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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Professor David Maciel
Bianca Cristina Barreto Casanova
Fichamento
Historiografia e nacionalismo 
Josep Fontana
“Os intelectuais alemães trabalhavam, desde fins do século XVIII, para estabelecer as bases de uma cultura nacional calcada na unidade da língua. Recuperaram todo o tesouro de mitos e poesia transmitidos pela cultura popular até então menosprezada, como o fez Jacob Grimm, ‘ estudioso do folclore germânico e das leis antigas; as duas coisas, para ele, partem de um mesmo trabalho’” (p. 221).
“No campo da história, a avaliação de um passado clássico comum seria enriquecida com a recuperação das crônicas medievais, que acrescentaram um elemento ‘nacional’, havendo também, e isso foi muito importante para a consolidação da ‘história científica’, o desenvolvimento de método de crítica erudita que tinham origem, principalmente, no campo da filologia” (p. 222).
“A derrota para Napoleão conduziu ao início efetivo das reformas que levaram à abolição formal do feudalismo por obra de homens como Stein ou Hardenberg, convencidos da necessidade de ‘introduzir os princípios democráticos no estado monárquico” (p. 222).
“A situação haveria de piorar ainda mais quando se permitiu aos grandes proprietários apropriarem-se de uma parte cada vez maior da terra, manter a própria polícia rural e controlar os órgãos de governo local. Este seria o paradoxo de uma modernização política que tornaria possível o desenvolvimento industrial, ao mesmo tempo que conservava os privilégios sociais da nobreza” (p. 222).
“Os dirigentes da sociedade perceberam desde o início, a necessidade de fechar as portas às ideias subversivas e de ajudar a criar um consenso social baseado na luta nacionalista. (...) O que denomina ‘historicismo’ é difícil de definir. ‘Para uns – diz Thomas Nipperdey – o historicismo é método, ou mais exatamente, teoria das ciências; para outros, é visão de mundo fundada metafisicamente, com implicações políticas’. Uma característica que o define é a rejeição do universalismo da Ilustração, substituído por uma visão em que cada nação é considerada como uma totalidade orgânica que tem leis próprias de evolução” (p. 223).
“A história, por seu lado, não deveria ocupar-se de estágios de desenvolvimento social, nem de ‘séculos’ da cultura humana, mas das nações consideradas organicamente e os fatos estudados pelo historiador deveriam ser analisados individualmente, no contexto nacional, sem buscar leis ou regularidades gerais que os explicassem” (p. 224).
“(...) exemplo de trabalho erudito pelo modo com que fazia a crítica das fontes, com um ‘ceticismo construtivo’. Politicamente, Niebuhr era uma espécie rara de conservador liberal que queria a liberação dos servos, mas que, aterrorizado pelas reivindicações agrárias da revolução e pela ascensão das camadas populares em geral, pensava que a história podia dar lições para prevenir possíveis catástrofes sociais” (p. 224).
“O homem comumente considerado fundador do historicismo e que, de fato, seria o divulgador dos novos métodos ‘ científicos’ da história, é Leopold Von Ranke (1795- 1886). (...) Esse primeiro livro continha, no apêndice, uma ‘crítica aos historiadores modernos’, dirigida contra a filosofia histórica da Ilustração, que já mostrava as grandes linhas da cruzada metodológica que deveria manter ao longo da vida” (p. 225).
“(...)’ mostrar as coisas tal como se passaram’. A frase – Er Will bloss zeigen wie ES eigentlich gewesen’ – foi tirada do contexto injustificadamente e interpretada como uma declaração metodológica, sendo, desde então, repetida como entusiasmo pelos exércitos de historiadores acadêmicos que acreditaram que ela legitimava a incapacidade, moral ou intelectual, deles pensarem por conta própria” (p.225).
“(...) Tornou-se nobres em 1865 e, neste mesmo ano, começou a publicação de sua obra completa em 54 volumes. Amigos de Frederico Guilherme da Prússia e de Maximiliano da Baviera, viveu o suficiente para contemplar a universalização de sua fama e ver os discípulos ocuparem a maior parte das cátedras de história das universidades alemãs” (p. 226).
“(..)Ranke foi um funcionário ideológico do estado prussiano, útil, serviçal e consciente do papel que lhe correspondia desempenhar. Sua visão da história tinha um fundamento teológico, onde Deus era o primeiro motor que articula as peças de uma sociedade dispersa em indivíduos e de um universo fragmentado em povos, assumindo a função que o progresso exercera para os ilustrados” (p. 226- 227).
“(...) Quando estuda a monarquia espanhola dos séculos XVI e XVII, por exemplo, começa com os retratos pessoais dos reis, dedica-se à corte e aos ministros, à organização do governo e à administração, à fazenda e ‘ à situação pública’, interpretada de maneira convencional como afirmações como a de que a pobreza de Castela foi causada pelo catolicismo, pela ‘concepção hierárquica do mundo’ e pelo gosto dos espanhóis por ‘passar a vida alegremente e sem esforço’” (p. 227).
“(...) Pensava que o acontecimento mais importante de seu tempo tinha sido ‘a renovação e o novo desenvolvimento das nacionalidades’ e a integração das mesmas no marco dos estados, que se apoiavam agora na consciência de identidade nacional dos súditos, exigindo-se que fossem educados com um tipo de história que não falasse de progresso, de modos de subsistência ou de luta de classes, mas somente de povos, no sentido coletividades humanas interclassistas, fundamentadas no sentimento da nacionalidade compartilhada” (p. 228).
“(...) O historiador preparava, assim o caminho em direção à submissão absoluta dos cidadãos ao poder, sem discussões nem crítica, já que o estado encarna a nação e esta não faz senão observar as pautas fixadas pelo dedo de Deus” (p. 228).
“A finalidade das nações-estado era a guerra: ‘A guerra não é só uma necessidade prática: é também uma necessidade teórica, uma exigência da lógica. O conceito de estado implica o conceito de guerra, já que a essência do estado é a potência. O estado é o povo organizado em potência soberana” (p. 229).
“(...) Droysen colocava-se contra o positivismo que pretendia buscar causas ‘científicas’ dos fatos e leis ‘naturais’ da história, antecipando, até certo ponto, as posturas de Dilthey. Também era discípulo de Ranke o suíço de língua alemã Jacob Burckhardt (1818- 1897), que (...) escreveu um tipo de história diferente, onde o grande protagonista já não era o estado, mas este compartilhava o papel central com a religião e, principalmente, com a cultura; uma cultura definida como ‘o conjunto dos desenvolvimentos espirituais que se produzem espontaneamente e que não reivindicam uma validade coercitiva universal’, sendo um elemento de crítica do estado e da religião” (p. 230).
“Quem melhor pode ser considerado como discípulo de Ranke no que se refere a oferecer um apoio incondicional ao poder, é Henrich von Treitschke (1834- 1896), que Gooch apresenta como ‘ o mais jovem, o maior e o último dos membros da escola prussiana’. Partindo de uma política de conquistas por parte da Prússia e considerado mais um publicista político do que um pesquisador – o próprio Ranle não se mostrou favorável a que fosse nomeado professor em Berlim – dedicou-se a escrever a ambiciosa História da Alemanha do século XIX, cujos cinco volumes, publicados entre 1879 e 1894, não lhe permitiram chegar mais do que até 1847” (p. 230- 231).
“Paradoxalmente, estes homens, que se negavam a aceitar a existência de leis históricas gerais acima das realidades nacionais, seriam os criadores de métodos de pesquisa que se difundiriam universalmente até serem admitidos como norma científica da profissão e que seriam considerados, sem fundamento algum, como equivalentes, no campo da história, aos métodos de investigação das ciências da natureza” (p. 231).
“O ‘método científico’ difundido pelos seminários universitários alemães foi assimilado pelos historiadores de outros países que, também concordavam com os colegas prussianos na preocupação em consolidaro consenso social em torno de liberdades que não implicassem a conquista da democracia, contra o que acreditavam as massas populares quando deram apoio às revoluções liberais” (p. 231- 232).
“Os historiadores liberais do século XIX defendiam uma ideia de organização do estado que negava, o direito de participação na política ao conjunto da população. Calyle dizia que o sufrágio universal era ‘uma forma diabólica de igualar Judas e Jesus Cristo’; Odilon Barrot sustentava que era o ‘mais perigoso e despótico absurdo que havia jamais saído de um cérebro humano’. Os pobres não tinham tempo para dedicar-se à política, nem dispunham dos conhecimentos necessários para fazê-lo. ‘Só a propriedade torna os homens capazes do exercício dos direitos políticos’, dizia Constant, pensando exclusivamente na propriedade da terra” (p. 232).
“O primeiro dos grandes historiadores britânicos desde Gibbon foi Thomas Babbington Macaulay (1800- 1859) que, mesmo estando mais próximo dos historiadores escoceses do século XVIII do que dos prussianos do XIX, soube, como estes últimos, ajudar a reforçar o consenso social em tempos difíceis. Distinguiu-se como político na época em que se preparava a reforma eleitoral de 1832, foi membro do Conselho Supremo da Índia e ministro da Guerra num governo whig, até que decidiu renunciar à carreira política para dedicar-se plenamente à história, publicando, em 1849, os dois primeiros volumes de sua História da Inglaterra, com um êxito extraordinário” (p. 233).
“(...) Macaulay acabava a primeira parte, escrita sob influência dos fatos de 1848, com uma apologia à estabilidade social britânica em meio a uma Europa sacudida pelas revoluções. Este defensor do liberalismo e da industrialização, indiferente em matéria religiosa, era um homem de considerável cultura e um bom escritor que pôde oferecer à sociedade britânica de meados do século XIX o tipo de análise do passado que deveria confirmar sua confiança no caminho empreendido” (p. 234).
“Desaparecido o perigo de uma revolução com o fracasso do cartismo, o combate ideológico parece perder força na Grã- Bretanha. Entre Macaulay e lorde Acton (1834- 1902), que já é um representante da ‘ciência histórica’ à maneira da Alemanha, o otimismo whig evaporou-se e não fica mais que o vazio – a ausência de ideias elevada à virtude – que será característico da historiografia acadêmica britânica de princípios do século XX” (p. 234).
“Acton propôs o seguinte programa: ‘Nosso esquema pede que nada revele o país, a religião ou o partido a que pertencem os autores. Isto é essencial, não somente porque a imparcialidade é a característica da história legítima, mas porque o trabalho será realizado por homens que se reuniram como o único objetivo de aumentar o conhecimento exato’. A falácia acadêmica da imparcialidade proclamando-se assim solenemente. O passado estava nos documentos, esperando que os historiadores recolhessem os fatos, os polissem, dando- lhes forma narrativa e os apresentassem ao público” (p. 235).
“(...) Nada pode ser mais revelador dos condicionamentos sociais assumidos pela ciência acadêmica que o fato de que, na Inglaterra, não tenha sido publicado nenhum livro de história sobre a ‘revolução industrial’ até 1884, quando já há mais de meio século o conceito era usado por franceses e alemães – e inclusive, então, esta denominação era aceira com muitas reticências: os historiadores, britânicos não queriam ouvir falar de revoluções nem no terreno tecnológico” (p. 236).
“Somente uma voz original seria ouvida no panorama norte-americano em fins do século: a de um historiador que iniciara, só e por sua conta, o caminho que depois continuariam os ‘new historians’ ou historiadores progressistas. Enfrentando os ‘objetivistas’ acadêmicos, Frederick Jackson Turner (1861-1932) escreveu, em 1891, em ‘O significado da história’, que esta voltava a ser escrita em cada época, de acordo com as próprias condições: o objeto real do historiador era o presente e seu trabalho devia dirigir-se a um público amplo” (p. 237).
“No caso da Espanha, a profissionalização dos historiadores e a introdução dos novos métodos científicos ocorreram tardiamente, em fins do século XIX, sob o controle político que buscava defender, a partir da Academia de História e da Universidade, uma concepção ‘nacional’ que era vista como uma necessidade política por um estado espanhol em crise (perda das colônias, surgimento dos nacionalismos catalão e basco, crises sociais). A mudança metodológica chegaria assim com um atraso de mais de meio século, comparado com a França, a Alemanha ou a Inglaterra, e com menos consistência” (p. 238).
“Nos países de cultura européia, a ficção da independência do intelectual podia ser sustentada, já que eram os próprios historiadores acadêmicos que mantinham longe das fileiras da ‘ciência’ os possíveis perturbadores da profissão. Em outras culturas, a realidade da dependência da história em relação ao poder mostrava-se sem disfarces. No Japão, a compilação da história era considerada uma prerrogativa das autoridades, preocupadas sempre em difundir uma versão canônica” (p. 239).
“Em princípio do século XX, no entanto, numa sociedade em mudança, a crise do historicismo era evidente. (...) As correntes de pensamento que propunham, nestes anos, a revisão de um historicismo que consideravam fracassados, não se interessavam, no entanto, pelos problemas concretos da pesquisa – um terreno em que aceitavam de fato as formulações tradicionais – mas somente pela fundamentação filosófica” (p. 239- 240).
“Nesta linha encontramos sobretudo o neokantismo da escola de Marburg, com Heinrich Rickert (1863- 1936), que afirmava que a realidade empírica era múltipla e inabordável na totalidade. A forma em que as diversas ciências a enfrentavam era diferente. As ciências da natureza p fazem com um método ‘generalizador’, que utiliza os conceitos de lei, gênero e espécie, alcançando, com eles, um conhecimento geral da realidade” (p. 240).
“(...) A seleção dos fatos com que o historiador constrói a história faz-se em função de ‘valores’ transcendentes, que estão além do objeto e do sujeito. A história torna-se, assim, uma construção mental erigida pelo homem e a concepção do progresso histórico é uma armadilha. ‘Só podemos qualificar de progresso o desenvolvimento que leva a uma determinada formação, se esta foi estabelecida previamente como valiosa em função de uma escala de valores” (p. 240).
“Enquanto se desenvolvia o conjunto das novas tendências que transformariam as ciências sociais – o complexo integrado pelo marginalismo, funcionalismo e estruturalismo – os historiadores acadêmicos limitavam-se a continuar recolhendo’ fatos históricos’, colando-os em atrás do outro, convencidos de que o que faziam não somente era ‘científico’ – mesmo que fosse uma ciência de categoria inferior – mas que era a única forma lícita de trabalhar no campo da história” (p. 241).

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