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Contabilidade e Orçamento Público Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcelo Bernardino Araújo Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Receita Pública • Conceito • Classificação • Estágios da receita pública • Receita pública e a LRF • Receita da dívida ativa • Aspecto contábil da inscrição e arrecadação da dívida ativa · Adquirir conhecimentos sobre a receita pública, sobre os ingressos extraorçamentários e sobre os débitos dos contribuintes para com o Estado. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno (a)! Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema a Receita Pública. Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado, por favor, estude todos com atenção! ORIENTAÇÕES Receita Pública UNIDADE Receita Pública Contextualização Desde que o homem decidiu viver em sociedade, as tarefas foram delegadas pelo bem de todos. Na Pré-História, a partir do momento em que se elegia ou surgia um representante, um líder, ele era presenteado com caças e conquistas de terras, que foram, posteriormente, assimilados em forma de tributos. No período histórico, conhecido como Idade Antiga (entre 4.000 a.C. e 476 d.C.), os impostos (tributos) eram cobrados pelos imperadores e tiveram um papel fundamental no financiamento dos exércitos. Na Idade Média (entre 476 d.C. e 1.453 d.C.), a partir da queda do império romano, as terras foram divididas, e passaram a ser chamadas de feudos. Cada feudo possuía seu representante, o senhor feudal. A circulação de moeda era escassa, pois não havia a figura do Estado. A forma de tributação mais comum, na época, era o oferecimento de parte da produção e colheita realizadas pelos servos entregues ao senhor feudal, e quem não pagasse o tributo poderia ser preso ou morto. No fim da Idade Média, começaram as surgir as cidades em toda a Europa. Surgia uma nova classe social: a dos comerciantes, industriais e banqueiros, denominada de burguesia, que deriva de burgo, que significa cidade. Na Idade Moderna (entre 1.453 d.C. e 1.789 d.C.), os feudos foram transformados em reinos. Alguns reinos se uniram, o que deu origem aos Estados Nacionais ou países como conhecemos atualmente. Como havia um monopólio na rota comercial árabe-italiana sobre as especiarias que vinham do oriente, o preço desses produtos era muito elevado. Para buscar novas rotas comerciais, ocorreram as grandes navegações sobre o então desconhecido oceano Atlântico. Adivinhe quem financiava essas explorações? Sim, os tributos eram cobrados dos súditos, em dinheiro, com moedas de ouro ou de prata. Por fim, a Idade Contemporânea, a partir da Revolução Francesa, cujo lema era “liberdade, igualdade e fraternidade”, é o período no qual se consolidou o regime capitalista no ocidente. A partir de então, observamos a forma de tributação incidir das mais diversas formas, como, por exemplo, pela produção, sobre a renda, sobre mercadorias e serviços, sobre operações financeiras, dentre outras formas. Em cada um dos períodos da história, percebe-se que o povo busca fugir da tributação realizada de forma abusiva. Mas se não houvesse tributo, não existiria Estado como conhecemos na forma de prestação de serviços de interesse público. Portanto, o tributo é a principal fonte de receita para a Fazenda Pública. 6 7 Conceito Segundo o MTO (2015), as receitas públicas (sob a perspectiva orçamentária) são ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado, que se desdobram em receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, e ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Portanto, as receitas orçamentárias são disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e constituem elemento novo para o patrimônio público, ou seja, pertencem ao Estado. Ou ainda, é o instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, pois a receita orçamentária é fonte de recursos utilizada pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. Já os ingressos extraorçamentários são recursos financeiros que apresentam caráter temporário e não integram a LOA, ou seja, não pertencem ao Estado. O Estado é mero depositário desses recursos, que constituem passivos exigíveis e cujas restituições não se sujeitam à autorização legislativa. São exemplos de ingressos extraorçamentários: Depósitos em Caução, Fianças (o Seguro Garantia, também conhecido como Seguro Fiança, ou ainda a Fiança Bancária, também conhecida por Carta Fiança), Operações de Crédito por Antecipação de Receita Orçamentária (ARO), emissão de moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros. Entretanto, um ingresso extraorçamentário poderá ser convertido em uma receita orçamentária. Como? Explico. Para participar de uma licitação na modalidade concorrência, para a execução de uma obra, por exemplo, pode a Administração Pública exigir um Depósito em Caução ou uma Carta Fiança, sobre um percentual do valor da obra, que, se for realizada a contento, será devolvida à empresa executora. Mas, caso o empreiteiro descumpra alguma cláusula do Edital, ele será multado e essa multa poderá ser abatida do Depósito em Caução ou a entidade pública executará a Carta Fiança na instituição financeira emissora. Entendeu? Para fins contábeis, a receita orçamentária pode ser classificada quanto ao impacto na situação líquida patrimonial em: a. Receita Orçamentária Efetiva é aquela que, no momento do reconhecimento do crédito, aumenta a situação líquida patrimonial da entidade. Constitui fato contábil modificativo aumentativo. b. Receita Orçamentária Não Efetiva é aquela que não altera a situação líquida patrimonial no momento do reconhecimento do crédito e, por isso, constitui fato contábil permutativo, como é o caso das operações de crédito. Para a contabilização de atos (sob a perspectiva orçamentária) e demais informações de controle, ela utiliza diferentes classes do Plano de Contas, classe 5 para aprovação do orçamento, classe 6 para execução do orçamento e demais controles classes 7 e 8. Já para a contabilização de fatos (sob a perspectiva patrimonial), o que é conhecido como Receitas ou Ganhos (lançamentos de natureza credora) na 7 UNIDADE Receita Pública Contabilidade Geral, é denominado de Variação Patrimonial Aumentativa (VPA) classe 4, que pode ter como contrapartida um aumento de um ativo, classe 1 ou, ainda, uma diminuição de um passivo, classe 2. Portanto, com o objetivo de evidenciar o impacto no patrimônio, deve haver o registro da variação patrimonial aumentativa, independentemente da execução orçamentária, em função do fato gerador, observando-se os princípios contábeis da competência (pela ocorrência do fato gerador independentemente do recebimento) e da oportunidade (pelo registro de forma ágil e completa). Importante! O Ministério da Fazenda é o Órgão brasileiro responsável pela formulação e execução da política econômica, da administração fazendária da União e da administração da estrutura fiscal federal. Você Sabia? Classificação Segundo o MCASP (2015), O detalhamento das classificações orçamentárias da receita, no âmbito da União, é normatizado por meio de Portarias da Secretaria de Orçamento Federal (SOF), Órgão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). As receitas orçamentárias são classificadas segundo os seguintes critérios:a. Natureza; b. Fonte de Recursos ou Destinação de Recursos; c. Indicador de Resultado Primário. Figura 1 - Classificação da receita por Natureza. Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. 8 9 Site do Instituto Legislativo Brasileiro / Interlegis (ILS) vinculado ao Senado Federal. O ILB disponibiliza cursos a distância gratuitos aos cidadãos brasileiros que se interessem por temas ligados a atuação legislativa, além de promover e fomentar pesquisas científicas relacionadas ao Poder Legislativo e sua inter-relação com os demais poderes e instituições democráticas, bem como disponibilizar o conhecimento produzido aos cidadãos por meio de cursos abertos e outras iniciativas; fomentar, apoiar e assistir, com o necessário suporte técnico, o processo de modernização do Poder Legislativo brasileiro, integrando-o em suas instâncias federal, estadual e municipal, visando melhorar a comunicação e o fluxo de informações entre os legisladores, bem como para aumentar a eficiência e a eficácia das administrações das Casas Legislativas. Disponível em: http://saberes.senado.leg.br Ex pl or A fim de possibilitar identificação detalhada dos recursos que ingressam nos cofres públicos, a classificação por natureza de receita é formada por um código numérico de 8 dígitos que se subdivide em seis níveis – Categoria Econômica, Origem, Espécie, Rubrica, Alínea e Subalínea. Por exemplo: Figura 2 - Exemplo de classificação da receita orçamentária. Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. A classificação mais utilizada é a de natureza da receita que se subdivide em: Categoria econômica (receitas correntes e receitas de capital), Origem e Espécie. Segundo o MCASP (2015), Receitas Orçamentárias Correntes aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, em geral, com efeito positivo sobre o Patrimônio Líquido e constituem instrumento para financiar os objetivos definidos nos programas e ações orçamentários, com vistas a satisfazer finalidades públicas. Já as Receitas Orçamentárias de Capital também aumentam as disponibilidades financeiras do Estado e são instrumentos de financiamento dos programas e ações orçamentários, a fim de se atingirem as finalidades públicas. Porém, de forma diversa das Receitas Correntes, as Receitas de Capital em geral não provocam efeito sobre o Patrimônio Líquido. De acordo com o §2º do art. 11 da Lei nº 4.320/1964, com redação dada pelo Decreto-Lei nº 1.939/1982, Receitas de Capital são as provenientes tanto da realização de recursos financeiros oriundos da 9 http://saberes.senado.leg.br UNIDADE Receita Pública constituição de dívidas e da conversão, em espécie, de bens e direitos, quanto de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital. Importante! Não confunda crédito orçamentário com receita orçamentária. Crédito orçamentário é sinônimo de dotação. Dotação significa autorização de gasto fixado na Lei Orçamentária Anual (LOA). Para cada tipo de gasto em cada Unidade Orçamentária há uma dotação diferente. Importante! Estágios da Receita Pública O planejamento da receita orçamentária se dá em apenas um estágio, conforme o MCASP (2015): a previsão. 1. Previsão: implica planejar e estimar a arrecadação das receitas orçamentárias que constarão na proposta orçamentária. A previsão de receitas é a etapa que antecede à fixação do montante de despesas que irão constar nas leis de orçamento, além de ser base para se estimar as necessidades de financiamento do governo. O Lançamento contábil exemplificativo é o seguinte: Previsão da Receita Natureza da informação: orçamentária D – 5.2.1.1.x.xx.xx Previsão Inicial da Receita C – 6.2.1.1.x.xx.xx Receita a Realizar Já a execução da receita orçamentária se dá em três estágios, na forma prevista na Lei nº 4.320/1964: lançamento, arrecadação e recolhimento. 1 Lançamento: segundo o art. 53 da Lei nº 4.320/1964, é o ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. Por sua vez, para o art. 142 do CTN, lançamento é o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo e, sendo o caso, propõe a aplicação da penalidade cabível. Uma vez ocorrido o fato gerador, procede-se ao registro contábil do crédito tributário em favor da fazenda pública em contrapartida a uma variação patrimonial aumentativa. O Lançamento contábil exemplificativo é o seguinte: 10 11 Lançamento da Receita (por competência) Natureza da informação: patrimonial D – 1.1.2.1.x.xx.xx Créditos Tributários a Receber C – 4.1.1.x.x.xx.xx VPA – Impostos 1 Arrecadação: corresponde à entrega dos recursos devidos ao Tesouro pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente. O Lançamento contábil exemplificativo é o seguinte: Arrecadação da Receita (posterior ao fato gerador) Natureza da informação: patrimonial D – 1.1.1 Caixa e Equivalentes de Caixa C – 1.1.2.1.x.xx.xx Créditos Tributários a Receber Natureza da informação: orçamentária D – 6.2.1.1 Receita a Realizar C – 6.2.1.2 Receita Realizada Natureza da informação: controle D – 7.2.1.1 Controle da Disponibilidade de Recursos C – 8.2.1.1.1 Disponibilidade por Destinação de Recursos 1 Recolhimento: é a transferência dos valores arrecadados à conta específica do Tesouro, responsável pela administração e controle da arrecadação e programação financeira, observando-se o princípio da unidade de tesouraria ou de caixa, conforme determina o art. 56 da Lei nº 4.320, de 1964. Importante! Que o governo federal repassa para os municípios 50% da receita do ITR, do IPI e 22,5% do IR e que os Estados repassam para os seus municípios 50% da receita estadual do IPVA e 25% da receita estadual do ICMS? Essas são algumas das chamadas transferências constitucionais, ou seja, obrigatórias. Portanto, caso diminua a arrecadação desses impostos os municípios também são afetados. Entretanto, há uma outra possibilidade de os municípios receberem recursos federais ou estaduais, são as transferências voluntárias, que é a entrega de recursos a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Você Sabia? 11 UNIDADE Receita Pública Receita Pública e a LRF A LRF criou um conceito de Receita Corrente Líquida (RCL), que é apurada em demonstrativo próprio (Anexo III Demonstrativo da Receita Corrente Líquida do Relatório Resumido de Execução Orçamentária – RREO). Este indicador serve para o cálculo de limites definidos pela mesma lei como Despesas com Pessoal, Dívida Consolidada Líquida, Concessão de Garantias e Contratação de Operações de Crédito. Todos esses limites são definidos em percentuais da RCL, mas fazem parte do Relatório de Gestão Fiscal (RGF). A LRF assim define a RCL e dita sua forma de cálculo: IV - receita corrente líquida: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos: a) na União, os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal, e as contribuições mencionadas na alínea a do inciso I e no inciso II do art. 195, e no art. 239 da Constituição; b) nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional; c) na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira citada no § 9º do art. 201 da Constituição. [...] § 3º A receita corrente líquida será apurada somando-se as receitas arrecadadas nomês em referência e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades. Outra classificação, a da visão fiscal, foi criada após a edição da LRF de receita e despesa primária e de receita e despesa não primária (financeira). É a informação utilizada para apuração do resultado fiscal (resultado primário e resultado nominal) do Ente Federativo. O superávit primário (resultado primário positivo) é a economia realizada para o pagamento da dívida pública (MDF, 2014). Receitas Primárias: são aquelas que contribuem para o resultado primário (confronto entre receitas e despesas primárias), ou seja, todas as receitas, excluindo aquelas provenientes de operações de crédito e decorrentes de aplicações financeiras. Despesas Primárias: são aquelas que pressionam o resultado primário, alterando o endividamento líquido do Governo (setor público não financeiro – bancos públicos) no exercício financeiro correspondente. Receitas Não Primárias (Financeiras): são aquelas que não contribuem para o resultado primário ou não alteram o endividamento líquido do Governo no exercício financeiro correspondente, uma vez que criam uma obrigação ou extinguem um direito, ambos de natureza financeira, junto ao setor privado interno e/ou externo. 12 13 Despesas Não Primárias (Financeiras): são aquelas que não pressionam o resultado primário ou não alteram o endividamento líquido do Governo no exercício financeiro correspondente, uma vez que criam um direito ou extinguem uma obrigação, ambas de natureza financeira, junto ao setor privado interno e/ou externo. Resultado Primário: representa a diferença entre as receitas e as despesas primárias (não financeiras). Sua apuração fornece uma melhor avaliação do impacto da política fiscal em execução dos Entes Federativos. Superávits primários, que são direcionados para o pagamento de serviços da dívida, contribuem para a redução do estoque total da Dívida Fiscal Líquida (DFL). Em contrapartida, déficits primários indicam a parcela do aumento da dívida, resultante do financiamento de gastos não financeiros que ultrapassam as receitas não financeiras. Resultado Nominal: diz respeito ao aumento ou diminuição do endividamento. Corresponde à diferença entre o saldo da DFL ao final de um período e o saldo da DFL do período anterior. Caso o resultado seja positivo, indica aumento do saldo da Dívida. Por outro lado, se o resultado for negativo, indica diminuição do saldo da Dívida. O artigo “Utilização da entropia informacional na seleção de indicadores financeiros mais relevantes para tomada de decisão no setor público: o caso dos estados brasileiros” retrata como a informação contábil auxilia no processo de tomada de decisão. ALMEIDA-SANTOS, Paulo Sérgio; ROCHA, Irani; HEIN, Nelson. Utilização da entropia informacional na seleção de indicadores financeiros mais relevantes para tomada de decisão no setor público: o caso dos estados brasileiros. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 19, n. 2, p. 83-105, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pci/v19n2/07.pdf Ex pl or Figura 3 - Tipos de renúncia de receitas 13 UNIDADE Receita Pública Para melhor compreender a renúncia de receita pública, algumas definições do MCASP são necessárias: Anistia: é o perdão da multa, que visa excluir o crédito tributário na parte relativa à multa aplicada pelo sujeito ativo ao sujeito passivo, por infrações cometidas por este anteriormente à vigência da lei que a concedeu. A anistia não abrange o crédito tributário já em cobrança, em débito para com a Fazenda, cuja incidência também já havia ocorrido. Remissão: é o perdão da dívida, que se dá em determinadas circunstâncias previstas na lei, tais como valor diminuto da dívida, situação difícil que torna impossível ao sujeito passivo solver o débito, inconveniência do processamento da cobrança dado o alto custo não compensável com a quantia em cobrança, probabilidade de não receber, erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, equidade etc. Não implica perdoar a conduta ilícita, concretizada na infração penal, nem em perdoar a sanção aplicada ao contribuinte. Contudo, não se considera renúncia de receita o cancelamento de débito, cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança. Crédito presumido: é aquele que representa o montante do imposto cobrado na operação anterior e objetiva neutralizar o efeito de recuperação dos impostos não cumulativos, pelo qual o Estado se apropria do valor da isenção nas etapas subsequentes da circulação da mercadoria. É o caso dos créditos referentes a mercadorias e serviços que venham a ser objeto de operações e prestações destinadas ao exterior. Todavia, não é considerada renúncia de receita o crédito real ou tributário do ICMS previsto na legislação instituidora do tributo. Isenção: é a espécie mais usual de renúncia e define-se como a dispensa legal, pelo Estado, do débito tributário devido. Alteração de alíquota: diminuição na alíquota de tributos que implique redução discriminada é o incentivo fiscal por meio do qual a lei modifica para menos a alíquota. Pode ocorrer isoladamente ou associada a uma modificação de base de cálculo, expressa na aplicação de um percentual de redução. Modificação de base de cálculo: diminuição na base de cálculo de tributos que implique redução discriminada é o incentivo fiscal por meio do qual a lei modifica para menos sua base tributável pela exclusão de quaisquer de seus elementos constitutivos. Pode ocorrer isoladamente ou associada a uma redução de alíquota, expressa na aplicação de um percentual de redução. O conceito de renúncia de receita da LRF é exemplificativo, abarcando, também, além dos instrumentos mencionados expressamente, quaisquer outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. O excesso de arrecadação é uma das fontes para abertura de créditos adicionais, que são autorizações de gastos diferenciadas em relação à aprovação da Lei Orçamentária Anual. 14 15 De acordo com o art. 40 da Lei nº 4.320/1964, “São créditos adicionais as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento”. Dependendo da sua finalidade os créditos adicionais, classificam-se em: suplementares, especiais e extraordinários. 1. Créditos suplementares: destinam-se ao reforço de uma dotação orçamentária já existente, ao passo que os especiais visam atender a uma necessidade não contemplada no orçamento. 2. Créditos extraordinários: pressupõem uma situação de urgência ou imprevisão, tal como guerra, comoção interna ou calamidade pública. 3. Créditos suplementares especiais: dependem de autorização legislativa, ao passo que os extraordinários são abertos por decreto do Executivo, que deles dará ciência imediata ao Legislativo. Os créditos adicionais, uma vez aprovados, incorporam-se ao orçamento do exercício. Receita da Dívida Ativa Segundo o MCASP (2015), Dívida Ativa é o conjunto de créditos tributários e não tributários, em favor da Fazenda Pública, não recebido no prazo para pagamento definido em lei, ou em decisão proferida em processo regular, inscrito pelo órgão ou entidade competente, após apuração de certeza e liquidez. É uma fonte potencial de fluxos de caixa e é reconhecida contabilmente no ativo. Não se confunde com a dívida pública, uma vez que esta representa as obrigações do ente público com terceiros e é reconhecida contabilmente no passivo. O art. 39 da Lei nº 4.320/1964 dispõe: Art. 39. Os créditos da Fazenda Pública, de natureza tributária ou não tributária, serão escriturados como receita do exercício em que forem arrecadados, nas respectivas rubricas orçamentárias. § 1º - Os créditos de que trata este artigo, exigíveis pelo transcurso do prazo para pagamento, serão inscritos, na forma da legislação própria, como Dívida Ativa, em registro próprio, após apurada a sua liquidez e certeza, e a respectiva receita será escriturada a esse título. § 2º - Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Públicadessa natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros, laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações 15 UNIDADE Receita Pública em moeda estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fiança, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais. § 3º - O valor do crédito da Fazenda Nacional em moeda estrangeira será convertido ao correspondente valor na moeda nacional à taxa cambial oficial, para compra, na data da notificação ou intimação do devedor, pela autoridade administrativa, ou, à sua falta, na data da inscrição da Dívida Ativa, incidindo, a partir da conversão, a atualização monetária e os juros de mora, de acordo com preceitos legais pertinentes aos débitos tributários. § 4º - A receita da Dívida Ativa abrange os créditos mencionados nos parágrafos anteriores, bem como os valores correspondentes à respectiva atualização monetária, à multa e juros de mora e ao encargo de que tratam o art. 1º do Decreto-Lei nº 1.025/1969 e o art. 3º do Decreto- Lei nº 1.645/1978. § 5º - A Dívida Ativa da União será apurada e inscrita na Procuradoria da Fazenda Nacional. O Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) distingue a dívida ativa quanto à origem, conforme previsto na Lei nº 4.320/1964: a) Dívida Ativa Tributária: é proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas. b) Dívida Ativa Não Tributária: é proveniente dos demais créditos da Fazenda Pública, decorrentes de contratos em geral ou de outras obrigações legais. Na União, a competência para a gestão administrativa e judicial da dívida ativa é da Advocacia Geral da União (AGU), sendo a dívida ativa tributária gerida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e a dívida ativa das autarquias e fundações públicas federais geridas pela Procuradoria-Geral Federal. Os demais Entes Federativos (Estados, Distrito Federal e Municípios) disporão sobre a competência de seus órgãos e entidades para a gestão administrativa e judicial de sua dívida ativa. Aspecto Contábil da Inscrição e Arrecadação da Dívida Ativa Somente poderão ser encaminhados para inscrição em dívida ativa os créditos vencidos anteriormente reconhecidos como créditos a receber no ativo do órgão ou entidade de origem do crédito (MCASP, 2015). Verificado o não recebimento do crédito no prazo de vencimento, cabe ao órgão ou entidade de origem do crédito encaminhá-lo ao órgão ou entidade competente para sua inscrição em dívida ativa, com observância dos prazos e procedimentos estabelecidos. 16 17 A inscrição em dívida ativa deverá ser realizada por meio de um dos dois procedimentos a seguir, conforme o nível de controle desejado pelo ente: a. Procedimento de Registro 1: utiliza contas de controle para acompanhar todo o processo de inscrição do crédito em dívida ativa, desde o inadimplemento até a efetiva inscrição. Requer uma maior integração entre as diversas etapas e unidades envolvidas. b. Procedimento de Registro 2: haverá registro contábil apenas no momento da efetiva inscrição dos valores em dívida ativa, dispensando o uso de contas de controle. Este procedimento deve ser utilizado quando houver dificuldade de integração entre as diversas unidades participantes do processo. Por ocasião do recebimento, há a baixa patrimonial do direito. O lançamento contábil exemplificativo é o seguinte: Natureza da informação: patrimonial D – 1.1.1.1.x.xx.xx Caixa e Equivalentes de Caixa C – 1.2.1.1.x.xx.xx Créditos a Longo Prazo Natureza da informação: orçamentária D – 6.2.1.1.x.xx.xx Receita a Realizar C – 6.2.1.2.x.xx.xx Receita Realizada Natureza da informação: controle D – 7.2.1.1.x.xx.xx Controle da Disponibilidade de Recursos C – 8.2.1.1.1.xx.xx Disponibilidade por Destinação de Recursos (DDR) 17 UNIDADE Receita Pública Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Manual técnico de orçamento MTO - Capítulo 4 – Receita BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Edição 2016. Brasília: SOF, 2015. http://goo.gl/6daVaO Manual de contabilidade aplicada ao setor público - Parte II – Procedimentos Contábeis Patrimoniais – Capítulo 2 – Composição do Patrimônio Público BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de contabilidade aplicada ao setor público. 6. ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, Subsecretaria de Contabilidade Pública, Coordenação-Geral de Normas de Contabilidade Aplicadas à Federação, 2015. http://goo.gl/QZPxHr Os incentivos fiscais no Brasil. NELSON, Rocco Antonio Rangel Rosso. Revista de la Facultad de Ciências Económicas, Universidad Nacional del Nordeste, n.13, p. 72-41, 2014. http://goo.gl/qsqPS5 Planejamento, transparência, controle social e responsabilidade na administração pública após o advento da lei de responsabilidade fiscal. SALES, Tainah Simões; MARTINS, Ana Laís Pinto. Nomos, v. 34, n. 1, p. 241-257, 2014. http://200.129.29.202/index.php/nomos/article/download/1212/1176 18 http://goo.gl/6daVaO http://goo.gl/QZPxHr http://goo.gl/qsqPS5 19 Referências ALA-HARJA, M.; HELGASON, S. Em direção às melhores práticas de avaliação. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 51, n. 4, p. 5-59, out./dez. 2000. BECKER, D.; EDMUNDO, K. O direito à saúde: sonho de liberdade. In: Influir em políticas públicas e provocar mudanças sociais: experiências a partir da sociedade civil brasileira. GHANEM, E. (Org). São Paulo: Ashoka: Avina: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 5. ed. São Paulo: Makron Books, 1997. POMIAN, Krzusztpf. Periodização. Enciclopédia Einaudi. v. 29, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1993. RFB. Os Tributos na História da Humanidade. Receita Federal do Brasil. Biblioteca do Leãozinho. Disponível em: <http://leaozinho.receita.fazenda.gov. br/biblioteca/Estudantes/Textos/HistoriaTributos.htm> 19
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