Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
70 3.5 Competitividade Revelada: O Álcool Na Introdução foram tecidas as considerações históricas sobre o Proálcool. A utilização do álcool como combustível responde por 91% do total de álcool consumido no país. Em pequena escala, há consumo para a indústria de bebidas e farmacêutica (álcool neutro), uso doméstico e hospitalar. Praticamente não há exportação do produto. O gráfico abaixo retrata a produção de álcool no país nos últimos sete anos. Gráfico 3.14 - Produção Brasileira de Álcool 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 * E m M e tr o s C ú b ic o s ANIDRO HIDRATADO TOTAL Fonte: FNP/Assoc. Ind. de Açúcar e Álcool do Est. SP No Gráfico 3.15, é apresentada a evolução da produção sucroalcooleira nacional nos últimos dez anos, podendo ser observado que a produção de álcool praticamente se mantém estável. As tabelas 3.22 e 3.23 apresentam o ranking dos produtores de álcool, por subsistema regional 71 Gráfico 3.15 – Evolução da Produção Sucroalcooleira Nacional (Cana1000 t, Açúcar 1000 sacas 50 Kg, Álcool m.cub. X 10) Fonte: STALDER, 1997 Tabela 3.22 Região Norte/Nordeste – Safra 96/97 Ranking dos 50 Maiores Produtores de Álcool (Anidro + Hidratado em litros) 0 50 100 150 200 250 300 Álcool Açúcar Cana Posição Unidade Estado Produção 1 Coruripe Alagoas 115.140.000 2 Tabu Paraíba 102.615.401 3 Inexport Pernambuco 90.069.000 4 Japungu Paraíba 76.173.196 5 Baía formosa Rio Grande do Norte 75.000.000 6 Sanagro Sergipe 62.704.000 7 Taisa Alagoas 59.406.131 8 Giasa Paraíba 58.173.525 9 JB Pernambuco 54.441.000 10 Porto Rico Alagoas 51.940.000 11 Guaxuma Alagoas 50.160.307 12 Caeté Alagoas 47.075.000 13 Porto Alegre Alagoas 45.580.000 14 São Gonçalo Alagoas 40.203.983 15 Pemel Paraíba 39.774.000 16 Santo Antônio Alagoas 38.553.541 17 Paisa Alagoas 37.101.750 18 São Luiz Pernambuco 36.409.850 19 Medasa Bahia 36.830.300 20 Pindorama Alagoas 36.157.220 72 Tabela 3.23 Região Centro/Sul – Safra 96/97 Ranking dos 50 Maiores Produtores de Álcool (Anidro + Hidratado em litros) Fonte: Anuário Jornal Cana Posição Unidade Estado Produção Safra 95/96 1 Da Barra São Paulo 293.495.000 1 2 São Martinho São Paulo 272.500.000 2 3 Andrade São Paulo 242.789.875 3 4 Santa Elisa São Paulo 225.000.000 4 5 Vale do Rosário São Paulo 215.790.000 7 6 São José (LZ) São Paulo 204.198.000 8 7 Barra Grande São Paulo 202.840.000 6 8 Da Pedra São Paulo 196.189.000 9 9 São João (Araras) São Paulo 185.393.000 5 10 Itamarati Mato Grosso 176.049.812 20 11 Colorado São Paulo 169.299.463 18 12 Iracema São Paulo 164.680.000 16 13 Bonfim São Paulo 164.273.458 10 14 Junqueira São Paulo 161.150.000 15 15 Costa Pinto São Paulo 158.809.000 13 16 Catanduva São Paulo 157.925.526 12 17 Santa Cruz São Paulo 150.240.000 14 18 Nova América São Paulo 134.000.000 17 19 Equipav São Paulo 129.524.827 11 20 Virálcool São Paulo 117.171.421 25 21 Santa Adélia São Paulo 113.528.300 26 22 Colombo São Paulo 110.491.417 19 23 MB São Paulo 105.205.000 27 24 Nardini São Paulo 102.780.000 23 25 Tonon São Paulo 102.600.000 24 26 Moema São Paulo 100.240.350 37 27 Iturama Minas Gerais 94.524.779 60 28 Bazan São Paulo 91.663.000 21 29 Vale do Verdão Goiás 91.521.909 39 30 Debrasa Mato Grosso do Sul 91.001.691 49 73 3.5.1 Mercado de álcool O Brasil é o maior produtor e consumidor de álcool do mundo. Em função da questão ambiental, o mercado tem crescido muito em países desenvolvidos. Além de algumas aplicações para as indústrias química, farmacêutica e de alimentos, o grande mercado é o de combustíveis. O álcool hidratado vem perdendo mercado para o anidro, com aplicações como aditivo para gasolina. Ambos têm perspectivas de crescimento em todo o mundo. O mercado mundial é de 25 bilhões de litros, sendo 70% provenientes de cana-de-açúcar (Carvalho, 1997). O Brasil é o maior produtor mundial com 14 bilhões de litros. Os EUA são o segundo maior produtor, com 6 bilhões de litros. O Brasil é também o maior consumidor mundial de álcool, sendo até importador do produto – cerca de US$ 700 mil em 1997. Em 1997, houve excedentes de álcool. O mercado mundial cresce muito rapidamente. A partir de 1998, inicia-se a produção de carros a álcool nos Estados Unidos. No entanto, dificilmente o Brasil terá acesso a este mercado, em função de barreiras protecionistas, a não ser que atue muito eficientemente nos fóruns internacionais. Em Curitiba, desde 1998 circulam experimentalmente dois ônibus movidos a álcool/diesel, que apresentam 38% de redução na emissão de poluentes. Criação, em 1997, da Associação dos Municípios Canavieiros, composta de mais de 20 cidades, cuja frota será totalmente a álcool. Em tramitação, a liberação de incentivos fiscais a taxistas e locadoras para renovação de frota com mais de 10 anos, a álcool. 74 Há dois produtos básicos: o álcool anidro e o hidratado. No Brasil, todo litro de gasolina tem que conter 22% de álcool anidro (em 1998 esta proporção subiu para 24%). A produção nacional de álcool divide-se em 35% anidro e o resto em hidratado (Carvalho, 1997). Nos EUA, em alguns estados, já se obriga adição de 10% de álcool à gasolina. Em outros, já se avalia a adição de 22%. O uso de álcool anidro como aditivo parece se consolidar como alternativa mundial. O chumbo tetraetila está praticamente banido em função de seus efeitos nocivos à saúde. Os aromáticos também parecem estar condenados pelo mesmo motivo. Atualmente, concentram-se atenções no uso de aditivos oxigenados (o álcool anidro é um deles, o MTBE é outro). O uso do álcool hidratado como combustível está decrescendo. Atualmente, a produção de carros a álcool foi drasticamente reduzida – 0,5% das vendas em 1996, e uma frota estimada em mais de 4 milhões de veículos a álcool. O álcool hidratado tem seu futuro dependente de políticas públicas. Discute-se a criação de um imposto “verde”, que consistiria em um aumento da alíquota de ICMS incidente sobre a gasolina. É uma medida com poucas chances de sucesso, pois adiciona mais um imposto a ser pago pelos consumidores. Outras medidas em discussão tratam da isenção de IPI para carros a álcool, do uso deste tipo de veículos pela frota oficial (já aprovada), em carros 1000 cilindradas e até para locadoras de veículos. 3.5.2 Comercialização do álcool no Brasil Um dos temas centrais da política do SAG é a desregulamentação da comercialização do álcool. O anidro, já liberado, enfrenta ajustes e pressões decorrentes da existência de cerca de 350 produtores ofertando produtos para oito grandes clientes, muito bem organizados. As usinas preparam-se para a atividade comercial, antes controlada. As negociações e contratos ainda 75 dependem da presença governamental, que tem se mostrado indecisa. Há demanda por uma política governamental que equacione questões tributárias e subsídios cruzados para o álcool e para a gasolina. A desregulamentação da comercialização do álcool é outro conjunto de incertezas. Em 1997, liberou-se a comercialização do álcool anidro – preço e clientes. Até 1996, apenas a Petrobrás comprava e distribuía o produto. Há negociações com diversas distribuidoras, organizadas no SINDICOM – oligopólio das grandes distribuidoras mundiaisde combustível. Assinam-se contratos de fornecimento de 1 ano, com preços avaliados a cada 3 meses. As negociações são tripartites – governo, produtor de álcool e SINDICOM. 70% do álcool anidro é vendido para o SINDICOM e 30% vai para o mercado spot, destinando-se a várias distribuidoras pequenas e novas. O álcool hidratado será liberado em 1998 (Carvalho, 1997). Os produtores de álcool clamam por uma política de sustentação efetiva para o álcool hidratado, baseada na diferenciação tributária em relação à gasolina, visando compensar, via preço de mercado, o valor dos benefícios de um combustível de fontes renováveis para o país. Este assunto será tratado com maiores detalhes no capítulo 5. Existem cerca de 4,0 milhões de veículos em circulação movidos a álcool. O consumo aparente de álcool hidratado no país vem decrescendo, enquanto que o da gasolina, aumentando significativamente. No início da década de 90, o consumo de álcool hidratado equivalia ao da gasolina. Em 1997, não chegava a 30% do total de gasolina mais álcool consumidos no Brasil. O gráfico seguinte apresenta com detalhes essas informações. 76 ráfico 3.16 – Consumo Aparente de Combustíveis Líquidos (1982-1996) Nota: Informação sobre a gasolina refere-se a consumo final energético Fonte: Datagro, 1997 A venda de veículos a álcool no país decresceu fortemente a partir do final da década de 80. No início da década de 90, as vendas atingiam a ordem de 200 mil veículos por ano. Em 1986, chegou ao expressivo patamar de 700 mil veículos. No início da década de 90, retornou a 200 mil, decrescendo para 40 mil em 95 e menos de 10 mil veículos em 96. As vendas mensais em 1997 não atingiram 50 unidades. O Gráfico 3.17 apresenta a evolução dos preços do álcool nos últimos dez anos, indicando uma tendência de alta a partir de 1994, decorrentes da liberação de preços. 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 Álcool Anidro Álcool Hidratado Gasolina Em mil m 3 77 Gráfico 3.17 – Evolução dos Preços (US$) Fonte: AIAA 3.5.3 Produtos substitutos do álcool A questão Álcool versus Petróleo é complexa e polêmica. As previsões de extração e consumo de petróleo no mundo não são convergentes. Parece haver consenso de que há tendência de elevação de preços do petróleo, o que elevaria a competitividade da indústria alcoolquímica e do álcool como combustível. No Brasil, há forte conflito entre a Petrobrás e os produtores de álcool, cada qual com várias entidades aliadas e polarizadas. Subsídios cruzados e confusos são um dos principais fomentadores das divergências. Previsões sobre o que vai ocorrer com o petróleo são polêmicas e heterogêneas. A Cambridge Energy Research Associates (Carvalho, 1997) indica que em 2001 inicia-se o ciclo de depressão mundial do petróleo, ou seja, a produção será menor que o consumo. Neste estudo, o petróleo deverá acabar em 2040, e a partir de 2020, os combustíveis alternativos já terão seu papel bem definido. Em função deste cenário, já há tensões no mercado internacional de petróleo. Nos EUA, a produção de álcool a partir do milho vem sendo fomentada. No entanto, não há expectativas de que possa superar o custo do álcool de cana, se não forem levados em consideração os subsídios para aquele cereal. 190 240 290 340 390 1986 1988 1990 1992 1994 1996 Média em US$ corrente Média em US$ Deflacionado 78 3.5.4 A competitividade da produção de álcool via cana-de-açúcar Não há como comparar o custo de produção do álcool com o da gasolina sem levar em consideração fatores sociais e relativos à questão ambiental. Industrialmente, a petroquímica é imbatível. Estimativas dos custos e benefícios do Proálcool são díspares, inconclusivas, polêmicas e polarizadas. Dívidas não pagas, subsídios cruzados, juros subsidiados, renúncias fiscais, impactos na balança comercial com defasagens cambiais variadas, formam um imbróglio dos mais notáveis. A França estima que até 2005, o chamado “bioetanol” se tornará altamente competitivo em relação ao petróleo (Carvalho, 1996). Embora haja incontáveis estudos, o custo do Proálcool não é conhecido com precisão. A implantação do parque sucroalcooleiro necessitou de investimentos da ordem de US$ 12 bilhões, grande parte financiada a juros subsidiados. Há ainda renúncias fiscais, perdão de dívidas e outros benefícios. A estes elementos deve se contrapor o impacto na balança comercial na época da crise do petróleo, os benefícios sociais e ambientais e o pagamento de impostos. Uma análise completa só poderia ser realizada com a avaliação comparativa dos retornos dos investimentos nacionais em prospecção e refino de petróleo. Por conta do Proálcool, o Brasil economizou cerca de US$ 30 bilhões em substituição ao petróleo. Em 1996, contribuiu com US$ 1,6 bilhões para redução do déficit na balança comercial (substituição das importações de petróleo e aditivos para gasolina) (Gazeta Mercantil, 1996). Em 1998, o litro do álcool hidratado era vendido pela Usina aos distribuidores por R$ 0,33/litro, e desta aos consumidores finais por R$ 0,69 litro. No caso do Anidro, o álcool é vendido pela Usina ao distribuidor por R$ 0,37/litro, enquanto que o preço final ao consumidor é de aproximadamente R$ 0,85/litro. 79 Hidratado Anidro Do produtor às distribuidores: R$ 0,330 litro(médio)* Do produtor às distribuidores: R$ 0,370 litro(médio)* Do posto ao consumidor (mais 109%) R$ 0,690 litro (médio) Do posto ao consumidor (mais 129%) R$ 0,850 litro(médio) *Previsto para safra 1998/99 3.5.5 Estratégias para agregação de valor ao álcool A alcoolquímica não se mostrou viável economicamente até o momento. Depende do que ocorrerá com o preço do petróleo e da força das demandas relativas ao meio ambiente. As possibilidades de agregação de valor ao álcool via alcoolquímica foram exaustivamente estudadas por entidades como COOPERSUCAR, CODETEC, IPT (CODETEC, 1990), empresas do setor e empresas químicas como Rhodia. Vários projetos foram iniciados e algumas plantas instaladas – solventes e ácidos. Não há nenhum caso de sucesso a ser relatado. A principal causa é a falta de competitividade da alcoolquímica frente a petroquímica. O tema, no entanto, permanece em pauta por dois motivos: uma possível alta do preço do petróleo e o uso de produtos “verdes” derivados do álcool da cana-de-açúcar. 3.5.6 Relação álcool com custos ambientais Há consenso sobre a importância do álcool na questão ambiental em todo o mundo e várias iniciativas relativas à produção de motores multi-combustível e programas de incentivo ao uso de veículos a álcool ocorrem. Há tendência mundial de valorização de produtos ambientalmente limpos, selos de origem, selos verdes e ISO 14000. O álcool insere-se neste contexto. 80 O uso de álcool de cana-de-açúcar também alinha-se às tendências ambientais. O efeito estufa e poluição provocados pela queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão) são muito estudados. Há previsão de aumento do consumo de energia de forma expressiva até o ano 2020 – pelo menos 5 vezes –, em especial em países em desenvolvimento. As opções são os recursos renováveis e gás natural. Países como a Suécia já utilizam táxis e ônibus a álcool. A indústria automobilística desenvolve motores flexíveis, multi-combustível. Podem funcionarcom até 85% de etanol ou 100% de gasolina. A regulagem do motor é automática através de sensores nas câmaras de combustão (Cesar, 1997). A Volvo estuda trazer para o Brasil tecnologia para produção de ônibus a álcool, caso haja garantias de fornecimento estável deste combustível no território nacional (Jornal Cana). Os EUA vêm desenvolvendo tecnologia de produção de etanol a partir de milho visando alternativa energética ambientalmente mais limpa, mas com eficiência econômica muito aquém da cana-de-açúcar. A União Européia conta com o projeto ZEUS (Zero e Baixa Emissão de Veículos na Sociedade Urbana), voltado para busca de alternativas energéticas não poluentes (Carvalho, 1996). 3.5.7 Co-geração de energia O SAG da cana vem sendo apontado e concretamente tem contribuído para a geração de energia via queima do bagaço. Investimentos em sistemas de co-geração de energia vêm sendo estimulados, tornando-se uma das principais estratégias empresariais do setor. É um sistema com balanço energético muito alto. Se considerada a produção exclusiva de álcool adicionada do uso do bagaço em caldeiras, produz 10 vezes mais energia do que consome, em vista da capacidade fotossintética da cana. O uso do bagaço da cana como fonte de energia é crescente. Várias usinas estão investindo maciçamente na co-geração de energia, que, atualmente, pode ser comercializada. 81 Hoje, 23% do consumo de energia do Estado de São Paulo vem da cana-de-açúcar (sob a forma de álcool ou a partir da co-geração de energia via queima de bagaço). É a segunda fonte mais importante, perdendo apenas para o petróleo e acima da energia hidroelétrica (Carvalho, 1997). 82 4. ANÁLISE DO AMBIENTE 4.1 Ambiente Organizacional É grande a quantidade de agentes que participam do setor sucroalcooleiro. Observa-se claramente polarizações pró-álcool ou pró-petróleo. Deste binômio, destacam-se os incontáveis e instáveis agentes governamentais. O assunto transita entre vários ministérios, com ênfase nos que cuidam de questões energéticas, econômicas, agropecuárias e industriais, com participações menos ativas das áreas envolvidas com ciência e tecnologia, questões sociais e meio ambiente. Com relação ao futuro do Proálcool, existem duas correntes. Uma defende a manutenção da frota de veículos movidos a álcool. Outra acredita que o etanol no Brasil deve ser usado apenas como aditivo. É a contraposição hidratado/anidro, que toma lugar de ações sinérgicas de uma política energética associada à ambiental. Como é comum, siglas aparecem e somem com freqüência. Eis alguns exemplos: · CINAL – Comissão Interministerial do Álcool – Atualmente composta por técnicos de sete ministérios. Busca integrar as ações governamentais de forma sistêmica. · DNC – Departamento Nacional de Combustíveis – Cuida, entre outros temas, da sistemática de pagamentos de subsídios, gestão de impostos, regulamentação do comércio exterior de álcool, aditivos etc. · Departamento de Álcool e Açúcar do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo – regulamenta a comercialização desses produtos. · Conselho Nacional de Política Energética, CNPE – Delibera sobre a matriz energética do país. Presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia – MME, tem 83 por atribuição propor ao Presidente da República políticas nacionais e medidas específicas, entre as quais estabelecimento de diretrizes para programas como o uso do álcool, do gás natural, do carvão e da energia termonuclear. · ANP - Agência Nacional do Petróleo - constitui-se em uma autarquia integrante da Administração Pública Federal, vinculada ao MME, e tem como atribuição, no que se refere ao álcool, exercer as atribuições do Departamento Nacional de Combustíveis - DNC - relacionadas às atividades de distribuição e revenda desse produto, assim como de derivados de petróleo. No que se refere ao segmento da produção agrícola, o sistema agroindustrial da cana-de- açúcar organiza-se tendo como elemento central a FEPLANA - Federação Nacional dos Plantadores de Cana. A ela ligam-se outras associações estaduais que, por sua vez, possuem inúmeras associações regionais. Estas associações de classe têm como objetivo principal expor os interesses dos produtores perante o governo e a sociedade em geral. Em São Paulo, a ORPLANA (organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo) abriga várias associações regionais (Araraquara, Assis, Barra Bonita, Capivari, catanduva, Guariba, Igarapava, Jaú, Lençois Paulista, Monte Aprazível, Piracicaba, Porto Feliz, Santa Bárbara e Sertãozinho). Outros estados também possuem associações estaduais e regionais (Orplana, 1997). O governo reaparece no sistema como agente financeiro, nas figuras do Banco do Brasil e BNDES. A questão do endividamento do setor é crucial. No âmbito empresarial, associações de classe também proliferam, embora com menor intensidade. Pelo lado dos produtores, hoje a ÚNICA e a própria Petrobrás defendem interesses de seus combustíveis de forma bastante conflituosa. Não é evidente a ausência de sinergia entre os dois lados. O uso de álcool como aditivo poderia ser elemento de defesa comum. No entanto, as 84 questões dos subsídios cruzados e privilégios na comercialização de combustíveis inibem ações conjuntas que poderiam ter forte impacto no Brasil e exterior. · ÚNICA – União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo – É composta por 121 das 133 usinas em operação no Estado de São Paulo. Substitui o AIAA – Associação das Indústrias de Açúcar e álcool – na defesa dos interesses do setor. Tem por objetivo promover o fim do regime governamental de cotas, liberação das exportações de açúcar, a negociação de incentivos à produção e consumo de álcool combustível, como forma de garantir a sobrevivência do Proálcool (ÚNICA, 1997). Não exerce influência nas questões mercadológicas. No que se refere a isso, a maioria das usinas do Estado de São Paulo estão reunidas em torno da Copersucar - Cooperativa dos Produtores de Cana do Estado de São Paulo, que, além da comercialização, é responsável também pelo desenvolvimento tecnológico. · Sopral – Sociedade dos Produtores de Álcool – Defende um novo Proálcool. · ADA – Associação das Destilarias Autônomas – Defende um novo Proálcool. · Coopersucar – Fundada em 1959, a cooperativa contou em 1997 com mais de 80 associados, acolhendo produtores de cana-de-açúcar e usinas. Sua missão básica é a comercialização da produção dos associados e a pesquisa tecnológica para desenvolvimento de novas variedades de cana, novos processos produtivos e novos produtos e negócios de interesse dos cooperados. Para complementar as atividades dos associados junto aos consumidores finais, a Copersucar adquiriu, em 1973, a Companhia União dos Refinadores de Açúcar e Café. Em 1979, inaugurou o Centro de Tecnologia Copersucar, um dos mais avançados laboratórios de P&D da área no mundo. Seus membros produziram 3,2 milhões de toneladas de açúcar e 3,2 bilhões de litros de álcool (1997) através da moagem de 63 milhões de toneladas de cana. Esses números representam cerca de 25% do mercado nacional de açúcar e álcool. 85 · Petrobrás – No início do Proálcool, contribuiu para consolidação da infra-estrutura e logística de distribuição do álcool em todo o país. Atualmente, embora explicite ser favorável ao programa, tem fortes conflitos nas questões associadas a subsídios cruzados e distribuição. Assim como as usinas, é alvo de críticas e má imagem perante a sociedade nacional, e passa por importantesmudanças no que diz respeito ao monopólio da produção e distribuição de combustíveis. É fundamental o papel exercido por algumas organizações públicas, como é o caso do IPT, que, em parceria com a Copersucar ou diretamente com usinas, desenvolve pesquisas e projetos na área de P&D. No capítulo sobre Ambiente Tecnológico são tecidas considerações sobre essas organizações. Os clientes do sistema agrupam-se nas associações e sindicatos, em especial no que se refere ao álcool. A força do SINDICOM é notável, agrupando as sete irmãs distribuidoras de combustíveis. A desregulamentação da comercialização do álcool fortaleceu a importância dessas organizações no sistema. · SINDICOM – Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes. Toma decisões sobre negociações e estratégias referentes aos combustíveis segundo ótica das grandes distribuidoras mundiais. Congrega 90% da distribuição da gasolina no Brasil. O setor convive ainda com associações de profissionais ligados ao setor energético, que também assumem posições polarizadas, servindo em grande parte como porta-vozes de demandas dos produtores. · Associação dos Engenheiros da Petrobrás – Defende fundamentalmente os interesses da Petrobrás em todos os aspectos. 86 · Associação Nacional de Engenharia Automotiva – Engenheiros ligados à área automotiva. Defende o Proálcool. Por fim, entidades diversas emitem posições sobre os rumos do Proálcool em distintas áreas. Algumas preocupam-se com o desenvolvimento sustentável, empregos, questão ambiental e competitividade. Outras, defendem interesses de grandes clientes do programa, como a indústria automobilística. · Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável – Propõe linhas de financiamento e apoio para projetos de preservação ambiental. · Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Preocupa-se com custos e incentivos para motores a álcool sob a ótica de vantagens para produtores de veículos. Em novembro de 1997, foi criada em Ribeirão Preto a Associação dos Municípios Canavieiros do Estado de São Paulo (Amcesp), entidade que reúne representantes do poder público, plantadores de cana e usineiros de todo o Estado, e cujos objetivos, entre outros, incluem apoio a programas, planos, atividades e serviços que proporcionem o desenvolvimento da agricultura canavieira, promoção da capacitação de recursos humanos e incentivo à educação ambiental e ao aprimoramento de tecnologias que privilegiem o álcool fonte de energia renovável e combustível limpo (Burnquist, 1998) . 4.2 Ambiente Institucional A análise do ambiente institucional é uma das ferramentas para se avaliar a competitividade de Sistemas no Agribusiness. Desta forma, este tópico procura abordar o aparato legal, tradições, costumes, regulamentações, enfim, as regras institucionais que afetam - dando suporte ou limitando e condicionando - os agentes que compõem o Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar. 87 A redução do nível de intervenção governamental nas atividades do setor sucroalcooleiro é evidente e mostra-se uma tendência. Simultaneamente, produtores, industriais, trabalhadores e lideranças políticas do setor revelam maior conscientização quanto à necessidade de se organizarem efetivamente na definição de prioridades e reivindicações. Por outro lado, algumas distorções permeiam esse quadro de mudanças, como a perspectiva de uma desvinculação súbita do governo do sistema deliberativo na condução política e de desenvolvimento dos assuntos do SAG da cana. Isto pode resultar em prejuízos econômicos, à medida que se tem um aumento da competitividade dos consumidores convivendo com produtores com interesses distintos, despreparados para enfrentar a abertura da economia e a maior dependência dos mecanismos de mercado (Burnquist, 1998). Crédito escasso e raro, liberação de preços defasados sob um esquema de indefinição de políticas para o setor e crescente exposição a mercados competitivos, em nível nacional e internacional, constituem barreiras à formação de um esquema administrativo eficiente. A intervenção governamental no SAG da cana-de-açúcar é extremamente dinâmica. A criação do Proálcool e a regulamentação de preços do açúcar são bons exemplos. No entanto, é no ambiente fiscal que portarias, projetos de lei e leis promulgadas tornam extremamente complexa o efetivo distanciamento do governo das ações do setor. Alguns exemplos dessas ações, com importantes impactos na competitividade do SAG como um todo e em seus subsistemas, são apresentadas a seguir. · Em maio de 1997, ocorreu a desregulamentação do álcool anidro, mantendo-se o sistema de comercialização vinculado ao planilhamento. No que se refere ao planejamento da safra 1997/98, o volume de excedente exportável de açúcar praticamente manteve-se no mesmo nível que o da safra 1996/97 . Neste mesmo mês, duas outras medidas foram tomadas: a primeira diz respeito à constituição do Grupo 88 de Trabalho Interministerial – MICT, MINFAZ e MME, com o objetivo de propor medidas de desregulamentação das atividades do setor sucroalcooleiro relacionadas às exportações de açúcar, álcool, mel rico e mel residual; a segunda refere-se à suspensão da alíquota do imposto de exportação para o açúcar de origem brasileira através do Despacho Interministerial dos Ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio e Turismo – MICT. · Algumas medidas foram implementadas com o Pacote de Ajuste Fiscal e Competitividade em novembro de 1997, como o ajuste temporário de 5% no preço ao consumidor de álcool anidro; fim da isenção do IPI para o açúcar das regiões Norte e Nordeste; fim do ressarcimento do subsídio ao álcool anidro. O preço do álcool anidro, bem como o dos derivados do petróleo (gasolina, diesel e GLP) foram aumentados visando promoção de ajustes compensatórios às elevações do petróleo e do dólar americano. Essas medidas têm impacto nas contas FUP (Frente de Uniformização de Preços), FUPA (Frente de Uniformização de Preços do Álcool) e nas diretrizes contábeis da Petrobrás com o Departamento Nacional de Combustíveis. As distribuidoras ficam autorizadas a incorporar o valor do subsídio ao preço final da gasolina, aumentando a vulnerabilidade dos produtores de álcool anidro às flutuações de mercado. · No que se refere ao IPI, o governo estabeleceu uma nova alíquota nacional do imposto, a ser cobrada na saída do açúcar bruto e refinado das usinas. A alíquota foi fixada em 12%, sendo a anterior de 18% (que vigorou até outubro de 1997) para a Região Centro-Sul e 9% para o Rio de Janeiro e Espírito Santo; estando, até então, isentas as regiões Note e Nordeste. Defende-se, no entanto, que o equilíbrio dessa tributação será feito por meio do desconto para regiões produtoras que apresentam maior custo de mão-de-obra. (Burnquist, 1998). Assim, as usinas do Norte e Nordeste poderão abater 85% do que terão que pagar de IPI, significando, na prática, uma alíquota de IPI de 1,8%. As do Rio de Janeiro e Espírito Santo descontarão 30%, o 89 que reduzira sua alíquota de 9% para 8,4%. Os estados do Centro-Sul, entre os quais, São Paulo, não serão beneficiados com reduções, embora, efetivamente, venham a pagar menos IPI, uma vez que trata-se da região mais produtiva do país. Há contestações por parte dos usineiros, os quais alegam ser o açúcar o único produto da cesta básica sobre o qual incide o imposto. Nos últimos anos, a grande maioria dos usineiros preferiu apelar para a Justiça e depositar o valor do impostodevido em juízo. Eles apenas recolhiam o IPI quando o comprador era a indústria de refrigerantes. · A liberação do mercado vive de avanços e retrocessos freqüentes. Por exemplo, o regime especial de preços para as usinas de álcool do NE foi extendido pouco depois da publicação das medidas relativas ao ajuste fiscal, mantendo-se assim tratamento diferenciado para a região, em contraposição a liberação do controle governamental. · Cabe ao governo regulamentar sobre os limites de adição de álcool anidro à gasolina. Para se Ter uma idéia da importância desta intervenção institucional, por exemplo, a elevação de 22 para 24% do álcool como aditivo eleva o consumo do produto em cerca de 9%. · No âmbito internacional, as relações comerciais entre o Brasil e a Argentina são bastante delicadas. Mantém-se, por parte do Senado da Argentina, a lei que proíbe a redução das tarifas na importação de açúcar dos países do Mercosul. A existência da taxa de 38% prejudica principalmente o Brasil e contradiz acordo para diminuir as tarifas. A criação da ÚNICA - União da Agroindústria Canavieira de São Paulo - em abril de 1997 é outro acontecimento de “peso” fundamental na condução dos rumos do setor. Em substituição ao AIAA (Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo), é composta por 121 das 133 unidades industriais de açúcar e álcool do Estado de São Paulo, as quais processam 96,63% da cana-de-açúcar paulista e são responsáveis por 98,44% da produção 90 de açúcar e 95,08% da de álcool. As empresas empregam 600 mil trabalhadores e representam 35% da produção mundial de álcool e 65% das exportações brasileiras de açúcar. Como uma nova entidade de representação política e institucional, tem como prioridade o total apoio à política do governo federal de liberalização do mercado e extinção do sistema de cotas de exportação, como forma de assegurar o abastecimento do álcool no mercado interno. Tem por “missão” a defesa dos interesses comuns do setor, não interferindo em questões mercadológicas. O Departamento Nacional de Combustíveis, DNC, terá as novas cotas de produção do álcool como base para a alocação dos subsídios para ressarcimento do diferencial de preços entre álcool e gasolina e para cobrir o diferencial de custos de produção da cana-de-açúcar. Além disso, estas cotas servirão como base para os contratos de álcool entre as Distribuidoras de Combustíveis e Usinas/Destilarias. Medidas que envolvem estímulo à demanda de álcool comumente encontram dificuldades de serem implementadas, a exemplo das tentativas de criação de uma “frota verde” de carros de locadoras e de táxis. Por fim, a “frota verde” ficou limitada aos carros oficiais federais. O estímulo à demanda de álcool hidratado tende a ficar a cargo dos governos estaduais e municipais, aos moldes do programa de álcool dos Estados Unidos. Para alguns, a criação da “frota verde” no Estado de São Paulo faz parte de um conjunto de iniciativas que denotam evidências do que se tem chamado de “desfederalização” do Proálcool. Faz parte desse conjunto: i) “linha verde” de ônibus em Curitiba; ii) movimento da frente municipalista de São Paulo; iii) testes da mistura álcool-diesel no Estado do Paraná; iv) nova política de ICMS em Alagoas; v) pedido de falência de usinas pelo Governo de Pernambuco; vi) novo convênio de ICMS firmado entre o Governo Federal e os Estados para transferências de subsídios; vii) proibição do uso do MTBE nas cidades de Curitiba e Recife. 91 O papel de representatividade do setor ficará com os Sindicatos Estaduais dos Produtores de Açúcar e Álcool nos termos da Constituição Federal, o que faz com que as empresas não sindicalizadas informem ao MICT sua representatividade setorial. Frente o cenário de desregulamentação de preços para o álcool hidratado e para a cana-de- açúcar, industriais e fornecedores criaram o sistema de autogestão do setor: um novo sistema de remuneração da tonelada de cana e um novo modelo de relacionamento entre esses agentes, devendo vigorar após a liberação dos preços, adiada para o dia 1º de novembro de 1998. Assim, para todos produtos deste setor deverão prevalecer as regras de livre mercado. O novo modelo será gerido pelo Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo – Consecana – formado por membros da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo- ÚNICA- representando os industriais e da ORPLANA – Organização dos Produtores de Cana do Estado de São Paulo, representando os produtores de cana. São as seguintes as responsabilidades do Consecana: a regulamentação do mercado de cana; planejamento e avaliação de safra; defesa setorial; acompanhamento dos preços, mercados e custos de produção; e o desenvolvimento de estudos técnicos para aperfeiçoar o sistema de amostragem e análise, as fórmulas de quantificação e a participação da matéria-prima no produto final (ÚNICA, 1998). Existe uma proposta de regulamentar o preço da cana-de-açúcar em função da quantidade de açúcar total recuperável (ATR) contido na matéria-prima fornecida pelo produtor de cana e dos preços dos produtos fabricados pelas indústrias, nos mercados interno e externos, na condição posto-veículo-usina (p.v.u.), no Estado de São Paulo, e não mais no ágio calculado com base em um padrão, como anteriormente. É a partir do ATR extraído da cana no processo industrial que as usinas e destilarias produzem açúcar e álcool e sua quantidade baseia-se nas análises do teor de sacarose (açúcar) 92 contida na cana, no teor de fibra e de pureza da matéria-prima e na eficiência produtiva. A quantidade de ATR será apurada por uma fórmula, a qual mantém a medida adotada no Sistema de Pagamento de Cana pelo Teor de Sacarose de 12% de perdas no processo industrial, e estabelece a marca de 85,5% de eficiência no processo de fermentação e de 99% no de destilação do álcool residual ou daquele obtido diretamente. O novo modelo é sustentado pelo conceito de que açúcar e álcool são pura energia que pode ser medida em ATR, ou seja, as unidades industriais comprarão ATR da cana e venderão ATR equivalentes em açúcar, álcool anidro e álcool hidratado. É evidente a necessidade de uma depuração do ambiente institucional relativo ao SAG da cana. A existência de subsídios cruzados e diferentes ações das várias organizações existentes tornam a questão muito pouco transparente e complexa, tanto para tomada de decisões estratégicas como para análise do impacto de novas medidas nos diversos elos do sistema. 4.3 Ambiente Tecnológico As tecnologias utilizadas no sistema agroindustrial da cana são maduras. Não há grande turbulência inovativa em nenhum dos elos do SAG. Na produção de insumos, diferentemente de outros sistemas agrícolas, a biotecnologia não está tendo forte impacto na melhoria de variedades. O melhoramento genético realizado há mais de uma década continua sendo amplamente utilizado. Tampouco, não há grandes inovações nos campos de fertilizantes e agroquímicos para a produção de cana. A grande mudança tecnológica do SAG da cana-de-açúcar está ocorrendo na produção da cana com a incorporação de mecanização da colheita. Dependendo das condições de relevo e 93 escala de produção, o uso da colheita mecânica pode proporcionar às usinas economia de 20 a 30 % em comparação ao corte manual (Costa, 1997). As primeiras operações tiveram início em 1994, e em 1997, mais de uma centena de unidades já estavam em uso. Estima-se crescimento anual de 20% até 2002. Os investimentos necessários paramecanização da colheita em 70% do estado de São Paulo atingem quase US$ 3 bilhões. Este montante inclui a compra da máquina e adaptações na recepção, preparo e moagem da cana, conforme indicado na Tabela 4.1. O cálculo foi realizado pela Usina Açucareira São Francisco, considerando a área do estado passível de mecanização. 94 Tabela 4.1 Investimento para Mecanização da Colheita da Cana no Estado de São Paulo Investimento Valores em R$ Equipamento de colheita 1 353 865 Preparo, plantio e tratos 416 000 Sistematização de terrenos 402 500 Recepção na indústria 147 000 Preparo e moagem 34 000 Melhoramento de variedades 84 000 Rescisão de contratos 507 000 Outros 8 000 Total 2 952 865 000 Os dados apresentados acima revelam um pouco da dinâmica tecnológica do SAG. Em geral as inovações ocorrem em função de evoluções derivadas de empresas fornecedoras de insumos ou equipamentos de produção. O próprio setor acaba tendo menor peso na atividade de desenvolvimento tecnológico, focalizando seus esforços na adaptação de inovações derivadas de seus fornecedores. Além das adaptações citadas na tabela, será necessário o desenvolvimento de métodos para evitar-se que a palha deixada pela colhedora no solo dificulte a rebrota da cana, o que pode causar perdas de até 30% na safra. Ainda, esta palha poderá funcionar como abrigo da broca, aumentando as infestações nos canaviais. Este fenômeno é um bom exemplo da dinâmica tecnológica. As empresas e consultores que conseguirem, aos poucos, ir solucionando esses problemas, tornam-se prestadores de serviço para outras usinas. São os principais agentes da difusão das novas tecnologias geradas pelos fornecedores de insumos e equipamentos. 95 Além dos ganhos econômicos, a mecanização proporciona vantagens ambientais e possível redução de gastos com insumos agrícolas. Por outro lado, gera mudança no padrão de emprego. Será a responsável por cortes significativos dos empregos sazonais (40% dos empregos rurais do setor). Também não se sabe ainda sobre o novo ecossistema que será criado com essa mudança (pragas, plantas daninhas, ciclo da cultura ) Estima-se (Costa, 1997) que 45% da produção de cana do Brasil seja mecanizável, o que daria um total de aproximadamente 600 colhedoras. É interessante observar-se que a mecanização da colheita em si não é novidade. Na década de 70 foram realizados investimentos substanciais, que não se mostraram viáveis em função da produtividade das máquinas (a metade das atuais) e do custo inferior da mão-de-obra na época. Na produção do álcool, utiliza-se tecnologia desenvolvida no início do Proálcool, aprimorada por várias inovações incrementais. A Coopersucar, ESALQ, IAA e IPT tiveram importante papel no aprimoramento dos processos fermentativos e tratamento de efluentes, mas há mais de uma década não ocorrem saltos que possam modificar significativamente a já bastante alta produtividade. O Brasil detém a maior experiência mundial na produção de álcool a partir de cana-de-açúcar em grande escala. Conseguiu aliar as tecnologias de processos fermentativos e de destilação, fornecidas por produtores de equipamentos e empresas especializadas em engenharia de processos. Teve sucesso na busca e negociação de pacotes tecnológicos com várias empresas estrangeiras e soube incorporar este conhecimento em alguns institutos tecnológicos (IPT) e universidades (ESALQ), além da importante iniciativa de constituição da Coopersucar. Estas 3 organizações dedicaram-se ao aprimoramento de processos, controles, dimensionamento e desenvolvimento de equipamentos, seleção e melhoramento genético de cepas de leveduras, processos de tratamento de efluentes e desenvolvimento de alguns subprodutos. Na última década, no entanto, houve forte diminuição de investimentos em P&D. Os institutos de pesquisa de todo o país passaram por forte crise econômica e de identidade. O padrão 96 mundial de sustentação governamental deste tipo de organização mudou, com redução do papel do governo e aumento da participação da iniciativa privada. O mesmo ocorreu no Brasil, talvez de forma mais intensa, agravado pela estagnação econômica e falta de direcionamento (inexistência) de política de Ciência e Tecnologia. As empresas privadas (produtores e Usinas) alocam 0,21% do preço para melhoria das variedades. Mesmo assim, houve desmantelamento das principais equipes e laboratórios. O Brasil, que chegou a atrair a atenção de todo o mundo pelo sucesso do programa e excelência tecnológica adquirida, perdeu a oportunidade de liderar o que poderia ser uma das poucas iniciativas reais de inovação global desenvolvidas em nosso ambiente. O Proálcool aliou competências internacionais e nacionais em fermentação e destilação, a enorme capacidade de desenvolvimento tecnológico da indústria automobilística (no desenvolvimento de motores) à igualmente forte capacidade inovativa da indústria de combustíveis. Essas duas últimas estão entre as que mais investem em P&D no mundo. Foi impressionante a capacidade de articulação tecnológica dos que lideraram o programa (políticos, empresários e pesquisadores), assim como é impressionante como estamos deixando esvair uma das poucas competências internacionais em tecnologia industrial que o Brasil conseguiu adquirir. Montou-se um parque industrial alcooleiro amplo e forte, adaptou-se com muita velocidade a produção de motores, desenvolveu-se combustíveis (o álcool hidratado e as misturas com o anidro), implantou-se uma ampla rede de postos de distribuição do álcool. Esta massa de iniciativas tecnológicas propiciou a criação de empresas de equipamentos de metais-mecânicos para a produção de açúcar e álcool (hoje completamente desestruturados) e gerou um grupo de pequenas prestadoras de serviços de consultoria. Esta turbulência tecnológica estimulou várias iniciativas voltadas para o desenvolvimento de subprodutos, produtos derivados (diversificação) e processos de tratamento de efluentes. Nesta última área, a CETESB teve importante papel no desenho de processos inovativos para tratamento biológico e químico de resíduos, na indicação de aproveitamento desses resíduos na agricultura e 97 até na criação de alternativas para geração de biogás com os efluentes. Hoje, pode-se dizer que a questão ambiental do uso dos resíduos está equacionada. Enormes esforços foram direcionados para o desenvolvimento de alternativas na sucroquímica e alcoolquímica. Empresas de engenharia como a PROMON, realizaram vários estudos e projetos neste sentido. A CODETEC, o IPT, a Copersucar e a ESALQ também. A maior parte dos produtos estudados mostraram-se técnica ou economicamente inviáveis. A alcoolquímica não é competitiva se comparada à petroquímica. Alguns produtos derivados da sucroquímica são produzidos em escalas muito grandes por poucas empresas globais detentoras de forte poder de mercado e domínio de processos exclusivos. O relativo baixo custo do açúcar e melaço de cana no Brasil não tem se mostrado suficiente para garantir a competitividade de iniciativas na sucroquímica. As possibilidades de diversificação da indústria sucroalcooleira são apresentadas no esquema 2.2, no capítulo Delimitação do SAG. Como essas iniciativas estão fora da delimitação do SAG, não serão discutidas com profundidade. A síntese abaixo aborda os produtos mais estudados: ü Antibióticos – Mercado mundial da ordem de US$ 20 bilhões e nacional de US$ 800 milhões. As empresas líderes são as farmacêuticas Pfizer, Lilly, Upjohn e Abbott. No Brasil, apenas duas empresas (Cibrane Praquímica) dedicam-se à produção de antibióticos de gerações inferiores ao das multinacionais citadas. Para produção em usina de açúcar e álcool, há barreiras importantes. O custo do insumo açúcar no preço final do antibiótico não é muito importante. Há outros elementos, não dominados pelas usinas, determinantes da competitividade, relacionados à complexidade dos processos de extração e purificação, ao rígido controle microbiológico e padrões sanitários incompatíveis com o ambiente das usinas. As alternativas se restringem a produção em grande escala de antibióticos convencionais (penicilinas) destinados a uso industrial. São matérias-primas utilizadas pelas indústrias farmacêuticas para obtenção de 98 antibióticos de geração avançada. Atualmente, não há iniciativas neste sentido no Brasil. ü Aminoácidos – São aditivos alimentares com mercados mundial de US$ 3 a 4 bilhões e nacional de aproximadamente 50 milhões. O produto mais conhecido e mais estudado por várias organizações de pesquisa no Brasil (IPT, CDB – Centro de Desenvolvimento Tecnológico – SC), foi a Lisina. Trata-se de aminoáciodo para aplicação em rações animais. Recentemente, a Ajinomoto, líder mundial na produção de aminoáciodos adquiriu parte do capital de uma usina no Estado de São Paulo e construiu uma planta de lisina ao lado (o melaço é transferido de uma para a outra via dutos). Há barreiras complexas a serem superadas. O processo é conduzido em condições de assepsia mais sofisticadas que as das usinas. Há necessidade de investimentos importantes em equipamentos analíticos e na busca de cepas de microorganismos super produtores. ü Vitaminas - O mercado mundial é da ordem de US$ 50 milhões e o nacional de 1 a 2 milhões. O consumo mundial, como visto, é muito pequeno. A importância do açúcar como matéria-prima não é grande e a complexidade dos processos é muito alta. ü Enzimas industriais – Com várias aplicações (alimentos, indústria têxtil, papel e celulose, detergentes etc), o mercado mundial atinge US$ 2 a 3 bilhões de dólares (o brasileiro US$ 40 milhões). As empresas líderes são as químico-farmacêuticas Pfizer, Novo, Solvay, Miles e outras multinacionais. No Brasil, várias pequenas empresas (em geral de origem japonesa), produzem enzimas para aplicações especiais em pequena escala, o que abre alternativa de acesso a tecnologias. A principal barreira refere-se a adaptações no processo para torná-lo dedicado multiprodutos, com operações específicas. 99 ü Ácidos Orgânicos – Também são produtos com várias aplicações na indústria de alimentos e química. O mercado mundial atinge US$ 4 bilhões e o nacional US$ 50 milhões. Estão entre os mais antigos produtos de fermentação (ácido acético – vinagre), sendo que o ácido cítrico é o mais importante em termos de volume de produção. Em geral, são produtos de grande potencial para usinas. São produzidos em grande escala, para um mercado em expansão. O açúcar (ou melaço) é importante na composição do custo e o processo fermentativo não é tão complexo quanto nos produtos anteriormente mencionados. São altamente intensivos em energia, o que é sinérgico com as possibilidades crescentes de co-geração. ü Polissacarídeos – Com várias aplicações nas indústrias farmacêutica e alimentos, tem mercados mundial e nacional da ordem de US$ 2 bilhões e 5 milhões, respectivamente. São produzidos por grandes corporações multinacionais como Rhone Poulenc, Merck e outras. O produto mais estudado foi a goma xantana, com aplicações na indústria de alimentos. O processo produtivo não difere substancialmente da produção de álcool. É altamente demandante de energia e de açúcar. Há, no entanto, barreiras na obtenção de cepas superprodutoras e capacidade de elaboração do produto final. ü Adoçantes – O produto de maior interesse atual é a sucralose, desenvolvida e patenteada pela Tate & Lyle e recentemente lançado no mercado mundial. Trata-se de um derivado da sacarose, sendo o único adoçante com alto poder edulcorante com forte relação industrial com as usinas. Pouco estudado no Brasil. ü Solventes – São produtos altamente estudados, chegaram a ser produzidos, mas não se firmaram como alternativa. Apresentam potencial (em especial o butanol) em misturas com combustíveis, mas concorrem com o produto obtido por via petroquímica. A acetona, outra opção, também perde para a via petroquímica. Em geral, são produtos altamente demandantes de melaço e energia, com mercados importantes. No entanto, ainda não há tecnologia disponível para torná-los competitivos com as vias petroquímicas. 100 ü Leveduras – Resultam do processo fermentativo, podendo ser consideradas como subprodutos. Mais de uma dezena de usinas já estão comercializando o produto, destinado à alimentação animal. Não há necessidade de investimentos de vulto, mas as receitas derivadas não ultrapassam 2 a 3% das vendas. As alternativas de diversificação esbarram nos seguinte problemas básicos: ü Acesso a tecnologias competitivas (variedades de microorganismos, operações de purificação e finalização de processo) ü Capacidade de penetração em mercados sofisticados como alimentos e farmacêutico, dominados por grandes multinacionais. ü Competitividade com a petroquímica, muito mais desenvolvida em termos globais A dinâmica tecnológica vigente tem algumas vertentes distintas. Para a produção de açúcar, não são esperadas grandes alterações no padrão vigente. É preciso acompanhar a evolução dos processos e equipamentos através de estreito contato com fornecedores. A evolução da tecnologia de produção do álcool depende de sinalizações políticas referentes à matriz energética. Há espaço para ganhos de produtividade e aumento de competitividade frente a petroquímica. Embora a base tecnológica esteja presente no Brasil, terá que ser revitalizada. Fatores como a vantajosa questão ambiental (emissões) deixam de ser tão grandes como no início do programa, pois a indústria de combustíveis derivados de petróleo tem evoluído muito neste sentido. Novas alianças com a indústria automobilística e de combustíveis precisam ser estabelecidas para manutenção da competitividade do álcool como aditivo ou combustível. 101 Iniciativas internacionais de governos e indústria de veículos têm sido anunciadas e poderão compor uma rede de P&D global para uso do álcool como opção energética. Não parece ser possível contar-se apenas com o desarticulado parque de pesquisas nacionais na área. O Centro Tecnológico da Copersucar sofreu perdas irreparáveis e o IPT praticamente interrompeu suas atividades na área (exceção a um projeto de plásticos biodegradáveis). As alternativas de diversificação dependem de alianças estratégicas com empresas detentoras de tecnologias e mercados. O campo existe e está sendo lentamente ocupado por algumas iniciativas, sendo a mais conhecida a decisão da Ajinomoto em produzir lisina no Brasil em conjunto com uma usina. Parece claro que a definição de uma política para o setor deve também subsidiar decisões de investimento governamental e privadas em P&D. A base tecnológica precisa ser rearticulada, provavelmente sob um novo paradigma envolvendo maior participação do setor privado. 102 4.4 Logística de Transporte 4.4.1 Cana-de-açúcar (matéria-prima) O transporte rodoviário de cana-de-açúcar, diferente das demais culturas, é caracterizado por pequenas distâncias (da unidade produtiva a de processamento), pois trajetos superiores a 50 km podem inviabilizar a cultura. Em face à afirmação anterior,observa-se a importância do frete no preço final do produto. O custo com o transporte representa aproximadamente 12% do custo total da produção (Caixeta Filho, 1998) Este transporte se dá por via rodoviária, a granel por caminhões abertos do tipo Romeu e Julieta, Treminhão ou Rodotrem. O Romeu e Julieta é um caminhão plataforma acoplado a um reboque. O Treminhão consiste em um caminhão plataforma acoplado a dois reboques e possui capacidade de transportar 35 toneladas. Já o Rodotrem é formado por um cavalo mecânico, um semi reboque e um reboque, com capacidade total de 50 toneladas. A safra da cana-de-açúcar estende-se de maio a novembro no Estado de São Paulo, existido assim uma certa concentração na época de pico da safra. O fornecimento de matéria- prima deve ser constante para a unidade produtiva durante toda a safra exigindo, assim, um planejamento prévio deste transporte. 4.4.2 Açúcar O mercado de frete de açúcar é segmentado em açúcar para exportação e mercado interno. O cenário do transporte para exportação é mais elaborado, exigindo uma certa especificidade devido às condições climáticas no porto, o tipo de prioridade de atracação do navio ou em armazéns disponíveis. Este mercado tem operado com mais de um padrão de embalagem, que são: 103 Saca Solta - É o frete mais barato, porém exige maior gasto com mão-de-obra para carga e descarga no navio. Big Bag - São embalagens de 1200 kg que confere maior rapidez às operações de embarque e desembarque. Marine Sling - Consiste em 32 sacas pré-ligadas por uma fita, facilitando as operações de carga e descarga, possibilitando frete de retorno. Granel - Apesar de ser o mais barato, exige carretas específicas com proteção anti- corrosiva, além de correntes no meio da carroceria. Este tipo de transporte exige maior rigor em seu acondicionamento, para evitar contaminação. Na maioria das transações, as Usinas são responsáveis pelo frete até o porto, uma vez que vendem o produto FOB. Já no mercado interno, o açúcar é comercializado FOT, sendo de responsabilidade do comprador o transporte do produto. Um problema encontrado na exportação de açúcar são as condições portuárias que proporcionam um custo elevado, em especial no que se refere ao tempo de espera dos navios atracados. Para solucionar isso, alguns usineiros estão construindo terminais privativos, como o que será construído em Paranaguá, com investimento ao redor de R$ 10 milhões (Gazeta Mercantil, 1998) Neste mercado interno, os preços são ligeiramente superior ao praticado pelas Usinas, devido ao poder de barganha ser inferior. Neste mercado predomina o transporte a granel. De maneira geral, o transporte de açúcar é um dos mais baratos do mercado, uma vez que este possui alta produtividade (24 horas/dia) e pouca especificidade dos veículos. 104 4.4.3 Álcool A distribuição do álcool pelas Usinas está modificando-se, principalmente no que se refere à descentralização da entrega. No passado, todo o álcool proveniente das Usinas tinha que passar por terminais centralizados para posteriormente ser entregue aos postos de gasolina juntamente com outros produtos. Com esta descentralização, as Usinas fornecem o álcool aos postos descentralizados, que os repassam para os de combustíveis, economizando, assim, gastos desnecessários com frete. Esta medida proporcionou mais competitividade para o sistema como um todo. Exemplo de Custo de Transporte de Cana Numa distância de 18 Km até a indústria, a utilização do caminhão 2325 com Julieta apresenta vantagens frente ao 2325 simples. O 2325 com Julieta carrega 25 toneladas por viagem enquanto o 2325 simples leva 15 toneladas por viagem. O custo do transporte com caminhão Julieta também é menor em relação ao caminhão simples. O valor cai de R$ 2,4774 para R$ 1,2644. Tabela 4.2 Transporte de cana Distância média considerada 18 Km Caminhão 2325 simples 15 toneladas por viagem Caminhão 2325 simples com Julieta 25 toneladas por viagem CUSTO DO TRANSPORTE Caminhão simples R$ 2,4774 Caminhão com Julieta R$ 1,2644 + R$ 0,65 (trator) 105 5. ANÁLISE DO AMBIENTE COMPETITIVO 5.1 Ambiente Internacional Na maior parte do mundo, as empresas produtoras de açúcar operam em um ambiente altamente influenciado por medidas protecionistas e regulamentações governamentais. No entanto, estas medidas não formam uma base suficientemente sólida para determinar padrões estratégicos únicos. As variáveis produto, preço, promoção e distribuição têm comportamentos similares no Brasil e no mundo. O açúcar não oferece muitas oportunidades para exploração de marcas. Ocupam, em geral, papel de matérias-primas ou commodities. Recentemente, passa-se a observar busca de tentativas de diferenciação, sem ainda resultados de forte impacto no perfil da indústria. Os preços são controlados na maioria dos países. A busca de otimização de lucros tem sido feita via economias de escala e aumento da eficiência de processos. Na Europa, Estados Unidos e Japão, as empresas estão buscando reduções de custo fechando unidades menos eficientes. Nesses países, a fixação artificial de preços a níveis muito elevados levou a indústria açucareira a ser grande geradora de caixa. Em outros, como Canadá e Austrália, a competição por mercados internacionais provocou estratégias voltadas para escalas de produção elevadas e marketing de comércio exterior. Em países em desenvolvimento, a indústria açucareira não pode ser classificada como altamente lucrativa, uma vez que os governos locais tendem a manter preços muito baixos. Este fenômeno não é propriamente válido para o Brasil. 106 O preço do açúcar tem baixa influência no seu consumo. No entanto, se compararmos o preço do açúcar a outros adoçantes, a situação é diferente. A indústria de refrigerantes aumentou o consumo de adoçantes de amido e HFCS (“High Frutose Corn Syrup”) em função dos altos preços artificiais do açúcar. Em países sem subsídios de preço, esses adoçantes perdem competitividade. Os instrumentos de promoção não são muito utilizados no mercado de açúcar, mas sim no de adoçantes sintéticos. Esses produtos, por trazerem aspectos negativos e positivos novos, necessitam de grande comunicação ao público em geral. Por estarem muito presentes na mídia, os adoçantes sintéticos acabaram por ter uma superavaliação de seu poder competitivo frente ao açúcar. As estratégias de logística aparecem como as mais importantes (só perdendo para o preço) no composto de marketing. O açúcar, como pode ser transportado e armazenado em granel ou sacos, oferece vantagem se comparado, por exemplo, ao HFCS. As políticas públicas sempre tiveram um papel fundamental na indústria açucareira. Objetivam auto-suficiência, estoques de segurança e preços razoáveis. Há três principais instrumentos em uso: cotas de produção e importação, regulamentação de preços a consumidores, produtores de cana e indústria, e taxas para importações e subsídios para exportações. Um quarto do açúcar produzido no mundo é negociado internacionalmente. Mais de 30% deste montante é comercializado via acordos governo-governo. No entanto, há tendência de redução deste mecanismo, com aumento da importância de negócios no mercado livre. Na Europa deve continuar a ser regulado com base nos níveis de consumo doméstico. Como resultado, excedentes de produção devem cair, em especial pelo fato de que o açúcar de beterraba tem custo superior ao da cana. 107 A influência da Europano mercado internacional de açúcar deve, desta forma, diminuir. Nos Estados Unidos, a diferença entre a produção e consumo doméstico sempre foi ajustada via cotas, mecanismo que deve permanecer, favorecendo cada vez mais os países do NAFTA. Nos países em desenvolvimento, o consumo de açúcar depende da situação econômica, pois um aumento de renda gera maior demanda para produtos alimentícios industrializados – os principais mercados de destino do açúcar. É o que está acontecendo com o mercado nacional de refrigerantes. No ambiente internacional, o poder dos produtores de cana ou beterraba é relativamente pequeno. Nos países desenvolvidos, é uma atividade de baixo risco devido ao aparato regulamentador. A indústria, em geral, é dominada por poucas empresas e, em muitos casos, ocorrem situações de monopólio. Esta situação é que determina o baixo poder dos produtores agrícolas face às usinas. Em países em desenvolvimento, a situação é um pouco mais equilibrada, pois o governo tem maior influência no controle de preços do produto agrícola. O poder dos compradores também é, em geral, menor que da indústria açucareira nos países onde há forte intervenção dos governos. No entanto, como mais de 70% do açúcar é destinado às indústria de alimentos, esses compradores assumem cada vez maior poder. O número de clientes industriais está diminuindo devido às fusões e aquisições; os portes estão consequentemente aumentando e em decorrência disto, o poder sobre o sistema como um todo. Em adição, a indústria de alimentos tem cada vez mais exigindo qualidade e diferenciação dos produtos, assumindo contratos de longo prazo e pagando “premium price” para determinados produtos. As barreiras para entrada são em geral altas. Na Europa não há cotas disponíveis. Na Austrália, o governo regula a produção. Nos Estados Unidos, a produção agrícola e industrial é dependente de preços fixados. As alternativas para entrada encontram-se em países em desenvolvimento. Para os adoçantes alternativos, as barreiras são ainda mais altas graças a patentes e necessidade de altos investimentos em P&D. 108 O uso de produtos substitutos de açúcar está aumentando significativamente. O HFCS e aspartame têm várias vantagens sobre o açúcar tradicional. Nos Estados Unidos, já detém mais de 50% de market share no mercado de adoçantes (Rabobank, 1995). No entanto, com a queda das medidas protecionistas, o preço em mercados protegidos deve cair, reduzindo a competitividade desses compostos. O HFCS, por exemplo, custa nos EUA 20% menos que o açúcar comum, mas é esperada redução do mesmo montante no custo deste produto, com a liberalização dos preços e importações. Adoçantes com alto poder edulcorante não necessariamente são substitutos do açúcar. Suas funções e características são muito diferentes especialmente para aplicações industriais (“aftertaste”, performance em fermentações e aquecimento etc). No entanto, como os supridores desses produtos são altamente intensivos em P&D, esta situação poderá mudar em médio prazo. Os pontos fortes dos adoçantes sobre o açúcar tradicional são: ü Maior número de produtos, para diferentes usos ü Empresas fortes e muito orientadas para inovação ü Foco em marketing global ü Produção menos dependente de sazonalidade ü Boa imagem ü Mercado em ascensão ü Menor dependência de proteção governamental Por outro lado, o açúcar tradicional conta com as seguintes vantagens: ü Mercados protegidos, com contratos sólidos ü Logística muito eficiente ü Imagem de produto natural ü Economias de escala e custos mais eficientes 109 De uma maneira geral, a indústria açucareira mundial está se concentrando, em busca de economias de escala e maior penetração nos mercados em que atuam. A liderança de custo é a estratégia predominante. Por outro lado, os açúcares alternativos focam em P&D, serviços, promoção e especialmente no desenvolvimento de um portfólio de produtos amplo, com aplicações especiais. Também são muito mais ativas no desenvolvimento de mercados novos (as indústrias tradicionais de açúcar tendem a atuar em mercados domésticos, e não são orientadas globalmente). Algumas das líderes mundiais, no entanto, estão buscando formas sinérgicas de alianças, juntando competências na produção agrícola, industrial e em comércio exterior. A diversificação tem sido uma estratégia de redução das ameaças. Observa-se dois tipos de diversificação: a relacionada ao açúcar mesmo e a direcionada para outras áreas. Por exemplo, várias industrias estão buscando alternativas em produtos alimentícios intensivos em açúcar. Outras, voltando-se para produtos derivados de amido. Várias estão aumentando seus negócios em produtos agrícolas completamente distantes de açúcar, como arroz, frutas, fungos e óleos. Algumas estão investindo em negócios como catering e até materiais para construção. Integrações verticais para trás incluem negócios em sementes. Para frente, a indústria de alimentos, a área de rações animais, de papel (via amido) e álcool. As rotas de diversificação preferidas são outros ingredientes para a indústria de alimentos (amido, por exemplo) e produtos alimentícios intensivos em açúcar. As estratégias de diversificação, no entanto, não estão sendo sempre bem sucedidas. Na Europa, as empresas que se mantiveram focalizadas apresentaram maiores lucros que as que buscaram alternativas. Na área de produtos para consumo, as marcas dos produtores de açúcar não têm conseguido competir com as mais tradicionais da indústria de alimentos. A busca de nichos de mercado tem sido uma das alternativas. Apesar das baixas margens, a indústria açucareira parece disposta a pagar o preço da diversificação para reduzir os riscos derivados das incertezas da flutuação de preços, das políticas 110 governamentais, da competição dos adoçantes alternativos e do aumento da preocupação da população com a saúde. 5. 2 Padrões Estratégicos do SAG da Cana no Brasil As principais variáveis determinantes dos padrões estratégicos são: ü Custo – economias de escala ü Grau de dependência de mecanismos protecionistas governamentais ü Capacidade de diferenciação de produtos (em especial açúcar) e integração para frente ü Capacidade de diversificação via uso de tecnologias sucro e alcoolquímicas ü Disposição e capacitação para formação de alianças e fusões 5.2.1 – Padrões Estratégicos dos Produtores de Cana Existem diversos tipos de produtores de cana. Existe, conforme será visto no capítulo 07, a Usina fazendo o papel de produtor de cana (quando é verticalizada), existe o arrendamento de terras (produtor arrenda terra para a Usina tocar a produção, ou mesmo para outros produtores), e finalmente os produtores especializados na atividade de produção (exclusivos). Os produtores de cana, em geral, têm passado por uma profunda modificação na atividade. Pode-se dizer que a profissionalização, concentração e necessidades de ajustes contínuos rondam a atividade agrícola. A gestão dos custos de produção tem sido a tônica no setor. A busca por novas variedades, rotação adequada de culturas, mecanização, uso adequado de máquinas entre 111 outros, tem sido foco de atenção. O mercado responde oferecendo empresas especializadas na atividade de assessoria e mesmo de prestação de serviços. Isto tem feito com que novas Organizações apareçam, compostas de associações de produtores em “pools” para gerenciar melhor a atividade agrícola. Estes “pools” negociam melhor com as Usinas, fazem operações agrícolas combinadas (plantio, tríplice operação,gerenciamento da mão-de-obra e utilização de máquinas), tudo visando a reduzir os custos de produção. Observa-se no setor contratos de fornecimento mais estáveis com Usinas em casos de produtores que de uma ou outra forma apresentem relacionamento com estas, seja por serem acionistas, grau de parentesco ou mesmo por participarem da gestão ou Conselho destas. Boa parte da necessidade de matéria-prima das Usinas está comprometida via integração vertical ou cana vinda de arrendamentos (sob controle da Usina). Acredita-se que em média apenas 30% da cana vêm de fornecedores fora do controle das Usinas. 5.2.2 Padrões Estratégicos dos Produtores de Açúcar e Álcool Ainda que se saiba de empresários ilibados, talvez uma das poucas unanimidades do sistema seja a má imagem dos usineiros no Brasil. Fatores como a busca mal encaminhada por subsídios, arrogância, poder histórico, ações ilícitas na área fiscal, endividamento, métodos de gestão empresarial atrasados e pouca sensibilidade para tecnologia, são publicamente discutidos e utilizados pelos que se opõem ao Proálcool. Certos aspectos não podem deixar de ser analisados. O endividamento, por exemplo, é crítico e preocupante. Produtores do NE tiveram suas dívidas não pagas avalizadas pelo Banco do Brasil. Produtores e usineiros devem entre R$ 4,5 e R$ 6 bilhões para o BB e anunciam 112 impossibilidade de pagar. Em 1996, o endividamento médio das empresas sucroalcooleiras chegou a 50% do faturamento do setor (Passos, 1997). Fatos críticos ocorrem com certa freqüência. Um exemplo foi a chamada “Conexão Amazonas”, quando produtores do Centro/Sul sonegavam ICMS e IPI emitindo notas frias de venda de açúcar para empresas fantasmas da Zona Franca de Manaus, onde os impostos não são cobrados. No entanto, são inegáveis vários pontos positivos. A eficiência produtiva de algumas usinas do Centro/Sul é notável e reconhecida mundialmente. A geração de empregos e progressos nas questões trabalhistas foram claras. Os recursos investidos e movimentados são impressionantes, como visto em vários exemplos neste texto. Os avanços na questão ambiental são evidentes, não tendo sido adequadamente divulgados perante a sociedade. Não é este, no entanto, o enfoque pretendido. Objetiva-se analisar alguns dos principais eixos estratégicos das empresas do setor neste momento de transição. Como se posicionam face às incertezas que se contrapõem a necessidades de altos investimentos e retornos de longo prazo? 5.2.2.1 Estratégias com relação a medidas protecionistas As decisões estratégicas empresariais são associadas à disposição de correr riscos. A retirada gradual do governo representa uma mudança substancial neste aspecto. As ações protecionistas do início do Proálcool já não existem mais e, provavelmente, não retornarão. Duas estratégias básicas se contrapõem: · A1 – Algumas empresas continuam fundamentando suas estratégias e sobrevivência em ações protecionistas governamentais. Seus negócios não são açúcar ou álcool, mas a apropriação de recursos via programas, incentivos e oportunidades oferecidas pelo governo. Continuam lutando para a manutenção ou retorno desses privilégios, não se 113 preparando para a realidade de competição livre. Atualmente, têm tido dificuldades de sobrevida e enfrentam oposições da sociedade e das próprias empresas do setor. · A2 – Outras empresas procuram afastar-se ao máximo de ações governamentais. Buscam diversificações via alternativas tecnológicas ou atuação em mercados internacionais. Enfrentam o inevitável convívio com medidas protecionistas internacionais e as idiossincrasias da política industrial e energética brasileira. As duas estratégias opostas buscam apoio em agentes distintos. As primeiras contam com políticos e lobistas especializados em programas e ações governamentais voltadas para garantia de privilégios. As outras têm buscado ressonância junto a organizações técnicas e procuram alinhavar alianças, parcerias e contratos com outras organizações do Brasil e exterior. 5.2.2.2 Estratégias com relação a marketing Se analisarmos sob a ótica comercial, encontram-se distintos padrões estratégicos: · B1 – Um grupo significativo de empresas definiu-se como atuante no mercado de commodities. Buscam corretamente aumento de escala e ganhos de eficácia nos processos produtivos. Fortalecem suas ações no mercado internacional através de fortes ligações com as grandes tradings e, em adição, esforçam-se para conhecer mercados e clientes. · B2 – Outras (ainda poucas) definiram-se por estratégias de diferenciação e segmentação de mercados. Buscam oferecer um portfólio de opções de produtos, com distintos padrões de qualidade e preço a clientes com demandas bem identificadas. Procuram agregar valor através de serviços de logística diferenciados (em especial frete). Investem em comunicação, promoção e atendimento personalizado. Continuam a comercializar açúcar em suas formas tradicionais, ou seja, segundo os padrões de pureza, cor e granulação. 114 · B3 – Poucas, mas de grupos expressivos, estão verticalizando suas ações, passando a contar com marcas e a gerir a distribuição no varejo. É notório o aumento de opções de marcas de açúcar em supermercados, concorrendo com o tradicional União. · B4 – Algumas buscam alternativas criativas e inovadoras para embalagens e formas de apresentação do produto. Neste grupo, a verticalização não é regra, pois várias empresas continuam a oferecer esses produtos aos tradicionais agentes. Trata-se de um grupo de empresas ainda indefinido quanto a gestão de marketing. Preferiram manter-se com domínio da atividade industrial, sem muito envolvimento na área comercial. Evidentemente, não há segurança de que essas invenções se transformarão em inovações, pois há grande distanciamento de clientes e assertividade na avaliação de potenciais de mercado. · B5 – Poucas empresas decidiram deixar de ser sucroalcooleiras, e passaram atuar no mercado de alimentação de forma mais ampla. Consolidaram negócios nas áreas de sucos, refrigerantes, ou misturas secas (gelatinas, sucos em pó, etc), verticalizaram suas atividades de distribuição e passaram a competir com empresas como Nestlé e Parmalat. Sofrem mudanças radicais de cultura e esforçam-se para adquirir rapidamente conhecimentos gerenciais para se tornarem competitivas em um mercado muito mais complexo que o de açúcar e álcool. 5.2.2.3 Estratégias tecnológicas Um olhar sob o enfoque tecnológico permite-nos identificar alguns padrões interessantes, mais associados à diversificação. · C1 – Vários grupos investem pesadamente na co-geração de energia via queima do bagaço da cana. Há assinaturas de contratos de co-geração por dez anos, com a CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz. Trata-se de uma oportunidade de agregação de negócio ao já estabelecido investimento na produção de açúcar e álcool, sem a necessidade de aquisição de novas capacidades gerenciais no campo comercial. Pode ser exercida pelas 115 empresas com comportamento estratégico dos grupos A ou B. Evidentemente, aquelas mais voltadas a ações governamentais (A1) e que produzam em maior escala (B1) são as maiores candidatas as sucesso desta estratégia. · C2 – Algumas empresas de grande porte buscam negócios na sucroquímica. Investimentos de mais de US$ 50 milhões podem proporcionar produtos das áreas química, farmacêutica e insumos para alimentos. Enfrentam grandes barreiras de acesso a tecnologias, em geral propriedade de grandes corporações multinacionais. Por outro
Compartilhar