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CURSO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Prof. Drª Nara Grivot Cabral Abril/2014 Contexto francês de mundialização: . Crescimento do desemprego, - Precarização do trabalho, - Flexibilização do trabalho, - Estrangeiros e imigrantes em disputa no mercado de trabalho. Contexto atual: A crise da sociedade salarial vem pondo em xeque os modos de socialização e as formas de integração com base no trabalho. Vem revendo identidades, filiações, formas de coesão e de solidariedade. O debate sobre as “metamorfoses da questão social”: . Chega a sociedade pelo viés dos desempregados e trabalhadores precarizados (novos “inúteis do mundo”, “inempregáveis”), ou seja, por quem foi posto a margem da sociedade salarial... - Foco nas relações salariais e sociais, sobre a natureza dos LAÇOS e VÍNCULOS sociais. A Questão Social: “Como e quem” foi posto a margem? Jovens sem trabalho, Desempregados de longa duração (DLP), Mulheres sem emprego, Trabalhadores temporários... O que acontece com os que permanecem no interior das “zonas”de coesão social” ou nas “zonas de integração” em seu frágil equilíbrio? A Questão Social: Busca compreender as dimensões e os elementos da constituição do Estado Social e das formas pelos quais se engendram as esferas políticas e das políticas sociais que fornecem a matriz prática dos direitos, das formas de inserção e de integração dos que ficaram aquém dos eixos de constituição das relações salarais. A Questão Social: Pensar a “questão social” nos remete ao frágil equilíbrio entre COESÃO e CONFLITO. (relação de tensão, não mecânica) A “sociedade salarial” é constituída por zonas de assistência (que são ou não políticas sociais de Estado) aos que ficaram de fora, os “desfiliados “ (estrangeiros, vagabundos, incapacitados...). E agora com os desempregados, os “novos desfiliados”, sem lugar (nova tensão!!!). A Questão Social: Duplo movimento (contradição): A condição operária se fragiliza ao mesmo tempo que se liberta. A liberdade e o individualismo são triunfantes com a sociedade salarial, ao mesmo tempo que mostram um lado sombrio: a individualidade negativa. Antes, com o vagabundo (sem vínculos e privados de toda proteção). Agora com os desempregados!!! O Estado Social: É uma resposta ao risco e a vulnerabilidade dos laços sociais. Porém, o “Estado Social” nasce no compromisso entre os interesses do mercado e as reivindicações do trabalho. No projeto liberal, é possível pensar o Estado Social fora da reprodução da vulnerabilidade de massa, frente a necessidade de generalização das relações salarias ???? O Estado Social: A história mostra que o plano de governabilidade levou a criação do Estado Social com novas formas de segurança e proteção social. Porém, ele manteve as antigas estratégias liberais, com a patronagem, a filantropia, a política social sem Estado... Hoje, soma-se a crise do Estado Providência. Estado Social: Para Castel, o “Estado Social” continua sendo nossa herança e nosso horizonte: A equação entre a busca do lucro (mercado) e a proteção (políticas sociais). 1 Pode-se pensar uma sociedade sem este compromisso? 2 É possível uma renegociação entre políticas sociais e interesses de mercado? 3 O que isto tem a ver com a gente, como psicólogos? Uma política sem Estado O O Antigo Regime (sociedade pré-industrial) promovia intervenções públicas no domínio social, como: políticas de combate à mendicância e à vagabundagem, apoio à organização tradicional do trabalho, e a criação de instituições de trabalho, hospitais gerais, “oficinas de caridade”, asilos... O Na Inglaterra: havia um sistema de “caridade legal”, que assegurava renda mínima a todos os indigentes. Em 1834 – implantação de um novo sistema público de socorro, mais duro, de trabalho obrigatório aos indigentes, realizado em condições desumanas. O Na França – nenhum debate sobre o público, antes de 1848, sobre as questões de indigência e do trabalho. Criticas ao sistema de “caridade legal” inglesa, pelo custo financeiro e pela criação da mentalidade de assistidos. Uma política sem Estado O Parodoxo: A primeira metade do séc. XIX é marcada pela tomada de consciência de uma forma de miséria que parece acompanhar o desenvolvimento da riqueza e o progresso da civilização. Aqui, a questão social surge como uma nova despesa porque os “novos pobres” agora estão plantados no coração da sociedade, formam a ponta de lança de seu aparelho produtivo. Será que uma sociedade pode ficar indiferente ao risco desta sua fragmentação? Uma política sem Estado A sociedade da primeira metade do séc. XIX não ficou alheia a esta questão social. O Contradição: Vai mobilizar estratégias de pretesão social, sem recorrer ao Estado, com redes de interdependência entre superiores e inferiores e pelo bem comum Entretanto, revela uma falha: sua eficácia moral supõe a adesão dos que são moralizados e vai perpetuar a sua situação de menoridade social, ou seja, de dominados. Assim, a história de uma política sem Estado mostra também as desventuras de uma concepção moral do social que vai ser recuperada mais adiante pelo político. Os Miseráveis O Enigma: As regiões que parecem ser as mais miseráveis são aquelas que, na realidade, têm o menor número de indigentes e, entre os povos cuja riquza é admirada, uma parte da população é obrigada a recorrer aos donativos de outrem para viver (Tocqueville). Exemplo: Portugal e Inglaterra. - Portugal (rural) com uma pobreza integrada, assistida pelas redes primárias da sociabilidade camponesa ou pela Igreja Católica. - Inglaterra (urbano) com a riqueza e a indigência trazidas pela Revolução Industrial. Os Miseráveis O Pauperismo: Expressa a “nova pobreza”. Termo emprestado da Inglaterra em razão da produção industrial. Não é por acaso, mas uma condição forçada de uma grande parte dos membros da sociedade. Anuncia a nova questão social. Contradiz o pensamento liberal elaborado no séc. XVIII, segundo o qual “um homem não é pobre porque nada tem, mas é pobre porque não trabalha”: tem uma indigência que não é devido a ausência de trabalho, mas a nova organização do trabalho. É filho/a da industrialização. Os Miseráveis A indústria, esta fonte de riquezas, não tem hoje nem regra, nem organização, nem objetivo. É uma máquina que funciona sem regulador; pouco importa a força motriz que emprega. Triturando em suas engrenagens tanto os homens como a matéria, despovoa os campos, concentra a população em espaços sem ar, enfraquece o espírito e o corpo e, em seguida, joga na rua, quando não sabe mais o que fazer com eles, os homens que, para enriquecê- la, sacrificam sua força, sua juventude, sua existência. Verdadeiro Saturno do trabalho, a indústria devora seus filhis e não vive senão de sua morte (Bonaparte). (CASTEL, p. 284). Os Miseráveis O Pauperismo: É efeito da nova organização do trabalho. É fator permanente de insegurança social, pela questão da instabilidade do emprego que ela traz. Ex: tecelões manuais não tem maistrabalho com a industrialização. Os “desempregos”!!!! Acompanha a precarização do trabalho e a ausência de qualificação. Ex: busca pelo trabalhadores não habilitados, como crianças de 6 anos. Os Miseráveis Vulnerabilidade dos operários da indústria: Ex: GUETOS, onde vivem as famílias operárias, amontoadas nos subúrbios das cidades industriais (promiscuidade, falta de higiene... Vícios, violência e alcoolismo dos homens e prostituição das mulheres... Perversão das crianças...) Espécie de imoralidade que se faz na degradação completa dos modos de vida dos operários e suas famílias. Traz uma espécie de racismo operário, difundido entre a burguesia do séc XIX. “Classes laboriosas, classes perigosas”. Os Miseráveis MISÉRIA. UMA CONDIÇÃO NOVA. MODERNA. O Proletariado Industrial: Mulheres, homens e crianças passaram até 14 ou 16 horas por dia na indústria, por salários de miséria, entregues à arbitrariedade patronal. O pauperismo é uma construção social. Porém, o perigo não está no crime, está nas relações entre os miseráveis e o mundo do trabalho. Ou seja, está na fronteira incerta entre a miséria e o crime, no risco da desagregação social. Considerações Com o pauperismo, manifesta-se o perigo de uma desfiliação em massa inscrita no próprio cerne do processo de produção de riquezas. A atualidade da questão do pauperismo não se deve apenas ao fato de que se pode observar nos dias de hoje, uma “pauperização” de algumas categorias sociais. Esta questão social, convida a refletir sobre as relações que existem entre as recomposições da ordem de trabalho e um dessocialização de massa. CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, RJ: Vozes. 2010, p. 11-19 e 277- 306. REFERÊNCIA:
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