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A prescrição e a decadência

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A prescrição e a decadência no Direito 
Civil. 
 Rodrigo Costa Chaves 
1. Introdução 
O assunto é de alta complexidade e de muitas celeumas, sendo motivo de calorosos 
debates entre os juristas. 
O conceito de direito, dentre os diversos apontados pela doutrina, utilizado no presente 
estudo, será aquele correspondente a uma técnica de resolução de conflitos tendente à 
pacificação social. 
Dentre os diversos ramos do direito, o enfoque será dado ao direito civil, encarregado de 
regular as relações jurídicas entre particulares, uma vez que os institutos da prescrição e 
da decadência nasceram nele, e depois se irradiaram para outros ramos jurídicos, a 
exemplo do direito penal, direito tributário. 
No direito civil, o objetivo é neutralizar os conflitos de interesses surgidos entre 
particulares. Nesse contexto, muitas vezes o tempo é considerado como um aliado, no 
sentido de que seu decurso influencia a aquisição e a extinção de direitos, no sentido de 
manter situações já consolidadas, muito embora importem no convalescimento de uma 
violação ao direito subjetivo do particular. Dito de outra forma, o direito tem um prazo a 
ser exercitável, não podendo ser eterno, sujeitando-se, pois, à prescrição ou à 
decadência. É no intuito de preservar a paz social, a tranqüilidade da ordem jurídica, a 
estabilidade das relações sociais que devemos buscar o fundamento dos institutos da 
prescrição e da decadência. 
Intento, aliás, de solidez constitucional. Entre os direitos fundamentais elencados no art. 
5° da CR/88, há o direito à segurança jurídica, colocada em um patamar mais alto do 
que o princípio da justiça. 
Logo, tanto a prescrição quanto a decadência são efeitos do decurso de tempo, cujo 
prazo é fixado em lei, aliado ao desinteresse ou inércia do titular do direito, nas relações 
jurídicas, sendo institutos criados pelo direito para servir de instrumento à consecução 
do objetivo maior: a resolução de conflitos, com a conseqüente pacificação social. 
 
2. Da Prescrição 
2.1. Conceitos 
A doutrina aponta a origem do termo prescrição na palavra latina praescriptio, 
derivação do verbo praescribere, que significa "escrever antes", na lição de Maria 
Helena Diniz (2002, v.1:335), remontando às ações temporárias do direito romano. 
Segundo Sílvio Venosa (2003, v. 1:615), para Clóvis Bevilácqua a "Prescrição é a perda 
da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em conseqüência 
do não-uso delas, durante um determinado espaço de tempo." 
Já Pontes de Miranda leciona, de acordo com Maria Helena Diniz (2002, v. 1:336), ser a 
prescrição "... a exceção, que alguém tem, contra o que não exerceu, durante certo 
tempo, que alguma regra jurídica fixa, a sua pretensão ou ação." 
Consoante Caio Mário (1997, v. 1:435), a prescrição é o modo pelo qual se extingue um 
direito (não apenas a ação) pela inércia do titular durante certo lapso de tempo. 
Pelas definições, já se inicia a polêmica em torno do tema. Para uns a prescrição 
extingue a ação, enquanto que outros, direito de ação. A ambos opõe-se o atributo 
jurídico adotado hodiernamente em relação à ação, como sendo um direito subjetivo 
público e abstrato, o que implica a não extinção da ação, tampouco do seu exercício, 
pois, quando atendidas as condições da ação, o exercício do direito de ação, 
correspondente à obtenção de uma prestação jurisdicional, é sempre possível, muito 
embora possa ser favorável ou contrária ao autor. 
Um marco na doutrina brasileira em relação ao tema foi a contribuição de Agnelo 
Amorim Filho que, em meados de 1960, publicou um artigo na Revista dos Tribunais 
intitulado Critério Científico para distinguir a prescrição da decadência (RT 300/8). 
Na nova concepção, a prescrição extingue a pretensão, que é a exigência de 
subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio. De acordo com o art.189 do 
Código Civil de 2002, o direito material violado dá origem à pretensão, que é deduzida 
em juízo por meio da ação. Extinta a pretensão, não há ação. Portanto, a prescrição 
extingue a pretensão, extinguindo também e indiretamente a ação 
[1]
. 
Neste trabalho, ele toma por base a classificação dos direitos desenvolvida por 
Chiovenda em: direitos sujeitos a uma obrigação, previstos no Código Alemão sob a 
denominação de pretensão, e direitos potestativos, em que o agente pode influir na 
esfera de interesses de terceiro, independentemente da vontade deste, p. ex., para anular 
um negócio jurídico. Os primeiros são defendidos por meio de ação condenatória, pois a 
parte contrária deverá se sujeitar a cumprir uma obrigação; os segundos são protegidos 
por ação constitutiva, por meio da qual haverá a modificação, formação ou extinção de 
estado jurídico, independentemente da vontade da parte contrária. 
A partir disso, conclui que: 
a) As ações condenatórias, correspondentes às pretensões, possuem prazos 
prescricionais 
[2]
; 
b) As ações constitutivas, correspondentes aos direitos potestativos, possuem prazos 
decadenciais; 
c) As ações meramente declaratórias, que só visam obter certeza jurídica, não estão 
sujeitas nem à decadência nem à prescrição, em princípio, sendo perpétuas, mas sujeitas 
a prazos decadenciais quando estes são previstos em lei. 
São imprescritíveis as ações constitutivas que não têm prazo especial fixado em lei, 
assim como as ações meramente declaratórias. 
Tais conclusões estão de acordo com a melhor doutrina estrangeira, e vêm sendo 
acatadas por grande parte de nossos autores civilistas mais recentes. Também 
importantes legislações brasileiras elaboradas nos últimos anos adotam o raciocínio 
desenvolvido por Agnelo, entre eles o novo Código Civil. O Código de Defesa do 
Consumidor, elaborado em 1990, também foi uma das mais importantes leis que 
seguiram essas teorias, no tocante ao assunto da prescrição e da decadência. 
2.2. Espécies 
2.2.1. Extintiva 
Como o próprio nome indica, faz desaparecer direitos. 
É a prescrição propriamente dita, tratada no novo Código Civil, na parte geral, aplicada 
a todos os direitos. 
2.2.2. Intercorrente 
É a prescrição extintiva que ocorre no decurso do processo, ou seja, já tendo o autor 
provocado a tutela jurisdicional por meio da ação. Obviamente, se autor utiliza a ação 
para fugir à prescrição e, já sendo processada essa ação, o processo ficar paralisado, sem 
justa causa, pelo tempo prescricional, caracterizada está a desídia do autor, a justificar a 
incidência da prescrição. 
2.2.3. Aquisitiva 
Corresponde ao usucapião, previsto no novo Código Civil, na parte relativa ao direito 
das coisas, mais precisamente no tocante aos modos originários de aquisição do direito 
de propriedade. Está prevista também nos arts. 183 e 191 da Constituição Federal de 
1988, continuando restrita a direitos reais. 
Nessa espécie, além do tempo e da inércia ou desinteresse do dono anterior, é necessária 
a posse do novo dono. 
2.2.4. Ordinária 
Aquela cujo prazo é genericamente previsto em lei. 
No Código Civil de 1916, a prescrição ordinária era disciplinada no art. 177, já no 
Código Civil de 2002 o prazo genérico encontra-se previsto no art. 205, que confirmou 
a tendência de diminuição do prazo prescricional (de 20, 15 ou 10 anos para 10 anos), 
além de acabar com o tratamento diferenciado entre ações pessoais e ações reais. 
2.2.5. Especial 
Os prazos prescricionais são pontualmente previstos. 
No Código Civil de 1916, a prescrição especial era tratada pelo art. 178, que muito 
embora se referisse expressamente à prescrição, continha alguns casos de decadência. 
Por sua vez o Código Civil de 2002
disciplina a prescrição especial no art. 206, 
merecendo destaque o prazo prescricional de três anos (§ 3°) relativo à pretensão de 
ressarcimento de enriquecimento sem causa (inciso IV) e à pretensão de reparação civil 
(inciso V). 
2.3. Alegação 
A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem 
aproveita, conforme dispõe o art. 193 do Código Civil de 2002. Logo, poderá ser 
argüida em qualquer fase, na segunda ou primeira instância, mesmo que não levantada 
na contestação. Porém, se não alegar de imediato, ao réu não caberá honorários 
advocatícios em seu favor, ex vi art. 22 do Código de Processo Civil. 
A regra geral comporta exceções. Na fase de liquidação da sentença é inadmissível a 
alegação de prescrição, que deve ser objeto de deliberação se argüida na fase cognitiva 
do processo. A prevista no art. 741, inciso VI, do Código de Processo Civil, que pode 
ser alegada mesmo na fase de execução, é a prescrição superveniente à sentença. 
Tampouco é admissível a alegação em sede de recurso especial ou extraordinário, ou em 
ação rescisória, se não foi suscitada na instância ordinária por total falta de 
prequestionamento. 
A prescrição só poderá era argüida pelas partes, exceto se for reconhecida no interesse 
de absolutamente incapazes 
[3]
, quando poderá fazê-lo o juiz, de ofício. O ministério 
público, em nome do incapaz ou dos interesses que tutela, e o curador da lide, em favor 
do curatelado, ou o curador especial, também poderão invocar a prescrição. Entretanto o 
ministério público não poderá argüi-la, em se tratando de interesse patrimonial, quando 
atuar como fiscal da lei 
[4]
. 
2.4. Impedimento, Suspensão e Interrupção 
As causas que impedem ou suspendem estão elecandas nos arts. 197 a 201 e as que 
interrompem nos arts. 202 a 204, todos do Código Civil de 2002. E aplicam-se tanto à 
prescrição extintiva, quanto à aquisitiva. 
Discute-se se estes prazos são taxativos ou enunciativos. A maioria entende serem 
enunciativos, pois a força maior, o caso fortuito e a negligência judicial não podem 
interferir prejudicando o direito de outrem, tais como o preso por inundação que não 
propõe a ação a contento, a desídia do escrivão. 
2.4.1. Impedimento e Suspensão 
Ambos fazem cessar, temporariamente, o curso da prescrição. Uma vez desaparecida a 
causa de impedimento ou da suspensão, a prescrição retoma seu curso normal, 
computado o tempo anteriormente decorrido, se este existiu. 
Nos casos de impedimento, mantém-se o prazo prescricional íntegro, pelo tempo de 
duração do impedimento, para que seu curso somente tenha início com o término da 
causa impeditiva. Nos casos de suspensão, nos quais a causa é superveniente ao início 
do decurso do prazo prescricional, uma vez desaparecida esta, o prazo prescricional 
retoma seu curso normal, computando-se o tempo verificado antes da prescrição. 
O estatuto civil não faz distinção entre impedimento e suspensão, que é feita pela 
doutrina. Ou preexiste ao vencimento da obrigação o obstáculo ao início do curso 
prescricional, e o caso será de impedimento, ou se esse obstáculo surge após o 
vencimento da obrigação e durante a fluência do prazo, ocorrendo nessa hipótese a 
suspensão da prescrição. 
Certas pessoas, por sua condição ou situação fática, estão impedidas de agir. 
Segundo o art. 197 do Código Civil de 2002, não corre a prescrição entre cônjuges na 
constância da sociedade conjugal; entre ascendentes e descendentes, durante o poder 
familiar; entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou 
curatela. Estão presentes a confiança e a amizade. 
Não corre a prescrição, ainda, contra todos na condição suspensiva, estando o prazo 
ainda vencido, pendendo evicção, conforme o art. 199 do Código Civil de 2002. 
2.4.2. Interrupção 
Em relação à interrupção da prescrição, que se dará apenas uma única vez, de acordo 
com o art. 202 do Código Civil de 2002, quando houver qualquer comportamento ativo 
do credor, destacando-se que a citação válida interrompe a prescrição, não mais se 
considerando interrompida a partir da propositura da ação, mas sim retroagindo ao 
despacho do juiz que ordenar a citação. 
Tal modificação acabou com a alegação de prescrição intercorrente quando na demora 
da citação quando a própria parte não dera causa. Portanto agora, o simples despacho, 
ou como muitos entendem à luz do art. 219, § 1º do Código de Processo Civil, a 
distribuição protocolar, é suficiente para interromper a prescrição. 
Agora, se o juiz demora a despachar a inicial e operara-se a prescrição, não poderá ser 
alegada, conforme súmula 106 do STJ. A opção do art. 202, parágrafo único, do Código 
Civil de 2002, quando possível, será verificada em favor do devedor. 
 
3. Da Decadência 
A origem da palavra decadência vem do verbo latino cadere, que significa cair. 
A decadência atinge diretamente o direito em razão também da desídia do titular 
durante certo lapso temporal. Portanto, a decadência é a extinção do direito pela inércia 
do titular, quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício 
dentro de determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício. O tempo age, 
no caso de decadência, como um requisito do ato. 
O objeto da decadência, portanto, é o direito que nasce, por vontade da lei ou do 
homem, subordinado à condição de seu exercício em limitado lapso de tempo. 
Conforme visto no item 2.1, a decadência está relacionada aos direitos que são objetos 
de ações constitutivas. 
O Código Civil de 2002 aborda expressamente a decadência, nos arts. 178, 179, e 207 a 
211, ao contrário do Código Civil de 1916. 
Assim como a prescrição, pode ser argüida tanto por via de ação como por meio de de 
exceção ou defesa. 
As normas de suspensão, impedimento e interrupção não são aplicáveis à decadência, 
que envolve prazos fatais, peremptórios, salvo disposição em contrário, como a exceção 
encontrada no art. 26, § 2°, do Código de Defesa do Consumidor. 
3.1. Espécies 
3.1.1. Legal 
Quando é prevista em lei, sendo reconhecida de ofício pelo juiz, ainda que se trate de 
direitos patrimoniais; de acordo com o arts. 210 do Código Civil de 2002. 
O prazo decadencial legal é irrenunciável, segundo o art. 209 do Código Civil de 2002. 
3.1.2. Convencional 
Estipulada pelas partes, somente a parte beneficiada poderá alegá-la, sendo vedado ao 
juiz de Direito suprir a alegação da parte, consoante o art. 211 do Código Civil de 2002. 
O prazo decadencial convencional pode ser renunciado, a teor do art. 209 do Código 
Civil de 2002, a contrario sensu. 
 
4. Diferenças entre Prescrição e Decadência 
A doutrina e jurisprudência pátrias adotaram inúmeros métodos para diferenciar os 
institutos da prescrição e da decadência, já que ambos envolvem efeitos do decurso do 
tempo nas relações jurídicas, sendo muitas vezes confundidos. 
O Código Civil de 1916, ao tratar em setor específico exclusivamente o tema da 
prescrição, contribuiu para a nebulosidade que acostumou acompanhar o tema, posto 
que em muitos dos casos previstos no art. 178, não se tratava de prescrição, mas sim de 
decadência. 
A seguir serão vistas as principais diferenças entre ambos os institutos jurídicos. 
1º - A decadência começa a correr, como prazo extintivo, desde o momento em que o 
direito nasce. Enquanto a prescrição não tem seu início com o nascimento do direito, 
mas a partir de sua violação, porque é nesse momento que nasce a ação contra a qual se 
volta a prescrição. 
2º - Diversa é a natureza do direito que se extingue, pois a decadência supõe um direito 
que, embora nascido, não se efetivou por falta de exercício, ao passo que a prescrição 
supõe
um direito nascido e efetivo, mas que pereceu por ausência de proteção pela ação, 
contra a violação sofrida. 
3º - A decadência, como regra geral, não é suspensa nem interrompida e só é impedida 
pelo exercício do direito a ela sujeito. A prescrição pode ser suspensa ou interrompida 
pelas causas expressamente colocadas em lei. 
4º - A decadência pode ser fixada pela lei ou pela vontade das partes bilateralmente ou 
unilateralmente. Enquanto a prescrição só se estabelece por lei. 
5º - A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz e independe da argüição 
do interessado. Porém a prescrição poderá ser reconhecida de ofício apenas nos casos de 
interesses de absolutamente incapazes, conforme art. 194 do Código Civil de 2002. 
6º - A prescrição admite renúncia depois de consumada, não sendo admitida antes ou no 
curso do prazo, porque é instituto de ordem pública, decorrente da lei 
[5]
, a decadência 
legal não pode ser renunciada. 
7º - A decadência opera contra todos, salvo contra absolutamente incapazes, ex vi art. 
208 do Código Civil de 2002, enquanto que a prescrição não opera para determinadas 
pessoas elencadas pelo art. 198 do Código Civil de 2002. 
O Código Civil de 2002 foi mais prático, ao determinar serem os prazos de prescrição, 
apenas e exclusivamente, os taxativamente discriminados na Parte Geral, nos arts. 205 
(regra geral, prazo de 10 anos) e 206 (regras especiais), sendo de decadência todos os 
demais, estabelecidos como complemento de cada artigo que rege a matéria, tanto na 
Parte Geral como na Especial. Essa foi uma das principais inovações trazidas pelo 
Código Civil em vigor. 
Enfim, para evitar a discussão sobre se a ação prescreve ou não, adotou-se a tese da 
prescrição da pretensão, por ser considerada a mais condizente com o direito processual 
contemporâneo, afastando a possibilidade de envolver o direito subjetivo público 
abstrato de ação. 
 
5. Exceções 
A prescritibilidade é a regra, diante dos motivos anteriormente apresentados. 
No entanto, há ações que não são prescritíveis, pois certas relações jurídicas não se 
coadunam com os institutos da prescrição ou da decadência, tais como o direito de 
personalidade, a vida, ao nome, a nacionalidade, as de estado das pessoas (tais como 
filiação, cidadania, condição conjugal). Os imóveis públicos não podem ser adquiridos 
por usucapião, logo não são submetidos à prescrição aquisitiva, a teor dos arts. 183, § 
3°, e art. 191, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988. 
Conforme visto no item 1, no estudo da prescrição e da decadência sempre estão 
presentes um embate de princípios – o da justiça e o da segurança jurídica, que devem 
ser harmonizados para a efetiva aplicação do ordenamento jurídico. 
Por outro lado, o direito não dá a mesma proteção a todos os direitos existentes. O 
ordenamento jurídico traduz uma escala de valores, que conduz à classificação de 
direitos de acordo com a sua importância, sendo aos mais importantes atribuída uma 
proteção maior. 
A regra geral de prevalência da segurança jurídica sucumbe ao princípio da justiça 
quando estão violados direitos anteriormente referidos, de modo que o tempo deve ser 
desconsiderado. Entendimento em contrário comprometeria o próprio fim do direito, 
alcançado via prescrição e decadência, qual seja, a resolução de conflitos em prol da 
pacificação social. Vale dizer, a sociedade, por exemplo, não aceita que a violação ao 
direito à paternidade seja consolidada por meio do decurso de tempo, o que impediria a 
resolução de conflito 
[6]
. 
 
6. Institutos assemelhados 
6.1. Perempção 
O instituto processual que extingue somente o direito de ação é a perempção, decorrente 
da contumácia do autor que deu causa a três arquivamentos sucessivos (art. 268, 
parágrafo único, CPC). 
Restam conservados o direito material e a pretensão, que só podem ser opostos em 
defesa ou exceção. 
6.2. Preclusão 
É a perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no momento próprio, 
impedindo nova discussão em questões já decididas, dentro do mesmo processo. 
 
7. Da prescrição e da decadência no Código de Defesa do Consumidor 
Não há muita diferenciação nos institutos da prescrição e da decadência tratados pelo 
direito consumeirista. O que ocorre é diferenciação de prazos. 
O art. 26 do Código de Defesa do Consumidor trata dos prazos decadenciais, ao 
contemplar o direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos dos produtos e 
serviços, que se extingue em 30 dias, se o produto ou serviço for não durável; e em 90 
dias, se for durável. A durabilidade se relaciona com o tempo médio de consumo do 
produto ou serviço. 
O termo inicial da decadência, para vícios aparentes, começa a partir da entrega efetiva 
do produto ou do término da execução dos serviços; já para os vícios ocultos, quando 
evidenciado o defeito. 
Causas suspensivas da decadência, previstas no § 2° do art. 26 do Código de Defesa do 
Consumidor são: a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor até a 
resposta negativa do fornecedor e a instauração de inquérito civil pelo ministério 
público, até seu encerramento. 
Por sua vez, o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor regula a prescrição nos casos 
de responsabilidade por danos, nos acidentes causados por defeitos do produto ou 
serviço. O prazo prescricional é de cinco anos, contados a partir do conhecimento por 
parte do consumidor do dano e de sua autoria. 
 
8. Direito Intertemporal 
O art. 2.028 das disposições transitórias do Código Civil de 2002 contém normas que 
devem ser aplicadas aos prazos em curso quando da vigência do estatuto civil em vigor. 
Os prazos serão os da lei anterior, quando reduzidos pelo Código Civil de 2002 e se na 
data de sua entrada em vigor houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido 
na lei revogada. Caso contrário, serão aplicados os prazos estabelecidos pelo Código 
Civil de 2002. 
 
9. Conclusão 
Ser conhecedor da prescrição e da decadência é fundamental ao operador do direito, 
porque trata-se de um meio para a obtenção da finalidade da atividade jurídica. 
Em virtude do exposto, vimos que a prescrição e a decadência são importantes institutos 
jurídicos destinados à pacificação social, à manutenção da ordem jurídica, à 
tranqüilidade das relações jurídico-sociais. 
Nesse estudo, foram vistos ainda os conceitos, as semelhanças e diferenças existentes 
entre ambos os institutos jurídicos, sendo observadas as modificações advindas do 
Código Civil de 2002, na tentativa de aprimorá-los e de superar as celeumas 
historicamente presentes, além de uma incursão no Código de Defesa do Consumidor. 
 
Referências 
ALVIM, Arruda, et al; Código do Consumidor Comentado, 2. ed. rev. e amp., São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 
DENARI, Zelmo; Código de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do 
anteprojeto, São Paulo: Forense, 1991. 
DINIZ, Maria Helena; Curso de direito civil brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil, 
19. ed. rev., São Paulo: Saraiva, 2002; 
FIUZA, Ricardo (Coord.); Novo Código Civil comentado, São Paulo: Saraiva, 2002. 
GOMES, Orlando; Introdução ao Direito Civil; 12. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996. 
GONÇALVES, Carlos Roberto; Direito Civil, v. 1, 9. ed., São Paulo: Saraiva, 2002. 
PEREIRA, Caio Mário da Silva; Instituições de direito civil, v.1, 18. ed., Rio de 
Janeiro: Forense, 1997. 
SANTOS, Ulderico Pires dos; Prescrição: doutrina, jurisprudência e prática, 2. ed., 
rev. e at., Rio de Janeiro: Forense, 1990. 
VENOSA, Sílvio de Salvo; Direito civil: parte geral, v. 1, 3. ed., São Paulo: Atlas, 
2003. 
 
NOTAS 
1
 De acordo com o art. 190 do Código Civil de 2002, a exceção
prescreve nos mesmos 
prazos. Logo, a prescrição extintiva não se relaciona apenas aos direitos do autor da 
ação, mas também aos direitos do réu, contidos na defesa ou exceção. 
2
 O próprio art. 177, do Código Civil de 1916, dava a entender dessa maneira, ao dispor 
sobre prazos gerais de prescrição, aplicados em relação a ações pessoais e reais, 
subdivisões das ações condenatórias. 
3
 Inovação do Código Civil de 2002, que, assim, excluiu a possibilidade de alegação de 
ofício quando favorecer relativamente incapaz. 
4
 V. REsp 15.265-PR, no site www.stf.gov.br. 
5
 A renúncia também não pode prejudicar terceiros, como os credores. E, sendo ato 
jurídico, requer a renúncia agente capaz. Ela pode ser expressa ou tácita, esta última 
caracterizada por um comportamento incompatível. Além disso, pode haver renúncia da 
prescrição já decorrida, abrindo-se novo prazo prescricional. 
6
 V. Súmula 149 do STF.

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