculino; ‘a criança’ será sempre do gênero feminino.
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita de um determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo determinante.
A marcação de gênero pode ser redundante, já que pode se encontrar tanto pela presença do morfema flexional quanto pela presença do determinantes.
Exemplo: o menino, a menina. Temos a presença do artigo (o/a) e do morfema zero e da desinência de gênero. 
Também pode determinar o gênero somente através de determinantes, ou seja, sintaticamente, como fazemos no par o dentista / a dentista. 
Dentista – o [a] final dos substantivos comuns de dois gêneros não deve ser considerado desinência de feminino, já que no masculino ele também está presente. 
Trata-se de um [a] temático que elimina a desinência [a] pelo fenômeno da crase. Assim: dentista +a = dentistaa -> dentista.
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita de um determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo determinante.
Exemplos: o estudante / a estudante; o mártir/ a mártir
O substantivo comum de dois gêneros e a questão do referente. 
Exemplo: os meninos foram as principais vítimas do acidente. 
O gênero feminino de vítimas é indicado pelo determinante as. A ideia de sexo está no lexema meninos. 
Testemunha: é sempre gênero feminino, quer se trate de homem ou de mulher. Só se sabe pelo referente. 
Exemplo: a testemunha chegou atrasada. Ela usava um lindo vestido preto.
Epicenos - Representam nomes de animais a que são agregadas as formas macho/fêmea para distinção de sexo.
Cabe aqui uma crítica. Nesses substantivos, o gênero fica privativamente masculino ou feminino. 
Koch e Silva (1989, p. 42) afirmam que “Não cabe também falar em uma distinção de gênero expressa pelas palavra macho  e fêmea , não só porque o acréscimo não é obrigatório (podemos falar em cobra e tigre sem acrescentar os aposto), mas também porque o gênero não muda com a indicação precisa de sexo (continua-se a ter cobra macho no feminino, como assinala o artigo a e o tigre fêmea no masculino, conforme indica o artigo o.”
Exemplos: Jacaré macho/ cobra fêmea.
Divisão proposta em Monteiro (2002, p. 85)   
I. Nomes de gênero único. Não podem ser morficamente considerados masculinos ou femininos porque lhes falta o traço desinencial contrastivo.  A inexistência de oposição na estrutura mórfica é compensada por oposições na estrutura  sintática.
Exemplos: abelha ferrugem cônjuge onça pulga mesa indivíduo pessoa soprano personagem ferrugem: a abelha, a onça, a pulga, o cônjuge. 
Soprano no dicionário é comum de dois gêneros: o soprano / a soprano.
‘Vítima”: O homem foi atropelado por outro homem. Sabe-se que a vítima encontra-se hospitalizada, mas passa bem.” (Gênero feminino / sexo masculino).
II. Nomes de dois gêneros sem flexão. 
Exemplos: aprendiz, colega, personagem, solista: o aprendiz/ a aprendiz; o colega / a colega; o solista / a solista; o personagem / a personagem (AURÉLIO, 1986, 1316). 
III. Nomes de dois gêneros com flexão redundante.
Exemplos: chefe, saco, chinelo, aluno, mestre, pavão, professor: o chefe / a chefa; o aluno / a aluna; o mestre / a mestra; o pavão/ a pavoa; o chinelo / a chinela. (‘Chinela’ veio primeiro: ‘cianela’, italiano)
Significados de nomes no feminino
Embaixadora e embaixatriz. Embaixadora= representante diplomática; Embaixatriz= esposa do embaixador.
Trabalhadora e trabalhadeira. Trabalhadora = aquela que trabalha como empregada de alguém; trabalhadeira = mulher que gosta de trabalhar, cuidadosa.
Imperadora e imperatriz. Imperadora = esposa do imperador; imperatriz = aquela que governa.
Nomes que mudam de significado quando se muda o gênero
A cabeça (parte do corpo)   x   o cabeça (líder)
A rádio (a estação )            x   o rádio (aparelho)
A capital (cidade)               x   o capital ( dinheiro)
AULA 5 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS I
Mattoso Camara Jr (1972) distinguia dois processos, retomando o que o gramático latino Varrão (116 aC – 26 aC), conforme abaixo se discrimina:
Derivatio voluntaria - cria novas palavras; caráter fortuito e desconexo do processo. Com efeito, as palavras derivadas não obedecem a uma pauta sistemática e obrigatória para uma classe homogênea do léxico. Ex.: cantar-cantarolar, mas para falar ou gritar não existem as formas falarolar ou gritarolar. Os morfemas gramaticais de derivação não constituem assim um quadro regular, coerente e preciso. Acresce a possibilidade de opção, para usar ou deixar de usar o vocábulo derivado. Os sufixos derivacionais criam novos vocábulos.
Derivatio naturalis: para indicar modalidades específicas de uma dada palavra. A flexão indica que um dado vocábulo se dobra a novos empregos, havendo obrigatoriedade e sistematização coerente. Apresenta-se em português sob o aspecto de segmentos fônicos propostos ao radical como, por exemplo, em caixa/caixas e em gato/gata, em que se acrescentaram os sufixos flexionais ou desinências de número para o primeiro par de palavras e de gênero para o segundo par.
Dessa forma, podemos chegar à conclusão da sistematicidade do processo de flexão versus a assistematicidade da derivação. Na flexão, o falante não consegue criar: se o –s é a marca do plural em português, o falante não poderá expressá-lo, trocando o –s por –i, por exemplo, de “carros” dizer “carroi”, etc. Na derivação, devido à sua assistematicidade e imprevisibilidade, a língua pode ser recriada e enriquecida por conta da atuação e das necessidades de comunicação de seus usuários.
Em outras palavras, a flexão é obrigatória, pois não há outra opção no sistema da língua. A derivação é voluntária, em razão de sua possibilidade criadora.
A distinção entre flexão e derivação é perceptível quando se pode conceituar e analisar o vocábulo pelo seu significado e sua forma.
A flexão é obrigatória devido à concordância que antecederá a palavra, o que faz da derivação um processo sem preocupação obrigatória.
A derivação pode alterar a categoria da palavra resultante, mas a flexão não muda a classe da palavra que resulta.
Dentre as distinções do processo de flexão e derivação está a produtividade dos processos, ou seja, a ausência de marcas flexionais nos dá palavras incompletas; não há o mesmo tipo de obrigatoriedade para a derivação. Outra marca para distinguir esses dois processos é a regularidade. Um novo nome em português faz prever que o que distingue esses dois processos é a regularidade: esse novo nome em português pode ter plural ou feminino, mas não obrigatoriamente terá derivados em –ista ou –oso, já que a flexão é previsível enquanto a derivação é imprevisível.
Flexão Nominal e Verbal
O processo de flexão apresenta duas características essenciais: regularidade e obrigatoriedade. Consiste na associação regular à base de afixos que manifestam valores obrigatórios para determinadas classes de palavras da língua. A associação dos afixos à base é prevista por regras e os valores expressos por esses afixos são obrigatórios para determinadas classes de palavras da língua.
Bechara (2000:339), “Prefixos e afixos recebem o nome de afixos; são prefixos os afixos que se antepõem ao radical e sufixos os que se lhe pospõem.” 
Azeredo (2010:449) advoga que “A derivação padrão se fazpor meio de afixos (prefixos e sufixos), ao passo que a flexão padrão é expressa por meio de desinências.” 
Já Castilho (2010:664) considera o processo a que chama de afixação como “Processo das línguas flexivas em que sílabas curtas (=afixos) se agregam a uma raiz, formando o radical. Os afixos mais importantes são os prefixos (…) e os sufixos(…).”
O vocábulo “flexão” é a tradução do termo alemão “biegung” que significa curvatura, desdobramento. Por isso, podemos afirmar que um vocábulo pode se “desdobrar” em outras aplicações por meio do fenômeno gramatical da flexão.
Entretanto, a flexão, de acordo com Câmara Jr. (1972:71), ocorre por meio de acréscimo de segmento fônico ao radical chamado sufixo flexional ou desinência. 
O acréscimo de prefixo e/ou sufixo fará com que tenhamos outro processo: a derivação.
Dessa forma, podemos afirmar que a flexão nominal, nosso ponto de interesse nesta parte da aula, dá-se nas classes de palavras a que denominamos de variáveis, principalmente no que concerne aos substantivos e adjetivos. Muitos autores, como (KOCH; SILVA, 2005), por exemplo, adotam o termo adjetivo englobando todos os outros determinantes do substantivo, como os pronomes, artigos, numerais e o próprio adjetivo, uma vez que podemos perceber a flexão dessas classes em número, pelo menos.
o – Os/ ele - eleS/ primeiro – primeiroS etc.
Vejamos o que nos dizem as autoras supracitadas: 
“Funcionalmente, muitos dos nomes podem ser, conforme o contexto, substantivos (termos determinados) ou adjetivos (termos determinantes). Assim, no enunciado um diplomata mexicano, o segundo vocábulo é substantivo e o terceiro adjetivo, já em um mexicano diplomata dá-se o inverso.”
Todavia, podemos afirmar que há nomes que são essencialmente substantivos e outros essencialmente adjetivos no que tange aos seus usos funcionais?
Koch e Silva (2005) afirmam que sim, mas, “a distinção funcional não é absoluta”. Se nos voltarmos para nosso mestre Machado de Assis, o narrador de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” afirma não ser um “autor defunto”, mas um “defunto autor”. Isso nos mostra que a categorização de um nome em substantivo ou adjetivo depende não só de sua forma, mas, principalmente, de seu uso na frase.
Vamos, agora, falar de flexão nominal em termos formais? 
No âmbito formal, substantivo e adjetivo, via de regra, apresentam diferenças muito pequenas. Tanto um quanto outro são marcados por vogais temáticas, desinências de gênero e de número, vejamos:
MESTRE – E = vogal temática (substantivo ou adjetivo).
MENINA – A = desinência de gênero + Morfema zero apontando o singular.
MENINAS – S = desinência de número.
No que diz respeito à vogal temática, podemos ter, para os nomes, -a, -e, ou –o, como em: criançA, mestrE e medO, respectivamente. Entretanto, não podemos afirmar que só temos nomes terminados por essas vogais, uma vez que podemos ter nomes atemáticos, ou seja, palavras terminadas por consoantes ou por vogais tônicas, como em jiló, urubu, protetor, freguês etc. A presença da vogal temática não é suficiente para marcar um nome. 
Azeredo (2009:71) afirma que “existem vogais temáticas nominais, que enquadram substantivos, adjetivos e pronomes em três classes temáticas”. Entretanto, segundo o autor, “Nomes terminados em vogal tônica e em consoante não apresentam vogal temática, por isso se chamam atemáticos.”
Outra noção importante de Azeredo é a de que a vogal temática é um morfema gramatical que se junta ao radical para enquadrar a palavra numa classe formal. Todavia, uma vez que a vogal temática não é suficiente para dar a classe de uma palavra, podemos afirmar que essas vogais podem enquadrar as palavras na classe geral dos nomes.
A FLEXÃO DE GÊNERO 
Sabe-se que em Língua Portuguesa há dois gêneros: masculino e feminino. Formalmente, costuma-se afirmar que –o marca masculino, como em GAROTO, e o –a feminino, como em GAROTA. Entretanto, vejamos o que nos dizem Koch e Silva (2005:48):
“Tal flexão ( a de gênero) opera através do acréscimo do morfema flexional –a átono final à forma masculina. Quando a forma masculina é atemática, há simplesmente o acréscimo mencionado: peru – perua  autor – autora; mas, quando tal forma termina em vogal temática como pombo, parente, essa vogal é suprimida, através de uma mudança morfofonêmica, decorrente do acréscimo do morfema –a: pombo –o + a = pomba; parente –e + a = parenta.”
A partir dessa explicação, podemos afirmar que o masculino seria a forma não marcada, uma vez que a desinência nominal de gênero seria somente –a, o que nos dá um morfema zero na forma masculina. Além disso, trata-se de um fator de economia linguística e há outras maneiras de se apresentar o masculino, como em PROFESSOR. O masculino só é verificado pela ausência da desinência nominal de gênero –a, presente em PROFESSORA. 
Há, ainda, as palavras cujo gênero só pode ser marcado pelo uso de um determinante, uma vez que a vogal final marca somente a classe gramatical da palavra, como criança, mestre, bico etc. Não há oposição entre masculino e feminino, como em MENINO e MENINA. Dessa forma, ratificamos que a vogal –o de MENINO e de BICO, o –a de CRIANÇA e o –e de MESTRE são vogais temáticas, e não desinências de gênero.
A respeito das vogais temáticas e da desinência de gênero, advoga Henriques (2007:68): 
“É certo que o papel gramatical dessas vogais não tem uma delimitação específica como nos verbos. Interessa, porém, descrever de que forma ocorrem, para então se chegar à constatação de que essas vogais se caracterizam nos nomes por sua posição postônica final, o que as aproxima das desinências de gênero, igualmente postônicas finais (A e O), tornando necessário distinguir com clareza umas e outras.”
Tal afirmação de Henrique nos deflagra um problema metateórico da consideração da vogal –o de MENINO, por exemplo, como vogal temática ou como desinência de gênero. Se considerarmos Câmara Jr. (1972), Koch e Silva (2005), entre outros autores, veremos que o masculino é a forma não marcada e, o feminino a forma marcada. Já Henriques (2007), como vimos anteriormente, entre outros, consideram a vogal –o desinência de gênero.
Entretanto, o próprio Henriques (2007:68-69) apresenta citações de diversos autores que são quase unânimes em considerar somente –a desinência de gênero e para o masculino, temos o morfema zero, a forma não marcada, o que nos parece o posicionamento mais coerente, uma vez que nem todos os nomes masculinos são marcados pelo –o, como já verificamos acima.
Apenas um número mínimo de palavras não teria desinência de gênero, que seriam aquelas em que a vogal átona final não coincide com o gênero da palavra. Ele fornece-nos alguns exemplos, como: O diademA; O genomA; O gramA, entre outros.
GÊNERO X SEXO 
Outro ponto delicado no que tange à flexão nominal é a confusão entre gênero e sexo, uma vez que masculino e feminino são adjetivos desses dois termos. 
Além disso, não podemos dizer que MESA e RETRATO, por exemplo, são do SEXO feminino e masculino, respectivamente, só porque são do GÊNERO feminino e masculino. Koch e Silva (2005:49) fornecem-nos dois argumentos contrários à interpretação de gênero relativo ao sexo seres, vejamos:
O gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres animados, providos de sexo, quer designem apenas “coisas”, como: mesa, ponte, tribo, que são femininos (precedidos do artigo a) ou sofá, pente, prego, que são masculinos (precedidos pelo o);
O conceito de sexo não está necessariamente ligado ao de gênero: mesmo em substantivos referentes a animais e pessoas há algumas vezes discrepância entre gênero e sexo. Assim, a testemunha, a cobra são sempre femininos e o cônjuge, o tigre, sempre masculinos, quer se refiram a seres do sexo masculino ou feminino.
Dessa forma, podemos contestar algumas gramáticas, principalmente as escolares, no que tange à classificação dos substantivos em epicenos, sobrecomuns ou comuns de dois gêneros.
Se você quiser saber o que é EPICENO, SOBRECOMUM E COMUMDE DOIS DÊNEROS, LEIA ISTO: 
De acordo com Cegalla (2005:138): 
EPICENOS – Designam certos animais e têm um só gênero, quer se refiram ao macho ou à fêmea. Quando se quer indicar precisamente o sexo, usam-se as palavras macho ou fêmea. 
Ex.: a onça macho X a onça fêmea. 
SOBRECOMUNS – Designam pessoas e têm um só gênero, quer se refiram a homem ou a mulher. 
Ex.: a criança – o neném. 
COMUNS DE DOIS GÊNEROS – Sob uma só forma, designam os indivíduos dos dois sexos. São masculinos ou femininos, a depender do determinante que os acompanha. 
Ex. – o colega X a colega; o fã X a fã.
Primeiramente, porque tal classificação leva, necessariamente, em consideração o sexo dos seres, o que já vimos ser improcedente. Além disso, flexão é uma característica formal, morfológica das palavras, e tal classificação leva em conta critérios semânticos, uma vez que devem ser consideradas características externas à palavra. 
Vejamos o que nos diz o mestre Câmara Jr. (1972:79):
“É comum lermos em nossas gramáticas que mulher é o feminino de homem. A descrição exata é dizer que o substantivo mulher é sempre feminino, ao passo que outro substantivo, a ele semanticamente relacionado, é sempre do gênero masculino. (…) Da mesma sorte, não cabe para os substantivos epicenos (…) falar numa distinção de gênero expressa pelas palavras macho e fêmea. Em primeiro lugar, o acréscimo não é imperativo e podemos falar (como usualmente fazemos) em cobra e tigre sem acrescentar obrigatoriamente aqueles termos. Em segundo lugar, o gênero não mudou a indicação precisa do sexo. Continuamos a ter a cobra macho (…) o tigre fêmea.”
A FLEXÃO DE NÚMERO 
No que concerne à flexão de número, parece-nos algo muito mais simples e coerente, uma vez que se trata da oposição entre 1 e mais de 1 elemento/indivíduo, o que é formalmente marcada pela presença ou ausência da desinência –s e alguns alomorfes, como veremos agora. 
Segundo Henriques (2007:76), “constata-se com facilidade que o reconhecimento do plural será feito através do acréscimo de um morfema. A partir disso, podemos afirmar que a marca de singular em nossa língua é a ausência (morfema zero) e que só no plural haverá a representação gráfica propriamente dita.” 
Outro ponto importante diz respeito a palavras que são atemáticas no singular, por razões fonológicas, mas receber de volta a vogal temática no plural oi ainda tê-la novamente suprimida pelas mesmas razões fonológicas. É o caso de palavras terminadas em l, r, s e z, como em: 
ANIMAL – ANIMALES – ANIMAIS
MAR – MARES
FREGUÊS - FREGUESES
PAZ – PAZES
Koch e Silva (2005:52) apontam para duas exceções à oposição 1 mais de 1 indivíduo, a saber:
• A situação especial dos coletivos, em que a forma singular envolve uma significação de plural, e
• a de certos nomes em que a forma de plural refere-se a um conceito linguisticamente indecomponível, como em óculos, núpcias, algemas etc.
Assim como na flexão em gênero, o número possui a forma do singular não marcada (morfema zero) e a forma do plural marcada pela desinência de gênero –s que está assim presente em nomes terminados no singular em:
Vogais: porta – portas; bolo – bolos; etc.
Ditongos orais: céu – céus; etc.
Ditongos nasais átonos e alguns tônicos: bênção – bênçãos; irmão; irmãos; etc.
Essa seria a regra geral do plural em Português. Todavia, temos casos de alomorfia, por conta da complexidade nesse tipo de flexão no que tange às mudanças morfofonêmicas que podem ocorrer. Assim ocorre com nomes terminados em –r, z- e –n, precedidos de vogal tônica, que formam o plural com o acréscimo do alomorfe –es, como em país – países; radar – radares; vez – vezes.
Entretanto, há outros casos de alomorfia, a saber: 
• Nomes terminados em –l, precedidos de vogal diferente de –i – plural em –is: coronel – coronéis; caracol – caracóis; azul – azuis.
• Nomes terminados em –l precedidos de vogal –i, a mudança morfofonêmica irá depender da tonicidade da vogal. Se tônica, haverá crase, como em ANIL – ANIIS – ANIS. Se átona, há regressão de I para E, como em FÓSSIL – FÓSSIIS – FÓSSEIS.
• Nomes terminados em X e S, precedidos de vogal átona – a oposição singular X plural só é verificada pelo contexto: O/OS TÓRAX; A/AS CÚTIS.
• Nomes cuja vogal média tônica é o O fechado. Além do acréscimo de –S, troca-se o fonema fechado pelo aberto, como em ESFORÇO – ESFORÇOS; CORPO – CORPOS. São os chamados plurais metafônicos.
A QUESTÃO DO GRAU 
Tradicionalmente, afirma-se que o substantivo varia em gênero, número e grau.
A pergunta é: será que podemos falar em grau como flexão? 
Se considerarmos que a flexão, como vimos no início de nossa aula, é gramaticalmente motivada, veremos que a resposta é não. Uma vez que usar o aumentativo ou o diminutivo pode ser mera opção do falante.
Observe o quadro a seguir:
Em relação à flexão de grau, tem-se que o substantivo pode apresentar três graus: normal, diminutivo e aumentativo. Em relação ao par diminutivo/aumentativo há duas possibilidades de formação – a adjunção de sufixos (processo morfológico) ou o emprego de determinantes que modifiquem o conteúdo semântico com o acréscimo das noções de grandeza ou pequenez (processo sintático).
Assim, tem-se que alguns autores consideram que o morfema gramatical de grau não é um caso de flexão, e sim de derivação. Os adjetivos portugueses tristíssimo para triste, facílimo para fácil e, nigérrimo para negro, que as gramáticas costumam definir como processo de flexão de grau, não apresentam um mecanismo obrigatório, coerente e exaustivo e de termos exclusivos entre si. Do mesmo modo os graus aumentativo e diminutivo para os substantivos não podem ser considerados uma categoria gramatical como o são, por exemplo, as categorias de gênero e número. 
Já que o uso dos advérbios mais, menos e tão, seguidos de que, além do advérbio muito, são formas que a sintaxe oferece para expressar essas ideias, o uso dos sufixos para formar o superlativo sintético deveriam constituir processo de derivação, podendo ocorrer como nos exemplos a seguir: cabeça/cabeçorra/cabeção, ilhazinha/ilha/ilhota, casa/casinha / casebre.
Além disso, segundo Basílio (1991:84):“Tanto o diminutivo quanto o aumentativo, em sua função central de indicar uma dimensão menor ou maior daquilo que é considerado implicitamente como um padrão normal, apresentam também uma função de expressar uma atitude emocional do falante [...] o tamanho de um ser que pode ser expresso de maneira neutra pela aposição de adjetivos como ‘grande’ ou ‘pequeno’, passa a ser expresso de uma maneira subjetiva [...] Vejam os seguintes exemplos: 
• (1) (a) João comprou um apartamento grande.
•      (a) João comprou um apartamentão.
A FLEXÃO VERBAL 
A flexão verbal indica noções gramaticais e semânticas diversas, como por exemplo, tempo, modo, pessoa, número e aspecto. 
No que tange ao seu aspecto formal, resumidamente, temos:
RAIZ: elemento que é a base do significado.
VOGAL TEMÁTICA: elemento que enquadra o radical em uma classe (verbo ou substantivo, por exemplo).
DESINÊNCIA MODO TEMPORAL: elemento que indica o modo e tempo do verbo.
DESINÊNCIA NÚMERO PESSOAL: elemento que indica o número (plural) e a pessoa (3ª) do verbo.
Vejam que todos os morfemas flexionais do nosso exemplo estão expressos por uma necessidade gramatical, o que comprova o caráter flexional dos verbos. 
Resumidamente, temos: 
TEMA (RADICAL + VOGAL 
TEMÁTICA) + DESINÊNCIAS 
FLEXIONAIS (DMT + DNP)
Entretanto, qualquer elemento dessa fórmula, exceto o radical, pode faltar ou sofrer variações formais, a não ser por casos de alomorfia, como pode ocorrer no caso dos verbos irregulares.
Henriques (2007:32-34) mostra-nos uma oposição formal entre a 1ª conjugação, marcada pela vogal temática –A, e a 2ª e 3ª conjugações, com VT –E e –I. Tal noção nos parece coerente, uma vez que temos CANTAVA – VENDIA – PARTIA, por exemplo. As três formas verbais estão no pretérito imperfeito do modo indicativo, na primeira pessoado singular e a DMT é a mesma em VENDIA e em PARTIA. O mesmo ocorre com todas as outras pessoas destes verbos nesse mesmo tempo, bem como no pretérito perfeito, no futuro do presente etc.
A flexão verbal nos oferece um modelo razoavelmente regular, no que tange às estruturas paradigmáticas dos verbos. Isso, segundo Henriques (2007:39), possui finalidades práticas que são:
Formatar todos os verbos da língua portuguesa conforme sua conjugação, substituindo-se apenas o radical de um pelo radical de outro;
Identificar qualquer irregularidade existente na flexão de um verbo, esteja ela na mudança do radical no infinitivo (soub-emos), no apagamento de uma desinência (coube-Ø), no reaparecimento de uma vogal temática (sa-i-am), na mudança do timbre da vogal temática (fiz-e-sse), no deslocamento da sílaba tônica (est-ou).
E os chamados verbos Irregulares? 
São aqueles que não obedecem ao paradigma dos chamados verbos regulares. 
AULA 6 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS II
Sem mais delongas, estudaremos a DERIVAÇÃO e a COMPOSIÇÃO. De acordo com Henriques (2007, p.113): 
“São dois os processos principais de formação de palavras em português: a composição, onde se agrupam radicais diferentes na formação de um novo vocábulo, e a derivação, onde ao radical da forma primitiva se acrescenta um afixo qualquer.”
Observe:
Palavras formadoras			Palavra composta formada 	 		Significado
amor + perfeito				amor-perfeito		 	 nome de uma flor
amor e perfeito				amor perfeito	 		 um sentimento amoroso
Basílio (2007, p. 33-34) afirma que o que caracteriza o processo da composição é a sua estrutura, uma vez que as bases, ou seja, os radicais que se unem para formar a nova palavra têm seu papel definido pela estrutura.
COMPOSIÇÃO consiste em produzir palavras compostas a partir de palavras simples. Palavras simples são aquelas em que existe um único radical como AMOR e PERFEITO. Para produzir uma palavra composta, é necessário estabelecer o significado das palavras formadoras isoladamente e desvinculá-lo das palavras simples da nova palavra formada para surgir um novo significado. A noção de palavra composta surge do fato de termos mais de uma base, ou seja, mais de um radical na formação da nova palavra.
Isso é observável, segundo a autora, quando a palavra composta é formada por dois substantivos ou por um verbo + substantivo. No primeiro caso, o segundo substantivo será um modificador do primeiro, cabendo a ele uma função adjetiva. Já no caso verbo + substantivo, a classe nominal parece funcionar como objeto direto do verbo. Vejamos:
Sofá-cama (cama é a função do sofá, sua característica)
Mata-mosquito (mosquito é o complemento do verbo matar, que é transitivo direto)
Já Azeredo (2010, p. 99-98), em seu livro Fundamentos de Gramática Portuguesa, acrescenta-nos as características gramaticais e semânticas da composição, a saber:
CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS
“Uma palavra composta é vista como uma estrutura fixa, um sintagma bloqueado gramaticalmente reinterpretado como uma unidade lexical nova. Seus componentes não sofrem elipse.”
CARACTERÍSTICAS SEMÂNTICAS 
“Uma palavra composta é interpretada como uma nova unidade de significado. Este significado novo pode ser entendido, muitas vezes, como a soma dos significados particulares dos lexemas componentes.”
Existem dois tipos de composição: 
Composição por JUSTAPOSIÇÃO: consiste em formar palavras compostas que ficam lado a lado, ou seja, juntam-se dois ou mais radicais, justapostos, sem perda de letras ou sons.  
Em outras palavras, não há redução alguma dos morfemas que formam a nova palavra. 
Henrique (2007, p. 113) advoga que ocorre supercomposição “quando se reúne num único vocábulo formal um verdadeiro conglomerado de radicais, como vemos em três substantivos que servem de nome para uma ave da Amazônia (adivinhe-quem-vem-hoje, gente-de-fora-já-chegou, gente-de-fora-vem), no nome da planta “comigo-ninguém-pode” ou em neologismos ocasionais (…)” 
Outro aspecto importante da composição por justaposição decorre do fato de as palavras poderem ser formadas com ou sem hífen. Muitas pessoas pensam que todas as palavras formadas por esse processo possuem hífen, o que NÃO é verdade!
Podemos afirmar que todas as palavras compostas com hífen são por justaposição, mas o oposto não é verdadeiro, ou seja, nem todas as palavras formadas por justaposição são com hífen. Nos exemplos a seguir, TODAS as palavras são formadas por JUSTAPOSIÇÃO: 
Mandachuva, passatempo, guarda-pó, pé-de-galinha, cachorro-quente.
2) Composição por AGLUTINAÇÃO: consiste em formar palavras compostas nas quais pelo menos uma das palavras (radical/base) perde a sua integridade sonora, ou seja, pelo menos um dos vocábulos formadores sofre alterações de ordem fonética ou fonológica. Observe os exemplos abaixo:
planalto = plano + alto
vinagre = vinho + acre
DERIVAÇÃO é a formação de vocábulos por meio do acréscimo de prefixos e sufixos ao radical. Convém, neste caso, falarmos em palavra primitiva e palavras derivadas.  
Na aula 5, vimos a diferença entre flexão e derivação. A flexão é fruto de uma necessidade gramatical (derivatio naturalis). Já a derivação é fruto da criação do falante atendendo à determinada necessidade comunicativa, mas não gramatical (derivatio voluntaria).
Trata-se de um processo muito produtivo na língua, pois muitas novas palavras podem ser criadas.
Observe:
Palavras primitivas (aquelas que na língua portuguesa não provém de outras palavras): pedra, flor.
Palavras derivadas (aquelas que na língua portuguesa provém de outras palavras): pedreiro, pedraria, pedregulho; florido, florescer, aflorado.
A derivação pode ser classificada em: 
Derivação prefixal (prefixação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um prefixo ao radical.
in + comum= incomum
des + leal = desleal 
Derivação sufixal (sufixação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um sufixo ao radical.
feliz + mente = felizmente
leal + dade = lealdade
Derivação prefixal e sufixal (prefixação e sufixação): a palavra é formada por acréscimo de prefixo e sufixo à palavra base, com a possibilidade de retirar esses afixo e, ainda assim, teremos uma palavra.
Ex.: infelizmente
Derivação parassintética (parassíntese): a palavra nova é obtida pelo acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo, que não podem ser retirados, pois a palavra perderia o seu significado. Por parassíntese geralmente formam-se verbos.
Ex.: entristecer
Derivação regressiva: a palavra nova é obtida pela redução da palavra primitiva, ou seja, consiste na subtração de elementos. Geralmente, esse processo forma nomes oriundos de verbos.
Ex.: atrasar – atraso; embarcar – embarque.
Derivação imprópria: a palavra nova é obtida pela mudança de categoria gramatical da palavra primitiva. Não ocorre alteração da forma, só da classe gramatical. Trata-se de um caso especial de derivação, uma vez que não há acréscimo ou supressão de morfemas.
Ex.: Homem-aranha – O adjetivo aranha deriva do substantivo aranha.
Outros exemplos de derivação imprópria:
Substantivo comum a próprio: Figueira, Ribeiro, Fontes
De substantivo/adjetivo/verbo a interjeição: Silêncio! Bravo! Viva
De adjetivo a substantivo: circular – ouvinte
Em termos de estrutura das palavras, ocorre que algumas possuem estrutura mais complexa, conforme exemplifica Kehdi (2007):
Segmentação da palavra DESRESPEITOSAMENTE
des		respeit			osa		mente	
Para que esta análise da formação seja realizada, recorre-se a uma análise em constituintes imediatos.
E o que são os constituintes imediatos?
SUPERPOSIÇÃO DE CAMADAS, ou seja, combinação de construções que formam uma palavra ou frase. 
Tomemos como exemplo a palavra formalização, que segmentada ficaria: 
{forma(a)}  + {al} + {iz} + {a} + {ção}
Seguindo o critério de superposição de camadas, veremos, de acordo com Kehdi (2007), que a palavra em questão não é mera sequência de morfemas, pois:
O substantivo forma recebe o sufixo al para formaro adjetivo formal que, por sua vez, recebe o sufixo izar para formar o verbo formalizar. Para a formação do substantivo formalização, temos o acréscimo do sufixo ção ao verbo formalizar. Temos, então, que esse substantivo só poderia ser formado a partir dessa forma verbal, confirmando o entendimento de superposição de camadas ao invés de sequência de morfemas de uma só vez, em que não poderíamos ter o substantivo forma sendo acrescido dos sufixos al, izar e ção ao mesmo tempo, considerando que cada um desses sufixos necessita de uma base (palavra) adequada para formar outras.
AULA 7 – CLASSES DE PALAVRAS I
CLASSES E FUNÇÕES 
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), um guia criado em 1958 que contém um resumo do conteúdo a ser utilizado nos livros de Língua Portuguesa, propõe 10 classes de palavras: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
A NGB é uma espécie de resumo dos conteúdos gramaticais referentes ao português falado no Brasil e funciona como um guia para o ensino da nossa língua.
A NGB foi criada em 1958 por um grupo de estudiosos e gramáticos de muito prestígio, como Antenor Nascentes, Rocha Lima e Celso Cunha. No ano seguinte, foi transformada em lei por uma portaria do presidente Juscelino Kubitscheck e passou a ser utilizada obrigatoriamente nas escolas de todo o Brasil. Antes da existência dessa lei, o estudo da gramática não era unificado e havia muita confusão com o uso de diversas terminologias.
SUBSTANTIVOS
Os substantivos, juntamente com os adjetivos, os verbos e os advérbios representam uma classe aberta em nossa língua, ou seja, novos substantivos, novos adjetivos, novos verbos e novos advérbios são criados constantemente na língua pelos mecanismos de que esta dispõe para formar novas palavras. 
Os substantivos podem ser definidos a partir de critérios diferentes.
Critério semântico ou nocional. Baseia-se no modo de significação, extralinguístico e intralinguístico, do vocábulo. Cunha e Cintra (2008, p. 92), assim como muitos outros gramáticos, definem substantivo a partir de um critério semântico como “a palavra com que designamos os seres em geral”. 
Esses autores colocam que são substantivos “[...] nomes de noções, ações, estados e qualidades tomados como seres” (p. 191).
José Lemos Monteiro, em Morfologia Portuguesa (2002, p. 226), considera que há problemas nessa definição:
1. O que um ‘ser’?
2. Justiça, fé, doença, ideia são substantivos e não são seres.
3. Qualquer vocábulo assume a função de substantivo quando antecedido por um determinante: o sim, o viver, o aqui-e-agora.
Critério formal ou mórfico: esse critério se refere às características da estrutura do vocábulo. Assim, por esse critério, substantivo é o vocábulo formado por base lexical mais morfemas gramaticais: vogal temática nominal; desinências (gênero e número) e sufixo (nominal).
O critério mórfico ou de natureza formal que se baseia em propriedades de forma gramatical que podem apresentar. Margarida Basílio, em Teoria Lexical, afirma que “[...] substantivo é definido como uma palavra que apresenta as categorias de gênero é número com as flexões correspondentes.” (1991)
Problemas: segundo Basílio, substantivos e adjetivos possuem as mesmas flexões.
Critério funcional: esse critério baseia-se na função ou papel que o vocábulo desempenha na oração. Desse modo, substantivo é o vocábulo que funciona como núcleo de uma expressão ou como termo determinado. Em termos funcionais, o substantivo pode ser, segundo Basílio (1991), núcleo do sujeito, do objeto ou do agente da passiva.
CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS 
Tradicionalmente, os substantivos podem ser concretos e abstratos. Um substantivo concreto “designa ser de existência independente” e um substantivo abstrato “designa ser de existência dependente.” (BECHARA, 2000, p. 113).
Mas o que significa, afinal, dependência e independência nesse contexto de classificação de substantivos? Por exemplo, quando pensamos em ‘sol’ temos um substantivo concreto porque o sol não precisa de outros seres para existir; quando pensamos em ‘concentração’ ou ‘felicidade’ temos um substantivo abstrato: para que ‘concentração’ ou ‘felicidade’ se manifestem é preciso que haja alguém ou alguma coisa acontecendo.
Vamos pensar: Por que esses substantivos são chamados de abstratos?
Imagine que estejamos brincando de mímica e queiramos fazer a mímica da palavra verdade. Como faríamos? E a da palavra mentira? Os substantivos abstratos são muito difíceis de serem descritos nessa brincadeira. Poderíamos considerar o substantivo felicidade como mais fácil de ser apresentado: tentaríamos um sorriso, uma cara alegre, talvez uma gargalhada. Com certeza, nossos companheiros no jogo nos diriam muitas outras palavras antes de inferir que a palavra correta é felicidade, se é que o fariam.  
Fernando Moura, em Gramática aplicada ao texto (2002, p. 18), ao comentar a nomenclatura abstrato, afirma que “[...] de um papel branco, de um pano branco, de uma nuvem abstrai-se a idéia de branco. Brancura é assim um substantivos abstrato. Da idéia de morrer, tira-se a idéia de morte.”
Um substantivo concreto pode ser próprio e comum. Um substantivo próprio designa um indivíduo em particular de uma espécie como ‘Fusca’ ou ‘Mariana’. Um substantivo comum designa todos os indivíduos de uma espécie como ‘carro’ e ‘criança’.
Substantivos primitivos ou derivados: substantivos primitivos são aqueles que não vêm de outra palavra na língua, como é o caso de ‘flor’; substantivos derivados são aqueles formados a partir de outras palavras na língua pelo processo de derivação, como em ‘florista’.
Substantivos simples e compostos: substantivos simples apresentam um único radical (flor) e o substantivo composto apresenta mais de um radical (flor-de-lis).
Substantivo coletivo: nomeia um conjunto de seres de uma mesma espécie, como é o caso de ‘assembleia’, coletivo que nomeia um grupo de pessoas reunidas.
Você já parou para pensar na razão pela qual pessoas pouco escolarizadas usam com tanta frequência “A gente fomos”? Isso acontece porque os substantivos coletivos, por serem nomes no singular que se referem a um conjunto, acabam por gerar variação na concordância verbal. 
Ressalte-se que a forma ‘a gente’, acompanhada de verbo conjugado na terceira pessoa do singular, embora comum na língua falada, deve ser evitada em ambientes de formalidade, já que ela não é prescrita pela gramática normativa.
Como saber se uma palavra é substantivo?
Sautchuk, em seu livro Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)sintática, considera que o critério sintático é o mais eficiente para a identificação e classificação dos substantivos. “[...] Só é substantivo, em português, a palavra que se deixa anteceder por determinantes.” (2004, p. 16)
É possível que palavras que não sejam substantivos funcionem como tal, pois uma palavra de outra classe gramatical pode ocupar uma função sintática típica do substantivo. Observe os exemplos a seguir:
1. O não é uma característica de todos os chefes. 
2. Vamos aos finalmentes! 
3. O andar dele é muito esquisito. 
4. Seu falar me irrita.
Em todos os exemplos anteriores, as palavras sublinhadas pertencem, originariamente, a outras classes. Nas sentenças 1 e 2, os itens sublinhados pertencem à classe dos advérbios; nas sentenças 3 e 4, à classe dos verbos.
No entanto, nas quatro, verbos e advérbios encontram-se antecedidos por um item gramatical chamado de forma.
Assim, muitas palavras pertencentes a outras classes podem se tornar substantivos quando antecedidas por determinantes.
ADJETIVOS
Adjetivos são palavras que indicam qualidade, defeito, característica (aspecto ou estado) ou origem de um substantivo, podendo ser simples (branco) ou compostos (branco-gelo). Em língua portuguesa, há diferentes recursos com a função de apresentar atributos e características dos seres, ou seja, tem-se a classe de palavra chamada de ‘adjetivo’ e outras formas paraque se exerça a função de adjetivar.
Exemplos.
Adoro livros novos.						Comprei livros de história.
livros – substantivo						substantivo + locução adjetiva	
novos – adjetivo
Carro de João – essa locução adjetiva indica posse
Meu carro – o pronome possessivo ‘meu’ é chamado ‘pronome adjetivo’: ele também indica posse.
Livros usados são mais baratos.
Substantivo + particípio passado de verbo
Livros que são usados são mais baratos.
Substantivo + oração subordinada adjetiva
Continuando nossa conversa sobre adjetivos, vamos analisar o trecho a seguir, retirado do capítulo XIII do livro Dom Casmurro e observar o que o autor descreve da personagem Capitu. 
“Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos [...] desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.” 
(Trecho do livro Dom Casmurro, p. 27)
Podemos observar que ao utilizar a adjetivação dos substantivos ‘criatura’, ‘vestido’, ‘cabelo’, ‘olhos’, ‘nariz’, ‘boca’ e ‘queixo’, o autor nos dá uma breve descrição da personagem Capitu. 
Criatura de quatorze anos, alta, forte, cheia, que está apertada em um vestido de chita.
O vestido, além de ser um ‘vestido de chita’, está ‘meio desbotado’.
				Locução adjetiva		particípio
Seus cabelos são ‘grossos’ e ‘longos’, já que o autor nos diz que eles ‘descem até as costas’.
Capitu é ‘morena’, possui olhos ‘claros’ e ‘grandes’.
Seu nariz é ‘reto’ e ‘comprido’.
Sua boca é ‘fina’.
Seu queixo é ‘largo’.
Conforme dito, nem sempre utilizamos o adjetivo para caracterizar o substantivo. Esse processo de adjetivação pode ser feito através de um conjunto de palavras que tem valor de adjetivo: são as locuções adjetivas, normalmente formadas por uma preposição e um substantivo ou por uma preposição e um advérbio. Muitas dessas locuções possuem adjetivos equivalentes, como a locução ‘de mãe’ equivalente ao adjetivo ‘materno’. 
No texto anterior, a expressão ‘de chita’ qualifica o vestido: Capitu não usa um vestido de seda, nem um vestido de cetim: caracterizando seu vestido como ‘de chita’, o autor nos remete à ideia de um vestido simples, feito de um algodão barato e geralmente, estampado com flores. Apesar da simplicidade do vestido, Machado de Assis escreve “Não conseguia tirar os olhos daquela criatura [...]”, o que nos mostra o profundo efeito que Capitu produzia, desde a infância dos personagens.
Conforme dissemos, muitas locuções possuem adjetivos equivalentes. No entanto, há casos em que essa correspondência não ocorre. A seguir, temos o primeiro parágrafo da crônica Brasília Fashion, escrita por Tony Bellotto. Nesse trecho, há adjetivações realizadas através de locuções, não substituíveis por adjetivos, que contribuem para o estabelecimento do significado no texto.
“O deputado da meia será afastado do cargo. E assim entrará para a história: como o deputado da meia. Não se fazem mais políticos importantes com nomes imponentes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves ou Rui Barbosa. Agora os políticos se imortalizam por alcunhas edificantes como o deputado da meia, o senador do bigode, o prefeito da cueca, o vereador da peruca, o governador do panetone, a deputada da bolsa, o assessor da mala, a senadora da propina, o ministro do cartão corporativo, o suplente da pochete e assim por diante.”
Se procurarmos o significado da palavra adjetivo em um dicionário, veremos que, originariamente, ela significa ‘colocado ao lado de’. Isso nos mostra como o adjetivo funciona: para sabermos o que é um adjetivo, precisamos relacioná-lo ao substantivo ao qual se refere. Como substantivos e adjetivos compartilham características, frequentemente a distinção entre eles depende de elementos fornecidos pelo contexto.
Exemplos. 
• O idoso brasileiro conseguiu muitos benefícios.
• O brasileiro idoso conseguiu muitos benefícios. 
Na primeira frase, idoso é substantivo e brasileiro é adjetivo; na segunda, os papéis se invertem. 
Vejamos agora os exemplos a seguir:
• Meu amigo velho continua frequentando minha casa.
• Meu velho amigo continua frequentando minha casa.
Na primeira frase, velho indica a idade do amigo; na segunda, quando colocamos o adjetivo anteposto, esse adjetivo passa a indicar afetividade. Assim, podemos concluir que quando colocamos o adjetivo após o substantivo ele conserva seu sentido de forma mais objetiva; quando o posicionamos antes do substantivo, ele passa a ter um valor mais sentimental. Essas diferentes colocações do adjetivo são usadas pelos autores para demonstrar suas intenções e seus pensamentos acerca do mundo que os cercam.
Ao estudarmos os substantivos, discutimos a possibilidade de outras classes gramaticais tornarem-se substantivos pela presença do determinante. Essa possibilidade também existe em relação ao adjetivo: é possível substantivá-lo utilizando essa mesma estratégia. Na Bíblia, em Mateus 5, temos: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.” A palavra ‘manso’, originariamente um adjetivo, tornou-se nesse contexto um substantivo. 
Há muitos adjetivos que podem ser substantivados, quando precedidos por determinantes.
Este bolo está muito doce. 
                            Adjetivo
Este doce está uma delícia. 
Substantivo (precedido pelo determinante este)
Apesar de haver casos de adjetivos que podem atuar como substantivos, Basílio (1991, p. 82), afirma que adjetivos como bonito, satisfeito, emocionante, dentre outros, são usados exclusivamente como adjetivos. 
Exemplo: Esse filme é emocionante.
*O emocionante foi visto por milhares de pessoas. 
(Esse asterisco significa que a frase, embora correta sintaticamente, causará em um falante de Língua Portuguesa certo estranhamento.)
Ilari e Basso, no livro O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos (2006, p. 111), mostram que há palavras e frases que, embora não sejam originariamente adjetivos, acabam por funcionar como tal. Os autores apresentam os casos a seguir:
Ela sempre usa roupas muito cheguei.
Ele é um cara muito família. 
Ele é um banana!
O GRAU DOS ADJETIVOS E OS EFEITOS DE SENTIDO
Quando estudamos o substantivo, vimos que há diferença de sentido nas duas formas previstas pela gramática para se fazer o aumentativo, fenômeno que se repete em relação ao adjetivo. O superlativo do adjetivo, ou seja, a expressão de intensidade em uma qualidade expressa pelo adjetivo, pode ser feito com o sufixo –íssimo ou construído com muito. Dizer que “João é muito inteligente” não acarreta o mesmo significado que temos ao dizermos que “João é inteligentíssimo.”
Além disso, cabe comentar o uso de ‘super’ para indicar uma qualidade positiva. Basílio (1991, p. 88) afirma que essa estrutura:
“[...] é usada a composição de super + adjetivo ou substantivo: superescola, superluxo, supertroca, superinteligente. A composição com super tem como acepção primária a expressão do grau de intensidade. Dessa noção passa-se à noção de intensificação positiva. É de se observar que composições com super via de regra não funcionam com base de valor negativo: super-riqueza, *superpobreza, superinteligente/*superburro.”
ADJETIVO 
O que é um adjetivo? A visão tradicional define adjetivo como um item que promove a delimitação , ou seja, “[...] por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo, orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto denotado.” (BECHARA, 2000, 142).
Isso significa, resumidamente, que “Adjetivo é a palavra que expressa qualidade.” (Idem, p. 227)
Margarida Basílio, respeitada professora e pesquisadora, considera que há uma problema nessa definição de adjetivo, pois ela considera que o adjetivo não se caracteriza pelo significado e sim pela função. Segundo ela, o adjetivo tem uma “[...] vocação sintática. De fato, o adjetivo não pode ser definido por si só, sem a pressuposição do substantivo, já que

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