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01 O CDC no Ordenamento Jurídico Brasileiro completo

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DIREITO DO CONSUMIDOR
Igor Moura R. Teixeira
igormoura.r@gmail.com 
O CDC NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO
Leitura atenta do CDC (Lei n. 8.078/90) – arts. 1º ao 
54 e art. 81 ao 104
Art. 1º ao 54 – parte material 
Art. 55 a 60 + 105 e 106 – parte administrativa 
Art. 61 a 80 – infrações penais 
Art. 81 a 104 – tutela coletiva 
Resolução de questões por assunto 
Jurisprudência do STF e do STJ, principalmente os 
recursos repetitivos e as novas súmulas
DIREITO CONSTITUCIONAL DO CONSUMIDOR
Art. 5o, XXXII, CRFB: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” norma
de eficácia limitada – o CDC trouxe aplicabilidade ao dispositivo. Com base nesse
dispositivo, sustenta-se que a defesa do consumidor seria direito e garantia fundamental
de 3a geração ou dimensão.
Art. 170, CRFB: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor;”
ADCT, Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
O CDC deveria ter sido elaborado em 120 dias, da promulgação da Constituição Federal.
Entretanto, só foi elaborado em 11 de setembro de 1990.
O CDC é “norma geral”, no sentido do art. 24, §1º, da CF, devendo ser entendida como piso
de proteção (mínimo).
Apesar de ter sido elaborado em 11/09/1990, só entrou em vigor em
11/03/1991, ou seja, 180 dias depois de sua publicação.
CDC, Art. 118. Este código entrará em vigor dentro de cento e oitenta dias a
contar de sua publicação.
ATENÇÃO: De acordo com a jurisprudência do STJ e do STF, o CDC não incide
sobre os contratos celebrados antes de sua vigência, sob pena de afronta ao
ato jurídico perfeito. Porém, nos contratos de execução diferida e prazo
indeterminado, celebrados anteriormente à vigência do CDC, a partir da
edição deste, incidirão essas novas normas, ao argumento de que o
contrato é renovado a cada pagamento efetuado (ex. planos de saúde e
planos de previdência privada).
Contrato de trato sucessivo é aquele em que periodicamente são renovadas
as tratativas. É um contrato que não tem o dia de fim.
Para alguns, aplica-se aqui a Teoria da Proibição do
Retrocesso, segundo a qual, qualquer norma que tente
diminuir ou suprimir direitos dos consumidores deve ser
considerada inconstitucional.
Observação: Deve-se tratar o direito do consumidor como o
direito constitucional. Lembrar SEMPRE da dignidade da
pessoa humana. É entendimento consolidado no STJ.
Nada mais é do que a aplicação da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, ou seja, sua aplicação nas relações
privadas.
Art. 24, CRFB: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: (...) V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico”;
MUNICÍPIOS podem legislar sobre direito do consumidor?
O art. 24 não atribui competência legislativa aos Município;
Competência suplementar geral (art. 30, II, CRFB);
Logo, os municípios só poderão editar leis sobre direito do
consumidor no caso de lacunas da lei federal e da lei estadual.
QUAL A IMPORTÂNCIA DO DIREITO DO
CONSUMIDOR?
As pessoas precisam consumir, pois o consumo é
importante para a economia. Se as pessoas deixarem
de consumir, deixa de entrar dinheiro; sem consumo,
a economia não anda. O Direito do Consumidor serve
para que as pessoas sejam respeitadas pelas empresas,
para que possam consumir sem abusividade.
É um direito de terceira geração/dimensão, está dentro
dos direitos difusos - A Lei Consumerista visa à
pacificação social, na tentativa de equilibrar a díspar
relação existente entre fornecedores e prestadores.
ANTINOMIA DE LEIS
Para Hans Kelsen, a Constituição Federal está no topo do ordenamento jurídico,
enquanto que as leis ordinárias (Códigos) estão na base da pirâmide. Já o Código
de Defesa do Consumidor está em uma zona híbrida, com eficácia supralegal.
Este é um argumento, e bastante respeitado. Porém, não é o argumento mais
forte. O argumento mais forte e mais razoável é o Diálogo das Fontes, do
Professor Erick Jaime, trazido para o Brasil pela Professora Claudia Lima Marques.
Pelo Diálogo das Fontes, ainda que se aplique o CDC, nada impede que também
seja aplicada outra lei, que tenha uma interpretação mais razoável para
determinada situação. O ordenamento jurídico é harmônico, por isso, nada
impede que seja aplicada o CDC em conjunto com outro Código. A ideia é pensar
fraternamente, pois o direito é teleológico. Para ter um direito mais harmônico,
interpretam-se ambas as normas de forma conjunta, fazendo algo que seja mais
razoável para a situação.
CONCEITO
O CDC é uma norma de ordem pública e de interesse social.
Além de estar inserido no microssistema processual.
Art. 1º CDC - O presente código estabelece normas de proteção
e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos
termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da
Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições
Transitórias.
* ORDEM PÚBLICA
São normas que permitem a intervenção do juiz de ofício, a fim
de que seja preservado o interesse do consumidor e o interesse
social. Por exemplo, em tese, o juiz pode inverter o ônus da
prova de ofício, declarar a nulidade de cláusulas abusivas.
Atenção!
A Súmula 381 do STJ proíbe que o juiz declare de
ofício as cláusulas abusivas nos contratos bancários.
Súmula 381 STJ – Nos contratos bancários, é vedado ao
julgador conhecer, de ofício, da abusividade da cláusula.
* INTERESSE SOCIAL
Visa proteger a relação de consumo. Ou seja, o combate
aos abusos não interessa apenas as partes, mas sim toda
a coletividade, pois estas relações são disseminadas.
Luiz Antonio Rizzatto Nunes:
“A Lei n. 8.078 é norma de ordem pública e de
interesse social, geral e principiológica, o que significa
dizer que é prevalente sobre todas as demais normas
especiais anteriores que com ela colidirem. As normas
gerais principiológicas, pelos motivos que
apresentamos no início deste trabalho ao demonstrar
o valor superior dos princípios, têm prevalência sobre
as normas gerais e especiais anteriores”.
Código de Defesa do Consumidor (CDC)
- Forma um subsistema autônomo, que vai reger completamente as relações de consumo.
- As regras dos demais ramos do Direito só irão se aplicar subsidiariamente, em caso de
lacunas, quando houver.
- Constitui, assim, um microssistema (dentro do macrossistema que é o código civil),
possuindo normas que regulam todos os aspectos da proteção do consumidor,
coordenadas entre si, permitindo uma visão do conjunto das relações de consumo, sem se
deixar contaminar por outras regras dos demais ramos do Direito.
- Norma principiológica.
- Como microssistema codificado, tem caráter interdisciplinar, outorgando tutelas
específicas para o consumidor, que compreendem: tutela civil, tutela penal, tutela
administrativa, tutela jurisdicional.
- Tem também caráter multidisciplinar: o direito do consumidor se utiliza de conceitos de
outras áreas de conhecimento => Teoria do Diálogo das Fontes – Cláudia Lima Marques.
SÚMULAS DO SUPERIOR 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(DIREITO DO CONSUMIDOR)
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Súmula 285 - Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do
Consumidor incide a multa moratória nele prevista. (Súmula 285, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 28/04/2004, DJ 13/05/2004 p. 201)
Súmula 297 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras. (Súmula 297, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2004, DJ
09/09/2004 p. 149)
Súmula 321 - O Código de Defesa doConsumidor é aplicável à relação jurídica
entre a entidade de previdência privada e seus participantes. (Súmula 321,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/11/2005, DJ 05/12/2005 p. 410)
CANCELAMENTO DA SÚMULA: A Segunda Seção, na sessão de 24/02/2016,
ao apreciar o Projeto de Súmula nº 627 e o julgado no REsp 1.536.736/MG,
determinou o CANCELAMENTO da Súmula 321 do STJ (DJe 29/02/2016).
Súmula 563 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades
abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos
previdenciários celebrados com entidades fechadas. (Súmula 563, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, DJe 29/02/2016)
PLANO DE SAÚDE
Súmula 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano
de saúde que limita no tempo a internação hospitalar
do segurado. (Súmula 302, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 18/10/2004, DJ 22/11/2004 p. 425)
Súmula 469 - Aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de plano de saúde.
(Súmula 469, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
24/11/2010, DJe 06/12/2010)
PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL
Súmula 543 - Na hipótese de resolução de contrato
de promessa de compra e venda de imóvel submetido
ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo
promitente comprador - integralmente, em caso de
culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor,
ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem
deu causa ao desfazimento. (Súmula 543, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, DJe 31/08/2015)
SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO
Súmula 323 - A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito
até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução. (Súmula 323,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJ 05/12/2005 p. 410, REPDJe 16/12/2009)
Súmula 359 - Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do
devedor antes de proceder à inscrição. (Súmula 359, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe
08/09/2008)
Súmula 385 - Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por
dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. (Súmula
385, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)
Súmula 404 - É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor
sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros. (Súmula 404, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009)
Súmula 548 - Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de
inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito.
(Súmula 548, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 19/10/2015)
Súmula 550 - A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco que não
constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o direito de solicitar
esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no
respectivo cálculo. (Súmula 550, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 19/10/2015)
SERVIÇOS PÚBLICOS
Súmula 356 - É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de
telefonia fixa. (Súmula 356, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/06/2008, DJe
08/09/2008)
Súmula 357 - A pedido do assinante, que responderá pelos custos, é
obrigatória, a partir de 1º de janeiro de 2006, a discriminação de pulsos
excedentes e ligações de telefone fixo para celular. (Súmula 357, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 25/06/2008, DJe 08/09/2008) REVOGAÇÃO DA SÚMULA:
A Primeira Seção, na sessão de 27/05/2009, ao julgar o REsp 1.074.799/MG,
determinou a REVOGAÇÃO da Súmula 357 do STJ (DJe 22/06/2009).
Súmula 407 - É legítima a cobrança da tarifa de água fixada de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo. (Súmula 407, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009, REPDJe 25/11/2009)
Súmula 412 - A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto
sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. (Súmula 412,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJe 16/12/2009)

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