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P r o f . E s p . L u c a s M a n o e l L i m a S a n t o s MOLÉCULAS DA VIDA E SUAS TRANSFORMAÇÕES TRANSCRIÇÃO DO DNA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS Conceição do Araguaia – PA, Março de 2014. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Definição Recebe o nome de transcrição a síntese de moléculas de RNA a partir de moléculas de DNA que serve como modelo. A síntese ocorre pela união entre si dos nucleotídeos A, U, C e G, que se alinham seguindo a ordem marcada pelos nucleotídeos complementares do DNA. Essa complementaridade determina que as bases A, U, C e G do RNA se pareiem, respectivamente, com as bases T, A, G e C do DNA. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Como veremos, o emparelhamento é obtido pelo estabelecimento de ligações transitórias (não covalentes) das bases do DNA com as bases do RNA em formação, o que permite que ocorram as verdadeiras reações de síntese, ou seja, a ligação dos nucleotídeos do RNA entre si. A ligação entre dois nucleotídeos consecutivos corresponde a uma ligação fosfodiéster (Fig.14.1). TRANSCRIÇÃO DOS GENES Visto que nela um grupo fosfato liga o C5 ' da ribose de um nucleotídeo ao C3' da ribose do nucleotídeo contíguo; A molécula de RNA sempre acaba polarizada, com um fosfato na sua extremidade 5' e uma hidroxila na sua extremidade 3' . As ligações fosfodiéster não ocorrem espontaneamente; São dirigidas e catalisadas por enzimas específicas chamadas RNA polimerases. TRANSCRIÇÃO DOS GENES A molécula de RNA é sintetizada pela agregação de um nucleotídeo de cada vez Teoricamente, uma molécula de RNA poderia ser construída a partir de um modelo de DNA e de ribonucleotídeos livres seguindo estas cinco etapas. Primeiro, as duas cadeias de DNA se separariam em toda a sua extensão. Segundo, os 4 ribonucleotídeos se emparelhariam com os desoxirribonucleotídeos complementares do DNA, todos simultaneamente. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Terceiro, cada ribonucleotídeo se uniria com seus dois vizinhos. Quarto, os ribonucleotídeos se separariam dos desoxirribonucleotídeos do DNA e a molécula de RNA seria liberada. Quinto, as duas cadeias do DNA voltariam a se unir. Visto que nesta hipótese as duas cadeias do DNA estariam por igual, ambas poderiam ser transcritas. Na célula, o RNA é construído de outra maneira. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Em primeiro lugar; porque é copiada apenas uma das duas cadeias de DNA, a que corre na direção 3' -> 5'. Isto permite antecipar que o RNA é sintetizado a partir de sua extremidade 5' e progride para a sua extremidade 3' (Fig. 14.1). Em segundo lugar, porque os ribonucleotídeos se agregam um de cada vez, o que torna desnecessária a separação das duas cadeias de DNA em toda a sua extensão. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Somente se separa um segmento de cerca de 10 pares de nucleotídeos; Forma no DNA uma bolha de transcrição que se desloca à medida que os seus nucleotídeos são "lidos". TRANSCRIÇÃO DOS GENES Uma RNA polimerase une os nucleotídeos entre si Os monômeros com os quais são construídas as moléculas de RNA se apresentam no nucleoplasma como ribonucleosídeos trifosfato (ATP, UTP, CTP e GTP) (Fig. 14.1). O começo da transcrição ocorre quando, por meio de sua base, um desses ribonucleosídeos estabelece uma ligação transitória com a base complementar do primeiro nucleotídeo do gene. Neste processo intervém o promotor do gene, depois de ser ativado por fatores que mencionaremos mais adiante. TRANSCRIÇÃO DOS GENES O promotor se une à RNA polimerase e faz com que esta interaja com o DNA no local em que deve ser iniciada a transcrição (a extremidade 5' do segmento codificador do gene), o qual é marcado pelo próprio promotor. Ali, a RNA polimerase forma uma "bolha'', pois determina a separação localizada das duas cadeias de DNA e deixa exposto - junto com outros poucos - o primeiro desoxirribonucleotídeo que vai ser lido (Fig. 14.2). Em seguida, à frente deste desoxirribonucleotídeo se acomoda um ribonucleosídeo trifosfato complementar: será o primeiro nucleotídeo da molécula de RNA - e sua base estabelece uma ligação não covalente com a base do desoxirribonucleotídeo (Fig. 14.2). TRANSCRIÇÃO DOS GENES Em seguida, aproxima-se um segundo ribonucleosídeo trifosfato - complementar do segundo desoxirribonucleotídeo exposto no DNA - e suas bases se ligam. Porém, o mais importante é que os dois ribonucleotídeos que concorreram para a bolha ficam juntos, o que permite que entre eles ocorra – mediante a RNA polimerase - uma ligação fosfodiéster e que seja gerado um dinucleotídeo (Figs. 14.1 e 14.2); Com o qual se inicia a síntese do RNA que prossegue na direção 5'-> 3' à medida que se aproximam - e se unem entre si - os ribonucleosídeos trifosfato indicados pelo DNA. TRANSCRIÇÃO DOS GENES O alongamento progressivo do RNA é conduzido pela mesma RNA polimerase. Esta, além de catalisar as ligações fosfodiéster, desliza sobre o DNA na direção 5'-> 3' e faz avançar a bolha. Isto é obtido pela separação dos nucleotídeos no lado frontal da bolha, enquanto os da retaguarda voltam a se unir (Fig. 14.2), o que é possível porque, ali, o DNA se desliga dos ribonucleotídeos. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Todavia, o RNA - cada vez mais longo - segue unido à cadeia modelo de DNA por meio dos últimos ribonucleotídeos incorporados. A transcrição é concluída quando a RNA polimerase alcança a sequencia de terminação na extremidade 3' do gene. Neste ponto, a enzima é liberada. Também o faz o RNA, que adquire o nome de transcrito primário. Na extremidade 5', o primeiro nucleotídeo do RNA retém os três fosfatos, enquanto na extremidade 3', o último nucleotídeo apresenta um grupo OH livre (Fig. 14.1 ). TRANSCRIÇÃO DOS GENES A célula possui três tipos de RNA polimerases Existem três tipos de RNA polimerase - chamadas I, II e III - responsáveis pela síntese dos diferentes tipos de RNA. A RNA polimerase II sintetiza os RNAm e a maioria dos RNAnp; A RNA polimerase I, o RNAr 45S; A RNA polimerase III, o RNAr S5 , os RNAt, o RNAcp e alguns RNAnp. Estas polimerases respondem de maneira distinta ao efeito de um veneno produzido pelo fungo Amanita phalloides, denominado a-amanitina. Desta forma, a RNA polimerase II é muito sensível ao veneno, a RNA polimerase III é medianalnente sensível e a RNA polirnerase I é insensível. TRANSCRIÇÃO DOS GENES TRANSCRIÇÃO DOS GENES DOS RNA MENSAGEIROS Os genes que codificam os RNAm são ativados por fatores de transcrição A síntese de um determinado RNAm ocorre quando o gene respectivo, melhor dizendo, suas seqüências reguladoras e o promotor são ativados por proteínas especiais chamadas fatores de transcrição, os quais se classificam em específicos e basais. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Os fatores de transcrição específicos interagem com o regulador do gene (Fig. 14.3) e, segundo o façam com sequencias amplificadoras ou inibidoras do regulador dividem-se em ativadores e repressores. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Os fatores de transcrição basais são necessários para o promotor, pois seunem à seqüência TATA para começar a síntese do RNAm. Devido a sua naturezainespecífica, os fatores basais são mais conhecidos que os específicos. Existem vários - denominados TFIID, TFIIA, TFIIB, TFIIF, TFIIE, TFIIH etc. – os quais atuam seqüencialmente na ordem em que foram escritos. O TFIID é composto por várias subunidades, uma chamada TBP (do inglês, TATA.binding protein) e as outras, TAF (do inglês, TBP-associated factor ). O processo se inicia quando o TFIID se une ao promotor por meio da TBP. Esta união altera a estrutura da cromatina no promotor que abandona sua forma retilínea e se dobra até formar o ângulo de cerca de 100°. TRANSCRIÇÃO DOS GENES A mudança atrai tanto os fatores de transcrição basais restantes como a RNA polimerase II, com a qual esses fatores se uniram previamente. Uma vez unida ao promotor, a RNA polimerase II é fosforilada pelo TFIIH que contém uma cinase. Um ATP doa um fósforo, depois de ser hidrolisado pelo TFIIB. Em seguida, a RNA polimerase II fosforilada desprende-se dos fatores de transcrição e abre a dupla hélice do DNA no setor do gene contíguo ao promotor - forma-se a bolha de transcrição com o que se inicia a síntese de RNAm. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Para alongar o RNAm, a RNA polimerase II necessita de dois fatores adicionais, os fatores de alongamento Sll (ou TFIIS) e SIII (ou alonguina). O fator SII é uma proteína monomérica de 38 kDa. O fator SIII é um heterotrímero composto pelas alonguinas A, B e C... TRANSCRIÇÃO DOS GENES Estima-se que durante a fase de alongamento a RNA polimerase II agrega à molécula de RNA cerca de 50 nucleotídeos por segundo. Como assinalado, nos genes que codificam RNAm ainda não foi identificada a seqüência de nucleotídeos responsável pelo término da transcrição. O conjunto de transcritos primários dos RNAm é conhecido como RNA heterogêneo nuclear ou RNAhn. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Estes transcritos não se encontram livres no nucleoplasma e sim combinados com diversas proteínas básicas que se unem aos RNAm à medida que se sintetizam. O conjunto de transcritos primários e proteínas associadas leva o nome de ribonucleoproteína heterogênea nuclear ou RNPhn. Considera-se que as proteínas atuam como chaperonas que mantêm os RNAm desdobrados. Isto evita que sejam formados - em uma mesma molécula – emparelhamentos entre seqüências de nucleotídeos complementares. TRANSCRIÇÃO DOS GENES REGULAÇÃO DA ATIVIDADE DE GENES QUE CODIFICAM RNA MENSAGEIROS Os mecanismos mais importantes para controlar a atividade dos genes ocorrem ao nível da transcrição Sabendo-se que, nos organismos pluricelulares, todas as células possuem o mesmo genoma, surgiu a necessidade de responder à seguinte pergunta: por que um gene é selecionado para sua transcrição em um tipo celular e em outros não? analisamos como as células respondem ao ser influenciadas por outras; e já nas seções seguintes deste capítulo são descritos os mecanismos moleculares que levam à diferenciação celular. Os mecanismos celulares que determinam qual proteína deve ser sintetizada - e em qual quantidade - operam em vários níveis, apesar de os mais importantes serem os que controlam a atividade transcricional dos genes. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Todavia, podem produzir-se regulações depois de o RNA ser sintetizado, durante o processamento do transcrito primário, e inclusive, mais tarde, mediante o controle da exportação de RNAm ao citoplasma ou de sua sobrevida no citosol. Finalmente, em alguns casos, as regulações ocorrem durante a tradução dos RNAm em proteínas ou pela degradação das segundas. É oportuno assinalar que o RNA de aproximadamente a metade dos transcritos primários não completa sua síntese. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Ignora-se se isto é devido à existência de alterações nos processos de transcrição ou se ocorre em função de um mecanismo generalizado de regulação de atividade gênica que opera abortando a transcrição antes que a polimerase II chegue ao sinal de terminação. São conhecidos pouquíssimos casos de regulação gênica derivados da conclusão prematura da transcrição. Como veremos, os mecanismos prevalecentes operam no começo da síntese dos RNAm, já que atuam sobre as seqüências reguladoras dos genes. Estas seqüências são influenciadas por fatores de transcrição específicos que ingressam no núcleo para ativar ou inibir os genes. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Os fatores de transcrição específicos desencadeiam ou freiam a transcrição do DNA Recordemos que a polimerase II por si mesma não pode iniciar a transcrição do segmento codificador do gene, pois tem de ser ativada pelos fatores de transcrição basais unidos ao promotor. Por sua vez, esta união depende da ativação prévia das seqüências reguladoras por fatores de transcrição específicos. Como os fatores de transcrição basais são os mesmos para quase todos os genes, diz-se que são constitutivos. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Em contrapartida, os fatores de transcrição específicos, por serem particulares para cada gene, são qualificados como facultativos. Embora os fatores de transcrição específicos se contem aos milhares, são muito menos numerosos que as sequencias reguladoras que têm de controlar. Entretanto, conseguem a especificidade mediante a criação de múltiplas combinações entre eles, o que aumenta o número de possibilidades de forma extraordinária. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Deste modo, cada tipo de célula elabora apenas uma seleção destes fatores , nada mais que os imprescindíveis para criar as combinações capazes de regular seus próprios genes. Como cada gene pode ter vários amplificadores e vários inibidores, dois ou mais genes distintos podem possuir alguns reguladores comuns, embora nunca a mesma combinação. Uma vez que os fatores específicos foram unidos às sequencias reguladoras, como eles atuam sobre o promotor? (Convém lembrar que ambas as partes do gene podem estar muito distanciadas.) Simplesmente, o gene se curva e forma uma forquilha, como mostra a Fig. 14.3. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Observe-se o modo como os fatores específicos unidos às sequencias reguladoras interagem com os fatores basais situados no promotor. Isto é possível porque os fatores específicos contam com dois domínios, um que se conecta ao DNA regulador e outro que o faz com os fatores basais, mais precisamente com as subunidades TAF do fator TFIID. Quando o complexo fica integrado, os fatores basais ativam a RNA polimerase II e esta inicia a transcrição do gene. Por sua vez, os fatores específicos determinam o número de polimerases que - uma depois da outra - farão o trabalho, o que regula a quantidade de RNAm a ser fabricado. TRANSCRIÇÃO DOS GENES A transcrição dos genes dos RNAm pode ser visualizada com a ajuda do microscópio eletrônico A microscopia eletrônica convencional não mostra como são transcritos os genes. No entanto, quando se dispersa o conteúdo do núcleo sobre uma lâmina, são postos em evidência detalhes reveladores. Assim, se um gene se transcrever a um ritmo acelerado - quer dizer, associar-se simultaneamente com várias RNA polimerases II - pode ser visto junto com muitas cadeias de RNAm que surgem perpendicularmente de sua molécula. TRANSCRIÇÃO DOS GENES O conjunto se assemelha a uma árvore de natal, cujo tronco conrresponde ao gene e os ramos aos RNAm (Fig. 14.4). TRANSCRIÇÃO DOS GENES Oalongamento dos ramos -que são mais longos à medida que se distanciam da ponta da árvore - indica a direção da transcrição. No ponto em que cada ramo se une ao tronco localiza-se uma RNA polimerase II (pode ser visualizada nas eletromicrografias) e, portanto, forma-se uma "bolha". TRANSCRIÇÃO DOS GENES Se pudéssemos realizar um filme, veríamos as bolhas deslocando-se da ponta da árvore para o "solo", cada uma com seu RNAm que se desprende do tronco quando alcança seu comprimento máximo. Os genes que produzem RNAm a uma velocidade tão alta não são muitos, pois a maioria é transcrita a um ritmo relativamente moderado. Os mais lentos iniciam uma nova transcrição depois de concluir a anterior. Nestes casos, o gene seria visto como um tronco com um só ramo - o RNAm - cujo comprimento e posição no tronco dependeriam do instante em que se fizesse a fotomicrografia. TRANSCRIÇÃO DOS GENES São conhecidas as bases moleculares da interação dos fatores de transcrição com o DNA das regiões reguladoras e promotora do gene. Os fatores de transcrição e o DNA dos reguladores e do promotor contêm em suas moléculas informações suficientes para se unirem entre si de forma específica. Os fatores de transcrição estabelecem contato com o DNA através de grupos químicos complementares, de um lado fornecidos pelos aminoácidos e do outro pelas bases dos nucleotídeos. Dessa forma, a especificidade da união depende da complementaridade estrutural entre as partes interatuantes. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Originariamente, acreditava-se que os fatores de transcrição abriam a dupla hélice do DNA e reconheciam os grupos quimicos participantes da formação das pontes de hidrogênio entre as bases dos nucleotídeos. Isto foi descartado, apesar de ter sido confirmado que os fatores de transcrição reconhecem o DNA dos promotores e dos reguladores por suas bases e nelas identificam grupos químicos localizados na parte exterior da dupla hélice ao nível dos sulcos maior e menor. Esse local, sem necessidade de romper as pontes de hidrogênio, os aminoácidos dos fatores de transcrição interagem com as bases e se unem a elas. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Os fatores de transcrição contêm estruturas diméricas especiais Analisadas as singularidades estruturais do DNA, vamos nos ocupar agora daquelas que caracterizam os fatores de transcrição. Em geral, as proteínas dos fatores de transcrição contêm estruturas diméricas simétricas que se encaixam nos sulcos da dupla hélice do DNA. Assim, os dímeros ocupam as voltas da dupla hélice com um monômero em cada volta. Nesse par de voltas, o DNA também apresenta simetria, já que suas duas metades mostram seqüências de nucleotídeos repetidas em palíndromo (termo tomado da lingüística que designa a palavra ou frase que se lê igualmente da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda). TRANSCRIÇÃO DOS GENES Cada metade do palíndromo ocupa uma das voltas do DNA. A dimerização dos fatores de transcrição e a simetria do DNA são condições necessárias para que os aminoácidos dos primeiros possam interagir com as bases do regulador e do promotor. Apesar de existirem milhares de fatores de transcrição diferentes, os setores diméricos de suas moléculas formam estruturas secundárias e terciárias com desenhos comuns, o que permite classificá-los em um número limitado de famílias. Cada fator de transcrição pode ter uma, duas ou mais dessas estruturas, desenhadas para ingressar nos sulcos da dupla hélice ao nível do regulador e do promotor do gene. TRANSCRIÇÃO DOS GENES A denominação das estruturas se baseia nas formas que têm, daí serem chamadas hélice-giro-hélice, dedos de zinco, cremalheira de leucina e hélice- anel-hélice. Hélice-giro-hélice. Esta estrutura consiste em duas cadeias de aminoácidos com forma de hélice, separadas por uma "volta" ou cadeia mais curta (Fig. 14.6). Uma das hélices "lê" a seqüência de nucleotídeos no setor regulador do gene - ao qual se une se o reconhecer - e a outra mantém a hélice leitora na posição adequada. Obviamente, a seqüência de aminoácidos da hélice leitora (chamada também hélice de reconhecimento) varia nos diferentes fatores de transcrição. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Quando uma hélice-giro-hélice é acompanhada por uma simétrica, entre ambas forma-se um dímero. As respectivas hélices de reconhecimento se encaixam em outros sulcos do DNA que correspondem aos dois lados do palíndromo. Foram identificadas estruturas hélice-giro-hélice em diversos fatores de transcrição. Por exemplo, em alguns fatores envolvidos na formação do plano corporal durante o desenvolvimento embrionário (Cap. 21 -22), nos fatores implicados na diferenciação das células musculares etc. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Cremalheira de leucina. Consiste em duas cadeias polipeptídicas dispostas em paralelo, ambas com forma de hélice. Cada cadeia possui dois setores, um que se une ao DNA e outro que o faz com seu homólogo, com o qual se forma um dímero (Fig. 14.7). Os setores unidos entre si apresentam, cada sete aminoácidos - que correspondem a duas voltas da hélice - uma leucina que dá para o interior do dímero. Estas leucinas se encaixariam como os dentes do zíper, daí o nome de cremalheira. Os setores não dimerizados possuem uma alta proporção de aminoácidos básicos, que são os que geram a união específica de fatores de transcrição com o DNA. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Dedos de zinco. Cada domínio do fator de transcrição é composto por uma seqüência de alguns aminoácidos e um átomo de zinco, o qual se liga tetraedricamente a quatro cisteínas ou a duas cisteínas e duas histidinas (Fig. 14.8). Esses domínios se projetam como dedos, cujo número e seqüência de aminoácidos variam nos diferentes fatores de transcrição. Além disso, os dedos de zinco se associam dois a dois para formar dímeros. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Os dedos de zinco são as estruturas mais difundidas entre os fatores de transcrição. Estes ingressam no núcleo e atuam como fatores de transcrição específicos quando se unem a eles as substâncias indutoras. Outro exemplo corresponde ao TFIIIA, um dos fatores de transcrição do RNAr 5S. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Hélice-anel-hélice. Esta estrutura tem uma configuração dimérica muito parecida com a Cremalheira de leucina; pois conta com duas cadeias polipeptídicas com dois setores funcionais em cada uma: o específico - reservado para a união do fator de transcrição com o DNA - e o responsável pela dimerização (Fig. 14.9). O primeiro é rico em aminoácidos básicos. Este desenho se diferencia da cremalheira porque suas partes dimerizadas não se encaixam. TRANSCRIÇÃO DOS GENES O enrolamento da cromatina influencia a atividade do gene No Cap. 12-10 foram descritas as diferenças entre a eucromatina e a heterocromatina. Embora possa não ser absolutamente certo que a transcrição ocorra somente na eucromatina, quase todos os dados sugerem que durante a interfase o armazenamento altamente condensado da cromatina - quer dizer, a heterocromatina- indica ausência de atividade transcricional no seu DNA. Isso não implica que na eucromatina relativamente estendida ocorra automaticamente a transcrição, já que nas células a maior parte dessa cromatina se acha inativa, pois são transcritos somente genesque recebem a ordem de fazê-lo - via fatores de transcrição - como vimos na seção anterior. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Embora se aceite que a cromatina de 10 nm seja a mais apta para a transcrição (Fig. 12.10), a RNA polimerase não pode atuar se não se desenrolarem os segmentos de DNA dos nucleossomas, pelo menos localmente e enquanto durar a transcrição. Foi sugerido que os fatores de transcrição basais não somente ativam o promotor do gene, mas também a "desorganização'· dos nucleossomas na parte inicial do segmento codificador, o que permite a separação local das duas cadeias de DNA para que a RNA polimerase possa começar a transcrição. Parece então que os fatores de transcrição atuam direta ou indiretamente sobre as histonas H4, que se modificam e desencadeiam a remoção das outras histonas, começando pela H2A e pela H2B. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Mais adiante, à medida que avança pelo segmento codificador do gene, a própria RNA polimerase seria a responsável por desenrolar o DNA dos nucleossomas, os quais se "recompõem" conforme a enzima os deixa para tráz . Diversos dados revelam que o grau de enrolamento da cromatina é regulado pela agregação ou remoção de grupos acetila, grupos metila e grupos fosfato nas "caudas" das histonas, que estão expostas a estas mudanças porque se projetam para fora dos nucleossomas (Cap. 12-9). TRANSCRIÇÃO DOS GENES Por exemplo, a acetilação de algumas lisinas das histonas H3 e H4 diminui o enrolamento da cromatina, o que favorece o acesso dos fatores de transcrição basais ao promotor do gene, com a conseqüente colocação em marcha da atividade genética. Ao contrário, a desacetilação provoca o efeito oposto, já que incrementa o enrolamento da cromatina e pode chegar a convertê-la em heterocromatina. Devemos assinalar que a agregação e a remoção dos grupos acetila são catalisadas, respectivamente, por acetilases e desacetilases localizadas na matriz nuclear. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Com relação à metilação e desmetilação, os efeitos produzidos são opostos aos da acetilação e desacetilação, respectivamente. Desta forma, a agregação de grupos metila a uma das enzimas (lisinas) da histona H3 aumenta o enrolamento da cromatina, enquanto sua remoção a diminui. Por último, a fosforilação e a desfosforilação de certas serinas e treoninas localizadas na "cauda" da histona Hl também produzem efeitos opostos aos da acetilação e da desacetilação, respectivamente. TRANSCRIÇÃO DOS GENES Em síntese, a acetilação, a desmetilação e a desfosforilação de diferentes histonas diminuem o enrolamento da cromatina e propiciam a atividade dos genes. Em contrapartida, a desacetilação, a metilação e a fosforilação aumentam o enrolamento e bloqueiam a atividade genética. Cabe assinalar que em diversos tipos celulares os promotores dos genes contêm histonas que apresentam - em relação a seu número e distribuição - uma combinação particular dessas alterações quúnicas, o que sugere que algumas combinações estimulam e outras silenciam a atividade dos genes. Isso fez com que os que trabalham neste assunto dessem o nome de código histônico ao conjunto de tais combinações. Além disso, nos tipos celulares diferenciados que se dividem, as células-filha herdam a mesma heterocromatina das células predecessoras, o que se repete de geração em geração (Cap. 21-21). Esta estabilidade da heterocromatina deve-se ao fato de que os fatores que a causam se duplicam nas células próximas a se dividir e se repartem entre as células-filha. Em alguns casos, a atividade gênica se inativa e a cromatina se compacta em função da interferência de causas adicionais às citadas, como sucede no cromossomo X compactado das células da mulher, descrito no Cap. 12-11 com o nome de cromatina sexual ou corpúsculo de Barr. Embora o cromossomo X se compacte e seus genes se inativem devido à desacetilação de suas histonas e pela metilação de seu DNA (esta metilação será analisada na Seção 14-13 e não deve ser confundida com a metilação das histonas), ambas as alterações são precedidas pela ativação do gene Xist (do inglês, X-inactivation specific transcript), que, como vimos no Cap. 13-12, se localiza no próprio cromossomo X, em uma região próxima do centrômero chamada Xic. Quando é ativado, o gene Xist gera múltiplas cópias de um RNA especial denominado RNAxist (Cap. 13-2), as quais, a partir do Xic, unem-se ao DNA dos dois braços do cromossomo X e inativam quase todos os seus genes. Cabe acrescentar que mediante técnicas especiais, as cópias do RNAxist aparecem em forma de pontos ao longo do cromossomo X compactado, o que sugere sua associação a proteínas.