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How Globo media manipulated the impeachment of Brazilian President Dilma Rousseff - Van Dijk

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Como a Globo mídia manipulou o impeachment da presidente brasileira Dilma Rousseff.
Teun A. Van Dijk
Introdução
Em 31 de agosto de 2016, o Senado Brasileiro votou para que a presidente Dilma Rousseff saísse do escritório porque ela alegadamente ajustou o orçamento nacional através de operações financeiras “ilegais”. Esse impeachment seguiu por meses de debates ácidos na mídia de massa e na internet, assim como na Câmara dos Deputados. Depois de 8 anos de presidência bem-sucedida (2003 – 2010) do seu mundialmente famoso predecessor Lula e 4 anos de sua própria administração, Rousseff foi reeleita em 2014 com uma leve maioria dos votos, mas com uma taxa de aprovação de 60%.
Como foi que, em 2016, não só essa taxa de aprovação baixou dramaticamente, mas também mais de dois-terços das duas casas do Parlamento decidiram acusa-la e condená-la por uma prática financeira que era comum entre seus predecessores?
Neste artigo, mostramos que esse impeachment foi um resultado de manipulação massiva pela Globo, a maior mídia corporativa do país e a voz da classe média conservadora e, em geral, da oligarquia da direita economicamente dominante e sua agenda neoliberal ameaçando o avanço dos direitos sociais da jovem democracia do país. Essa manipulação midiática é (uma crucial) parte (em controlar a opinião pública) de uma campanha política e jurídica muito mais complexa envolvendo várias instituições, como partidos conservadores, ambas as Casas do Parlamento, a Polícia Federal (PF) e a Corte Suprema (ver por exemplo Souza, 2016).
Junto de outros jornais e revistas conservadores, o jornal O Globo e, especialmente o pervasivo jornal noturno da Rede Globo, o Jornal Nacional (JN), desde 2010 dramaticamente aumentaram seus ataques prévios (2005) contra Lula, Dilma e o governo do Partido dos Trabalhadores (Souza, 2011). A mídia seletivamente os culpou pela pior crise econômica em décadas e os acusou de corrupção, por exemplo, em conexão com a companhia petroleira Petrobras.
Esta campanha de mídia, exacerbando o descontentamento geral sobre a corrupção política generalizada e o ressentimento da direita contra o governo de coalizão de esquerda liderado pelo PT, em março de 2016, instigou grandes manifestações da classe média conservadora. Neste contexto sociopolítico, o parlamento utilizou as operações financeiras da presidente Rousseff como pretexto para acabar com 13 anos de poder do PT e, portanto, com a importante agenda social da Esquerda.
Embora não seja surpreendente que a mídia conservadora critica um governo e uma presidente de esquerda, uma análise sistemática dos editoriais do jornal O Globo (doravante Globo) em março e abril de 2016 mostra que a opinião pública e o protesto e a tomada de decisões políticas subseqüentes, foram sistematicamente manipulados por cobertura tendenciosa e falsas declarações. Mostraremos isso após um resumo da teoria da manipulação dentro do quadro mais amplo de nossa abordagem multidisciplinar e sociocognitiva em Estudos Críticos do Discurso.
Limitações
Existem muitas coisas que, infelizmente, este artigo não oferece. Primeiro de tudo, fornecemos apenas um resumo de algumas propriedades teóricas da manipulação e não uma nova teoria ou uma revisão de estudos anteriores sobre manipulação – o que exigiria um estudo do tamanho de um livro. Em segundo lugar, para entender os editoriais da Globo, seria necessária uma seção mais extensa sobre o contexto sociopolítico no Brasil, bem como sobre os meios de comunicação brasileiros, especialmente a Corporação Globo. Em terceiro lugar, uma análise completa dos editoriais é impossível dentro do espaço de um único artigo, por isso nos concentramos em algumas estratégias de manipulação típicas usadas nos editoriais da Globo.
O contexto sociopolítico no Brasil
O impeachment da presidente Dilma Rousseff (geralmente chamada por seu primeiro nome, Dilma, como é costume no Brasil para políticos e pessoas famosas) deve ser analisado dentro de um contexto sociopolítico complexo de polarização entre a Esquerda, liderada pelo PT e a Direita, liderada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cujo candidato Aécio Neves, perdeu as eleições de 2010 contra Dilma.
Desde a eleição do presidente Lula em 2002 e sua reeleição em 2006 até hoje, a Direita Brasileira em geral, e a mídia em particular procuraram deslegitima-lo, assim como o seu PT (Partido dos Trabalhadores), apesar dos seus sucessos espetaculares e de renome internacional na luta contra a pobreza, como o Bolsa Família e as políticas do Minha Casa. Esta oposição foi ainda mais exacerbada com a eleição de sua sucessora Dilma Rousseff em 2010, e especialmente com sua reeleição em 2014, quando ganhou (mal) contra o candidato opositor Aécio Neves do PSDB. 
As políticas progressistas do PT e partidos aliados contribuíram para frear a pobreza de milhões de brasileiros e promoveram a fama internacional de Lula, razão suficiente para o ressentimento dos conservadores, dos partidos neoliberais, dos políticos e da mídia. (Ver Hunter, 2010). Além disso, em 2005, o PT – assim como outros partidos, estavam envolvidos no escândalo do Mensalão, um esquema de corrupção para compra de votos em favor da legislação governamental - embora nunca tenha sido provado que o dinheiro realmente comprou votos. Embora outros partidos também estivessem envolvidos no escândalo do Mensalão, a mídia se concentrou seletivamente no PT e seus políticos, bem como no próprio Lula.
A veemência dos editoriais e a tendência das notícias do jornal Globo em 2016 não devem ser simplesmente explicadas em termos da oposição ideológica ou partidária entre a Direita e a Esquerda. Em muitos aspectos, o discurso da Direita, também na mídia, mostra um profundo ódio por Lula, porque ele era o símbolo pessoal do PT como inimigo político ou por sua fama internacional e seus programas sociais de sucesso. Como também mostramos na nossa análise do discurso, além disso, há uma questão de profundo ressentimento de classes em um país em que a desigualdade de classes é particularmente profunda e resiliente. Lula sempre foi visto pelas elites conservadoras (brancas) como o trabalhador metalúrgico de classe baixa que, nas eleições de 2002, finalmente conseguiu derrotar o PSDB, cujo candidato, Aécio Neves, governador do estado de Minas Gerais, perdeu a eleição novamente contra Dilma em 2014.
Durante a presidência de Dilma Rousseff, a história se repetiu com uma vingança e um ainda maior escândalo de corrupção (algumas vezes chamado de petrolão), envolvendo a gigante companhia nacional de petróleo, Petrobras, assim como outras grandes companhias, como a gigante companhia de construção Odebrecht, acusada de pagar propina a partidos e políticos. O processo deste escândalo de corrupção, chamado de Lava Jato, foi (e ainda é) uma enorme operação, levando a acusação (e algumas convicções) de muitos famosos empresários assim como políticos de vários partidos (ver detalhes no artigo sobre a Lava Jato no Wikipédia). Novamente, ambos os procuradores, especialmente o juiz Sérgio Moro na cidade sulista de Curitiba, o centro da operação Lava Jato, assim como da mídia, focada especialmente no PT e em Lula. A própria Dilma, ex-presidente da Companhia Petrobras, nunca foi formalmente acusada de corrupção, mas a mídia continua rotineiramente associando-a com o escândalo e repetidamente acusando-a (e Lula) de obstrução da operação Lava Jato.
Graças em particular à cobertura massiva da mídia desses grandes escândalos, a opinião pública já era muito negativa quanto à corrupção generalizada no Brasil, especialmente sobre os políticos, e mais especificamente o PT, apesar da contínua popularidade de Lula e Dilma entre milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, em 2015, a crise econômica internacional também foi sentida no Brasil e a situação econômica e financeira do país rapidamente deteriorou-se como consequência de menores preços do petróleo, inflação e erros nas políticas econômicas. Isso contribuiu para uma atmosfera geral de crise, incluindo o aumentodos preços, o aumento do desemprego e outras consequências sociais e financeiras que afetaram os grandes setores da população.
É contra esse cenário complexo que a Direita e sua mídia em 2015 e 2016 viu uma oportunidade para finalmente quebrar o poder do PT e acusar Dilma Rousseff acusando-a de pedaladas, esquemas financeiros, como empréstimos "ilegais" do Banco Central, para financiar seus programas sociais, apesar de um orçamento nacional dramaticamente menor. Embora os governos conservadores anteriores tenham usado esquemas semelhantes, neste caso, a maioria dos políticos aproveitou a oportunidade para acusar a presidente de "crime de responsabilidade", uma das condições formais de impeachment no Brasil, que é uma democracia presidencial. 
Quando, em março de 2016, seu parceiro da coalizão, o sempre rebelde Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e seu vice-presidente, Michel Temer (PMDB), deixaram o governo, haviam votos suficientes para iniciar o processo de impeachment na Câmara de Deputados, a câmara baixa do Parlamento. O próprio poderoso e manipulador presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, tornou-se o principal inimigo do presidente depois que o PT não impediu as acusações contra Cunha na Comissão de Ética Parlamentar.
Uma das principais estratégias de mídia, que também devemos observar nos editoriais da Globo, é enfatizar repetidamente a legitimidade e a constitucionalidade do impeachment, uma repetição que sugere que possa haver algumas dúvidas sobre sua legitimidade em primeiro lugar, em geral questionados pelos principais juristas do país (ver também Carta Capital, Intervozes, 16 de abril de 2016).
Entretanto, em meados de março de 2016, principalmente por causa da manipulação generalizada da mídia, manifestações maciças (principalmente das classes média e alta conservadoras, que não tinham tradição de mobilização política) foram realizadas em todo o país contra o PT e Dilma, obviamente ampliada pela mesma mídia, e usada como um argumento populista para persuadir membros do parlamento a votar contra o presidente. A campanha em favor do impeachment também ganhou força porque permitiu uma tática para ir além de uma polarização simplista entre Esquerda (PT) e Direita (PSDB) envolvendo ampla adesão entre grande parte da população. Grandes demonstrações, mas menores a favor de Dilma e, mais geralmente, em defesa da democracia, também ocorreram, mas geralmente foram ignoradas ou minimizadas pelos meios de comunicação, embora tenham aumentado após o impeachment, contra a nova administração de Temer e suas políticas neoliberais.
Embora a teoria da manipulação (veja mais adiante) geralmente sustente que a manipulação é negativa porque é no interesse do manipulador e contra os interesses dos manipulados, no caso da mídia de elite conservadora (escrita) no Brasil, a maioria dos leitores é de classe média e dificilmente precisavam ser manipulados, porque a maioria provavelmente concordava com o que eles liam em primeiro lugar: que o PT era ruim e seu poder precisava ser quebrado. No entanto, neste caso, os meios de comunicação foram cruciais para motivar a classe média a assumir o passo não habitual de demonstrar em massa, ao interpretar ativamente seus motivos para fazê-lo. O JN fez o mesmo, mas para um público muito maior, também popular.
Um contexto importante para essas manifestações foram demonstrações locais, por exemplo, aquelas em São Paulo em 2013 contra tarifas de ônibus mais altas, cujos participantes foram frequentemente descritos pela mídia como "vândalos" (ver Silva e Marcondes, 2014). Isso significa que, em 2016, já havia um potencial generalizado de protesto, em breve generalizado pela mídia para todo o país, embora desta vez não sejam "vândalos" como protagonistas, mas o povo brasileiro inteiro (pessoas). Obviamente, como veremos com mais detalhes mais adiante, os protagonistas das manifestações em favor de Dilma foram descritos apenas em termos de ativistas radicais do partido ("militantes") e não como parte do povo. Curiosamente, as manifestações de março de 2015 contra Dilma já estavam pedindo seu impeachment (ver Catozzo e Barcellos, 2016).
Finalmente, sob recomendação da Câmara, presidida por Cunha, e sem impedimento do Supremo Tribunal (que permite que o parlamento decida; ver Feres, 2016), foi a tarefa constitucionalmente prescrita do Senado para julgar a presidente e mais do que precisava de uma maioria de dois terços em 31 de agosto de 2016, finalmente votou para impugná-la. É interessante notar que o Senado não votou a favor da proposta de restringir seus direitos políticos, o que seria uma consequência normal de um impeachment.
Apesar das principais manifestações em curso contra ele, e embora ninguém o tenha apreciado ou admirado, o vice-presidente Temer tornou-se automaticamente presidente. Ele foi visto pela Esquerda não só como um traidor do governo liderado por Dilma, mas também como figura de proa do que geralmente era visto como um golpe político contra ela. Todos aqueles que se opuseram ao impeachment de Dilma aplicaram consistentemente o rótulo de golpista a ele e ao seu governo, bem como a Corporação Globo e outros meios de comunicação e políticos envolvidos no golpe.
Como que para contrabalançar o impeachment de Dilma, em 12 de setembro de 2016, a Câmara finalmente despojou do poder, mas geralmente odiava Eduardo Cunha de sua participação parlamentar (ele já havia sido suspenso anteriormente como presidente da Câmara), perdendo sua imunidade contra a acusação. Ele, obviamente, não era mais necessário após o seu papel no processo de impeachment e tornou-se um constrangimento para a direita por causa de sua óbvia corrupção, lavagem de dinheiro e (mentir sobre as suas) contas bancárias na Suíça.
Globo e a mídia brasileira
A paisagem da mídia no Brasil é dominada por um punhado (mais precisamente, quatro ou cinco) de famílias ricas conservadoras cujas empresas têm um monopólio virtual de jornais e programas de TV, bem como outros serviços. Além do jornal O Globo, há a influente Folha de São Paulo, lida especialmente pelas elites empresariais e acadêmicas, que também desempenharam um papel crítico na manipulação do processo de impeachment. Estado de São Paulo (comumente chamado Estadão), juntamente com O Globo, apoiou o Golpe Militar em 1964 – embora O Globo em 2013 tenha se desculpado por seu papel na ditadura militar (veja Costa, 2015; Magnolo e Pereira 2016). Essa foi outra razão do porquê esses jornais foram qualificados como golpista em muitos protestos contra o impeachment. As vendas destes jornais são relativamente baixas (em 2015, 320 000 para Globo e 361 000 para a Folha, de acordo com seus artigos no Wikipedia) em um país enorme com mais de 200 milhões de pessoas.
Além desses grandes jornais, existem as revistas semanais, como a Época da Globo, assim como a Istoé, especialmente a Veja (que vende mais que um milhão de cópias), todas participantes da demonização midiática de Dilma, Lula e o Partido dos Trabalhadores (veja por exemplo, Matos, 2008; Porto, 2012)
É notável que um grande país como o Brasil, com uma forte tradição esquerdista, não tem um único jornal progressista, como é por exemplo, o caso da Argentina (Pagina 12) ou do México (La Jornada), e apenas uma revista semanal progressista Carta Capital para a elite esquerdista (mas vendendo apenas 75 000 cópias). Muitas pessoas (especialmente os mais jovens), contudo, têm acesso a internet para ler notícias alternativas e opiniões (55% dos brasileiros têm acesso a internet e 45% dos brasileiros usaram mídias sociais em 2014). Isso significa que os principais jornais conservadores nos anos recentes perderam vendas e influência, principalmente entre a população jovem e progressista, muitos deles apoiaram Dilma e o PT. Mas a mídia conservadora, incluindo aquelas na internet, ainda dominam a opinião pública sobre o PT, Lula, Dilma e seu impeachment e foram capazes de orquestrar demonstrações massivas contra eles.
A poderosamídia conservadora no Brasil é, algumas vezes chamada de Partido da Imprensa Golpista (PIG) ou Partido da Imprensa do Golpe (veja artigo na Wikipedia), dado suas ações políticas e influência como o “Quarto Poder” na tomada de decisões no Brasil. Seu principal alvo, como nas eleições de 2010, é “O PT não pode ganhar” (Mauricio Dias, em Carta Capital, 5 de maio de 2010). O mesmo artigo crítico da Wikipedia não só enumera muitos exemplos de desinformação e abuso de poder da mídia, mas também cita a opinião de José Antonio Camargo, Presidente da União de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e Secretário Geral da Federação Nacional de jornalistas:
Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade. Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito ‘golpe midiático’ é perfeitamente compreensível.
Devemos ver mais adiante que esta opinião resume adequadamente algumas das conclusões de nossa análise dos editoriais na Globo abaixo.
Corporação Globo
Dentro do conglomerado de corporações midiáticas conservadoras, a Globo não é apenas a maior companhia midiática no Brasil, mas também uma das quatro maiores companhias na América Latina. O mais relevante para o contexto deste estudo não é apenas o jornal O Globo e seus ataques contínuos contra Lula, Dilma e o PT (ver, por exemplo, Almeida e Lima, 2016), mas também o JN diário, um programa de notícias de TV transmitido todas as noites em torno de 20: 30 entre duas telenovelas amplamente vistas. Embora a audiência tenha caído nos últimos anos, continua sendo o programa de notícias mais influente visto por milhões de brasileiros. Como o segundo programa de televisão mais assistido no Brasil em 2015, teve em média 7.200.000 espectadores por minuto (de acordo com o Ibope). Para a maioria destes, o JN foi e é a única fonte de informação sobre o país em geral, e sobre o governo, a corrupção e os processos de impeachment em particular (ver, por exemplo, Becker e Alves, 2015). Sem dúvida, o apoio popular decrescente para Lula, Dilma e o PT é um processo complexo com muitas causas diretas e indiretas, incluindo a crise econômica e suas consequências sociais, a percepção pública da corrupção política e a operação Lava Jato entre outras. De influência crucial, porém, é como esses eventos foram interpretados pela mídia conservadora, e especialmente como Dilma e Lula foram demonizados diariamente, especialmente pelo JN.
Como veremos posteriormente, uma das interessantes propriedades dos editoriais do Globo em 2016 foram suas acrimoniosas reações à cobertura crítica do impeachment na imprensa internacional de qualidade, especialmente no The Guardian, onde o termo golpe foi usado (veja o blog Carta Capital, Intervozes, 28 de abril de 2016; Comunidade PT, 12 de maio de 2016).
Em 21 de abril de 2016, o The Guardian publicou um artigo de opinião do jornalista David Miranda – “A real razão pelos quais os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment” – em que ele informa a audiência internacional sobre o poder da Globo e outras mídias e seus ricos donos, e como eles manipularam a opinião pública contra Dilma. O diretor da Globo, João Roberto Marinho reagiu imediatamente com uma carta ao the Guardian, reclamando que a mídia brasileira é independente e diversa, que a Globo não tinha o monopólio das noticias e que a Globo não incitou os protestos em massa contra Dilma e o PT. Os argumentos deles, por sua vez, foram examinados ironicamente pelo próprio David Miranda em um longo artigo de opinião na crítica da mídia The Intercept (25 de abril de 2016), no qual detalhou o papel da Globo na política brasileira como o "principal braço de propaganda da Oligarquia brasileira". Ele lembrou que a Repórteres Sem Fronteiras em seu último ranking internacional de liberdade de imprensa classificou a mídia brasileira na escandalosamente baixa posição de 104. Ele também citou um artigo do Economist de junho de 2014 entitulado “Dominação Globo”, em que foi reportado que metade da população brasileira assiste diariamente o Jornal Nacional da Globo. Essa estimativa pode ser muito alta, mas isso não significa que o JN não tenha presença dominante e uma enorme influência no Brasil.
Estrutura teórica: Manipulação
Uma vez que não é o principal objetivo deste artigo contribuir para a teoria da manipulação, resumiremos brevemente alguns elementos do quadro teórico aplicados neste estudo com base em nosso trabalho anterior sobre manipulação e discurso (Van Dijk, 2006) e em algum outro trabalho referido, mas não revisado, abaixo:
1. A manipulação é um fenômeno complexo que requer uma estrutura multidisciplinar (veja também De Saussure e Schulz, 2005), apresentando
(a) um estudo filosófico de manipulação como antiético ou ilegítimo, usado principalmente como um termo crítico para descrever a conduta dos outros e quase nunca de nós mesmos;
(b) um estudo sociológico da manipulação como uma forma de interação social e uma forma de abuso de poder e, portanto, um objeto relevante dos Estudos Críticos do Discurso.
(c) um estudo político de manipulação por políticos ou governos;
(d) um estudo de comunicação de manipulação pelos meios de comunicação;
(e) um estudo analítico de discurso de manipulação como forma de texto ou conversa;
(f) um estudo cognitivo dos processos mentais e representações envolvidas na manipulação.
2. A manipulação pode ser interpessoal quando os indivíduos se manipulam ou são sociáveis ​​quando organizações ou instituições poderosas manipulam coletividades de pessoas (como os leitores de um jornal, os eleitores ou a opinião pública em geral). Neste estudo, lidamos apenas com manipulação societária, embora tal manipulação possa ser implementada ou decretada localmente na interação cotidiana de membros de grupos ou instituições.
3. A maioria dos estudos psicológicos de manipulação são experimentais e tendem a se concentrar em várias formas de decepção interpessoal em interação e discurso, o que, no entanto, não é o mesmo que a manipulação. Essa decepção pode ser descrita em termos de várias formas em que o Princípio de Cooperação de Grice (1979) é violado, por exemplo, por implicações secretas (ver McCornack, 1992; e uma versão atualizada em McCornack et al., 2014; veja também Jacobs et al., 1996, Van Swol et al., 2012).
4. A manipulação societária como uma forma de dominação ou abuso de poder envolve organizações ou instituições como agentes manipuladores que utilizam recursos de poder, como acesso ou controle sobre o conhecimento ou o discurso público (ver, por exemplo, Goodin, 1980; Kedar, 1987; Riker, 1986 Stuhr e Cochran, 1990). Os objetivos da manipulação geralmente são caracterizados como tendo menos recursos, por exemplo, conhecimento, para resistir a tal dominação.
5. As corporações poderosas e outras organizações, bem como os estados-nação, podem organizar seus recursos de poder comunicativo de várias maneiras, por exemplo, através de departamentos especiais de relações públicas, conferências de imprensa, comunicados de imprensa, entrevistas, campanhas, publicidade, propaganda e, portanto, todos orientados para a comunicação de informações que geralmente são do interesse da organização, incluindo formas de auto-apresentação positiva (ver Adams, 2006; Day, 1999; Key, 1989; MacKenzie, 1984).
6. O objetivo cognitivo primário da manipulação é o controle mental, ou seja, influenciar as crenças das pessoas, como seus modelos mentais (incluindo emoções) de eventos específicos, ou seus conhecimentos, atitudes ou ideologias mais genéricas, geralmente sobre questões sociais importantes. O objetivo indireto e secundário é o controle de ação: as pessoas agem (votar, comprar, marchar, lutar,etc.) sobre tais crenças ou emoções (ver também Hart, 2013; Van Dijk, 1998)
7. Mais especificamente, a manipulação discursiva geralmente envolve a comunicação da definição preferida da situação, definida como a formação ou mudança de modelos de situação mental, como as identidades e papéis dos participantes envolvidos em um evento, que ação ou evento está tomando lugar e quais são suas causas e consequências (Johnson-Laird, 1983, Van Dijk e Kintsch, 1983).
Por exemplo, o discurso manipulador pode ocultar, ofuscar ou permanecer vago sobre a identidade de atores de elite responsáveis ou organizações de ações negativas (como a discriminação), por exemplo, através de sentenças passivas ou nominalizações (ver por exemplo Fowler et al., 1979; Van Dijk, 2008b). Da mesma forma, ações ou eventos negativos podem ser descritos em termos eufemísticos (por exemplo, descontentamento popular em vez de racismo, ver, por exemplo, Van Dijk, 1993). Essa análise cognitiva do papel dos modelos mentais na manipulação é bem diferente de estudos populares sobre "controle mental" (veja também Jones e Flaxman, 2015).
8. Diferente das formas legítimas de controle da mente e da ação, como a educação ou a persuasão, a manipulação geralmente é do interesse do manipulador e não do interesse dos manipulados. A manipulação típica é que as motivações, os motivos, os objetivos ou os interesses do manipulador são mais ou menos secretos (ver, por exemplo, Adams, 2006; Day, 1999; Key, 1989; MacKenzie, 1984).
9. Algumas das características cruciais da manipulação discursiva devem ser definidas em termos do contexto comunicativo, como o tipo e características (identidade, papel, relações) dos participantes, os objetivos ou intenções do discurso ou interação, bem como seus recursos sociais e cognitivos (Van Dijk, 2008b, 2009). Estudos pragmáticos de manipulação se concentram em tais aspectos do contexto. Assim, Billig e Marinho (2014) fazem uma distinção entre manipular informações e atos de manipulação de pessoas (ver também De Saussure e Schulz, 2005, Vázquez Orta e Aldea Gimeno, 1991).
Manipulação e discurso
Como observamos em alguns dos exemplos acima, o discurso manipulador em muitos aspectos pode influenciar ou controlar os modelos mentais dos destinatários, por exemplo, escondendo a identidade ou responsabilidade de ações negativas, a natureza de ações ou eventos ou suas causas ou consequências, ou, inversamente, atribuindo ações negativas a adversários ou fora de grupos.
Como veremos mais detalhadamente abaixo em nosso estudo de caso, existem muitas estruturas e estratégias discursivas que podem ser usadas para controlar os modelos mentais desejados, além da estrutura gramatical das frases, como
Tendencioso (por exemplo depreciativo) itens léxicos (veja Cheng e Lam, 2010; Li, 2010)
Implicações e implicaturas (veja por exemplo, Jacobs et al., 1996)
Generalizações (Bilmes, 2008; Van Dijk, 1984, 1987) e metáforas (Chilton, 2005; Medhurst, 1990)
Formas de descrição de atores (Van Leewen, 1996);
Granularidade e outros modos de situação ou descrição do evento: mais ou menos precisos ou completos, detalhados ou vagos, próximos versus distantes, e assim por diante (Bhatia, 2005; Van Dijk, 2014; Zhang, 2015);
Narração de histórias (ver, por exemplo, Auvinen et al., 2013; Van Dijk, 1984);
Argumentação (Boix, 2007; Ilatov, 1993; Kienpointer, 2005; Nettel e Roque, 2012);
Categorias superestruturais (esquemáticas), como manchetes em reportagens (Van Dijk, 1988a, 1988b);
Polarização ideológica geral entre in-grupos (Nós) e out-groups (Them; Van Dijk, 1998).
Corpus
Nosso corpus consiste em 18 editoriais sobre Dilma, Lula, o PT e o impeachment publicados no jornal O Globo durante os meses de março e abril de 2016, estrategicamente precedendo a decisão da Câmara dos Deputados para iniciar os procedimentos do impeachment contra a presidente. Os editoriais acompanham milhares de artigos de notícia tanto na Globo como na outra mídia conservadora, apresentando sistematicamente uma forma de desinformação grotescamente tendenciosa sobre Lula, Dilma e o PT. Os editoriais foram escolhidos como o alvo deste artigo porque eles explicitamente formulam as opiniões do jornal. Também devemos examinar brevemente as manchetes dos artigos de notícias da primeira página sobre eles, porque essa informação é muitas vezes pressuposta nos editoriais (uma análise completa da epistemologia da informação pressuposta em editoriais seria um tema de estudo interessante).
Os editoriais, tradicionalmente publicados para a parte de trás (página 18) da primeira parte do jornal (em que se encontra a notícia nacional), variam em comprimento entre 500 e 1000 palavras, e geralmente consistem em quatro colunas com o marcador de gênero Opinião acima do título e resumos breves entre as colunas.
O gênero editorial
Neste estudo, não devemos elaborar sobre os editoriais como um gênero, porque nosso objetivo não é contribuir para a nossa compreensão geral como tal. Na verdade, como um gênero de mídia nos jornais, apesar de muitos estudos aplicados, ainda não existe uma teoria explícita dos editoriais (mas veja, por exemplo, Le, 2010). Em nosso trabalho anterior, muitas vezes lidamos com editoriais, mesmo do ponto de vista teórico (Van Dijk 1988a, 1988b, 1989, 1992). Mas à luz de nosso trabalho posterior em contexto (Van Dijk, 2008a, 2009), precisamos de mais análises desse gênero em termos de análises sistemáticas da situação comunicativa, que, além do cenário espaço-temporal, apresenta participantes em várias identidades (por exemplo, jornalista, editor), papéis (escritor, leitor), relações (por exemplo, editor sênior), uma atividade social (escrever um editorial) e seus objetivos (influenciar as opiniões dos leitores) e conhecimento do conhecimento dos leitores (neste caso , por exemplo, sobre Dilma, impeachment, etc.)
Como um texto de gênero, os editoriais podem ter um esquema esquemático canônico (superestrutura) composto por categorias (movimentos), como Resumo dos Eventos, Comentários/Opinião sobre Eventos e Conclusão/Recomendação. Mais especificamente, os comentários ou recomendações serão organizados por estruturas de argumentação ou (outros) marcadores de discurso persuasivos. O estilo será relativamente formal, o idioma do jornal (ver, por exemplo, Bagnall, 1993; Simon-Vandenberge, 1986; Van Dijk 1988a, 1988b). As opiniões serão expressas em vários tipos de avaliação (por exemplo, julgamento sobre Lula, Dilma, PT ou impeachment; Martin e White, 2005). A análise sistemática de um grande número de editoriais da Globo revelaria estruturas mais específicas de seus editoriais como gênero nos jornais brasileiros, e o trabalho de campo deveria ser realizado para conhecer mais sobre seu contexto comunicativo, como quem geralmente escreve os editoriais.
Métodos
Aqui, a análise sistemática do discurso global e local dos editoriais se concentrará principalmente nas propriedades que possam influenciar os modelos e atitudes mentais dos leitores de formas que não são óbvias para eles e que, portanto, podem ser chamados de manipuladores. Essa influência pode consistir na formação de modelos mentais preferidos de eventos, ou na formação ou confirmação de atitudes, atitudes que muitos leitores da Globo já podem ter - e com os quais eles podem concordar. A influência da Globo neste caso é crucial, pois as opiniões negativas sobre o presidente ou o PT podem ser legitimadas pelo jornal ou pelo conhecimento sobre opiniões e atitudes de outros leitores ou brasileiros, conforme relatado pelo jornal.
Nesta perspectiva, primeiro nos centraremos nas macro-estruturas semânticas (tópicos) das manchetes da primeira página e, em seguida, nos dos editoriais, antes de proceder à análise das estruturas locais, especialmente as da semântica, como a identificação e descrição dos atores, bem como várias estratégias de argumentação e legitimação. Os editoriais são um gênero persuasivo, por isso, vamos, é claro, concentrar-nos nas propriedades voltadas para a manipulação de opiniões.Análise das estruturas e estratégias de manipulação da Globo
Manchete dos jornais
Para entender os editoriais, devemos analisar brevemente o(s) principal(is) evento(s) das semanas anteriores ao processo de impeachment, especialmente porque os editoriais muitas vezes pressupõem o conhecimento de tais eventos e realmente comentam sobre eles. No entanto, esse conhecimento pode ser derivado não só das notícias sobre os principais eventos do dia, mas também de forma mais geral da cobertura do mesmo ou eventos relacionados nas últimas semanas, senão em meses. Tais notícias foram apresentadas não apenas em milhares de relatórios de notícias, mas também em colunas, reportagens, entrevistas e outros gêneros - e, portanto, exigiria uma vasta análise epistêmica que vai muito além do alcance deste artigo. Portanto, limitaremos nossa análise a uma breve descrição das manchetes de todos os principais artigos da primeira página dos meses de março e abril de 2016, observando o tamanho e posição do título. Por definição, essas manchetes têm como uma de suas principais funções a expressão do nível superior da macroestrutura semântica do relatório de notícias, ou seja, seu tema principal (Van Dijk 1988a, 1988b). Mas as manchetes também servem para chamar a atenção para a sua mensagem e podem ser ideologicamente tendenciosas. Isto significa que, se, por exemplo, Lula está sendo acusado de algum ato criminoso, seja este ou o tema principal, pode ser expressado na manchete porque da orientação ideológica da Globo, que enfatizará os aspectos negativos de seu inimigo ou do grupo fora, em geral (por exemplo, PT ou a esquerda, etc.).
Das 60 principais manchetes da primeira página de março e abril de 2016, impressionantes 45 foram sobre Dilma, Lula, PT, impeachment ou o governo (de Dilma). Somente no final, após o processo de impeachment na Câmara, algumas manchetes principais da primeira página se dirigem para Temer (como presidente interino) e seu governo. Muitas vezes, mais de um artigo da primeira página é sobre Dilma ou Lula. Mesmo quando nenhum evento principal relacionado a eles aconteceu, estes podem ser mencionados nas manchetes dos artigos menores da primeira página. Dependendo da sua interpretação (para o qual seria necessária uma análise detalhada da avaliação do discurso local), a maioria das manchetes explicitamente acusam ou associam Dilma e/ou Lula a atividades criminosas, geralmente por meio de acusações da operação Lava Jato ou muitos informantes envolvidos com a operação. Aqui estão alguns exemplos característicos (NH significa News Headline = Manchete de jornal)
NH01 Delação de Delcidio põe Dilma no centro de Lava Jato. Presidente é acusada de interferir na investigação. Lula mandou silêncio de Cerveró (04 Março 2016).
NH02 Lava Jato força Lula a depor e petista apela a militância (05 Março 2016).
NH03 Lava Jato desmente versão de Lula sobre tríplex (06 Março 2016).
NH04 MP de São Paulo denuncia Lula por lavagem e falsidade (10 Março 2016).
NH05 MP pede prisão de Lula (11 Março 2016).
NH06 Brasil vai as ruas contra Lula e Dilma e a favor de Moro. Protesto pacífico reuniu 3,4 milhões de pessoas em 320 cidades de todos os estados e no Distrito Federal (14 Março 2016).
NH07 Dilma pode dar a Lula superpoderes no governo (15 Março 2016).
NH08 Diálogo ameaça Dilma (17 Março 2016).
NH09 Aliados de Dilma e Lula fazem atos em todos os estados. PT reúne 275 mil. 7% do público das manifestações pelo impeachment (19 Março 2016).
NH10 Defesa de Lula pede ao STF que pare Moro (21 Março 2016).
NH11 Supremo investiga se Dilma tentou obstruir Justiça (24 Março 2016).
NH12 Dilma usará Bolsa Família contra impeachment (04 Abril 2016).
NH13 Procurador acusa Dilma de tentar obstruir a justiça (08 Abril 2016).
NH14 Comissão aprova relatório pelo impeachment de Dilma (12 Abril 2016).
NH15 Por 337 votos, 25 mais que o necessário, Câmara aprova autorização para processo de impeachment da presidente Dilma. PERTO DO FIM (18 Abril 2016).
NH16 Ministros do STF: Dilma ofende instituições ao falar em golpe (21 Abril 2016).
Uma primeira análise dessas manchetes mostra que, na maioria das manchetes desses dois meses, e especialmente durante as semanas cruciais que precederam a votação na Câmara, O Globo define a notícia (principal) em termos de Dilma e/ou Lula como participantes ativos ou passivos de eventos ou atividades relacionadas a assuntos criminais ou jurídicos. Eles são representados como envolvidos ativamente no crime, já que a operação Lava Jato ou outras os acusam de crimes. Nas manchetes posteriores, o foco está nos eventos da Câmara até 18 de abril, quando em detalhes, com números precisos, os votos na Câmara são relatados, seguido de uma manchete maciça em toda a página: PERTO DO FIM. Outras principais manchetes, também com números, aparecem no dia 14 de abril, quando as manifestações maciças contra Dilma são relatadas. Nesse caso, no entanto, a principal notícia da demonstração não se limita à primeira página, e continua em muitos outros artigos, colunas e imagens em nove páginas completas. Devemos comentar esta notícia em nossa análise dos editoriais. Em 19 de março, os manifestantes que apoiam Dilma também fazem notícias na primeira página, mas, neste caso, em uma comparação negativa com o número de manifestantes contra Dilma, de modo a minimizar a relevância desses manifestantes e o suporte numericamente muito menor que ela tem. A análise funcional da organização do tópico-comentário e as manchetes muitas vezes colocam Lava Jato, informantes, Polícia Federal ou Supremo Tribunal Federal (STF) no primeiro tópico como agentes de ações (principalmente) acusadoras de Dilma e Lula que estão em a posição de foco como pacientes semânticos de acusação. Somente em algumas manchetes Dilma é foco e agente, por exemplo, quando ela é diretamente acusada de algum ato (negativo), como quando ela pode nomear Lula e dar-lhe poderes especiais ou quando ela (ameaça) parar o esquema Bolsa Família.
Durante várias semanas pelo menos (e, de fato, muitas semanas antes disso, desde 2014), a informação geral transmitida por essas manchetes, e, portanto, repetida como a principal informação nos modelos mentais do evento na memória dos leitores, é que (a) Dilma e Lula (são acusados) de atividades criminosas e (b) (portanto) Dilma sofreu um impeachment.
Crucial também é a informação negativa repetida sobre Lula, que é consistente com a atitude negativa da Globo sobre Lula e, consequentemente enfatizada. Tal representação destina-se principalmente a deslegitimá-lo aos olhos de milhões de brasileiros que costumavam adorá-lo ou admirá-lo. Mais politicamente relevante é que, se Lula for condenado por corrupção (alegadamente uma empresa paga por reformas em seu apartamento), ele não poderia ser candidato nas próximas eleições de 2018, uma candidatura que seria uma ameaça à direita, porque Lula, pelo menos até então, era o político mais apreciado do país.
Os editoriais
Principais tópicos e vieses 
Os tópicos gerais dos editoriais são, como se pode esperar, semelhantes aos dos principais eventos de notícias do dia ou no dia anterior, como acusações contra Lula, Dilma ou o PT. Os tópicos (principais) para os 18 editoriais são mostrados na Tabela 1. Embora os editoriais (bastante longos, entre 300 e 1000 palavras) geralmente lidem com vários tópicos, é óbvio não só dos principais artigos de notícias da primeira página e das manchetes, mas especialmente dos principais tópicos dos editoriais, cujas questões são mais importantes para a Globo e, portanto, enfatizadas pela frequência e tamanho, bem como movimentos e estratégias semânticas e retóricas.
Em primeiro lugar, praticamente todos os editores repetem e ampliam as alegadas atividades criminosas de Dilma, especialmente Lula, de acordo com acusações da Lava Jato, ou vários informantes, que vão desde a corrupção (apartamento de Lula), obstrução de justiça (Lava Jato) e os esquemas financeiros de Dilma para ajustar seu orçamento. Em segundo lugar, os editoriais,em muitos aspectos, defendem, legitimas (como "constitucionais") e exercem pressão sobre o impeachment de Dilma. Em terceiro lugar, eles rejeitam como absurdas as acusações de Dilma e seus seguidores de que o impeachment é um "golpe" parlamentar. Em quarto lugar, juntamente com uma enorme cobertura de notícias, eles celebram grandes manifestações contra Dilma, Lula e o PT, e marginalizam e deslegitimaram os de seus seguidores. Finalmente, eles legitimaram a Operação Lava Jato e o Juiz Moro, mas principalmente apenas quando acusam Lula, Dilma ou membros do PT. 
Que a Globo em seus tópicos editoriais ataca Dilma, Lula e o PT é de se esperar de um jornal de direita e, mesmo que injustificado, não é realmente manipulador, porque os leitores não esperam nada mais. Como veremos mais detalhadamente abaixo, os editoriais começam a ser manipuladores quando suas afirmações ou pressupostos dos fatos são tendenciosos ou falsos de maneira que os leitores não podem ou não verificarão com facilidade, porque nesse caso testemunhamos o controle epistemológico partidário e sistemático dos modelos mentais dos leitores.
Em primeiro lugar, tanto dos relatórios dominantes e repetidos de notícias, bem como dos editoriais, especialmente devido ao foco exclusivo nas acusações da Operação Lava Jato, os leitores podem concluir erroneamente que toda ou a maior parte da corrupção no país é perpetrada por Lula, Dilma ou o PT. Outros políticos e partidos apenas são discutidos nos editoriais, inicialmente nem mesmo Cunha, o poderoso e corrupto presidente da Câmara, pelo menos desde que acelerou o processo de impeachment. Em outras palavras, a preocupação da Globo não é principalmente a corrupção gigantesca do país (como seria sem dúvida, reinvindicado), mas a deslegitimização do PT e do seu governo, especialmente o ex-presidente Lula, particularmente como possível candidato para as eleições de 2018.
	Tabela 1. Manchetes e tópicos dos editoriais do O Globo em março e abril de 2016.
	Data
	Manchete
	Tópicos principais
	03 de março de 2016
	PT descontente é promessa de mais pressão sobre Dilma.
	PT pressiona Dilma para que ela mude a Secretaria de Justiça mas resiste em limitar a autonomia da Justiça Federal,
	05 de março de 2016
	Uma reafirmação de princípios republicanos
	Informantes acusam Lula de corrupção. Acusações também tocam Dilma. Operação Lava Jato é independente.
	06 de março de 2016
	Em 13 anos de escândalos
	Treze anos de desastres econômicos e escândalos de corrupção devido ao governo do PT.
	15 de março de 2016
	Um ‘basta’ das ruas a Dilma, Lula e PT
	Milhões de manifestantes contra Lula, Dilma e o PT e a favor do Juiz Moro da Operação Lava Jato. 
O processo de impeachment começa.
	17 de março de 2016
	Lula e Dilma apostam tudo para sobreviver
	Dilma quer indicar Lula como ministro assim como protege-lo contra as acusações. 
	18 de março de 2016
	Vale-tudo empurra Dilma e Lula a ilegalidade
	Conversas telefônicas mostram que Lula e Dilma estão obstruindo a justiça.
	19 de março de 2016
	O impeachment é uma saída institucional da crise
	As instituições e o parlamento devem começar o processo de impeachment imediatamente.
	22 de março de 2016
	O impeachment é uma saída institucional da crise
	Dilma indica novo ministro da Justiça que quer paralisar a operação Lava Jato. Instituições trabalham: a comissão do impeachment começou.
	24 de março de 2016
	Dilma radicaliza e fala de um país imaginário.
	Dilma compara o impeachment ao golpe militar de 1994 e quer apenas agitar seus fãs.[1: Talvez ele tenha querido dizer 1964.]
	30 de março de 2016
	A farsa do ‘golpe’ construída pelo lulopetismo..
	PT manipula as pessoas com a absurda acusação de golpe.
	31 de março de 2016
	Tentativa desesperada com o velho fisiologismo
	Depois que o PMDB deixou o governo, Dilma marca reuniões com o objetivo de conseguir votos contra o impeachment.
	06 de abril de 2016
	Tempo no impeachment corre contra o país.
	O advogado-geral da União defende Dilma, mas não consegue convencer a comissão de impeachment.
	08 de abril de 2016
	O consistente relatório da comissão do impeachment
	Relatório da comissão de impeachment faz imagem precisa das ações financeiras de Dilma.
	12 de abril de 2016
	Dentro da Lei, dentro da Constituição
	A maior crise do país só pode ser resolvida pelo impeachment, que é legal e constitucional.
	16 de abril de 2016
	STF acerta ao manter a tramitação do impeachment
	Sem direitos para a Suprema Corte de intervir no processo de impeachment.
	18 de abril de 2016
	Um passo para o impeachment
	O processo de impeachment foi aprovado no parlamento e o Senado agora deve julgar Dilma.
	20 de abril de 2016
	Bolivarianos e Dilma se isolam na farsa do ‘golpe’
	Acusações ridículas de “golpe” pela Venezuela, Bolivia e Equador.
Impeachment é constitucional.
	21 de abril de 2016
	Dilma põe interesses pessoais e do PT acima do país
	A vergonhosa acusação de "Dilma" contra a ONU e jornalistas estrangeiros.
	PT: Partido dos Trabalhadores; PMDB: Partido do Movimento Democrático Brasileiro; STF: Supremo Tribunal Federal; UN: Nações Unidas
Em segundo lugar, a ênfase repetida na natureza legal e legítima do processo de impeachment, por exemplo, com referência à Constituição, ao Supremo e ao parlamento, é definida em termos genéricos, nomeadamente, que a Constituição menciona o impeachment. No entanto, isso não significa que, neste caso particular, o impeachment fosse legal e legítimo para as decisões financeiras específicas do governo da Dilma. Relacionado com este ponto é que os relatórios de notícias e os editoriais quase não prestam atenção aos argumentos legais de muitos especialistas contra o impeachment. A falta de fornecer essa informação é, sem dúvida, uma forma de gerenciamento de conhecimento manipulador (omissão de informações).
Terceiro, O Globo acusa repetidamente Dilma, o PT e seus seguidores pelo uso da acusação "absurda" de que o impeachment é de fato um golpe político, mas não fornece informações sobre os argumentos legais e políticos de especialistas dentro do país, assim como da imprensa de qualidade internacional que apoia este julgamento. Este é outro exemplo importante de omissão manipulativa. 
Finalmente, a cobertura extensa e positiva da opinião pública e das manifestações contra Dilma, Lula e o PT e a favor do impeachment, e sua cobertura marginal das manifestações contra impeachment e em favor de Dilma, é mais do que um viés partidário; é um argumento implícito a favor da natureza "democrática" de se livrar de um presidente eleito.
Estratégias de manipulação local
As estratégias gerais da Globo em seus editoriais são implementadas localmente de muitas maneiras específicas, desde a derrogação lexical de Lula, Dilma e do PT, por um lado, para seus muitos movimentos e estratégias semânticas e retóricas, por outro. Sem pretender dar uma conta completa, vamos examinar alguns dos mais típicos com mais detalhes.
Derrogação léxica
Além da caracterização negativa usual de seus opositores políticos, como seria normal nos editoriais, a Globo usa uma série de palavras específicas associadas à retórica anticomunista clássica. PT e seus seguidores não são meramente chamados de petistas, militantes ou mais comumente marcados com o termo depreciativo lulopetistas, associando seguidores do PT a Lula. Muito mais agressivamente, eles são referidos metaforicamente como tropas de choque (03 de março de 2016), implicando falsamente violência no estilo militar, ou agitprop (20 de abril de 2016), implicando falsamente que os seguidores de Dilma são agitadores comunistas.
Acusações seletivas
Vimos que a maioria das notícias e editoriais que precederam o impeachment focam na acusação de corrupção contra o PT. Localmente, essas acusações seletivas são rotineiramente repetidas, por exemplo, como segue:
Na verdade, soube-se depois que o aparelhamento lulopetista na Petrobras transcorreu paralelamente ao mensalão já a partirde 2003, início do primeiro mandato de Lula. (6 de março de 2016)
Além do uso do marcador epistêmico (soube-se – que foi conhecido) implicando certamente e não é mera acusação, o envolvimento do PT no escândalo de corrupção da Petrobras não é apenas focado, mas também aprimorado em termos de um esquema organizado e associando-o ao escândalo principal (não relacionado) (o escândalo Mensalão de compra de votos) em que o PT (e outras partes) estava envolvido. Este tipo de acusação é padrão em quase todos os editoriais.
Pressuposições
Uma estratégia de manipulação muito conhecida é a de usar pressuposições no lugar de afirmações diretas, como nesse caso no exemplo seguinte:
Seria desastroso se, enquanto perseguia o dinheiro sujo, os investigadores fingissem não perceber que empreiteiras envolvidas no escândalo reformaram o sítio de Atibaia e o tal triplex de Guarujá. (5 de março de 2016)
Nesta complexa sentença sobre os investigadores da Lava Jato, o verbo factivo perceber pressupõe que os empreiteiros envolvidos no escândalo de corrupção reformaram o apartamento de Lula e uma casa no campo (como pagamento por sua alegado favorimento a essas empresas). Esta era apenas uma acusação e não um fato. Esse tipo de pressuposição funciona assim como uma afirmação oblíqua, que é manipuladora, porque é menos facilmente desafiada do que uma afirmação direta.
Isenção de responsabilidade | Avisos Legais
No discurso ideológico polarizado, as isenções desempenham um papel crucial, como sabemos da negação racista clássica: "Não sou racista, mas ...", que combina a auto apresentação positiva inicial com a posterior e mais detalhada apresentação negativa (Van Dijk, 1984, 1987). , 1992, 1993). A Globo, claro, sabe que algumas das suas acusações e estratégias de deslegitimação são normativamente problemáticas. Então, o que acontece é que eles fazem uma afirmação duvidosa específica, seguida de uma declaração normativa genérica como uma forma de auto-apresentação positiva corretiva. Aqui está um exemplo típico:
Nesta passagem, segundo Delcidio, Lula e Dilma teriam atuado juntos […] Toda delação premiada requer comprovações. (5 de março de 2016)
Neste caso, uma das acusações típicas contra Dilma e Lula, tal como expressa por um dos informantes, marcado linguisticamente com o verbo auxiliar teriam (alegadamente agiram em conjunto), é seguido pelo aviso de que (é claro) todas as acusações feitas durante a negociação de argumentos precisam ser comprovados corretamente. Um caso proeminente durante estas semanas foi uma conversa telefônica entre Lula e Dilma, na qual ela prometeu vagamente protegê-lo se isso for necessário (por exemplo, nomeando-o como ministro, protegido contra acusação). Tanto em seu jornal como no Jornal Nacional, a Globo também prestou grande atenção a essa conversa, embora as escutas telefônicas do presidente, especialmente publicitá-las, sejam ilegais - como confirmado mais tarde pelo Supremo Tribunal, criticando o juiz Moro por fazê-lo. A Globo percebe que pode estar quebrando a lei (embora nunca seja processada por isso) ao publicar o conteúdo da escuta eletrônica, e assim faz com uma estrita isenção de responsabilidade:
(Os grampos de Moro talvez fossem ilegais). Importa mais, porém, o conteúdo das gravações. (18 de março de 2016)
Em primeiro lugar, a admissão da ilegalidade é mitigada por talvez. Em segundo lugar, a Globo parece fazer uma distinção entre as escutas telefônicas como tal e seu conteúdo, é enfatizada a importância desse caso (ou seja, a estratégia de Dilma para proteger Lula), tornando a admissão vazia. Coisa semelhante ocorre no seguinte fragmento:
Mesmo sabendo que era investigado Lula não se moderou ao telefone e permitiu que se registrassem em gravações legais memoráveis, típicos de quem não se preocupa com limites da lei e éticos na defesa de interesses próprios. Em uma gravação específica – cuja legalidade será decidida pelo Supremo – Lula e Dilma deixaram claro que a prioridade, na semana passada, e apressar a nomeação do novo ministro, agora sub
judice, para protegê-lo de eventual prisão. (22 de março 2016)
O editorial primeiro afirma que as escutas telefônicas eram legais, mas depois admitem em uma cláusula embutida que sua legalidade será decidida pelo Supremo Tribunal. No entanto, tanto semanticamente quanto sintaticamente, o aviso legal não é proeminente nesta passagem, na qual a ética duvidosa de Dilma e Lula toma a frente. Caso contrário, uma admissão adequada é formulada em um aviso legal, isso só pode ser feito de forma indireta como segue:
(6) […] Gravação de gente com foro privilegiado – Dilma no caso – precisa ser despachada para o Supremo. Zavascki alertou e não está em questão a legalidade daquele grampo, mas a divulgação dele como fez Moro. Este discorda, e apresentará ao ministro formalmente argumentos em contrário. Teori decidirá ou levará a questão ao pleno do
STF. Simples desta forma. (24 de março de 2016)
Neste exemplo, a ilegalidade de escutas telefônicas da presidente é explicitamente afirmada e reconhecida, embora atenuada pela condição de que essas escutas telefônicas não sejam publicadas.
Além disso, ao referir-se ao juiz Moro, que fez as audiências públicas, em termos de desacordo e argumentos, a Globo legitima não só Moro (como fizeram em toda a sua cobertura deste e outros casos), mas também por ter publicado as escutas telefônicas. Novamente, nestas várias formas de isenção de responsabilidade, não é esclarecido para os leitores ignorantes dos detalhes da lei, independentemente de Moro e Globo quebraram a lei - o que, obviamente, equivale a uma forma de manipular a opinião pública.
Auto-apresentação positiva
A estratégia dominante dos jornais da Globo e editoriais é a extrema negativação de outras apresentações de Dilma, Lula e o PT, embora outros partidos e políticos sejam ocasionalmente mencionados negativamente quando acusados de corrupção ou lavagem de dinheiro.
A (auto) apresentação positiva é geralmente focada nas instituições do Estado, como o Supremo Tribunal, a PF ou a Operação Lava Jato e o Juiz Moro.
Especialmente negativo é o retrato de todos aqueles que pensam e dizem que o impeachment de Dilma é de fato um "golpe" político, inclusive a imprensa estrangeira. Os editoriais não só argumentam extensivamente contra essa acusação, mas também se envolvem em uma forma bastante notável e excepcional de auto-referência e auto-apresentação positiva como legitimação da própria opinião e cobertura da Globo:
(7) O jornalismo profissional demonstrando mais uma vez sua excelência, tem publicado livre e destemidamente tudo o que diz respeito ao que já pode ser rotulado como a maior esquema de corrupção que vitimou o Brasil. Em muitos casos está à frente das investigações escancarando o que de errado foi feito nesse país. Age, assim, sob a
proteção da constituição que garante ampla liberdade de imprensa. (12 de março de 2016)
Além de afirmar seu próprio profissionalismo, embora indiretamente em termos de uma referência genérica ao jornalismo profissional em geral, a Globo se orgulha não apenas de expor o maior esquema de corrupção existente no Brasil, mas também de estar na linha de frente das investigações, como se a Globo eram parte da Operação Lava Jato. Ao mesmo tempo, na última frase, faz isso por referência à liberdade de imprensa, neste caso, não como um valor óbvio da sociedade democrática, mas muito mais especificamente como um argumento implícito que legitima sua cobertura e acusações, e como uma proteção contra acusações de sua tendência sistemática e desinformação.
Suspeitas e acusações como fatos
Talvez a estratégia de manipulação mais difundida das notícias e editoriais da Globo durante esses meses é apresentar suspeitas e acusações como fatos, isto é, sem os marcadores usuais ou obrigatórios de dúvida ou distância (adjetivos como supostos ou especiais verbos auxiliares). Na cobertura da enorme e muito complicada operação Lava Jato e da corrupção da Petrobras e de outras empresas, é, portanto,muito difícil, se não impossível, que os leitores saibam quais são meras acusações ou suspeitas e o que foi provado em um tribunal de justiça:
(8) Configurou-se, assim, uma ação dos dois [Lula e Dilma] para obstruir a Lava-Jato, crime passível de punição nos tribunais. (18 de março de 2016)
Neste exemplo, não se trata de uma suspeição: a alegada obstrução da justiça por Dilma e Lula é afirmada como um fato e reforçada pela qualificação explícita como crime. Veja também:
(9) Há, ainda, a suspeita surgida de uma fita gravada por um assessor de Delcídio com o ministro da educação, Aloizio Mercadante, de que por meio do ministro, a presidente estaria tentando impedir a delação do senador. Interpretações pelo juiz Sérgio Moro de gravações legais de conversa entre Lula, ainda não nomeado, Dilma, em outro momento, o ministro Jaques Wagner em que surgem indícios de tentativas de obstrução da justiça e defesa do ex-presidente. Dos diálogos alimentam discussões. A questão deste tipo de interferência de Dilma cresceu ontem à noite, com a divulgação […]. (17 de março de 2016)
Primeiro, o fragmento refere-se a uma suspeita de que Dilma tentou impedir a acusação do senador, uma suspeita devidamente expressa pelo condicional do verbo auxiliar estaria (estaria tentando). Da mesma forma, o fragmento refere-se a interpretações do juiz Moro e evidências de obstrução da justiça. No entanto, no final do fragmento, após essas primeiras expressões de dúvida ou distância, a expressão tópica "a questão desse tipo de interferência por Dilma cresceu ..." implica que essa interferência é um fato. Note também que, embora possa haver sérias dúvidas sobre a legalidade das escutas telefônicas do juiz Moro, o Globo (novamente e rotineiramente) os qualifica como legais - tanto para legitimar Moro como para se proteger. Essa transformação de suspeita para fato é ainda mais explícita no exemplo a seguir:
(10) Seja como for, gravações legais de conversas telefônicas de Lula liberadas na noite de quarta pelo juiz Sérgio Moro implicariam de forma evidente o ex e a atual presidente em gestões para barrar a Lavo-Jato, consideradas atos de obstrução de justiça. Fica estabelecido então que para Dilma e Lula vale mesmo tudo para se manter no poder. (18
de março de 2016)
Seguindo sua estratégia editorial padrão, Globo começa a enfatizar neste fragmento a legalidade das escutas telefônicas, por exemplo, para contrariar possíveis dúvidas do leitor. Mas, então, usa a expressão "evidentemente" alterando uma possível interpretação da conversa em um fato comprovado - acrescentando novamente que isso seria uma obstrução da justiça. Além disso, a frase final é ainda mais explícita ao afirmar que foi estabelecido como um fato de que Dilma e Lula não são apenas obstruindo a justiça, mas adicionando um motivo político para o porquê eles fizeram isso: permanecer no poder.
Generalizações
Uma estratégia retórica muito conhecida em negativar outras apresentações é elevar um caso único de (alegada) má administração a uma característica geral do oponente.
(11) Também acontece uma catástrofe imensa no plano ético na economia. Nunca houve confiança absoluta no PT, mesmo quando o primeiro governo Lula o planalto aderiu ao receituário correto. (6 de março de 2016)
Além da hipérbole retórica ("imensa catástrofe") exagerando as políticas econômicas do governo de Dilma, Globo neste caso expressa fielmente o negativo. Atitudes conservadoras da oligarquia brasileira em relação ao PT e Lula, mesmo quando a economia estava indo bem e seguindo a ortodoxia neoliberal, mostram que esse julgamento é de fato uma forma de preconceito. Esta perspectiva histórica é especialmente iluminadora para explicar a virulência da atual atitude anti-PT da Globo e do Direito à medida que enfrentam a crise econômica.

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