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Distúrbio do Processamento Auditivo Central

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Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC)
O que é?
Para entender o transtorno do processamento auditivo central, é preciso saber como funciona o processamento da audição. A capacidade que o sistema nervoso tem para traduzir as informações enviadas pela audição é chamada de processamento auditivo central. Essa habilidade está diretamente relacionada com a localização dos sons, a possibilidade de prestar atenção em um som e ignorar outros, memorizar sons.
Algumas das funções do processamento auditivo são: localização e lateralizacão dos sons, discriminação auditiva, reconhecimento do padrão auditivo, aspectos temporais da audição.
Basicamente, PA (Processamento Auditivo) é o conjunto de habilidades e tarefas necessárias para que o indivíduo possa entender e compreender o que ouviu. São operações realizadas pelo sistema nervoso central responsáveis por analisar, discriminar e decodificar o som captado pelas nossas orelhas e, dessa forma, transformar a energia acústica em algo com significado
O DPAC é caracterizado por afetar esse processamento. Os portadores deste distúrbio detectam os sons, mas não conseguem interpretar as informações contidas nele.
Sintomas
Os mais comuns são: (1) dificuldade para localizar a fonte sonora, saber de onde vem os sons e a que distância estão; (2) dificuldade para entender a fala em lugares ruidosos, com reverberação, eco ou muitas pessoas falando ao mesmo tempo; (3) entender errado, trocar palavras/frases ouvidas por outras parecidas; (4) dificuldade para memorizar sequências de sons, falta de ritmo ou dificuldade para acompanhar uma fala em maior velocidade ou entender quem fala muito rápido. Podem estar presentes também as dificuldades de leitura e escrita, trocas de letras na fala ou na escrita e dificuldade para aprender uma segunda língua ou música.
As dificuldades de concentração provocadas pelo problema podem ser facilmente confundidas com transtornos de atenção. Ex: TDAH.
Causas
Qualquer alteração neurológica que afete regiões do cérebro ou do sistema nervoso central responsáveis pela discriminação e processamento auditivo pode levar ao distúrbio. Isto incluí: 
tumores 
AVCs 
doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla
Perdas auditivas não tratadas ou aquelas em que o indivíduo demora para reabilitar (por exemplo, demorou para começar a usar um aparelho auditivo) podem levar à disfunção do PA como uma sequela da privação sensorial. O envelhecimento também afeta o PA. Contudo, o mais comum, principalmente em crianças, são alterações funcionais – sem lesão específica ou diagnosticada – ou atraso de maturação das vias auditivas centrais. Estas disfunções ou atrasos de maturação têm como fatores de risco a prematuridade, intercorrências na gestação ou no parto, anóxia ou cianose, abuso de drogas e álcool, histórico familiar e também as famosas otites na infância.
As pessoas demoram para perceber que existe uma desordem neste processamento? Por quê?
Às vezes, sim. Os sintomas são mais evidentes na idade escolar, durante e após a alfabetização. É nesta fase que a criança recebe um aumento da demanda linguística e o ambiente de aprendizado passa a ser menos controlado, tem mais competição. Por isso, a maior parte das crianças faz o diagnóstico correto após os 7 ou 8 anos. Alguns casos vêm para a avaliação com 12,13 ou até 15 anos e com queixas de dificuldades escolares há anos. Como os sintomas são parecidos, o quadro pode se confundir ou estar presente concomitantemente com atrasos de linguagem, dislexia e déficit de atenção. Em adultos e idosos, em geral, o diagnóstico é feito após uma adaptação de prótese malsucedida ou com baixo rendimento, nos casos em que mesmo com o uso do melhor aparelho possível, o indivíduo ainda se queixa de dificuldade de escuta.
Em que momento a pessoa deve recorrer a um especialista?
Sempre que houver qualquer queixa relacionada à audição, linguagem ou dificuldades de aprendizagem. No primeiro momento, é realizada a audiometria tonal e imitanciometria a fim de verificar se há algum grau de perda auditiva. Caso a audição seja normal ou a queixa seja incompatível com o grau de surdez apresentado, podemos investigar o processamento auditivo com uma bateria específica de testes. É importante ressaltar que o exame de audição – a audiometria – é básico e obrigatório em qualquer pessoa com queixas relacionadas à linguagem, fala ou aprendizagem, e pode ser realizado em qualquer idade. Saber como o indivíduo escuta faz parte do diagnóstico diferencial e não devemos fechar diagnóstico de TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), DEL (Distúrbio Específico de Linguagem)  sem ter certeza se a pessoa escuta ou não.
De que maneira a desordem do processamento auditivo pode impactar, por exemplo, no desempenho escolar de crianças?
Uma criança que escuta mal, que se confunde ou que não consegue prestar atenção no que o professor fala apresenta um grande risco de aprender errado, ou pior, não aprender. O processo de alfabetização é totalmente dependente de uma boa escuta, afinal a escrita nada mais é do que a representação gráfica dos sons da fala e, para que este processo ocorra da melhor forma possível, é preciso boa consciência fonológica, memória auditiva e discriminação acústica destes sons. Outra questão fundamental aqui é: as pesquisas mostram que o fator que mais interfere e prejudica o aprendizado em sala de aula é o nível de ruído competitivo. E as pessoas, e principalmente as escolas, não se dão conta disso. O tratamento acústico de salas de aula é quase inexistente e isso já faz com que qualquer aluno demande mais força e atenção para se manter concentrado. Uma criança com alteração do PA fica extremamente vulnerável e em desvantagem nesta situação e, quanto pior for a acústica da sala e maior o nível de ruído ou distorção sonora no ambiente, mais difícil será seu aprendizado, mais esforço será necessário. Ela cansará mais rápido e poderá cometer mais erros.
Em adultos, que tipo de perda da qualidade de vida esse tipo de desordem pode oferecer?
As mesmas dificuldades da criança, porém não na situação de sala de aula, mas, sim, no trabalho. Imagine o adulto em um escritório barulhento, muitas vezes tendo de falar ao telefone em outra língua ou lidar com mais de um falante ao mesmo tempo. Ou até nas atividades de lazer, festas, bares, ruas e parques. Sempre que o ambiente acústico não for favorável, será necessário maior esforço para a escuta, o que gera desgaste, cansaço e pode culminar com erros na percepção da fala ou dificuldade de memorizar o que foi dito.
Há alguma relação do processamento auditivo com a perda da memória ou falta de atenção? Por que isso acontece? 
Em jovens não há evidência consistente de uma relação tão direta. O que pode acontecer é que, pelo esforço necessário para escutar, o indivíduo acaba “gastando” toda a energia no processamento da informação e na tarefa de discriminação auditiva que acaba não sobrando reserva cognitiva para os processos de memorização ou manutenção da atenção sustentada. Isto é bastante comum também em pessoas com perda de audição e que precisam o tempo todo fazer “força” para escutar. Novamente, quanto mais desfavorável for o ambiente, maior o risco de que isso aconteça. Muitas vezes o indivíduo “se desliga”, perde pedaços ou trechos da informação ou não lembra o que acabou de ouvir.
É possível prevenir esse tipo de problema?
Na criança temos, sim, algumas formas de estimulação auditiva e que podem ser realizadas desde a primeira infância, na fase pré-escolar. Não podemos garantir que nada dará errado, mas sabemos, por exemplo, que ensino de música e treino musical é um fator excelente. Usar uma linguagem clara, rica em vocabulário e correta na forma de apresentação gramatical e fonológica também é importante desde sempre. Evitar ruído em excesso, lugares muito barulhentos e ficar atento a qualquer sinal de otite ou alteração da audição. A presença constante e crônica de catarro ou secreção no ouvido na fase de aquisição da língua ébastante prejudicial e pode interferir na maturidade do PA. Por isso, os pais devem ficar atentos e realizar acompanhamento com médico otorrinolaringologista. Com relação às escolas, devemos ficar atentos não só à proposta pedagógica e à estrutura física. É importante verificar como é a acústica da sala de aula do seu filho. E o ruído no refeitório? Pais e corpo docente precisam começar a prestar atenção nessas questões. Não adianta apenas sentar na primeira fileira se o ruído do pátio ou do corredor é forte, ou se há reverberação, eco ou até mesmo barulho forte de ventilador/ar condicionado. Há importantes evidências científicas de que o tratamento acústico no ambiente de ensino-aprendizado é um dos fatores de maior impacto na reabilitação. No caso dos adultos, sugere-se evitar exposição aos fatores de risco para alterações auditivas no geral e, mais do que tudo, realizar diagnóstico e intervenção precoce. Ou seja, procurar o médico e realizar os exames de audição a qualquer sinal de dificuldade para ouvir. E mais importante ainda, se a perda auditiva for confirmada, procurar reabilitação imediata, usar os aparelhos sempre que forem indicados. Esperar a perda “piorar” para colocar a prótese pode levar ao distúrbio de PA – e isso o aparelho não resolve sozinho. Nos casos em que já se foi constato o DPAC  (Distúrbio do Processamento Auditivo Central), o tratamento-padrão recomendado consiste em exercícios específicos para as habilidades auditivas alteradas, tarefas de escuta direcionada e sensibilizada e treinamento com fones de ouvido, que pode ser realizado com computador e nas cabinas acústicas com equipamentos de áudio do fonoaudiólogo para um adequado controle dos estímulos e das respostas. Muitas vezes, em crianças, este treinamento específico é realizado como um complemento da terapia fonoaudiológica convencional, que trata dos aspectos ligados à fala, linguagem oral e/ou escrita.
Refrências
CAUSAS E TRATAMENTOS DA DESORDEM DE PROCESSAMENTO AUDITIVO, 2015. Disponível em <http://deficienciaauditiva.com.br/causas-e-tratamentos-da-desordem-de-processamento-auditivo/>. Acesso em: 27 de novembro de 2017.
CONHEÇA O DPAC – DISTÚRBIO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL, 2016. Disponível em http://adap.org.br/site/conteudo/225-49-o-que-e-o-dpac-disturbio-do-processamento-a.html> Acesso em: 27 de novembro de 2017.

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