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TIPOS DE PARTOS E TAMANHO DAS CRIAS DE NOVILHAS COM DIFERENTES

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Revista da FZVA 
Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 155-166. 2002. 
TIPOS DE PARTOS E TAMANHO DAS CRIAS DE NOVILHAS COM DIFERENTES 
GRAUS DE MUSCULOSIDADE 
PARTURITION APTITUDE AND CALF SIZE OF BEEF HEIFERS WITH VARYING 
MUSCLE DEVELOPMENT 
Jorge Schafhäuser Jr.1 Antonio Bento Mancio2 Ciro Alexandre Alves Torres3 Carlos Augusto 
de Alencar Fontes3 Paulo Roberto Cecon3 Mário Fonseca Paulino3 
RESUMO 
O excessivo desenvolvimento muscular em bovinos de corte, principalmente das raças 
européias continentais, pode refletir-se no seu desempenho nos sistemas de produção, 
afetando o resultado econômico desses sistemas. Animais mais musculosos e que acumulam 
menos gordura como forma de reserva energética e tendem a ser nutricionalmente mais 
exigentes, o que pode levá-los a apresentar menores índices de produtividade em ambientes 
onde a nutrição é limitante durante o ciclo produtivo. Além disso, fêmeas mais musculosas 
podem gerar crias com maior peso ao nascer, ao mesmo tempo que a musculatura excessiva 
pode contribuir negativamente para a normalidade dos partos. Foram avaliados o tipo de 
partos, o tamanho das crias e a duração da gestação de 114 novilhas cruzadas Blonde 
D’Aquitaine Caracu, em função de indicadores do seu desenvolvimento muscular. As 
novilhas musculosas apresentaram maior incidência de partos difíceis e de bezerros grandes 
ao nascimento. A duração da gestação não diferiu entre os grupos. 
PALAVRAS CHAVE: desenvolvimento muscular, novilhas de corte, facilidade de parto, 
tamanho da cria, duração da gestação. 
ABSTRACT 
High muscle development and low body fat in beef cattle can impair the reproductive 
performance of the animals. Nutritional requeriments of these animals are bigger than normal 
animals, and it is important where the nutrition is insufficient. Moreover, muscular heifers can 
produce large calves at the parturition and the excessive musculature can impair a normal 
 
1
 Zootecnista MSc., professor da FZVA/PUCRS, Uruguaiana-RS. Email: jorgejr@pucrs.campus2.br 
2
 Professor do Departamento de Zootecnia/UFV, Viçosa-MG. 
3
 Professor do Departamento de Matemática/UFV, Viçosa-MG. 
 
Schafhäuser Jr et al. 
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parturition. Were measured the parturition aptitude, calf size and pregnacy period of 114 
crossed heifers, separated by weight/height rate, like a muscular development indicator. 
Muscular heifers showed more hard parturitions and large calves than normal ones. The 
pregnancy period were not affected. 
Key Words: muscular development, beef heifers, parturition aptitude, calf size, pregnancy 
period. 
INTRODUÇÃO 
Os avanços da pecuária de corte, 
atualmente, incluem os cruzamentos 
industriais e, cada vez mais, as raças 
bovinas continentais têm sido utilizadas em 
várias regiões do Brasil. 
A utilização de raças de grande 
porte, visando melhorar a eficiência do 
ganho de peso e as características de 
carcaça, tem levado a pecuária de corte 
brasileira a apresentar avanços na 
produtividade como rendimento de carcaça, 
conversão alimentar, velocidade de ganho 
de peso, rendimento à desossa entre outros. 
Os incrementos em características 
de produção, como desenvolvimento de 
músculos na carcaça, velocidade e 
eficiência de ganho de peso, têm levado os 
animais a apresentarem elevados pesos à 
idade adulta, bem como pronunciado 
desenvolvimento muscular, bastante 
característico das raças continentais. 
Apesar da escassez de dados na 
literatura, observações de campo têm 
mostrado que à medida que são utilizados 
animais melhoradores, principalmente das 
raças continentais, algumas características 
relacionadas à capacidade adaptativa têm 
sido perdidas, levando os animais muitas 
vezes a reduzirem sua eficiência funcional. 
Objetivou-se estudar os efeitos do 
desenvolvimento muscular de fêmeas 
bovinas de corte sobre problemas 
relacionados ao parto, tamanho das crias ao 
nascimento e duração de gestação. 
REVISÃO DE LITERATURA 
Raças que têm sido selecionadas 
para produção de leite alcançam a 
puberdade a idades mais jovens, enquanto 
que raças de maior porte e com maior 
ímpeto de crescimento muscular (raças 
continentais de corte) tendem a alcançar a 
puberdade a idades mais tardias, e isso pode 
refletir-se por toda vida reprodutiva. Raças 
como a Limousine, Blonde D’Aquitaine, 
Gasconne e Chianina tendem a apresentar 
maturidade mais tardia que outras raças 
continentais (MÉNISSIER e FRISCH, 
1992). 
As diferenças entre raças podem 
estar, também, influenciadas pela interação 
genótipo × ambiente. Os fatores ambientais 
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podem incluir manejo, nutrição, idade, raça 
paterna, entre outros. As interações 
genótipo × ambiente têm marcante 
influência quando se consideram diferentes 
ambientes e diferentes grupos genéticos 
(BUCK et al., 1976). 
As poucas correlações genéticas 
disponíveis indicam que a seleção para 
animais com pouca gordura a uma 
determinada idade, e a alta taxa de ganho de 
peso pós-desmama podem aumentar 
levemente o peso e a idade da novilha à 
puberdade, além de possibilitar a ocorrência 
de nascimento de bezerros com peso 
elevado. A seleção de fêmeas por 
fertilidade apenas daria bons resultados se a 
variabilidade devida a fatores ambientais 
como suprimento de alimentos, fosse 
reduzida tanto quanto possível (McNEIL et 
al., 1984). 
As correlações genéticas entre as 
raças e dentro delas indicam que aumento 
no tamanho da vaca e sua musculosidade 
estão associados com aumento da 
incidência de distocia, particularmente por 
causa do aumento do peso ao nascer do 
bezerro (efeito maternal direto) mais do que 
o efeito da abertura pélvica. Portanto, 
qualquer seleção a favor de tamanho 
corporal, musculosidade ou lenta taxa de 
maturação parece estar associada a perdas 
em características de habilidade materna 
(BURFENING et al., 1981; CUNDIFF et 
al., 1986). 
Segundo McNEIL et al. (1984), a 
seleção a favor de altos ganhos no período 
pós-desmama resulta em aumento da idade 
e peso à puberdade, aumento do tamanho à 
maturidade, redução no período de 
gestação, aumento no peso ao nascer das 
crias e redução no ganho pré-desmama. 
Segundo o mesmo autor, a seleção a favor 
de quantidades reduzidas de gordura na 
carcaça, que resulta em carcaças mais 
desejáveis, tem reflexos negativos sobre as 
variáveis reprodutivas nas fêmeas 
correspondentes. 
O trabalho de McNEIL et al. (1984) 
evidenciou correlações desfavoráveis entre 
características de produtividade na fêmea e 
das características desejáveis de carcaça nos 
novilhos correlatos. 
Alguns resultados de trabalhos 
como o de GARRET (1971) usando abate 
comparativo, indicaram que novilhos da 
raça holandesa precisaram de 23% mais de 
alimento para manter a energia corporal em 
relação a novilhos Hereford. 
Resultados de vários estudos têm 
apresentado que respostas correlacionadas à 
seleção podem ser resultado de interações 
genótipo × ambiente. A seleção pode 
resultar em uma população de animais 
altamente adaptados a um ambiente 
específico, porém menos adaptados a 
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ambientes diferentes e com menor 
capacidade de adaptação a mudanças 
ambientais (NRC, 1996). 
No manejo de um sistema, a 
disponibilidade de forragem e o padrão do 
gado são as variáveis que o produtor pode 
manipular mais facilmente. Existem 
interações entre genótipo de novilhas (peso, 
altura e condição corporal) e 
disponibilidade de forragem em ambientes 
úmidos ou semi-áridos, conforme 
HOLLOWAY et al. (1992). 
No trabalho de SOLIS et al. (1988),
animais das raças Angus, Brahman e 
Hereford apresentaram exigências de 
mantença com valores de 91,6, 93,8 e 95,3 
Kcal/kg0,75 respectivamente, enquanto que 
animais das raças Holandesa e Jersey 
apresentaram valores de 115,7 e 140,4 
Kcal/kg0,75. A eficiência energética foi 
diferente (P < 0,05), sendo menor (36,2 a 
36,5%) para as raças leiteiras em relação às 
raças de corte (66,0 a 80,6%). 
Animais que mobilizam e 
armazenam maiores quantidades de gordura 
corporal tendem a ser mais eficientes em 
ambientes onde a energia é fator limitante. 
Em ambientes onde a energia é disponível 
em quantidade suficientes, a situação pode 
ser invertida, pois acúmulos de gordura não 
são desejáveis. 
No experimento de SOLIS et al. 
(1988), os resultados indicaram que vacas 
Brahman tiveram menor consumo de 
matéria seca, digeriram melhor o alimento e 
tiveram melhor eficiência energética, como 
um reflexo de menor tamanho de órgãos 
metabolicamente ativos. Nas raças leiteiras, 
o maior tamanho de órgãos 
metabolicamente ativos e tecidos internos 
foi responsável pelas maiores exigências de 
mantença. Tecido muscular magro em 
relação à deposição de gordura contribui, 
em parte, para a diferença de eficiência 
energética entre diferentes raças e/ou tipos 
biológicos. 
A condição musculatura dupla é 
caracterizada por hiperplasia generalizada 
dos músculos, redução na percentagem de 
tecido adiposo, redução no peso do 
esqueleto e maior proporção de músculos 
nobres sem comprometer a qualidade da 
carne. Entretanto, aquela condição está 
associada a problemas de produção, como 
fertilidade reduzida, maior incidência de 
partos distócicos, maior mortalidade de 
bezerros e susceptibilidade ao “stress”, o 
que limita seriamente a sua utilização na 
produção de bovinos de corte. Animais 
heterozigotos para esta condição podem 
manifestar em diferentes graus, 
características inerentes a animais de dupla 
musculatura, sem contudo, manifestar sua 
forma clássica (ALENCAR et al., 1992). 
Os aspectos indesejáveis da 
musculatura dupla nos bovinos são aqueles 
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ligados a perdas em eficiência reprodutiva e 
viabilidade dos bezerros. Kieffer e 
Cartwright (1980) e Michaux et al. (1982), 
citados por ALENCAR et al. (1992), 
relataram que os testículos de touros de 
musculatura dupla são mais finos e mais 
leves e esses touros também têm menor 
libido. As novilhas musculatura dupla, 
geralmente, atingem a puberdade mais tarde 
(Kieffer e Cartwright, 1980, citados por 
ALENCAR et al., 1992). Os mesmos 
autores citam maior freqüência de trato 
reprodutivo infantil em fêmeas de 
musculatura dupla, que apresentam mais 
problemas de parto (distocia) e maior 
mortalidade de bezerros. 
A maior incidência de partos 
distócicos em animais de musculatura dupla 
pode ser em virtude do próprio bezerro de 
musculatura dupla, que apresenta os 
músculos da anca, garupa e paleta muito 
mais desenvolvidos, dificultando a 
passagem pela pélvis e da vaca de 
musculatura dupla, que possui a abertura 
pélvica menor do que o normal, conforme 
observado por ANSAY e HANSET (1979). 
Thrift e Bredahl (s.d.), citados por 
ALENCAR et al. (1992), afirmam que 
bezerros de musculatura dupla são mais 
afetados por condições de “stress” 
ambiental, tendo pouca resistência a 
variações climáticas e ao sistema extensivo 
de criação. 
O peso vivo dos animais, pela 
praticidade e acuracidade de sua tomada, é 
utilizado em larga escala como método de 
avaliação do estado nutricional dos animais, 
tanto isoladamente como em conjunto com 
outras medidas corporais, por causa 
principalmente de sua capacidade de poder 
ser comparado com outros dados (DIAS, 
1991). Sua associação com outras medidas 
visa corrigir as variações que existem entre 
diferentes biótipos, o que poderia mascarar 
a eficiência e a comparabilidade da medida 
do peso vivo (JEFFERY e BERG, 1972a, b; 
HOUGHTON et al., 1990). 
KLOSTERMAN et al. (1968) 
utilizaram a relação entre peso da vaca e 
altura nas ancas para exprimir sua condição 
corporal. A relação média, para uma vaca 
em boa condição, seria 4,0. 
JEFFERY e BERG (1972b) 
utilizaram relação peso/altura com vacas 
Hereford-Angus-Galloway e encontraram 
influência dessa medida sobre o 
desempenho da progênie. Concluíram, 
também, que uma ou outra medida utilizada 
de forma isolada é inconsistente para 
estimar o desempenho da progênie. 
Relação semelhante, entre peso e 
altura na garupa, tomada entre as ancas, foi 
usada por HOUGHTON et al. (1990), em 
vacas mestiças Charolês-Angus. O interesse 
em usar a relação peso/altura seria o de se 
obter uma avaliação não-subjetiva da 
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condição corporal. Entretanto, resultados de 
HOUGHTON et al. (1990) mostram que a 
avaliação visual da condição corporal dá 
resultados tão bons quanto os obtidos pela 
relação peso/altura, sem a necessidade de 
contenção dos animais para as medições. 
DIAS (1991) encontrou valores que 
variaram de 2,55 a 3,45 para relação 
peso/altura, para vacas de origem zebuína. 
A utilização da relação peso/altura 
também é de fácil obtenção e, por ser 
composta por medidas objetivas, pode 
servir para avaliação do estado nutricional 
de bovinos, sendo que sua acuracidade pode 
aumentar quando for associada a outras 
medidas, como por exemplo escore de 
condição corporal (DIAS, 1991). 
MATERIAL E METODOLOGIA 
O experimento foi realizado em uma 
propriedade do Condomínio Pindayassu 
Ltda., no município de Uruguaiana, Rio 
Grande do Sul. As pastagens nativas são 
compostas por gramíneas, 
predominantemente dos gêneros 
Andropogon sp e Paspalum spp e 
leguminosas do gênero Desmodium spp. 
Foram utilizadas no trabalho 114 
novilhas com idade entre 20 e 24 meses, 
cruzadas Blonde D’Aquitaine e Caracu, 
sendo separadas em dois grupos de 57 
animais, pelos valores observados da 
relação peso/altura, tendo início o 
experimento a partir da primeira estação 
reprodutiva dessas novilhas e término ao 
final da estação de parição das mesmas. O 
período de reprodução teve início no dia 20 
de outubro de 1995 e término no dia 05 de 
dezembro (45 dias depois), sendo utilizado 
sêmen de vários touros, conforme avaliação 
subjetiva do fenótipo de cada novilha. Após 
os 45 dias da estação de inseminação 
artificial, foram soltos os touros, em uma 
relação em torno de 1:30, no lote de 
novilhas vazias ou não confirmadas, 
permanecendo até o dia 05 de janeiro de 
1996. Quarenta e cinco dias após a retirada 
dos touros (20 de fevereiro de 1996) foi 
realizado diagnóstico de gestação de todas 
as novilhas. 
Os touros utilizados no repasse 
portavam buçais marcadores, para 
possibilitar a identificação das novilhas que 
teriam sido cobertas durante o repasse, 
identificando-se a origem da prenhez de 
cada uma delas. 
Medida da relação peso/altura 
O manejo geral dos animais 
experimentais não foi modificado em 
relação à rotina da propriedade, ou seja, 
manutenção dos animais a campo nativo e 
restevas de cultura de arroz, fazendo-se 
rodízios conforme a disponibilidade de 
forragem, com suplemento mineral 
disponível permanentemente e combate a 
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endo e ectoparasitas, conforme avaliação do 
seu grau de infestação. 
No mesmo dia da pesagem dos 
animais, foi feita a medida da altura da 
garupa dos animais, para o cálculo da 
relação peso/altura, conforme DIAS (1991), 
bem como coletadas imagens 
ultrasonográficas de todos os animais, para 
avaliação do desenvolvimento muscular 
com base na área de olho de lombo. A 
medida foi realizada no ponto anatômico
entre a 12a e 13a costelas, sobre o músculo 
Longissimus dorsi. 
Escores de parição 
Por ocasião do parto dos animais 
experimentais, foi atribuído um escore para 
o tipo de parto, que procurou relacionar o 
desenvolvimento muscular com a possível 
ocorrência de distocia. Os partos 
acompanhados receberam um escore de 1 a 
3, assim descritos: 1) parto normal(fase de 
expulsão inferior a duas horas); 2) parto 
difícil (não auxiliado, com fase de expulsão 
superior a duas horas)e; 3) distócico 
(auxiliado). 
Os partos que ocorreram à noite ou 
que não foram presenciados não receberam 
esse escore. 
Tamanho dos bezerros ao nascimento 
Ao nascimento, os bezerros foram 
avaliados e foi atribuído um escore para seu 
tamanho, em virtude da inviabilidade de se 
fazer a pesagem dos mesmos. Atribuiu-se 
um escore para cada bezerro, variando de 1 
a 3, em que o escore 1 representou um 
bezerro pequeno; 2) médio e; 3) grande. 
O tamanho de cada bezerro ao 
nascimento, relacionado com o 
desenvolvimento muscular de sua mãe, e o 
escore de parição forneceriam um 
indicativo da relação causa-efeito do 
desenvolvimento muscular da mãe, o 
tamanho da cria e os problemas de parto. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Medidas corporais dos grupos de 
novilhas 
As medidas de peso corporal, altura 
na garupa e relação peso/altura dos grupos 
de novilhas estão dispostas na tabela 1. 
Conforme observado na tabela 1, as 
novilhas pertencentes ao grupo 
“musculosas” (MU) foram mais pesadas em 
relação ao grupo das “não-musculosas” 
(NM). Essa diferença, obviamente, foi 
influenciada pela forma como os grupos 
foram classificados, ou seja, pela relação 
peso/altura. Por causa da maior amplitude 
ocorrida com os valores do peso dos 
animais, o grupo dos animais com maiores 
valores para relação peso/altura, também, 
foi o que apresentou os maiores pesos. 
Esses dados estão de acordo com DIAS 
(1991) que encontrou correlação de 0,97 
entre peso vivo e relação peso/altura em 
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vacas zebuínas de corte, evidenciando 
pouca contribuição da altura à variação da 
relação peso/altura. Neste trabalho essa 
correlação foi de 0,96. 
 
TABELA 01 - Média e coeficientes de variação do peso vivo, altura na garupa e relação peso/altura dos grupos 
de novilhas musculosas (MU) e não-musculosas (NM) 
Item MU NM Geral 
Peso vivo (kg) 417,52 a 348,26 b 382,89 
Coeficiente de variação (%) 7,10 6,33 11,34 
Altura (cm) 131,58 a 131,29 a 131,44 
Coeficiente de variação (%) 3,09 2,73 2,91 
Relação peso/altura (kg/cm) 3,17 a 2,65 b 2,91 
Coeficiente de variação (%) 6,85 5,67 11,03 
Médias na linha, seguidas por letras diferentes, diferem significativamente (P < 0,05), pelo Teste t. 
 
As médias de altura por grupos de 
novilhas não diferiram (P < 0,10), 
indicando que apesar de a relação 
peso/altura ser um bom indicativo do estado 
nutricional ou do grau de desenvolvimento 
muscular de bovinos, a altura teve pouca 
importância sobre o índice, sendo o peso 
vivo dos animais o maior responsável pela 
variação na relação peso/altura, o que 
concorda com DIAS (1991). 
A relação peso/altura foi utilizada 
para separar a amostra experimental em 
dois lotes, formados pelos 57 maiores e 57 
menores valores. 
Essas médias para relação 
peso/altura estão bastante abaixo das 
citadas por KLOSTERMAN et al. (1968), 
que afirmam que 4,0 seria um valor ótimo 
para um animal com boa condição. Porém, 
aproximam-se aos valores encontrados por 
DIAS (1991), que giraram em torno de 2,55 
a 3,45, trabalhando-se com animais adultos. 
Há que se considerar que animais 
em crescimento tendem a apresentar 
menores valores para a relação peso/altura 
que os adultos do mesmo tipo racial, porque 
o tecido ósseo desenvolve-se mais 
precocemente que os tecidos muscular e 
adiposo (BERG e BUTTERFIELD, 1976). 
Por ocasião do parto dos animais 
experimentais, foram atribuídos escores 
para os tipos de partos. Em razão das 
condições de campo, nem todos os partos 
foram observados, pois alguns animais 
pariram à noite ou em locais onde não foi 
possível observá-los. 
Na tabela 2 constam as freqüências 
dos escores de parição segundo os grupos 
de novilhas. Os dados observados 
demonstram independência entre as 
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freqüências (P > 0,05), pelo teste de Qui-
quadrado na ocorrência de partos distócicos 
entre os dois grupos. Entretanto, em relação 
aos partos normais, ocorreu tendência 
numérica a favor do grupo NM, enquanto 
que o grupo MU apresentou maior 
percentagem de partos difíceis. 
A ocorrência de maior número de 
partos difíceis pode estar relacionada tanto 
à maior musculosidade dos animais (efeito 
direto) quanto ao fato de que as novilhas do 
grupo MU pariram bezerros maiores (efeito 
indireto), o que concorda com dados de 
McNEIL (1984). 
 
TABELA 02 - Distribuição das freqüências dos escores de parição segundo os grupos de novilhas 
Escore de parição Normal Difícil Distócico 
Não-musculosas (%) 60,00a (27/45)1 28,88b (13/45) 11,12a (5/45) 
Musculosas (%) 38,10a (16/42) 50,00a (21/42) 11,90a (5/42) 
Número observado/total da amostra. 
Médias na coluna seguidas por mesma letra, não diferem estatisticamente (P > 0,05), pelo teste de Qui-
quadrado. 
Tamanho dos bezerros ao nascimento 
Os dados relativos aos escores de 
tamanho dos bezerros ao nascimento 
encontram-se na tabela 3, separados por 
grupos de novilhas. Conforme os dados 
obtidos, ocorreu dependência (P < 0,05) 
entre a distribuição dos escores para cada 
grupo de animais. Esses dados podem ter 
influenciado diretamente a ocorrência de 
partos difíceis e distócicos entre os animais 
experimentais. 
 
TABELA 03 - Freqüência dos escores de tamanho dos bezerros ao nascimento, segundo o grupo de suas mães 
Escore de bezerro Pequeno Médio Grande 
Não-musculosas (%) 49,12a (28/57)1 45,61a (26/57) 5,27b (3/57) 
Musculosas (%) 36,54b (19/52) 40,38a (21/52) 23,08a(12/52) 
Número observado/total da amostra. Médias na coluna seguidas por letra diferente, diferem estatisticamente 
entre si (P < 0,05), pelo teste de qui-quadrado. 
 
Duração da gestação 
Os dados relativos à duração da 
gestação encontram-se na tabela 4, bem 
como seus coeficientes de variação, 
mínimos e máximos, divididos por grupos 
de novilhas. A duração da gestação não 
diferiu entre grupos de novilhas, ao 
contrário do que relata McNEIL et al. 
(1984) que animais mais musculosos 
tenderam a apresentar período de gestação 
mais curto do que os menos musculosos. 
 
 
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TABELA 04 - Médias, coeficientes de variação, mínimos e máximos da duração da gestação, por grupos de 
novilhas. 
Item Musculosas Não-musculosas 
Médias (dias) 282,50 a 283,89 a 
Coeficiente de variação 1,89 1,70 
Mínimo 273 271 
Máximo 295 292 
Médias na mesma linha, seguidas por mesma letra, não diferem estatisticamente (P < 0,10), pelo Teste t. 
 
CONCLUSÕES 
A ocorrência de partos distócicos foi 
semelhante para os dois grupos, porém o 
grupo MU apresentou maior incidência de 
partos difíceis. 
O tamanho dos bezerros ao 
nascimento sofreu influência de grupo, pois 
o grupo MU produziu bezerros de maior 
tamanho, o que provavelmente colaborou 
para a maior incidência de partos difíceis. 
A duração da gestação não sofreu 
influência dos grupos, tendo ocorrido 
valores muito próximos para os dois 
grupos. 
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