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Direitos de Legalidade, Igualdade e Liberdade no Direito Constitucional

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FACULDADE DE DIREITO
		
DISCIPLINA:
	
DIREITO CONSTITUCIONAL
	
SEMESTRE:
	
3º (TERCEIRO)
	
CARGA HORÁRIA:
	
QUATRO AULAS SEMANAIS
	
TURNO:
	
NOTURNO
	
PROFESSOR:
	
JOSÉ NATANAEL FERREIRA
	
PERÍODO:
	
1° SEMESTRE 2014
PLANO DE AULA
DIREITO CONSTITUCIONAL II
DOS DIREITOS DE LEGALIDADE, IGUALDADE E DE LIBERDADE 
AULA N° 06
Noções elementares sobre o direito(princípio) de legalidade
o princípio da legalidade na seara penal
o princípio da legalidade na ordem tributária
o princípio da legalidade sobre o direito de propriedade
Dos direitos de igualdade
Contextualização do tema direitos de igualdade
Noções sobre a expressão igualdade perante a lei
Noções sobre outras incidências do princípio da igualdade
-	igualdade entre homens e mulheres
-	igualdade jurisdicional
-	igualdade perante a tributação
-	igualdade perante a lei penal
-	igualdade sem distinção de qualquer natureza
Dos direitos de liberdade
Contextualização do tema direitos de liberdade
-	liberdade de atuar, de agir, de locomoção, de circulação
-	 liberdade de pensamento: 
Questões
Referências bibliográficas
DIREITO CONSTITUCIONAL II		AULA N° 06
DOS DIREITOS DE LEGALIDADE, IGUALDADE E DE LIBERDADE 
A lei, como fonte original do poder e de imposição de condutas omissivas ou comissivas para a convivência social, nasceu no impulso das revoluções liberais burguesas dos séculos XVII e XVIII, particularmente na Inglaterra, Estados Unidos da América e França, onde se buscou extrair da consciência dos povos e dos governantes dos reinos, impérios e repúblicas que estavam se constituindo, a noção de toda a fonte de poder provinha da origem divina.
Para substituir o poder de origem divina, os idealistas tomaram o conceito da lei como a síntese da vontade do povo (esse representando o pensar e o desejar da nação), e de que o poder provinha dessa vontade e poderia e deveria ser exercido nos limites do mandato outorgado pelo povo.
A fonte do poder político de governo, desde o fortalecimento da influência dos parlamentos e da constituição das primeiras monarquias parlamentaristas e das repúblicas parlamentaristas ou presidencialistas (séculos XVIII), passou a ser lei derivada da vontade popular cristalizada pelo exercício do mandato eletivo pelos eleitos para o Parlamento. A obrigação de fazer ou de não fazer, de conduzir-se dessa ou daquela forma, passou a ser exigida na forma da lei.
Não mais se poderia exigir esta ou aquela conduta, este ou aquele tributo, esta ou aquela pena criminal, se antes não houvesse lei promulgada que assim determinasse ou exigisse. Esse é, em síntese, o 
A igualdade, ao lado da liberdade e da fraternidade, formou o lema dos revolucionários franceses de 1789, que pôs fim ao regime absolutista francês e inaugurou um período de fortalecimento do poder político popular por meio da representação política pelo mandato eletivo temporário, e que culminou, tempos depois, na conversão do estado francês de monarquia absolutista, para monarquia constitucional e, por fim, em República parlamentarista.
Esse tripé (liberdade, igualdade e fraternidade) também se adotou academicamente para tratar das gerações/dimensões dos direitos humanos (dos direitos fundamentais), sendo, a igualdade, entendida como compondo a segunda geração dos direitos fundamentais:
— 1ª geração de direitos fundamentais:	direitos de liberdade (caracterizada pelo individualismo, liberdade do homem-indivíduo diante das circunstâncias da época – regime feudal, com segmentação social por classes, com privilégios sociais pelo nascimento, pelos títulos de nobreza ou pelos cargos nos governos)
— 2ª geração de direitos fundamentais:	direitos de igualdade (inserção dos direitos sociais nas constituições do início do século XX dos respectivos Estados, a partir, principalmente, da revolução comunista da Rússia/União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (1917), da Constituição do México de 1917, e da Constituição da República de Weimar/Alemanha, 1919);
— 3ª geração dos direitos fundamentais:	direitos de fraternidade, caracterizando-se pela noção de coletivo, de importância do meio social e do respeito às condições ambientais – direitos difusos (“pertencentes” a todos, de forma não definida, não individualizada).
O direito de propriedade, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a primeira de caráter universalizante, produzido no seio da Revolução Francesa, restou promulgado como direito inviolável e sagrado. A partir de então, passou ser positivado como direito fundamental nas constituições que se concretizaram nos respectivos Estados.
Noções elementares sobre o direito de legalidade
A obediência e o respeito às leis regentes do Estado, produzidas e promulgadas previamente e na forma como estabelecida pelo seu próprio ordenamento jurídico, é o que o conforma como Estado de Direito.
A Constituição Federal de 1988 diz, textualmente, que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito (art. 1º), com isso afirmando que, no país, são respeitados e garantidos não somente os institutos, princípios e valores da democracia, mas, também os princípios e valores do Direito, prevalecendo a lei sobre o desejo-poder arbitrário dos governantes ou daqueles que ocupam postos no organograma político-administrativo do Estado. Nesse sentido, todo o ordenamento (constitucional e infraconstitucional, guarda observância estrita ao princípio da legalidade).
Na ordenamento brasileiro, o direito de legalidade, em síntese, impõe:
—	que ao particular não se exija senão conforme previamente determinado em lei (o particular pode fazer tudo que a lei não proíba);
—	ao agente público (e à Administração Público e ao Estado brasileiro) o fazer somente aquilo (e conforme) permitido pela lei (a Administração somente pode fazer o que a lei autoriza).
O respeito ao princípio da legalidade permeia todo o texto constitucional, sendo a própria Constituição garantia fundamental de sua observância, merecendo destaque o que se assenta no artigo 5º.
Constituição Federal de 1988
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 
1.1	O princípio da legalidade na seara penal
Na seara penal, o princípio da legalidade atua, principalmente:
—	informando que não existem crimes ou penas sem lei que, previamente, os estabeleçam;
—	determinando que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, e nem será processado ou sentenciado senão pela autoridade competente (princípio do juiz natural) — LIII e LIV;
—	assegurando aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes — LV;
—	inadmitindo, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos, e prevendo que ninguém seráconsiderado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória — LVI e LVII.
1.2	O princípio da legalidade na ordem tributária
Quanto à tributação, esse princípio da legalidade dispõe, principalmente, vedação à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios de:
—	exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça (art. 150, I);
—	 cobrar tributos:
—	em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado (principio da irretroatividade da lei tributária, art. 150, III, “a”), ou 
—	no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (principio da anterioridade da lei tributária — art. 150, III, “b”).
1.3	O princípio da legalidade sobre o direito de propriedade
O direito de propriedade é, constitucionalmente, considerado um direito fundamental, razão pela qual é amparado por diversos dispositivos, a exemplo daquele que informa que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens (patrimoniais) sem o devido processo legal (art. 5º, LIV).
Para efeitos de desapropriação de imóveis por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, a Administração Pública deverá observar os procedimentos dispostos na lei, e, previamente, pagar justa indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na própria Constituição (art. 5º, XXIV).
Esses são meros exemplos exemplificativos, haja vista que todo o corpo constitucional e todo o ordenamento infraconstitucional prima pela observância do princípio da legalidade, o qual exige prévia lei (regularmente votada e aprovada pelo Parlamento) para que o Poder Público possa impor obrigação ao particular ou dele exigir determinada conduta.
Dos direitos de igualdade
Contextualização do tema direitos de igualdade
A igualdade, juntamente com a liberdade, a propriedade, a segurança e resistência à opressão, como direito do ser humano, já se encontrava inscrita no artigo primeiro da primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento histórico nascido no seio da Revolução Francesa de 1789:
Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum.
E essa igualdade encontrava-se inscrita na Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas – ONU, de 1948: 
Artigo I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
No Brasil, desde as primeiras constituições, seguindo tradição das constituições dos demais Estados, tornou-se praxe a inserção do direito à igualdade nos textos constitucionais. E isso também se encontra presente na atual Constituição Federal de 1988, a qual, em várias passagens, impõe a presença do direito à igualdade como pressuposto do próprio ordenamento.
Com isso, desejou o legislador constituinte, consciente das desigualdades que permeavam a sociedade brasileira (desigualdades jurídicas, econômicas, patrimoniais, culturais, sociais, educacionais, políticas, de expectativa de vida, de acesso a bens de consumo e às políticas públicas, por exemplo), que, da promulgação dessa Constituição Federal, o Estado brasileiro se voltasse para tornar mais igual (e menos desigual) as condições materiais, de modo que, ao longo do tempo, a sociedade brasileira pudesse se tornar mais igualitária, menos desigual, mais humanizada. E desejou que essa igualdade fosse nivelada por cima, pelo alto. Não desejou a igualdade pela miserabilidade.
Como mera exemplificação do afirmado, pode-se citar:
Constituição Federal de 1988:
PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, [...] a igualdade [...] como valores supremos de uma sociedade fraterna [...].
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: III - erradicar [...] as desigualdades sociais e regionais;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito [...] à igualdade [...]
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, [...] XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola
No entanto, é preciso entender que a igualdade dos textos legais (constitucional e infraconstitucional) não raras vezes se situa no plano da igualdade formal (“todos são iguais perante a lei”), necessitando-se, porém, observar as condições concretas de atuação das entidades e dos Poderes públicos para verificar se essa igualdade formal se concretiza em igualdade material, ou se permanece apenas como ideal platônico a enfeitar o texto da lei.
É essa busca, sempre presente, necessária e constante, de tornar mais iguais as condições materiais dos residentes no país (e de tornar menos desigual a sociedade brasileira) que justifica a adoção de políticas públicas direcionadas a amparar setores ou parcelas da sociedade que, na realidade, são mais vulneráveis (seja fisicamente, seja socialmente, seja intelectualmente, seja economicamente, seja em qualquer situação que faça com que essa vulnerabilidade seja causa de discriminação).
Nesse contexto é que se encontram e se justificam as políticas públicas que atendem determinados setores e parcelas da população/da sociedade:
—	promulgação de leis que objetivem proteger ou amparar determinados segmentos da sociedade, dada à sua maior vulnerabilidade: “Lei Maria da Penha” (Lei Federal nº 11.340/2006); Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA (Lei Federal nº 8.069/1990); Código de Defesa do Consumidor – CDC (Lei Federal nº 11.078/1990);
—	vedação a qualquer tipo de discriminação, seja por idade, sexo, crença, disponibilidade patrimonial ou condições de nascimento, salvo aquelas que, pela própria natureza ou pela Constituição, se façam válidas: exigência de ser brasileiro nato para ocupar determinados cargos públicos (CF/88, artigo 12, § 3º) ou exigência de idade mínima (dezoito anos) para concorrer a cargos públicos por meio de concursos públicos. Não se admite a discriminação com base na cor ou raça (prática de racismo = crime inafiançável e imprescritível– CF/88, art. 5º, XLIII; a Lei nº 7.716/1989 define os crimes de preconceito de raça ou de cor);
—	adoção de normas que possibilitem a mobilidade às pessoas com deficiência nos estabelecimentos particulares, nas vias públicas, nas entidades e órgãos públicos, e nos locais públicos;
—	reserva de quotas para pessoas com deficiência e isenção de pagamento das taxas às pessoas que comprovem insuficiência econômica, para inscrição e participação em concursos públicos.
Dada à sua sempre atualidade para explicar esse princípio da igualdade, cabe citar as palavras de Rui Barbosa, em sua Oração aos Moços[1: Disponível em <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/doc/artigos/rui_barbosa/fcrb_ruibarbosa_oracao_aos_mocos.pdf>. Acesso em 8.3.2014, às 9h18min]
“...A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desdeos astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço, até aos aljôfares do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria, proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria. Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho...”.
2.2	Noções sobre a expressão igualdade perante a lei
“...a doutrina como a jurisprudência já firmaram, há muito, a orientação de que a igualdade perante a lei tem o sentido que, no exterior, se dá à expressão igualdade na lei, ou seja, o princípio tem como destinatário tanto o legislador como os aplicadores da lei. O princípio significa, para o legislador [...] “que ao elaborar a lei, deve reger, com iguais disposições — os mesmos ônus e as mesmas vantagens —situações idênticas, e, reciprocamente, distinguir, na repartição de encargos e benefícios, as situações que sejam entre si distintas, de sorte a quinhoá-las ou gravá-las em proporção às suas diversidades” [...] O executor da lei já está, necessariamente, obrigado a aplicá-la de acordo com os critérios constantes da própria lei. Se esta, para valer, está adstrita a se conformar co princípio da igualdade, o critério da igualdade resultará obrigatório para o executor da lei pelo simples fato de que a lei o obriga a executá-la com fidelidade ou respeito aos critérios por ela mesma estabelecidos. [...] Esses fundamentos é que permitem, à legislação, tutelar pessoas que se achem em posição econômica inferior, buscando realizar o princípio da igualização...”[2: SILVA, op. cit., p. 215 e 216]
A aplicabilidade concreta do princípio da igualdade significa que o legislador e o agente político (administrador público) podem distinguir, na elaboração das leis e na formulação de políticas públicas, as confrontações e os contrastes existentes no seio social para proteger e amparar aqueles setores e aquelas parcelas que se encontrem vulneráveis ou materialmente prejudicadas.
2.3	Noções sobre outras incidências da princípio da igualdade
-	igualdade entre homens e mulheres
Embora conste, explicitamente, do inciso II do artigo 5º da Constituição Federal que “..homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações...”, essa é uma norma-princípio tanto decorrente “...do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte...”, quanto dos fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil (CF/88, art. 5º, § 2º; cc. art. 1º, III, e art. 3º, IV). 
Também no contexto constitucional dos direitos sociais, há vedação à discriminação por gênero (art. 7º, XXX).
Constituição Federal
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III -	a dignidade da pessoa humana;
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I -	homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 
Decorrente dessa normatização, também o direito infraconstitucional não contempla (e proíbe) a discriminação por gênero, haja vista que não se pode mais aventar, juridicamente, de “o homem ser o cabeça do casal”, ou de a esposa necessitar de consentimento do esposo para a prática de atos da vida civil, como há questão de poucas décadas se havia por direito, ou de haver diferenciação entre homens e mulheres no tocante à seara trabalhista, quanto a remuneração para trabalhos semelhantes. 
As exceções decorrem da própria lei, assim como aquela norma que prediz “...Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários...” (Lei nº 5.869/1973, Código de Processo Civil – CPC, art. 10)
-	igualdade jurisdicional
No âmbito de jurisdição, o princípio da igualdade atua sob dois prismas:
—	no âmbito do Poder Legislativo, do legislador, elaborador das leis em abstrato;
—	no âmbito do Poder Judiciário, dos juízes, aplicadores do direito aos casos concretos.
Ao legislador, o princípio da igualdade veda que sejam editadas leis que permitam, no âmbito judicial, o tratamento desigual a pessoas ou situações iguais, ou que possibilitem o tratamento igual a pessoas ou situações que, juridicamente, sejam desiguais. 
A lei, em abstrato, não deve mirar pessoas ou situações específicas, mas deve reger hipóteses abstratamente consideradas, cuja incidência estará na dependência das circunstâncias e condutas in concreto.
No prisma judicial, veda-se não somente o privilégio a pessoas ou situações a pessoas que, jurídica e judicialmente, estejam em igualdade de condições, mas veda, também, a existência dos juízos ou tribunais de exceção — aqueles aprontados especificamente para decidir determinado caso ou caso pré-existentes à instauração do juízo ou o tribunal —, hipótese essa vedada explicitamente pela Constituição Federal (art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção).
No entanto, a própria Constituição Federal admite, para determinados cargos políticos na estrutura de governo, a existência dos denominados “foros privilegiados” para julgamento de autoridades em crimes de responsabilidade ou comuns. Nessa hipótese, encontram-se o Presidente e o Vice-Presidente da República, os Ministros de Estado, os membros do Congresso Nacional e dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, o Procurador Geral da República, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, os Desembargadores dos Tribunais de Justiça, além de outros por ela nominados.
“...Afora os casos de foro privilegiado, expressamente estabelecidos na Constituição e situação correspondente nas condições estaduais, será inconstitucional a previsão de outras...”.[3: SILVA, op. cit., p. 218]
Constituição Federal
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente:
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente,os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; 
Essas exceções, entretanto, não privilegiam a pessoa ocupante do cargo político, mas, sim, o próprio cargo político, independentemente de quem o ocupe. ;em regra, deixando a pessoa de ocupar aquele cargo com privilégio de foro, a persecução judicial recairá sobre ela na justiça comum (estadual ou federal, conforme seja a situação concreta).
-	igualdade perante a tributação
O princípio da igualdade na seara tributária diz respeito à justiça fiscal, direcionado ao legislador, para que busque onerar os contribuintes na medida e proporção de suas disponibilidades econômicas = deve-se tributar mais aqueles que possuem maiores condições econômicas de contribuir para a Fazenda Pública, atenuando a tributação sobre as camadas menos favorecidas.
Constituição Federal
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
Nos limites tributários, o princípio da igualdade objetiva fazer com que os ônus para suportar o custo da Administração e das políticas públicas sejam idealmente divididos entre a população, preferencialmente sobre as camadas sociais que possuam maior capacidade contributiva para arcar com os tributos:
-	igualdade perante a lei penal
“...Essa igualdade não há de ser entendida [...] como a aplicação da mesma pena para o mesmo delito. Mas deve significar que a mesma lei penal e seus sistemas de sanções hão de se aplicar a todos quantos pratiquem o fato típico nela definido como crime. [...] As condições reais de desigualdade condicionam o tratamento desigual perante a lei penal, apesar do princípio da isonomia assegurado a todos pela Constituição...”.[4: SILVA, op. cit., p. 221 e 222]
-	igualdade sem distinção de qualquer natureza
A presente Constituição Federal é, dentre outras, a mais veemente na condição e vedação de práticas discriminatórias:
Constituição Federal
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Não obstante condene e vede a discriminação de qualquer natureza, a Constituição é específica em vedar a discriminação por questões de gênero (sexo), de cor e de idade, que são as que mais se apresentam no seio social.
Historicamente, a mulher tem sido o elo fraco, e a Constituição se mostra como marco divisório para possibilitar a paridade social e jurídica da mulher ao homem, terminando por séculos de predomínio da cultura machista que prejudicou e que prejudica a ascensão profissional e social da mulher no Brasil.
Ao vedar a discriminação e o preconceito em razão da cor, origem ou raça, a Constituição reconhece a existência desse mal na sociedade brasileira, mesmo que subjacente às “boas relações” entre indivíduos de grupos distintos. 
Essas vedações constitucionais autorizam que o legislador estabeleça leis que punam as formar discriminatórias de quaisquer naturezas, notadamente as decorrentes da origem, raça, sexo, cor ou idade, ou que estabeleçam vantagens a grupos discriminados, de modo a lhes minorar o sofrer social, a exemplo da:
—	Lei Federal nº 7.716/1989, que pune “...os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional...”
—	Lei Federal nº 10.741/2003, que regula ...os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos...”;
—	Lei Federal nº 11.340/2006, que “...cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, [...] dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar....”.
	Dos direitos de liberdade
3.1	Contextualização do tema direitos de liberdade
Este não é o espaço próprio para se discutir conceitos sócio-filosóficos acerca do que se entende por liberdade, mas, para todos os efeitos “..o que é válido afirmar é que a liberdade consiste na ausência de toda coação anormal, ilegítima e imoral. Daí se conclui que toda lei que limita a liberdade precisa ser lei normal, moral e legítima, no sentido de que seja consentida por aqueles cuja liberdade restringe. [...] liberdade consiste na possibilidade de coordenação consciente dos meios necessários à realização da felicidade pessoal...”.[5: SILVA, op. cit., p. 231]
A liberdade também foi um direito-lema motivador dos revolucionários burgueses dos séculos XVIII e XIX e culminou estampado nas Declarações de Direitos que se seguiram a partir de então, e também integra o rol de direitos fundamentais contidos na Constituição Federal brasileira de 1988:
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789
Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum.
Artigo 2º- O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses Direitos são a liberdade. a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948
Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. 
Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.    
Constituição Federal do Brasil de 1988
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal
A Constituição Federal não se limita a apenas esses dois dispositivos, pois, em tantos outros, assegura o direito à liberdade pessoal (de crença, de exercício de profissão, de empreendedorismo etc.). A liberdade individual é um bem maior protegido constitucionalmente, pois esse é um princípio-valor típico dos regimes democráticos e de direito. O “...regime democrático é uma garantia real da realização dos direitos humanos fundamentais [...] é na democracia que a liberdade encontra campo de expansão. [...]Quanto mais o processo de democratização avança, mais o homem se vai libertando dos obstáculos que o constrangem, mais liberdade conquista...”. [6: SILVA, op. cit., p. 233]
Na Constituição de 1988, consta princípio-norma basilar da liberdade: “...Art. 5º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei...”, a determinar que somente por lei se poderá restringir liberdades, conquanto essa lei não possua conteúdo anormal, ilegítimo e imoral, pois, assim, seria inconstitucional e não mereceria viger. Dentre as várias facetas da liberdade da pessoa física, deve-se salientar:
— liberdade de atuar, de agir, de locomoção, de circulação: é a “...possibilidade jurídica que se reconhece a todas as pessoas de serem senhora de sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro do território nacional...”. Seria, em termos leigos, o direito de ir, vir e permanecer (internamente e para fora do território nacional). A Constituição ressalva a possibilidade de restrição à (não a eliminação da) liberdade em tempos de guerra: “... [7: SILVA, op. cit., p. 235 a 240]
Art. 5º [...] XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens...”.
Como norma para bem assegurar o direito de pessoal à liberdade, a Constituição determina que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal e que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV e LIV).
— liberdade de pensamento: que engloba, principalmente, as liberdades de expressão, de opinião, de crença religiosa, de informação, de transmissão e recepção do conhecimento, de expressão intelectual, artística e científica. O direito à livre expressão do pensamento diz respeito à segurança com que conta o indivíduo para se expressar e se conduzir conforme sua interna concepção do mundo, tanto no seu íntimo quanto na seara pública, sem que a lei o censure ou o prive desse direito de externar sua forma de pensar e ser. A Constituição Federal reconhece e protege a liberdade de pensamento:
Constituição Federal de 1988
Art. 5º
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; 
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional
Embora seja livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, deve-se atender as qualificações profissionais que a lei estabelecer, competindo, privativamente à União legislar sobre condições para o exercício de profissões (art. 5º, XIII, cc. art. 22, XVI). Da mesma forma, em defesa do interesse público, e da proteção à criança e ao adolescente, o Estado pode estabelecer classificação indicativa para programas de televisão (não cabendo, no entanto, a censura às atividades artísticas ou jornalísticas).
Questões
Explique o direito-princípio da legalidade.
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Cite, do texto constitucional, um dispositivo que possa ser tomado como exemplo do direito-princípio da legalidade.
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Nos termos do princípio da igualdade exposto no texto constitucional, exemplifique uma hipótese em que a lei infraconstitucional pode ofertar tratamento diferenciado a setores ou parcelas da população.
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Conceitue o direito de liberdade contido na Constituição Federal.
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Ofereça um dispositivo da Constituição Federal que possa ser aceito como exemplo da incidência do direito de liberdade de pensamento.
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Transcreva, do texto constitucional, os dispositivos que vedam a discriminação de qualquer natureza, principalmente a decorrente de cor ou raça
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Referências bibliográficas
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 28ª ed. —São Paulo : Malheiros, 2013
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. — São Paulo : Malheiros, 2002
_______. Aplicabilidade das normas constitucionais. 8ª ed. — Malheiros : São Paulo, 2012
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. — São Paulo : Saraiva, 2002,

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