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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Linguística I Coordenadora: Profª Silvia Maria de Sousa Avaliação PRESENCIAL 2 - 2013/ 2 Aluno(a): _______________________________________________________ Polo: __________________________ Matrícula ________________ Nota: _______________ Instruções: Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. Não escreva em tópicos. Escreva um texto coerente e coeso, em registro linguístico compatível com o trabalho acadêmico formal. A folha de perguntas deve ser devolvida junto com as respostas. Boa prova! 1) Defina e exemplifique duas das funções da linguagem propostas por Jakobson. (2,0) Jakobson demonstrou com seu esquema que em todo ato comunicativo estão envolvidas funções da linguagem, que embora funcionem de maneira hierárquica, complementam umas às outras, sendo que estão isoladas para fins de análise. Cada uma delas corresponde a um dos elementos envolvidos em todo ato comunicativo. Em outras palavras, para cada elemento, uma função predomina. A função emotiva está centrada no remetente. Um exemplo desta função pode ser dado pelo exemplo “Eu te amo, meu filho”, posto que se tem a exteriorização das emoções do remetente ao destinatário da mensagem. Já a função conativa está centrada no destinatário, e um exemplo possível é o slogan publicitário “Beba Coca-Cola”. Neste slogan, predomina a função conativa, em que se tenta interpelar o interlocutor e influenciar seu comportamento, e que se marca também pelo uso do verbo no modo imperativo. A função referencial centra-se no contexto ou referente. Um exemplo onde tal função predomina é uma notícia jornalística, como em “Pintora de 101 anos é atração em exposição dedicada a artistas autodidatas” ou “Numa cesta de vime temos um cacho de uvas, duas laranjas, dois limões, uma maçã verde, uma maçã vermelha e uma pêra”, em que se pretende informar o que há na cesta. A função poética, por sua vez, centra-se na mensagem e foi uma novidade desenvolvida por Jakobson, com enorme impacto nos estudos linguísticos e literários. Podemos exemplificar a função poética, em que a mensagem se volta para ela própria, com o slogan político "I like Ike” ou nos tipos de mensagens com aliterações, como em “O peito do pé de Pedro é preto” (repare nos usos do fonema /p/) A função fática centra-se no contato. Um exemplo possível desta função é: “Alô Houston! A missão foi cumprida, ok? Devo voltar à nave? Alguém me ouve? Alô!!”, em que se testa o funcionamento do canal. E, por fim, a metalinguística, que está centrada no código, no uso do código para explicar a si mesmo. O dicionário é um exemplo no qual se predomina a função metalinguística, já que palavras explicam o significado de outras palavras. 2) Considere a citação de Marcondes, a seguir, para explicar por que a hipótese Sapir-Whorf é considerada relativista (2,5). “Segundo a hipótese Sapir-Whorf, a língua de uma determinada comunidade organiza a sua cultura, sua visão de mundo, pois uma comunidade vê e compreende a realidade que a cerca através das categorias gramaticais e semânticas de sua língua. Há, portanto, uma interdependência entre linguagem e cultura. Um povo vê a realidade através das categorias de sua língua, mas sua língua se constitui com base em sua forma de vida.” (Marcondes, 2009, p. 68) Marcondes explica que um mundo sem linguagem verbal é um mundo caótico: todas as coisas aparecem misturadas, tudo é um todo indivisível. A linguagem verbal, então, divide, classifica as coisas do mundo. Como não há apenas uma língua natural, mas são várias as línguas no mundo, o que se pode depreender é que cada uma das línguas vê, classifica as coisas do mundo de uma maneira diferente de outra língua. Assim, como citado no enunciado desta questão, nós, falantes de português, diferenciamos parede de muro. Já um falante do inglês não faz essa distinção. Podemos compreender que trata-se de um fato linguístico que afeta a nossa percepção do mundo. Por outro lado, se radicalizarmos essa ideia, teremos que o meu modo de ver, falar do mundo nunca corresponderá ao modo de ver, falar do mundo de um falante de outra língua. Em última análise, isso nos levaria à impossibilidade de compreensão entre falantes de línguas diferentes, à impossibilidade de tradução de uma língua para outra. 3. O Estruturalismo Europeu é, por vezes, denominado saussurianismo, já que descende diretamente das ideias postuladas por Ferdinand de Saussure. Apresente, sucintamente, os princípios gerais desse movimento teórico, considerando a citação seguinte: (3,0) “Saussure mostra que a linguagem, em qualquer momento de sua existência, deve apresentar-se como uma organização. A esta organização, inerente a qualquer língua, chama-lhe Saussure sistema (os seus sucessores falam muitas vezes de estrutura)”. (DUCROT e TODOROV, 1972, p. 33) Este movimento reúne o que foi postulado por diversos linguistas e partir do estudo fundador de Saussure. Para este linguista, a linguagem é dotada de uma organização cujo estudo poderia e deveria se centrar nos valores de seus elementos. Surge assim o conceito de valor linguístico, que estabelece o valor de um signo a partir das relações opositivas que este estabelece com os demais signos no interior do sistema. Considerar então o valor oposicional e relacional dos elementos e a autonomia do sistema linguístico são as principais teses do estruturalismo europeu. Como exemplo da análise que esta vertente empreende, podemos citar o par mesa/mesas. Comparando os termos, constata-se que se no português o plural traz como marca o –s, o singular não traz nenhuma desinência, o que leva à seguinte conclusão: o singular caracteriza-se pelo morfema enquanto o plural marca-se pelas desinências. 4. Classifique as afirmativas como CORRETAS ou INCORRETAS. Corrija as INCORRETAS. (2,5) a) Dupla articulação é a organização específica da linguagem humana, segundo a qual todo enunciado se articula em múltiplos e infinitos planos. FALSA: Em seu trabalho, André Martinet mostrou que a articulação da linguagem permite que todo enunciado seja organizado em dois planos – e não em múltiplos. No primeiro plano – na primeira articulação – desmembramos a linguagem humana em unidades menores que ainda têm significado, ou seja, ainda são signos linguísticos (imagens sonoras possuidoras de conceito), os denominados morfemas, e que se constituem em todas as línguas em uma lista aberta e em maior número. Martinet aponta que se pode continuar a desmembrar a linguagem humana, chegando-se assim a unidades ainda menores, mas que não são mais signos linguísticos, pois não detêm significado, mas apenas significantes: os fonemas. Todas as línguas possuem uma lista fechada de fonemas por conta do número limitado de fonemas. É a quantidade determinada de fonemas de cada língua que nos permite formar potencialmente infinitas sentenças a partir da combinação dos fonemas. A dupla articulação permitiu que Martinet desenvolvesse o princípio de economia, já que é possível fazer infinitas combinações linguísticas por um “baixo preço”, ou seja, aproveitando os elementos dos quais a língua já dispõe. b) O estruturalismo americano tem seu início a partir da observação das línguas indígenas e da constatação de que há diferenças intrínsecas às línguas, que cabe então ao linguista descrever. VERDADEIRA c) Partindo das formulações saussurianas, Hjelmslev “divide” ainda mais o signolinguístico: se para Saussure o signo era a menor unidade dotada de sentido, Hjelmslev constrói sua teoria entendendo que há traços, ainda menores que o signo, que se opõem dentro de um dado sistema. VERDADEIRA d) Benveniste considera a língua apenas como um sistema abstrato de signos linguísticos que se determinam entre si. FALSA: Benveniste parte dos estudos saussurianos para posteriormente desenvolver suas próprias teses, que, diferentemente do mestre genebrino, incluem a relação do sujeito com a língua e a língua pela utilização do sujeito. Para Benveniste, a língua não é uma estrutura abstrata, mas uma realização, um acontecimento, e somente se realiza quando emitida por um sujeito enunciador. Sem essa apropriação, a língua é somente uma possibilidade. E sempre que há a apropriação da língua pelo sujeito enunciador (o eu, o locutor), pressupõe-se aí um outro, um tu, o alocutário, a quem se dirige o locutor. Além disso, é necessário se levar em conta que esses sujeitos existem em uma dada situação (no espaço e no tempo). Assim, para Benveniste, a descrição e interpretação de um bilhete como “Estive aqui hoje à tarde mas não te encontrei” implicava na consideração dos sujeitos (eu/tu) e da situação (espaço/tempo) e não tomar a estrutura voltada para si mesma. Por tudo isso, pelas categorias que Benveniste acrescenta à análise, (sujeitos e situação), são afetados os modos pelos quais se considera a língua para fins de descrição e interpretação e como consequência configura-se um outro objeto: a enunciação.
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