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socio e lingua materna 3

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Rita do Carmo Polli da Silva
A sociolinguística e língua materna
CuritIba, IBPEX, 2009.
Língua e preconceito linguístico
A língua portuguesa da escola
A língua ensinada na escola não é a mesma que usamos no dia a dia. Parece artificial... (43)
A norma culta
Expressão norma culta: dois pressupostos.
Norma – Ela, por si só, já deixa clara a imposição, a noção de regra, de preceito, de lei a ser cumprida.
Culta – se existe uma norma culta, é porque existe a inculta, que seria a variedade falada por pessoas desprovidas de cultura. (44)
Norma culta – Esta é a nomenclatura utilizada pela maioria dos gramáticos quando da apresentação de seus trabalhos. Norma culta, nesse caso, confunde-se com nossa definição de norma padrão. (45)
Atualmente a expressão norma culta serve para designar a língua utilizada por pessoas com um nível de escolaridade elevado, geralmente superior. É a variedade das leis, dos congressos das mais variadas áreas, dos textos de TCC (trabalho de conclusão de curso), mestrado e doutorado, dos telejornais... (47)
O adjetivo culto interpretado como sinônimo de padrão, na sociolinguística, não corresponde à verdade. (48)
Norma padrão
A norma padrão pode ser vista como a que unifica a norma culta, pois fixa as normas cultas (usadas pelas pessoas instruídas) para que se tenha um padrão de escrita. O lado negativo dessa padronização é que ela é extremamente artificial e conservadora e muitas vezes confundida com a própria língua: não saber a norma padrão é não saber a língua, o que é um perigoso engano. (49) 
Para Lucchesi (2002, p. 65) norma padrão é a que “reuniria as formas contidas e prescritas pelas gramáticas normativas”, enquanto a norma culta “contém as formas efetivamente depreendias da fala dos segmentos plenamente escolarizados, ou seja, os falantes com curso superior completo.” (49) 
O que falta em todas as manifestações a favor do purismo linguístico é conhecimento científico. Dizer que a língua portuguesa precisa ser protegida, pois está sendo assassinada pelos brasileiros, que o uso do gerúndio (denominado gerundismo por esses mesmos defensores) é um anglicismo e que os estrangeirismos vão destruir a estrutura do português, entre outras inverdades, é uma grande bobagem. (52)
O preconceito linguístico
O preconceito linguístico, como qualquer outro preconceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e deve ser combatido com vigor e energia. (55)
Os mitos ou preconceito em torna da língua são tão sérios, tão reais e tão prejudiciais que alguns não escamparam de ser listados pelos PCN: Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua-padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos:
de que existe uma forma correta de falar, 
o de que a fala de uma região é melhor da que a de outras, 
o de que a fala correta é a que se aproxima da língua escrita, 
o de que o brasileiro fala mal o português, 
o de que o português é uma língua difícil, 
o de que é preciso consertar a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. (Brasil, 1998, p. 31)
O que é uma língua? Uma língua, qualquer uma, é um conjunto de variedades que sofrem mudanças linguísticas com o passar do tempo, pelos mais variados motivos. (56)
Não existe apenas uma forma correta de falar ou mesmo de escrever; o que existe são situações de uso; precisamos saber qual é a melhor variedade a ser usada em cada uma delas. (57)
Não existe uma região que tenha uma variedade melhor que a de outra. (57)
Nenhuma fala, de nenhuma região, é melhor que outra. São diferentes, sim, mas é só isso. (57)
Para cada situação há uma maneira de falar. (58)
Uma língua é um fato social e, como tal, vai refletir o que a sociedade é, o que a pessoa é. (59)
Todas as línguas variam e muitas variações se transformam em mudanças linguísticas. Isso não significa que, quando a língua está em variação (e ela sempre está, em um aspecto ou outro), está empobrecendo ou se estragando. (64)
A língua sempre segue seu curso normal. (64)
O professor não pode simplesmente achar que está resolvendo os problemas de “erros” ao tachar o aluno de “burro” ou com adjetivos similares. Também não se trata de transformar a variedade estigmatizada em uma norma dentro da sala de aula nem de deixar de tratar desvios como desvios; mas deve sempre levar em consideração a língua como um todo, não tendo em vista apenas uma parte dela. (64)
Apesar do aparato científico de que dispomos, não podemos como professores de língua, ficar fascinados com a ciência linguística e passar a assumir que nada mais está errado. (64)
A ortografia é aprendida na educação formal, mecanicamente, não é inconsciente. Muito do que hoje é grafado de uma maneira, antigamente admitia outra escrita. Ortografia, então, é problema de outra ordem, a solução é assimilar a convenção, apropriar-se dela e ponto final. (65)
O que ocorre, na maioria das vezes, é o erro de variedade. A pessoa faz uso de uma quando deveria estar usando outra. (65)
A sociolinguística e as aulas de língua materna
A disciplina de língua portuguesa tem por objetivo, em todas as séries, desvendar como funciona a linguagem humana em todas as suas possibilidades e proporcionar aos discentes percepção para entendê-las tanto na oralidade quanto na escrita. (186)
Nosso aluno precisa tornar-se um falante ativo da língua, que fala e escreve, não uma pessoa capaz de decorar regras. (187)
Precisamos entender que dominar a língua culta não significa dominar regras. Por outro lado, não se pode negar que a escola é a responsável pela melhoria do desempenho linguístico dos alunos. (187)
Devemos deixar claro que o principal não é falar “certo” ou “errado”, e sim saber adequar o registro à situação em que nos encontramos. (187)
Precisamos capacitar o aluno a falar nas mais diversas situações, desde uma simples leitura em voz alta em sala de aula até a apresentação de um seminário, passando pelas atividades de entrevistas, de debates, de dramatizações etc. (187)
O professor é o orientador da aprendizagem. Para estar apto a desempenhar esse papel, ele precisa conhecer duas coisas: o conteúdo de sua disciplina e o seu público. (188)
Como começar?
Com que variedades linguísticas vou trabalhar?
Qual a concepção de língua e de gramática que eu, como professor, tenho?
Como a normatividade social será encarada?
Com que gêneros textuais vamos trabalhar? (190)
É preciso que o professor tenha consciência de que todas as vezes em que corrigir um aluno, como se a fala dele fosse errada, está, antes de tudo, discriminando uma história, toda uma família e, muitas vezes uma comunidade inteira. Bortoni-Ricardo (2004, p. 33) diz que “toda variedade regional ou falar é, antes de tudo, um instrumento identitário, isto é, um recurso que confere identidade a um grupo social.”
Se antigamente o modelo a ser seguido em sala de aula era o de textos dos consagrados grandes escritores, hoje precisa entender que temos de levar em consideração os meios de comunicação existentes. (192)
Não estarão descartadas as análises dos aspectos internos da língua, como fonologia, morfologia, sintaxe ou semântica. (192)
A variedade culta deve ser apresentada a ele como mais uma opção, como a opção mais aceita socioculturalmente, sem nunca desrespeitar o vernáculo do aluno. A gramática normativa, entendendo aqui como normativa a gramática que orienta no sentido de como usar a língua, deve ser ensinada, sim, mas sempre deixando bem claro que ela representa uma opção de uso. (192)
A variação linguística em sala de aula
A partir da variação linguística é possível transformar em objeto de estudo todos os textos produzidos pelos alunos, de qualquer série, orais ou escritos. (194)
Para as séries iniciais do ensino fundamental:
Trabalhar com gravações de textos produzidos oralmente, podendo ser tanto produções dos próprios alunos como de terceiros,objetivando a verificação das diferenças entre os sons produzidos e a escrita oficial, o que pode ser comparado a partir de uma transcrição fiel do que foi ouvido com a grafia padrão.
Produzir entrevistas, gravadas, com familiares;
Fazer um levantamento de variedades regionais, a partir de análises de filmes, programas de entrevistas, novelas etc. (195)
A partir do conhecimento da diversidade linguística de nossa língua, os alunos podem entender as diferenças significativas entre as variações e entender, acima de tudo, que nenhuma é melhor que a outra, que nenhuma é ruim, que nenhuma dever ser ridicularizada por ninguém, que eles não podem ser discriminados, discriminar, ser vítimas ou algozes, a partir de preconceitos linguísticos. (195) 
O professor deve levar o aluno a ter contato com as mais diversas situações do cotidiano: cartas, bilhetes, e-mails, relatórios, dissertações, textos de opinião, informativos, de humor, solicitação de estágio, de emprego etc. (196)
Nas séries iniciais
Nossos alunos possivelmente já conhecem gêneros distintos de fala. Podemos começar nossas aulas a partir desse ponto, que é comum a todos. Algumas perguntas podem nortear nossa intenção:
Como devemos falar com nossos pais?
Da mesma maneira que com nossos coleguinhas?
E com o professor?
Há diferenças na minha fala quando eu converso com uma pessoa mais velha e uma da minha idade? (197)
A partir das respostas, direcionamos nossa aula no sentido de mostra-lhes que não falamos da mesma maneira com todas as pessoas em todos os lugares. (197)
Ortografia
Na escrita, no entanto, o erro representa uma transgressão à convenção ortográfica vigente, que por sua vez, é regida por leis. (198)
Dominar a escrita é um processo lento, requer paciência e é uma atribuição pessoal: é preciso que o aluno queira se adequar. (198) 
Abrindo caminhos
Deve ele (professor) ou não manter sempre um estilo monitorado em sala de aula? 
É claro que deve, senão, quem é quem vai nos ensinar a falar certo?
Às vezes ele pode cuidar menos, quando estiver apenas conversando com os alunos.
Ele pode variar entre o formal e o informal, de acordo com o assunto. (200)
E depois? O que pode ser feito?
Quaisquer variações das que vimos nesta obra ou outras podem ser observadas, por exemplo, a partir de programas de televisão, de rádio, de arquivos baixados pela internet ou, ainda, como já sugerido, a partir de análises de falas da comunidades dos alunos. (202)
Podemos analisar com eles como estão ocorrendo, por exemplo:
A representação do tempo futuro;
O preenchimento do sujeito pronominal;
O uso do nós;
O uso do a gente;
O uso do nós x a gente;
O uso do pronome tu (dependendo da região),
De tu x você ou apenas do você;
O uso de cê, por você;
O uso de gírias;
O uso de expressões típicas da idade ou da região;
A monotongação...
Análise de filmes
Análise de músicas
A literatura como fonte de investigação sociolinguística

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