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Sumário 1 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UMA INTRODUÇÃO .......................................................................................... 5 1.1 Embate epistemológico contemporâneo em Orientação Profissional: objetivismo versus construtivismo versus construcionismo ................................ 7 1.1.1 Visão objetivista ......................................................................................... 7 1.1.2 Visão construtivista .................................................................................... 8 1.1.3 Visão construcionista ................................................................................. 9 2 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE POSITIVISTA: ENFOQUE DO CAOS................................................................................................................. 11 2.1 Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica ...................................... 13 3 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE CONSTRUTIVISTA: ENFOQUE DESENVOLVIMENTISTA-CONTEXTUAL .................................... 14 3.1 Bases epistemológicas e teóricas .............................................................. 14 3.2 Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica ...................................... 16 4 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE CONSTRUCIONISTA: ENFOQUE CONTEXTUALISTA E ENFOQUE DA CONSTRUÇÃO DA VIDA 17 4.1 Enfoque contextualista baseado na teoria da ação .................................... 17 5 A APRENDIZAGEM PROFISSIONAL NO BRASIL ..................................... 18 6 O TRABALHO COMO POSSIBILIDADE DO HUMANO .............................. 22 7 ESCOLHA DA PROFISSÃO ......................................................................... 24 8 ASPECTOS PSICODINÂMICOS DA ESCOLHA PROFISSIONAL .............. 28 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 32 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UMA INTRODUÇÃO A contemporaneidade traz novas demandas à orientação profissional, manifestadas principalmente na flexibilidade, heterogeneidade, complexidade e fragmentação do mundo do serviço social. Savickas (2000) observa que a psicologia ocupacional tenta lidar com essas mudanças sociais do trabalho que reconfiguram o trabalho e a organização social e exigem inovações tecnológicas teóricas, como segue: Os mentores reexaminam seus ideais, refletem sobre seus modelos e escolhem novos valores para enfatizar os pontos de virada. A estrutura central da psicologia ocupacional moderna também está sendo revisitada e frequentemente alterada. Collin (1998) destacou que há dez anos, estávamos passando por um importante momento de transição onde velhos e novos modelos coexistiam, ainda que de forma descontínua, ou seja, o novo modelo não era apenas um avanço, mas exigia o surgimento de novas teorias como fator unificador, todos enfrentaram mudanças. Nas últimas décadas, a psicologia do trabalho e a orientação profissional têm sido examinadas para compreender e atender teoricamente-tecnicamente as novas demandas sociais trabalhistas. O ambiente emergente cria novas questões e a necessidade de atualizar as intervenções de orientação profissional. De acordo com a orientação profissional, faz-se necessário lidar com as perguntas em três ordens: 1) Como atender plenamente as demandas laborais da sociedade contemporânea? 6 2) Como incorporar na orientação profissional as novas perspectivas ontológicas, epistemológicas e metodológicas advindas da ciência contemporânea? 3) Como introduzir uma perspectiva contextualista na teoria e na prática da orientação profissional? As visões tradicionais sobre orientação profissional devem ser expandidas para considerar abordagens mais denotativas, qualitativas e situacionais que possam compreender vários aspectos da vida das pessoas em seu contexto. Segundo os principais autores da orientação profissional, a profissão, como resultado dessa transformação, se consolidou, não devendo ser vista de forma mais geral como "uma estrutura predeterminada, mas um projeto social construído com o projeto de vida de cada pessoa, sempre uma dinâmica relacional". A psicologia ocupacional hoje parece ser duplamente questionada em termos de objetivos e princípios teóricos. Por exemplo, como profissionais, continuaremos a focar na ocupação, como um conceito desenvolvido na psicologia ocupacional durante grande parte do século XX, ou focaremos na estrutura social da vida através do trabalho e dos relacionamentos. A última proposição pressupõe uma mudança de paradigma que pode alterar fundamentalmente a forma de investigação e as práticas atuais de intervenção. (METZ, 2009, p. 315) O ajustamento e adaptação de carreira, a manipulação tradicional da relação entre o indivíduo e o ambiente, nortearam grande parte da história da orientação de carreira, mas agora não são capazes de responder a todas as exigências colocadas no mundo do trabalho social, apenas parte disso, gerando a necessidade de construir conceitos, como em um mundo diferente, estável e em constante mudança. É necessário integrar tarefas contemporâneas de significado (construção de significado) em tarefas tradicionais de correspondência (correspondência ou ajuste) para tornar as intervenções de orientação profissional mais abrangentes e completas. 7 Nesse sentido, construção parece ser a palavra-chave atual para descrever o funcionamento da relação entre o indivíduo e o mundo social do trabalho que dá origem às ocupações, e esse trabalho pode ser analisado epistemicamente de duas maneiras: Construtivista ou Construcionista. Além dessas duas perspectivas, existem pressupostos mais tradicionais de manipulação e adaptação. Em termos de modelos teóricos, a psicologia ocupacional parece ser dividida em abordagens mais positivistas (enfatizando os fatores e processos que determinam os fenômenos) e modelos mais construtivistas (enfatizando o papel das narrativas, intenções e significados construídos pelo indivíduo). O debate parece destinado a continuar a ser um desafio para os consultores que lutam para entender o trabalho e fornecer intervenções relevantes na orientação profissional. O conflito epistemológico contemporâneo produziu três grandes forças: a visão de mundo objetiva tradicional baseada no positivismo, a visão construtivista e a visão construcionista. O primeiro nomotético e os outros dois ideogramas. 1.1 Embate epistemológico contemporâneo em Orientação Profissional: objetivismo versus construtivismo versus construcionismo 1.1.1 Visão objetivista A visão objetivista concentra-se no positivismo que entende as pessoas como máquinas (visão mecanicista) ou sistemas (visão funcionalista) e possuicaracterísticas, descrições e sua integração com ocupações como personalidade, interesses, habilidades, valores, etc. De acordo com Guba (1990, p.20), "a realidade existe fora, guiada por leis imutáveis e mecanismos naturais", é objetiva, natural, dada (crença na ordem natural dos fenômenos psicossociais), necessidade de buscar evidências e pressupostos gerais leis (verdade objetiva). 8 Na psicologia vocacional, fatores de traços e abordagens teóricas tipológicas representam essa visão objetivista tradicional, bem como a atual abordagem da teoria do caos. Essa visão pode ser baseada em: Ontologia da realidade (realidade objetiva); Epistemologia dualista (indivíduo e contexto são coisas diferente) e objetivista, porque o conhecimento (verdade objetiva) está na realidade e deve ser acessado pelo indivíduo. 1.1.2 Visão construtivista A perspectiva construtivista é baseada na psicologia do desenvolvimento e no cognitivismo e propõe: Cada indivíduo constrói mentalmente o mundo da experiência por meio de processos cognitivos. Difere da ortodoxia científica do positivismo lógico em sua tese de que o mundo não pode ser conhecido diretamente, mas sim por construção, imposta pela mente. (COLLIN, 2004, p. 375) Enfoca os atributos do indivíduo (processos cognitivos e sociais) e as influências que ele recebe do ambiente externo, como forma de entender o comportamento humano como um sistema complexo de processos auto- organizados de atividades e interações dentro da sociedade e contextos de interação. Não há acesso direto à realidade, mas sim por meio de representações que construímos e orientamos nosso comportamento. Na psicologia profissional, além das abordagens contemporâneas dos desenvolvimentistas contextuais, as abordagens tradicionais da teoria do desenvolvimento e da decisão que foram propostas, bem como as abordagens atuais da cognição social e da transição, terão uma base construtivista. Essa visão pode ser baseada em: Ontologia da realidade: a realidade objetiva existe, mas apenas com a possibilidade de estabelecer representações sobre a realidade, não a realidade diretamente inacessível (GUBA, 1990); epistemologia subjetivista, porque o conhecimento da realidade a representação que o indivíduo tem de si mesmo e do contexto em que está inserido e para 9 refletir a realidade, pois “a realidade existe na forma de construções psicológicas múltiplas, locais e específicas, entrelaçadas social e empiricamente, dependentes de sua forma e conteúdo, que as detêm”. (GUBA, 1990, p. 27) Construções individuais são hermeneuticamente eliciadas, refinadas, dialeticamente comparadas e contrastadas, e com a ajuda de gerar uma ou mais construções, haverá um consenso substancial. 1.1.3 Visão construcionista As visões construcionista concentram-se em teorias sociológicas, linguísticas e antropológicas e assumem que a realidade não é um dado natural e a priori, mas é construída por meio de práticas e discursos decorrentes das relações psicossociais. Como epistemologia, o construtivismo social assume que o conhecimento é histórico e culturalmente específico, que a linguagem constitui mais do que a realidade que reflete, é tanto um pré-requisito para o pensamento quanto uma forma de ação social. O foco da análise deve estar nas interações sociais, processos e práticas. (COLLIN, 2004, p. 377) Se no positivismo a realidade é acessada e compreendida de forma objetiva e direta por meio de sua descrição, então no construtivismo a realidade é conhecida por meio da construção de suas representações, operada por processos cognitivos individuais; no construcionismo, a realidade é construída em relação, por meio da prática e do discurso social, não é verdade objetiva, mas discurso sobre como a realidade é produzida e compartilhada. Segundo Paiva (2008), o construcionismo focaliza as pessoas no contexto e o contexto nas pessoas (experiência cotidiana: o lugar onde o significado é produzido e onde o significado deve ser estudado) e entende a prática do mundo real por meio da construção de discursos sobre pessoas, processos e sociedades. 10 Assim, de uma perspectiva social construcionista, o foco está na aquisição e na dinâmica das interações sociais, em vez da estrutura do conhecimento individual ou da verdade objetiva. Na psicologia vocacional, a abordagem contrucionista proposta por Young, Valach e Collin (2002) e Savickas, Nota, Rossier, Dauwalder, Duarte, Guichard, Soresi, Van Esbroeck e Van Vianen (2009). De acordo com Guba (1990), pode-se basear essa visão no seguinte: Ontologia relativista: realidade intersubjetiva construída através do discurso e da prática social; Epistemologia subjetivista: porque o conhecimento vem de episódios intersubjetivos, discursos sobre a realidade, não a própria realidade; Metodologia dialógica e transformativa: como propõe Santos (2003) ao postular uma espécie de hermenêutica diatópica, ou seja, as interpretações da realidade são construídas e negociadas nas relações psicossociais que criam a realidade por meio dos discursos e práticas que surgem dessas próprias relações. A hermenêutica diatópica "requer produção de conhecimento coletiva, interativa, intersubjetiva e em rede". (Santos, 2003, p. 448). Podemos descrever brevemente os conflitos epistemológicos contemporâneos na orientação de carreira na Figura 1 abaixo: 11 Fonte: RIBEIRO, Marcelo Afonso, 2011. 2 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE POSITIVISTA: ENFOQUE DO CAOS Ao tratar das carreiras, um problema muito divulgado será seu caráter contemporâneo de inconstância, ruptura e descontínua, o que nos leva a pensar que não pode haver constância ou permanência nas organizações e estruturas. No entanto, alguns autores são fiéis à ideia de ordem na organização e funcionamento dos processos mentais e cognitivos que conduzem ao comportamento individual, recorrendo à teoria da física caótica, que postula que “haverá uma ordem e uma estrutura inegáveis no desordem natural", e é possível encontrar a ordem por trás do caos e compreendê-la. A desordem nada mais é do que uma percepção confusa da realidade ou uma incapacidade de elaborar um conhecimento sobre a realidade, mas a ordem 12 existe. Inspirados na hipótese da teoria do caos, Pryor e Bright (2007) propuseram a aplicação da teoria às ocupações e orientação de carreira, denominando-a teoria do caos ocupacional. Eles partem do princípio positivista de que a realidade existe e é diretamente acessível, uma combinação de ordem e imprevisibilidade. A realidade conterá duas categorias básicas: categorias existentes e relacionamentos. Os seres são entidades com propriedades que podem ser conhecidas, enquanto as relações são as formas pelas quais os seres se relacionam uns com os outros, os seres só podem ser identificados por suas propriedades intrínsecas, não por seus relacionamentos. Indivíduos existem, entendidos como sistemas dinâmicos complexos que auto-organizam suas vidas para manter a ordem, encontrando e dando significado a si mesmos e ao mundo, sua capacidade primária de perceber, construir e usar padrões. A carreira, por sua vez, não é um ser, mas uma relação, pois “é uma propriedade emergente da real interação do indivíduo (existente) com outros seres (como pessoas, empresas, instituições)”. Os indivíduos, como seres, agem e reagem ao mundo, não à sua profissão. Os sistemas existentes são sistemas relacionados a outros sistemas complexos, interconectados e sujeitos a mudanças, até mesmo imprevisíveis, organizados por meio do processo de identificação de padrões que impõem ordem e significado à experiência e à própria realidade. A realidade é um sistema aberto e, como o indivíduo, é um sistema complexo com funcionamento imprevisível, mas diante das mudanças impostas pela realidade, sempre tendea ordenar por um processo fundamental chamado atração: Por meio dele o sistema se organiza de forma coerente e se adapta para manter e reconstruir essa ordem, pois está sujeito às mudanças de influências externas e internas. (BRIGHT, 2007, p. 381) O processo de atração produz resultados chamados atraidores, produzindo padrões característicos que informam aos sistemas existentes como seus sistemas funcionaram desde então (por exemplo, nova estrutura e 13 organização do desenvolvimento e trajetórias de carreira), processos de produto final (por exemplo, escolhas de carreira feitas), percepções de realidade (novos conceitos no mercado de trabalho), constrangimentos de sequência (a necessidade de desenvolver algumas competências). De acordo com a Teoria do Caos, o desenvolvimento de carreira ocorre quando o indivíduo é colocado em uma situação extrema como um ser no qual (como um sistema temporariamente estável) ele é exposto à imprevisibilidade para se desenvolver em um processo A mudança combina controle com mudança, planejamento com oportunidade. Essa situação é chamada de beira do caos. Em conclusão, a Teoria do Caos afirma que indivíduos e ambientes permanecem realidades objetivas, estáveis e diretamente acessíveis, mas sempre atravessadas pela necessidade de se desenvolver e mudar, um processo transcendental de mudança que parece desordenado, mas é um processo que consegue organizar e estruturar-se de maneira compreensível pelo indivíduo. A Teoria do Caos tenta combinar o ser (estrutura pré-existente) com o devir (estrutura resultante da mudança) e fornecer uma explicação positivista do ambiente em constante mudança ao qual os indivíduos devem se adaptar. 2.1 Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica “Que estratégias podem ser usadas para introduzir e explorar os conceitos de estabilidade e mudança no aconselhamento de carreira?” pergunta Pryor, Amudson e Bright (2008, p. 311). Segundo os autores, este será o principal desafio para as estratégias de intervenção da orientação profissional baseadas na Teoria do Caos, nomeadamente proporcionar um espaço ao mesmo tempo: • Perspectiva convergente na tomada de decisão de carreira, ao facilitar a identificação de possíveis resultados (estabilidade e ordem), “o objetivo é focar, 14 por meio de um processo de análise, exclusão e lógica, em uma ou poucas opções alternativas que possam determinar o sucesso da implementação” - a ênfase está na probabilidade; • Perspectiva divergente na tomada de decisões de carreira, incentivando a exploração e encontrando alternativas e identificando resultados possíveis e improváveis (oportunidades e mudanças) – a ênfase está nas possibilidades. A abordagem do Caos, como teoria positivista, continua a utilizar ferramentas para medir dimensões (individuais) existentes, visando descrever as características gerais dos indivíduos, mas principalmente a auto-exploração de si e de suas possibilidades na realidade e a compreensão de sua reação. Características típicas de situações complexas e sua capacidade de adaptação às oportunidades em mudança, buscando explorar, analisar e implementar opções de possibilidades e possibilidades. O papel do consultor é introduzir pequenas perturbações no sistema funcional do indivíduo (processo de problematização) e depois auxiliá-lo no processo de reconstrução, primeiro identificando padrões estruturais e depois desenvolvendo padrões de desenvolvimento, que não são planos de longo prazo, mas entendendo o processo de desenvolvimento Possibilidades de curto prazo, aproveitar as oportunidades trazidas pela mudança e conciliar existência e formação. 3 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE CONSTRUTIVISTA: ENFOQUE DESENVOLVIMENTISTA-CONTEXTUAL 3.1 Bases epistemológicas e teóricas Essa abordagem, desenvolvida por Vondracek, Lerner e Schulenberg (1986), tem uma base epistemológica e teórica no interacionismo para estudar 15 "objetivos móveis (desenvolvimento individual) em contextos complexos e mutáveis", ou seja, com múltiplas dimensões, interdependência e sistemas interdependentes de indivíduos e contextos evoluindo e mudando. Segundo os autores, desenvolvimento pessoal e mudança ambiental. Vondracek, Lerner e Schulenberg (1983) propuseram dois conceitos fundamentais para a compreensão do desenvolvimento de carreira: a integração estrutural e a interação dinâmica dos fatores envolvidos na inter-relação entre o indivíduo e o ambiente. A integração estrutural sugere que os fenômenos centrais da vida surgem em múltiplos planos (biológico, social, psicológico, organizacional e histórico), e a interação dinâmica de fatores sugere que o que acontece em um determinado plano afeta o que acontece em outros planos, ou seja, é impossível compreender a origem da carreira de um indivíduo analisando apenas os processos cognitivos ou as transformações socioeconômicas. O contextualismo desenvolvimentista incorpora que o contexto não apenas leva a mudanças no desenvolvimento individual, mas também o próprio contexto é afetado e restringido por características individuais. Os contextos são múltiplos e estruturalmente interconectados (mudanças em um nível afetam outro), os indivíduos agem sobre os contextos de maneira ativa e seletiva por meio de seu desenvolvimento, e a interação é a operação fundamental do desenvolvimento. Desta forma, o desenvolvimento será uma combinação indeterminada entre o indivíduo e o ambiente, os dois são inseparáveis, o indivíduo é um promotor ativo de seu próprio desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento do indivíduo pressupõe uma epigenética (a formação de novos, estrutura inexistente) probabilidade de massa (imprevisibilidade da direção de transição que o desenvolvimento produzirá), na chamada ocorrência aparente probabilística, assume: A carreira (desenvolvimento vocacional) será o resultado da interação entre dois processos dinâmicos: o desenvolvimento do indivíduo ao longo de sua vida e os contextos interpessoais, socioculturais e 16 ambientais complexos e mutáveis que geram a dinâmica da mudança pessoal e social através da integração e dinâmica. A interação entre os dois processos de síntese adaptativa é difícil de prever a priori porque ambos estão em constante mudança. (RIBEIRO, 2009, p. 207) "Dinâmica interativa entre processos biológicos (ou orgânicos) e psicológicos e condições ambientais (ou contextuais)". É difícil prever o impacto de um ambiente em mudança em um indivíduo em desenvolvimento, embora tal desenvolvimento, imprevisível, não seja fragmentado porque os indivíduos possuem coerência organizacional, estrutural e interna que limitam sua capacidade de influenciar o ambiente. A força da abordagem de contexto desenvolvimentista está em sua tentativa de combinar uma perspectiva positivista (organismo) com uma perspectiva construtivista (contextualismo), usando o que vê como a força de cada perspectiva para construir seus conceitos teóricos: estruturas intrínsecas e predeterminadas. predestinação de ocorrência aparente (visão positivista) inter- relacionada com um contexto multidimensional de mudança probabilística (visão construtivista). Em suma, o cerne do paradigma de desenvolvimento contextual está na síntese de duas ideias-chave, organicismo e contextualismo: a mudança de contexto é de natureza probabilística e o desenvolvimento procede de acordo com a atividade dos organismos. 3.2 Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica De acordo com Guichard e Huteau (2001), as intervenções de uma abordagem desenvolvimental situacional visam integrar estratégias e técnicas em modelos de fatores de traços por meio da investigação (através de testes) de características individuais, bem como por diferentes papéis sociais, os diferentes ambientes em que ele interage e as diversas formas como transaciona nesses ambientese se adapta a eles, além de verificar como a adaptação a um ambiente afeta outras situações (por meio de entrevistas). As intervenções de mentoria focam as pessoas em contexto, o aconselhamento é onde o orientador constrói uma relação com o orientando, e 17 juntos identificam as múltiplas influências contextuais que o orientando sofre para entender como funciona o seu desenvolvimento profissional e ajudá-lo a construir uma representação da realidade, e desenvolver habilidades de comunicação eficazes com essas diferentes dimensões contextuais. 4 ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS DE BASE CONSTRUCIONISTA: ENFOQUE CONTEXTUALISTA E ENFOQUE DA CONSTRUÇÃO DA VIDA 4.1 Enfoque contextualista baseado na teoria da ação Young, Valach e Collin (2002), os principais criadores da abordagem situacional para orientação de carreira, apontam que muitas abordagens contemporâneas são situacionais, mas estão falando de situação versus pessoa e vice-versa. Inspirados no construtivismo social, eles argumentam que o contextualismo introduz uma "visão de mundo interativa e dinâmica" (YOUNG; VALACH; COLLIN, 2002, p. 208) que se concentra no significado "da experiência direta e da troca que surge das interações com os outros". Para analisar um fenômeno psicossocial, como é a ocupação, primeiro vislumbra-se a indissociabilidade entre homem e ambiente, entendido como uma única estrutura entrelaçada, e depois tenta-se "desvendar essa estrutura" para gerar seu entendimento, ou seja, há sempre uma relação, ou melhor, que surge da interação humana no contexto. Ao mesmo tempo, o contexto será uma estrutura dinâmica, entendida como "um todo complexo composto de muitas partes interligadas e entrelaçadas", e um processo de interação, visto como "entrelaçar diferentes partes em um único corpo (ou todo corpo)". O contextualismo vê o mundo em termos de sua complexidade e da inter-relação dos contextos. 18 5 A APRENDIZAGEM PROFISSIONAL NO BRASIL O período entre os séculos XI e XII foi identificado por vários historiadores como característico da verdadeira revolução comercial na Europa. Essa revolução culminou em cruzadas, intensificação do comércio e desenvolvimento urbano. Nesse caso, os trabalhadores precisariam se ajuntaram em grupos específicos para organizar o trabalho e como forma de se proteger da perda, pois não há poder institucional para respaldá-lo. Com o tempo, empresas de artesanato, ou associações de artesãos, surgiram em várias partes da Europa sob vários nomes. No Brasil, o artesanato existe desde os primórdios da colonização portuguesa. A primeira foi realizada por padres jesuítas, que foram gradualmente sendo ensinados aos locais na tentativa de formar trabalhadores aptos para os serviços básicos. As primeiras empresas de artesanato surgiram nas cidades da Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo Martins (2008), o mesmo nível de artesanato que existiu nas empresas europeias (especialmente as portuguesas) aplicaram-se às organizações artesanais brasileiras: durante um estágio de ofício, os artesãos são chamados de "aprendizes"; aqueles que servem "funcionários", executivos e professores são chamados de "mestres". No Brasil colonial, o trabalho braçal era considerado uma atividade indigna de brancos e homens livres. O preconceito contra a atividade física e a atividade física criou uma dualidade na educação oferecida aos filhos de colonos e aos filhos de escravos. Para os primeiros, a educação intelectual humanista foi preservada, enquanto para outros, escravos, meninos de rua e criminosos, o resto foi aprender artesanato, manufatura e atividades industriais. 19 Dessa forma, a educação escolar está voltada para a minoria pertencente à classe dominante, enquanto a formação profissional prática está voltada para os indivíduos mais desfavorecidos social e economicamente. Segundo a mesma autora, os estágios nestes ofícios aconteciam não em espaços escolares, mas em engenhos, escolas e casas jesuíticas, minas, arsenais e empresas navais. O livro de Adam Smith, de 1776, The Wealth of Nations, e as mudanças políticas e filosóficas pelas quais o Ocidente estava passando, desencadearam um debate sobre o aprendizado em empresas artesanais. Alguns defendem a abolição da aprendizagem estatutária, enquanto outros veem as empresas como uma causa social que se destaca na formação dos trabalhadores. O debate sobre a extinção das empresas de artesanato só ganhou força no Brasil após o processo de independência que havia sido desencadeado em 1822. Na Assembléia Constituinte de 1823, a controvérsia em torno da proibição das corporações de ofícios girava em torno de restrições ao livre comércio e danos à economia. Por outro lado, como astuto defensor, o futuro Visconde Cairu, José da Silva Lisboa, lutou arduamente contra o aniquilamento dos negócios e defendeu a sua importância social – principalmente para as famílias pobres – e estão na disciplina e na formação dos trabalhadores. Esses debates terminaram com a dissolução da Assembleia Constituinte e da Carta Magna concedida pelo Imperador em 1824, que sancionou a extinção das guildas de artesanato no Império. (MARTINS, 2008, p. 17-18) Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, iniciou-se a formação de mão de obra nas Casas de Educandos Artífices. Essas instituições usaram como modelo os ofícios utilizados no campo de estudo militar, caracterizados pela hierarquia e disciplina. Para as elites do Império brasileiro, a formação profissional seria a melhor forma de impedir a competição ordenada e mobilizar a força de trabalho. Entre 1889 e 1930, correspondente ao período da Primeira República do Brasil, dois decretos marcaram a história da educação profissional. Em 1891, foram instituídas medidas para regular o trabalho e as condições dos menores empregados nas fábricas. O Decreto-Lei nº 1.313/1891 proibia o trabalho nas fábricas de menores de 12 anos, com exceção dos 20 aprendizes. Crianças de 12 a 14 anos poderiam trabalhar até 7 horas por dia, enquanto crianças de 14 a 15 somente até 9 horas por dia. Sendo proibida qualquer operação que expunha menores a substâncias nocivas à saúde, como carvão, tabaco e petróleo (Brasil, 1891). Em 1909, foi aprovado o Decreto n. 7.566, foram criadas escolas de aprendizes e artesãos. Nessas formações, além da formação técnica e intelectual, ensinaram-se aos menores hábitos de trabalho que os afastassem das escolas ociosas, pecaminosas e criminosas (Brasil, 1909). Segundo o mesmo decreto, o público atendido nessas escolas deveria ter entre 10 e 13 anos, não sofrer de doenças transmissíveis, ou ter alguma deficiência que o impedisse de aprender um ofício. Em todas as escolas de aprendizagem e artesanato deveria existir um curso elementar obrigatório para quem não soubesse ler, escrever e contar, e um curso de desenho para aqueles que não tinham essa matéria para praticar seu ofício. Esse modelo de educação profissional adquiriu outros contornos ao longo do tempo até constituir o que hoje é conhecido no país como escola técnica. Segundo Sales (2010), em 1942, no contexto da ditadura de Getúlio Vargas, foram implantadas as reformas Capanema, que estruturaram a educação profissional e estabeleceram que as oportunidades de ensino superior para os egressos dos cursos técnicos industriais, agrícolas e comerciais deveriam ser limite as ocupações que estão diretamente relacionadas a elas. Dessa forma, formou-se um sistema de ensino dual, com a formação de intelectuais (ensino médio) de um lado e trabalhadores (cursos profissionais) de outro, formando a chamada educação de dualidade estrutural. Ainda em 1942, o Decreto nº 5.091 introduziu o artigo 1º, o conceito de aprendizagem. Em termos de ensino legislativo, aprendiz é o trabalhador, menor de 18 anos e maior de 14 anos, que recebe treinamento profissional sistemáticona indústria em que trabalha (Brasil, 1942). 21 A Lei da Aprendizagem entrou em vigor em 1943 com a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. A Seção 429 da CLT estabeleceu que a indústria deveria empregar aprendizes entre 14 e 18 anos e frequentar cursos de aprendizagem. (Brasil, 1943). Posteriormente, a Lei da Aprendizagem voltou-se também para o setor comercial. O Decreto Lei nº 8.622/1946 determinava que estabelecimentos comerciais de qualquer natureza, com mais de 9 funcionários, seriam obrigados a empregar e participar de cursos de aprendizagem, alguns trabalhadores menores, como praticantes de funções que exijam formação profissional (Brasil, 1946). Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, a aprendizagem passou a ser garantida. O artigo 69 dispõe que os adolescentes têm direito à especialização e proteção no trabalho, observando o respeito às condições especiais da pessoa em desenvolvimento e formação adequada no mercado de trabalho. Um modelo de Aprendizagem Profissional, estabelecido desde 1943, reeditado pela Lei nº 10.097 de 19 de dezembro de 2000. A atual Lei da Aprendizagem Profissional estabelece que, o trabalho a menores de dezesseis anos de idade é proibido, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. Na Aprendizagem Profissional, o trabalho não pode ser feito em locais que prejudiquem o desenvolvimento educacional, físico, psicológico, moral e social dos adolescentes, e em horários e locais que não permitam a frequência à escola. Por lei, os contratos de aprendizagem profissional devem ser acordados por escrito e ter uma certa duração. Neste contrato, o empregador compromete- se a proporcionar aos adolescentes uma formação profissional técnica metódica adequada ao seu desenvolvimento físico, moral e psicológico. O adolescente, 22 por sua vez, compromete-se a matricular-se e frequentar a escola e é entusiasmado e diligente na realização das tarefas necessárias à sua educação. 6 O TRABALHO COMO POSSIBILIDADE DO HUMANO O trabalho, considerado uma possibilidade humana, também evidencia as preocupações dos jovens sobre como ou de que forma podem integrar-se com sucesso no mundo do trabalho. Nesse sentido, Frigotto (2001) apontou que é nesse contexto de crise e hegemonia do capital que se torna mais importante escavar e aprofundar as categorias básicas da visão materialista dialética da história como ferramenta para revelar as contradições do sistema capitalista, permitindo a extração de elementos da luta em nível ético e político. Também explica que no Brasil, de 1930 a 1990, então de uma história de 60 anos, 30 anos foram ditaduras, enquanto nos outros 30 anos tivemos uma média de um golpe institucional a cada três anos, demonstrando a falta de hegemonia da burguesia brasileira. A partir da Segunda Guerra Mundial, passou a ser influenciado por tendências surgidas no final do século XIX e início do século XX, como a psicanálise, o estruturalismo linguístico, a fenomenologia, o existencialismo ou a combinação dessas tendências com o marxismo e seus aspectos políticos. Assim, a partir da década de 1960, surgiram novas teorias, algumas negando o status do ego e outras negando a realização histórica da razão. Frigotto (2001) também criticou a redução do trabalho ao emprego e sua compreensão da produção da vida. Superar uma visão puramente econômica do trabalho, significa pensar o trabalho em termos de agentes sociais que identificam as relações de produção como necessidades, interesses e opostos, tratando essa experiência em sua consciência cultural. Porque é através do trabalho que homens e mulheres continuamente refazem suas próprias histórias. 23 Se os seres humanos são seres do que deve ser feito nesse sentido, é justamente porque seu fazer é ação e reflexão. É a transformação do mundo. Dessa forma, pode-se deduzir que o trabalho é uma atividade humana específica que deve levar em conta a dimensão ontológica, o processo da vida humana e histórica, pois o trabalho permite pensar, ser, agir, fazer. O trabalho como princípio educacional está diretamente relacionado à forma como cada pessoa existe, pois como participante de uma espécie possui características que são transmitidas por herança genética, enquanto o pertencimento ao gênero humano se dá por meio de um processo histórico- social. Pois bem, é através do trabalho que os humanos se contrapõem como sujeitos com o mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, não haveria relação sujeito-objeto. O trabalho cria possibilidades para o ser humano além da natureza pura. Por meio da atividade vital do trabalho, o ser humano transforma a natureza em meio de sobrevivência. Portanto, socializar o trabalho como princípio educativo é de extrema importância. Na relação do ser humano com a produção de meios de subsistência pelo trabalho, isso significa não apenas que nos transformamos pela modificação da natureza, mas que a ação prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da consciência. O trabalho humano produz efeitos, se encarna em coisas, objetos, formas, gestos, palavras, cores, sons, em realizações materiais e espirituais. O homem cria e recria os elementos naturais ao seu redor, dando-lhes novas formas, novas cores, novos significados, novos matizes, novas ondulações. Mas com o advento do capitalismo, o trabalho tornou-se uma mercadoria, e o trabalhador não é mais proprietário do produto de seu trabalho e, portanto, alienado. No mesmo sistema, o trabalhador se encontra em estado de alienação, mas que o educa se perceber que está vivendo em estado de exploração. 24 Atualmente, as pessoas vivem em um ambiente que contraria esses valores, o que agrava muito o conflito intergeracional. Por um lado, os pais tentam funcionar onde sua cultura está dividida e, por outro, os adolescentes tentam delinear seu lugar na sociedade em que vivem. Pois, para isso, os últimos nesta fase da vida precisam escolher uma profissão que lhes dê a autonomia e a aprovação que sua família e a sociedade esperam. 7 ESCOLHA DA PROFISSÃO Os seres humanos são dotados da capacidade de fazer escolhas, motivações conscientes e inconscientes orientam uma pessoa a escolher um caminho e uma posição na vida. Escolher um emprego, uma carreira, é escolher como quer participar do mundo e ser responsável pelas escolhas dos outros. Fazer uma escolha é escolher aquela que parece melhor entre uma série de opções, então significa deixar de lado aquilo que não foi escolhido e aceitar as consequências da decisão. A escolha de uma carreira é um processo contínuo desde a infância até a idade adulta. Os psicólogos americanos entendem que o processo de desenvolvimento e seleção da identidade ocupacional envolve três momentos principais: o estágio da fantasia (4 a 12 anos), o estágio experimental (12 a 17 anos) e o estágio de escolha realista (entre 17 e 21 anos). Os adolescentes fazem escolhas com base primeiro em suas habilidades e, finalmente, em seus valores. Nesse período, os jovens começam a reconhecer o valor de seu ambiente familiar e social e a vê-los como seus (SOARES, 1988). No livro “Orientação Vocacional: a estratégia clínica”, Rodolfo Bohoslavsky apresenta uma abordagem psicodinâmica para a seleção profissional, começando com o diagnóstico inicial e desenvolvendo uma estratégia de análise clínica. Bohoslavsky (1998) define a adolescência como um período de crise, transição, adaptação e ajuste. Para ele, uma das áreas em que esse ajuste se 25 dará é o estudo e o trabalho, entendidos como meio e forma de avançar no papel do adulto na sociedade. Quando esse ajuste ocorre no nível psicológico, o sujeito alcança sua identidade profissional. As ocupações são definidas não a partir do "dentro" nem do "fora", mas de sua interação (BOHOSLAVSKY,1998). Portanto, a identidade profissional, assim como a identidade pessoal, deve ser entendida como uma interação contínua entre fatores internos e externos e se desenvolve a partir das relações com os outros. Os adolescentes se preocupam com o que podem "se tornar" e buscam realização pessoal, felicidade e alegria na vida. Na construção da identidade profissional, vários aspectos devem ser considerados. Segundo Bohoslavsky (1998), são eles: a) A origem do auto-ideal: a criança se identifica consciente ou inconscientemente com as pessoas que lhe são importantes, ou seja, forma uma relação afetiva com elas, assim, com as ocupações de papel que desempenham. Considera-se assim que as ocupações estão relacionadas com quem as exerce: b) Identificação com os grupos familiares: A família é o grupo básico de referência das pessoas, quer funcione de forma positiva ou negativa. Além disso, "a satisfação ou insatisfação dos pais e outros familiares significativos, dependendo de suas respectivas auto-idealidades e de suas experiências, desempenha um papel importante na forma como os adolescentes são afetados em casa desde a infância" (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 33); c) Identificação com grupos de pares: Os valores dos grupos de pares são muitas vezes essenciais para os adolescentes e, ao contrário dos grupos familiares, não são vistos como referências negativas; d) Identificações sexuais: os padrões culturais sobre os papéis sociais masculinos e femininos são internalizados ao longo do desenvolvimento da identidade profissional. 26 Há ocupações mais ou menos "masculinas" ou "femininas", e essa avaliação desempenha um papel importante como causa de gostos, interesses, atitudes e inclinações: Quando uma pessoa integra diferentes identidades e sabe o que quer fazer, de que forma e em que contexto, tem uma identidade profissional, ou melhor, a sua identidade profissional. Assim, a identidade profissional incluirá quando, como, com quem e onde. (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 49) As escolhas de carreira estão diretamente relacionadas aos "outros" reais e imaginários. O adolescente "quer ser como uma pessoa, real ou imaginária, que tem tais e tais possibilidades e atributos, e pensa-se que os possui pelo status profissional que possui". Os adolescentes escolhem uma carreira, faculdade ou trabalho para materializar relacionamentos passados, presentes e futuros. Bohoslavsky (1998) também apontou algumas dimensões que existem no processo de orientação de carreira. Para ele, é preciso considerar o sistema de valores que existe na comunidade, o valor da educação e sua relação com as instituições de ensino, o status social de seus membros e o contexto social em que escolhem viver. A satisfação que uma carreira pode proporcionar afeta a orientação profissional. Segundo o mesmo autor, alguns adolescentes escolhem a carreira como “trabalho”, enquanto outros como hobby: Poucas pessoas têm a sorte de obter a satisfação que obtêm em seus hobbies e empregos e na mesma tarefa. Em uma sociedade alienada, isso é quase impossível. (BOHOSLAVSKY 1998, p. 27) Então, há liberdade de escolha? Pode-se escolher o que quer? Todos são livres para escolher? Segundo Soares (1987, p. 20), "Um homem pode escolher entre uma série de opções que lhe são oferecidas pelo sistema, que são divididas por sua classe social e, finalmente, pela influência de sua família". Para esse autor, a sociedade capitalista parece permitir que você faça qualquer coisa, e você pode fazer qualquer coisa se quiser. 27 A principal ideia veiculada pela mídia é que o capitalismo oferece mil opções, mas não é. A possibilidade de escolha é inteiramente determinada pelas condições de classe. Para Soares (1987, p. 25), os fatores que determinam a escolha da carreira podem ser divididos em: 1) Fatores políticos: envolvendo políticas governamentais e suas decisões educacionais, principalmente ensino médio e universitário; 2) Fatores econômicos: referem-se a todas as consequências do mercado de trabalho e do sistema capitalista, tais como: falta de oportunidades de emprego, falta de planejamento econômico, baixo poder aquisitivo da população; 3) Fatores sociais: através da pesquisa e da influência da sociedade sobre a família, revelar os fatores que dividem a sociedade em classes sociais e buscar melhores condições sociais. 4) Fatores educacionais: incluindo fatores relacionados ao sistema educacional brasileiro, questões de vestibular, admissão em universidades; 5) Fator familiar: a família é considerada parte importante do atual processo de doutrinação ideológica. Atender às expectativas da família em detrimento dos interesses pessoais; 6) Fatores psicológicos: envolvendo interesses, motivação e habilidades pessoais; Também respondendo à questão levantada acima sobre a liberdade de escolha, Bohoslavsky (1975), citado por Soares (1987), afirma que quanto maior a liberdade de escolha possível, maior o reconhecimento de sua decisão. Segundo o mesmo autor, essas decisões existem em dois níveis: a estrutura do aparelho psicológico e a estrutura social, sobre a qual se sobrepõe a dialética dos desejos, identidades e necessidades sociais. 28 8 ASPECTOS PSICODINÂMICOS DA ESCOLHA PROFISSIONAL Freud (1905) usou o conceito de sublimação para se referir do ponto de vista econômico e dinâmico a certos tipos de atividades que são nutridas por desejos que não são claramente direcionados. Atividades como a criação artística, a investigação intelectual etc. encontraram seus condutores na intensidade dos impulsos sexuais, embora sem qualquer relação aparente com a sexualidade. A sublimação se traduz como a capacidade de transformar impulsos sexuais em refinamento e criatividade. A impulsividade desempenha um papel considerável no comportamento ocupacional, com uma continuidade entre as atividades instintivas da criança que geram satisfação e as atividades que o indivíduo busca mais tarde na ocupação que irá exercer. Por meio da socialização, o indivíduo aprende a atender suas necessidades de uma forma aprovada pelo ambiente. No desenvolvimento psicossexual do indivíduo, é na adolescência que o complexo de Édipo se recupera, assim como a identificação na primeira infância. A partir desse período de transição, o adolescente busca uma saída que lhe permita encontrar seu lugar na sociedade. O adolescente cria seus projetos, idealizando o futuro, mas nem sempre encontra uma realidade bem-vinda. Precisa-se confrontar sua experiência subjetiva com a realidade. O conceito de auto-ideal pode ser uma das dimensões psicológicas que lhes pode dar uma ideia de como os jovens integram a influência parental na definição do seu futuro profissional. Como ideais e identidades na família podem ajudar a compreender as escolhas dos adolescentes? As famílias atribuem papéis que as crianças devem desempenhar. Os filhos tornam-se guardiões de desejos que seus pais não podem realizar, como ser responsável por ocupar seu lugar na carreira. Como 29 resultado, o projeto de carreira de um adolescente será influenciado por sua família, afetando seus ideais de ego. O ideal de ego decorre do narcisismo e, para Freud, significava redescobrir a tendência infantil à perfeição narcísica, na qual o amor-próprio e o senso de onipotência eram primordiais. A criança é para si mesma, seu próprio ideal - a perfeição narcísica não pode ser mantida, o narcisismo perdido é transferido para o ideal do ego e nele projetado. É assim que as pessoas são, movidas pelo desejo de encontrar seu tempo ideal. Esse desejo é o que impulsiona as pessoas a construir projetos. Na adolescência, a questão da autoidealidade se renova, pois nesse período de desenvolvimento o adolescente busca uma autoimagem satisfatória que possa lhe trazer uma serenidade narcísica. A autoimagem idealizada servirá de referênciapara o adolescente como meta para atingir suas aspirações. O projeto profissional do jovem corresponderá aos seus ideais. No entanto, alguns jovens fazem escolhas que não estão relacionadas ao seu projeto (ideal) porque as necessidades reais interferem neles. "Muitas vezes, os conflitos de relacionamento não foram bem resolvidos, a própria imagem e os próprios pensamentos não foram bem expressos, e os desejos dos pais e a possibilidade de escolas não foram bem projetados." A influência da idealização de carreira no processo seletivo, pois os jovens tendem a idealizar a carreira que desejam seguir. Imagina-se numa carreira perfeita, que responda a todos os seus desejos e onde possa projetar os seus sonhos. Com isso em mente, escolhas maduras só podem ser feitas quando os dois aspectos da juventude (o princípio do prazer e o princípio da realidade) são combinados". A ocupação expressa a resposta do ego ao chamado interior, chamado de objeto interior danificado, que exige, impõe, sugere, etc., reparado pelo ego. 30 A seleção profissional exibirá uma escolha de objetos internos para reparo. Influenciado pelas ideias da escola psicanalítica britânica, propôs o conceito de "compensação" para compreender a construção da identidade profissional. Para que o ego possa passar pelo processo de reparação, ele precisa ser forte, ou seja, perceber a realidade e aceitá-la, assumir comportamentos de reparação e restaurar bons objetos internos, danificados na fantasia, protegê-lo dos maus objetos internos. Se o ego não consegue suportar a ansiedade depressiva de perder um bom objeto, ele recorrerá a duas defesas: separação e negação. Ela separa a relação entre o ego e o objeto, eliminando assim a dependência e negando as limitações de onipotência e autonomia do objeto. Quando ocorre alguma forma de negação, surgem sentimentos de desprezo, controle e vitória. Se estes estiverem presentes em uma tentativa de reparo, pode-se dizer que ocorreram pseudo-reparações ou reparações maníacas. Assim, podem-se distinguir dois tipos básicos de reparações: reparações verdadeiras e reparações maníacas. A carreira escolhida será um repositório externo de objetos internos que necessitam de reparo. Para diagnosticar a identidade profissional, é preciso olhar quais são as demandas do objeto interno, pois ele pode demandar cuidado, atenção, reconstrução etc., e essa demanda pode ser feita de diferentes formas: como súplicas, reclamações, etc. Assim, um adolescente pode fantasiar e seguir carreiras muito diferentes que são obviamente incompatíveis, mas em um nível profundo, é exatamente o mesmo para ele. Do ponto de vista da lógica formal eles não são compatíveis, mas do ponto de vista do processo primário são. Fazer escolhas com maturidade depende da articulação do conflito, não da negação do mesmo. Essa escolha se baseia na probabilidade de o adolescente se identificar com seus próprios gostos, interesses e ambições, e 31 saber orientar suas carreiras e carreiras no mundo exterior. Ao amadurecer e ajustar as escolhas, os adolescentes são capazes de combinar seus gostos e habilidades com oportunidades externas, equilibrando responsabilidades pessoais e sociais. 32 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública contemporânea. Campo Grande, MS: Ed. UFMS; Campinas, SP: Autores Associados, 2001. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo. Boitempo Editorial, 2003. BISQUERRA-ALZINA, R. Modelos de orientación e intervención psicopedagógica. Barcelona: Praxis, 1998. BLUSTEIN, D. L., SCHULTHEISS, D. E. P., & FLUM, H. (2004). Toward a relational perspective of the psychology of careers and working: A social constructionist analysis. Journal of Vocational Behaviour, 423-440. doi:10.1016/j. jvb.2003. BOCK, A. M. B. A psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2002 BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional: a estratégia clínica. 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