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1. Receita Pública

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Direito Financeiro – João Paulo Lordelo
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RECEITA PÚBLICA
Sumário:
1. Atividade financeira do Estado
1.1 Receita pública
1.2 Manual da receita 
2. Classificações doutrinárias da receita
2.1 Classificação quanto ao GRUPO
2.2 Classificação da receita quanto à AFETAÇÃO PATRIMONIAL
2.3 Classificação da receita quanto ao PODER DE TRIBUTAR 
2.4 Classificação da receita quanto à REGULARIDADE ou PERIODICIDADE 
2.5 Classificação da receita quanto ao SENTIDO 
2.6 Classificação da receita quanto à ORIGEM, COERCITIVIDADE ou PROCEDÊNCIA
3. Classificação orçamentária da receita pública pelo Manual da Receita 
4. Renúncia de receita pública
4.1 Conceito 
4.2 Exemplos 
4.3 Requisitos para a concessão de renúncia de receita (e subsídios)
5. A polêmica do empréstimo compulsório como receita pública
1. Atividade financeira do Estado	
Direito financeiro é o ramo do direito público que estuda a atividade financeira do Estado, sob o ponto de vista jurídico. 
A atividade financeira do Estado é regulada, basicamente, pela CF, pela LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal – LC 10/2000) e 4.320/64 (traça as normas gerais de Direito Financeiro). Esta última Lei, assim como o CTN, adveio como Lei ordinária, na época da Constituição Federal de 1946. Com a Constituição de 1967, este diploma foi recepcionado com status de Lei Complementar, devido à exigência constitucional de Lei Complementar para tratar de direito financeiro e tributário. Com a Constituição de 1988, esse status de Lei Complementar se manteve.
	O art. 165, § 9º, da CRFB/88, dispõe que cabe à Lei Complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos.
Essa Lei Complementar a que alude o art. 165 da CRFB ainda não existe. Existe um projeto de Lei no Congresso (Lei de Responsabilidade Orçamentária) para tratar desses temas, o que resultará na revogação da Lei n. 4.320/64.
Com efeito, são quatro os campos de atuação do Estado na atividade financeira: 
Receita pública; 
Despesa pública;
Orçamento e;
Crédito público.
Segundo Tathiane Piscitelli, a atividade financeira decorre do exercício da soberania do Estado nos casos em que este realiza atividades próprias e indelegáveis. Sendo assim, os órgãos da administração indireta sob regime de direito privado (empresas públicas e sociedades de economia mista) não realizam atividade financeira. 
Via de regra, o controle pelo Tribunal de Contas e submissão às normas de direito financeiro dependem: (i) do manejo do dinheiro público e (ii) da realização de tal atividade por entes submetidos ao regime jurídico de direito público. 
EXCEÇÃO: a jurisprudência do STF somente admite a fiscalização das contas de entes da Administração Indireta de direito privado nos casos específicos de dano ao Erário. No MS 23.627-2, o Supremo consignou não fazer sentido a prestação de contas ao Tribunal de Contas da União de operação bancária realizada por gerente do Banco do Brasil, a não ser quando se trate de questões “a envolver dinheiro, bens e valores púbicos e atos de administração que causem prejuízo ao Tesouro, e não simples atividades bancárias”.
Questão (PGE/PA): estão obrigados a observar a LRF todos os entes da federação, nele compreendidos o Poder Legislativo, os Tribunais de Contas, o Poder Judiciário, o Ministério Público e, no Poder Executivo, a Administração Direta, bem como as fundações, autarquias e empresas estatais dependentes. CERTO.
1.1 Receita pública
Receita pública consiste em tudo aquilo que entra nos cofres públicos para ficar. Há recursos que adentram com data certa para sair, não sendo considerados receitas públicas, mas sim ingressos. Há, portanto, dois tipos de entrada:
Receita Entrada definitiva de bens/dinheiro nos cofres públicos (Régis Fernandes de Oliveira).
Ingresso ou Fluxo de Caixa Entrada provisória de bens/dinheiro nos cofres públicos.
Segundo Aliomar Baleeiro, receita é a entrada que, integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondências no passivo, vem acrescer o seu vulto como elemento novo e positivo.
1.2 Manual da receita
O Manual da Receita Pública Nacional visa proporcionar maior transparência às receitas públicas como parte do esforço de padronizar os procedimentos contábeis nos 3 níveis de governo, de forma a garantir a consolidação das contas exigidas na LRF. Assim, o Manual da Receita Nacional passou a ser aplicado à União, Estados, Municípios e DF a partir da elaboração e execução da lei orçamentária de 2009. 
	A Secretaria do Tesouro Nacional – STN, na qualidade de órgão central do Sistema de Contabilidade Federal, vem emitindo normas gerais para atender à LC 101/00, de forma a padronizar procedimentos. 
Atualmente, há dois enfoques para a receita e despesa pública: orçamentário e patrimonial. A contabilidade pública aplicada ao setor público está focada no setor patrimonial. Assim, a receita e despesa serão trabalhadas também visando esse enfoque. Pelo enfoque patrimonial, a referência sempre será o FATO GERADOR. Pelo enfoque orçamentário, a referência será o que está na lei 4.320/64.
2. Classificações doutrinárias da receita 
2.1 Classificação quanto ao GRUPO
A Lei nº 4.320/64 regulamenta os ingressos de disponibilidades de todos os entes da federação, classificando-os em dois grupos: orçamentários e extraorçamentários. Obs: Ingresso, para o direito financeiro, é receita. 
I. Receita Orçamentária
A receita orçamentária é a receita pública. Sua principal característica é ser uma renda que pertence ao Estado, a quem estiver arrecadando. Ela não será devolvida, se incorporando ao patrimônio em caráter permanente. 
O ente poderá utilizar a receita orçamentária para financiar a despesa pública (orçamentária).
São disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício orçamentário e constituem elemento novo para o patrimônio público.
A receita orçamentária é instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, fonte de recursos utilizada pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade.
Essas receitas pertencem ao Estado e integram o patrimônio do poder público, aumentam-lhe o saldo financeiro, e via de regra, por força do princípio orçamentário da universalidade, estão previstas na LOA.
Veja: ela não é classificada como orçamentária simplesmente por estar no orçamento, pois há receita orçamentária que não está prevista no orçamento. O que a diferencia é o fato de pertencer ao Estado, não devendo ser devolvida. Toda receita prevista na LOA é orçamentária, mas nem toda receita orçamentária estará prevista na LOA. 
Exemplo: o tributo criado após a elaboração do orçamento não estará na LOA, mas serão ingressos orçamentários (não aplica o princípio da anualidade no direito tributário, mas apenas no financeiro).
II. Receita extraorçamentária
São recursos financeiros de caráter temporário, que não se incorporam ao patrimônio público e não estão previstas na LOA. O Estado é mero depositário desses recursos, que constituem passivos exigíveis. Assim, as restituições de receita extraorçamentária não dependem de autorização legislativa. Ou seja, são recursos arrecadados pelo Estado que, embora aumentem a disponibilidade, não pertencem a ele, devendo ser devolvidos posteriormente. No mesmo momento em que o ingresso entra no caixa do estado, surge uma obrigação de devolver.
A obrigação que surge com a arrecadação de despesa extraorçamentária será classificação da DÍVIDA FLUTUANTE ou PASSIVO FINANCEIRO.
Atenção: o ente só poderá utilizar a receita extraorçamentária para pagar despesa extraorçamentária (dívida flutuante ou passivo financeiro). Por isso, o ingresso extraorçamentárionão constitui fonte de recursos para financiamento da despesa pública.
Exemplos: depósitos em caução (garantias em contratos administrativos); fianças; operações de crédito por antecipação de receita orçamentária – ARO; emissão de moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros; retenções; etc. 
2.2 Classificação da receita quanto à AFETAÇÃO PATRIMONIAL
Essa classificação aborda o impacto da arrecadação no patrimônio, distinguindo as receitas em efetivas ou não efetivas.
Quanto à afetação patrimonial, a receita orçamentária poderá ser EFETIVA ou NÃO EFETIVA. Já a receita extra-orçamentária somente poderá ser NÃO-EFETIVA. 
A classificação quanto à afetação patrimonial foca o patrimônio líquido, analisando o que o patrimônio líquido altera quando há a arrecadação da receita.
Relembrando: pela lei 4.320/64, o ativo do orçamento será dividido em ativo financeiro e ativo permanente. Da mesma forma, o passivo também poderá ser financeiro ou permanente. Esses dois grupos, quando somados, obrigatoriamente devem apresentar os mesmo valores, igualdade que resulta na equação fundamental da contabilidade. A diferença entre o ativo e o passivo resulta no patrimônio líquido, saldo patrimonial ou situação líquida.
	ATIVO
	PASSIVO
	Ativo Financeiro
	Passivo Financeiro
	Ativo Permanente
	Passivo Permanente
I. Receita EFETIVA
Toda receita orçamentária que, ao ser arrecadada, provoque um aumento na situação líquida, será classificada como receita EFETIVA. É a renda do Estado que aumenta o patrimônio líquido.
EX: arrecadação do tributo – gera aumento da disponibilidade. Para a arrecadação do ICMS, o Estado não teve de contrair qualquer obrigação. 
II. Receita NÃO EFETIVA
A receita NÃO EFETIVA é a que não altera o patrimônio líquido. Ela pode ser orçamentária ou extraorçamentária.
Ex. de receita orçamentária: alienação de bens (entra um numerário no ativo financeiro, mas sai um bem do ativo permanente); operação de crédito (entre um numerário no ativo financeiro, mas entra também uma obrigação no passivo permanente). Nos dois exemplos, o patrimônio líquido permanece igual.
Ex. de receita extraorçamentária: caução em contratos (entra um ativo financeiro, mas também entre um passivo financeiro).
Questão: a receita orçamentária nem sempre causa um impacto no patrimônio. CERTO.
2.3 Classificação da receita quanto ao PODER DE TRIBUTAR 
Quanto ao poder de tributar, a classificação da receita depende da COMPETÊNCIA para arrecadação, que poderá ser federal, estadual ou municipal. A banca só cobra isso.
2.4 Classificação da receita quanto à REGULARIDADE ou PERIODICIDADE
	A receita será classificada como ordinária e extraordinária.
	A receita ORDINÁRIA é aquele que é arrecadada periodicamente. Ex: os impostos periódicos (IPTU, IR). É a arrecadada regularmente em cada período financeiro. São as receitas periódicas previstas no orçamento público.
Receita EXTRAORDINÁRIA é aquela arrecadada esporadicamente, SEM CONTINUIDADE, ou seja, as que representam ingressos de caráter acidental de natureza transitória ou, pelo menos, inconstante e, não raro, excepcional. Cuidado para não confundir a receita extraordinária com a receita extraorçamentária, pois uma não tem nada a ver com a outra.
2.5 Classificação da receita quanto ao SENTIDO
Quanto ao sentido, a receita poderá ter sentido amplo ou restrito.
Em sentido AMPLO, aos ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado denominam-se receitas públicas, catalogadas como orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário público, ou extra-orçamentárias, quando não representam disponibilidades de recursos para o erário.
Em sentido ESTRITO, chamam-se públicas apenas às receitas orçamentárias.
2.6 Classificação da receita quanto à ORIGEM, COERCITIVIDADE OU PROCEDÊNCIA
Essa classificação possui uso acadêmico e não é normatizada; portanto, não é utilizada como classificador oficial da receita pelo Poder Público. Apesar disso, é a mais cobrada em concursos.
Segundo a maioria da doutrina, quanto à procedência, coercitividade ou origem, a receita será DERIVADA ou ORIGINÁRIA, mas Vanessa Siqueira e Tathiane Piscitelli afirmam que a receita também pode ser TRANSFERIDA. 
Cuidado, pois em provas pode-se pedir a classificação de um ou de outro. A maioria da doutrina encara a receita quanto à origem apenas em duas espécies (originária e derivada) porque inclui a receita transferida no bojo da receita derivada. 
A receita pública transferida se subdivide em obrigatória e voluntária.
2.6.1 Receita pública originária
2.6.1.1 Conceito
	A receita pública originária é também chamada de receita pública de economia privada, pois é resultante da atividade do Estado como agente particular, submetida ao direito privado.
	É aquela que advém do próprio patrimônio do Estado, seja quando ele explora esse patrimônio, seja quando ele desempenha, de maneira excepcional, atividades econômicas, financeiras, industriais e comerciais. 
Quando desempenha essas atividades (econômicas, financeiras, industriais e comerciais), o Estado atua de forma excepcional, tendo em vista que, segundo o art. 170, parágrafo único, da CRFB/88, a atividade econômica é entregue à iniciativa privada. Ou seja, num momento inicial, o Estado não poderia intervir no domínio econômico através de exploração direta de atividade econômica. Para que isso seja possível, é necessária a presença de um dos requisitos do art. 173 da CRFB/88: imperativo de segurança nacional ou relevante interesse coletivo. Cuida-se, portanto, de uma atuação subsidiária.
2.7.1.2 Características
A receita pública originária é voluntária e contratual, tendo em vista que, nesses casos, o Estado age em pé de igualdade com o particular. Aqui se respeita fundamentalmente a autonomia de vontade do particular. Assim, o Estado não atua dotado de poder de império/soberania.
Segundo dispõe o art. 173, §1º, inciso II, da CRFB/88, as empresas estatais ficam sujeitas ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários.
São exemplos de receita pública originária:
Royalties do petróleo, minerais, gás naturais, energia etc. Royalties são compensações financeiras devidas à União, devidos em razão à exploração de recursos minerais. Originariamente, os royalties são devidos à União. Por determinação constitucional, a União deve dividir aquilo que recebeu a este título com os Estados e municípios (art. 20, parágrafo primeiro da CRFB/88), por meio de transferências. Segundo o STF, ainda que, a princípio, os royalties sejam da União, eles são receitas originárias, ainda que sob prisma dos Estados e municípios (que os recebem via repasse). Vale dizer, ainda que os Estados e municípios recebam royalties por transferência da União, eles também configuram receita originária própria desses entes federativos;
Dividendos auferidos pelas empresas públicas e sociedades de economia mista;
Preços públicos Receita obtida com a contraprestação pela prestação de serviços públicos por concessionários, serviços comerciais e de venda de produtos industriais ou agropecuários Ex.: água, esgoto, luz, telefonia. Essas tarifas possuem natureza contratual e consistem em receita pública originária. Para a maioria da doutrina e STF, preço público e tarifa são conceitos sinônimos;[1: Os doutrinadores mais antigos costumam vincular o preço público à exploração da atividade econômica e a tarifa à prestação de serviços públicos, mas isso já está ultrapassado.]
Rendas do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado (receita de aluguel).
2.6.2 Receita pública derivada
2.6.2.1 Conceito
	A receita pública derivada é aquela que advém do patrimônio do particular, através de um constrangimento legal. Aqui, o particular não tem escolha, sendo compelido a transferir recursos para o Estado. 
	Justamente por isso, a receita derivada é cogente, obrigatória, coercitiva ou compulsória sendo auferida peloEstado, que se investe em poder de império, sob um regime de direito público. Justamente por isso, essa receita também é chamada receita pública de economia pública.
2.6.2.2 Características
	Questão prévia ao tema é o conceito de autoimposição, entendida como o poder que a população tem de deliberar sobre a carga tributária que recairá sobre seu patrimônio, seus bens. Esse conceito é importante na seara do direito tributário e financeiro. Ora, se o Estado obtém receita pública derivada, ele o faz por meio de legitimação legal. Essa lei revela consentimento do povo sobre a carga tributária que recairá sobre o seu patrimônio. A lei legitima o poder de império do Estado.
	São exemplos de receita derivada:
Todos os tributos Atualmente, prevalece no STF a existência de 5 (cinco) espécies tributárias: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e empréstimos compulsórios. Opõe-se à corrente tripartida adotada pelo CTN.
Multas.
2.6.3 Receita transferida
	São duas as modalidades de receita transferida:
2.6.3.1 Transferência obrigatória (transferências constitucionais)
A receita transferida de transferência obrigatória é aquela que, nada obstante advinda do patrimônio do particular a título de tributo, não é arrecadada pelo ente político que vai utilizá-la.
Questão prévia ao entendimento do tema é a questão das transferências constitucionais. A discriminação de rendas abarca, a um só tempo, duas técnicas: atribuição de competência e repartição de receitas (que vem a ser a receita transferida obrigatoriamente).
Atribuir competência significa dividir o poder de instituir os tributos entre os entes políticos. Quem leva a efeito essa atribuição de competência, fazendo essa divisão, é a Constituição, que descentraliza o poder político. Essa técnica é de fundamental importância para a concretização da autonomia dos entes políticos, sendo objeto de estudo do direito tributário.
Muito embora haja essa divisão, ela não é uma garantia de arrecadação de receita plausível, condizente com sua despesa, tendo em vista que, no âmbito de alguns entes, não ocorrem fatos geradores suficientes. É o caso de um ente com altíssimo índice de desemprego. Justamente por isso, a Constituição também prevê a repartição de receitas.
A repartição de receitas é um instrumento diferente, que também consiste em cláusula pétrea. Essa técnica é matéria de direito financeiro, e não direito tributário, tendo em vista que se trata de uma divisão intergovernamental. Neste ponto, a Constituição determina que o ente político maior transfira par aos entes políticos menores aquilo que arrecadou a título de impostos, de sorte a dar equilíbrio ao pacto federativo.
O substrato dessa repartição, via de regra, são os impostos (conforme previsto nos arts. 157 a 162 da CRFB/88). Contudo, o art. 159 prevê, por exceção, a transferência da CIDE-combustíveis pela União aos Estados (29%). Por sua vez, os Estados deve transferir 25% do que recebeu desse tributo da União para os Municípios.
A União só transfere parte daquilo que arrecadou a título de impostos e CIDE-combustível. Não se transfere aquilo que foi arrecado a título de contribuição para a seguridade social.
Essas receitas transferidas a título obrigatório (transferência intergovernamental) podem ser objeto de transferência direta ou indireta. A título de exemplo, a CFRB/88 prevê que o dinheiro retido a título de imposto de renda dos servidores estaduais e municipais devem permanecer nos cofres estaduais e municipais respectivamente, não sendo necessário repassar para a União. Há, portanto, uma transferência direta.
A transferência indireta de receitas, por sua vez, é materializada através dos fundos (Fundo de Participação dos Estados e Fundo de Participação dos Município). A LC n. 62/1989 é quem regula esses critérios de transferência. A repartição entre os entes não é equânime, não sendo dividida de maneira exatamente igual para todos Estados e Municípios. Se a divisão fosse exatamente igual, haveria desequilíbrio do pacto federativo. Os fundos foram concebidos de forma a equilibrar o pacto federativo, o que impõe a observância de alguns critérios de divisão.
Vale a pena ressaltar que, na ADI 875, o STF declarou a inconstitucionalida dos critérios de repartição do FPE (Fundo de Participação dos Estados). Isso porque tais critérios deveriam ter sido renovados. O Supremo fixou ao Congresso um prazo para que esses critérios sejam renovados, até o ano de 2012. 
Obs.: os critérios de repartição do FPM não foram declarados inconstitucionais pelo STF porque já passaram por renovação. 
EMENTA: Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI n.° 875/DF, ADI n.° 1.987/DF, ADI n.° 2.727/DF e ADI n.° 3.243/DF). Fungibilidade entre as ações diretas de inconstitucionalidade por ação e por omissão. Fundo de Participação dos Estados - FPE (art. 161, inciso II, da Constituição). Lei Complementar n° 62/1989. Omissão inconstitucional de caráter parcial. Descumprimento do mandamento constitucional constante do art. 161, II, da Constituição, segundo o qual lei complementar deve estabelecer os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados, com a finalidade de promover o equilíbrio socioeconômico entre os entes federativos. Ações julgadas procedentes para declarar a inconstitucionalidade, sem a pronúncia da nulidade, do art. 2º, incisos I e II, §§ 1º, 2º e 3º, e do Anexo Único, da Lei Complementar n.º 62/1989, assegurada a sua aplicação até 31 de dezembro de 2012.
Problema relacionado à divisão dos royalties da camada do Pré-sal: o projeto de lei baseou a divisão da compensação financeira pela camada do Pré-sal nos critérios de repartição de receitas que integram o FPE. Ocorreram dois equívocos: (i) o FPE reparte receitas tributárias e os royalties configuram receita derivada; (ii) os critérios foram declarados inconstitucionais pelo STF. Por isso, Lula vetou a adoção desses critérios na lei do Pré-sal. Até dezembro de 2011, o veto ainda não havia sido votado pelo Congresso. Um substitutivo quanto à repartição de receitas do pré-sal foi apresentado e aprovado, e está à esperada da sanção da Presidente Dilma.
No RE 562.762, o STF analisou a questão do Estado de Santa Catarina. Nesse Estado, por conta de um programa de benefícios fiscais deflagrado no âmbito de seu território, ocorreu um repasse muito pequeno aos seus Municípios, o que acabou gerando um prejuízo a estes. Por conta da renúncia de receita, o estado de Santa Catarina, ao fazer as transferência obrigatórias aos Municípios, se baseou numa base de cálculo menor. Diante disso, o STF entendeu que, caso o Estado realize renúncia de receita no âmbito de seu território, isso não pode gerar prejuízo aos Municípios, devendo o Estado repassar os valores de maneira “cheia”, como se não tivesse havido nenhuma renúncia fiscal. Entendimento contrário resultaria afronta à repartição de receitas prevista na Constituição, de sorte a equilibrar o pacto federativo.
Confira-se como a Constituição organiza as transferências obrigatórias:
	União
	Estados e DF
	Municípios
	IRPF
(arts. 157, I e 158, I)
	100%
	
100%
	IOF-ouro
(art. 153, § 1º)
	30%
	
70%
	Impostos da competência residual
(art. 157, II)
	
20%
	
	CIDE-combustível
(art. 157, II)
	
29%
	
25%
	ITR
(art. 158, II)
	Se fiscalizado e cobrado pela União
	
50%
100%
	
	E fiscalizado e cobrado pelo Município
	
	IPI
(art. 159, II)
	
10%
	
25%
	
	IPVA
(art. 158, III)
	
50%
	
	ICMS
(art. 158, IV)
	
25%
	IR + IPI
(art. 159, I)
	21,5% - FPE
	 22,5% - FPM
1% - FPM (13º)
	
	3% para regiões N, NE e CO
2.6.3.2 Transferência voluntária 
	É aquela que, em regra, é requerida pelo ente menor ao ente maior, materializada através de convênio, para auxílio nas áreas de saúde, educação, segurança pública etc. 
Atente: não há óbice constitucional ou legal a que a receita voluntária seja transferida do ente menor ao maior. Esse óbice só existe para a transferência obrigatória, tratada acima, previstana Constituição.
Vale ressaltar que as transferências voluntárias não se confundem com operações de crédito. Ou seja, não são empréstimos, mas transferências “a fundo perdido”. As transferências voluntárias são geralmente condicionadas, devendo ser atendidas as finalidades previstas no convênios. Diversa é a hipótese de operação de crédito, que deve ser devolvido e geralmente não possui condições. Assim, convém não confundir transferências voluntárias com empréstimos públicos.
Veja que, sendo as transferências voluntárias condicionadas, se o ente que as receber não aportar seus créditos às finalidades e condições definidas no convênio, terá que devolver o dinheiro acrescido de juros e correção monetária. Isso é extraído do art. 25, §2º da LRF, que afirma: “é vedada a utilização de recursos transferidos em finalidade diversa da pactuada”.
Com relação às transferências obrigatórias, a Constituição prevê, no art. 160, a proibição de transferências condicionadas, salvo em duas situações: (i) na eventualidade de o ente político menor ter uma dívida para com o ente maior e não pagar no vencimento; (ii) inobservância da aplicação mínima dos recursos em saúde. Isso não se aplica às transferências voluntárias, que podem ser condicionadas.
Art. 160 da CRFB/88. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção [transferências obrigatórias], aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos.
Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de condicionarem a entrega de recursos:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
I - ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
II - ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) Serviço público de saúde (a CF não trata do ensino público aqui).
Vale ressaltar que a LRF (LC. 101/2000) proíbe sejam realizadas operações de crédito entre entes. Assim, um ente político não pode emprestar dinheiro a outro ente político. Alguns Estados ainda pagam dívidas à União, mas isso ocorre em relação a empréstimos anteriores à LC n. 101/2000, data em que ainda era possível esse tipo de operação.
Art. 35 da LC n. 101/2000. É vedada a realização de operação de crédito entre um ente da Federação, diretamente ou por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou empresa estatal dependente, e outro, inclusive suas entidades da administração indireta, ainda que sob a forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente.
§ 1º Excetuam-se da vedação a que se refere o caput as operações entre instituição financeira estatal e outro ente da Federação, inclusive suas entidades da administração indireta, que não se destinem a:
I - financiar, direta ou indiretamente, despesas correntes;
II - refinanciar dívidas não contraídas junto à própria instituição concedente.
§ 2º O disposto no caput não impede Estados e Municípios de comprar títulos da dívida da União como aplicação de suas disponibilidades.
	Pergunta-se: é possível a atual renegociação de dívidas oriundas de empréstimos entre entes políticos anteriores à LC 101/2000? Não. Nos dias atuais, um ente político não pode emprestar dinheiro a outro ente, ainda que sob forma de renegociação, novação ou postergação da dívida anteriormente contraída. Isso gera muitos inconvenientes para os Estados, que objetivam renegociar suas dívidas, em razão dos índices agressivos praticados.
	Rememoremos as principais diferenças entre a transferência obrigatória e a voluntária:
	Transferência obrigatória
	Transferência voluntária
	É obrigatória, levada a efeito por determinação constitucional.
	É uma questão de conveniência do ente político respectivo, inexistindo determinação legal.
	Sempre advém do ente maior para o menor.
	O ente menor pode transferir para o maior, contanto que ostente condições financeiras. 
	Veda-se o condicionamento, de acordo com o art. 160 da CRFB/88, que prevê duas exceções, já tratadas (cumprimento das obrigações de crédito e aplicação do mínimo na saúde).
	Em regra, são condicionadas. Geralmente, o ente político beneficiário deve verter os recursos para as finalidades previstas no convênio.
	Para finalizar, ainda em relação às transferências voluntárias, dois artigos da LRF devem ser analisados, quais sejam, os artigos. 11 e 25:
Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.
Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.
Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde.
§ 1º São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias:
I - existência de dotação específica;
II - (VETADO)
III - observância do disposto no inciso X do art. 167 da Constituição;
IV - comprovação, por parte do beneficiário, de:
a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos;
b) cumprimento dos limites constitucionais relativos à educação e à saúde;
c) observância dos limites das dívidas consolidada e mobiliária, de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, de inscrição em Restos a Pagar e de despesa total com pessoal;
d) previsão orçamentária de contrapartida.
§ 2º É vedada a utilização de recursos transferidos em finalidade diversa da pactuada.
§ 3º Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social.
	De acordo com o art. 11, para que seja considerado responsável, o ente político é obrigado a instituir, prever e arrecadar todos os tributos de sua competência. Essa arrecadação deve ser efetiva. O parágrafo único do art. 11, por sua vez, refere-se aos impostos, dispondo que o ente que não institui, prevê a arrecada os impostos de sua competência fica impedido de receber transferências voluntárias.
	Observe-se, portanto, a título de exemplo, que um Município deixe de instituir a COSIP. Neste caso, ele não ficará impedido de receber transferências voluntárias, já que a COSIP não é um imposto, mas uma contribuição. Por outro lado, no presente momento, a União não pode receber transferências voluntárias de nenhum ente (embora isso dificilmente viesse a ocorrer), tendo em vista que ainda não instituiu o imposto sobre grandes fortunas.
	Para alguns autores, a LRF teria transformado a competência tributária em um poder-dever, retirando-lhe a facultatividade prevista no CTN. Essa corrente não prevalece. De acordo com a corrente majoritária, à luz da jurisprudência do STF, a competência tributária é facultativa. Essa livre prerrogativa de que dispõem os entes políticos não foi esvaziada pela LRF.
	A despeito do que dispõe o parágrafo único do art. 11 da LRF, o ente pode deixar de instituir um dos seus impostos, ficando apenas sujeito às consequências do parágrafo único do art. 11 da LRF. É preciso entender que, muitas vezes, a administração tributária é muito custosa, sobretudo em municípios pequenos. 
Em atenção às necessidades do povo, o art. 25, §3º da LRF retirou da sanção prevista no art. 11 LRF as transferências voluntárias relacionadas à assistência, saúde e previdência social. Ou seja, não há vedação de transferênciavoluntária nessas três áreas, ainda que o ente deixe de instituir, prever e efetivamente arrecadar seus impostos.
Vale comentar também a ADI 2238, que questionou alguns dispositivos da LRF. O aludido diploma copia o modelo da LRF da Nova Zelândia, que é um estado unitário, o que, para muitos, causa algumas consequências nefastas, sobretudo a centralização exacerbada nas mãos do Governo Federal (centralização vertical), mais especificamente nas mãos do Executivo Federal (centralização horizontal). Esta ADI contesta, dentre outros, o parágrafo único do art. 11 da LRF, sustentando a sua inconstitucionalidade, por violação frontal ao art. 160 da CRFB/88. Isso parece estranho, pois o art. 160 prevê a impossibilidade de condicionamento das transferências obrigatórias, tema diverso das transferências voluntárias. Os autores da ADI, em realidade, desconhecem as diferenças mais básicas entre as transferências obrigatórias e as voluntárias, sendo vedado o condicionamento apenas às transferências obrigatórias. Por esta razão, o STF já decidiu pela inexistência de plausibilidade jurídica da tese levantada pelos autores. O art. 160 da CRFB/88 nada diz sobre as transferências voluntárias.
EMENTA: CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 04 DE MAIO DE 2000 (LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL). MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.980-22/2000. Lei Complementar nº 101/2000. [...] X - Art. 11, parágrafo único: por se tratar de transferências voluntárias, as restrições impostas aos entes beneficiários que se revelem negligentes na instituição, previsão e arrecadação de seus próprios tributos não são incompatíveis com o art. 160 da Constituição Federal. 
3. Classificação orçamentária da receita pública pelo Manual da Receita
A classificação da receita por natureza visa a identificar a origem do recurso segundo o FATO GERADOR. A fim de possibilitar identificação detalhada dos recursos que ingressam nos cofres públicos, esta classificação é formada por um código numérico de 8 dígitos que a subdividide em 6 níveis. A apresentação do código poderá assumir duas formas diferentes, a depender de sua referência: se o Manual da Receita ou Portaria Interministerial 163/01.
	Manual da Receita (COERAS)
	Portaria Interministerial 163/01
	Categoria Econômica
Origem
Espécie 
Rubrica
Alínea
Sub-alínea
	Categoria Econômica
Fonte
Subfonte
Rubrica
Alínea
Sub-alínea
I. Categoria Econômica (classificação econômica da receita pública)
	Foi o art. 11 da lei 4.320/64 que criou as categorias econômicas receitas correntes e de capital, por meio de classificação de considera o motivo de entrada da receita. Com a Portaria Interministerial STN/SOF n° 338 de 26 de abril de 2006, essas categorias econômicas foram detalhadas em Receitas Correntes Intraorçamentárias e Receitas de Capital Intra-orçamentárias. 
Art. 11 - A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
Receita CORRENTE Segundo Piscitelli, genericamente, são receitas correntes aquelas voltadas a custear despesas correntes, sendo resultantes de atividades próprias do Estado, tais como:
Obtenção de recursos pelas vias da tributação;
Cobrança de preços públicos dos particulares e outros valores decorrentes da exploração do patrimônio do Estado nos moldes do direito privado;
Entrada de receita por conta das transferências obrigatórias ou voluntárias realizadas entre os entes.
É uma receita operacional. Ao ser arrecada, representa um aumento no patrimônio público (pois é uma renda que pertence ao Estado). Receitas orçamentárias correntes são arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado com efeitos positivos sobre o patrimônio líquido e constituem instrumento para financiar os objetivos definidos nos programas e ações orçamentários, com vistas a satisfazer finalidades públicas. Assim, a receita corrente é EFETIVA. Exceção: arrecadação da dívida ativa é uma receita corrente que é não efetiva. 
Questão: Toda receita corrente, quanto à afetação patrimonial, deverá ser classificada como efetiva, salvo a arrecadação da dívida ativa. CERTO.
Receita de CAPITAL Segundo Piscitelli, são as entradas resultantes de operações nas quais o Estado busca a captação externa de recursos e, portanto, à parte das suas finalidades ordinárias. Ex.: receitas provenientes das operações de endividamento.
É uma receita que aumenta a disponibilidade financeira do Estado, devendo financiar, em regra, as despesas de capital. Assim como as receitas correntes, são instrumentos de financiamento dos programas e ações orçamentários, a fim de se atingirem as finalidades públicas. Porém, de forma diversa das Receitas Correntes, as Receitas de Capital não provocam efeito sobre o patrimônio líquido. Toda receita de capital é NÃO EFETIVA, Exceção: transferências de capital.
	A receita varia ao sabor dos gastos, ou seja, a sua feição é a feição dos gastos (as receitas correntes, v.g., são vinculadas às despesas correntes). Justamente por isso, a classificação econômica das receitas é feita de maneira diretamente relacionada às despesas. Assim, as despesas também são divididas em correntes e de capital. As despesas correntes podem ser despesas de custeio (ex: despesas de pessoal) e transferências correntes (ex: despesa com pensionistas e inativos). Já as despesas de capital são divididas em investimentos, inversões financeiras e transferências de capital.
	Observe-se, nos quadros abaixo, que a classificação das despesas prevista na Lei n. 4.320/64 é mais simples que a classificação das receitas. Observe-se, também, que as transferências voluntárias, por não constituírem operações produtivas, são despesas correntes, e não de capital:
	
Dicas: as receitas/despesas produtivas são as de capital, que geram frutos para o patrimônio do Estado. Já as receitas/despesas improdutivas são as correntes, sendo realizadas apenas para a manutenção e continuidade da máquina estatal, sem reverter riquezas ao Estado. Essa classificação está delineada de maneira minudente nos artigos 11 e 12 da Lei 4.320/64, sendo necessária a sua memorização. Confira-se:
Art. 11 - A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
§ 1º - São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
§ 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
§ 3º - O superávit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo nº 1, não constituirá item de receita orçamentária. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
§ 4º - A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema: (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
RECEITAS CORRENTES
RECEITA TRIBUTÁRIA
Impostos
Taxas
Contribuições de Melhoria
RECEITA DE CONTRIBUIÇOES
RECEITA PATRIMONIAL
RECEITA AGROPECUÁRIA
RECEITA INDUSTRIAL
RECEITA DE SERVIÇOS
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES
OUTRAS RECEITAS CORRENTES
RECEITAS DE CAPITAL
OPERAÇÕES DE CRÉDITO
ALIENAÇÃO DE BENS
AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL
OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL
As despesas correntes são a fundo perdido,totalmente imprescindíveis ao andamento da máquina estatal. Já as receitas de capital são produtivas, realizadas pelo Estado para que possa ter frutos no futuro.		
II. Origem
	A origem é o detalhamento das categorias econômicas “Receitas Correntes” e “Receitas de Capital”, com vistas a identificar a natureza da procedência das receitas no momento em que ingressam no Orçamento Público.	
	As origens das categorias econômicas são os exemplos das categorias econômicas corrente e de capital dispostos nos §§ 1º e 2º do art. 11 da lei 4.320/64 (DECORAR!):
	Origens da categoria econômica corrente
	Origens da categoria econômica de capital
	Art. 11, § 1º - São receitas correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
Ou seja, são origens:
Receita Tributária.
Receita de contribuições
Receita patrimonial
Receita agropecuária
Receita industrial
Receita de serviços
Transferências correntes
Outras receitas correntes
	§ 2º - São receitas de capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas [operações de crédito]; da conversão, em espécie, de bens e direitos [alienação de bens]; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982)
Ou seja, são origens:
Operação de crédito.
Alienação de bens 
Amortização de empréstimos concedidos 
Transferência de capital 
Outras receitas de capital 
Superávit do orçamento corrente
Questão: Contribuições industriais são origens da categoria econômica corrente. CERTO.
	O art. 11, §3º da lei 4320/64 tentou explicar o que seja superávit do orçamento corrente. O superávit corrente ocorre quando a previsão de arrecadação da receita corrente é maior que a despesa fixada corrente. Na categoria econômica de capital, se há previsão de arrecadação menor que a despesa de capital fixada, haverá déficit de capital. Na análise do total do orçamento, ele estará equilibrado, pois o superávit do orçamento corrente é receita de capital, uma vez que financia o déficit de capital (gerando o equilíbrio). Assim, a receita prevista total corresponde à despesa fixada total do orçamento.
Art. 11, § 3º - O superávit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo nº 1, não constituirá item de receita orçamentária. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 20.5.1982).
	O superávit não constitui item de receita orçamentária porque geraria a contagem em duplicidade do mesmo item. Explicando: O superávit é a diferença entre a receita corrente (que já é um item) com a despesa corrente.
Questão: O superávit do orçamento corrente é receita extraorçamentária de capital. CERTO.
III. Espécie 
	Na espécie é que ocorre a maior qualificação do fato gerador. As espécies são o nível de classificação vinculado à Origem que permite qualificar com maior detalhe o fato gerador das receitas. Por exemplo, dentro da origem Receita Tributária, identificam-se as espécies “Impostos”, “Taxas” e “Contribuições de Melhoria”.
Espécies de origens da categoria econômica CORRENTE
Espécies da origem tributária São os ingressos provenientes da arrecadação de IMPOSTOS, TAXAS E CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA. Dessa forma, é uma receita privativa das entidades investidas do poder de tributar: União, Estados, Distrito Federal e os Municípios.
	Espécies da origem de contribuições É o ingresso proveniente de contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de intervenção nas respectivas áreas. Em suma: a origem contribuições apresenta as espécies CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS e CONTRIBUIÇÕES ECONÔMICAS.
Questão: São espécies da origem tributária as contribuições sociais. ERRADO.
Questão: São espécies da origem contribuições as contribuições sociais, econômicas e de melhoria. ERRADO.
Espécies da origem patrimonial Decorre da exploração do patrimônio do Estado. É o ingresso proveniente de rendimentos sobre investimentos do ativo permanente, de aplicações de disponibilidades em operações de mercado e outros rendimentos oriundos de renda de ativos permanentes. Ex: Aluguéis, juros de títulos de renda, dividendos recebidos da PETROBRAS, Laudêmio, arrendamentos, foros, JUROS DE APLICAÇÃO FINANCEIRA, etc.
Os juros de aplicação financeira são espécie da origem patrimonial porque decorrem da exploração do patrimônio do Estado (correspondem à diferença entre o valor aplicado – patrimônio estatal – e o valor arrecadado). Os juros de aplicação financeira classificam-se como receita orçamentária, efetiva, originária, corrente. 
Mas ATENÇÃO: O principal resgatado da aplicação financeira não é uma receita orçamentária, pois não configura aumento do patrimônio líquido.
Espécies da origem agropecuária Registra o valor total da arrecadação da receita de produção vegetal, animal e derivados e outros. Receitas decorrentes das seguintes atividades ou explorações agropecuárias:
Agricultura (cultivo do solo), inclusive hortaliças e flores;
Pecuária (criação, recriação ou engorda de gado e de animais de pequeno porte);
Atividades de beneficiamento ou transformação de produtos agropecuários em instalações existentes nos próprios. ATENÇÃO: Excetuam-se as usinas de açúcar, fábricas de polpa, de madeira, serrarias e unidades industriais com produção licenciada, que são classificadas como industriais.
Espécies da origem industrial É o ingresso proveniente da atividade industrial de extração mineral, de transformação, de construção e outras, provenientes das atividades industriais definidas como tal pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Exemplo:
Receita da Indústria de Transformação;
Receita da Indústria Mecânica;
Receita da Indústria Química;
Receita da Indústria de Produtos
Farmacêuticos e Veterinários;
Outras
Espécies da origem serviços É o ingresso proveniente da prestação de serviços de transporte, saúde, comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, processamento de dados, vendas de mercadorias e produtos inerentes à atividade da entidade e outros serviços. Essa espécie é cobrada em provas!
Os juros arrecadados sobre empréstimos concedidos são espécie da origem serviço porque a receita decorre do serviço de empréstimo, e não da exploração do patrimônio estatal. 
Espécies da origem transferências correntes É o ingresso proveniente de outros entes/entidades, referente a recursos pertencentes ao ente/entidade recebedora ou ao ente/entidade transferidora, efetivado mediante condições preestabelecidas ou mesmo sem qualquer exigência, desde que o objetivo seja a aplicação em despesas correntes. Ex: se uma entidade arrecada um receita qualquer e a transfere para outra entidade por imposição legal/constitucional ou não. A entidade recebedora só poderá aplicar a receita recebido por transferências correntes em despesas correntes. 
Espécies da origem outras receitas correntes São os ingressos correntes provenientes de outras origens, não classificáveis nas anteriores. Exemplos: Multas e JUROS DE MORA, indenizações e restituições, receitas de cobrança da dívida ativa (principal + acessório), alienação de bens apreendidos, produtos de depósitos abandonados de dinheiro ou objetos de valor, receitas diversas.
Os juros de mora não se confundem com os juros de aplicação financeira nem com os juros arrecadados sobre empréstimos concedidos. 
Espécies de origens da categoria econômica DE CAPITAL
Espécies da origem operação de crédito Não se deveconfundir com a operação de crédito por antecipação de receita orçamentária (que é uma receita extraorçamentária).
Espécies da origem alienação de bens Os bens alienados podem ser móveis ou imóveis.
Espécies da origem amortização de empréstimos concedidos Muita atenção aqui:
O valor do principal Será classificado como receita orçamentária de capital;
Os juros sobre os empréstimos São receita corrente de serviços.
Espécies da origem transferência de capital Obriga às entidades recebedoras a aplicação das transferências em despesas de capital.
Espécies da origem outras receitas de capital.
Espécies da origem superávit do orçamento corrente É extraorçamentária.
ATENÇÃO: Especificação das categorias econômicas (Portaria Interministerial STN/SOF 3382006)
Operações INTRA-ORÇAMENTÁRIAS são aquelas realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública integrantes do orçamento fiscal e do orçamento da seguridade social do mesmo ente federativo; por isso, não representam novas entradas de recursos nos cofres públicos (não há aumento da disponibilidade), mas apenas remanejamento de receitas entre eles. 
As receitas intra-orçamentárias são contrapartida (uma anula outra) de despesas catalogadas na Modalidade de Aplicação “91 – Aplicação Direta Decorrente de Operação entre Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes do Orçamento Fiscal e do Orçamento da Seguridade Social” que, devidamente identificadas, possibilitam anulação do efeito da dupla contagem na consolidação das contas governamentais. Dessa forma, a fim de se evitar a dupla contagem dos valores financeiros objeto de operações intra-orçamentárias na consolidação das contas públicas, a Portaria Interministerial STN/SOF 338/2006, incluiu as “Receitas Correntes Intra-Orçamentárias” e “Receitas de Capital Intra-Orçamentárias”.
Essas classificações, segundo disposto pela Portaria que as criou, NÃO constituem novas categorias econômicas de receita, mas apenas especificações das categorias econômicas “Receita Corrente” e “Receita de Capital”.
IV. Rubrica
Agrega determinadas espécies de receitas cujas características próprias sejam semelhantes entre si. Dessa forma, detalha a espécie, por meio da especificação dos recursos financeiros que lhe são correlatos. Exemplo: A rubrica “Impostos sobre o Patrimônio e a Renda” é detalhamento da espécie “Impostos”.
V. Alínea
A alínea é o detalhamento da rubrica e exterioriza o “nome” da receita que receberá o registro pela entrada de recursos financeiros. Exemplo: A alínea “Impostos sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza” é o detalhamento da rubrica “Impostos sobre o Patrimônio e a Renda”.
Questão: é a rubrica que exterioriza o nome da receita. ERRADO.
VI. Sub-alínea
Constitui o nível mais analítico da receita, utilizado quando há necessidade de se detalhar a Alínea com maior especificidade. Exemplo: A subalínea “Pessoas Físicas” é detalhamento da alínea “Impostos sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza”.
ATENÇÃO: essa estrutura que vimos agora só vale para a receita orçamentária, e não para a receita extraorçamentária.
4. Renúncia de receita
4.1 Conceito
	Segundo Ricardo Lobo Torres, a renúncia de receita nada mais é do que um privilégio financeiro empregado na vertente da receita pública. Inspirada no direito norte-americano, a renúncia da receita, no Brasil, se aproxima muito do gasto público (embora com ele não se confunda), recaindo sobre si um controle mais minudente.
	A renúncia de receita produz o mesmo resultado econômico do gasto, mas não pode ser confundida com ele.
	De acordo com o art. 14, §1º, da LRF, haverá renúncia de receita sempre que se fizer presente algum benefício de natureza fiscal ou tributária cujo resultado seja a redução dos ingressos nos cofres públicos.
4.2 Exemplos
	São exemplos de renúncias de receita as isenções, anistias, remissões, isenções parciais (deduções), moratórias (estas, sob o prisma tributário, não se enquadrariam propriamente no conceito de renúncia, tendo em vista que constituem mero diferimento do pagamento do tributo. Sob o prisma do direito financeiro, contudo, a moratória é sim uma renúncia de receita, tendo em vista que, no momento em que deveria existir a receita, ela não ocorre).
	Muitos confundem os subsídios com receitas. Isso porque a tanto a LRF quanto a CRFB/88, ao tratar da renúncia das receitas, tocam neste instituto. Mas atente: subsídios são privilégios operantes na vertente da despesa, e não da receita. Assim sendo, tecnicamente, não consistem em exemplo de renúncia de receita. Contudo, para que sejam concedidos, deverão passar pelos mesmos requisitos exigidos para a concessão de renúncias de receitas (é por isso que há a confusão relatada). 
A mesma observação vale para as subvenções, que não se confundem com subsídios. Os subsídios são vertidos geralmente para particulares (pessoas jurídicas de direito privado) e dependem de uma performance econômica favorável do beneficiário. Já as subvenções podem ostentar índole social ou econômica, consistentes em dinheiro vertido para particulares ou pessoas jurídicas de direito público, sem finalidade lucrativa, sendo desnecessária qualquer contrapartida dos destinatários. 
	Subsídios
	Subvenções
	Não consistem em exemplos de renúncia de receita, embora tenham os mesmos requisitos. São vertentes da despesa.
	São vertidos para particulares e dependem de uma performance econômica favorável do beneficiário.
	Ostentam índole social ou econômica, sendo desnecessária qualquer contrapartida dos destinatários.
Sobre subvenções, confiram-se o art. 26 da LRF e arts. 12 a 16 da Lei 4.320/64:
LRF. Art. 26. A destinação de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverá ser autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais.
§1o O disposto no caput aplica-se a toda a administração indireta, inclusive fundações públicas e empresas estatais, exceto, no exercício de suas atribuições precípuas, as instituições financeiras e o Banco Central do Brasil.
§2o Compreende-se incluída a concessão de empréstimos, financiamentos e refinanciamentos, inclusive as respectivas prorrogações e a composição de dívidas, a concessão de subvenções e a participação em constituição ou aumento de capital.
Lei 4.320/64. Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas:   (Vide Decreto-lei nº 1.805, de 1980)
Despesas Correntes Despesas de Custeio e Transferências Correntes
Despesas de Capital Investimentos, Inversões Financeiras e Transferências de Capital
§ 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
§ 2º Classificam-se como Transferências Correntes as dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado.
§ 3º Consideram-se subvenções, para os efeitos desta lei, as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas, distinguindo-se como:
I - subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa;
II - subvenções econômicas, as que se destinem a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril.
§ 4º Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.
§ 5º Classificam-secomo Inversões Financeiras as dotações destinadas a:
I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização;
II - aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital;
III - constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros.
§ 6º São Transferências de Capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública.
Art. 13. Observadas as categorias econômicas do art. 12, a discriminação ou especificação da despesa por elementos, em cada unidade administrativa ou órgão de govêrno, obedecerá ao seguinte esquema:
DESPESAS CORRENTES
Despesas de Custeio Pessoa Civil, Pessoal Militar, Material de Consumo, Serviços de Terceiros, Encargos Diversos
Transferências Correntes Subvenções Sociais, Subvenções Econômicas, Inativos, Pensionistas, Salário Família e Abono Familiar, Juros da Dívida Pública, Contribuições de Previdência Social, Diversas Transferências Correntes.
DESPESAS DE CAPITAL
Investimentos Obras Públicas, Serviços em Regime de Programação Especial, Equipamentos e Instalações, Material Permanente, Participação em Constituição ou Aumento de Capital de Empresas ou Entidades Industriais ou Agrícolas
Inversões Financeiras Aquisição de Imóveis, Participação em Constituição ou Aumento de Capital de Empresas ou Entidades Comerciais ou Financeiras, Aquisição de Títulos Representativos de Capital de Empresa em Funcionamento, Constituição de Fundos Rotativos, Concessão de Empréstimos e Diversas Inversões Financeiras
Transferências de Capital Amortização da Dívida Pública, Auxílios para Obras Públicas, Auxílios para Equipamentos e Instalações, Auxílios para Inversões Financeiras e Outras Contribuições.
Art. 14. Constitui unidade orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mesmo órgão ou repartição a que serão consignadas dotações próprias. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)
Parágrafo único. Em casos excepcionais, serão consignadas dotações a unidades administrativas subordinadas ao mesmo órgão.
Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)
§ 1º Entende-se por elementos o desdobramento da despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração publica para consecução dos seus fins. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)
§ 2º Para efeito de classificação da despesa, considera-se material permanente o de duração superior a dois anos.
SEÇÃO I
Das Despesas Correntes
SUBSEÇÃO ÚNICA
Das Transferências Correntes
I) Das Subvenções Sociais
Art. 16. Fundamentalmente e nos limites das possibilidades financeiras a concessão de subvenções sociais visará a prestação de serviços essenciais de assistência social, médica e educacional, sempre que a suplementação de recursos de origem privada aplicados a êsses objetivos, revelar-se mais econômica.
Parágrafo único. O valor das subvenções, sempre que possível, será calculado com base em unidades de serviços efetivamente prestados ou postos à disposição dos interessados obedecidos os padrões mínimos de eficiência prèviamente fixados.
4.3 Requisitos para a concessão de renúncia de receita (e subsídios)
	Sobre este tema, há requisitos constitucionais (arts. 150, § 6º, e 165, § 6º, ambos da CRFB/88) e requisitos legais.
I. Requisitos constitucionais
	Segundo dispõe o art. 150, §6º, CRFB/88, o primeiro requisito para a renúncia de receita é a existência de lei específica, ou seja, lei que deve versar apenas sobre aquele assunto. Cuida-se de norma que valoriza o princípio da indisponibilidade de bens públicos. Esse artigo, assim como o art. 165, é sede implícita de dois princípios orçamentários: equilíbrio e transparência. Esses dois princípios são implícitos, não existindo nenhum dispositivo da Constituição que trate deles diretamente. Eles, somados com o princípio do planejamento, norteiam a Lei de Responsabilidade Fiscal (mas, dentre eles, apenas o princípio do planejamento está expresso na CRFB/88).
Art. 150. § 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993).
Pergunta-se: o princípio do equilíbrio é expresso na Constituição Federal? Não, bem como o princípio da transparência, trata-se de princípio implícito, induzido pelo art. 150, §6º da CRFB. 
	O segundo requisito constitucional é previsto no art. 165, §6º, perpassa pela viabilidade da renúncia de receita. A questão que se põe é saber se as leis orçamentárias têm condições de absorver o impacto causado pela renúncia de uma receita. Se, porventura, os prejuízos suplantarem os benefícios de uma renúncia de receita, isso significa que ela não é viável. Justamente por isso, este dispositivo exige uma estimativa de impacto regionalizado da renúncia de receita na tríade orçamentária (PPA, LDO e LOA). Este dispositivo também é sede implícita dos princípios do equilíbrio e transparência.
Art. 165. § 6º - O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia.
II. Requisitos legais
	Três são os requisitos legais para a renúncia de receitas e concessão de subsídios, todos previstos no art. 14 da LRF. São eles:
Estimativa de impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes (art. 14, caput);
Atendimento ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) (art. 14, caput);
Atendimento a, pelo menos, uma das seguintes condições [alternativamente]:
demonstração pelo proponente [chefe do Poder Executivo] de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12 da LRF, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias (inciso I do art. 14); O Chefe do Poder Executivo tem que demonstrar que a previsão de receitas feita na LOA considerou a renúncia de receita que pretende conceder. Atenção: o STF entende que o proponente da renúncia de receita deve ser o Chefe do Executivo porque é ele quem detém a iniciativa de leis orçamentárias, de planejamento tributário, e, como a renúncia de receita integra o planejamento, deve provir também de lei de iniciativa do Chefe do Executivo. Esse pensamento silogístico é construção da jurisprudência do STF.
estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição (inciso II do art. 14).[2: Na ADI 2238, o STF reconheceu a constitucionalidade da utilização de medidas de compensação pela Administração para cumprir as condições para a renúncia de receita.]
Art. 14, § 2º da LRF. Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso.
Muita atenção: nem sempre será necessária a existência de uma medida de compensação para que seja efetivadauma renúncia de receita. Caso o chefe do Executivo demonstre que a renúncia foi considerada na estimativa da receita e que ela não afetará as metas dos resultados fiscais, não será necessária uma medida de compensação.
Só será necessária uma medida compensatória se o chefe do Executivo não observar o inciso I do art. 14 da LRF.
	Vale ressaltar que a lei que concede alguma forma de renúncia de receita ou prevê a medida compensatória não precisa observar os princípios da anterioridade de exercício e anterioridade nonagesimal. Esse tema é objeto de estudo pelo direito tributário.
	O art. 14, §3º da LRF prescreve duas EXCEÇÕES em que será possível haver renúncia de receita sem atendimento dos requisitos acima descritos:
Alteração de alíquotas de impostos extrafiscais, desde que a redução das alíquotas tenha sido operada por ato do Poder Executivo, conforme art. 153, §1º da CRFB/88;[3: Art. 153, § 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I (II), II (IE), IV (IPI) e V (IOF).]
Cancelamento de débitos cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.
Questão interessante (PGE): A lei que criou o tributo (ex: implementou a COSIP no Município) foi posterior à lei orçamentária do ente federativo (ex: a lei orçamentária do município já foi aprovada e posteriormente o município cria um tributo). Uma eventual redução do valor desse tributo, instituída por iniciativa do Chefe do Executivo através de novo projeto de lei orçamentária, consistiria renúncia de receita, na forma do art. 14 da LRF? 
Resposta: a redução de imposto é considerada uma renúncia de receita pelo art. 14 da LRF. Contudo, a renúncia de receita só ocorre quando o tributo é criado anteriormente à lei orçamentária, sua arrecadação é considerada na estimativa de receita, e, posteriormente, uma outra lei reduz o valor do tributo. In casu, o tributo foi criado após a aprovação da LOA, de modo que não foi considerado na estimativa de receita. Por causa disso, não houve renúncia de receita.
5. A polêmica do empréstimo compulsório como receita pública
	Os empréstimos compulsórios são caracterizados pela vinculação do produto arrecadado, sendo destinados aos gastos oriundos de uma calamidade pública, iminência de uma guerra externa ou investimento nacional de caráter relevante ou urgente. Trata-se, portanto, de um tributo cuja arrecadação é vinculada/afetada (o seu fato gerador não é vinculado, mas apenas o produto arrecadado – não confundir com as taxas). Assim entende o STF e assim dispõe a Constituição:[4: Há aqui a chamada REFERIBILIDADE, tendo em vista que, embora o fato gerador não seja vinculado, a sua receita é vinculada/afetada.]
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
Entende a doutrina que, nas situações de calamidade pública, guerra e investimento público de caráter urgente e relevante, poderá a União criar o empréstimo compulsório, tendo como fato gerador o fato gerador de qualquer imposto federal.
	A grande questão é que o empréstimo compulsório abrange uma vinculação imediata (o produto de sua arrecadação é vinculado às finalidades de sua instituição previstas no art. 148 da CRFB/88) e outra vinculação mediata (significa que a destinação dos empréstimos compulsórios está vinculada ao contribuinte). Ou seja, há uma vinculação mediata ao contribuinte, tendo em vista que o valor deve ser devolvido ao contribuinte, após supridas as despesas. A própria Lei instituidora deve prever a data em que o empréstimo deve ser tornado ao contribuinte.
	O término das situações excepcionais resulta na extinção do empréstimo compulsório. Sendo ele extinto, haverá a restituição dos valores arrecadados aos contribuintes.
	Essa restituição dos valores excedentes decorrentes dos empréstimos compulsório será feita no prazo estabelecido em Lei Complementar e em dinheiro/moeda corrente. A Lei que cria o empréstimo compulsório já estabelece esse prazo (no Brasil, não há compulsório perpétuo, sob pena de inconstitucionalidade):
Art. 15 do CTN, parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as condições de seu resgate, observando, no que for aplicável, o disposto nesta Lei.
	É possível que o prazo de duração do empréstimo compulsório marque um prazo vinculado ao fim da guerra, sem definir uma data certa. O essencial é que haja prazo determinado, ainda que esse não seja definido quanto à data certa. Ex: empréstimo a ser cobrado durante a duração da 2ª guerra mundial.
	Em relação à restituição ser em dinheiro ou em moeda corrente, já houve uma discussão, pois o Governo pretendeu devolver os valores em títulos da dívida pública. Nessa oportunidade, o STF decidiu que a restituição deve ocorrer na mesma forma/modalidade do empréstimo (se foi feito é moeda, deverá ser restituído em moeda), e com correção monetária (segundo o STF, se o empréstimo for pago sem correção monetária é como se não houvesse sido devolvido). Julgado: RE 175385, já cobrado pelo CESPE:[5: Trata-se de um direito de receber determinada quantia perante a Administração (é um crédito diante da Administração). A pessoa que compra ações passa a ter direito ao valor das ações + dividendos (participação nos lucros). Na administração ocorre o mesmo: o ente público emite títulos da dívida pública e a pessoa passa a ter direito ao valor do título + juros (pois a emissão de títulos da dívida pública representa uma modalidade de empréstimo público).][6: A título de informação, pontua-se que, excepcionalmente, no caso de empréstimo compulsório instituído em favor da Eletrobrás, o STF decidiu que o tributo criado havia sido recebido pela Constituição Federal de 1988, acatando a possibilidade de devolução em ações (AGRRE 193.798/PR – Rel. Min. Ilmar Galvão).]
EMPRESTIMO COMPULSORIO - AQUISIÇÃO DE COMBUSTIVEIS. O empréstimo compulsório alusivo a aquisição de combustíveis - Decreto-Lei n. 2.288/86 mostra-se inconstitucional tendo em conta a forma de devolução - quotas do Fundo Nacional de Desenvolvimento - ao invés de operar-se na mesma espécie em que recolhido - Precedente: recurso extraordinário n. 121.336-CE.
	Conclui-se que os empréstimos compulsórios são tributos de ARRECADAÇÃO VINCULADA (necessidade de utilização da receita obtida, exclusivamente com determinadas atividades), embora não sejam tributos vinculados (já que não dependem de qualquer atividade específica relativa ao sujeito passivo para legitimar sua cobrança – exigência que não tem correlação com a destinação da arrecadação).
	Voltando à problemática, observa-se que os empréstimos compulsórios adentram nos cofres públicos com data certa para sair. Justamente por isso, muitos autores, equivocadamente, enquadravam os empréstimos compulsórios no quarto campo da atividade financeira (o crédito público), e não como receita. O crédito público abarca as operações em relações às quais o Poder Público empresta dinheiro ao particular, bem como as operações em que o Poder Público pede dinheiro emprestado ao particular. O crédito público respeita autonomia de vontade do particular, que tem a faculdade de pagar ou não (ex.: contrato de empréstimo; emissão de títulos da dívida pública).
	Atente: não é correto enquadrar os empréstimos compulsórios na categoria empréstimo público, tendo em vista que não há escolha por parte do contribuinte. O contribuinte não tem a faculdade de pagar ou não este tributo, havendo atuação estatal sob a ótica do poder de império. Deste modo, há aqui receita derivada, que consiste nos recursos particulares que adentramnos cofres públicos em razão de uma constrição patrimonial.
	Resumindo: EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO = RECEITA PÚBLICA (nesse sentido, inclusive, foi a recente prova do MPF, para o cargo de Procurador da República). 	
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