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Cherrnobyl (2)

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Uma central “tão segura que poder-se-ia ter construído em plena Praça Vermelha de Moscovo”. Era assim que o regime soviético descrevia a Central Nuclear de Chernobyl, construída em 1972, na Ucrânia, e a mais potente do mundo na altura.
O que aconteceu no dia 26 de abril de 1986, no reator número quatro da central, é sobejamente conhecido. Uma explosão, um desastre nuclear que afetou países um pouco por todo o mundo, outro que podia ter aniquilado toda a Europa e que foi evitado, um número de vítimas que ainda hoje continua a subir e uma região que se tornou uma zona fantasmagórica. No entanto, a quantidade de informação existente sobre a tragédia é incomparavelmente inferior à magnitude do desastre. E esse facto pode ter feito mais uma vítima — a própria União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
O maior desastre nuclear que o mundo já conheceu
Naquela madrugada, os 176 funcionários do bloco quatro da central nuclear receberam ordens para proceder a um teste no sistema de alimentação automático de combustível do reator, com o objetivo de poupar energia da estrutura. Com os sistemas de segurança desativados, deu-se início a uma intensa subida da temperatura dentro do reator, até que as sobreaquecidas barras de combustível nuclear aí presentes foram colocadas nas águas de refrigeração, o que, aliado às violações dos regulamentos de segurança, provocou uma série de explosões no local. Como consequência, foi formado um fluxo de vapor radioativo que foi expelido pela explosão o que fez com que uma autêntica chuva de partículas radioativas fosse lançada a uma distância superior a 1 quilómetro de altura e com uma quantidade de radioatividade equivalente a entre 100 e 500 bombas atómicas como as lançadas em Hiroshima e Nagasaki.
Durante a tarde de dia 27 de abril, os militares começaram a medir o nível de radioatividade no ar em Pripyat. E os resultados apontavam para níveis 15 mil vezes superiores ao considerado normal. Na noite desse mesmo dia, era já 600 mil vezes superior ao aconselhável — acredita-se que a população recebeu, só durante aquele dia, doses 50 vezes maiores do que a considerada inofensiva.
Só no final da tarde do dia seguinte às explosões se avançou para a evacuação total dos quase 50 mil habitantes de Pripyat. O que, para uma tragédia nuclear desta dimensão, era já demasiado tempo depois do recomendado. Todos tinham sido já expostos a níveis de radiação capazes de desencadear doenças como cancro.
Enquanto isto acontecia, as nuvens radioativas começaram a espalhar-se pelos países vizinhos. E, no dia 28, chegavam à Suécia. As autoridades do país detetaram quase imediatamente a subida do nível de radioatividade no território, mas não sabiam a origem, porque, quase 60 horas depois do acidente, não existia qualquer comunicado internacional por parte da União Soviética. Assim, foi a Suécia que alertou as autoridades internacionais para estes níveis. E os russos viram-se obrigados a avisar o mundo sobre o desastre que tinha ocorrido.
Na parte inferior do reator afetado, milhares de toneladas de magma continuavam a ser queimadas, libertando ininterruptamente gases radioativos para a atmosfera. Toda a Europa poderia ser contaminada, dependendo da direção dos ventos. Mais de 700 mil militares e trabalhadores (ficaram conhecidos como “liquidadores”) foram destacados para controlar o incêndio e selar o reator. Mas o risco de uma segunda explosão, ainda mais devastadora do que a primeira, aumentava a cada segundo. Alguns cientistas que analisaram a situação calcularam que, a ocorrer, a explosão varreria do mapa a cidade de Minsk, a 320 quilómetros de distância, e tornaria a Europa inabitável. Era a sobrevivência do continente que estava em jogo.
As centenas de milhares de pessoas, de bombeiros a militares, passando por civis, que tentaram evitar uma tragédia sem precedentes, colocaram em prática um plano que consistia, num primeiro momento, em retirar a água da parte inferior do reator e depois selar a fenda aí presente, através de chumbo, que derreteria com as altas temperaturas. Grande parte dos homens que embarcou nesta missão suicida ainda hoje sofre as consequências. Outros acabaram por morrer — calcula-se que 40 mil destes homens morreram devido ao trabalho realizado, com muitos a terminar com a própria vida, e outros 70 mil ficaram incapacitados.
Parecia que se estava num cenário onde se resolvia um problema e surgia outro logo a seguir. Apesar da missão bem-sucedida de selar a fenda e impedir uma explosão, o incêndio não tinha terminado. Por isso, o magma continuava a deslocar-se para baixo, correndo agora o risco de chegar ao lençol de água subterrâneo, o que contaminaria todos os rios nas regiões próximas até ao Mar Negro. A acontecer, os danos seriam incalculáveis. A única solução era chegar à zona destruída, o que era uma missão potencialmente suicida. Assim, 1o mil mineiros russos e ucranianos ficaram incumbidos da missão de construir túneis subterrâneos para chegar ao reator e instalar um dispositivo de refrigeração, de maneira a reduzir a temperatura do magma. Calcula-se que um quarto destes homens morreu antes de completarem os 40 anos de idade.
Chernobyl teve consequências humanas, ambientais e económicas que ainda hoje se fazem sentir. Tornou, por exemplo, uma cidade como Pripyat inabitável, segundo calculam alguns cientistas, para os próximos 900 anos e expeliu uma quantidade de radiação que chegou a países como Espanha, França ou a Grã-Bretanha. As Nações Unidas chegaram a calcular que, até 2002, existiram 2 mil casos de cancro da tiroide relacionados com o acidente e que esse número poderia aumentar para entre 8 a 10 mil casos nos anos seguintes — esta estimativa foi, no entanto, contestada por algumas organizações não-governamentais. Para além disso, a dificuldade de contabilizar o número de pessoas afetadas pelo desastre aumenta quando se tenta calcular a quantidade de crianças nascidas com mutações genéticas, ou até os impactos económicos em famílias que tiveram de abandonar tudo o que tinham para fugir da radiação. Muitas delas vivem, ainda hoje, na miséria.

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