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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Contabilidade Societária Aula1 Professor Guilherme Teodoro Garbrecht CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Olá, caros alunos! Essa é a disciplina de Contabilidade Societária, que objetiva demonstrar os principais aspectos da Contabilidade e relacioná-los com o nosso dia a dia. Para isso, que tal desmistificarmos um pouco essa disciplina chamada de Contabilidade que tanto nos assusta? Podemos muitas vezes nem perceber, mas a Contabilidade está presente no nosso dia a dia quando recebemos o nosso merecido salário; quando efetuamos os temíveis pagamentos das contas ou ainda quando conseguimos poupar um dinheirinho para aplicar ou investir em um bem. Todas essas atividades fazem parte de uma forma ou de outra das operações que são objeto do registro contábil. Obviamente, o registro e o controle das operações são realizados principalmente nas empresas, para apurar seus resultados em determinado período de tempo. Porém, o controle dos gastos pessoais também é uma forma de Contabilidade, uma contabilidade pessoal, objetivando o controle do nosso patrimônio. O foco da nossa disciplina será explicar os principais conceitos e a metodologia do registro das operações nas empresas, para que possamos posteriormente aplicar na análise e interpretação das Demonstrações elaboradas pela Contabilidade. Então, vamos adentrar no mundo da Contabilidade? Desejamos a todos boas aulas e bons estudos! Contextualizando A Contabilidade objetiva gerar informações para seus diversos usuários, por meio do registro das operações das empresas e da elaboração de Demonstrativos que reflitam a realidade patrimonial. Constitui-se em uma ferramenta de grande importância para a gestão da empresa, ao fornecer informações que auxiliam na tomada de decisão. A partir de 2008, com a edição da Lei n. 11.638 no final do ano de 2007, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 a Contabilidade brasileira passou a adotar normas internacionais. Passamos por um processo de harmonização das normas contábeis brasileiras para as normas internacionais, permitindo a comparação e a interpretação das Demonstrações Contábeis de empresas situadas em mais de 120 países, que já adotam o mesmo conjunto de normas contábeis. As normas internacionais de Contabilidade são editadas no Brasil pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis e foram posteriormente adotadas pelos principais órgãos de classe ou representativos de setores, como Conselho Federal de Contabilidade, Comissão de Valores Monetários, Banco Central do Brasil, Agência Nacional de Energia Elétrica, entre outros. Alguns benefícios da adoção de um conjunto de normas similares em diferentes países podem ser citados: Melhora da qualidade da informação contábil; Maior transparência para os investidores; Melhora na captação de crédito em instituições financeiras de outros países; Comparabilidade das Demonstrações entre empresas de diferentes países; Redução dos custos contábeis em empresas que possuem filiais em vários países; Maior acesso aos investimentos estrangeiros. Esses são alguns dos benefícios percebidos com o processo de convergência aos padrões internacionais, os quais reforçam a utilidade da Contabilidade como fonte geradora de informações. Como exemplo podemos citar a apuração do resultado de um determinado período, os indicadores de rentabilidade e lucratividade, os níveis de endividamento, a apuração do patrimônio das empresas, entre outros. É neste contexto que serão apresentados os tópicos da presente aula: a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Contabilidade como fonte de informações! Tema 1 – Origem, objeto e patrimônio Origem da Contabilidade A Contabilidade é uma ciência do ramo das ciências sociais aplicadas, que objetiva o controle do patrimônio das entidades, fornecendo informações aos seus diversos grupos de usuários para a tomada de decisão. A Contabilidade Financeira elabora demonstrações para atender às necessidades de seus usuários. O CPC Conceitual Básico (2011) conceitua que as Demonstrações contábeis “objetivam fornecer informações que sejam úteis na tomada de decisões econômicas e avaliações por parte dos usuários em geral, não tendo o propósito de atender finalidade ou necessidade específica de determinados grupos de usuários”. Diversos autores destacam a obra “Summa de arithmetica, geometrica, proportioni et proportionalita”, publicada pelo Frei Lucca Paccioli em 1494, como marco da Contabilidade, pois apresentou o Método das Partidas Dobradas, utilizado até hoje na contabilização e no registro das operações. Embora essa obra tenha sido marcante, a história da Contabilidade é muito mais antiga, como Ludícibus (2010) explica: Não é descabido afirmar-se que a noção intuitiva de conta e, portanto, de Contabilidade seja, talvez, tão antiga quanto a origem do Homo Sapiens. Alguns historiadores fazem remontar os primeiros sinais objetivos da existência de contas a aproximadamente 2.000 anos a.C. (LUDÍCIBUS, 2010). Como o objetivo da Contabilidade é o controle do patrimônio, podemos afirmar que o registro dos bens, rebanhos, pertences, objetos de trocas, entre outros itens obtidos pelos povos mais primitivos equivale ao registro contábil, embora ainda de forma simples. A origem da Contabilidade está ligada diretamente à evidenciação da riqueza patrimonial, seja inicialmente em inscrições rupestres nas cavernas ou com registros em pedaços de argila, papiros ou papel, acompanhando a evolução da humanidade. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Leitura obrigatória: BAZZI, Samir. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. Capítulo 1, Subtítulo 1.1: Origem e Conceitos – págs. 30 a 33. Conceito e o objeto da Contabilidade Quando pesquisamos o conceito de Contabilidade, encontramos diversos autores e explicações que abordam enfoques diferentes. Vamos ver alguns no quadro a seguir: Autores Definição Franco (1990, p.19) A Contabilidade tem a finalidade de manter o registro e o controle do patrimônio das entidades, com o fim de fornecer informações e interpretações sobre a composição e as variações desse patrimônio. Lopes de Sá (1999, p. 42) Contabilidade é a ciência que estuda os fenômenos patrimoniais, preocupando-se com realidades, evidências e comportamentos dos mesmos, em relação à eficácia funcional das células sociais. Preocupa-se com registros, Demonstrações, revisão, apurações de resultados, de custos etc. Ou seja, compromete-se com a informação e a adequação de evidências numéricas de fatos patrimoniais. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Ludícibus (Org., 2010, p. 1) A Contabilidade é uma ciência social aplicada, com metodologia especialmente concebida para captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer ente, seja pessoa física, entidade de finalidade não lucrativa ou empresa. Complicados esses conceitos? Vamos então resumir, pois a definição de Contabilidade está ligada diretamente a três conceitos: Fonte: adaptado de Crepaldi (2010, p. 2). A Contabilidade é aplicada nas entidades, sejam pessoas físicas ou jurídicas, objetivando o controle do seu Patrimônio. Do registro dos fatos contábeis são gerados os demonstrativos, que apuram o resultado das entidades, evidenciando se apresentaram lucro ou prejuízo em determinadoperíodo. As informações processadas e organizadas em forma de Demonstrativos geram as informações que irão servir para embasar a tomada de decisão dos usuários das organizações. Em todos os conceitos está presente o termo “patrimônio” das entidades. Controlar • O Patrimônio das Entidades. Apurar • O Resultado das Entidades. Informar •Sobre o Patrimônio aos Usuários das Informações Contábeis. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Mas o que é o “patrimônio”? É o objeto da Contabilidade. Santos et al. (2011, p. 27) conceituam o patrimônio como: o conjunto de bens materiais e imateriais, direitos e obrigações avaliáveis em moeda e vinculados à entidade pela propriedade, posse ou controle, dos quais a mesma possa dispor no desenvolvimento de seus negócios. Vamos analisar cada um dos termos: Bens: são os itens pertencentes à entidade, avaliáveis em dinheiro e utilizados para a satisfação das necessidades humanas. Podem ser classificados de acordo com o ponto de vista contábil ou quanto a sua natureza. Quanto ao ponto de vista contábil, Ávila (2011) divide em: a. Bens de troca: são os que têm por finalidade serem trocados por outros bens, direitos ou obrigações. São comumente conhecidos como mercadorias, mas o próprio dinheiro constitui-se em bens de troca. b. Bens de uso: são os bens utilizados pela empresa de maneira permanente, que não desaparecem após o uso, podendo ser utilizados mais vezes. Como exemplo citamos os veículos, os imóveis, as máquinas, os equipamentos de informática etc. c. Bens de consumo: são os bens consumidos durante o processo de utilização. Não podem ser utilizados novamente, pois desaparecem durante a utilização pela empresa. Como exemplo citamos o material de expediente, o combustível, o adubo etc. Quanto à natureza, Ribeiro (2011) divide os bens em: a. Materiais: são os bens tangíveis, que possuem corpo (corpóreos). Como exemplo citamos a matéria-prima, as máquinas, as peças, as mercadorias etc. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 b. Imateriais: são os bens intangíveis, que não possuem corpo (incorpóreos). São gastos realizados pela empresa, embora não possuam substância física, são considerados bens com valor econômico. Como exemplo citamos marcas, patentes, fundo de comércios etc. Direitos: são os valores que a empresa tem a receber de terceiros. As operações realizadas pelas empresas originam valores a receber de terceiros, que representam os direitos da empresa. Como exemplo citamos os valores a receber originados das vendas a prazo, duplicatas a receber, aluguéis a receber, impostos a recuperar etc. Obrigações: são os valores que a empresa tem a pagar para terceiros. Representam dívidas que a empresa assume com terceiros, que irão requerer a saída de recursos. Como exemplo, citamos os valores com fornecedores, contas a pagar, salários a pagar, impostos a pagar etc. Leitura Obrigatória: BAZZI, Samir. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. Capítulo 1, Subtítulo 1.1: Origem e Conceitos – págs. 41- 42 e 67 – 75. Tema 2 – Usuários da Contabilidade A Contabilidade é conhecida como a linguagem dos negócios, pois traduz as operações realizadas pelas companhias em informações úteis aos seus usuários. Mas quem são os usuários da Contabilidade? Antes de respondermos a essa questão, imagine que você tenha disponível 1 milhão de reais para realizar investimentos e receba uma proposta para entrar como sócio em uma empresa do ramo de transportes. Então, deve fazer ou não o investimento? É muito cedo para fazer essa pergunta e mais ainda para respondê-la, pois antes deve-se analisar como está a situação financeira e econômica da transportadora. É nesse momento que a Contabilidade pode auxiliar nessa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 importante decisão. As Demonstrações contábeis da companhia podem responder a questões como: A empresa possui recursos financeiros em caixa ou no banco? Como está a inadimplência da carteira de clientes da empresa? Os veículos utilizados nas atividades são novos ou já estão com a vida útil avançada, necessitando-se de novas aquisições? A empresa está endividada com terceiros, como fornecedores ou instituições financeiras? A empresa apresenta lucro e possui custos baixos? Essas são algumas das perguntas que podem ser respondidas com a análise dos balanços da companhia. Neste caso, é importante que o balanço seja confiável e preferencialmente validado por auditores independentes, que garantem a qualidade no processo e nos números contábeis apresentados. Esse é um grupo de usuários (o grupo de investidores) que pode valer- se das informações geradas pelas empresas. Os usuários contábeis são divididos em internos e externos: Usuários internos: representa o grupo de usuários que tem sua atuação dentro da empresa. É o usuário que administra ou participa, direta ou indiretamente, na gestão da empresa. Como exemplo pode-se citar diretores, gestores e administradores. A Contabilidade voltada para esse público é denominada Contabilidade Gerencial, que objetiva o fornecimento de informações customizadas, ou seja, elaboradas de acordo com as necessidades específicas desses usuários, para que possam utilizá-las no controle e direcionamento dos negócios. Usuários externos: representa o grupo de usuários que não participa do processo de gestão da empresa. Como exemplo pode-se citar investidores, fornecedores, bancos e governo. A Contabilidade que fornece informações a esse grupo de usuários é denominada CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Contabilidade Financeira, que elabora Demonstrações Contábeis observando as normas e legislação vigente. É mais rígida que a Contabilidade Gerencial, pois além de fornecer informações úteis e que reflitam as operações da empresa, precisa possibilitar a comparação entre empresas. Vamos analisar agora alguns usuários e as respectivas necessidades, de acordo com Ludícibus et al. (2010). Lembramos que outros usuários podem utilizar-se da informação contábil, além dos relacionados a seguir, como concorrentes, agências regulamentadoras, sindicatos, entre outros. Grupo de usuários Uso da informação contábil Sócios e acionistas Na qualidade de investidores da empresa, estão preocupados com o risco inerente ao investimento e com o retorno que irá produzir. Se forem também responsáveis pela gestão da empresa, precisam da informação contábil para embasar suas decisões, definindo suas metas e seus planos de negócio. Administradores Precisam de informações que auxiliem a gerir o negócio. De maneira similar aos sócios e acionistas que participam da gestão, precisam embasar suas decisões e verificar indicadores de rentabilidade e lucratividade da empresa. Empregados Estão interessados em informações sobre estabilidade e a lucratividade dos seus empregadores. Credores por empréstimos Estão interessados em informações que permitam determinar a capacidade de pagamento da entidade, em relação aos empréstimos concedidos. Fornecedores e outros credores comerciais Estão interessados em informações que permitam avaliar se as importâncias que a empresa lhes deve será quitada no seu vencimento. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Clientes Estão interessados na continuidade operacional da empresa. Os clientes esperam se relacionar durante um longo período de tempo e as informações contábeis auxiliam a determinar a capacidadefinanceira da empresa. Governo Está interessado nas atividades da empresa e na geração de valores para pagamento de tributos. A atividade governamental é financiada com os recursos arrecadados sobre a atividade da empresa. O governo e suas agências também se utilizam das informações contábeis para determinar políticas fiscais e regulamentações setoriais. Público O público em geral pode analisar a contribuição da empresa para a economia, os empregos gerados e as demais contribuições à sociedade. Tema 3 – Princípios da Contabilidade No mercado acionário, um investidor, ao decidir adquirir ações para compor sua carteira de ações, pode analisar diferentes empresas, de diferentes setores, antes de optar pela compra das ações de uma entidade. As Demonstrações contábeis das empresas fornecem informações que podem auxiliar na análise das empresas, indicando aspectos como lucratividade, rentabilidade, endividamento, entre outros. Essas informações são analisadas e comparadas com os indicadores de outras empresas, objetivando determinar, mediante a comparabilidade, a empresa que apresenta os indicadores mais favoráveis, embasando a decisão da compra das ações. Você já se perguntou como é possível a comparação de empresas que atuam em setores diferentes e tenham tamanhos e operações distintos? A comparação é possível pois a Contabilidade possui estruturas conceituais que devem ser observadas por todos as empresas no registro, na apuração e na elaboração dos seus demonstrativos. São os Postulados, os CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Princípios e as Convenções que devem ser seguidos na prática contábil. Vamos primeiro definir o que são postulados, princípios e convenções, segundo Ludícibus (2010): Postulados: são definidos como pilares da estrutura conceitual da Contabilidade, servindo de base para a construção de princípios e convenções. Representa uma proposição ou observação de certa realidade que pode ser considerada não sujeita à verificação, sendo um consenso. Princípios: são conceituados como premissas básicas acerca dos fenômenos e eventos contemplados pela Contabilidade, premissas que são a cristalização da análise e observação da realidade econômica, social e institucional. Representam regras que fornecem a base para a doutrina contábil e devem ser observadas pela prática contábil. Convenções: se os princípios representam regras principais e amplas acerca dos fenômenos contábeis, as convenções representam os limites, restringindo ou qualificando as ações dos profissionais envolvidos com a Contabilidade. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 As bases conceituais contábeis serão apresentadas na sequência sob duas óticas: do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC): Conselho Federal de Contabilidade (CFC) – Resolução CFC n. 750/93: Princípio Conceito I – Entidade Reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. O Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. •Emitiu a Resolução CFC n. 750/93 (posteriormente alterada pela Resolução CFC n. 1.282/10), que estabelece os Princípios de Contabilidade, obrigatórios no exercício da profissão contábil. Conselho Federal de Contabilidade (CFC) •Emitiu o CPC 00 - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro em 2008 (posteriomente revogado pelo CPC 00 - R1 em 2011), que estabelece as características qualitativas fundamentais e de melhoria da informação contábil-financeira útil. Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 II – Continuidade Pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. III – Oportunidade Refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. A integridade compreende demonstrar o fato patrimonial em sua totalidade. A tempestividade objetiva o registro dos fatos no momento em que ocorrem ou que são percebidos. IV – Registro pelo Valor Original Determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. Posteriormente, os valores registrados podem sofrer modificações se forem utilizadas outras bases de mensuração ou ainda atualizações monetárias. V – Competência Determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. Pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 VI – Prudência Determina a adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. O princípio da prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza. Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) – CPC 00: Características Qualitativas Conceito Fundamentais Relevância Para serem de fatos úteis, as informações contábeis devem ser relevantes às necessidades dos usuários na tomada de decisões. As informações são relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros, confirmando ou corrigindo as suas avaliações anteriores. Representação fidedigna Para ser útil, a informação contábil- financeira não tem só que representar um fenômeno relevante, mas tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe a representar. Deve possuir 3 atributos: ser completa, neutra e livre de erros. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 De melhoria Comparabilidade Os usuários devem poder comparar as Demonstrações contábeis de uma entidade ao longo do tempo, a fim de identificar tendências na sua posição patrimonial e financeira e no seu desempenho. Verificabilidade Significa que diferentes observadores, cônscios e independentes podem chegar a um consenso, embora não cheguem necessariamente a um completo acordo, quanto ao retrato de uma realidade econômica em particular ser uma representação fidedigna. Tempestividade Significa ter a informação disponível para tomadores de decisão a tempo de poder influenciá-los. A informação deve ser fornecida em tempo hábil para que os diversos usuários possam utilizá-la para embasar suas decisões. Compreensibilidade Pressupõe que a informação deve ser classificada, caracterizada e apresentada com clareza e concisão, tornando-a compreensível. Presume-se que os usuários tenham um conhecimento razoável do negócio. Informações acerca de assuntos complexos não devem ser excluídas sob o pretextode dificultar a compreensão, se relevantes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Além dos princípios e das características qualitativas apresentados, Ludícibus (2010, p. 66) ressalta que “sempre que houver discrepância entre a forma jurídica de uma operação a ser contabilizada e sua essência econômica, a contabilidade deverá privilegiar a essência sobre a forma”. Embora uma operação possa estar embasada por documentos fiscais ou contratos, é necessário analisar a essência da operação, e essa prevalecerá (se for diferente) sobre a forma legal apresentada no documento. Leitura Obrigatória: BAZZI, Samir. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. Capítulo 1, Subtítulo 1.1: Origem e Conceitos – págs. 49 a 56. Tema 4 – Equação Patrimonial O objeto de estudo da Contabilidade é o Patrimônio das entidades, que é composto pelos bens, pelos direitos e pelas obrigações. O patrimônio possui características qualitativas e quantitativas: Características qualitativas: representam a divisão do patrimônio nos elementos que o compõem, como prédios, veículos, máquinas, valores a pagar, entre outros. Esses elementos são agrupados de acordo com as suas características, ou seja, os veículos da empresa estarão nominados na conta de veículos, independentemente do tipo. Características quantitativas: representam os valores atribuídos a cada um dos elementos do patrimônio. Demonstram os montantes que os bens, os direitos e as obrigações estão registrados na empresa. O patrimônio de uma empresa é demonstrado por meio do Balanço Patrimonial, que é uma Demonstração Contábil com dois lados, representando uma balança que se equilibra entre os bens, os direitos e as obrigações. Representação gráfica do Patrimônio Na representação gráfica, de acordo com Leite (2010, p. 7), utiliza-se o "T" para demonstrar o Patrimônio de uma entidade. Do lado esquerdo do T, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 coloca-se os bens e direitos, elementos considerados positivos do patrimônio que passam a ser denominados Ativo; do lado direito são elencadas as obrigações, os elementos negativos que passam a ser reconhecidos como Passivo e Patrimônio Líquido de um patrimônio. Patrimônio Elementos positivos Elementos negativos Bens: caixa, estoque, móveis e máquinas. Direitos: contas a receber e duplicatas a receber. Obrigações: salários a pagar, fornecedores, impostos a pagar e capital dos sócios. Substituindo os nomes elementos positivos e negativos e utilizando a nomenclatura Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, surge a estrutura de um Balanço Patrimonial, que trará de um lado os bens e direitos e do outro as obrigações com terceiros e com os sócios da empresa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Balanço Patrimonial Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Caixa Contas a receber Impostos a recuperar Estoque Móveis Máquinas Prédios TOTAL 50,00 100,00 50,00 100,00 50,00 100,00 150,00 600,00 Passivo: Salários a pagar Fornecedores Impostos a pagar Empréstimos Patrimônio Líquido: Capital Social TOTAL 100,00 30,00 100,00 70,00 300,00 600,00 O Capital Social representa o montante que os sócios colocam a disposição da empresa no momento da sua constituição ou quando ocorre um aumento de capital. Na estrutura do Balanço Patrimonial, identificamos também a origem dos recursos da empresa e a respectiva aplicação dos recursos. Origem dos recursos: o Passivo e o Patrimônio Líquido representam a origem dos recursos da entidade, divididos em Capital de Terceiros e Capital Próprio. O capital próprio representa os valores que os sócios disponibilizaram para a entidade. O capital de terceiros representa os montantes que a empresa obtém com terceiros, como empréstimos, e que deverão ser pagos nas datas de vencimento. A partir do momento que a atividade da empresa gera resultados, o lucro passa a ser a fonte dos recursos, mas como o lucro pertence aos sócios da empresa, permanece o Patrimônio Líquido como fonte geradora de recursos. Aplicação dos recursos: os valores originados do Passivo e do Patrimônio líquido são investidos no Ativo, na forma de recursos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 monetário em caixa, bancos ou aplicações, aquisição de mercadorias e bens para o ativo imobilizado da empresa. São os investimentos necessários para as operações da empresa, seja comércio, indústria ou prestação de serviços. Observe a representação das Origens e Aplicações: Aplicações (Ativo) Origens (Passivo e Patrimônio Líquido) Bens e Direitos Capital de terceiros Capital próprio Chegamos então na Equação Patrimonial, que indica que o total dos Ativos é igual ao total do Passivo somado ao Patrimônio Líquido: Ativo Bens e Direitos = Passivo Obrigações + Patrimônio Líquido Capital dos Sócios Lado esquerdo Lado direito Vejamos um exemplo: Constituição da empresa Modelo Comércio Ltda., com dois sócios que integralizaram cada um o montante de R$ 50.000,00. Os sócios se integralizaram da seguinte forma: Sócio A = R$ 50.000,00 por meio da entrega de uma sala comercial para as atividades da empresa. Sócio B = R$ 30.000,00 por meio da entrega de um veículo e R$ 20.000,00 em dinheiro. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 O Balanço Patrimonial da Empresa Modelo Comércio Ltda. será assim representado: Balanço Patrimonial Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Ativo Circulante Caixa Ativo não Circulante Veículo Sala Comercial TOTAL 20.000,00 20.000,00 80.000,00 30.000,00 50.000,00 100.000,00 Passivo Circulante Patrimônio Líquido: Capital Social – Sócio A Capital Social - Sócio B TOTAL 0,00 100.000,00 50.000,00 50.000,00 100.000,00 Vamos interpretar a situação da empresa? O total do Patrimônio da empresa é R$ 100.000,00, composto por BENS (dinheiro, veículo e edificação). A empresa ainda não tem Direitos a Receber. Os bens registrados no Ativo representam a aplicação dos recursos. A origem dos recursos é de Capital Próprio, representado pelos recursos dos sócios. Representa a Obrigação da empresa com seus sócios. A empresa ainda não tem Obrigações com Terceiros (por exemplo com fornecedores). A equação patrimonial sempre demonstrará o total do Ativo igual ao total do Passivo somado ao Total do Patrimônio Líquido. Podemos reescrever a equação patrimonial e chegar no conceito de Patrimônio Líquido, que é a diferença entre o Ativo e o Passivo. Representa o valor residual, ou seja, é o valor que sobra para os sócios se a empresa for CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 liquidada. Também é denominado Situação Líquida. Ativo (A) Bens e Direitos - Passivo (P) Obrigações = Patrimônio Líquido (PL) Capital dos Sócios Com base na equação do balanço (A-P=PL) pode-se concluir que, em dado momento, o patrimônio assume invariavelmente um dos cinco estados, a saber (IUDÍCIBUS, 2010): Quando A > P, teremos PL > 0. A = P + PL A P PL Revela a existência de riqueza própria. Nesse caso, a situação líquida (PL) chama-se Situação líquida Positiva,Superavitária, Favorável, Riqueza Patrimonial, Normal. Quando A > P e P = 0, teremos PL > 0. A = PL A PL CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Revela a inexistência de dívidas (Passivo); logo todo o Ativo é dos sócios e não há obrigações de terceiros sobre ele. Nesse caso, a situação líquida (PL) chama-se Situação Líquida Positiva. Quando A = P, teremos PL = 0. A = P A P Revela a inexistência de riqueza própria. Nesse caso, o Ativo é inteiramente absorvido pelas Obrigações, e a Situação Líquida é inexistente. A Situação Líquida (PL) chama-se Situação Líquida Nula ou Compensada. Quando P > A, teremos PL < 0. A + PL = P A P PL ou A P (PL) Revela a má situação, existência de "Passivo a Descoberto" (Patrimônio Líquido Negativo). Nesse caso, o Ativo é inteiramente absorvido pelas Obrigações e a Situação Líquida é inexistente. A Situação Líquida (PL) chama- CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 se Situação Líquida Passiva, Negativa, Deficitária, Desfavorável, Passivo a Descoberto. Quando P > A e A = 0, teremos PL < 0. PL = P PL P Revela a inexistência de Ativo, inexistência de bens e/ou direitos. Apenas dívidas (obrigações). Chama-se Situação Líquida Negativa. De acordo com Iudícibus (2010, p. 29), os dois últimos estados patrimoniais (4º e 5º) raramente ocorreram. Na realidade, acontecem, principalmente o último, quando a empresa praticamente já não tem condições de subsistência. Leitura Obrigatória: BAZZI, Samir. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. Capítulo 2, págs. 67 a 101. Tema 5 – Método das Partidas Dobradas Conceito de Contas As empresas realizam operações dinâmicas e a todo momento os valores dos bens, direitos e obrigações se alteram. Estão continuamente aumentando ou diminuindo, de acordo com a realização de compras, vendas, recebimentos ou pagamentos. Essas operações são registradas em contas contábeis que, conforme explica Leite (2010, p. 23), é o nome técnico que identifica os elementos patrimoniais (bens, direitos, obrigações e Patrimônio Líquido) e de resultado (despesa e receita). As contas são classificadas em Contas Patrimoniais e de Resultado. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 Vamos analisar cada um desses grupos: Contas Patrimoniais São utilizadas para controle e apuração do patrimônio. Estão divididas em: Contas do Ativo: como exemplo as contas de Clientes, Impostos a Recuperar, Estoque de Mercadorias, Equipamentos de informática etc. Contas do Passivo Exigível: como exemplo as contas de Fornecedores, Arrendamento Mercantil, Impostos a Pagar, Financiamentos etc. Contas do Patrimônio Líquido: como exemplo as contas do Capital Social, Reservas de Capital, Reservas de Lucros, Ajuste de Avaliação Patrimonial etc. Também são consideradas patrimoniais as contas Retificadoras (ou Redutoras), isto é, contas negativas dos grupos aos quais pertençam. Tais contas não trabalham sozinhas, pois são subtraídas de outras contas, as quais chamamos de retificadas (FERRARI, 2013, p. 179). Exemplos de contas retificadoras do ativo são a depreciação acumulada e a perda estimada em créditos de liquidação duvidosa (conta do grupo de clientes). Exemplo de contas retificadoras do exigível são os juros a apropriar (juros a transcorrer). Exemplos de contas retificadoras do Patrimônio Líquido são o capital a realizar (ou capital a integralizar), ações em tesouraria e prejuízos acumulados. Contas de Resultado São utilizadas para a apuração do resultado do exercício (lucro ou prejuízo). São elas: Contas de receitas: como exemplo citamos as Vendas de Mercadorias, Receita de Prestação de Serviço, Juros Recebidos, Variação Cambial, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 etc. Contas de despesas: como exemplo citamos as despesas com salários, energia elétrica, impostos, juros pagos etc. Contas de Compensação São utilizadas para registro de operações que não interferem no patrimônio da empresa. Uma assinatura de um contrato de fornecimento de produtos ainda não é uma operação que deve ser contabilizada, pois não altera o patrimônio e dependerá de outros acontecimentos. Mas a empresa pode controlar tais eventos em contas de compensação, que não correspondem a contas patrimoniais ou de resultado. Método das Partidas Dobradas Crepaldi (2010, p. 108) explica que “o método das partidas dobradas, também conhecido como ‘digrafia’, foi estudado e difundido pelo frade italiano Luca Paccioli, em 1494, permanecendo até hoje”. O método indica que para o registro de qualquer operação contábil deve haver um débito em uma ou mais contas e um correspondente crédito em uma ou mais contas. Os montantes debitados serão sempre iguais aos montantes creditados. Desta forma, não há um débito sem um crédito de igual valor. Mecanismos de débitos e créditos De acordo com Leite (2010), todas as operações ocasionam aumentos e diminuições de Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Esses aumentos e diminuições são indicados por meio dos débitos e créditos efetuados nas contas. Debitar uma conta é registrar um valor na coluna do débito. Creditar uma conta é registrar um valor na coluna do crédito. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 Exemplo: Caixa Capital Social D C D C 200,00 200,00 No exemplo, temos o registro a crédito na conta do Capital Social, demonstrando a origem do recurso e o respectivo registro da obrigação com os sócios, e a contrapartida contabilizada a débito na conta do caixa, demonstrando a aplicação do recurso recebido em um bem (dinheiro no caixa). Saldo de uma conta É a diferença positiva entre o total de débitos e o total de créditos efetuados na conta. Dessa forma, demonstrando de acordo com Ferrari (2013, p. 183), existem dois tipos de saldo: Saldo a débito / devedor: se o total de débitos for maior que o total de créditos; Saldo a crédito / credor: se o total de créditos for maior que o total de débitos. As contas que possuem os seus saldos a débito (ou devedores) são: Contas do Ativo; Contas retificadoras do Passivo Exigível e PL; Contas de Despesas. As contas que possuem os seus saldos a crédito (ou credoras) são: Contas do Passivo Exigível e Patrimônio Líquido; Contas retificadoras do Ativo; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 Contas de Receita. Podemos montar um resumo de como os saldos das contas se modificam pelo método das partidas dobradas: GRUPO DE CONTAS DÉBITO CRÉDITO ATIVO Aumenta Diminui RETIFICADORA DO ATIVO Diminui Aumenta PASSIVO EXIGÍVEL E PATRIMÔNIO LÍQUIDO Diminui Aumenta RETIFICADORAS DOPASSIVO EXIGÍVEL E PL Aumenta Diminui DESPESAS Aumenta Diminui RECEITAS Diminui Aumenta Lançamentos Contábeis Lançamento é o nome atribuído ao registro de operações na Contabilidade. As operações da empresa geram lançamentos, constituídos de cinco elementos essenciais, que são: Data da ocorrência do fato; Conta a ser debitada; Conta a ser creditada; Histórico; Valor. As explicações sobre os elementos são detalhados por Favero et al. (2011): A data da ocorrência do fato é imprescindível para que possamos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 29 observar se a escrituração está sendo feita em ordem cronológica. A conta a serdebitada e aquela a ser creditada são informações necessárias para que se possam identificar as operações, por exemplo: Mercadorias = conta debitada Caixa = conta creditada O histórico evidencia as características qualitativas da operação realizada, destacando detalhes importantes dos bens, dos direitos, das obrigações, das despesas e das receitas. O valor representa a característica quantitativa da operação, indicando, portanto, sua qualidade de evidenciar o patrimônio das entidades em seu aspecto qualitativo. Vamos simular alguns lançamentos contábeis de exemplo utilizando o método das partidas dobradas: a. Compra de mercadorias para revenda à vista, no valor de R$ 1.000,00, pago por meio de depósito bancário: Para realizar os lançamentos contábeis, é necessário interpretar a operação determinando alguns aspectos como: A operação envolve aquisição de bens? No caso de mercadorias. Houve um pagamento imediato ou a empresa ficou com valores a pagar (obrigações)? Houve o pagamento (saída de recursos) pelo banco. Os Ativos possuem saldo a débito (ou devedor), e os valores aumentam pelo débito. Portanto, a conta de mercadorias é debitada, sinalizando que houve aumento no saldo dessa conta. As contas do Ativo são creditadas quando o saldo diminui. No caso da conta do banco, como diminui o valor pelo pagamento efetuado, houve o lançamento a crédito. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 30 Banco Conta Movimento Mercadorias para Revenda D C D C 1.000,00 1.000,00 b. Compra de um computador para as atividades da empresa a prazo, no valor de R$ 3.000,00: Vamos interpretar a operação: A operação envolve aquisição de bens? No caso equipamentos de informática. Houve pagamento imediato ou a empresa ficou com valores a pagar (obrigações)? A aquisição foi a prazo, ficando uma obrigação a ser paga = Fornecedores ou Duplicatas a Pagar. Os Ativos possuem saldo a débito (ou devedor) e os valores aumentam pelo débito. Portanto, a conta de informática é debitada, sinalizando que houve aumento no saldo dessa conta. As contas do Passivo e Patrimônio Líquido são creditadas quando o saldo aumenta. No caso da conta Fornecedores, o saldo aumenta com o lançamento a crédito, pois é necessário registrar a obrigação (dívida) junto ao fornecedor. Equipamentos de Informática Fornecedores (Duplicatas a Pagar) D C D C 3.000,00 3.000,00 Leitura Obrigatória: BAZZI, Samir. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. Capítulo 5, págs. 153 a 163. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 31 Na Prática Para que a Contabilidade consiga desempenhar seu papel de fonte de informações, o contador deve seguir um conjunto de princípios e normas que possibilitam a uniformidade das informações e a representação fidedigna da situação econômica e patrimonial da entidade. Um dos mais importantes princípios contábeis é o da Competência, que indica que o registro contábil das receitas e despesas deve ser realizado quando os mesmos ocorrem, independentemente do recebimento ou pagamento. Um exemplo prático que podemos citar é o pagamento dos salários dos funcionários, que em muitas empresas é realizado até o quinto dia útil. Mas a prestação de serviços por parte do funcionário ocorre no mês anterior, somente o pagamento é realizado no mês subsequente. A contabilização da despesa com salários (e consequentemente o impacto no resultado da empresa) deve ser realizada no dia 30 do mês que ocorreu. Deste modo, a contabilização ocorre de acordo com o regime da competência (quando o fato ocorreu) e não de acordo com o regime de caixa (quando provoca entrada ou saída do caixa). Analise as operações realizadas pela empresa Modelo Comércio Ltda. e na sequencia calcule o Resultado do período (se apurou lucro ou prejuízo) e o saldo de Caixa. Operações: 04/03: aquisição de mercadorias para revenda, no valor de R$ 1.000,00, com pagamento a prazo, para ser pago em 15/04. 06/03: venda das mercadorias adquiridas no dia 04/03 pelo valor de R$ 2.400,00, com recebimento à vista. 10/03: aquisição de material de expediente no valor de R$ 120,00, com pagamento à vista. 14/03: aquisição de mercadorias para revenda, no valor de R$ 2.500,00, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 32 com pagamento à vista. 18/03: venda das mercadorias adquiridas no dia 14/03, no valor de R$ 3.000,00, com recebimento para o dia 20/04. 31/03: contabilização da despesa com energia elétrica no valor de R$ 300,00, a ser paga no dia 10/04. Os resultados apresentados são diferentes? Os dois regimes são importantes para a gestão de uma empresa? Protocolo de resolução da situação proposta Para a resolução do exercício aplicado, o aluno deverá: Analisar as operações, calculando o resultado (lucro ou prejuízo) do período. Analisar as operações que impactam o caixa, calculando o saldo do Caixa. Verificar que tipo de informação pode ser extraída para auxiliar a gestão da empresa se os saldos são diferentes (resultado e caixa). Resolução do caso Para a resolução do exercício, é necessário calcular o resultado e o impacto no caixa, das operações elencadas no enunciado do exercício: Resultado do Exercício: Receitas R$ 5.400,00 (2.400,00 + 3.000,00) (-) Custo da Mercadoria R$ 3.500,00 (1.000,00 + 2.500,00) (-) Despesas R$ 420,00 (120,00 + 300,00) (=) Lucro do Período R$ 1.480,00 Obs.: essa é uma representação simplificada da demonstração do resultado da empresa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 33 Saldo do Caixa (+) Entradas (Receitas) R$ 2.400,00 (-) Saídas (Custo Mercad.) R$ 2.500,00 (-) Saídas (Despesa) R$ 120,00 (=) Saldo de Caixa (R$ 220,00) Obs.: essa é uma representação simplificada do Fluxo de Caixa da empresa. Veja que os valores da apuração do resultado do período e o saldo de caixa são diferentes. Isso ocorre, pois o regime de caixa implica o reconhecimento no caixa somente dos valores que efetivamente impactam o caixa no período. As vendas e compras a prazo não são demonstradas quando ocorrem, somente no período de recebimento ou pagamento. Os dois resultados devem ser analisados em conjunto, pois o Resultado do Exercício demonstra o resultado contábil apurado nesse período, indicando se as operações da empresa geraram lucro ou prejuízo. Já a análise do Caixa é importante pois demonstra o impacto que as operações da empresa provocam nos recursos financeiros do período. Em muitas situações, a empresa pode estar apurando resultado contábil favorável, mas o resultado no caixa é negativo, pois as operações estão “descasadas”, ou seja, a empresa está precisando desembolsar recursos, mas não está tendo entradas em contrapartida. As empresas que apresentam problemas na gestão do caixa muitas vezes recorrem a recursos financeiros obtidos junto a instituições bancárias. Esses recursos financeiros normalmente são obtidos a custos altos (taxas e juros), que impactarão negativamente no resultado da empresa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 34 Síntese Na nossa primeira aula de Contabilidade Financeira, estudamos os aspectos introdutórios e conceituais relacionados com a disciplina. É de suma importância o conhecimento da terminologia utilizada na Contabilidade, pois evitará dúvidas na análise e nas interpretações dos números e Demonstrações contábeis. Vimos que aContabilidade é regida por uma série de princípios que norteiam a ciência, objetivando que a informação gerada sobre o patrimônio das entidades tenha a melhor qualidade possível, sendo útil para seus usuários. Porém, não há como falarmos de análise e interpretação de Demonstrações sem conhecermos como as operações são registradas. Neste sentido, estudamos os lançamentos contábeis, que seguem o método das partidas dobradas, e a equação patrimonial, que indica que o total do Ativo será sempre igual ao total do Passivo acrescido do Patrimônio Líquido. Os assuntos abordados até agora são a base da Contabilidade, sobre a qual são geradas informações que tenham utilidade para a gestão da empresa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 35 Referências AVILA, C. A. de. Gestão Contábil para contadores e não contadores. Curitiba: InterSaberes, 2011. BAZZI, S. Contabilidade em Ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. COMITÊ de Pronunciamentos Contábeis. CPC Conceitual Básico - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro. CPC, 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 27 jul. 2016. CONSELHO Federal de Contabilidade. Resolução CFC n. 750/93. CFC, 1993. Disponível em: <http://www.normasbrasil.com.br/norma/?id=94969>. Acesso em: 27 jul. CREPALDI, S. A. Curso Básico de Contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. FAVERO, H. L. et al. Contabilidade: Teoria e Prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FERRARI, E. L. Contabilidade Geral: teoria e 1.000 questões. 13. ed. rev. Niteroi: Impetus, 2013. FRANCO, H. Contabilidade Geral. 22. ed. São Paulo: Atlas, 1990. IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, S. (Org). Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LEITE, C. Contabilidade Básica. Rio de Janeiro: Quileditora, 2010. RIBEIRO, O. M. Contabilidade Comercial Fácil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. SANTOS, J. L. et al. Introdução à contabilidade: atualizada pela Lei n. 11.941/09 e pelas normas do CPC. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Contabilidade Societária Aula 2 Prof. Guilherme Teodoro Garbrecht Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa inicial Neste nosso segundo encontro, vamos nos aprofundar nas análises das operações contábeis, estudando como ocorre o registro de algumas das principais operações realizadas por uma empresa. Esse conhecimento será importante para analisarmos posteriormente as principais fontes de informações geradas pela Contabilidade: as Demonstrações Contábeis. As Demonstrações Contábeis representam todas as operações realizadas pela organização, organizadas e estruturadas para permitir a análise do Patrimônio da entidade, bem como a variação deste de um período para outro. Quando olhamos, por exemplo, a posição de nossas aplicações financeiras depositadas em uma instituição bancária, verificamos o saldo atual, o rendimento proporcionado e o ganho em relação ao período anterior. A análise das demonstrações é feita de maneira semelhante. Os donos ou sócios de uma empresa precisam saber se o investimento realizado nas empresas está tendo o retorno almejado. É possível fazer esta análise pela posição do patrimônio e pelo desempenho da empresa em determinado período. Da mesma maneira que controlamos nossas aplicações financeiras, os sócios ou acionistas das empresas também buscam analisar seus investimentos. Mas seriam os sócios ou acionistas os únicos consumidores da informação contábil? Já vimos que não, pois os usuários das demonstrações podem ser os clientes, os fornecedores, os empregados, o governo, os credores, dentre outros. É neste cenário que iniciamos o estudo das operações realizadas pelas empresas e para chegarmos às Demonstrações Contábeis elaboradas pelas entidades. Bom estudo! Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 Contextualizando A Contabilidade encarrega-se do registro das variações qualitativas e quantitativas do patrimônio em um determinado período de tempo. O patrimônio é o objeto da Contabilidade, e a geração de informações, a sua finalidade. Esta geração de informações só é possível com a elaboração das Demonstrações Contábeis. As Demonstrações Contábeis obrigatórias são o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado, a Demonstração do Resultado Abrangente, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração do Valor Adicionado e as Notas Explicativas. Nem todas as demonstrações são obrigatórias para todas as empresas, como a Demonstração do Valor Adicionado, que é obrigatória apenas para as empresas de capital aberto. O que todas as demonstrações têm em comum é a capacidade de informar aos diversos usuários sobre a situação patrimonial, financeira e econômica de uma empresa. Cada demonstração é elaborada objetivando um tipo de informação que, ao ser analisada em conjunto com as outras, ajuda a traçar o cenário da situação da empresa, seus bens, direitos, obrigações e o resultado alcançado. O CPC 00 que apresenta a estrutura conceitual para a elaboração e divulgação de relatórios contábil-financeiros descreve que as Demonstrações Contábeis objetivam fornecer informações que sejam úteis na tomada de decisões econômicas e avaliações por parte dos usuários em geral, não tendo o propósito de atender finalidade ou necessidade específica de determinados grupos de usuários. Isso significa que as Demonstrações são elaboradas seguindo os princípios e normas contábeis e respeitando a estrutura determinada para cada demonstração. As demonstrações para os usuários externos não são customizadas, ou Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 seja, não são elaboradas para atender aos propósitos dos diferentes grupos de usuários. Elas seguem um padrão de elaboração, e, neste sentido, cabe aos usuários a leitura e interpretação destas. Neste cenário, o conhecimento das demonstrações e de sua estrutura auxilia na interpretação dos números. É esse conhecimento que queremos buscar. Primeiramente, vamos conhecer como as operações são contabilizadas, para depois nos aprofundarmos nos números contábeis apresentados nas Demonstrações. O conhecimento dessas informações permite analisar um Balanço e identificar problemas de liquidez, níveis de endividamento, percentuais de rentabilidade e lucratividade, cruciais na condução dos negócios e na gestão das organizações. As demonstrações contábeis podem ser como uma bússola a ser utilizada em momentos de recessão econômica, em setores de forte concorrência empresarial, ou em momentos de expansão das atividades, dentre outras decisões imprescindíveis ao sucesso empresarial. Tema 01: Plano de Contas O plano de contas orienta a escrituração contábil de uma empresa, introduzindo uma padronização nas contas contábeis utilizadas para o registro das operações da empresa. Segundo Iudícibus e Marion (2010, p.49), o plano de contas “é o conjunto de contas, previamente estabelecido, para orientar a execução da contabilidade de uma empresa”. O plano de contas, apesar de apresentar uma padronização de contas contábeis, não é padronizado de empresa para empresa. Sua elaboração deve levar em consideração algumas características da empresa em que será utilizado, como (a) o tamanho da empresa, (b) as atividades desenvolvidas por esta, (c) o nível de interesse dos usuários, (d) os sistemas utilizados pela organização. Pró-reitoria de EaD e CCDD5 Cada um desses itens deve ser analisado, e o plano de contas construído de acordo com essas necessidades. Por exemplo, se a empresa for uma prestadora de serviços, não precisará da estrutura de contas que representam operações como as de uma empresa industrial, como matéria- prima, produtos em elaboração e produtos acabados. Entretanto, se ela for uma grande empresa do setor de fabricação de autopeças, necessitará de um detalhamento maior das contas que compõem o custo das peças fabricadas pela empresa, em comparação a uma microempresa do mesmo ramo. Esta última, por sua vez, precisará de um plano mais simples e objetivo para indicar o resultado do período. Um bom plano de contas deve ser útil tanto para a contabilização, quanto para o fornecimento de informações para os demais setores e/ou departamentos da empresa. Uma das principais características de um bom plano de contas é a sua flexibilidade, para que assim permita a modificação, inclusão e alteração das contas, de acordo com a evolução dos negócios da empresa. Diversos autores recomendam a codificação do Plano de Contas para facilitar a identificação das contas. A codificação no primeiro nível seria: 1. para todas as contas do Ativo; 2. para todas as contas do Passivo e Patrimônio Líquido; 3. para todas as contas de Receitas, Deduções da Receita, Custos e Despesas (alguns autores e empresas utilizam mais divisões para as contas de Resultados, como 3 para Receita, 4 para Despesas, etc.). Na sequência, de acordo com os demais subgrupos, criam-se subníveis. A divisão dos subníveis obedece à divisão da Lei 6.404/76, atualizada pela Lei 11.941/09: A codificação do segundo nível seria: Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 Contas do Ativo 1.1 Ativo Circulante (curto prazo, até 12 meses); 1.2 Ativo Não Circulante (longo prazo, acima de 12 meses). Dentro de cada um dos subgrupos (1.1 e 1.2), a abertura das contas obedece ao critério de liquidez do recebimento, ou seja, as primeiras são as que mais facilmente são convertidas em dinheiro. Contas do Passivo e Patrimônio Líquido 2.1 Passivo Circulante (longo prazo, acima de 12 meses); 2.2 Passivo Não Circulante; 2.3 Patrimônio Líquido. Dentro de cada um dos subgrupos (2.1, 2.2 e 2.3) a abertura das contas obedece ao critério de prioridade no pagamento, ou seja, as primeiras contas são as que primeiramente deverão ser liquidadas. Contas de Resultado A abertura das contas é de acordo com a Estrutura da Demonstração do Resultado, que estudaremos nas aulas seguintes. A codificação do terceiro nível em diante seria: Caixa e Equivalentes de Caixa; Caixa; Caixa Matriz; Bancos; Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 Banco A. Neste nível são criadas contas de subgrupos contábeis (ex: Caixa) e contas contábeis que receberão os lançamentos (ex: Caixa Matriz). Para simplificar, vamos acompanhar agora um exemplo das primeiras contas da estrutura de um Plano de Contas: 1 Ativo 1.1 Ativo Circulante 1.1.1 Caixa e Equivalentes de Caixa 1.1.1.1 Caixa 1.1.1.1.1 Caixa Matriz 1.1.1.1.2 Caixa Filial 1 1.1.1.2 Bancos Conta movimento 1.1.1.2.1 Banco A 1.1.1.2.2 Banco B Podemos verificar os seguintes níveis nesse exemplo: Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 Contas Sintéticas e Analíticas Aproveitando o exemplo apresentado, é preciso observar que algumas contas não terão lançamentos contábeis, porém serão utilizadas para mostrar o somatório das contas dentro de cada grupo. Os lançamentos são efetuados somente nas contas chamadas de analíticas. A divisão entre contas é a seguinte: Sintéticas: contas títulos, que não recebem lançamentos, só totalizam os valores. Ex: Ativo, Ativo Circulante, Caixa e Equivalentes de Caixa, Caixa e Bancos Conta Movimento. Analíticas: contas que recebem lançamentos. Ex: Caixa Matriz, Caixa Filial 1, Banco A e Banco B. Questão para Atividade Pedagógica Online (APOL 2) O Plano de Contas é o conjunto de contas previamente estabelecido para orientar a execução da contabilidade de uma empresa. Analise as características descritas a seguir, identificando as que são corretas em relação ao Plano de Contas e sua elaboração nas empresas. I – O Plano de Contas é elaborado observando-se as características de cada empresa. II – O tamanho da empresa, a atividade desenvolvida e a necessidade dos usuários, são exemplos de itens que devem ser observados na elaboração do Plano de Contas. III – Para facilitar o uso e entendimento dos usuários, o Plano de Contas deve ser elaborado utilizando-se somente um nível de codificação, o que permitirá a fácil compreensão das contas contábeis. IV – Objetivando preparar o Plano de Contas para o crescimento da empresa, ele deve ser flexível, para permitir as modificações, como inclusão de novas Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 contas e alterações de contas existentes. Assinale a alternativa correta: a) Somente a alternativa I está correta. b) Somente as alternativas I e II estão corretas. c) Somente as alternativas I, II e IV estão corretas. d) Somente as alternativas I, III e IV estão corretas. e) As alternativas I, II, III e IV estão corretas. Gabarito: A alternativa correta é a c. A alternativa III está incorreta, pois a criação de níveis de codificação no Plano de Contas permitirá que este torne-se mais acessível aos usuários, pois as contas estarão mais organizadas, relacionando cada subconta dentro da conta Título a que pertence. Tema 2: Regime de Competência e de Caixa Quando uma empresa adquire uma determinada matéria-prima, podemos observar algumas datas importantes nesse processo, como a data da compra, a data do recebimento da matéria-prima na empresa, a data do pagamento, e podemos incluir aí uma nova data, para os casos de produtos que ficam estocados na empresa: a data da efetiva utilização. Todas essas datas, como foram citadas, são importantes. Mas, em termos de contabilidade, qual é a data que embasará o reconhecimento contábil? A data que embasa o lançamento contábil segue o Regime de Competência, que indica que a contabilização é realizada de acordo com o fato gerador. Iudícibus et al. (2010, p.74) explicam o Regime de Competência: “De Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 acordo com o Regime de Competência de Exercícios, as Receitas e as Despesas são consideradas em função do seu fato gerador, e não em função do recebimento da Receita ou pagamento da Despesa em dinheiro”. Independentemente de ter havido o recebimento das Receitas, ou pagamento das Despesas, o registro contábil é feito na data que o evento ocorre, e não na data do recebimento ou pagamento dos valores. As demonstrações contábeis são elaboradas obedecendo ao Princípio da Competência, com o registro contábil dos eventos dentro do período que ocorreram. Além de informar os acontecimentos ocorridos no período contábil, as demonstrações contábeis evidenciam os eventos futuros, que ainda serão recebidos ou pagos, pelo registro dos valores a receber, e pelo registro das obrigações da empresa. Vamos ver um exemplo da aplicação do regime de competência no registro contábil dos Salários da empresa: Os salários dos funcionários devem ser pagos até o 5º dia útil do período subsequente. Por exemplo, o salário do mês de março deve ser pago até o 5º dia útil do mês de abril. Caso a empresa opte pelo pagamento em abril, a saída de recursos do caixa/banco da empresa ocorrerá em abril, no entanto, a prestação de serviços por parte dos funcionários para a empresa deu-sedurante o mês de março. O registro contábil da despesa com salário deverá ser efetuado em março, que é o fato gerador: Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 Mas como fica o registro contábil em março? Na data do último dia deste mês? Vamos utilizar os razonetes para demonstrar a contabilização: Despesas Com Salários – Demonstração do Resultado Salários a Pagar – Passivo Circulante D C D C 10.000,00 10.000,00 O registro pelo regime de competência gera a contabilização de uma DESPESA em março (pois os salários referem-se ao período de março) e um registro de uma OBRIGAÇÃO, no Passivo Circulante, indicando que a empresa terá que pagar a título de Salário o valor destacado. O pagamento será efetuado somente no mês de abril. O Regime de Competência deve ser utilizado para o registro e elaboração das demonstrações, mas, além do regime de competência, existe, conforme Iudicibus et al. (2010, p.74), o “regime de caixa, em que são consideradas receitas e despesas do exercício as que efetivamente são recebidas e pagas dentro desse período”. O regime de caixa é utilizado pela Contabilidade de órgãos públicos e para fins tributários, quando a Legislação fiscal permitir a tributação pelo regime de caixa. Dentre as demonstrações contábeis, a Demonstração dos Fluxos de Caixa objetiva evidenciar as entradas e saídas de recursos ocorridas no Caixa e Equivalentes de Caixa em determinado período, demonstrando pelo regime de caixa a saúde financeira de determinada empresa. Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 Questão para Atividade Pedagógica Online (APOL 2) A empresa Exemplo Industrial Ltda. possui como principal insumo na fabricação de seus produtos a energia elétrica. Em determinado mês, a fatura enviada pela fornecedora de energia foi recebida pela empresa no dia 30 de abril, tendo como data de vencimento o dia 10 do mês subsequente. A empresa realiza o registro contábil da Despesa com Energia Elétrica no dia 30 do mês de abril. O regime contábil que embasa a contabilização da empresa é o: a) Regime de Pagamento. b) Regime de Caixa. c) Regime Misto. d) Regime de Competência. e) Regime de Despesa. Gabarito: A alternativa d é a correta, pois o Regime de Competência indica que a contabilização deve ocorrer dentro do mês de abril, já que o evento, ou seja, o consumo da energia elétrica, ocorreu neste mês. Tema 3: Operações de Compra A Contabilidade objetiva o registro de todos os fatos contábeis relacionados a um determinado patrimônio. Fatos contábeis envolvem a alteração do patrimônio de uma entidade, podendo ser no seu aspecto quantitativo ou qualitativo. Vamos analisar, a respeito desse tema, os fatos contábeis relacionados às operações de compras de mercadorias, matérias-primas e despesas, abordando seus principais aspectos, como a compra, o pagamento e os impostos relacionados. Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 Antes, é importante destacar que a compra de mercadorias envolve operações de empresas comerciais que possuem como atividade a compra e a venda. Por sua vez, as empresas industriais adquirem matérias-primas, que, após passar por um processo de transformação, geram os produtos que são vendidos pelas empresas. Compra de Mercadorias As empresas comerciais adquirem mercadorias e produtos com o objetivo de revendê-las para outras empresas ou para consumidores finais. As compras podem ser à vista ou a prazo. Em ambas as operações ocorre o registro a débito na conta de Estoque – Mercadorias para Revenda. Veja como é o registro contábil dessa operação: Compra à vista: Banco Conta Movimento – Ativo Circulante Mercadorias para Revenda – Estoque – Ativo Circulante D C D C 1.000,00 1.000,00 O recurso para o pagamento sai do Banco (ou do Caixa), representando um crédito na conta do Ativo, diminuindo a conta do Banco. O valor da mercadoria entra na conta do Estoque, sendo debitada, representando o aumento do valor nessa conta. Compra a prazo: Fornecedores – Passivo Circulante Mercadorias para Revenda – Estoque – Ativo Circulante D C D C 1.000,00 1.000,00 Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 O registro na conta de estoque é o mesmo, mas, como não ocorre o pagamento, há a necessidade do registro da dívida (ou obrigação), representando um crédito na conta do Passivo. Compra de Matérias-Primas e Outros Insumos Quando a empresa é do ramo da indústria, a aquisição é de matérias- primas, que serão transformadas em novos produtos. Esta compra é registrada contabilmente no Ativo da empresa, representando bens pertencentes a esta: Banco Conta Movimento – Ativo Circulante ou Fornecedores – Passivo Circulante Matéria-prima – Estoque – Ativo Circulante D C D C 1.000,00 1.000,00 A conta de matéria-prima é debitada no Ativo, representando a entrada de bens adquiridos. No Estoque são registradas as matérias-primas, material de embalagem, material auxiliar, todos utilizados no processo de produção da empresa. O fluxo seguinte da matéria prima é: A matéria-prima, quando utilizada no processo produtivo, é transferida para Produtos em Elaboração, e quando o produto final fica pronto, destinado para Produtos Acabados, todas as contas pertencentes ao Estoque da empresa. Matérias-primas, material de consumo, embalagens Produtos em Elaboração Produtos Acabados Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 Gastos Complementares Outros gastos são incluídos, como custo das mercadorias ou matérias- primas adquiridas. Estes são pagos pelo comprador e necessários para deixar os itens em condições de uso: fretes, seguros, despesas alfandegárias, honorários de despachantes, etc. Esses valores são registrados no Ativo Circulante, na conta do Estoque, a DÉBITO, aumentando o valor das Mercadorias ou Matérias-primas adquiridas. Impostos Incidentes Sobre Compras Nas operações de compras de mercadorias e matérias-primas incidem impostos. Os impostos não cumulativos, como o ICMS (Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação), IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados), COFINS (Contribuição Para o Financiamento da Seguridade Social) e o PIS (Programa de Integração Social), são cobrados pelo vendedor do adquirente. Esses impostos são recuperáveis, ou seja, o imposto pago na aquisição é compensado com o imposto a pagar, recolhendo aos cofres públicos somente a diferença. Importante: conforme explica Ribeiro (2010, p.88), os impostos não cumulativos são aqueles em que o valor do imposto pago em uma operação é compensado no valor do imposto a pagar na operação subsequente. Nas compras de mercadorias e matérias-primas, o valor contabilizado no Estoque corresponde ao valor líquido dos respectivos impostos, pois os mesmos são recuperáveis e utilizados para diminuir os impostos a pagar. Veja um exemplo do registro da uma aquisição de mercadoria, com incidência de ICMS à alíquota de 18%: Pró-reitoria de EaD e CCDD 16 Banco Conta Movimento – Ativo Circulante ou Fornecedores – Passivo Circulante Matéria-prima – Estoque – Ativo Circulante ICMS a Recuperar – Ativo Circulante D C D C D C 1.000,00 820,00 180,00 O valor a ser contabilizado no Estoque é líquido do ICMS, representando R$ 820,00. O valor do ICMS é registrado em uma conta do Ativo, representando um DIREITO que a empresa possui em relaçãoao imposto a recuperar. Em relação a essa operação, veja a explicação de Ávila (2012, p. 141): “Quando as empresas efetuam a compra de mercadorias, uma vez que o imposto é considerado por dentro, estas pagam o imposto antecipadamente. Esse pagamento não é feito diretamente ao governo, mas depositado ao vendedor, que tem a obrigação de recolher esses valores ao governo. Portanto, funciona basicamente como se o comprador estivesse fazendo um adiantamento do ICMS no momento da compra. Assim, o valor do imposto deve ser descontado do valor da mercadoria e lançado em conta separada, haja vista que o comprador efetuou um adiantamento do imposto para o governo, tendo então direito de descontar esse imposto pago quando efetuar sua venda”. Devoluções, Abatimentos e Descontos Incondicionais Outras operações que alteram os valores do Estoque referem-se às devoluções de compras, aos abatimentos sobre compras e aos descontos incondicionais. Na sequência vamos conceituar as operações: Devoluções de compras: corresponde à devolução total ou parcial das mercadorias e/ou matérias-primas adquiridas em determinado período. A devolução pode ser motivada por vários fatores, como erro no envio Pró-reitoria de EaD e CCDD 17 do material, qualidade indevida, quebras no transporte, dentre outros fatores. Os lançamentos contábeis da aquisição são revertidos, anulando as operações realizadas. Abatimentos sobre compras: Ribeiro (2010) explica que as mercadorias adquiridas de fornecedores podem não atender às expectativas da empresa. Neste caso, esta pode devolver (total ou parcialmente) a mercadoria. No entanto, caso exista interesse em ficar com o produto, um abatimento no preço de compra pode ser negociado, ou seja, o valor a ser pago será menor, pois a mercadoria não atende plenamente ao que foi negociado entre as partes. Nesse caso o registro contábil deverá diminuir o valor no estoque e também o valor da obrigação com o fornecedor. Desconto Incondicional: corresponde ao desconto presente no documento fiscal (Nota Fiscal) de compra. São destacados na nota fiscal e o fornecedor não impõe nenhuma condição (por isso é chamado de incondicional ou comercial) para os clientes. Tema 04: Operações de Vendas Após o estudo das operações de compra, passamos agora a analisar como ocorre o registro das operações de venda. As mercadorias para revenda adquiridas pelas empresas comerciais, que inicialmente são contabilizadas no Estoque, são vendidas por um determinado valor que busca cobrir o custo de aquisição, as despesas e também proporcionar uma margem de lucro para a empresa, garantindo a continuidade dos negócios. Os produtos fabricados pelas indústrias possuem o mesmo destino, ou seja, a venda para a obtenção de lucro. Vamos exemplificar agora a operação de venda, dividindo-a em três etapas: (a) venda das mercadorias ou produtos; (b) impostos incidentes sobre Pró-reitoria de EaD e CCDD 18 as vendas; e (c) custo da mercadoria vendida. Vendas das Mercadorias ou Produtos Para uma empresa comercial ou industrial, a operação de venda é a mesma, diferenciando-se somente o nome da conta contábil: Venda de Mercadorias ou Venda de Produtos. Banco Conta Movimento – Ativo Circulante ou Clientes – Ativo Circulante Venda de Mercadorias ou Produtos – Receita – Demonstração do Resultado D C D C 2.000,00 2.000,00 A operação de venda pode ser à vista (envolverá a conta Caixa ou conta Bancos) ou a prazo (registrando-a na conta de Clientes ou Contas a Receber). São contas do Ativo, representando um BEM, se o pagamento for em dinheiro ou depósito, ou um DIREITO, se a venda for a prazo, evidenciando um valor a receber do cliente, que é DEBITADA. A contrapartida do lançamento contábil (lembrando que para todo o débito deve haver um crédito de igual valor) será o registro da RECEITA, evidenciada a CRÉDITO na Demonstração do Resultado. Impostos Sobre as Vendas Os impostos calculados sobre o valor da venda guardam proporcionalidade com o respectivo valor da transação. São exemplos o ICMS, o PIS e a COFINS, que integram a base de cálculo. Já o IPI, que é cobrado somente das empresas industriais, é adicionado ao preço de venda dos produtos. Vamos analisar a contabilização do ICMS, considerando uma Pró-reitoria de EaD e CCDD 19 alíquota de 18% sobre o valor de venda de R$2.000,00: ICMS a Recolher ou Pagar – Passivo Circulante ICMS sobre Venda – Deduções da Receita – Demonstração do Resultado D C D C 360,00 360,00 Os impostos sobre vendas são contabilizados a DÉBITO em contas REDUTORAS das Vendas. A contabilização a CRÉDITO é realizada em contas do Passivo Circulante, representando uma OBRIGAÇÃO da empresa para com o Fisco, para efetuar o recolhimento do respectivo imposto. Obs.: Lembramos que o valor A PAGAR é compensado com o valor a RECUPERAR, referentes aos impostos pagos na aquisição das mercadorias ou matérias-primas. Ocorre o pagamento somente se o valor a pagar é superior ao valor a recuperar. Custo das Mercadorias ou Produtos Vendidos Quando adquirimos uma Mercadoria, registramos um débito na conta de Estoques. O mesmo procedimento é realizado na aquisição de insumos utilizados na fabricação de produtos. No momento da venda devemos baixar o respectivo valor dos itens vendidos da conta do Estoque, pois a empresa não possui mais as mercadorias ou produtos. Acompanhe o lançamento contábil, que utilizará os mesmos valores das aquisições do Tema 3, no qual adquirimos a Mercadoria por R$1.000,00 e o ICMS a Recuperar representava R$180,00, gerando o valor líquido no estoque de R$ 820,00: Mercadorias para Revenda – Estoque – Ativo Circulante Custo das Mercadorias Vendidas – Demonstração do Resultado D C D C Pró-reitoria de EaD e CCDD 20 820,00 820,00 Na aquisição da mercadoria, a conta Estoques foi DEBITADA, gerando a entrada de um BEM. Considerando que todas as Mercadorias foram vendidas, a conta é CREDITADA, registrando a saída de todo o estoque. A conta de Custo da Mercadoria Vendida (ou Produtos Vendidos, se for um produto produzido pela empresa) é DEBITADA, recebendo o montante do custo vendido. Devoluções, Abatimentos e Descontos Incondicionais Concedidos Outras operações que alteram os valores das vendas referem-se às devoluções de vendas, aos abatimentos sobre vendas e aos descontos incondicionais concedidos. São elas: Devoluções de Vendas: correspondem à devolução total ou parcial das mercadorias e/ou matérias-primas vendidas em determinado período. Do mesmo modo que as devoluções de compras, as devoluções de venda podem ser motivadas por vários fatores, como erro no envio das mercadorias, qualidade indevida, quebras no transporte, dentre outros fatores. Abatimentos Sobre Vendas: Caso ocorra problema com a mercadoria vendida e o cliente opte por não devolver a mercadoria, a empresa pode conceder um abatimento, diminuindo o valor que o Cliente deverá pagar pela aquisição efetuada. Desconto Incondicional: corresponde ao desconto presente no documento fiscal (Nota Fiscal) de venda. São também chamados de descontos comerciais, efetivados no momento da venda e destacados na Nota Fiscal. Pró-reitoria de EaD e CCDD 21 Tema 05: Demonstrações Contábeis Obrigatórias O registro de todos os fatos contábeis envolvendo o patrimônio de uma empresa gera informações para serem utilizadas pelos diversos usuários da contabilidade, como sócios, diretores e gestores. Contudo, para que as
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