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AT 1 2 3 S U M Á R IO 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - Saneamento ambiental 5 2.1 Case para reflexão 7 2.2 Implicações e resultados do saneamento ambiental 8 2.3 A Lei nº 11.445/07 12 UNIDADE 3 - Ciclo hidrológico 16 UNIDADE 4 - Tratamento de água para consumo humano 21 UNIDADE 5 - Contaminantes orgânicos em mananciais 28 UNIDADE 6 - Presença de microrganismos 28 6.1 Definições e características dos microrganismos 35 6.2 Remoção de protozoários 37 6.3 Remoção de cianobactérias e cianotoxinas 39 6.4 Remoção de agrotóxicos 45 6.5 Remoção de gosto e odor 50 UNIDADE 7 - Manejo de águas pluviais urbanas 57 REFERÊNCIAS 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 3 Não há frase mais curta e ao mesmo tempo mais real do que “a água é fonte de vida”! Ela é essencial para que a vida acon- teça e percorra todo seu ciclo da melhor maneira possível. Desde os primórdios da civilização na história da evolução huma- na e demais seres vivos, a água esteve presente. Para algumas espécies, a água é meio de vida, para outras, a sua falta compro- mete todo desenvolvimento como na maioria das culturas vegetais. O excesso, a disponibilidade ou a falta de água tam- bém comprometem a qualidade de vida e dão o tom da riqueza de determinadas re- giões. Historicamente, as cidades se desen- volveram próximas aos cursos de água, com a preservação das calhas principal e secundária dos rios, não por consciência ambiental, mas pelas dificuldades opera- cionais e construtivas de retificação de rios existentes na época. Com o desen- volvimento urbano e tecnológico, o cres- cimento das cidades impôs um sistema de malha viária que, aos poucos, exerceu pressão e viabilidade econômica de in- vestimentos que promovessem o sanea- mento das áreas ribeirinhas e a execução de obras de retificação de canais, pavi- mentos, pontes e, consequentemente, da ocupação parcial ou total da calha secun- dária de trechos dos cursos de água ou de áreas de alagamentos naturais (RIGHET- TO; MOREIRA; SALES,2009). Vimos que, de acordo com o MEC, sis- temas hidráulicos e sanitários são disci- plinas do curso de Engenharia Ambiental. Aprofundaremos o tratamento e uso de águas que passa necessariamente pelo saneamento. Saneamento ambiental são ações para a sociedade, com o objetivo de fazer com que todos tenham acesso ao abasteci- mento de água potável, coleta e disposi- ção sanitária de resíduos sólidos e líqui- dos, disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis, para proteger e melhorar as condições de vida da população. Como a falta de ações e obras de sanea- mento são um problema sério para toda a sociedade, torna-se mister ao Engenheiro Ambiental, conhecer as técnicas de sa- neamento ambiental, visando à solução de problemas básicos para a melhoria da qualidade ambiental. Especificamente ele deve identificar as unidades constituintes e as formas de funcionamento dos sistemas de abasteci- mento de água e esgotamento sanitário; identificar as etapas constituintes do sis- tema de limpeza urbana, relacionando-as com a necessidade de melhoria dos pro- blemas causados pelos resíduos sólidos e suas interferências na qualidade ambien- tal; identificar as unidades constituintes de um sistema público de drenagem ur- bana; aplicar os métodos de controle sa- nitário dos alimentos; utilizar tecnologias apropriadas na área de saneamento am- biental para melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2004). Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas 4 54 e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clás- sicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o cará- ter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se ou- tras que foram ora utilizadas, ora somen- te consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos es- tudos. 4 5 UNIDADE 2 - Saneamento ambiental 5 Vamos iniciar o estudo do saneamento ambiental com um caso ocorrido nos EUA, contado por Vesilind e Morgan (2011) ilus- trando a pesquisa, a identificação e solu- ção de problemas ambientais que fazem parte do cotidiano do Engenheiro Am- biental. 2.1 Case para reflexão SURTO DE HEPATITE NO HOLY CROSS COLLEGE Logo depois do jogo realizado em Dart- mouth, em 1969, todos os integrantes do time de futebol americano do Holy Cross College ficaram doentes (Morse, 1972). Tiveram febre, náuseas e dores abdomi- nais, além de apresentarem pele amare- lada – sintomas característicos da hepa- tite infecciosa. Nos dias que se seguiram, quase 90 pessoas – entre jogadores, trei- nadores, técnicos e outras pessoas – que faziam parte do programa de futebol da instituição também adoeceram. O colé- gio cancelou o restante da temporada e tornou-se alvo de um mistério epidemio- lógico. Como explicar que um time inteiro tivesse contraído hepatite infecciosa? Sabe-se que a doença é transmitida ba- sicamente de pessoa para pessoa. Embo- ra epidemias possam ocorrer, isso quase sempre se deve à contaminação da água ou de frutos do mar. Há vários tipos de ví- rus da hepatite com drásticas consequên- cias para o ser humano. O menos mortal é o da hepatite A que ocasiona mal-estar durante várias semanas, mas raramente deixa sequelas duradouras. As hepatites B e C, todavia, podem provocar graves problemas, em especial no fígado, e durar por anos. Na ocasião da epidemia no Holy Cross College, o vírus da hepatite ainda não havia sido isolado e muito pouco se sabia sobre sua etiologia ou suas conse- quências. Quando o colégio teve ciência da serie- dade da epidemia, pediu e recebeu ajuda dos governos estadual e federal, que en- viaram epidemiologistas até a cidade de Worcester. Em princípio, esses especia- listas coletaram todo tipo de informação sobre os integrantes do time de futebol: com quem haviam estado e o que haviam comido e bebido. O objetivo era encontrar pistas que os levassem a descobrir como surgiu a epidemia, e obtiveram os seguin- tes dados: uma vez que o período de incuba- ção da hepatite é de cerca de 25 dias, a infecção deve ter ocorrido em algum mo- mento antes do dia 29 de agosto; os jogadores que deixaram o time antes desse período não foram infecta- dos; jogadores da equipe principal que chegaram atrasados, depois do dia 29 de agosto, também não foram infectados; jogadores do time de calouros que chegaram no dia 3 de setembro também não tiveram a doença; tanto os jogadores do time de ca- louros como os do time principal usaram o mesmo refeitório, e, como nenhum calou- 6 7 ro foi infectado, descartou-se a hipótese de que o refeitório fosse a causa da doen- ça; um dos técnicos que desenvolveu hepatite não havia usado o refeitório do colégio; não havia nenhum indício de que os jogadores tivessem comido frutos do mar em algum restaurante, o que poderia dar uma dica sobre onde poderiam ter contra- ído o vírus; os jogadores consumiram uma be- bida preparada pelo colégio, cuja com- posição era açúcar, mel, gelo e água (a versão caseira do Gatorade). No entanto, como os funcionários da cozinha prova- ram da bebida antes e depois do jogo, e nenhum deles desenvolveu a doença, a possibilidade de a bebida ter sido a causa- dora da doença foi descartada.Como não encontravam respostas para o fato, os epidemiologistas se concentra- ram no fornecimento da água. O colégio recebe água da cidade de Worcester e uma tubulação subterrânea traz a água da Rua Dutton – que é sem saída – até o campo de treinamento de práticas espor- tivas, onde há um bebedouro que os joga- dores utilizam durante os treinos. Amostras da água foram colhidas do bebedouro e não apresentaram nenhuma contaminação. A ausência de contaminação durante a amostragem não descartou, entretanto, a possibilidade de transmissão da doen- ça através da tubulação, que cruzava o campo por meio de um medidor de água e várias caixas de sprinklers enterradas no solo, colocadas em todo o campo para re- gar o gramado. Duas outras informações foram cru- ciais. Soube-se que, em uma das casas na Rua Dutton, moravam crianças que ha- viam contraído hepatite. Durante o verão, elas brincavam com água dos sprinklers, espirrando umas nas outras e formando poças no gramado. No entanto, como a água dessas poças – caso as crianças a ti- vessem contaminado – teria ido parar na tubulação, já que os canos de água eram mantidos sempre sob pressão positiva? A última peça do quebra-cabeça se en- caixou quando os epidemiologistas des- cobriram que havia ocorrido um grande incêndio em Worcester, durante a noite do dia 28 de agosto, que durou até a ma- nhã do dia seguinte. A demanda de água para o incêndio foi tão grande que todas as casas da Rua Dutton ficaram sem água da rua, ou seja, os bombeiros bombearam a água em tal quantidade que a pressão no encanamento ficou negativa. Esses dados levaram à seguinte con- clusão: as crianças esqueceram algumas 6 7 das válvulas dos sprinklers abertas, o que certamente provocou a contaminação da água ao redor do sprinkler. Então, o vírus da hepatite entrou no encanamento da água potável. Na manhã seguinte, a pres- são da água foi restabelecida no encana- mento, e a água contaminada foi parar no final do ramal da tubulação, ou seja, no bebedouro do campo de futebol – to- dos os jogadores, treinadores, técnicos e quaisquer outras pessoas que beberam daquele bebedouro foram infectados com hepatite. Esse caso ilustra a clássica conexão cruzada, ou seja, o contato físico entre a água potável tratada e a contaminada e as consequências potencialmente graves dessas conexões. Um dos objetivos da engenharia am- biental é projetar sistemas para proteger a saúde pública. No caso de encanamen- tos, os engenheiros precisam projetar sis- temas que evitem qualquer possibilidade de ligações cruzadas, embora, como o in- cidente de Holy Cross College demons- tra, seja quase impossível prever todas as possibilidades. 2.2 Implicações e resultados do saneamento ambiental Segundo OPAS (2007), saneamento básico é o conjunto de ações que se exe- cutam no âmbito do ecossistema huma- no para o melhoramento dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto, o manejo dos resíduos sólidos, a higiene domiciliar e o uso industrial da água, em um contexto político, legal e institucio- nal no que participam diversos atores do âmbito nacional, regional e local. O estudo ressalta que este conjunto de ações man- tém uma inter-relação permanente entre a gestão do saneamento básico e a saúde pública. Entende-se por saúde pública a ciência e a arte de promover, proteger e recupe- rar a saúde, através de medidas de alcan- ce coletivo e de motivação da população. É importante que estas ações este- jam integradas às ações de organização territorial, do meio ambiente e moradia. A articulação destes setores com a área da saúde é fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável (LIMA; LIMA; OKANO, 2010). O direito à água potável não se alcan- çará somente com enfoques econômicos, mas requer também uma forte convicção moral com respeito a três valores funda- mentais: liberdade, equidade e solidarie- dade com os menos privilegiados (OPAS, 2007). Água e esgotamento sanitário É inegável a compreensão de que a me- lhoria da gestão do saneamento básico proporciona melhoria para a saúde e é es- sencial para a redução da mortalidade in- fantil. A gestão adequada do saneamento básico melhora as condições de saúde da população em especial das crianças que vivem nas regiões mais pobres das cida- des onde as moradias são mais precárias e as condições do local são insalubres, aumentando a exposição das crianças a inúmeras ameaças. Segundo dados dos Indicadores e Dados Básicos – Brasil – IDB (2008), a mortalidade atribuível a diar- reias agudas em crianças menores de 5 anos foi de 3,9% (média nacional), sendo 8 9 que a região nordeste foi a mais afetada com 6,5% e a região sul apresentou o me- nor índice com 1,5%. No Brasil, as doenças diarreicas e as parasitoses estão entre as principais cau- sas de morbidade em menores de 5 anos. Existe uma relação entre a oferta dos serviços de saneamento básico, Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (englo- ba três dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida e saúde). Locais com maior oferta de abastecimento de água potável e coleta de esgoto apresen- tam melhores níveis de IDH que são inver- samente proporcionais à taxa de mortali- dade infantil em menores de 5 anos. O impacto econômico decorrente das intervenções em saneamento básico pode representar redução dos casos de doença ou morte proporcionando econo- mias em relação a necessidade de trata- mento para o setor da saúde e também para os pacientes; valores relacionados às mortes evitadas e ao tempo economizado como também pela não necessidade de assistência médica de tempo de ausência em escola, trabalho, entre outros (LIMA; LIMA; OKANO, 2010). Vale destacar que os investimentos em saneamento têm um efeito direto na re- dução dos gastos públicos com serviços de saúde. Segundo Melo (2005), estudos da OMS – Organização Mundial de Saúde mostram que R$ 1,00 (um real) aplicado em Saneamento gera R$ 2,50 (dois reais e cinquenta centavos) de economia em saúde. 2.3 A Lei nº 11.445/07 A Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, estabeleceu diretrizes nacionais para o saneamento básico, e determina que os municípios elaborem seus planos de saneamento dentro de uma visão in- tegrada com a participação da sociedade. Estes planos devem abranger os serviços de abastecimento de água, esgotamen- to sanitário, drenagem urbana, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, a serem realizados de formas adequadas atendendo a saúde pública e a proteção do meio ambiente sob os seguintes prin- cípios: Universalidade Esse princípio visa garantir que todos tenham acesso aos serviços de sanea- mento básico, dentro do menor prazo possível. Integralidade das ações Deve-se contemplar o conjunto de ser- viços de saneamento básico, atendendo a população conforme suas necessidades e objetivando obter o máximo de eficácia das ações e resultados. Equidade O princípio da equidade enseja que to- dos recebam os serviços com o mesmo nível de qualidade sem que haja qualquer restrição ou discriminação, exceto quan- do se priorizar o atendimento à população de menor renda. Integração Integrar os diferentes setores afins da área de saneamento tais como: desenvol- vimento urbano; a saúde pública; áreas 8 9 ambientais e de recursos hídricos; enten- dida como indispensáveis para se atingir o pleno êxito das ações. Participação e controle social Garantir a participação popular como requisito indispensável para tornar legí- tima a consolidação das políticas públicas de saneamento. Promoção da Saúde Pública Garantir que os serviços que integram o saneamento básico tenham qualidade e quantidade suficientes para a promoção da saúde pública e controleda poluição ambiental. Promoção da Educação Sanitá- ria e Ambiental Contemplar ações de educação sani- tária e ambiental, de forma a disseminar comportamentos mais positivos quanto ao meio ambiente, e incorporar progra- mas de comunicação social para atendi- mento ao cidadão. Orientação pelas Bacias Hidro- gráficas Buscar a integração das infraestrutu- ras e serviços de saneamento básico, com a gestão dos recursos hídricos pelas ba- cias hidrográficas do município. Esse prin- cípio visa a melhoria da qualidade dos cor- pos d’água e a integração homem, meio ambiente. Sustentabilidade As tecnologias devem ser apropriadas a cada realidade do ponto de vista sociocul- tural e ambiental, de forma a se obter efi- cácia na utilização e operação das obras e serviços implantados e eficiência no pro- cesso de implementação com relação aos custos e ao cronograma físico e financei- ro. Proteção ambiental Garantir que os recursos hídricos terão capacidade de atender a demanda para o abastecimento de água da população, sem comprometer a manutenção dos ecossistemas locais. Informação tecnológica Incorporar temas que apresentem via- bilidade técnica e operacional, conciliando a gestão eficiente e economicamente vi- ável. Gestão pública Desenvolver gestão pública que con- temple ações que envolvam a questão intersetorial e de entrelaçamento, bem como a adoção de políticas públicas espe- cíficas incluindo uma abordagem interdis- ciplinar. De acordo com a lei é de competência do titular a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB que pode- rá ser específico para cada serviço, desde que haja a consolidação e compatibiliza- ção dos planos específicos de cada servi- ço que deverão ainda ser compatíveis com o Plano de bacias hidrográficas em que estiverem inseridos. O PMSB deve refletir as necessidades e os anseios da população, devendo, para tanto, resultar de um planejamento demo- crático e participativo para que atinja sua função social. O planejamento dos servi- ços integrantes do saneamento básico tem por finalidade a valorização, a prote- ção e a gestão integrada, assegurando a 10 11 compatibilização com o desenvolvimento local e regional. Principais aspectos que devem ser englobados e/ou compatibilizados pelo PMSB: 1) Com relação a preservação am- biental deve-se considerar: preservação de nascentes; preservação de cursos de água; preservação de mananciais super- ficiais; preservação de mananciais subter- râneos; expansão sustentável das áreas urbanas; plano de manejo integrado ecológi- co-econômico nas áreas de mananciais. 2) Com relação a drenagem urbana e recuperação ambiental, deve-se con- siderar: recuperação de cursos de água; recuperação de áreas degradadas; medidas de controle de enchentes; identificação de famílias vivendo em áreas de risco socioambiental; mitigação de riscos de inundação; mitigação de riscos de deslizamen- to; Mitigação de riscos de desabamen- to. 3) Com relação à água e esgota- mento sanitário, deve-se considerar: universalização do Sistema de Co- leta de Esgotos com incentivos para Liga- ções Intradomiciliares; implantação e ampliação de Cole- tores, Interceptores e Estações de Trata- mento de Esgoto; universalização do Sistema de Abastecimento de Água; implantação e ampliação de Redes, Reservatórios, Elevatórias e Reguladores de Pressão; gestão eficaz dos recursos naturais minimizando as perdas e otimizando a dis- tribuição da água; e, qualidade dos efluentes de esgoto. 4) Com relação ao Planejamento e Gestão de Resíduos Sólidos, deve-se considerar: implantação de Programa de Cole- ta Seletiva de Resíduos Sólidos; inventário de Geradores de Resí- duos Sólidos; implantação de Plano de Gerencia- mento de Resíduos da Construção Civil; programa de racionalização da ge- ração e destinação de resíduos, incluído os de Tratamento de Água e Esgoto; mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL e Cogeração de Energia; implantação de Aterros Sanitários, Estações de Transbordo e Centrais de Re- ciclagem; plano de Recuperação de Lixões e Aterros Controlados; estudo de Tecnologias para Resí- duos Sólidos e Efluentes; 10 11 integração com Programas de In- teresse Social de Habitação, Emprego e Renda. Qualquer ação no campo do Saneamen- to Ambiental deve ser encarada como sen- do uma ação social e coletiva, pois atende a população socializando seus efeitos po- sitivos que são usufruídos por todos. Por essa natureza social e coletiva, é fundamental que sua promoção aconteça através de vários atores, cada qual cum- prindo seu papel, seja ele o cidadão, a co- munidade ou o Estado. O Saneamento Ambiental carrega na sua essência uma pluralidade de funções, pois ao mesmo tempo em que se trata de uma ação de saúde pública e proteção am- biental constitui-se também como bem de consumo coletivo, um serviço essencial ao ser humano e consequentemente um di- reito do cidadão e um dever do Estado. Assim, visto por esse ângulo, as ações de saneamento se enquadram nas polí- ticas públicas e sociais e sua promoção deve ser fruto de ações conjuntas entre a sociedade e o estado (LIMA; LIMA; OKA- NO, 2010). 12 13 UNIDADE 3 - Ciclo hidrológico 12 Sabemos que a disponibilidade de água para sociedade é uma prioridade para con- tinuação da vida na Terra! Ser a água tra- tada também é condição essencial para a qualidade de vida para evitar epidemias dentre outras justificativas. Na contramão dessas assertivas, te- mos o aumento da população em propor- ções preocupantes, pessoas vivendo em condições sub-humanas em várias partes do planeta, uso ainda irracional dos recur- sos naturais. Pois bem, neste momento, nosso objetivo é justamente analisar o tratamento de águas para que sejam ofe- recidas à população com toda qualidade possível. Enquanto Hidrologia é a ciência que es- tuda a água na Terra e procura responder à pergunta sobre o que ocorre com a água da chuva uma vez que atinge a superfície, a Engenharia Hidrológica é a aplicação dos conhecimentos da Hidrologia para re- solver problemas relacionados aos usos da água, que muitos subsídios oferece ao trabalho do Engenheiro Ambiental. Relembremos rapidamente o ciclo hi- drológico (ilustração abaixo) que é ponto de partida útil para o estudo do forneci- mento da água. Ciclo Hidrológico 12 1313 A água precipita das nuvens, infiltra-se no solo, escoa para correntes de águas su- perficiais, segue-se a evaporação e trans- piração, voltando para atmosfera. Precipitação é o termo aplicado para todas as formas de umidade origi- nais na atmosfera que caem no solo (por exemplo, chuva, granizo e neve). A preci- pitação é registrada com medidores em milímetros de água. A quantidade de pre- cipitação em uma determinada região é geralmente útil para estimativas de dis- ponibilidade de água. A evaporação e a transpiração são duas formas pelas quais a água retorna à atmosfera. A evaporação acontece a partir de fontes de águas superficiais livres, e a transpiração é a perda de água das plan- tas para a atmosfera. Os mesmos fatores meteorológicos que influenciam a eva- poração também influenciam o processo de transpiração: os raios solares, a tem- peratura ambiente, a umidade e a velo- cidade do vento, assim como a quantida- de de umidade do solo disponível para as plantas – todos esses elementos causam impacto sobre a taxa de transpiração. Por ser tão difícil medir a evaporação e a transpiração separadamente, são geral- mente combinadas em apenas um termo, a evapotranspiração, ou seja, a perda to- tal de água para a atmosfera, tanto por um processo como pelo outro (VESILIND;MORGAN, 2011). A água da superfície da Terra exposta à atmosfera é chamada de água superficial, que inclui rios, lagos, oceanos, etc. Atra- vés do processo de percolação, algumas águas superficiais (especialmente du- rante a precipitação) são absorvidas pelo solo e se tornam águas subterrâneas; am- bas podem ser utilizadas como fontes de abastecimento para as comunidades. Dentre os usos e importância da água, podemos citar: abastecimento humano; irrigação; dessedentação animal; geração de energia elétrica; navegação; diluição de efluentes; pesca; recreação e paisagismo; a manutenção dos ecossistemas existentes em rios, lagos e ambientes marginais aos corpos d’água, como banha- dos e planícies sazonalmente inundáveis. Segundo Collischonn e Tassi (2011), os usos da água são normalmente classifica- dos em consuntivos e não consuntivos. Usos consuntivos alteram substan- cialmente a quantidade de água disponí- vel para outros usuários. O uso da água para irrigação é um uso consuntivo, por- que apenas uma pequena parte da água aplicada na lavoura retorna na forma de escoamento. A maior parte da água uti- lizada na irrigação volta para a atmosfe- ra na forma de evapotranspiração. Esta água não está perdida para o ciclo hidro- lógico global, podendo retornar na forma de precipitação em outro local do planeta, no entanto, não está mais disponível para outros usuários de água na mesma região em que estão as lavouras irrigadas. 14 15 Usos não-consuntivos alteram pouco a quantidade de água, mas po- dem alterar sua qualidade. O uso de água para a geração de energia hidrelétrica, por exemplo, é um uso não-consuntivo, uma vez que a água é utilizada para mo- vimentar as turbinas de uma usina, mas sua quantidade não é alterada. Da mesma forma a navegação é um uso não-consun- tivo, porque não altera a quantidade de água disponível no rio ou lago. Os usos de água também podem ser di- vididos de acordo com a necessidade ou não de retirar a água do rio ou lago para que possa ser utilizada. Alguns usos da água que podem ser feitos sem retirar a água de um rio ou lago são a navegação, a geração de energia hidrelétrica, a recre- ação e os usos paisagísticos. Alguns usos da água que exigem a retirada de água, ainda que parte dela retorne, são o abas- tecimento humano e industrial, a irrigação e a dessedentação de animais. Temos ainda as águas subterrâneas e superficiais. A água subterrânea é importante tan- to como fonte direta como indireta para o abastecimento de água, uma vez que uma grande fração do fluxo para correntes de água é derivada das águas que estão abai- xo da superfície. A água está presente tanto em locais próximos como afastados da superfície do solo. Na região perto da superfície da Ter- ra, os poros (porosidade) do solo contêm água e ar. Essa região é conhecida como zona de aeração, ou zona vadosa. Ela pode apresentar espessura zero em áreas pan- tanosas e pode chegar a ter algumas cen- tenas de metros de espessura em regiões mais áridas. A umidade da zona de aera- ção não pode ser aproveitada como uma fonte de água, pois fica presa às partícu- las do solo por forças capilares e não pode ser imediatamente liberada. Abaixo da zona de aeração está a zona de saturação, na qual os poros estão cheios de água, em geral conhecida como água subterrânea. Uma camada que con- tém uma quantidade substancial de água subterrânea é chamada de aquífero, e a superfície dessa camada saturada é co- nhecida como lençol freático. Se o aquífe- ro estiver em cima de uma camada imper- meável, é chamado de aquífero livre. E se a camada contendo água estiver entre duas camadas impermeáveis, é co- nhecido como aquífero confinado. Este, às vezes, pode estar sob pressão, assim como em tubulações, e caso um poço es- teja dentro de um aquífero confinado sob pressão, tem-se um poço artesiano. 14 15 As fontes de águas superficiais não são confiáveis como as de águas subter- râneas, pois as quantidades geralmente variam muito durante um período de um ano ou mesmo uma semana, e a qualida- de das águas superficiais é facilmente de- gradável por várias fontes de poluição. A variação no fluxo da corrente ou curso de água pode ser tão grande que mesmo uma pequena demanda pode não ser atendida durante tempos de seca; portanto, devem ser construídos reservatórios para arma- zenar a água durante a época de chuva para que possa ser utilizada nos períodos de escassez. O objetivo é construir esses reservatórios suficientemente grandes para garantir fontes de água confiáveis (VESILIND; MORGAN, 2011). 16 17 UNIDADE 4 - Tratamento de água para con- sumo humano 16 Fazendo um recorte na história e nos si- tuando em 1840, nessa época já havia re- ferência que as epidemias de febre tifoide e de cólera em Londres estavam relacio- nadas com águas de má qualidade. Até o início do século XX não havia padrões de qualidade para a água potável. Um dos tratamentos mais antigos e eficazes é a fervura da água, porém, do ponto de vista prático, restrita a aplicação no âmbito das unidades residenciais. Em 1870, e durante alguns anos posteriores, o uso de filtros de areia e de outras técni- cas de tratamento ainda visava melhorar o aspecto estético da água, eliminar o odor e melhorar o sabor. O avanço do conheci- mento deu então lugar ao tratamento da água com vistas a proteção à saúde. De todo modo, a construção de um sis- tema completo de abastecimento de água requer muitos estudos e pessoal alta- mente especializado. Para iniciarem-se os trabalhos, é ne- cessário definir-se: a população a ser abastecida; a taxa de crescimento da cidade; e, suas necessidades industriais. Com base nessas informações, o siste- ma é projetado para servir à comunidade, durante muitos anos, com a quantidade suficiente de água tratada. Um sistema convencional de abasteci- mento de água é constituído das seguin- tes unidades: - captação - adução - estação de tratamento - reservação - redes de distribuição - ligações domiciliares A seleção da fonte abastecedora de água é processo importante na constru- ção de um sistema de abastecimento. Deve-se, por isso, procurar um manancial com vazão capaz de proporcionar perfei- to abastecimento à comunidade, além de ser de grande importância a localização da fonte, a topografia da região e a presença de possíveis focos de contaminação. A captação pode ser superficial ou sub- terrânea. A superficial é feita nos rios, la- gos ou represas, por gravidade ou bombe- amento. Se por bombeamento, uma casa de máquinas é construída junto à capta- ção. Essa casa contém conjuntos de mo- tobombas que sugam a água do manancial e a enviam para a estação de tratamento. A subterrânea é efetuada através de poços artesianos, perfurações com 50 a 100 metros feitas no terreno para cap- tar a água dos lençóis subterrâneos. Essa água também é sugada por motobombas instaladas perto do lençol d’água e en- viada à superfície por tubulações. A água dos poços artesianos está, em sua quase totalidade, isenta de contaminação por bactérias e vírus, além de não apresentar turbidez. O tratamento da água envolve o empre- go de diferentes operações e processos 16 1717 unitários para adequar a água de diferen- tes mananciais aos padrões de qualidade definidos pelos órgãos de saúde e agen- cias reguladoras. As exigências de qualidade da água evoluíram e prosseguem, em processo contínuo, acompanhando os avanços do conhecimento técnico e científico. Os pa- drões de qualidade tornam-se gradati- vamente mais exigentes. As tecnologias convencionais de tratamento, visando a clarificação e desinfecção da água, foram sendo aprimoradas, incorporando novastécnicas ou variantes, tais como a flota- ção, a filtração direta, a filtração em múl- tiplas etapas, além do emprego de novos desinfetantes (e, por conseguinte, a ge- ração de novos produtos secundários de desinfecção). Em paralelo, o desafio da remoção de substâncias químicas e, mais recente- mente de microcontaminantes, impôs o emprego/desenvolvimento de outras téc- nicas de tratamento como a adsorção em carvão ativado, a oxidação, a precipitação química e a volatilização, e de processos de separação por membranas (microfiltra- ção, ultrafiltração, nanofiltração e osmo- se reversa). Enfim, técnicas mais sofisticadas para a detecção e quantificação de substân- cias e organismos diversos se mantêm em constante e rápida evolução. A detecção e quantificação de concentrações cada vez menores de contaminantes capazes de resultar em efeitos crônicos para a saú- de, bem como o reconhecimento de novos patógenos de veiculação hídrica, tendem a diversificar e tornar mais rigorosos os padrões de potabilidade, impondo, con- comitantemente, o desafio da inovação tecnológica no tratamento da água para consumo humano (CEBALLOS; DANIEL; BASTOS, 2009). Abaixo temos a ilustração de uma típica instalação para tratamento de água, onde por uma série de reatores ou operações unitárias, a água vai fluindo de um para outro e atinge seu objetivo final que é a água tratada (esquemas Sabesp-SP e Co- pasa-MG). Estação de tratamento de água – esquema Sabesp Fonte: Sabesp 18 19 Dentre os processos de tratamento de água de captação superficial temos: a) Redução da dureza da água Em algumas águas (tanto superficiais quanto subterrâneas) é necessário redu- zir sua dureza para que possam ser utili- zadas como fonte de água potável. Essa dureza é causada por cátions multivalen- tes ou “minerais” como o cálcio, magnésio e ferro. b) Coagulação e floculação Substâncias coagulantes são adicio- nadas na água com a finalidade de redu- zir as forças eletrostáticas de repulsão, que mantém separadas as partículas em suspensão, as coloidais e parcela das dis- solvidas. Desta forma, eliminando-se ou reduzindo-se a “barreira de energia” que impede a aproximação entre as diversas partículas presentes, criam-se condições para que haja aglutinação das mesmas, facilitando sua posterior remoção por se- dimentação e/ou filtração. Os coagulantes Estação de tratamento de água – esquema COPASA Fonte: Copasa-MG 18 19 mais utilizados são o sulfato de alumínio e o cloreto férrico, sais que, em solução, li- beram espécies químicas de alumínio ou ferro com alta densidade de cargas elé- tricas, de sinal contrário às manifestadas pelas partículas presentes na água bruta, eliminando, assim, as forças de repulsão eletrostática originalmente presentes na água bruta. A floculação é o processo físico que promove a aglutinação das partículas já coaguladas, facilitando o choque entre as mesmas devido à agitação lenta imposta ao escoamento da água. A formação de flocos de impurezas facilitam sua poste- rior remoção por sedimentação sob ação da gravidade, flotação ou filtração. A flo- culação pode ocorrer por processos hi- dráulicos ou mecanizados c) Sedimentação ou Decantação É o processo no qual a força da gravi- dade é utilizada para separar as partículas de densidade maior que a da água, depo- sitando-as em uma superfície ou zona de armazenamento. Os principais tipos de decantadores são os laminares ou de alta taxa e os convencionais de escoamento horizontal d) Flotação É o processo inverso ao da sedimenta- ção, com o mesmo objetivo de separação das partículas floculentas da água em tra- tamento. Certos flocos (principalmente quando formados a partir de águas com alta concentração de algas ou de substân- cias orgânicas de origem natural, conheci- das como substâncias húmicas), podem manifestar baixa velocidade de sedimen- tação, inviabilizando tal procedimento. Geralmente, para melhorar o rendimento do processo de flotação, agregam-se aos flocos, microbolhas de ar que aumentam a força de empuxo sobre os mesmos, facili- tando sua ascensão e posterior remoção por rodos raspadores instalados na super- fície da unidade. e) Filtração É o processo que remove as impurezas presentes na água bruta (filtração lenta); na água coagulada ou floculada (filtração rápida direta); ou na água decantada (fil- tração rápida) pela passagem destas em um meio granular poroso, geralmente constituído de camadas de pedregulho, areia e antracito (este último, comum nos filtros rápidos). Em relação ao sentido de escoamento e à velocidade com que a água atravessa a camada de material filtrante, a filtração pode ser caracterizada como lenta, rápida de fluxo ascendente ou rápida de fluxo descendente. A filtração direta tem sua denominação relacionada com a inexis- tência de unidade prévia de remoção de impurezas. f) Desinfeção Tem por finalidade a destruição de mi- crorganismos patogênicos ou não presen- tes na água. As principais técnicas em- pregadas são a cloração, ozonização e a exposição da água à radiação ultravioleta. g) Correção de pH Método preventivo de corrosão dos encanamentos por onde a água tratada é veiculada até os consumidores. Consiste na alcalinização da água para remover o gás carbônico livre e para provocar a for- mação de uma película de carbonato na superfície interna das canalizações. 20 2120 h) Fluoretação Aplicação de compostos de flúor na água de abastecimento público, em teo- res controlados, função da temperatura ambiente. O flúor é eficiente na redução da incidência de cáries. A água captada através de poços pro- fundos, na maioria das vezes, não precisa ser tratada, bastando apenas a desinfec- ção com cloro. Isso ocorre porque, nesse caso, a água não apresenta qualquer tur- bidez, eliminando as outras fases que são necessárias ao tratamento das águas su- perficiais (COPASA-MG, 2013). 20 21 UNIDADE 5 - Contaminantes orgânicos em mananciais 21 O avanço tecnológico ocorrido a partir da 2ª Grande Guerra Mundial colocou no mercado uma ampla variedade de subs- tâncias ou compostos químicos utiliza- dos para os mais variados usos como, por exemplo, na formulação, ou como inter- mediários, de muitos produtos utilizados em nosso dia-a-dia, contribuindo de for- ma significativa para a melhoria da qua- lidade de vida do ser humano (MIERZWA; AQUINO, 2009). O desenvolvimento de medicamentos, produtos de higiene pessoal, defensivos agrícolas e aditivos alimentares, entre outros, trouxe muitos benefícios para os seres humanos. Contudo, um aspecto que deve ser considerado é que após o seu uso, ou mesmo nas etapas associadas à sua produção, esses acabam atingindo o meio ambiente, seja na forma de resídu- os sólidos, efluentes líquidos, emissões gasosas e, até mesmo, durante a sua uti- lização ou pelo lançamento acidental ou indiscriminado no meio ambiente. Muitos dos produtos e substâncias quí- micas utilizadas pelos seres humanos, quando presentes no meio ambiente, são potencialmente prejudiciais à fauna, à flo- ra e ao próprio Homem, o que constitui um grande fator de risco. Um exemplo clássi- co refere-se ao uso de compostos orga- noclorados que, nas décadas de 1940 e 1950, foram sintetizados em grandes quantidades para utilização como inseti- cidas. Devido à sua estabilidade química e baixa solubilidade em água, tais compos- tos se acumulam em tecido adiposo le- vando à sua bioconcentração ao longo da cadeia trófica, com conhecidos problemas para os animais superiores (BAIRD, 2002). Segundo Singer (1949 apud MIERZWA; AQUINO, 2009), o primeiro efeito eviden- ciado sobre a saúde humana, associado aos compostos organoclorados, foi a con- tagem reduzida de espermasnos pilotos de aviões pulverizadores de Diclorodife- niltricloroetano (DDT). Outro exemplo de impacto antrópi- co sobre o meio ambiente é associado à produção de detergentes sintéticos, que contêm em sua formulação polifosfato de sódio, cuja função é complexar íons (Ex. Ca2+ e Mg2+) que diminuem a formação de espuma. Os polifosfatos, ao serem lan- çados no meio ambiente juntamente com o esgoto sanitário, são hidrolisados, libe- rando no meio o íon fosfato (P043-), que pode ser prontamente assimilado pelas algas, cujo crescimento no meio aquático é geralmente limitado pela ausência de nitrogênio e fósforo. A abundância destes nutrientes no meio aquático causa um de- sequilíbrio conhecido como eutrofização, que pode conduzir à proliferação excessi- va de algas (MIERZWA; AQUINO, 2009). Além da preocupação com os compos- tos organoclorados, nas duas últimas dé- cadas se observa um crescente interesse científico e debates públicos sobre os po- tenciais efeitos adversos causados pela exposição a um grupo de produtos quí- micos que são capazes de alterar o fun- cionamento normal do sistema endócrino da fauna silvestre e, potencialmente, dos seres humanos (DAMSTRA, 2002 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). 22 23 Harrison, Holmes e Humfrey (1997 apud MIERZWA; AQUINO, 2009) relataram que muitos estudos de laboratório indica- ram que compostos químicos presentes no meio ambiente podem interferir no sistema endócrino uma vez que têm po- tencial de causar alterações no equilíbrio hormonal dos seres humanos, resultando em uma série de problemas de saúde. Estes relatos mostram a relevância dos efeitos potenciais na saúde humana em decorrência da presença de determina- das substâncias químicas no ambiente. A tabela abaixo apresenta algumas classes de contaminantes orgânicos que podem ter acesso aos mananciais de água super- ficial e subterrânea. Alguns destes conta- minantes, como os PCB, HPA, PCDD, PCDF e pesticidas clorados são sabidamente carcinogênicos, sendo alguns deles po- tenciais mutagênicos ou teratogênicos (BAIRD, 2002). Outros contaminantes, como os APEO e seus produtos de de- gradação, os ftalatos e os estradióis são desreguladores endócrinos, ou seja, são capazes de mimetizar ou antagonizar hor- mônios naturais, interferindo assim no funcionamento normal do sistema endó- crino de animais superiores. Dos contaminantes orgânicos apre- sentados na tabela, apenas alguns são listados na Portaria MS n° 518/2004, des- tacando-se os pesticidas clorados, que totalizam 13 dos 22 agrotóxicos listados no padrão de potabilidade brasileiro. Vale ressaltar que algumas substâncias lista- das na tabela, como é o caso dos PCBs, dioxinas, HPAs e ésteres itálicos, e que não compõem o padrão de potabilidade brasileiro, são incluídas no padrão de po- tabilidade de algumas instituições de re- ferência como a Organização Mundial da Saúde (OMS), União Europeia (EU), Agên- cia Ambiental Norte-Americana (USEPA) e Conselho Nacional da Saúde e Pesquisa Médica Australiano (NHRMC). 22 23 Classificação de alguns contaminantes orgânicos de interesse sanitário 24 25 Os alquilfenóis polietoxilados e seus produtos de degradação (Ex.: nonilfenol e octilfenol), bem como os hormônios es- tradiol, natural e etinilestradiol, sintético não são listados nos padrões de potabili- dade brasileiro ou das principais agências internacionais (OMS, USEPA, União Euro- peia, Health Canada, NHRMC). Contudo, tais compostos estão listados na tabela devido à elevada prevalência ambiental, resultante de sua presença nos esgotos domésticos que decorre dos seus empre- gos em fármacos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Vale ressaltar que o padrão de po- tabilidade brasileiro refere-se a outros compostos orgânicos (Ex.: benzeno, clo- rofenóis, clorobenzeno, cloroalcanos e cloroalcenos), não listados na tabela, que podem estar presentes na água trata- da devido à contaminação de mananciais pelo descarte de efluentes industriais ou devido à sua formação durante a cloração da água (MIERZWA; AQUINO, 2009). A situação passa a ser mais preocupan- te quando se analisa a questão dos gran- des centros urbanos, isto porque a varie- dade e quantidade de produtos químicos utilizados diariamente são significativas, tendo como destino final os cursos d’água próximos, seja através dos esgotos trata- dos nas estações ou pelo lançamento dire- to. Por esta razão, é necessário avaliar as implicações da presença de certas subs- tâncias químicas no meio ambiente, prin- cipalmente nos mananciais de água que recebem esgotos tratados, ou in natura, drenagem de águas pluviais e efluentes industriais e que ainda são utilizados para abastecimento público. Um dos primeiros grupos de contami- nantes a ser estudado com relação aos riscos para a saúde humana foi o dos de- fensivos agrícolas, sendo que, atualmen- te, são listados 22 desses compostos na legislação brasileira que trata dos padrões de qualidade da água de abastecimento – Portaria 518 do Ministério da Saúde (BRA- SIL, 2004). Defensivos agrícolas são substâncias químicas utilizadas no controle de espé- cies indesejáveis e doenças de plantas. Englobam substâncias químicas e algumas de origem biológica, podendo ser classifi- cados em função do tipo de espécies que controlam, da estrutura química das subs- tâncias ativas e dos efeitos à saúde e ao ambiente. Quanto à sua toxicidade, os defensivos agrícolas podem ser classificados em fun- ção da dose letal para 50% da população do grupo de teste (DL50). Essa classifica- ção é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, com relação ao efeito agudo. Na Tabela abaixo são apresentadas as classes dos defensivos agrícolas em fun- ção da DL50. 24 25 Os defensivos agrícolas podem desen- cadear efeitos variados na saúde humana, agudos, subagudos ou crônicos. Os sinais e sintomas podem variar de eventos bem nítidos e objetivos, como espasmos mus- culares, convulsões, náuseas, desmaios, vômitos e dificuldades respiratórias; sub- jetivos e vagos, como dor de cabeça, fra- queza, mal-estar, dor de estômago e so- nolência; a manifestações tardias, como os de natureza carcinogênica, mutagêni- ca e neurológica. Embora a questão dos defensivos agrí- colas ainda seja relevante, atualmente uma nova classe de contaminantes pre- sentes no meio ambiente tem desper- tado a preocupação de profissionais e pesquisadores das áreas: ambiental, de tratamento de água e saúde, a qual é de- nominada de desreguladores, perturba- dores ou disruptores endócrinos. Um des- regulador endócrino é uma substância ou mistura exógena que altera as funções do sistema endócrino e consequentemente causa danos em um organismo sadio, em seus descendentes ou em outros grupos de organismos vivos (DAMSTRA, 2002 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Os desreguladores endócrinos são substâncias exógenas, que causam dis- funções endócrinas em animais superio- res como, por exemplo, hermafroditismo e feminilização. Pesquisadores de diversas instituições do mundo têm voltado suas atenções para os efeitos destes compostos na saúde hu- mana, bem como para as tecnologias mais eficientes para sua remoção. Por se tratar de um tema relativamente novo, os principais estudos sobre a pre- sença em mananciais de contaminantes orgânicos com potencial de causar pertur- bações no sistema endócrino limitam-se aos países com maior disponibilidade de recursos. Em alguns trabalhos disponíveis são apresentados dados muito pontuais sobre o Brasil e que a avaliação se restrin- giu à análise de amostras de esgoto bruto e tratado (MIERZWA; AQUINO, 2009). Como no Brasil os serviços de coleta e Classificação toxicológica de defensivos agrícolas em relação a DL50 Fonte: ONU (2005apud MIERZWA; AQUINO, 2009). 26 27 tratamento de esgotos ainda são precá- rios e as atividades agrícolas são intensas, pode-se concluir que além da presença de compostos orgânicos da classe dos desre- guladores endócrinos nos mananciais de água, os níveis de concentração podem ser significativamente maiores daqueles observados nos países desenvolvidos. Com base no conceito de múltiplas barreiras, os sistemas de tratamento de água para abastecimento se constituem na barreira final para assegurar a produ- ção de uma água adequada do ponto de vista de saúde pública. Por se tratar de compostos orgânicos, as tecnologias tra- dicionalmente utilizadas para tratamento de água apresentam capacidade limitada para possibilitar a remoção ou destruição de desreguladores endócrinos, e apre- sentam ainda o potencial de geração de subprodutos com maior toxicidade, princi- palmente nas etapas de pré-oxidação ou desinfecção (OKUN, 2003 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Com o crescente interesse pelo tema de desreguladores endócrinos, vários es- tudos sobre a eficiência de sua remoção em sistemas de tratamento de água têm sido desenvolvidos, mostrando que o sis- tema convencional apresenta limitações, sendo necessária a utilização de proces- sos alternativos ou complementares. Conforme USEPA, 2005; USEPA, 1999 (apud MIERZWA; AQUINO, 2009), nos EUA, a preocupação com a qualidade da água para abastecimento público, tanto em re- lação aos organismos patogênicos como com os subprodutos da desinfecção e seus precursores, resultou em uma série de trabalhos e regulamentações relacio- nadas às tecnologias de tratamento da água para abastecimento público, sendo indicadas como mais adequadas: uso de dióxido de cloro, cloraminas e ozônio; radiação ultravioleta; coagulação aprimorada; micro, ultra e nanofiltação; filtração de segundo estágio; adsorção em carvão ativado granu- lar; gerenciamento dos mananciais. As opções apresentadas não contem- plam especificamente os desreguladores endócrinos, mas sim microrganismos es- pecíficos e subprodutos da desinfecção. Como a maioria das estações de trata- mento de água para abastecimento pú- blico no Brasil é baseada no sistema con- vencional, a potencial presença de uma ampla gama de compostos orgânicos na água potável não pode ser desprezada, principalmente nos grandes centros urba- nos, o que requer uma maior atenção por parte de pesquisadores e profissionais que atuam na área de abastecimento de água. Salienta-se que pouco se sabe so- bre a eficiência das operações unitárias e processos químicos comumente usados no tratamento convencional de água na remoção de tais compostos. Assim, é importante que se desenvol- vam pesquisas para avaliar a capacidade destas tecnologias de tratamento para a remoção desta nova classe de contami- nantes, ressaltando-se também a impor- tância do desenvolvimento de métodos analíticos que possibilitassem a sua de- 26 27 tecção nos níveis que se encontram pre- sentes no ambiente. Além disso, deve-se considerar que o tema sobre compostos orgânicos presentes no ambiente em mi- croquantidades, comumente denomina- dos microcontaminantes, requer o desen- volvimento de estudos epidemiológicos, para avaliar a sua relevância e, se neces- sário, estabelecer padrões de qualidade específicos, para a água de abastecimen- to. Tendências para o futuro Mantendo-se os atuais níveis de de- senvolvimento e urbanização, a pressão sobre os recursos hídricos tenderá a ser mais intensa. Com os assentamentos ur- banos cada vez mais próximos dos ma- nanciais utilizados para abastecimento público, os baixos índices de coleta e tra- tamento de esgotos sanitários atualmen- te observados e a ampliação da oferta de novas substâncias e compostos químicos, o abastecimento de água para as popula- ções desses centros será um desafio. Para que seja possível enfrentar os po- tenciais problemas relacionados à quali- dade da água para abastecimento, o que já se verifica nos dias atuais, é necessário o investimento em pesquisas para avalia- ção dos impactos que os compostos or- gânicos presentes em microquantidades nos mananciais apresentam sobre a saú- de humana e como eles se comportam nos sistemas de tratamento. Além disso, a colaboração entre ins- tituições de pesquisa e companhias de abastecimento de água é de extrema importância para garantir que não sejam consolidadas posições extremas em rela- ção a essa nova classe de contaminantes que, em última análise, não atende aos interesses da sociedade como um todo. Conforme mencionado anteriormente, não se deve superestimar e muito me- nos negligenciar os riscos potenciais que podem estar associados a esta ampla va- riedade de substâncias e compostos quí- micos que atingem os nossos mananciais e, consequentemente, a água que consu- mimos. O desenvolvimento tecnológico trouxe grandes benefícios para a humanidade, com inovações em várias áreas do conhe- cimento, inclusive para o tratamento de água. Assim, os desafios atuais devem ser enfrentados com todas as ferramentas disponíveis. No caso das tecnologias de tratamento de água, em muitas situações, as conven- cionais são a opção mais adequada para possibilitar a obtenção de uma água se- gura para o consumo humano, enquanto em outros casos a melhor opção são as tecnologias avançadas. Além da questão tecnológica, não se pode deixar de lado o princípio básico do tratamento de água, que são as medidas preventivas, deven- do-se atuar na proteção dos mananciais, o que exige ações coordenadas, política, econômicas e sociais. Estar consciente dos principais proble- mas sobre a qualidade da água para abas- tecimento público e das opções disponí- veis para enfrentá-los talvez seja o maior desafio que deve ser superado pelos pro- fissionais e pesquisadores ligados à área de saneamento básico (MIERZWA; AQUI- NO, 2009). 28 29 UNIDADE 6 - Presença de microrganismos 28 6.1 Definições e caracterís- ticas dos microrganismos Protozoários e cianobactérias são con- siderados organismos emergentes em sistema de abastecimento de água para consumo humano e nosso foco neste mo- mento. Microrganismos emergentes são aque- les para os quais a atenção e/ou preocu- pação de médicos, especialistas e/ou epi- demiologistas tem se voltado a partir de períodos mais ou menos recentes. Assim, podem constituir espécies recém-des- cobertas ou organismos já conhecidos/ identificados, porém que apenas agora se descobriu serem capazes de infectar e se- rem patogênicos para seres humanos (BE- VILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). A emergência dos organismos acima está relacionada não ao fato de serem es- pécies recém-descobertas, mas ao fato de que, recentemente, em diferentes países, tem-se registrados surtos ou epi- demias de doenças em que os mesmos fo- ram identificados como os agentes etioló- gicos envolvidos e onde o abastecimento de água, mesmo tratada, foi incriminado como a fonte da exposição. Os protozoários constituem um grupo de organismos que inclui seres de vida li- vre e parasitas, que se caracterizam por apresentar diferentes formas, tipos de metabolismos e locais de ocorrência. O ser humano e diferentes espécies animais constituem os hospedeiros obrigatórios ou acidentais dos protozoários patogê- nicos, sendo que alguns desses podem apresentar complexos ciclos biológicos envolvendo, inclusive, diferentes modos e mecanismos de transmissão. A transmissão de protozoários pato- gênicos via água de consumo é há muito tempo conhecida e consolidada na comu- nidade técnica e científica. Como exem- plos, citam-se a associação entre Giardia sp e água com qualidade imprópria ao consumo humano e, mais recentemente, Cryptosporidiumspp., responsável por parasitose de caráter emergente, tanto pela sua ampla distribuição (cosmopolita) quanto pela ocorrência de diversos surtos e infecções esporádicas registradas em várias partes do mundo. Também se so- mam a essa lista Cyclospora cayetanensis e Toxoplasma gondii, com menor incidên- cia, mas com alguns surtos registrados em diferentes países (KARANIS; KOURENTI; SMITH, 2007 apud BEVILACQUA, AZEVE- DO, CERQUEIRA, 2009), inclusive no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Protozoários patogênicos são alvo de preocupações, tanto das autoridades de saúde pública quanto da comunidade científica, devido à transmissão compro- vada de cistos de Giardia sp. e oocistos de Cryptosporidium spp. por meio do consu- mo de água tratada e distribuída por sis- temas de abastecimento (LeCHEVALLIER; NORTON; ATHERHOLT, 1997 apud BEVI- LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Esse fato alerta que populações que con- somem água tratada apenas pelo proces- so de desinfecção (cloração), ou que con- somem água de estações de tratamento que não realizam um controle rigoroso da eficiência do processo de filtração e/ 28 2929 ou apresentam deficiências operacionais, podem estar sob maior risco de infecções por esses agentes. A crescente preocupação com a trans- missão de protozoários via abastecimen- to de água para consumo humano envolve ainda as seguintes dificuldades na busca de equacionamento do problema: (i) as limitações dos processos convencionais de tratamento de água na remoção/ina- tivação de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium; (ii) a insuficiência do controle tradicional da qualidade da água tratada por meio do emprego de bactérias do grupo coliforme ou outros indicadores; (iii) as limitações analíticas dos métodos disponíveis de pesquisa de protozoários em amostras de água; (iv) a dificuldade de estimar riscos à saúde associados à pre- sença de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium em águas de consumo humano, principalmente quando em nú- meros reduzidos; (v) o conhecimento da participação de reservatórios animais na manutenção dessas parasitoses em nos- so meio, haja vista o potencial zoonótico de ambas. Devido aos diferentes aspectos rela- cionados aos organismos patogênicos e à ampla variedade existente dos mesmos, não é necessário nem possível conside- rar todos os patógenos com o objetivo de projetar e/ou operar sistemas de abas- tecimento garantindo o fornecimento de água segura, ou mesmo em procedimen- tos de avaliação de risco de sistemas de abastecimento de água para consumo humano. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduz o termo “patógeno/organismo referência”, o que significa selecionar de uma lista de orga- nismos aquele que melhor reúne infor- mações que possam representar o grupo como um todo. As informações normal- mente utilizadas na seleção, com o obje- tivo último de proteção à saúde pública, incluem aspectos relacionados à remo- ção/inativação no tratamento da água e aqueles associados a impactos à saúde, tanto no âmbito individual como coletivo. Usualmente, havendo informação dispo- nível, a escolha recai sobre o organismo mais difícil de ser removido/inativado e que apresenta os mais importantes im- pactos à saúde. Uma vez feita a seleção, se o sistema de abastecimento cumpre os requisitos de forma a produzir água com qualidade adequada considerando o “pa- tógeno referência”, significa que também atinge aqueles necessários para o grupo de patógenos como um todo (WHO, 2006 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEI- RA, 2009). A introdução do termo “patógeno refe- rência” muito se deve ao reconhecimento de que a avaliação da qualidade da água, utilizando os indicadores microbiológi- cos tradicionais (coliformes e Escherichia coli), não é adequada quando se quer ava- liar a presença/ausência de protozoários em amostras de água. Sendo assim, essa referência tem sido particularmente apli- cada a esse grupo específico de organis- mos patogênicos, os protozoários. Os protozoários Cryptosporidium spp. e Giardia duodenalis são os mais significati- vos, uma vez que provocam sintomas mo- derados e os casos de doença são comuns na população; além disso, já foram asso- ciados a epidemias/surtos envolvendo o consumo de água. Também se destacam pelo fato de persistirem por longos perío- 30 31 dos no ambiente e apresentarem elevada resistência aos processos usuais de de- sinfecção da água. A informação relativa à ocorrência de surtos/epidemias é particularmente im- portante, uma vez que demonstra que o organismo foi capaz de atravessar di- ferentes barreiras, alcançar a população consumidora e produzir doença, eventu- almente com grande impacto, como a inci- dência elevada de casos e/ou a ocorrência de casos graves/fatais. Karanis, Kourenti e Smith (2007 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), em um trabalho de revisão das epi- demias/surtos causadas por protozoários patogênicos em todo o mundo, verifica- ram que de 325 registros, em 32% a epi- demia/surto esteve associada com a água de consumo contaminada ou presumivel- mente contaminada com Giardia duode- nalis e, em 23,7%, com Cryptosporidium spp. Por outro lado, outros protozoários também vêm, mais recentemente, adqui- rindo importância relativa, principalmen- te devido à emergência de epidemias/ surtos relacionados ao abastecimento de água. Destacam-se o Toxoplasma gon- dii e o Cyclospora cayetanensis, onde, somada a importância à saúde, chamam atenção as características que envolvem as dificuldades de controle de ambos, ou seja, são protozoários que também pos- suem elevada resistência no ambiente e aos processos usuais de desinfecção da água. Entretanto, Cryptosporidium e Giar- dia ainda são apontados como os de maior importância e significado. Também é importante mencionar al- guns aspectos relacionados ao ciclo de vida desses agentes que contribuem para que a transmissão dos protozoários Cryp- tosporidium e Giardia via água de consu- mo seja mais provável. Esses organismos apresentam potencial zoonótico, ou seja, outras espécies de animais (domésticos e selvagens) podem ser seus hospedeiros e os hospedeiros infectados (humano ou animal), normalmente, eliminam grandes quantidades de formas infectantes (cis- tos e oocistos). Esses aspectos são signi- ficativos, uma vez que um maior e mais diversificado número de indivíduos é ca- paz de disseminar grandes quantidades dos agentes no ambiente. Adicionalmen- te, são eliminados dos hospedeiros já em suas formas infectantes, não necessi- tando, assim, de um período no ambiente para causarem novos casos de infecção. Nessas circunstâncias, a transmissão en- tre indivíduos também é possível. E, final- mente, são protozoários monoxenos, ou seja, completam seu ciclo de vida em ape- nas um hospedeiro. Outro aspecto relevante em relação aos protozoários de transmissão fecal-oral, incluídos o Cryptosporidium e a Giardia, é o fato de serem eliminados, frequentemen- te, em grandes quantidades nas fezes dos hospedeiros infectados, podendo, assim, ocorrer em elevado número no ambiente. Por outro lado, requerem doses infectan- tes relativamente baixas para causar no- vos casos de infecção/doença. A tendência mundial é considerar o Cryptosporidium como o “protozoário re- ferência” em se tratando da transmissão de protozooses via abastecimento de água para consumo humano. A atenção e preocupação em relação a esse protozo- 30 31 ário são observadas tanto no meio cien- tífico, como alvo de pesquisas e inves- tigações, quanto nos serviços de saúde pública e de saneamento, como uma das referências à produção de água segura à população. Além das características já ci- tadas, Cryptosporidium spp. é objeto de maior preocupaçãodevido às dificulda- des de controle, uma vez que apresenta oocistos de menor tamanho, sendo mais dificilmente removidos da água, conside- rando os processos tradicionais de clarifi- cação; também são mais persistentes no meio ambiente e mais resistente aos pro- cessos usuais de desinfecção da água de consumo. A definição de possíveis organismos que possam ser utilizados como “pató- genos referência” também é importante para a aplicação da metodologia de Avalia- ção Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM), sendo necessária a existência de dados sobre dose-resposta à exposição ao microrganismo, os quais são normal- mente obtidos em estudos experimentais com voluntários humanos ou animais ou constituem evidências epidemiológicas, usualmente levantadas em investigações de surtos/epidemias. Essas informações estão mais bem estabelecidas e sistema- tizadas para Cryptosporidium e Giardia, reforçando a escolha do primeiro como “patógeno referência” (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Outro aspecto que vem adquirindo im- portância é a capacidade de sobrevivên- cia dos oocistos em águas estuarinas e marinhas e a possibilidade de contamina- ção de espécies animais desses ambien- tes, aumentando o significado de saúde pública desse protozoário, tanto no que diz respeito à transmissão envolvendo o contato primário/recreação, como devido ao consumo de produtos marinhos, princi- palmente crus. A detecção de oocistos em água do mar ou de estuários é documentada na litera- tura (JOHNSON et al., 1995; FERGUSON et al. 1996; LIPP et al., 2001 apud (BEVILA- CQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), en- tretanto, a grande maioria dos relatos, em diferentes partes do mundo, refere-se ao isolamento/identificação de oocistos em moluscos aquáticos (ostras, mexilhões e mariscos). Esses animais podem desem- penhar importante papel na transmissão do Cryptosporidium, uma vez que, pela forma de alimentação dos mesmos (filtra- ção da água), podem reter oocistos infec- tantes em seus tecidos. O comportamento da Giardia em con- dições de laboratório e no ambiente e se- melhante ao do Cryptosporidium, porém, normalmente, a sobrevivência de cistos é menor que a dos oocistos. A temperatura também é um fator que interfere na ma- nutenção da infectividade dos cistos. No solo, os cistos apresentam períodos varia- dos de sobrevivência (OLSON et al., 1999 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEI- RA, 2009). Considerando os mananciais super- ficiais, trabalhos registram que, dentre outras características, o grau e o tipo de ocupação da bacia, a existência de cober- tura vegetal, o lançamento de efluentes industriais e domésticos, além da pluvio- sidade são fatores que contribuem para o aumento de (oo)cistos nesses mananciais (Le CHEVALLIER; NORTON; LEE, 1991; ATHERHOLT et al., 1998; KISTEMANN et al., 2002; BASTOS et al., 2004; HACHICH 32 33 et al., 2004; DIAS et al., 2008 apud BEVI- LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). As águas subterrâneas podem apre- sentar níveis de contaminação menores ou quase nulos devido ao processo na- tural de filtração da água por meio das camadas do solo, entretanto, este poder filtrante pode ser afetado pela profundi- dade do aquífero, presença e concentra- ção das contaminações nas proximidades desses e nas águas contribuintes. Poços localizados perto de rios que recebem es- gotos não tratados podem potencialmen- te apresentar impactos na qualidade de sua água devido a essa proximidade. Adi- cionalmente, de forma geral, a frequência de mananciais contaminados com cistos de Giardia é menor do que com oocistos de Cryptosporidium. Ainda há que se re- gistrar que os estudos que demonstram a presença de (oo)cistos em mananciais subterrâneos normalmente apontam que características do aquífero, fluxo da cor- rente e características sobre a construção dos poços indicaram a existência de con- taminação por águas superficiais (BEVI- LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). A ocorrência de (oo)cistos em águas tratadas e em sistemas de abastecimento não determina, necessariamente, com- prometimentos da saúde da população consumidora. Em princípio, os (oo)cistos identificados podem não ser viáveis/in- fectantes e/ou as concentrações obser- vadas não são suficientes para determinar processos de infecção e/ou os processos infecciosos que ocorrem não implicaram em quadro sintomático. Adicionalmente, há que se considerar o fato de que po- dem ocorrer casos eventuais que, devido a pouca gravidade, não são identificados e, por conseguinte, não são notificados; ou ainda, quando as concentrações são suficientes para desencadear processos de infecção, resultando em casos de giar- diose e/ou criptosporidiose, os sintomas podem ser atribuídos a outros agentes. Se, por um lado, a identificação de oo- cistos na água tratada não revela a condi- ção de viabilidade/infectividade, limitan- do a definição do real risco microbiológico à saúde da população, por outro, são indi- cadores incontestes da ocorrência de fa- lhas no processo de tratamento e/ou no controle da qualidade da água. No Brasil, não são conhecidos dados devidamente documentados que compro- vem a ocorrência de surtos de giardiose e criptosporidiose associados ao consu- mo de água. Predominantemente, as for- mas de transmissão dos surtos descritos em nosso país se referem a contatos in- terpessoais, notadamente envolvendo crianças em creches (BEVILACQUA, AZE- VEDO, CERQUEIRA, 2009). Ainda que seja tarefa difícil a associa- ção inequívoca entre a ocorrência de sur- tos/epidemias e a água consumida pela população, alguns registros exemplifi- cam de modo mais ou menos consistente a participação da água de consumo como veículo de transmissão de agentes pato- gênicos. De maneira geral, observa-se que al- guns surtos estiveram associados ao abastecimento de água sem tratamento, entretanto, outros ocorreram em popu- lações onde a água consumida recebia algum tipo de tratamento, inclusive fil- tração. Alguns aspectos normalmente indicados como as possíveis causas da 32 33 presença de (oo)cistos na água distribuída e, consequentemente, origem do surto/ epidemia incluem: (i) contaminação dos mananciais de abastecimento (principal- mente superficiais) por esgoto doméstico ou água residuária provenientes de insta- lações de produções animais; (ii) aumento súbito da contaminação dos mananciais (principalmente superficiais) após inten- sas chuvas ou degelo; (iii) existência de assentamentos humanos e/ou explora- ções agropecuárias na área da bacia hi- drográfica do manancial; (iv) falhas nos processos de tratamento (humanas e/ou instrumentais); (v) tratamento da água por técnicas e processos inadequados aos níveis de poluição dos mananciais de abastecimento; e/ou, (vi) recontamina- ção da água na rede de distribuição (in- filtração de esgotos/águas residuárias). Adicionalmente, registra-se que, de modo geral, a qualidade da água tratada nor- malmente atendia aos requisitos exigidos nas legislações específicas (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). As cianobactérias são microrganismos aeróbicos fotoautotróficos. Seus proces- sos vitais requerem somente água, dióxi- do de carbono, substâncias inorgânicas e luz. A fotossíntese é seu principal modo de obtenção de energia para o metabolis- mo; entretanto, sua organização celular demonstra que esses microrganismos são procariontes e, portanto, muito seme- lhantes, bioquímica e estruturalmente, às bactérias. As cianobactérias formam um grupo bastante diverso de microrganismos pro- carióticos fotossintetizantes. Elas podem ser unicelulares coloniais ou filamento- sas, podendo crescer em suspensão na coluna d’água, sendo então caracteriza- das como organismos fitoplanctônicos, ou aderidas à superfícies, o queleva à iden- tificação de algumas espécies como ben- tônicas (quando estão aderidas a substra- tos no fundo dos ambientes aquáticos), ou, ainda, podem ser epífitas (quando es- tão aderidas a substratos localizados em profundidades diferentes nos ambientes aquáticos, como macrófitas flutuantes ou submersas, por exemplo). As cianobacté- rias apresentam a reprodução assexuada como único tipo de reprodução e cresci- mento de sua população, que se dá pela divisão de células vegetativas. A capacidade de crescimento nos mais diferentes meios é uma das caracterís- ticas marcantes das cianobactérias. En- tretanto, ambientes de água doce são os mais favoráveis, visto que a maioria das espécies apresenta melhor crescimen- to em águas neutro-alcalinas (pH 6-9), temperatura entre 15 a 30°C e alta con- centração de nutrientes, principalmente nitrogénio e fósforo (PAERL, 2008 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). As espécies de cianobactérias unicelu- lares apresentam diâmetro compreendi- do na faixa de 0,4 µm até 40 µm e podem apresentar variação de volume celular num fator de 3x105. Algumas espécies fi- lamentosas apresentam diâmetro de até 100 µm, mas normalmente essas células apresentam diâmetro pequeno, o que lhes confere volumes celulares menores do que os usualmente encontrados para espécies unicelulares (WHITTON; POTTS, 2000 apud BEVILACQUA; AZEVEDO; CER- QUEIRA, 2009). As cianobactérias são consideradas 34 35 como o primeiro grupo de organismos que foi capaz de realizar fotossíntese oxigêni- ca. Esse fato permitiu o início da acumula- ção de oxigênio na atmosfera, que se deu entre 3,5 a 2,8 bilhões de anos, represen- tando fato crucial na evolução da vida na Terra (WHITTON; POTTS, 2000 apud BE- VILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). As cianobactérias são atualmente re- conhecidas como um grupo de bactérias Gram-negativas incluídas no grupo Eubac- teria. Apesar do sistema de classificação utilizado para se fazer o agrupamento taxonômico das cianobactérias não ser consenso entre os especialistas, recentes revisões propõem aproximadamente 124 gêneros de cianobactérias e 2 mil espécies (53 gêneros de organismos unicelulares e coloniais e 71 gêneros de organismos fila- mentosos). De forma geral, aceita-se que a descrição das espécies baseada nas ca- racterísticas morfológicas por microsco- pia ainda é o método mais acessível. Duas breves revisões sobre esse tema, adapta- das às necessidades nacionais da área de saneamento podem ser encontradas em San’Anna et al (2006) e Cybis et al (2006). Dentre as espécies são encontradas linhagens produtoras ou não produtoras de toxinas e, de acordo com Apeldoorn et al (2007 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), pelo menos 40 gêne- ros distintos incluem espécies com linha- gens tóxicas já identificadas. Entretanto, de maneira geral, as espécies tóxicas mais comumente identificadas estão incluídas nos gêneros: Anabaena, Aphanizomenon, Cylindorspermopsis, Lyngbya, Microcys- tis, Nostoc, Oscillatoria e Planktothrix. De acordo com uma recente revisão de San’Anna et al. (2008), já foram identifica- dos no Brasil 32 espécies de cianobacté- rias comprovadamente produtoras de to- xinas. Entretanto, é importante destacar que a produção de toxinas por essas espé- cies é altamente variável, tanto em uma mesma floração como entre florações dis- tintas, podendo, assim, variar tanto espa- cialmente como temporalmente. Cabe esclarecer que utilizamos o termo floração como definição de uma coloração visível da água de um referido manancial, devida à presença de elevado número de células, filamentos ou colônias de ciano- bactérias em suspensão. Também, mui- tas vezes, com a subsequente formação de uma nata verde na superfície da água, decorrente da acumulação desses micror- ganismos na superfície, em períodos de pouca ou nenhuma movimentação da co- luna d’água. As toxinas de cianobactérias, que são conhecidas como cianotoxinas, consti- tuem grande fonte de produtos naturais tóxicos produzidos por esses microrganis- mos e, embora ainda não estejam devida- mente esclarecidas as causas da produ- ção dessas toxinas, tem-se assumido que esses compostos tenham função proteto- ra contra herbivoria, como acontece com alguns metabólitos de plantas vasculares (CARMICHAEL, 1992 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Uma visão mais inovadora encara as cianotoxinas como potenciais moléculas mediadoras em interações de cianobactérias com ou- tros componentes do habitat, como bac- térias heterotróficas, fungos, protozo- ários e algas (PAERL; MILLIE, 1996 apud BEVILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). Algumas dessas toxinas, caracteriza- 34 35 das por sua ação rápida, causando a mor- te de mamíferos por parada respiratória após poucos minutos de exposição, têm sido identificadas como alcalóides ou or- ganofosforados neurotóxicos. Outras atuam menos rapidamente e são identifi- cadas como peptídeos ou alcalóides hepa- totóxicos. No Brasil, as florações de cianobacté- rias vêm aumentando em intensidade e frequência e, atualmente, é possível se visualizar um cenário de dominância des- ses organismos no fitoplâncton de mui- tos ambientes aquáticos, especialmente durante os períodos de maior biomassa e/ou densidade (AZEVEDO, 2005). Essa dominância é marcante, sobretudo, em reservatórios e, em vários deles, tem sido observado o predomínio de cianobacté- rias durante grande parte do ano (BOUVY et al., 1999; HUZCAR et al., 2000 apud BE- VILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). As intoxicações de populações huma- nas pelo consumo oral de água contamina- da por cepas tóxicas de cianobactérias já foram descritas em países como Austrália, Inglaterra, China e África do Sul (HILBORN et al., 2008). Em nosso país, o trabalho de Teixeira et al. (1993) descreve forte evi- dência de correlação entre a ocorrência de florações de cianobactérias, no reser- vatório de Itaparica, na Bahia, e a morte de 88 pessoas, entre as 200 intoxicadas, pelo consumo de água do reservatório, entre março e abril de 1988. Contudo, o primeiro caso confirmado de mortes humanas no Brasil causadas por cianotoxinas ocorreu no início de 1996, quando 130 pacientes renais crônicos, após terem sido submetidos a sessões de hemodiálise em uma clínica da cidade de Caruaru (PE), passaram a apresentar qua- dro clínico compatível com grave hepato- toxicose. Desses, 60 pacientes vieram a falecer até dez meses após o início dos sin- tomas. As análises confirmaram a presen- ça de microcistinas e cilindrospermopsina no carvão ativado utilizado no sistema de purificação de água da clínica, e de micro- cistinas em amostras de sangue e fígado dos pacientes intoxicados (AZEVEDO et al., 2002). Além disso, as contagens das amostras do fitoplâncton do reservató- rio que abastecia a cidade demonstraram dominância de gêneros de cianobactérias comumente relacionados com a produção de cianotoxinas (BEVILAQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). 6.2 Remoção de protozoá- rios Vamos falar de algumas técnicas analí- ticas de detecção e quantificação de (oo) cisto de Cryptosporidium spp. e Giardia sp., mas já justificando que devido á extensão do assunto, falaremos superficialmente e deixamos nas referências, opções para maiores aprofundamentos. Os métodos de detecção e recuperação de protozoários na água envolvem três passos fundamentais: concentração da amostra de água com a finalidade de recuperar ou capturar (oo)cistos; purificação dos (oo)cistos; e, identificação e confirmação. Basicamente, a primeira etapa é rea- lizada por meio da filtração de volumes 36 37 variados, centrífugo-concentração ou eluição dos microrganismos. A etapa de purificação tem sido amplamente estu- dada e pode ser obtida por
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