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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Professor David Maciel
Bianca Cristina Barreto Casanova
Fichamento
O romance histórico e a crise do realismo burguês 
Gyorgy Lukács
 A Revolução de 1848 teve, para os países da Europa ocidental e central, o significado de uma mudança decisiva no agrupamento das classes e na relação destas com todas as questões importantes da vida social e da perspectiva da evolução da sociedade. A batalha do proletariado parisiense em junho de 1848 foi uma reviravolta na história em escala internacional. Apesar do cartismo, apesar de revoltas francesas isoladas na época do “reinado burguês”, apesar da revolta dos tecelões alemães em 1844, é apenas aí que se deflagra pela primeira vez uma batalha decisiva entre proletariado e burguesia com a violência das armas; o proletariado pisa pela primeira vez no palco histórico-mundial como uma massa armada, decidida a travar a luta decisiva; nesse momento, a burguesia luta pela primeira vez pela continuação de seu domínio econômico e político.
 Basta seguir de perto a história dos acontecimentos na Alemanha em 1848 para ver a mudança que a revolta proletária em Paris e sua derrota provocaram no desenvolvimento da revolução burguesa alemã. É evidente que nos círculos da classe burguesa alemã já existiam tendências antidemocráticas, assim como uma atmosfera propícia à transformação das tendências revolucionárias democrático-burguesas num vago liberalismo de compromisso com o regime feudal-absolutista. Tais tendências apareceram com mais vigor após as jornadas de março. Mas foi com a batalha de junho do proletariado parisiense que ocorreu a virada decisiva no terreno da burguesia, uma aceleração extraordinária do processo interno de diferenciação rumo à transformação da democracia revolucionária em um liberalismo de compromisso. 
 Essa reviravolta se mostra em todas as áreas da ideologia burguesa. Seria totalmente superficial e falso supor que uma renúncia tão profunda de uma classe e seus antigos ideais e objetivos políticos pudesse deixar intocados o plano ideológico, o destino da ciência e da arte. Marx mostrou em detalhes, repetidas vezes, o significado que as lutas de classe entre burguesia e proletariado tiveram para a ciência social clássica do desenvolvimento burguês: a economia política. No processo de dissolução da filosofia hegeliana vemos que as lutas filosóficas entre as diferentes orientações e nuances no interior do hegelianismo não eram, em essência, mais do que lutas entre facções da época em que se preparava a iminente revolução democrático-burguesa de 1848. Somente à luz deste contexto torna-se claro por que a filosofia hegeliana – que dominou a vida intelectual na Alemanha a partir da metade dos anos 1820 – desapareceu “de repente” após a derrota da revolução, em consequência da traição da burguesia alemã as seus objetivos revolucionários anteriores. Hegel, antes a figura central da vida intelectual na Alemanha, caiu “de repente” no esquecimento.
Mudanças na concepção da historia após a Revolução de 1848
 Trata-se não de um assunto interno da história como ciência, não de uma disputa metodológica de eruditos, mas da vivência que as massas têm da própria historia, de uma vivência compartilhada pelas mais amplas esferas da sociedade burguesa, mesmo aquelas que nenhum interesse têm pela ciência da história e não fazem nenhuma ideia de que houve uma mudança nessa ciência. Do mesmo modo, o despertar de uma maior consciência da historia influenciou a vivência e as ideias das mais amplas massas sem que estas precisassem saber que sua nova sensibilidade para os contextos históricos da vida produziu um Thierry nas ciências sociais e um Hegel na filosofia.
 A natureza dessa ligação tem de ser particularmente destacada para que não se pense, por exemplo, que a reviravolta na ciência da historia tenha de influenciar de imediato a práxis dos escritores de romances históricos, quando se opera neles uma mudança na concepção da história. É óbvio que tal influencia também ocorreu. Mas o que importa não é essa influencia filologicamente comprovável, mas sim o conjunto das tendências de reação à realidade que, na ciência da história e na literatura, produzem formas e conteúdos análogos da consciência histórica. Tais tendências têm suas raízes na reviravolta ocorrida em toda a vida política e intelectual da classe burguesa. Se certos historiadores ou filósofos conseguem exercer grande influência sobre essas questões, essa influencia não é a causa primeira, mas é ela mesma uma consequência das novas tendências ideológicas que a evolução sócio-histórica suscita tanto nos escritores quanto nos leitores. Se, portanto, referimo-nos a algumas ideologias dominantes dessa nova relação com a história na exposição que se segue, consideramo-las representantes de correntes sociais gerais que foram formuladas do modo mais efetivo em termos literários.
 No período anterior a 1848, a burguesia era também o guia ideológico do desenvolvimento social. A nova defesa histórica do progresso caracteriza o rumo do conjunto do desenvolvimento ideológico desse período. A concepção histórica do proletariado desenvolveu-se nesse solo por meio de um aperfeiçoamento crítico e conflituoso das últimas grandes etapas da ideologia burguesa, pela superação de seus limites. Importantes precursores do socialismo que não adotaram essas ideias foram, nesse sentido, místicos ou retrógados. Isso muda drasticamente após a reviravolta produzida em 1848.
 A separação de cada povo em “duas nações” ocorreu – ao menos como tendência – também no terreno ideológico. As lutas de classes da primeira metade do século XiX conduziram, às vésperas da Revolução de 1848, à formulação científica do marxismo. Neste, todas as visões progressistas sobre a história são suprassumidas, no triplo sentido hegeliano da palavra, isto é, foram não apenas criticadas e suprimidas, como também conservadas e elevadas a um novo patamar.
 O fato de que também encontramos nesse período fortes influencias da ideologia burguesa geral no movimento dos trabalhadores e nas correntes democráticas a ele vinculadas é algo que não contradiz o fato fundamental das “duas nações”. O movimento dos trabalhadores não se desenvolve no vácuo, mas rodeado de todas as ideologias da decadência burguesa, e a “missão histórica” do oportunismo no movimento dos trabalhadores consiste precisamente em “mediar”, em reparar o corte abrupto, em sentido burguês. Contudo, todas essas correlações não podem obscurecer o fato fundamental de que as ideologias da burguesia analisadas aqui não são mais ideologias dominantes de toda a época, mas ideologias de classe, em sentido muito estrito.
 O problema central, em que se expressa a mudança de posição em relação à historia, é o do progresso. Os escritores e os pensadores mais significativos do período anterior a 1848 deram o passo adiante mais importante da formulação histórica da ideia de progresso e chegaram ao conceito do caráter contraditório do progresso humano, ainda que de modo apenas relativamente correto e incompleto. Mas como os acontecimentos da luta de classes mostraram aos ideólogos da burguesia quão ameaçadora era a perspectiva de futuro de sua sociedade, de sua classe, era preciso que desaparecesse o espírito imparcial da pesquisa com que as contradições do progresso eram reveladas e declaradas. Quão estreita é a relação do progresso com a perspectiva de futuro da sociedade burguesa é algo que se pode estudar melhor nos inteligentes opositores da ideia de progresso no período anterior a 1848. Eles expressam sua ideias sem nenhuma inibição, pois os perigos sociais a que aludiam e que determinavam o curso de seus pensamentos ainda não haviam se tornado tão ameaçadoras a ponto de provocar falsificações apologéticas.
 Nessas circunstancias, a ideia de progresso sofre uma regressão. A economia clássica, que expressou corajosamente determinadas contradições da economia capitalista de seu tempo,transforma-se no harmonismo perfeito e mentiroso da economia vulgar. A derrocada da filosofia hegeliana na Alemanha significa o desaparecimento da ideia do caráter contraditório do progresso. Na medida que uma ideologia do progresso continua a dominar – e ainda será, por um bom tempo, a ideologia dominante da burguesia liberal -, todo elemento da contradição é eliminado; daí resulta a concepção da história como evolução contínua, linear. Por muito tempo, e cada vez mais, essa foi a ideia central na Europa da nova ciência da sociologia, que substitui as tentativas de superar dialeticamente as contradições do progresso histórico.
 Sem dúvida, essa mudança está ligada, ao mesmo tempo, ao abandono do idealismo exagerado da filosofia hegeliana ou a um eventual retorno, ao menos parcial, à ideologia do Iluminismo e até ao materialismo mecânico. Mas são precisamente as tendências mais débeis, mais anistóricas do Iluminismo que são reavivadas nessa mudança, sem mencionar o fato de que determinadas linhas de pensamento, que em meados do século XVIII continham os germes da concepção correta, tornam-se necessariamente, nesse processo de renovação, obstáculos intransponíveis à apreensão cientifica adequada da história.
 Os iluministas do século XVIII realizaram um grande e importante progresso histórico ao introduzir a pesquisa das condições naturais do desenvolvimento social e tentar aplicar diretamente as categorias e os resultados das ciências naturais ao conhecimento da sociedade. Esse processo, que certamente produziu também resultados equivocados e anistóricos, significou um progresso essencial na luta contra a concepção teológica tradicional da história. A situação na segunda metade do século XIX é totalmente diferente. Se agora historiadores e sociólogos tentam, por exemplo, transformar o darwinismo em fundamento do conhecimento da história, só podem resultar daí uma distorção e uma falsificação dos nexos históricos. Do darwinismo, que se tornou mera fraseologia abstrata, surge o velho reacionário Malthus como “núcleo” sociológico e, ao curso de seu desenvolvimento tardio, a aplicação fraseológica do darwinismo torna-se simples apologética da dominação brutal do capital. A concorrência capitalista ganha uma magnificação metafísica e mística por meio da “lei eterna” da luta pela existência.
 Outro exemplo igualmente característico é o da raça. É sabido que o problema da raça desempenha um papel importante nas explanações históricas do Iluminismo e, sobretudo mais tarde, nas obras históricas de Thierry e sua escola. Por trás de uma terminologia pseudocientífica, começa uma mitificação absolutamente anistórica e anti-histórica da raça. Essa tendência leva à negação reacionária da historia, à sua dissolução em um sistema anistórico de “leis” sociológicas e em uma filosofia da história mitificada e igualmente anistórica em sua essência.
 Naturalmente, não podemos enumerar aqui as diversas e com frequência contraditórias orientações da concepção da historia em que ocorre a dissolução do historicismo do período anterior. Em parte, esse desenvolvimento toma o caminho de uma clara negação da história tal como esta se apresenta. Mas essa negação abstrata e resoluta de qualquer história não podia se manter por muito tempo como orientação dominante.paralelamente a ela surgiram outras tendências à estabilização do anti-historicismo em uma forma histórica. Essa concepção surge com a pretensão de encarar o correto historicismo e combate a filosofia hegeliana por seu caráter construtivo. Segundo sua concepção, a história não tem um sentido evolutivo, não tem altos e baixos.
 A luta contra a falta de cultura do capitalismo transforma-se em uma luta contra a democracia, contra a massificação e a favor de uma ditadura reacionária dos fortes, da elite, etc. O antidemocratismo dessa evolução evoca, do ponto de vista tanto filosófico quanto psicológico uma ciência própria, cujo único fim consiste em revelar “cientificamente” o agir das massas como algo inteiramente disparatado, irracional e sem sentido.
 A consequência mais importante dessa concepção da história é que, por meio dela, os grandes homens da história são separados do curso próprio de sua ações, isolados e alçados ao plano do mito. Desse modo, introduz-se na história um duplo e contraditório subjetivismo que, em sua cisão, simula uma espécie de dialética, mas, na realidade, é apenas o reflexo da inconsistência do ponto de vista do observador e não tem nada a ver com a história propriamente dita. As personagens da história são separadas das forças que movem de fato cada época, e seus atos, que se tornaram incompreensíveis por isso, ganham uma pompa decorativa graças exatamente a essa incompreensão. Essa figuração decorativa é intensificada ainda pela exposição central e pela ênfase especial que se dão aos traços brutalmente excessivos da história.
 Mas, depois do surgimento dessa personagem “acima do bem e do mal”, Burckhardt aproxima-se dela com um padrão atual de julgamento moral, com a ética refinada e sem vida dos intelectuais do capitalismo tardio. E, sempre que possível, introduz nos tempos passados os conflitos que ele enfrenta em sua própria época. A aparente dialética de moral e beleza que resulta daí não é, portanto, uma contradição interna da própria coisa, mas um reflexo da incapacidade de uma subjetividade dessa natureza captar a realidade histórica de maneira contínua em seu movimento.
 Nietzsche trata de uma filosofia cínica da apologética. O que o historiador universitário a soldo da burguesia esconde desconcertada e covardemente por detrás da máscara da objetividade, Nietzsche expressa abertamente, sem nenhum constrangimento. A necessidade histórica que a burguesia da época tem de falsificar os fatos da história e de descartar cada vez mais os fatos históricos aparece, em Nietzsche, como uma “profunda”, “eterna” e “biológica” verdade da vida.
 A filosofia do solipsismo histórico é exposta aqui, talvez pela primeira vez, de modo plenamente coerente. A própria teoria já estava presente na concepção de cultura e de raças da sociologia anterior à sua época. Mas é com Nietzsche que, pela primeira vez, ela é universalizada com tanto cinismo. Ela diz que cada um, indivíduo, raça ou nação, só pode vivenciar a si mesmo. A história existe apenas como um reflexo desse eu, apenas como aquilo que, em si, não nos diz respeito e ao qual cada um pode atribuir um “sentido” que lhe seja conveniente, segundo suas necessidades.
 Em todas as teorias veem-se os esforços convulsivos dos ideólogos desse período para desviar o olhar dos fatos e das tendências reais de evolução da história, não reconhecê-los e, ao mesmo tempo, encontrar para esse desvio uma explicação razoável e oportuna a partir da “essência eterna da vida”. A história desaparece como processo total e, em seu lugar, resta apenas um caos qualquer a ser ordenado de modo arbitrário. O historiador aproxima-se desse caos com pontos de vista conscientemente subjetivos. Apenas em grandes homens da história constituem-se em pontos fixos em meio ao caos e, de maneira misteriosa, sempre salvam a humanidade do colapso.
 O auge literário desse período é caracterizado pelos próprios escritores, que não têm uma relação historicamente necessária com o período clássico do romance histórico, ainda pouco distante no tempo. Sua concepção da historia é, com todo seu arbítrio subjetivista, um protesto sincero contra a feiura e a mesquinhez abjeta do presente capitalista. Nesse protesto romântico, o passado é estilizado e idealizado como algo tremendamente bárbaro. 
 Mas, por mais problemática que seja essa corrente literária, ela se encontra a léguas de distancia do romance histórico mortalmente tedioso da apologética do presente. Essa literatura ainda tem certa importância quanto ao conteúdo, mesmo que ele seja o do compromisso liberal. Mas a separação entre o presente e a história cria um romance histórico que, por seu exotismo vazio, de antiquário ou aventureiro,excitante ou místico, e por sua temática aleatória e inconsequente, degenera em simples leitura de entretenimento.

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