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A FORMAÇÃO DO MERCOSUL NO MUNDO GLOBAL: ENFOCANDO O PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO JURÍDICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR (NOS ANOS DE 2002 E 2003)

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UNIVERSIDADE AUTONOMA DE ASSUNÇÃO
FACULDADE DE CIÊNCIA JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM DIREITO ECONÔMICO
A FORMAÇÃO DO MERCOSUL NO MUNDO GLOBAL: ENFOCANDO O PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO JURÍDICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR (NOS ANOS DE 2002 E 2003).
ELZIRA DOS SANTOS MATOS
Asunción, Paraguay
2007
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UNIVERSIDADE AUTONOMA DE ASSUNÇÃO
FACULDADE DE CIÊNCIA JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM DIREITO ECONÔMICO
A FORMAÇÃO DO MERCOSUL NO MUNDO GLOBAL: ENFOCANDO O PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO JURÍDICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR (NOS ANOS DE 2002 E 2003).
ELZIRA DOS SANTOS MATOS
Dissertação apresentada à Universidade Autônoma de Assunção, como exigência parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito Econômico.
Assunção – Paraguai
2007
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 SUMÁRIO:
 Introdução:
Capítulo 1 = Etimologia, origens e evolução histórica da formação dos Blocos Econômicos, em especial o MERCOSUL, no processo de Globalização.
Capítulo 2 = Os interesses capitalistas no processo de Globalização: a defesa do Direito do Consumidor nos países membros e aliados do Mercado Comum da América do Sul, entre os anos de 2002 e 2003, e suas correlações com os Blocos Econômicos mundiais, em especial o Mercado Comum Europeu.
Capítulo 3 = O Direito do Consumidor em pauta de discussões do MERCOSUL: viabilidades e aplicabilidades no contexto jurídico e econômico atual.
Capítulo 4 = Aporte e conclusões finais.
 Anexos:
 Referências bibliográficas:
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INTRODUÇÃO
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1. ETIMOLOGIA, ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS, EM ESPECIAL O MERCOSUL, NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
1.1 ETIMOLOGIA:
 Com o desenvolvimento das atividades econômicas empreendidas pelas nações do MERCOSUL, em especial as de importações e exportações, tornou-se necessário compreender as diversas normas jurídicas que compõem o Direito Econômico, visto que as práticas econômicas empreendidas influenciam os Estados e principalmente as sociedades dos países membros. Através desta analisaremos o Direito do Consumidor no processo de formação de normas jurídicas supranacionais no Bloco Econômico do Mercado Comum da América do Sul.
		Diversas práticas econômicas existentes nos países membros, tais como comércio agrícola e industrial, etc.; tipificada nas legislações comerciais dos países membros do MERCOSUL, formam uma “teia” de relações de produção e consumo, estas responsáveis pelos interesses de formação de blocos econômicos e manutenção de mercados consumidores. Tornaram-se necessária à análise jurídica dessas variações, em especial as legislações que especificam o Direito do consumidor e sua abordagem jurídica e econômica, pois as dificuldades que permeiam a formação do MERCOSUL também afetam as discussões de soberania, visto que há o interesse de normas supranacionais entre os países membros e aliados; assim o Direito do Consumidor, de caráter eminentemente infraconstitucional também passa por mudanças e questionamentos.
 A doutrina atual muito tem discutido sobre o Direito Econômico, existindo diversas interpretações, mas poucos efetuam uma discussão do Direito do Consumidor na formação dos blocos econômicos, em especial do Mercado Comum da América do Sul. Assim torna-se necessário analisar os interesses dos países membros e aliados na formação do bloco econômico do Mercado Comum da América do Sul, em especial as legislações nacionais do Direito do Consumidor, e os tratados e acordos estabelecidos no MERCOSUL para as relações de consumo. 
 Ao analisarmos os aspectos jurídicos da formação do Direito do Consumidor na contemporaneidade devemos inicialmente contextualizar as transformações capitalistas dos séculos XX e XXI, em especial a influência da globalização no sistema capitalista, enfocando sob a ótica do Direito Econômico, onde a parcela sul do continente americano adentrou na sistematização de blocos econômicos para a manutenção de sua produção em larga escala. 
		Primeiramente faz-se necessário uma conceituação de Capitalismo, que segundo Torrieri Guimarães: é um sistema econômico e social que se baseia na influência ou predomínio do capital, em que os meios de produção constituem propriedade privada e pertencem aos capitalistas. Eles investem capital próprio na produção de bens que, comercializados, promovem o retorno do capital investido com lucro, que é o excedente do investimento. O capitalista utiliza o trabalho de terceiros, que contrata para fabricar seus produtos. Poderá ocorrer a intervenção do Estado nas situações que dificultem o crescimento econômico. Bem como de Direito Econômico, conforme Torrieri Guimarães: que são normas que protegem as relações jurídicas resultantes da produção, circulação, distribuição e consumo de riquezas. 
		Ao considerarmos que o mundo capitalista teve dois momentos cruciais em sua economia no século XX, onde a formação de monopólios e oligopólios para o aumento da produção e de mercado consumidor, também ocorrendo o neonacionalismo fundado na configuração das nações como um concentrado de interesses capitalistas, através da expansão de novos ramos industriais e da inovação tecnológica, sendo estes: a) a primeira pós-primeira Guerra Mundial, com a quebra da bolsa de New York, fato este que afetou a produção e comercialização em todos os paises do mundo, entre os anos 1920 a 1930, demonstrando a vulnerabilidade das economias nacionais perante a globalização financeira mundial; b) e a segunda com a formação do bloco: Mercado Comum Europeu a partir da união de 15 paises para manutenção de sua economia, aperfeiçoamento de produção interna, livre circulação e liberdade de estabelecimento de cidadãos nos diversos países membros, adoção de uma moeda em comum, com a criação da Corte de Justiça da Comunidade Européia existe hoje um direito supranacional abdicando a soberania nacional entre os paises membros em temas comunitários. Atualmente as normas originárias da Comunidade são os Tratados, e as derivadas são os regulamentos, as diretivas comunitárias, as decisões comunitárias, as recomendações e pareceres, além dos Princípios Gerais de Direito e a Jurisprudência.
		O comércio internacional foi importante para acumulação de capital e desenvolvimento da produção industrial em diversos países, onde as teorias econômicas analisam suas restrições tais como: os impostos de importação e tarifas alfandegárias, o estabelecimento de cotas, os custos de transporte e outros. Até o fim da segunda guerra mundial os paises utilizavam tarifas protetivas de mercado interno; em Genebra 23 países conseguiram estabelecer um Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT, através de concessões bilaterais, mas continuou a existência de restrições bilaterais ao livre comércio, é o momento em que a produção mundial aumenta e a comercialização não acompanha este desenvolvimento.
		Para uma melhor compreensão este foi o momento de maior crescimento dos paises capitalistas, mas havia duas grandes formas de Estado, sendo o socialismo visto como uma ameaça à formação, através de “resistências”, ao desenvolvimento do comércio “sem fronteiras”. Assim a formação do Mercado Comum Europeu auxiliou, através de seus exemplos concretos, na pretensão e formação de outros blocos econômicos no mundo.
		A globalização pode ser entendida como um processo de integração dos mercados econômicos a nível mundial, pois não há na atualidade fronteira na questão econômica, distanciando dos modelos econômicos de controle estatal e de definições de relações produtivas. Mas ainda, com as crises que afetaram o consumo de produtos manufaturados e matérias-primas, a partir da década de 1950 os países vêem como forma de manter sua sustentabilidade produtiva a ampliação de relações comerciais entrediversos países com interesses comuns, onde as inovações tecnológicas são fundamentais (novas técnicas, produtos e materiais). E conforme Batisti: o fenômeno implica maior abertura das economias ao comércio internacional, e assim redução da proteção das indústrias e comércio local, absorção de tecnologias de produção e administração, condicionando a produção a ter custos menores e com maior produtividade, visando a Lei das Vantagens Comparativas, ou seja, consegue mercado quem vende produtos melhores e mais baratos.
		Segundo Bourdieu: a globalização não é um simples processo de homogeneização, nem de harmonização, mas sim a expansão de um neocolonialismo patrocinado por grupos restritos de países ricos e de empresas que dominam o capital, tanto produtivo quanto financeiro. Confirma esta linha de pensamento Chomsky: a globalização reflete a escalada das chamadas políticas neoliberais que se caracterizam pelos ajustes estruturais e as reformas do Estado, sendo descrita de forma enganosa, como a expansão do “livre comércio”, pois é realizada pelos oligopólios e pelas alianças estratégicas entre grandes empresas, em vários setores da economia. 
		Diante da complexidade econômica e principalmente jurídica da globalização os paises de diversos continentes optaram para a formação de blocos econômicos, considerando-os como “passagem” para o funcionamento das economias sem obstáculos no comércio internacional, sendo a nosso ver o ponto de partida para a globalização econômica. Segundo Soares de Lima: a complexidade está relacionada à política internacional contemporânea à consistência de suas hipóteses e argumentos em face dessas características não lineares, descontínuas, dos processos internacionais em curso; pois ainda que o fim das fronteiras estratégicas - ideológicas (pós-guerra fria e crises econômicas em diversos países) não tenham sido o responsável pelo fenômeno da globalização econômica e financeira, não há dúvida que aquela mudança política contribuiu para ampliar o alcance da internacionalização econômica. 
		O processo de globalização acontece principalmente no campo econômico, sendo estendido à seara jurídica pelos Estados envolvidos para resolver questões que advenham desta cooperação, objetivando a eliminação de barreiras alfandegárias e aumentar as trocas internacionais e a interação de cada Estado, pois a política econômica de cada Estado Membro passa a ser assunto de interesse comum e tem que estar voltada para um objetivo geral: a coordenação entre as mesmas. Um dos efeitos da globalização é tornar menos nítidas as diferenças entre questões internas e externas, mas suas implicações internacionais e internas não são necessariamente convergentes, isto devido à característica da evolução institucional, onde são definidas por equilíbrios possíveis e o papel das instituições nacionais em amortecer os impactos das mudanças no patamar nacional; e também as mudanças globais nem sempre levam a decadência das instituições democráticas internas, ou garantem a convergência entre economias de mercado e democracia representativa.
I- b) ORIGEM:
		As discussões da formação de uma economia global iniciaram há séculos com a expansão marítima (XV) e retomada há algumas décadas no século XX com o Pós-guerra Fria, mas desde 1996 com a incentivo do Acordo Multilateral de Investimentos (AMI) objetivando facilitar o máximo o movimento de capitais através das fronteiras, impedindo que os paises estabeleçam qualquer tipo de legislação, políticas ou programas que tenham características restritivas, defendendo está o interesse do grande capital e não das populações envolvidas dos paises membros. Conforme o pensamento de Roque: não previa a AMI criação de qualquer mecanismo que garantisse aos cidadãos, diretamente ou através das suas instâncias de representação, como por exemplo: o Congresso Nacional, o Direito de questionar ou criar restrições, às ações de empresas transnacionais. 
		Atualmente a globalização econômica refere-se às enormes transformações ocorridas no mundo capitalista, mudando a organização dos bens e serviços, calcada na busca da redução de custos nas grandes empresas transnacionais, tendo os seguintes efeitos: transformação na organização produtiva e maximização da produção em larga escala; formação de blocos econômicos que assegurem seus mercados e a hegemonia política; utilização de novas tecnologias combinadas com a informática; modificação no campo de trabalho; sistema capitalista baseado na hegemonia do capital financeiro. Esta combinação provoca a formação de grandes monopólios, concentração de renda, e uma circulação de capital especulativo de curto prazo, limitando a capacidade dos governos de planejar e como conseqüência restringindo a soberania popular dentro dos sistemas democráticos (Pietricovsky). Estás características são visíveis nos países em desenvolvimento, onde as potências econômicas efetuam claramente suas políticas protecionistas internamente.
		Ao analisarmos os aspectos da globalização que fomentaram a criação de blocos econômicos é de fundamental importância compreendermos a formação da América do Sul. Historicamente, seja por Portugal ou Espanha, foram colônias de exploração, ou seja, utilizadas para o enriquecimento da metrópole através da extração de riquezas minerais, agrícolas e de mão-de-obra. Estas colônias tornaram-se independentes politicamente no século XIX, mas mantiveram-se “aprisionadas” pelo capital, pois não desenvolveram atividades industriais de inicio e passaram a efetuar empréstimos de países em franco desenvolvimento.
		Assim os países da América do Sul, visando fortalecer a integração regional nas disputas internacionais expandiram gradativamente as extensões do MERCOSUL, mesmo com uma realidade econômica interna extremamente complexa. Os países hoje membros do Mercado Comum da América do Sul são: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e também estabeleceram parcialmente acordos Chile e Bolívia entre 2002 e 2003, e em 2004 Venezuela e México adentraram também como aliados.
		Torna-se necessário compreendermos o significado de integração proposto pelos blocos econômicos, e confrome Labrano (1998): a integração pode significar para os países industrializados e desenvolvidos a consolidação do crescimento e maiores possibilidades de expansão, e para os países em desenvolvimento e não desenvolvidos podem representar a possibilidade de enfrentar com êxito a globalização, estás são as opções. Mas consideramos que nem sempre o processo de integração torna-se favorável aos países pobres, porque nas dispustas por mercados consumidores pouco tem a ofertar, devido a pouca quantidade e diversidade de produtos agrícolas e industriais, e com isso são visados apenas para manter o equilibrio das balanças comerciais dos países ricos e desenvolvidos. Assim a integração a princípio é vista como a manutenção do imperialismo econômico de alguns países sonre outros, e em especial a ampliação da politica neoliberal empreendida nos países capitalistas.
		Uma outra questão largamente debatida é a permanência de Estados soberanos na formação de blocos econômicos, pois como ampliar o âmbito das relações de produção e consumo em politicas internas de carácter restritivo, considerando estás como defesa da soberania nacional. Confirmando este pensamento Labrano (1998) diz: fazer o desenvolvimento para o bem da sociedade deve-se prever as ações internas e internacionais, nacionais e supranacionais necessárias para efetuar o objetivo da integrar-se, evitando frustar projetos fundados em uma concepção estreita e superada de soberania. 
		Na América latina diversos lideres políticos pensaram na idéia de integração, como Simón Bolívar, Che Guevara e etc., mas os pensamentos ideológicos e unidades politicas em sistemas ditatoriais dificultaram o processo, sendo que com isso não prevaleceu uma corrente democrática que embasasse a discussão. E no decorrer do século XX, até a década de 80, com os ressurgimento de governos ditatoriais e militares asdivergências regionais ampliaram-se, sendo possível o processo de integração no final dos anos oitenta, onde a formação das: Associação Latinoamericana de Livre Comércio (ALALC) e a Associação Latinoamericana de Integração (ALADI) foram as primeiras a fomentar o processo de integração na atualidade, mesmo não conseguindo de fato.
		Somente com o ressurgimento de governos democráticos, em especial no Brasil e na Argentina, nos governos de José Sarney e Raúl Alfonsín, foi possivel a retomada das discussões integralistas e de uma proposta de um Mercado Comum Regional. Compreender o processo e os obstáculos apresentados nas tentativas de formação de Mercado Comum, especialmente nos setores econômicos que envolviam a produção e comercialização de produtos regionais, é fundamental para contextualizarmos as problemáticas e impasses apresentados na atualidade no Mercado Comum da América do Sul em diversas questões, onde a manutenção da soberania nacional é algo incompreenssivel. Premissas como liberdade, igualdade de condições, e solidariedade entre os píses membros deveriam ser uma fonte primordial das relações de cooperação entre os países membros e aliados de blocos econômicos, para que seja possível o aproveitamento eficaz dos recursos naturais e industriais disponiveis, para com isso melhorar a qualidade de vida dos povos e o ingresso em uma sociedade de desenvolvimento sócio-econômico.
I – c) EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS: 
 
		Os blocos econômicos surgiram na segunda metade do século XX, por consequência das duas Guerras Mundiais e do colapso politico empreendido pela divisão politica e econômica entre os países capitalistas e socialistas, particularmente pela “Guerra Fria” que objetivava a desestruturação do modelo estatal socialista no mundo. É o momento histórico de maior crescimento tecnológico, onde o programa “Guerra nas estrelas” enfatizava o modelo capitalista de desenvolvimento, e com a necessidade de desmotivar qualquer país em desenvolvimento em tornar-se socialista auxiliou as elites econômicas nacionais, em especial dos países latinoamericanos, a impetrarem as ditaturas militares e civis em nossa região geo-politica. Assim os blocos econômicos surgem em diversos continentes, inicialmente na Europa, pois foi a mais afetada econômicamente com as Guerras Mundiais e conflitos imperialistas do século passado; onde a Europa dividida em capitalista – Europa Ocidental e socialista – Europa Oriental empreenderam o inicio dos blocos econômicos, inicialmente por necessidade de manutenção de uma estabilidade econômica interna e posteriormente para manter sua independência da nova potência econômica e não-européia – Estados Unidos da América. 
		A Europa Ocidental, capitalista, liderada pelos ingleses e franceses iniciam o mais importante processo de integração, que serviu para superar as realidades históricas de conflitos regionais e rivalidades imperialistas empreendidas desde o formação das nações européias, processo que levou mais de cinquenta anos para efetivar-se e continua em andamento. Ou seja, desde o primeiro acordo de cooperação entre os países ocidentais europeus, como o Tratado de Paris de 1951 e etc., até a previsão da Constituição Européia e atualmente a dissolução de conflitos internos e externos por tribunais internacionais; com issso ampliaram os países membros e a área de abrangência geo-politica do Mercado Comum Europeu, propiciado também com o desfacelamento do modelo de Estado socialista, promovido pela Perestroika, no governo de Boris Yeunsin.
		A formação do Mercado Comum Europeu e para nos um exemplo de processo de implementação de um bloco econômico, pois estes ultrapassaram os interesses nacionais, bem como ultrapassaram os aspectos meramente aduaneiros e econômicos para envolverem-se em questões politicas e sociais, até a união monetária e a perspectiva de uma Constituição comunitária que contenha os direitos fundamentais, aspectos institucionais, politicos, econômicos, sociais, segurança e relações internacionais.		 
		Na América latina, onde os processos de independência finalizaram-se nas primeiras décadas do século XIX, onde países surgiram de uma colonização exploratória e sem grandes avanços técnicos-cientifico e principalmente dominado por uma elite acostumada a escravidão e depois a mais-valia de mão-de-obra livre e de imigrantes estrangeiros. Nossa realidade politica, econômica e cultural, produto desse procedimento explopriatório, nos dificultou a pensar em um processo de integração regional. Muitos lideres politicos tentaram uma aproximação integracionista, como Simon Bolívar e Juan Bautista Alberdi, mas todos a seu tempo não foram compreendidos ou vistos como pertubadores da soberania nacional.
 		A América Latina pode ser considerada como uma das regiões mais importantes e complexa, quando se refere ao processo de integralização, pois desde o pensamento bolivacionista de unificação até a atualidade muito se tem efetuado no processo de congregar os interesses, e processos históricos – culturais tão diferenciados, para a formação de bloco econômico do continente americano, em especial com a conquista dos Estados Unidos da América como maior potência econômica, pós – Guerras Mundiais no século XX. Nesta expectativa duas são as vertentes do processo de unificação na América: a desenvolvimentista, que pretende uma integração estreita e a formação de Mercado Comum ; e a da liberação econômica, que produz blocos econômicos centrados no individualismo entre os membros e em uma politica de criações de áreas de livres comércios.
		O processo de integração na América iniciou com a unificação gradual de interesses dos países mais industrializados do continente, onde surge a CEPAL , e posteriormente o Mercado Comum Centroamericano (MCCA); para resolver questões técnico –juridica da Zona de Livre Comércio do GATT; depois da instituição da ALALC onde ampliou-se os interesses meramente subregionais, propiciando o surgimento da Associação Latinoamericana de Integração - ALADI, e mais ainda com o Tratado de Montevideo de 1960 retorna a necessidade de um Mercado Comum; questão está fomentada pela unificação européia e necessidade de manutenção econômica regional. Todos esses organismos tentaram fomentar a ampliação das exportações, através da defesa das produções nacionais com tarifas protecionistas, amparada na proteção industrial e beneficiando certos setores dos países aliados, atendendo todos os interesses.
		Importante lembrarmos de Alberdi (1954) da necessidade de uma integração entre os países da América do Sul: a atual causa da América, é a causa de sua população, de sua riqueza, de sua civilização e construção de estradas e rodovias, de seus portos, de suas industriais e comércio. Este preocupava-se diante da desestruturação econômica e politica regional diante dos países industrializados, visto que éramos, ou somos ainda, meramente mercados consumidores e produtores de matérias-primas, desejava o estabelecimento de estatuto americano e permanentede uniformização monetária, de pesos e medidas. Questões hoje ainda em andamento, e obstaculizadas pelo conceito presente de soberania nacional. Desenvolveremos estes questionamentos mais aprofundadamente no próximo capítulo.
		Com o processo de Globalização em franco desenvolvimento as nações latinoamericanas necessitaram retomar o processo integracionista, distanciando das diferenças internas e do princípios ultrapassados de soberania nacional, isto propiciado pela redemocratização política de muitos países na parte latinoamericana a partir dos anos 80 do século XX. Podemos contar também com o fim dos conflitos ideológicos e com uma maior conscientização de que a Globalização tornou-se inevitável, sendo portanto melhor fomentar a integração política e econômica do continente americano frente aos blocos econômicos existentes no mundo atualmente.
		Convém compreendermos as necessidades que provocaram o surgimento de uma integração regional na América do Sul:inicialmente a problemática política das ditaduras civis e militares até 1980, em quase todos os países do Cone Sul, provocando um desenvolvimento econômico superficial e no distanciamento entre as classes econômicas existentes, produzindo a exclusão social e o aumento da miserabilidade regional. Assim o contexto internacional, as novas exigências econômicas e a tentativa de manter e ampliar a participação regional dos países da América do Sul fizeram com que a integração econômica fosse vista como uma necessidade imediata. Visto dessa forma é possível compreemder como o Mercosul conseguiu abranger questões inicialmente econômicas para outra áreas, como setores produtivos, posteriormente uma zona de livre comércio, depois a união aduaneira, e objetivá-se a construção de fato e da implementação de uma normatização jurídica do Mercado Comum da América do Sul e demais países alíados.
 O processo que deu origem ao MERCOSUL foi a Declaração de Iguaçu em 1985, que culminou com a Ata de Integração de 1986 que estabelecia um Programa de Cooperação e Integração entre o Brasil e a Argentina, denominado PICAB, que posteriormente foi integrado a este Uruguai e o Paraguai. Estes países constituiram o Mercado Comum da América do Sul, somando-se a estes, como aliados, o Chile e a Bolivia, e no ano de 2004 efetivaram-se como aliados também a Venezuela e o México.
		Uma dificuldade sempre presente no processo de integração do Mercado Comum da América do Sul são as rivalidades regionais históricas e econômicas, principalmente entre o Brasil e Argentina pioneiros na tentativa de integração econômica, que por diversos conflitos, de carácter eminentemente econômico, por várias vezes provocaram instabilidade politica no MERCOSUL. Isso provoca consequências também aos demais países membros e aliados, visto que um bloco econômico prioriza as relações entre seus países membros. 		
		Conforme Garabelli (2002): a ampliação das atuais dimensões dos mercados nacionais através da integração, constituem condição fundamental para acelerar o desenvolvimento econômico com justiça social. Entendendo que este objetivo deve ser alcançado mediante o mais eficaz aproveitamento dos recursos disponiveis, da preservação do meio ambiente, o melhoramento das interrelações, as coordenações das políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia com base no princípio da proporcionalidade, flexibilidade e equilibrio ... expresa a convicção de promover o desenvolvimento cientifico e tecnológico dos Estados partes e de modernizar suas economias, para ampliar a oferta e a qualidade dos bens e serviços disponíveis, a fim de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. 
		Pensar na criação do MERCOSUL sob essa perspectiva parecenos um pouco romântica, especialmente com a visão economicista de formação de blocos econômicos, onde a predominio do capital supera as intenções de melhorar a qualidade de vida dos povos que integram os blocos econômicos mundialmente. Mas convém salientar que consideramos que as intenções que norteiam os processos de formação dos Mercados Comuns partem dessa premissa, mas como a manutenção da exclusão sócio – econômica ainda se mantém, mesmo nos países desenvolvidos, consideramos que tal aspecto ainda é questionável na atualidade.
		Analisaremos como encontra-se a realidade sócio – política e econômica do países membros e aliados até o ano de 2003 do MERCOSUL, visando compreender as dificuldades que apresentam-se nas normatizações jurídicas integracionistas, frente ao modelo econômico neoliberal e nas políticas internas de soberania, para assim efetuarmos a análise de fato dos interesses que compõem a formação do Mercado Comum da América do Sul.
		Histórica e econômicamente o países membros e aliados, até o ano de 2003, possuem tais características: o Brasil é o maior país em extensão territorial, populacional e crescimento econômico, mas apresenta uma economia baseada na exportação de gêneros agrícolas, metais, e etc, ou seja, dependente das relações de consumo européias, asiáticas e norte-americana; e internamente possui um dos maiores índices de desigualdades do mundo em divisão de renda.	Os demais países membros do Mercado Comum da América do Sul possuem uma conjuntura sócio-econômica de desigualdades e baixa produtividade industrial, sendo exportadores de matérias-primas aos países desenvolvidos, constituindo ainda mercado consumidor destes países. Segundo Pietricovsky (1998): as fragilidades das economias e da conjuntura política estão refletidas nas crises, que apesar de diferenciadas, são fruto de um mesmo modelo de formação econômica e social, resultado da expansão capitalista desde a revolução industrial.
 Sendo estes países, conjuntamente com o Brasil, analisados sob o enfoque econômico, sendo: a Argentina passou por crises políticas e econômicas entre 1999 a 2001, tendo uma economia baseada na conversibilidade do peso com o dólar americano, suscitando um aumento progressivo de perdas do poder de compra e qualidade de vida de sua população, atualmente atende aos ajustes acordados com o Fundo Monetário Internacional que auxiliou economicamente durante suas crises. O Paraguai, sede das discussões do MERCOSUL, visualiza na formação deste bloco econômico uma saída para seu crescimento econômico, pois convive com alto índice de desemprego, baixo índice educacional e com um frágil sistema produtivo, utilizando-se do descaminho e contrabando de produtos importados para fomentar sua economia, devido à liberdade de circulação dos bens importados. O Uruguai é um país pequeno e de pouca capacidade de intervenção política regional, mas o de maior estabilidade política e de maior índice de escolaridade da região, bem como possuem os menores índices de pobreza da América Latina. O Chile possui uma economia estável, pois as crises internacionais pouco afetaram, mas sua situação social e política são extremamente delicadas, sendo um país de grandes contrates econômicos e corrupção constante. A Bolívia tem uma economia frágil pela pouca base produtiva e a existência de altos índices de pobreza e de desemprego, no aspecto político passou por diversas instabilidades governamentais, com golpes políticos, corrupção ativa e impunidade, gerando descrédito internacional.
		Com este contexto econômico e social percebemos as dificuldades presentes nos países membros e aliados ao Mercosul em efetivar o processo de formação de fato do Mercado Comum da América do Sul, onde o maior obstáculo é o esfacelamento econômico regional, existente desde a década de 1950, promovido pelo avanço do sistema capitalista através da concentração de capital nos países industrializados e na exclusão econômica e social dos países “em desenvolvimento”. 
		Pensar na sustentabilidade regional implica na adequação das normas jurídicas existentes entre os países que formam o Mercosul. Assim está pesquisa visa compreender e fomentar discussões na formação do Bloco Econômico sob o enfoque do Direito do Consumidor.
I – d) O MERCOSUL NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO:
		O Mercado Comum da América do Sul inicia a partir do processo de redemocratização do Brasil e da Argentina , na década de 1980, onde os presidentes José Sarney (Brasil) e Raúl Alfonsín (Argentina) promovem as primeiras intenções do que tornaria-se o MERCOSUL. Convém compreendermos os interesses que motivaram esses dois lideres politicos a pensar em um processo de integração, conforme o Alfonsín (2001): “o compromisso com a integração regional de maneira ampla, é consequência de uma reflexão sobre as experiências do passado e as necessidades do futuro ... Em uma enumeração preliminar das motivações e circunstâncias que permitiram este fenomenal desenvolvimento, devemos destacar a intenção de fortalecer a institucionalidade democrática”. Também Sarney (2001) afirmou: “ ... nossa visão não era somente de uma União Aduaneira, mas de um Mercado Cumum onde nos acabariamos comas desigualdades. Trabalhar por setores até chegar a totalidade da economia”. Percebemos assim que os interesses desde o primordios das intenções entre os dois países já demonstrava aonde chegaria o MERCOSUL, onde na atualidade vem caracterizando-se como um dos blocos econômicos de maior potencialidade, possuindo grande quantidade de recursos naturais, interesses econômicos variados, e necessidade de integração politica e jurídica mais específica.
		Baseado nos ideais de liberdade e democracia o MERCOSUL inciou com uma série de acordos bilaterais. O primeiro deles foi a "Declaração de Iguaçu", firmada pelos Presidentes Sarney e Alfonsin em 1985, que buscavam acelerar a integração dos dois países em diversas áreas (técnica, econômica, financeira, comercial, etc.) e estabeleciam as bases para a cooperação no campo do uso pacífico da energia nuclear.
             Em 1986, foi assinada a "Ata de Integração Brasileiro-Argentina", que estabeleceu os princípios fundamentais do "Programa de Integração e Cooperação Econômica" – PICE. O objetivo do PICE foi o de propiciar a formação de um espaço econômico comum por meio da abertura seletiva dos mercados brasileiro e argentino. O processo de integração brasileiro-argentino evoluiu, em 1988, para a assinatura do "Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento", cujo objetivo era constituir, no prazo máximo de dez anos, um espaço econômico comum por meio da liberalização integral do comércio recíproco. O Tratado previa a eliminação de todos os obstáculos tarifários e não-tarifários ao comércio de bens e serviços. Também foram assinados 24 Protocolos em diversas áreas, sendo que os de natureza comercial foram posteriormente consolidados em um único instrumento: o Acordo de Complementação Econômica nº 14, da ALADI.
             Assim as circunstâncias de natureza política, econômica, comercial e tecnológica, decorrentes das grandes transformações da ordem econômica internacional, exerceram papel relevante no aprofundamento ainda maior da integração brasileiro-argentina, dentre elas: a globalização da economia; o advento de um novo padrão industrial e tecnológico; a formação dos megablocos econômicos e a tendência à regionalização do comércio; os impasses do multilateralismo econômico, prevalecentes em certas fases do processo de negociação da Rodada Uruguai do GATT; o protecionismo e o esgotamento do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações, e demais procedimentos que estão sendo emprementados no contexto jurídico do MERCOSUL. 
             Diante das mudanças na estrutura e no funcionamento do sistema econômico mundial e, em face de uma evidente perda de espaço comercial, da redução do fluxo de investimentos e de dificuldades de acesso a tecnologias de ponta, Brasil e Argentina viram-se diante da necessidade de redefinirem sua inserção internacional e regional.A integração passa a ter papel importante na criação de comércio, na obtenção de maior eficiência com vista à competição no mercado internacional e na própria transformação dos sistemas produtivos nacionais.
              Em 06 de julho de 1990, Brasil e Argentina firmam a "Ata de Buenos Aires", mediante a qual fixam a data de 31/12/94 para a conformação definitiva de um Mercado Comum entre os dois países. É firmado também o Tratado para o estabelecimento de um Estatuto das Empresas binacionais Brasileiras e Argentinas, constituindo um importante instrumento na liberdade de estabelecimento de empresas privadas num território econômico em processos de integração.
             Em agosto de 1990, Paraguai e Uruguai são convidados a incorporar-se ao processo integracionista, tendo em vista a densidade dos laços econômicos e políticos que os unem a Brasil e Argentina. Como conseqüência, é assinado, em 26 de março de 1991, o "Tratado de Assunção para Constituição do Mercado Comum do Sul". O Mercosul é, desde 1 de janeiro de 1995, inicialmente com característica de uma União Aduaneira; podemos considerar que é um projeto de construção de um Mercado Comum, objetivo este dos países envolvidos. 
 Para que o Mercosul atinja a construção de um Mercado Comum, conforme AINHOREN (2004) “deve concretizar seus objetivos: a) eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os países membros; b) adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC); c) coordenação de políticas macroeconômicas; d) livre comércio de serviços; e) livre circulação de mão-de-obra; f) livre circulação de capitais”.
             A eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias entre os Estados-membros do Mercosul foi atingida em 31 de dezembro de 1994; desde está data um país pode importar produtos de outro integrante da Zona sem pagar tarifas, como continua a haver tarifas para os países fora do grupo, conclui-se que os integrantes do grupo têm uma vantagem; a está vantagem chamamos Preferência Tarifária ou Margem em Preferência. Com relação à Tarifa Externa Comum, esta também foi concretizada na mesma data que a eliminação de barreiras; questão que provocou que a importação de um produto proveniente de um mercado fora do Mercosul está sujeita à mesma alíquota tarifária nos quatro países. Visando assim manter a proteção dos produtos produzidos nos países membros e auxiliando econômicamente os Estados pertencentes ao bloco econômico do Mercado Comum da América do Sul. 
		Segundo Almeida (2003), do ponto de vista institucional e político, "o Mercosul aproxima-se muito mais do modelo europeu (CEE), ou seja, tem uma maior tendência comunitária do que do modelo norte-americano (NAFTA), totalmente livre-cambista." 
            	As fontes jurídicas do Mercosul são: a) o Tratado de Assunção, seus protocolos e os instrumentos adicionais ou complementares; b) os acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos; e c) as Decisões do Conselho do Mercado Comum, as Resoluções do Grupo Mercado Comum e as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, adotadas desde a entrada em vigor do Tratado de Assunção; apresentando um papel fundamental na constituição e funcionamento do mercado comum.
            	O Tratado de Assunção, além de registrar a fundação do Mercosul, prevê: a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os quatro países-membros; o estabelecimento de tarifas aduaneiras comuns e a adoção de uma política comercial comum com relação a terceiros estados; a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-membros; e o compromisso desses Estados de harmonizar suas legislações nas áreas correspondentes.
            	Os objetivos deste Tratado, conforme Almeida (2003) são: "a) a inserção competitiva dos 4 países num mundo caracterizado pela consolidação de blocos regionais de comércio e no qual a capacitação tecnológica é cada vez mais importante para o progresso econômico e social; b) a viabilização de economias de escala, permitindo a cada um dos países ganhos de produtividade; c) a ampliação das correntes de comércio e de investimento com o resto do mundo, assim como a abertura econômica regional; e d) a melhoria das condições de vida dos habitantes da região." 
             Além do Tratado constitutivo, há também o Protocolo de Brasília que regula o sistema de solução de controvérsias do Mercosul. Esse protocolo instaurou os procedimentos de negociação, conciliação e arbitragem; visando o desenvolvimento de um mecanismo de integração, requerendo que suas normas sejam interpretadas de forma harmônica pelos Estados-partes. E recentemente o Protocolo de Olivos, surgiu para aperfeiçoar o sistema de solução de controvérsias já existentes no Mercosul.
            	Além destes, outro protocolo que apresenta extrema importância e destaque é o Protocolo de Ouro Preto, que apresenta as seguintes características: a) deu ao processo de integração o perfil completo de uma União Aduaneira; b) regulou a estrutura institucional definitiva para a negociação do aprofundamentoda integração em direção ao ambicioso Mercado Comum; c) estabeleceu a personalidade jurídica do Mercosul, podendo então negociar como bloco acordos internacionais; e d) criou os órgãos do Mercosul.
           		 A aquisição de personalidade jurídica, conforme o Protocolo de Ouro Preto, deu ao Mercosul liberdade para, no uso de suas atribuições, praticar os atos necessários à realização de seus objetivos institucionais, em especial contratar, comparecer em juízo, conservar e transferir fundos, alienar móveis e imóveis etc.
		Objetivando constituir sua estrutura o MERCOSUL, através do Tratado de Assunção estabeleceu uma estrutura provisória que passou a ter caráter definitivo a partir de 1º de janeiro de 1995. Posteriormente, essa estrutura foi complementada pelo Protocolo de Ouro Preto, passando a determinar os órgãos institucionais e suas respectivas funções. Compõem-se estruturalmente o MERCOSUL: do Conselho do Mercado Comum, da Reunião de Ministros, da Comissão Parlamentar Conjunta, do Grupo Mercado Comum, dos Subgrupos de Trabalho, das Reuniões Especializadas, dos Grupos Ad hoc, dos Comitês Técnicos, da Comissão de Comércio do Mercosul e do Foro Consultivo e Econômico Social.
            	 O Conselho do Mercado Comum (CMC) é composto por ministros de Relações Exteriores e da Economia dos quatro países. Trata-se de um órgão superior do Mercosul, incumbido da condução política do processo de integração e da tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de Assunção. Reúne-se ao menos uma vez por semestre e tantas quantas se fizerem necessárias, sempre com a presença dos presidentes dos Estados-partes. Sua presidência é exercida por rotatividade dos Estados-partes e em ordem alfabética, por período de 6 meses.  O conselho se manifesta através de decisões, que são obrigatórias para os Estados-partes. Dentre as funções do CMC, que estão no art. 8º do Protocolo de Ouro Preto, destacam-se: a) velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito; b) exercer a titularidade da personalidade jurídica do Mercosul; c) negociar e firmar acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organizações internacionais. Estas funções podem ser delegadas ao Grupo Mercado Comum por mandato expresso; d) esclarecer, quando for necessário, o conteúdo e o alcance de suas decisões; etc. 
            	 O Conselho criou, mediante várias decisões, as Reuniões de Ministros (da economia, educação, bancos centrais, justiça, trabalho e agricultura) para considerar assuntos relacionados com o Tratado, nos temas de suas respectivas áreas. Estas reuniões realizam-se, no mínimo, a cada seis meses e suas conclusões são registradas em atas. 
           		A Comissão Parlamentar Conjunta visa facilitar o avanço das negociações até a concretização do Mercado Comum. A Comissão Parlamentar conta com até 64 parlamentares de ambas as Câmaras, sendo um número de até 16 para cada Estado-parte. A duração do mandato é de no mínimo 2 anos. Possui caráter consultivo, deliberativo e de formulação de propostas. Dentre as suas atribuições, destaca-se o acompanhamento da marcha do processo de integração regional na formação do Mercosul, o desenvolvimento de ações para facilitar a futura instalação do Parlamento do Mercosul, a constituição de comissões para a análise dos temas relacionados com o processo de integração e o estabelecimento de estudos necessários à harmonização das legislações dos Estados-partes.  As reuniões da Comissão podem ser ordinárias, pelo menos duas vezes ao ano, em data a ser determinada, e extraordinárias, mediante convocação especial assinada pelos quatro presidentes dos Estados-partes.
            	 O Grupo Mercado Comum (GMC) é o órgão executivo do Mercosul, integrado por representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, Economia e Finanças e dos Bancos Centrais dos países membros. Possuindo a função de propor medidas para a administração do Tratado de Assunção. Além disso, coordena as políticas macroeconômicas, vela pelo cumprimento do Tratado, é o responsável pela condução política do processo de integração e também é responsável pelo calendário das atividades. Suas decisões juntamente com as decisões do Conselho do Mercado Comum são tomadas por consenso entre os Estados-partes e na presença de todos os seus membros. Essas decisões são manifestadas através de resoluções. Para lograr êxito em suas funções, o GMC foi dividido sem subgrupos, que se encarregam de elaborar e desenvolver temas especiais.
            	Os subgrupos de trabalho são órgãos de assessoramento do GMC. Se dividem por temas e reunem-se, em geral, duas vezes por semestre.
           		 As Reuniões Especializadas também são órgãos de assessoramento do GMC. Funcionam como os SGTs, sendo que sua pauta negociadora não emana diretamente desse órgão.
            	Os Grupos Ad hoc foram criados pelo GMC para o tratamento de algum tema específico. Têm duração determinada e são extintos uma vez cumprida a tarefa atribuída pelo GMC.
             	As Comissões de Comércio do MERCOSUL, reúnem-se mensalmente. Sendo um dos órgãos assessores do GMC, tendo o papel de velar pela aplicação dos instrumentos de política comercial acordados pelos Estados Partes para o funcionamento da União Aduaneira, através de Diretrizes. Por possuirem caráter intergovernamental estabeleceram os comitês técnicos necessários ao adequado cumprimento de suas funções, assim como dirige e supervisiona a atividade destes.
             	Os Comitês Técnicos são órgãos de assessoramento da Comissão de Comércio do MERCOSUL, dividindo-se de acordo com os temas tratados.
             	O Foro Consultivo Econômico e Social é um órgão de caráter consultivo e representação os setores econômicos e sociais. Manifesta-se através de recomendações ao países membros do Mercado Comum.
		Portanto esses órgãos constituem a base normativa e estrutural do Mercado Comum da América do Sul, sendo de carácter eminentemente consultivo, possibilitando a resolução de questões atinentes ao processo evolutivo do MERCOSUL. Visto que a formação do mesmo caminha para a centralização das normativas jurídicas em detrimento do modelo moderno de soberania, imposto nos governos ditatoriais em nossos países sul-americanos. 
		Uma questão fundamental para a efetivação de uma normatização jurídica de fato é a implantação da supranacionalidade para dirimir eventuais problemas entre o países membros do MERCOSUL. Assim para compreendermos a premissa da supranacionalidade no MERCOSUL, ou qualquer outro bloco econômico devemos analisar o Protocolo de Ouro Preto, de 17/12/94, que definiu o quadro orgânico definitivo do MERCOSUL. Percebemos que o mesmo manteve ou criou, em seu artigo 2º, estruturas de tipo intergovernamental onde estão representados os interesses de cada Estado, cujas decisões estão submetidas à regra da unanimidade dependendo de posterior ratificação pelos órgãos nacionais. Descartou-se a criação de órgãos supra-nacionais, acima dos Estados, que poderiam aplicar suas decisões, diretamente, sem transposição para o direito interno dos Estados-Partes e concedeu-se à obrigatoriedade das normas jurídicas do MERCOSUL um caráter condicionado, onde a soberania ainda é um fator de distanciamento da normatização jurídica entre os Estados membros.
		 Sob o ponto de vista doutrinário, enfocado por Ainhoren (2004): o tema da soberania se expressa em diferentes concepções que podem ser agrupadas em dois grandes ramos de pensamento jurídico brasileiro: o constitucionalismo, que, embora agrupe autores com diferentes métodos e ideologias, resume-se na afirmação do dogma da soberania absoluta, como supremacia do Estado sobre qualquer outro poder de decisão admitindo, no máximo, uma relativização da soberania estatal frente às relações exteriores; e o internacionalismo, que prega o desaparecimento da soberania e a "subordinação da ordem interna à ordem internacional como ordem parcialdo Direito", outorgando à supremacia do Estado uma dimensão menor no sentido de que "não há, acima dele, nenhum outro Estado, mas apenas o direito internacional".
             De qualquer sorte, no conjunto da doutrina brasileira evidencia-se a idéia de que o princípio da soberania se constitui em obstáculo natural à integração e à formação de uma ordem jurídica supranacional. Além disso, mesmo dentre aqueles autores que propugnam pela supremacia do direito nacional, há os que admitem ter, o conceito de soberania, caráter meramente formal e ideológico frente às relações imperialistas que se estabelecem no âmbito internacional entre os Estado ou frente à atuação das empresas transnacionais, que interferem na política e economia dos chamados países do terceiro mundo.
             Nossos países vêem sofrendo ingerências externas na condução de sua política econômica ao longo de sua história. Entretanto, as disposições constitucionais referentes à supra-nacionalidade e à vontade política dos grupos no exercício governamental destes países latinoamericanos, consagra a formação de uma ordem jurídica supra-nacional hierarquizada, no âmbito do Mercosul, encontrando resistências, justificadas e consubstanciadas na idéia de soberania nacional.
             Da análise realizada das Constituições dos demais Estados integrantes do MERCOSUL acerca da supra-nacionalidade, evidenciou-se as semelhanças, quanto à noção de soberania, bem como na conseqüente prática política, entre os governos envolvidos. Ficou claro que o Uruguai nega expressamente qualquer ordem jurídica de caráter supranacional; a Argentina e o Paraguai, embora a admitam com restrições, localizam-na abaixo de suas respectivas Constituições.
		Isso devido a idéia tradicional de soberania caracterizada historicamente, como um poder incontestável, supremo e absoluto, com o qual, o Estado - titular exclusivo deste poder - tem a capacidade de decidir e criar as normas jurídicas, aplicando-as coercitivamente dentro de seu espaço territorial, bem como impor-se, em igualdade de condições, frente às relações com os demais Estados, não reconhecendo, acima de si, qualquer outro poder. Neste sentido a soberania estatal é tida como indivisível, inalienável e imprescritível. Tal conceito, efetuado como elemento fundamental para o fortalecimento do Estado Moderno, não se justifica mais frente à nova realidade mundial. Embora permaneça como uma idéia de insubmissão, independência e de poder supremo juridicamente organizado, deve-se levar em conta uma certa relatividade que lhe é imposta face às novas relações que se estabelecem no âmbito internacional.
		O fenômeno da globalização da economia e suas conseqüências, gera uma nova mentalidade criada a partir de interesses políticos e econômicos compartilhados, forçando a necessidade de revisão quanto ao conceito de soberania. A interdependência que se estabelece contemporâneamente entre Estados aponta para o atrelamento entre as idéias de soberania e cooperação jurídica, econômica e social, o que afeta drásticamente, a pretensão à autonomia levando, na prática, a uma revisão dos postulados fundamentais referentes à soberania estatal.
           		A globalização da economia e a criação dos blocos regionais, fundamentalmente a formação da Comunidade Européia, impuseram uma nova lógica no que concerne às relações internacionais e, como conseqüência, solaparam as tradicionais pretensões dos Estados quanto ao poder ilimitado e absoluto contido na velha noção de soberania.
		E ainda, segundo Ainhoren (2004), se a busca de formação de um bloco regional tem como suporte a idéia de que a integração pode levar a minorar os problemas sócio-econômicos dos países envolvidos e a desenvolver suas potencialidades e fortalecer o Continente Sul-americano no cenário mundial, mister se faz que se modifiquem as formas de atuar, realizando as devidas reformas constitucionais, buscando, por um lado, ampliar as áreas que comportam iniciativas integracionistas - questões fronteiriças, trabalhistas, previdenciárias, direitos humanos, cooperação judiciária, proteção dos consumidores, etc. - e por outro, possibilitando a criação de um direito comunitário e de órgãos com poder supranacional que atribua ao MERCOSUL um verdadeiro status de comunidade, com todas as instituições que lhe são inerentes.
		Consideramos que pensar os apectos que compõem os blocos econômicos na atualidade é indispensável analisados no contexto da globalização, onde este processo iniciado pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento para manter ou conquistar mercados consumidores, onde as questões atinentes ao macro superam os interesses microeconômicos e assim influenciam as politicas internas nos países capitalistas. Atualmente pensar de forma global é um exercício de superação de preconceitos, onde o primeiro a sucumbir a o de soberania nacional. 
 Ao MERCOSUL existe a premissa de implementação de um Mercado Comum, onde se priorizará a supranacionalidade em suas decisões e resoluções, objetivando a dissolução de conflitos e a melhoria econômica dos países envolvidos. Nessa perspectiva Arbuet-Vignali (1998) considera que além dos interesses politicos existe uma grande adesão de grupos de interesses: empresários, trabalhadores, estudiosos, parlamentares e etc. Estes vêem no MERCOSUL há possibilidade de desenvolvimento econômico. 
		Além do desenvolvimento econômico o MERCOSUL avança, como a maioria dos blocos econômicos no processo de globalização, para outro setores e interesses abarcando maior número de pessoas e principalmente propondo de fato um Mercado Comum. Para isso será necessário um aprofundamento das questões referentes ao processo de integração e a elaboração de um Direito, ou melhor de uma normatização jurídica que envolva todos os países membros, favorecendo dessa forma a integração e o desenvolvimento econômico latinoamericano.
Capítulo 2: Os interesses capitalistas no processo de Globalização: a defesa do Direito do Consumidor nos países membros e aliados do Mercado Comum da América do Sul, entre os anos de 2002 e 2003, e suas correlações com os Blocos Econômicos mundiais, em especial o Mercado Comum Europeu.
		Compreendermos as transformações promovidas pela Revolução industrial e em especial o sistema capitalista é extremamente amplo e paradigmático, mas aqui salientaremos os aspectos que favoreceram ou obstaculizaram a formação dos Blocos Econômicos. O capital, base axiológica de toda a organização política e econômica dos Estados contemporâneos, deve ser analisado como fonte das inter-relações sociais vivenciadas nas civilizações; mais que responsável pelo desenvolvimento da produção – o Capital – é a manutenção das redes de significados e sistemáticas sociais desde séculos anteriores...(citar Marx).
		Segundo Munford: “o Capitalismo, negando a santidade da pobreza ou o sustento imaginativo da arte, procurava exclusivamente aumentar a quantidade de produtos de consumo e os ganhos mensuráveis”. Pág. 449. 
		Assim percebemos o quão poderoso tornou-se o sistema capitalista, que a partir do século XIII até os dias atuais mudou conceitos e estruturas das sociedades modernas e contemporâneas. Deteremos-nos no processo atual de organização político-econômico: a Globalização. Segundo Bastos: “Esse processo de globalização se dá precipuamente na seara econômica, pois para que se crie um Bloco Econômico faz-se imprescindível um ajuste das Políticas Econômicas de cada Estado no sentido de eliminar as barreiras alfandegárias e aumentar as trocas internacionais e a interação transnacional de cada Estado, do contrário esta restaria impossível”. Págs. 37 e 38. A política de cada Estado membro de um Bloco Econômico deverá convergir aos interesses preponderantes deste, ocorrendo internamente uma desestruturaçãteresses preponderantes deste. m Bloco Econainteraçeiras alfandegnas e contempor quantidade de produtos de consumo e os ganhosREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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