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ECONOMIA II 2 José Aires Trigo Mestre em Educação (UFRJ) Economista (UERJ) Especialista em Educação Matemática (FSJT) Licenciado em Matemática (UCB) 3 Sumário Apresentação Unidade I – Princípios de Macroeconomia Unidade II – Contabilidade Social Unidade III – Níveis de Atividade em uma Economia Unidade IV – Introdução à Teoria Monetária Unidade V – Inflação Unidade VI – Câmbio e Balanço de Pagamentos Considerações Finais Bibliografia 4 Palavra do professor A compreensão da Macroeconomia, enlevadas as suas particularidades com base em discussões sobre o instrumental disponibilizado pelas teorias, é de fundamental importância para um profissional da área de Administração. As atividades desse profissional, independente do setor específico em que trabalhe, exigem com maior ou menor magnitude, a compreensão dos sinais apontados pela economia e possíveis desdobramentos, para facilitar sua tomada de decisão. 5 Unidade I Princípios de Macroeconomia Objetivo da Unidade: Esta introdução tem como objetivo apresentar algumas questões básicas e certos aspectos metodológicos que são importantes no estudo dos modelos de estudo da Macroeconomia com base no viés de análise agregada de curto prazo, preocupando-se em captar as inter-relações entre os diversos mercados na economia; permitindo que se analise e se compreenda o papel das políticas monetária e fiscal na determinação dos diversos agregados macroeconômicos. 1 Introdução Como visto em Economia I, a Teoria Econômica pode ser dividida em duas partes: microeconomia e macroeconomia. Presumi-se que a primeira estuda o comportamento dos consumidores e das empresas em seus mercados, as razões que levam os consumidores a comprar mais, ou menos, de um determinado produto e a pagar mais, ou menos, por ele. Estuda também os motivos que levam uma empresa a produzir maior ou menor quantidade de uma mercadoria e de que forma seus preços são determinados. Consideram os mercados os mercados nos quais as empresas e consumidores atuam. Estes tópicos formam o foco da disciplina Economia I. Neste momento passaremos a perceber a Economia com o foco voltado para os preceitos da Teoria Macroeconômica. A Macroeconomia preocupa-se com o conjunto de decisões de todos os agentes econômicos, seus reflexos, tal como uma maior ou uma menor produção e suas consequências no nível de emprego. Outro elemento importante no estudo da Macroeconomia é a Inflação, sua relação com a 6 taxa de juros e o nível geral de emprego. Em um aspecto mais amplo, outro elemento importante é a taxa de câmbio, juntamente com a análise do crescimento econômico. Para entender de uma forma geral, estuda-se também, as decisões tomadas pelo formulador de política econômica do país. A macroeconomia estuda a realidade econômica de forma global. Ela se preocupa com a relação entre os agentes econômicos e o funcionamento da economia em seu conjunto. Procurando obter uma visão simplificada da economia, utilizando um número reduzido de variáveis, como: produto agregado; demanda agregada; consumo; emprego; investimento; nível geral de preços; equilíbrio geral; crescimento econômico etc. 1.1 Ciclo e Crescimento Econômico Em Economia I estudamos elementos importantes sobre como o preço de um produto é determinado, como são obtidas as demandas e as ofertas individuais e como é possível a partir destas obter a demanda e a oferta de mercado e, finalmente, como a interação entre oferta e demanda permite obter o equilíbrio de mercado. A importância desse tipo de estudo é percebido visto que nos fornece elementos para saber porque, eventualmente, um par de sapatos vale mais do que uma camisa ou o que acontecerá se o governo cobrar mais impostos de determinadas segmentos da economia. Entretanto muitas vezes ao acompanharmos o noticiário econômico as referências são feitas à economia de um país inteiro e não a um mercado específico. Desta forma é muito comum nos referirmos a economia americana como sendo mais rica do mundo e que a economia chinesa cresce com maiores taxas que a brasileira. Também vemos com facilidade, notícias que afirmam que a taxa de juros no Brasil é muito alta e, por isto, a economia não volta a crescer e o desemprego permanece alto. Outras vezes lemos que o consumo está caindo e, desta forma, não devemos esperar que as coisas melhorem no próximo ano. 7 Note-se que na primeira afirmativa não especificamos quais famílias americanas são mais ricas do que as brasileiras. Quando falamos de taxa de juros não nos referirmos sobre que setor da economia pede dinheiro emprestado e em quais circunstâncias, da mesma forma não definimos se o desemprego é de administradores ou de padeiros. Por fim nada foi dito se o consumo que está caindo é o do ramo imobiliário ou o de alimentos. Em todas as ponderações colocadas anteriormente nos referimos a economia de um país como um todo, ou seja, simplesmente não nos preocupamos em diferenciar as famílias e as firmas que residem no mesmo país. De certa forma é como se estivéssemos falando da soma de todas as famílias e todas as firmas de um determinado país. Aprender a medir os agregados econômicos é um passo importante para entender o que se quer dizer quando nos referimos a uma economia como um todo, assim, partiremos do pressuposto de que quando um economista fala de agregado econômico ele está se referindo a uma variável que representa a soma de decisões de várias famílias ou firmas. Porém em algum momento podemos pode surgir a curiosidade sobre a possibilidade de elaborar uma teoria que busque explicar o comportamento destas variáveis agregadas. Os macroeconomistas costumam estudar problemas como o crescimento econômico, a existência de recessões, a inflação, o desemprego e etc. A análise é sempre feita para a economia como um todo, não existindo a preocupação com os comportamentos individuais de cada agente. O estudo da Macroeconomia pelos agregados macroeconômicos facilita a identificação de Ciclos Econômicos, muito comuns nas economias contemporâneas. Variações da economia são muito comuns. Uma economia pode estar subindo ou descendo, ou dito de outra forma, uma economia pode estar forte ou fraca. Para analisar estes elementos, os economistas criaram um vocabulário próprio para se referir ao comportamento observado de uma sociedade e sua economia. Desde que a Economia se tornou uma Ciência, com base em modelos e na observação da realidade, a queda, a recuperação ou um crescimento de uma determinada economia é um aspecto puramente temporário. Em conjunto com os acontecimentos econômicos, temos acontecimentos mais lentos, ou de longo prazo, tais como crescimento populacional, o progresso tecnológico, ou ainda, a cada vez mais enlevada, condição ambiental. 8 Ciclo econômico é o termo usado para designar as mudanças ocorridas na economia. A partir da Revolução Industrial, o nível da atividade financeira dos países capitalistas e industrializados tem flutuado, com reflexos na economia. Não há dois ciclos iguais, variam tanto na intensidade quanto na duração. Não é fácil prever a duração ou o exato momento da ocorrência, embora seja possível prever suas fases. Para simplificar nosso entendimento vamos pressupor a dinâmica dos ciclos como a alternância de períodos de recessão e expansão, apesar de muitos economistas citarem quatro fases: o auge, a recessão, a depressão e a recuperação. Asflutuações apresentam períodos de recessão, que são caracterizados por quedas do nível de produto e emprego, e de queda da taxa de desemprego. Perceber como funcionam os mecanismos determinantes dessas flutuações agregadas é um ponto central no estudo da macroeconomia. Se o estudo dos ciclos se apoiar em observações puramente empíricas, a percepção que teremos é de que as flutuações não são igualmente distribuídas entre os componentes do produto agregado da economia. Os gastos que despontam como sendo mais sensíveis aos ciclos são os investimentos e o consumo privado de bens duráveis, em contrapartida os mais estáveis são o consumo privado de bens não-duráveis e de serviços, o consumo do governo e a demanda internacional por exportações. Além disso, os movimentos do produto são assimétricos, no que tange a sua intensidade no tempo. Dessa forma, não raro, ocorrem períodos longos de trajetória próxima à média entremeados por breves períodos de oscilações mais intensas. O entendimento trazido por algumas teorias sobre os ciclos econômicos revela que a alternância entre períodos de recessão e de expansão ocorre com uma determinada regularidade, com movimentos pendulares e autocausadores. Essas hipóteses sendo denominadas de teorias dos ciclos endógenos. No entanto, como ainda não se tem uma comprovação da regularidade dessas flutuações, abre-se espaço cada vez maior para aceitar as chamadas teorias de ciclos exógenos. Segundo essa visão, a economia é perturbada em intervalos aleatórios de tempo por choques de vários tipos e intensidades, os quais se propagam por seus diversos setores. Assim, muitas das diferenças existentes entre as correntes de pensamento macroeconômico fundamentam-se na discussão das hipóteses a respeito da natureza dos choques econômicos e dos seus mecanismos de propagação. 9 No Brasil alguns estudos relevantes são provenientes dos esforços do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) que através da criação do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE) busca estabelecer uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros. Composto por sete membros com notório conhecimento no assunto, o CODACE teve como primeira missão datar os períodos de expansão e recessão da economia brasileira a partir do primeiro trimestre de 1980. Os pressupostos sobre a evolução dos ciclos econômicos, utilizado pelo CODACE estão apoiados nos argumentos de Burns e Mitchell (1946) de que uma expansão, ocorrendo aproximadamente ao mesmo tempo em muitas atividades econômicas, seguidas de fases gerais similares de recessões, contrações e recuperações, as quais se consolidam em uma fase de expansão do próximo ciclo, formam uma sequência de mudanças recorrente, mas não periódica, sendo que em termos de duração, os ciclos econômicos variam de mais de um ano a dez ou doze anos. Fonte: IBRE – Fundação Getúlio Vargas 10 O caso é: como podemos planejar os atos estratégicos, com uma razoável confiança quanto às expectativas? Voltando a uma análise com escopo internacional, temos que nos últimos 20 anos, as flutuações da economia dos Estados Unidos foram ficando cada vez maiores e mais irregulares, até a culminância da crise mundial decorrente do “estouro da bolha” do mercado imobiliário americano, decorrente de problemas no mercado de subprimes (hipotecas de alto custo). A crise instalada compara-se à da Grande Depressão dos anos 30, também fruto de um “estouro da bolha”, só que do mercado de ações nos Estados Unidos. Não é difícil perceber que as consequências desses dois eventos históricos trouxeram transtornos de maior magnitude, devido à importância e do peso da economia dos Estados Unidos, dado o fato ser uma parceira comercial de vários países do mundo. Entender como esses fatos se sucederam e como um fato local atingiu de forma tão catastrófica a economia mundial, associa-se a necessidade de respostas, não só para justificar ou compreender, mas como forma de o mundo se proteger e se antecipar em situações vindouras, principalmente em um mundo cada vez mais globalizado. Sendo assim, na macroeconomia, é útil distinguir dois horizontes temporais: um curto, ideal para analisar os ciclos econômicos e as políticas de estabilização. E um longo, para analisar o crescimento econômico e a convergência. Apesar de uma explanação não muito controversa até o momento, comumente podemos observar conflitos provenientes de duas principais óticas da Macroeconomia moderna, curiosamente extremamente antagônicas, o Keynesianismo, que tem seu nome devido ao seu precursor John Maynard Keynes (1936) e o monetarismo, representado por Milton Friedman (1953). Até ao início do século XX, acreditava-se que a economia se corrigia automaticamente: havendo desemprego, os salários desceriam, as empresas iriam procurar mais trabalhadores e o desemprego acabaria por ser absorvido. À luz dessa doutrina (Teoria Clássica, inspirada em Adam Smith, 1776), a função estabilizadora do Estado não tinha razão de ser. A crise de 1929 veio pôr em discussão o pensamento clássico. O fato de a Grande Depressão não passado com esse ajustamento automático preconizado pelos Clássicos levou alguns economistas a desconfiar da tese dessa sistemática. Entre eles, entre eles podemos destacar Sir 11 John Maynard Keynes (1936), que defendeu que o Estado deveria estar atento ao desemprego e agir de modo a atenuar as flutuações da atividade econômica. Em termos simples, a ideia era o Estado baixar os impostos e aumentar o investimento público em tempo de crise, como forma de estimular a economia. Assim que a atividade econômica recuperasse, os impostos deveriam voltar a aumentar, para equilibrar as contas públicas. Apesar da simplicidade da ideia, ela não foi consensual. Abrindo espaço para a Escola Monetarista, com Milton Friedman (1953) argumentando que a intervenção do Estado pode ter efeitos perversos: tal como não é aconselhável um ouvinte de rádio estar sempre com o dedo no botão à procura da melhor sintonia (pois se arrisca a nunca ouvir algo de fato queira), o melhor que os governos têm a fazer é aceitar a frequência dos choques tal como ela ocorre e dedicar o seu tempo buscando formas de se proteger, diminuindo os impactos desses ciclos. 1.2 Políticas Macroeconômicas A política econômica tem como determinante um conjunto de medidas governamentais, que afetam a Economia do país. A dinâmica consiste na determinação dos setores ou pólos econômicos, que devem ser priorizados com o intuito de impulsionar e desenvolver, mediante apoio técnico, financeiro ou fiscal. Dado o fato de que não é possível atuar de forma efetiva em todos os campos da Economia, o governo deve apontar suas atenções para determinados setores que mais necessitam da ação do Estado canalizando recursos orçamentários que darão apoio a uma ação, que deve ser minuciosamente estudada para que os recursos sejam aplicados de forma eficiente. Além das funções sociais de educação, saúde e justiça, o governo detém responsabilidade sobre a economia do país, mesmo quando o sistema dominante é o de mercado, ou liberal. 12 1.2.1 Metas de política macroeconômica As principais metas de políticas macroeconômicas estão associadas a busca por: � Alto nível de emprego; � Estabilidade de preços; � Distribuição de renda socialmente justa; � Crescimento econômico. Inicialmente podemos separar os estudos macroeconômicos em dois horizontes temporais, o curto prazo e o longo prazo. As questões relativas ao emprego e à inflação são consideradas como conjunturais, de curto prazo e são consideradas a “preocupação central” das chamadas políticas de estabilização. As questões relativas ao crescimento são predominantemente de longo prazo, enquanto o problemada distribuição de renda envolve aspectos de curto e longo prazo. Alguns autores acrescentam às metas anteriormente citadas, a meta referente ao equilíbrio no balanço de pagamentos. Em nossa abordagem aceitaremos que o equilíbrio no balanço de pagamentos não apresenta um objetivo em si mesmo, mas um meio, um instrumento para se atingir as quatro metas assinaladas. Antes de darmos prosseguimento no restante da obra, traçaremos um arrazoado dos itens assinalados. Alto nível de emprego: Com a crise instalada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque ocorrido em 1929, passamos a ter mais enlevo na questão do desemprego, permitindo um aprofundamento da análise macroeconômica. Em maio a esse cenário surgiu o livro de John Maynard Keynes – Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda –, em 1936, que forneceu aos governantes os instrumentos necessários para que a economia recuperasse seu nível de emprego potencial ao longo do tempo. Deve-se salientar que antes da crise dos anos 30, a questão do desemprego não preocupava a maioria dos economistas, pelo menos nos países capitalistas. Isso porque predominava o pensamento liberal que acreditava que os mercados, sem interferência do Estado, conduziam a economia ao pleno emprego de seus 13 recursos, ou a seu produto potencial: milhões de consumidores e milhares de empresas, como que guiados por uma “mão invisível”, um termo cunhado por Adam Smith em sua obra “A riqueza das nações” para descrever como numa economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse comunal, organiza a interação dos indivíduos que parece resultar numa determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse, que desencadearia na determinação dos preços e a produção de equilíbrio, e, desse modo, nenhum problema surgiria no mercado de trabalho. Os economistas que viveram o período final do século XVIII, até o início do século XX, testemunharam que o mundo econômico parece ter funcionado sem grandes distúrbios no equilíbrio econômico. Assim podemos entender que o nível de produto não teve grandes alterações e com isso não surgiam problemas com a alocação de recursos. Essa situação ficou conhecida como pleno emprego. O funcionamento dos sistemas econômicos baseado nesse paradigma foi sintetizado pela Lei de Say, que afirma que a oferta cria sua própria demanda. A dinâmica apontada pela Lei de Say está apoiada na ideia de que os fatores produtivos são contratados para a produção, e que sua remuneração vai se constituir na demanda pelos bens e serviços que eles próprios produziram. Entretanto, a evolução da economia mundial trouxe em seu bojo, novas variáveis, como o surgimento dos sindicatos dos trabalhadores, os grupos econômicos e o desenvolvimento do mercado de capitais e do comércio internacional, de sorte a complicar e trazer incertezas sobre o funcionamento da economia. A ausência de políticas econômicas levou à quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, e uma crise de desemprego atingiu todos os países do mundo ocidental nos anos seguintes. Até esse evento, os pequenos “desvios de trajetória” ocorridos na economia eram conhecidos como vazamentos da Lei de Say. Lei de Say: a oferta cria sua própria demanda, ou seja, tudo que é produzido é consumido. Com a contribuição de Keynes e dos trabalhos de Michael Kalecki, fincaram- se as bases da nova Teoria Macroeconômica, e da intervenção do Estado na economia de mercado, com apoio da teoria conhecida como Princípio da demanda 14 efetiva. Na verdade, Keynes praticamente inaugurou uma questão da macroeconomia que perdura até hoje – qual deve ser o grau de intervenção do Estado na economia e, em que medida ele deve ser produtor de bens e serviços. A corrente de economistas liberais (hoje neoliberais) prega a saída da produção de bens e serviços, enquanto outra corrente de economista apregoa um maior grau de atuação do Estado na atividade econômica. Demanda Efetiva: inverte o conceito associado à Lei de Say, passando a compreender que a demanda é que determina o nível de produção Estabilidade de preços: Define-se inflação como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços, acarretando distorções, principalmente sobre a distribuição de renda, sobre a expectativa dos agentes econômicos e sobre o balanço de pagamentos. Quando a inflação chega a zero dizemos que houve uma estabilidade nos preços. Basicamente podemos dividir A inflação pode ser dividida em: � Inflação de Demanda: É quando há excesso de demanda agregada em relação à produção disponível. As chances da inflação da demanda acontecer aumenta quando a economia produz próximo do emprego de recursos. � Inflação de Custos: É associada à inflação de oferta. O nível da demanda permanece e os custos aumentam. Com o aumento dos custos ocorre uma retração da produção fazendo com que os preços de mercado também sofram aumento. Distribuição equitativa de renda: A economia brasileira cresceu de forma bastante acelerada entre o fim dos anos 60 e a maior parte da década de 1970, período que ficou conhecido como o “milagre brasileiro”. Com a onde de crescimento, verificou-se uma disparidade muito acentuada de nível de renda, ferindo sobremaneira o sentido de equidade ou justiça. No Brasil, os críticos do “milagre” argumentavam que havia piorado a concentração de renda do país, nos anos de 1967-1973, devido a uma política 15 deliberada do governo baseada em, crescer primeiro para depois distribuir (a chamada Teoria do Bolo). A posição oficial era de que certo aumento na concentração de renda seria inerente ao próprio desenvolvimento capitalista, dada as transformações estruturais que ocorrem, tais como êxodo rural e o aumento da proporção de jovens, por exemplo. Outro fator que colaborou com a concentração de renda foi a baixa qualificação da mão-de-obra. Nessa consecução de fatos gera-se uma demanda por mão-de-obra qualificada, a qual, por ser escassa, obtém ganhos extras. Assim, o fator educacional seria a principal causa da piora distributiva. Deve ser observado que, embora tenha ocorrido no Brasil uma concentração de renda naquele período, a renda média de todas as classes aumentou. O problema é que, embora o pobre tenha ficado menos pobre, o rico ficou relativamente mais rico no período considerado. Crescimento Econômico: Partindo-se da premissa de que existe a concomitância de desemprego e capacidade ociosa, o produto nacional pode ser aumanetado através de políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Mas, feito isso, há um limite à quantidade que se pode produzir com os recursos disponíveis. Aumentar o produto além desse limite exigirá: a) Ou um aumento nos recursos disponíveis; b) Ou um avanço tecnológico (ou seja, melhoria tecnológica, novas maneiras de organizar a produção, qualificação de mão-de-obra). Quando falamos em crescimento econômico, estamos pensando no crescimento da renda nacional per capita, ou seja, em colocar à disposição da coletividade uma quantidade de mercadorias e serviços que supere o crescimento populacional. Renda per capita: é a renda de um país, por período de tempo, dividida pelo número de habitantes do país. Inter-relação e conflitos entre objetivos: Os objetivos não são independentes uns dos outros, podendo inclusive trazer conflitos quanto à prioridade 16 ou quanto a resultados ambíguos, mesmo sabendo que atingir uma meta pode ajudar a alcançar outra. O crescimento pode facilitar a solução dos problemas da pobreza, pois se podem abrandar conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo quando ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos. Entretanto no Brasil, e em outros países em desenvolvimento,as metas de crescimento e a equidade distributiva têm-se mostrado conflitantes, uma vez que o aumento do nível de poupança (necessário para aumentar os investimentos geradores de crescimento) parece ser mais facilmente obtido através de uma distribuição desigual de renda – (especificamente aumentando a parte dos lucros e da poupança dos mais ricos na renda nacional). Outro conflito pode ser observado entre as metas de redução de desemprego e a estabilidade de preços. É fato observável que, quando o desemprego diminui e a economia aproxima da plena utilização dos recursos, passam a ocorrer pressões por aumentos de preços, principalmente nos setores fornecedores de insumos básicos (aço, embalagens, matérias-primas), o que explica o freqüente controle do crescimento do consumo pelas autoridades para não provocar inflação. 1.2.2 Instrumentos de política macroeconômica A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade produtiva e despesas planejadas, com objetivo de permitir que a economia opere a pleno emprego, com baixas taxas de inflação e uma distribuição justa de renda. As ferramentas comumente usadas com vistas a atingir esses objetivos são as Políticas Fiscais, Cambiais, Monetárias, Comerciais e de Renda. Política macroeconômica é o conjunto de medidas governamentais que tentam influenciar o andamento da economia em seu conjunto. Os objetivos-chave da política econômica costumam ser a produção, o emprego e a estabilidade dos preços. 17 Política Fiscal: São todos os instrumentos que o governo dispõe para arrecadação de tributos e o controle de suas despesas. Se considerarmos que o objetivo da política econômica é reduzir a taxa de inflação, as medidas fiscais normalmente utilizadas são a diminuição de gastos públicos e/ou o aumento da carga tributária, com o intuito de inibir o consumo. Política Monetária: É a atuação do governo sobre a quantidade de moeda e de títulos públicos. Os instrumentos disponíveis para regular essa quantidade são: a) emissões b) reservas compulsórias c) open market (compra e venda de títulos públicos) d) redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais); Vantagem: Apresenta maior eficácia quando o objetivo é uma melhoria na distribuição de renda. Políticas Cambial e Comercial: A política cambial refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivos às exportações e/ou estímulo ou desestímulo às importações, ou seja, refere-se aos estímulos fiscais. Política de Rendas: refere-se à intervenção direta do governo na formação de renda (salários, aluguéis), através de controle e congelamentos de preços. 1.3 Atividades de auto-avaliação 1 – O que é ciclo econômico? 2 – Quais as duas principais óticas do pensamento macroeconômico? 3 – Quais são as metas das políticas macroeconômicas? 4 – Qual é o ponto central da Lei de Say? 5 – O que é o princípio da demanda efetiva? 6 – O que é renda per capta? 7 – Quais os elementos chave da política macroeconômica? 18 8 – Quais são as principais políticas macroeconômicas? Conclusão Após a tomada de conhecimento dos aspectos introdutórios de Macroeconomia, e que dão base ao estudo mais aprofundado da macroeconomia partiremos para a compreensão da Contabilidade Social. O vocabulário específico da Ciência econômica associado a percepção e à relação da teoria com os acontecimentos cotidianos, trazem um nível de contextualização propício à facilitar o prosseguimento dos nossos estudos. 19 Unidade II Contabilidade Social Objetivo da unidade: Conhecer A parte da macroeconomia que trata da mensuração dos agregados econômicos e como são registradas todas as atividades produtivas do país, ao longo de um período de tempo, normalmente de um ano. 2 Pressupostos iniciais A contabilidade social, também conhecida como contabilidade nacional, nos dá, em termos quantitativos, o desempenho global de uma economia. Sua inserção na macroeconomia moderna se dá com o objetivo de fornecer os meios para uma análise do conjunto da economia de uma sociedade. Dado que a produção é contínua no tempo e os produtos vão sendo consumidos e produzidos de forma constante, ocorre a necessidade de se estabelecer o período a que as contas irão corresponder. Outro elemento importante é que os produtos são diferentes entre si, o que dificulta a contagem em padrões tão diferidos. Para resolver essas duas questões tão importantes ficou estabelecido que o período é o de um ano, mais especificamente, o correspondente ao ano civil, ou seja, de janeiro a dezembro. Quanto ao problema da desigualdade dos padrões de contagem, optou-se pela mensuração em termos monetários, dos valores finais dos produtos. Em resumo temos que: a) São computados valores produzidos apenas no período corrente. Não são considerados resultados obtidos em períodos anteriores. É, portanto, um sistema de fluxos; b) Os registros seguem um sistema de partidas dobradas. A cada crédito em uma conta, correspondem um ou mais débitos em outras e vice-versa; 20 c) Qualquer atividade que agregue valor, como comércio e transporte, é considerada uma atividade produtiva; d) Transações puramente financeiras (como depósito e empréstimos bancários), que nada acrescentam ao produto real da economia não são consideradas na contabilidade social; e) A moeda na contabilidade social é apenas um padrão de medida. Não é considerado um bem, um ativo em si. 2.1 As óticas da contabilidade social A primeira ótica é a do produto, que está baseada no conceito de que o produto de uma economia é a soma dos valores monetários dos bens e serviços voltados para o consumo final e produzidos em um determinado período de tempo. Para que possamos entender melhor, lançaremos mão do conceito de bens e serviços agregados na produção de um automóvel, por exemplo. Nem todo faturamento da empresa representa resultado de sua produção. Para gerar o produto final, as empresas normalmente precisam adquirir de outras empresas matérias-primas e materiais de processo, denominados normalmente de bens intermediários. Assim, o resultado da produção das empresas é o valor por elas agregado, isto é, o valor das vendas de seus produtos, menos a compra de bens intermediários de outras empresas. Assim, no exemplo de um automóvel temos o emprego de vários fatores produtivos tal como chapas de aço, pneus, serviços de pintura etc. No entanto, eles não são computados no cálculo do produto da economia, pois são bens e serviços intermediários. Apenas o número de automóveis produzidos multiplicado pelo preço é que vai entrar nesse cálculo, para evitar o problema da dupla contagem, pois o preço dos bens e serviços intermediários já estão incluídos no preço final do automóvel. Quando as firmas criam produto, elas adicionam valor aos insumos ou bens intermediários que elas utilizam. Para se medir a contribuição da firma na produção, subtrai-se o valor dos bens intermediários que ela compra do valor total de seu 21 produto, sendo essa diferença chamada de valor adicionado. Por exemplo, uma papelaria que compra um caderno por 5 reais e o revende por 8 reais contribui com 3 reais para o valor adicionado do caderno. Outra ótica comumente usada seria a mensuração da atividade econômica pela renda. Lembrando que a renda é a soma das remunerações pagas aos fatores da produção durante o processo produtivo. Desta forma, para a obtenção da renda de um país num determinado período, somam-se os salários, os aluguéis, os juros e oslucros, que são os pagamentos feitos aos fatores produtivos durante o período considerado. Para facilitar nossa compreensão, vamos considerar um sistema econômico simplificado, que se constitui apenas por empresas e consumidores e nessa economia são produzidos apenas bens de consumo e bens de capital. Os bens de consumo são aqueles adquiridos pelas famílias ou consumidores para seu uso pessoal, tais como automóveis, roupas, eletrodomésticos e alimentos. Os bens de capital ou bens de investimento são aqueles usados na produção de outros bens, tais como máquinas e equipamentos, estradas e móveis de escritórios. Como visto em Economia I temos um fluxo circular da atividade econômica Mercado de fatores de produção Empresas Famílias Mercado de bens e serviços $ $ $ $ Fluxo real Fluxo nominal Poupança � �Investimento Mercado Monetário 22 Acrescentamos a esse fluxo o mercado monetário, considerando que as empresas eventualmente precisam buscar recursos no mercado financeiro para fazer novos investimentos. Esse novo elemento do fluxo circular tem uma dinâmica que se baseia na hipótese de que os consumidores não gastam toda sua renda na aquisição de bens e serviços e assim parte da sua renda é poupada, de forma que esses recursos se direcionam ao mercado monetário, que por sua vez os canalizam para a produção de bens de capital, tais como fábricas e maquinários. Esse direcionamento da renda das famílias para o investimento, viabilizado através das poupanças, é de fundamental importância para a economia, pois aumenta o estoque de capital e gera crescimento econômico para o país. Podemos perceber então, que nesse sistema econômico simplificado, as vendas dos empresários corresponde ao consumo das famílias mais os investimentos das empresas. Com essas vendas, as empresas pagam seus sócios, aos trabalhadores, aos fornecedores, aos proprietários das instalações, por exemplo. Assim, podemos dizer que o produto da economia se esgota na remuneração dos fatores produtivos, de onde podemos concluir que se chamarmos a remuneração dos fatores produtivos de renda, e toda a renda é gasta com produtos, chegamos a identidade fundamental da teoria macroeconômica: a renda é igual ao produto (Y = P). Produto (P): é a soma dos valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos em uma economia num determinado período de tempo. Renda (Y): é a soma de todas as remunerações feitas aos fatores produtivos utilizados durante o processo em um determinado período de tempo. 2. 2 Os principais agregados macroeconômicos Agregado macroeconômico é uma expressão empregada para designar, genericamente, os resultados da mensuração da atividade econômica considerada como um todo. A referência básica é a soma de todas as transações, realizadas por 23 todos os agentes, na totalidade dos mercados. É a dimensão total, o todo, não as partes isoladamente consideradas, estando intimamente ligado ao conceito de renda nacional. A geração do produto nacional ocorre simultaneamente com os pagamentos que totalizam a renda nacional. Isto porque produto e custo dos fatores são, também, expressões equivalentes. O processo de produção está dividido em três etapas: suprimentos, processamento e saídas. Suprimentos: a as empresas recebem suprimentos originários de outras empresas, podendo ser citados como exemplos as matérias-primas, os componentes semi-elaborados, os materiais de embalagem, a energia, os serviços de comunicações e transportes e outras formas características de insumos. Através desses suplementos temos a origem das transações entre as empresas, denominadas as transações intermediárias. Empresas pagam a empresas por esses suprimentos, ou simplificando, são pagamentos entre pessoas jurídicas, sob a forma de preços e tarifas. Processamento: normalmente as empresas mobilizam fatores de produção pertencentes a unidades familiares, para o processamento dos insumos adquiridos de outras empresas. Os fatores básicos de produção são o trabalho, o capital e a predisposição empresarial do investidor. Estas unidades familiares recebem das empresas pagamentos, sob a forma de remunerações, constituídos por salários, aluguéis, arrendamentos, juros e lucros, dependendo da associação existente entre a oferta de insumos e o produto em si. Além do pagamento dessas remunerações, as empresas remuneram seus capitais imobilizados próprios através de depreciações, sendo as depreciações correspondentes a diminuição progressiva de valor, legalmente contabilizável, do capital fixo de uma empresa (imóveis, equipamentos, instalações, etc.), devida ao desgaste físico. Este conjunto de remunerações pagas aos fatores de produção é que totaliza o valor agregado pelas empresas no processamento da produção. Saídas: estão definidas pela produção realizada e vendida. As saídas podem destinar-se de novo para a utilização como insumos ou atender as duas categorias básicas da demanda final, o consumo e a acumulação. Dessa forma, na tentativa de sintetizar temos: 24 → O valor adicionado e remunerações pagas aos fatores de produção são expressões equivalentes. → As remunerações pagas aos fatores de produção são fluxos de renda que saem das empresas e se destinam às unidades familiares. → Renda nacional é a soma das remunerações pagas aos fatores de produção. É uma grande totalização dos custos dos fatores. → Como o valor é acionado é igual ao produto, que também é igual ao custo dos fatores, que por sua vez é igual à renda, podemos então dizer que o produto nacional e a renda nacional são, em termos líquidos, expressões que se equivalem. 2.2.1 Produto Interno Bruto (PIB) O primeiro agregado macroeconômico é o Produto Interno Bruto, que tem seu conceito correspondido ao de produto de uma economia, lembrando que o produto é a soma dos valores monetários dos bens e serviços finais, produzidos a partir de fatores de produção que estão dentro das fronteiras geográficas do país. O fluxo de produção anual de um país é composto de uma infinidade de bens e serviços, dos mais variados tipos. Podemos separa-los em: bens de consumo, tal como relógios, verduras, legumes e canetas, comprados pelas famílias para seu uso pessoal e os bens de capital ou bens de investimento, tais como equipamentos e prédios de escritórios, utilizados no processo de produção de outros bens, figurando nesse cenário com ressaltada importância para o crescimento econômico de um país. Esses bens de consumo e de investimento que compõem o PIB podem ser tanto públicos quanto privados, ou seja, os governos locais, estaduais e federais também consomem bens e serviços, como móveis de escritório, carros e telefones e investem em estradas, escolas e hospitais. Toda essa produção pública, quer para o consumo ou para investimento, é usualmente chamada de gastos do governo. 25 O gasto público é o realizado pelo setor público em bens e serviços e compreende todos os desembolsos do setor público destinados a pagar os salários de seus empregados mais os custos dos bens (estradas, ferrovias etc.) e os serviços (de consultoria, financeiros, sanitários etc.) que compra do setor privado. Esse gasto público de consumo e investimento equivale ao aporte do setor público para o PIB. Com o intuito de fazer face aos gastos citados acima, o Estado necessita de dinheiro, que é conseguido mediante a tributação (impostos e taxas), que incide sobre determinadas atividades econômicas. Alguns impostos, mesmo sendo gerados pela produção dos bens e serviços, são pagos pelos consumidores, sendo adicionados ao preço final do produto pelos fabricantes. Essetipo de imposto, que é transferido do produtor para o consumidor é denominado imposto indireto. Em economias onde as desigualdades sociais ou a ineficiência de algum setor trazem a necessidade de uma intervenção do Estado, devido a algum interesse específico, não raro é dada a concessão os chamados subsídios. Os subsídios são estímulos que visam diminuir o custo de produção de um bem ou de um serviço. Os subsídios são transferências do setor público às empresas e, portanto, reduzem o custo real da produção. Dada a presença do Estado em um sistema econômico, há duas maneiras de medir o Produto Interno Bruto de uma economia: Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm): a soma dos valores monetários dos bens e serviços produzidos, computando-se os impostos indiretos e subtraindo-se os subsídios. Produto Interno Bruto a custo dos fatores (PIBcf): a soma dos valores monetários dos bens e serviços produzidos, subtraindo-se os impostos indiretos e somando-se os subsídios. Visto que a presença do Estado em um sistema econômico, dependendo da necessidade, tem a possibilidade de modificar a dinâmica de estabelecimento dos 26 preços finais dos bens e serviços em um mercado, enleva-se a importância do conceito de e da mensuração do produto interno bruto a preços de mercado e do produto interno bruto a custo de fatores, com o intuito de dimensionar e avaliar a presença do governo no sistema econômico. Exemplo: Supondo um país onde haja quatro entes econômicos: as empresas, os consumidores, o governo e o setor externo, consideremos que durante o período contábil de um ano, esse país tenha tido produto interno bruto a preços de mercado (PIBpm) de 25 bilhões. Nesse mesmo período os impostos indiretos somaram 5 bilhões e os subsídios 4 bilhões. Ao calcular os produto interno bruto a custo de fatores (PIBcf) temos: 25 bilhões (PIBpm) - 5 bilhões (Impostos indiretos) + 4 bilhões (subsídios) 24 bilhões Total 2.2.1.1 Deficiência do PIB como Medidor da Produção Global Apesar da maioria dos bens e serviços serem facilmente avaliados a preços de mercado, existem alguns que não são vendidos e que, consequentemente, não possuem preços de mercado. Nesse caso, há necessidade, de se imputar ou estimar um valor para esses bens. Um exemplo são os proprietários de imóveis, que não pagam aluguéis. Uma pessoa que aluga uma casa ou apartamento paga um aluguel em contrapartida, sendo esse aluguel computado no PIB. Para o dono de uma casa ou apartamento, é necessário estimar o que seria o preço de mercado desse imóvel e acrescenta-lo no cômputo do PIB, como se o proprietário estivesse pagando um aluguel para ele mesmo. O valor dos serviços oferecidos pelo governo (como corpo de bombeiro e polícia) ou pelo congresso (deputados e senadores) também é difícil de ser 27 mensurado, por não existir um preço de mercado para eles. Assim, eles são incluídos no PIB com base em seus salários, com a pressuposição implícita de que esses salários captam adequadamente o valor da produção que eles geram. O PIB é particularmente deficiente como medidor da produção em países que possuem uma economia informal grande. Economia informal é a parte da economia que produz ou vende mercadorias ou serviços sem obedecer às leis vigentes, ou seja, sem pagar impostos e sem registrar adequadamente seus assalariados e suas vendas. Camelôs, sacoleiras e produções caseiras de mel, geléia e biscoitos são alguns exemplos de economia informal. Como variável que se propõe a captar o total da produção de um país, o PIB tem também a desvantagem de ter a inflação embutida nele. Ou seja, quando o PIB aumenta, pode ser porque a quantidade de bens e serviços realmente aumentou. Mas pode também ocorrer da quantidade física de bens e serviços ter permanecido constante e somente ter havido um aumento generalizado nos preços. Esse problema, no entanto, é facilmente solucionável, bastando que se utilize o conceito de PIB real ao invés de PIB nominal, como se verá adiante. Há naturalmente muitas atividades produtivas que, por razões de simplicidade e praticidade, acabam não sendo computadas no PIB. É o caso, por exemplo, das refeições caseiras, produzidas e consumidas nas residências pela dona de casa. Em síntese, o PIB deve ser encarado como um medidor aproximado da atividade produtiva da economia. PIB brasileiro de 1999 até 2008 Ano PIB em milhões de reais Crescimento Anual do PIB 1999 973 845,49 0,8% 2000 1 101 254,92 4,3% 2001 1 198 736,19 1,3% 2002 1 346 027,78 2,7% 2003 1 556 181,83 1,1% 2004 1.766.621,03 5,7% 2005 1.937.598,29 3,2% 2006 2.300.133,20 4,0% 2007 2.558.000,00 5,7% 2008 2.889.719,00 5,1% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 28 2.2.1.2 PIB Nominal versus PIB Real Uma das principais desvantagens do PIB nominal é que ele pode aumentar sem que tenha havido um efetivo aumento de produção, bastando que os preços da economia se elevem. Isso faz do PIB nominal um indicador de produção extremamente deficiente em países de alta inflação. No entanto, o PIB nominal ou de preços correntes pode facilmente ser substituído pelo PIB real ou de preços constantes e, consequentemente, não ser influenciado pela inflação. Para se computar o PIB real, escolhe-se um ano-base, por exemplo 2000, e calcula-se o valor da produção de todos os bens e serviços finais durante 2009 usando-se esses preços constantes de 2000. Supondo uma economia que produza somente pão, carne e bananas, o PIB nominal em 2009 seria: PIB nominal (Quantidade de pão produzida em 2009 x Preço do pão em 2009) + (Quantidade de carne produzida em 2009 x Preço da carne em 2009) + (Quantidade de banana produzida em 2009 x Preço da banana em 2009) = PIB nominal de 2009 Como o PIB está relacionado com o preço vigente, o PIB nominal pode dobrar caso os preços dobrem em 2009, em relação a 2000. O PIB real usando-se 2000 como ano base seria: PIB real (Quantidade de pão produzida em 2009 x Preço do pão em 2000) + (Quantidade de carne produzida em 2009 x Preço da carne em 2000) + (Quantidade de banana produzida em 2009 x Preço da banana em 2000) = PIB real 29 Como os preços do PIB real são mantidos constantes, ou seja, aos valores de 2000, ele só varia de ano para ano se realmente houver aumento nas quantidades produzidas de bens finais. Em suma, o PIB real ou constante calcula o valor dos bens produzidos aos preços dos bens produzidos no ano-base; o PIB nominal ou corrente calcula o valor dos bens produzidos aos preços vigentes na época da produção dos bens. A diferença entre taxas de crescimento do PIB real e nominal existe por causa da inflação. Para se fazer comparações entre as estatísticas de PIB de vários anos, os economistas usam o PIB real, de tal maneira que ele reflita as modificações nas quantidades da produção e não modificações de preços. Quando o PIB real diminui, diz-se que a economia está num estado de recessão. Uma recessão severa é chamada de depressão. No Brasil é comum o uso do IPC como índice para a medida de inflação, ele representa o custo de uma cesta de bens e serviços consumida por uma economia doméstica representativa, Os índices de preços são médias ponderadas dos preços de cada período nos quais cada bem ou serviço é valorado, de acordo com seu ‘peso’ ou importância para o produto total. O índice de preços ao consumidor é uma medida dos preços agregados, calculada como uma média ponderada dos bens de consumo finais. O gasto da família média em cada bem constitui a ponderação utilizada. A inflação, medida pelo IPC, é a taxa de variação percentual que esse índice experimenta no período de tempo considerado. Alguns dosmotivos que levam a um aumento do PIB real são: � Aumentos na disponibilidade dos fatores de produção. Por exemplo, a força de trabalho ou o estoque de capital aumentam, aumentando consequentemente o produto; � Variação no emprego de recursos disponíveis à produção. Nem todo capital e trabalho disponíveis na economia são, na realidade, utilizados o tempo todo. Por exemplo, se a utilização da mão-de-obra aumenta, o PIB real pode aumentar; 30 � Eficiência dos fatores de produção. Os mesmos fatores de produção podem produzir mais com o passar do tempo. Esses aumentos na eficiência da produção são consequência de mudanças do conhecimento e da tecnologia. O uso de sementes selecionadas pelos agricultores, que induz a uma maior produtividade da terra e a consequentes aumentos na produção, por exemplo. 2.2.1.3 Produto Potencial versus Produto Efetivo O produto real potencial consiste numa estimativa do nível que o PIB real atingiria se houvesse pleno emprego. O produto real efetivo é o PIB real propriamente dito, ou seja, o produto que é realmente produzido. A diferença entre o PIB potencial e efetivo chama-se hiato e serve como medida da folga na atividade econômica ou do desperdício de recursos produtivos. Em períodos de recessão e de desemprego alto, os hiatos são grandes, ou seja, o produto potencial é significativamente maior que o produto efetivo. O PIB potencial é o nível máximo de produção que a economia pode alcançar mantendo a inflação estável. 2.2.1.4 PIB versus PNB Atualmente, existe uma grande integração entre os diversos países. Do ponto de vista econômico, essa integração se dá através do deslocamento de fatores de produção de um país para outro. O caso mais significativo é o do fator capital. Quando uma grande empresa abre uma filial em outro país, ele está deslocando parte de seu capital para esse país, pois estará adquirindo instalações, equipamentos, etc. No entanto, a renda gerada por esse investimento em outro país acaba retornando, pelo menos em parte, ao país de origem, onde estão os 31 proprietários do capital de produção. Em última análise, e do ponto de vista que interessa à contabilidade social, a integração econômica entre os países se dá através da transferência de renda de um país para outro. O PIB ou Produto Interno Bruto difere do PNB ou Produto Nacional Bruto, por incluir as parcelas de renda geradas internamente e transferidas para o exterior. No caso do PIB, ele exprime o valor da produção a preços de mercado realizada dentro das fronteiras geográficas do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades de produção desses bens e serviços. A diferença entre o PIB e o PNB decorre do fato de uma parte dos fatores de produção empregados internamente ser de propriedade de residentes no exterior, e de que esse mesmo país também tem investimentos em outros países. Assim: PNB PIB - renda líquida enviada ao exterior + renda líquida recebida do exterior = PNB Ou PIB PNB + renda líquida enviada ao exterior - renda líquida recebida do exterior = PIB Exemplo: 32 Suponhamos um determinado país A que tem um PIB de 20 bilhões e que tenha enviado ao exterior a quantia de 3 bilhões a título de remuneração dos fatores de produção estrangeiros, e recebido 2 bilhões como remuneração de fatores de produção, de seus cidadãos, que se encontram no exterior. Ao calcular os Produto Nacional Bruto temos: 20 bilhões (PIB do país A) - 3 bilhões (renda enviada o exterior) + 2 bilhões (renda recebida do exterior) 19 bilhões PNB do país A Quando o PIB é maior que o PNB, o país está mandando mais renda para o exterior do que recebendo. Quando o PIB é menor que o PNB, o país está mandando menos renda para o exterior do que recebendo. No Brasil, o PIB tem sido tradicionalmente maior que o PNB, porque envia mais renda líquida ao exterior do que recebe. O PIB real é o indicador de produção mais adequado, por ser usado pela maioria dos países e também pelo fato dos aumentos de produção brasileira no exterior praticamente não afetarem as condições de emprego no Brasil. 2.2.2 Demais agregados macroeconômicos Produto Líquido: Durante o processo de produção, as máquinas, equipamentos e instalações vão se desgastando e, consequentemente, fazendo o processo produtivo perder qualidade. Portanto, esses itens devem ser reparados ou substituídos com certa regularidade, para que não ocorra uma diminuição substancial dos resultados econômicos. Contabilmente, a parcela do produto que se destina à reposição e ao reparo dos equipamentos denomina-se depreciação. Depreciação é a diminuição do valor dos bens tangíveis ou intangíveis, por desgastes, perda de utilidade por uso, ações da natureza ou obsolescência. 33 A seguir temos alguns exemplos de taxas de depreciação, com base na legislação pertinente. Taxa anual de depreciação de equipamentos e material permanente � Material ou equipamento Taxa anual • Aeronaves 5 % • Aparelhos de medição 10 % • Aparelhos e equipamentos de Comunicação 10 % • Aparelhos e equipamentos de Medicina, Odontologia e Laboratórios Hospitalares 10 % • Embarcações 5 % • Máquinas e equipamentos de natureza industrial 10 % • Máquinas e equipamentos energéticos 20 % • Máquinas e equipamentos gráficos 10 % • Equipamentos de processamento de dados 20 % • Máquinas, instalações e utensílios de escritório 10 % • Máquinas, ferramentas e utensílios de oficina 10 % • Máquinas e equipamentos agrícolas e rodoviários 20 % • Mobiliário em geral 10% Produto Interno Líquido (PIL): Se subtrairmos do Produto Interno Bruto a parcela correspondente à depreciação, obteremos o Produto interno Líquido, também conhecido como Renda Interna. Exemplo: Suponhamos um determinado país que tem um PIB de 20 bilhões e que tenha apresentado uma quantia de 5 bilhões a título de depreciação dos fatores de produção. Ao calcular o Produto Interno Líquido temos: 20 bilhões (PIB) - 5 bilhões (Depreciação) 15 bilhões PIL Produto Nacional Líquido (PNL): Lembrando que a diferença entre o PIB e o PNB decorre do fato de uma parte dos fatores de produção empregados 34 internamente ser de propriedade de residentes no exterior, e de que esse mesmo país também tem investimentos em outros países. Buscamos então, por analogia, mostrar a diferença do PIL e do PNL. O Produto Nacional Líquido é o Produto Nacional Bruto subtraído do montante destinado à reposição da depreciação do sistema econômico. Renda Pessoal (RP): Levando em consideração que a presença do Estado, em nossa análise é um pressuposto já solidificado, temos que a sua intervenção também está associada à questão da tributação. Ao subtrairmos do PNL, ou renda nacional, os impostos diretos das empresas, e as contribuições feitas à previdência social e somarmos as transferências do governo, ou seja, as despesas do governo com inativos, pensionistas, salário-família, bolsa-escola e outros benefícios ou programas sociais do governo, mais os juros pagos pelo governo, teremos a Renda Pessoal, que é o agregado macroeconômico destinado aos consumidores residentes no país. Exemplo: Suponhamos um determinado país que tem um PIB de 20 bilhões, onde o governo recolhe 6 bilhões de imposto de renda e de contribuições para a previdência social. Ao mesmo tempo o governo destina a essa economia um montante da ordem de 3 bilhões a título de pagamento de juros, de benefícios de programas sociais e de previdência. Ao calcular a Renda Pessoal temos: 20 bilhões (PIB) - 6 bilhões (imposto de renda e de contribuições para a previdência social)+ 3 bilhões (juros, de benefícios de programas sociais e de previdência) 17 bilhões Renda Pessoal 35 Renda Pessoal Disponível (RPD): este conceito procura medir o quanto da renda gerada no processo econômico fica em poder das famílias. Partindo da Renda Nacional Líquida a custo dos fatores - RNLcf ou Renda Nacional, temos que deduzir os lucros retidos pelas empresas para reinvestimento, pois apesar dessa parcela da renda se encontrar de posse das empresas, não é transferida de imediato às famílias. Temos ainda que deduzir os impostos diretos e as contribuições previdenciárias pagas pelas famílias e empresas ao governo. Finalmente temos que deduzir as demais receitas correntes do governo e adicionar as transferências correntes do governo (aposentadorias) às famílias. Um dos campos de interesse dos economistas, e também do governo, é o nível de bem estar dos habitantes de um país. Esse nível de bem estar, apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser aproximado através da quantidade de bens e serviços disponíveis aumentou de um ano para outro, mais do que o aumento da população, pode-se dizer que aumentou o bem estar das pessoas desse país. Isso aconteceria se o aumento do produto tivesse sido distribuído igualmente entre as pessoas. 2.3 Distribuição de Renda O conceito de Renda é entendido sob o aspecto macroeconômico, de forma que a nação foi agente organizador e executor, responsável por produzir, e através do emprego dos recursos produtivos é agente formador do total da Renda Nacional pertencente ao país. Os bens, produtos e serviços já prontos e elaborados constituem-se riquezas, pois uma vez processados participaram do processo produtivo que, os agregou de valor econômico. O esforço humano utilizado para seu processamento também possui valor, denominado como um custo, e desta forma também agregará valor econômico àqueles bens, produtos e serviços produzidos. As riquezas econômicas são os totais dos bens, produtos e serviços finais que estão à disposição dos indivíduos que participam do sistema. Considerando-se também, os que pertencem aos estoques acumulativos. 36 A renda per capita ou rendimento per capita é um indicador que ajuda a saber o grau de desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda nacional (produto nacional líquido menos os impostos indiretos) pela sua população. Faz-se necessário destacar a diferença entre crescimento e o desenvolvimento econômico, os quais se encontram relacionados. Enquanto o crescimento econômico está relacionado ao aumento do nível da renda nacional ou per capita, o desenvolvimento econômico consiste em melhorias gerais dos padrões de qualidade de vida. O desenvolvimento não existe sem crescimento, sendo este um dos aspectos do processo de desenvolvimento econômico. O grau de investimento e industrialização está relacionado com o desenvolvimento, em contexto limitado sobre o desenvolvimento, ressalta-se que um país cresce e se desenvolve quando possui um Produto Interno Bruto/PIB ou Produto Nacional Bruto/PNB superavitário atingido através da industrialização. O crescimento é importante, mas não significa que a renda esteja sendo distribuída de forma igualitária. O crescimento da renda não implica necessariamente que o padrão de qualidade de vida da nação tenha se ampliado, neste sentido quando os indicadores socioeconômicos indicam que não houve melhoria na qualidade de vida da nação, compreende-se que houve concentração de renda e riqueza, provocando ruptura no tecido social. Considerando que os resultados obtidos pelas contas nacionais são uma aproximação da realidade, temos uma limitação que se reflete na incapacidade de expressar, com maior precisão, de que forma o produto é distribuído entre os habitantes do país. Isso nos faz perceber que, a economia pode apresentar um significativo crescimento, sem que ele esteja distribuído igualmente entre as pessoas. Apesar das limitações apontadas, a contabilidade serve como importante parâmetro de mensuração da atividade econômica. 2.4 Atividades de auto-avaliação 1 – Quais os objetivos da Contabilidade Social? 37 2 – Explique o conceito de valor agregado. 3 – Quais são os principais agregados macroeconômicos? 4 – O que é “gasto público”? 5 – O que são subsídios? 6 – Qual a diferença entre PIB nominal e PIB real? 7 – Qual é a diferença entre o conceito de crescimento econômico e o conceito de desenvolvimento econômico? 8 – Como o PIB de um país se reflete no nível geral de renda? Conclusão Considerando que uma boa contabilidade transforma dados em informação, estudamos contabilidade social por duas razões. Em primeiro lugar, porque fornece a estrutura formal para os nossos modelos macroeconômicos. A segunda razão para estudar contabilidade nacional é o conhecimento de números que ajudam à caracterização dos rumos de uma economia. 38 Unidade III Níveis de Atividade em uma Economia Objetivo da unidade: apresentar os conceitos de demanda e de oferta agregada e suas consequências na mensuração da atividade econômica, com base nos pressupostos Keynesianos da demanda efetiva. 3.1 Demanda e Oferta Agregada Os economistas dos séculos XVIII e XIX acreditavam que o nível de produção não sofreria grandes alterações, e todos os fatores de produção estariam ocupados na produção de bens e serviços que formam a renda. Isto formaria o chamado estado de "pleno emprego" dos fatores de produção. Assim, acreditava-se que toda a renda distribuída no ato da produção se dirigiria ao mercado para adquirir bens e serviços, apoiando-se na Lei de Say que afirma que “toda oferta cria sua própria demanda". Keynes desenvolve sua teoria baseado no pressuposto de que é necessária a intervenção do estado na economia, pois o mercado, devido a vazamentos como a formação de estoques e redução de produção, não seria capaz de coordená-la. Para trazer um contraponto em relação a lei de Sey, Keynes cria uma teoria, que ficou conhecida como o Princípio da Demanda Efetiva, a qual afirma que a demanda é que determina o nível do produto. Sua primeira suposição foi a existência de desemprego. Os antigos economistas acreditavam apenas no desemprego voluntário. Keynes, ao contrário, acreditava que a economia estaria funcionando abaixo de seu potencial, deixando assim uma capacidade ociosa. Assim, considera a Oferta Agregada (OA) como o somatório da renda disponível na economia, enquanto chama de Oferta Potencial a máxima produção da economia com pleno-emprego dos fatores de produção. A Oferta Agregada 39 Efetiva é aquela efetivamente colocada no mercado, o que pode ocorrer sem a plena utilização dos fatores de produção. A Demanda Agregada (DA) seria o somatório do consumo total da economia com os investimentos, os gastos governamentais e as exportações, subtraindo-se as importações. Demanda agregada é a quantia total que os diferentes setores da economia estão dispostos a gastar durante um período de tempo. Os componentes da demanda agregada são o consumo (C ), o investimento (I ), o gasto público (G) e as exportações líquidas (NX). O que se vê é que o produto ou renda de equilíbrio (onde a oferta agregada é igual à demanda agregada) não é o mesmo que o produto ou renda de pleno emprego. 3.1.2 As curvas de demanda e de oferta agregada Com base na análise Keynesiana, uma das principais ferramentas da macroeconomia passou a ser o diagrama da demanda e oferta agregadas (Preços vs. Produto (consumido ou ofertado)). OA Q (produção real) P (níve l d e Pr e ço s) DA 40 O raciocínio é o mesmo para um bem isolado, entretanto as mudanças e deslocamentos são analisados de uma forma agregada. Pressupostos sobre a demanda agregada: A curva da demanda agregada mostra que quando há uma queda no nível de preços, a demanda total real aumenta. Os mecanismos envolvidos estão descritos abaixo: � Efeito sobre a riqueza real: quando o preço cai, menos dinheiro será necessário para a aquisição de bens e serviços, aumentando a demanda agregada. � Efeito dos juros reais: quando o preço cai, o dinheiro estará mais disponível, provocando uma queda da taxa de juros, incentivando o investimento e um aumento da demanda agregada. � Efeito do comércio exterior: quando o preço cai internamente, os bens nacionais se tornam mais baratos, elevando a demanda externa com um aumento consequente da demanda agregada. Pressupostos sobre a oferta agregada no curto prazo: No curto prazo a curva de oferta agregada tem inclinação positiva, pois alguns fatores são rígidos, como os salários, por exemplo. Da produção nula até o nível em que os fatores começarem a atingir o pleno emprego, ou tornassem mais escassos, ficando mais dispendioso produzir mais uma unidade, a curva de oferta é paralela ao eixo da produção. Ou seja, é possível aumentar a produção sem aumentar os preços. Quando a economia atinge o pleno emprego, ou está muito próxima disto, então a curva de oferta agregada é vertical. 3.1.3 Os efeitos dos deslocamentos na demanda e na oferta agregadas 41 Deslocamentos da demanda Os efeitos dependem em que nível de oferta agregada está a economia. Quanto mais próxima do pleno emprego mais os preços vão subir e menos a produção vai aumentar. Deslocamentos da oferta Uma redução da oferta agregada causa o que se chama estagflação (aumento de preço e queda da produção). OA Q (produção real) P (ní ve l d e Pr e ço s) DA’ DA OA Q (produção real) P (ní ve l d e Pr e ço s) DA OA’ 42 Para darmos prosseguimento aos nossos estudos, será necessário nos abstermos de algumas complicações e reduzir o problema ao mínimo possível. Os complicadores irão se juntar ao modelo paulatinamente até que se possa entender o modelo por completo. Por exemplo, inicialmente só se considera as famílias, sem investimento, depois vai-se inserindo as firmas com os investimentos, depois o governo com seu consumo e seu investimento, etc... até completar o modelo. 3.2 Teoria da Determinação da Renda A oferta agregada de bens e serviços é o valor total da produção de uma economia, colocada a disposição da coletividade em um determinado período de tempo. Oferta agregada = Renda Nacional = Produto Nacional Quando a demanda aumenta pode haver três tipos de reações dos agentes responsáveis pela oferta: � Aumentam a produção física, sem aumento dos preços. Associado ao desemprego dos fatores de produção; � Aumentam a produção e elevam os preços. Associado ao fato de alguns fatores estarem desempregados e outros não; � Apenas elevam os preços. Este é o caso do pleno emprego dos fatores de produção. O gráfico abaixo ilustra essas reações: 43 Até YPE a oferta é infinitamente elástica em relação aos preços. Uma vez que YPE é atingida a oferta passa a ser infinitamente inelástica. No primeiro caso há desemprego e no segundo, apenas aumento no nível de preços. Cabe ressaltar que essas reações só serão válidas se: � O desemprego for conjuntural (a demanda é insuficiente para absorver a oferta). � A tecnologia e os estoques de capital e de mão-de-obra permanecerem constantes. � O nível de utilização dos fatores capital e de mão-de-obra, poderem variar. Ou seja, isso ocorre apenas no curto prazo. 3.3 Demanda Agregada em uma economia fechada e com governo Com vistas a simplificar os estudos, neste momento iremos lançar mão de uma simplificação do modelo econômico, suprimindo a existência do setor externo. Sendo assim, com base nesse pressuposto, termos uma economia composta pela demanda de bens de consumo das famílias (C), pela demanda de investimento das firmas (I), pela demanda do governo por bens e serviços (G). OA In fla çã o Estabilidade de Preços Desemprego N ív e l G e ra l d e Pr e ço s Renda Nacional YPE Renda de Pleno Emprego (YPE) 0 44 DA = C + I + G 3.4 Consumo e Poupança As economias domésticas compram bens e serviços, e o fazem conforme a renda disponível. A parte da renda disponível não consumida se destina a poupança, de forma que, quando as economias domésticas decidem quanto querem consumir, simultaneamente estão determinando quanto desejam poupar. Essa relação entre consumo e poupança é determinada por vários fatores, sendo o mais relevante, a renda familiar atual. Dando foco à poupança, a diferença entre a renda (Y) e o que se consome (C) é a poupança (S), que pode ser, inclusive, negativa (despoupança), dependendo, por exemplo, de gastos com empréstimos ou poupanças passadas. Y - C = S Dando prosseguimento a essa análise, vamos recorrer a um exemplo numérico. Relação entre renda disponível, consumo e poupança Renda disponível consumo poupança A 600 880 -280 B 2.000 2.000 0 C 3.000 2.800 200 D 3.800 3.440 360 45 Podemos então observar a relação que existe e é decorrente da renda disponível. Graficamente temos um plano cartesiano com o eixo das ordenadas assinalado para o consumo e o eixo das abscissas associado à poupança. Para enfatizar se o consumo é maior, menor ou igual à renda, usamos uma bissetriz no 1º quadrante, com uma distância de 45º entre os dos eixos do plano, onde Y = C. Função Consumo Observando o gráfico anterior, temos que em qualquer ponto ao longo da reta de 45º,o consumo é exatamente igual à renda, assim, não ocorre poupança. Quando a função consumo está acima da reta de 45º, temos um consumo maior que a renda, trazendo uma poupança negativa ou despoupança, enquanto se a função consumo estiver abaixo da reta de 45º, temos uma poupança positiva. Concluímos então que a medida do nível de poupança é dada pela diferença vertical entre a reta de 45º e a função consumo. Retomando então, o nosso exemplo numérico, podemos perceber aonde temos os casos de ponto de nivelamento, poupança positiva e de poupança negativa. Ponto de nivelament o Y C Função Consumo Poupança Despoupança Consumo 46 Relação entre renda disponível, consumo e poupança Renda disponível consumo poupança A 300 440 -140 despoupança B 1.000 1.000 0 ponto de nivelamento C 1.500 1.400 100 poupança D 1.900 1.720 180 poupança 3.3.1 Propensão Marginal a Consumir (PMC) e a Poupar (PMS) A propensão marginal a consumir é a quantidade adicional que os indivíduos consomem quando recebem um real adicional de renda disponível, ou seja, indica o consumo adicional decorrente de um aumento da renda. Keynes supôs que o consumo aumenta junto com a renda, mas em uma proporção menor, o que é percebido quando observamos que conforme a renda aumenta, maior a parcela destinada à poupança. Propensão Marginal a Consumir Propensão Marginal a Poupar PMC = = Renda na Variação Consumo no Variação Y C ∆ ∆PMS = = Renda na Variação Poupança na Variação Y S ∆ ∆ 47 Renda, consumo e propensões marginais a consumir e a poupar Renda Consumo Poupança PMC PMS Y C S Y C ∆ ∆ Y S ∆ ∆ 300 440 - 140 - - 1000 1000 0 80 3001000 4401000 ,= − − 20 3001000 1400 , )( = − −− 1500 1400 100 80 10001500 10001400 ,= − − 20 10001500 0100 ,= − − 1900 1720 180 80 15001900 14001720 ,= − − 20 15001900 100180 ,= − − A PMC mostra a tendência que cada família tem de gastar em bens de consumo. Assim, se PMC = 0,7 então 70% de um aumento na renda será destinado ao consumo. A propensão marginal a consumir (PMC) é a quantidade adicional que os indivíduos consomem quando recebem um real adicional de renda disponível. Ao analisar o fato de que a propensão marginal a consumir mede a variação no consumo, em decorrência de uma variação na renda, temos que o que não for gasto tenderá a ser poupado. Assim, matematicamente temos: PMC + PMS = 1 Ou ainda PMS = 1 - PMC 48 Exemplo: Sabendo que a propensão marginal a consumir é de 75%, qual é a propensão marginal a poupar? PMS = 1 – 0,75 = 0,25 A propensão marginal a consumir é de 25%. 3.3.2 Propensão Média a Consumir (PMeC) e a Poupar (PMeS) Com base no conceito de propensão marginal a consumir e a poupar, podemos introduzir outro conceito que é o de propensão média. A propensão média a consumir é definida, para cada nível de renda, como a razão entre consumo total e renda total. PMeC = Y C = Renda Consumo De acordo com Keynes, essa propensão era decrescente, de maneira que, como porcentagem da renda, a quantia destinada ao consumo deveria diminuir conforme ocorresse um aumento na renda. No entanto, estudos mais recentes mostram que a propensão média ao consumo só é decrescente em uma análise no curto prazo, pois, o surgimento de novos bens e serviços juntamente com a complementaridade entre esses bens e serviços, e com o aumento da riqueza das famílias, faz com que, no longo prazo a propensão média ao consumo seja razoavelmente constante. Já a propensão média a poupar é definida, para cada nível de renda, como a razão entre a poupança total e a renda total. PMeS = Y S = Renda Poupança 49 3.4 As Funções Consumo e Poupança da Economia ���� A função Consumo A teoria Macroeconômica coloca que a renda é o fator que, tomado isoladamente, mais influencia na determinação do consumo em uma economia. Temos como premissa então, que a teoria econômica nos mostra uma íntima relação entre o consumo e a renda pessoal disponível. A função consumo, mostra a relação entre consumo e renda, indicando o nível de consumo planejado ou desejado correspondente a cada nível de renda pessoal disponível. O formato da função consumo (f(Y)) varia em decorrência dos dados, no entanto, para estudos pode-se supor uma função linear C = C0 + bY onde C0 é um consumo mínimo de subsistência, b é a PMC. Com essa simplificação podemos fazer análises básicas e explicar vários fenômenos econômicos. Se aceitarmos a hipótese Keynesiana de que existe uma relação empírica estável entre consumo e renda, podemos explicar o nível de consumo, de forma determinada e previsível, pelo nível de renda. Vale ressaltar que a renda que de fato influencia o consumo, não é somente a renda do exato momento em questão, e sim a tendência do nível de renda dos indivíduos, ao que chamamos de renda permanente. Renda permanente é o nível de renda auferida por uma família, tendo sido eliminadas as influências temporais ou transitórias, tal como uma grande seca, uma crise acentuada ou lucros totalmente imprevistos. Segundo a teoria da renda permanente, o consumo responde mais a essa renda tendencial ou permanente do que à renda disponível de cada ano. 50 ���� A Função Poupança Uma vez que cada real disponível será consumido ou poupado, nossa análise da poupança será análoga à do consumo. Como Y = C + S então S = Y – C ou S = Y – f(Y). No caso de uma função linear temos: S = Y – C0 – bY Ou S = - C0 +(1- b)Y (1 – b) é a PMS e C0 é a despoupança da economia ou a poupança no nível de renda nulo. 3.4.1 A Determinação do Equilíbrio da Renda considerando apenas o consumo O ponto de equilíbrio é o único em que o PIB ou renda é igual ao gasto total planejado, ou seja, ao investimento mais o gasto com o consumo. Para tanto devemos ter a oferta agregada (AO) igual à demanda agregada (DA) o que nos leva à condição de que a renda (Y) é igual ao consumo (C). OA = DA como OA= Y e DA = C então Y = C No caso de uma análise linear, temos que C = C0 + bY então Y= C0 +bY. ( )Oe Cb1 1Y − = Sendo Ye = nível de renda de equilíbrio 51 Substituindo este nível na função consumo tem-se o nível de consumo no equilíbrio Ce = C0 +bYe 3.4.2 A Determinação do Equilíbrio da Renda considerando o investimento Se considerarmos o investimento como sendo constante o equilíbrio gráfico será o mesmo com a demanda agregada se deslocando um pouco mais para cima devido à soma com o investimento. Considerando o caso linear temos: Y = C + I = C0 + bY + I assim ( )IC b Y Oe + − = 1 1 � O equilíbrio é atingido quando a poupança é igual ao investimento. � Uma variação no investimento faz a curva se deslocar mais para cima aumentando a oferta de equilíbrio. Ao juntarmos na análise o consumo e o invetimento, temos a chamada análise do gasto total agregado, onde o equilíbrio é alcançado quando a soma do C = Y = OA = DA Y= OA($) C($) C = C0 +bY Ce Ye Ee C0 52 gasto em consumo planejado pelas famílias como o gasto em investimento planejado pelas empresas é igual ao produto ou renda nacional. O gasto total agregado é a quantia que todas as unidades de gasto da economia planejam gastar em bens e serviços nacionais. Essas unidades de gasto, em nosso modelo simplificado, são as famílias, via consumo, e as empresas, via investimento. O equilíbrio com a poupança sendo igual ao investimento Determinação do equilíbrio da renda Produção Consumo planejado Investimento planejado Gasto total planejado Y – (C+I ) Variação não desejada de estoques Tendência resultante na produção Y C I C + I 600 880 200 1080 - 480 Diminuem Expansão 2000 2000 200 2200 - 200 Diminuem Expansão 3000 2800 200 3000 0 Não variam Equilíbrio 3800 3440 200 3640 160 Aumentam Contração 4500 4000 200 4200 300 Aumentam Contração C Y = OA = DA Y= OA($) C($) Ce Ye E0 C0 C + I E1 53 3.5 O multiplicador Com vistas á facilitar a compreensão, vamos supor que determinada empresa tenha decidido expandir sua planta de produção através de um investimento no valor de R$ 500.000,00. Esse montante servirá para pagar a todos os trabalhadores diretamente envolvidos no processo e também as empresas contratadas. Lembrando da propensão marginal a consumir, vamos supor, nesse caso, que ela seja de 80%. Dessa forma, a parte gasta pelos elementos remunerados será 80% de R$ 500.000,00, ou seja, R$ 400.000,00. Como as pessoas que receberam esses R$ 400.000,00 vão gastar 80%, teremos então uma nova remuneração de outra parte da sociedade no valor de R$ 320.000,00.
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