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2 Princípio Variacional Muitos problemas da natureza, aparentemente complicados, podem ser en- tendidos de forma simples. Por exemplo, vamos considerar uma corda bem flexível pendurada na parede pelos dois pontos extremos (Ver Fig.1). Fig.1 Uma corda flexível pendurada. Porque ela fica nesta forma particular? Existe alguma razão pela qual a forma da corda tem que ficar assim? Será que podemos expressar matem- aticamente a forma desta curva? A resposta é sim e pelo menos, a parte da razão é bem simples. Considere uma situação em que uma parte da corda seja ligeiramente levantada ou puxada (Fig.2).No que difere esta configuração da configuração anterior? Obviamente, se retirarmos a força que puxa a corda (indicada pela seta), a corda voltará para a configuração anterior (Fig.1). Isto ocorre devido ao seu peso, ou seja, devido à força gravitacional que atua na corda. Vamos pensar em termos da energia em vez de pensar em termos de forças. Isto porque, já vimos que na Equação de Hamilton na Mec.I, que a quantidade escalar é mais fácil de tratar. Para puxar a corda, deformando-a da sua configuração estável, precisamos deslocar a parte da corda com a força externa. Isto é, a configuração da corda da Fig.2 ganhou um trabalho em relação a da Fig.1. Podemos considerar que a quantidade da energia dada em termos do trabalho feito da força que puxa 8 a corda fica arrumazenada na corda1 como a energia potencial gravitacional. Fig. 2 Assim, podemos concluir que a configuração da Fig.1 deve ter o valor do potencial gravitacional menor que o da Fig.2. Também concluimos que a força gravitacional atua sempre na direção de diminuir o valor do potencial gravitacional do sistema. Isto é sempre verdade pois, é sempre necessário fornecer a energia para levantar um objeto contra seu peso, isto é, a força gravitacional que atua nele. Do fato de que a configuração da Fig.1 é sempre recuperada para qualquer outra deformação da corda, podemos concluir que a configuração da corda na Fig.1 deve corresponder ao menor valor da energia potencial gravitacional dentro de todas as configurações fisicamente permitidas. • Em equilíbrio, a corda assume a configuração cuja energia potencial seja a menor possível. Podemos utilizar o fato acima como a condição de determinar a forma da corda em equilíbrio. Isto é, podemos formular a questão como • Qual é a forma de uma curva que tenha o menor energia possível? Deste modo, a essência do problema é quase similar ao seguinte problema inteiramente diferente, mas mais fácil. “Considere uma corda de complimento l. Qual é o retângulo cercado por esta corda que tem a maior área?” Para resolver um problema como este, é fundamental expressar-lo em termos de linguagem matemática apropriada. O método variacional é muito poderoso para vários problemas da física, não só do ponto de vista prático, 1Mais precisamente, a energia é arrumazenada no campo gravitacional e não é na corda. Mas aqui, não consideramos o campo gravitacional como um componente dinâmica do sistema, atribuimos a carregador da energia gravitacional a corda. 9 mas também do ponto de vista formal como veremos mais adiante. Vamos começar fazendo uma revisão das matérias triviais de cálculo: 2.1 Variação de funções Vamos considerar primeiro o problema de se obter o ponto mínimo (ou máx- imo) de uma função, y = f(x). (1) Seja o ponto x = xm o ponto mínimo (ou máximo). Neste caso, sabemos que o mínimo (ou máximo) é dado pelo ponto onde a derivada é nula, df dx ¯¯¯¯ x=xm = 0. (2) Isto significa que a variação de y em torno do ponto x = xm é nula até a primeira ordem2 em δx, δy|x=xm ≡ f(xm + δx)− f (xm) = df dx ¯¯¯¯ x=xm δx+O(δx2)→ 0. (3) Ou seja, a Eq.(2) é equivalente a dizer que δy|x=xm = 0 (4) para qualquer variação infinitesimal δx. Isto é, δy|x=xm = 0 para ∀δx até primeira ordem em δx⇐⇒ df dx ¯¯¯¯ x=xm = 0. (5) 2Já sabemos a expansão de Taylor de uma função em torno de um valor de x = x0: f(x) = f(x0) + f 0(x0)δx+ 1 2 f 00(x0)δx2 + · · · 1n!f (n)(x0)δxn + · · · = (1 + δx d dx + · · · 1 n! δxn dn dxn + · · · )f(x) ¯¯¯¯ x=x0 = ³ eδx d dx ´ f(x) ¯¯¯ x=x0 onde δx = x − x0. Daqui por diante consideraremos apenas variações de uma função ou funcional até a primeira ordem, exceto quando for especificado diferentemente. 10 A Eq.(2) constitui uma equação que determina quem é xm, quando f(x) for especificada. Por exemplo, seja f(x) = x2 + 2x+ 5, (6) então, df dx = 2x+ 2 (7) portanto, xm deve satisfazer a equação, 2xm + 2 = 0. (8) Daí, temos xm = −1. De fato, da Eq.(6), temos f(x) = (x+ 1)2 + 4, (9) que obviamente tem o mínimo em x = −1. 2.2 Função de multi-variãveis Na Mecânica I, vimos que para uma função de duas variáveis, y = f(x1, x2), (10) podemor generalizar a série de Taylor como f(x1, x2) = f(x10, x20) + δx1 ∂f ∂x1 + δx2 ∂f ∂x2 + · · · (11) onde δx1 = x1 − x10 e δx2 = x2 − x20. Num desenvolvimento matemático, é essencial utilizar as notações sim- plificadores. Porisso, vamos introduzir a notação vetorial. Consideramos o par de variáveis, (x1, x2) como um par de coordenadas no espaço bidimensional. Então, podemos associar o par ao vetor posição, r = µ x1 x2 ¶ . (12) 11 Assim, a função de duas variáveis pode ser considerada como a função de posição, f(x1, x2) = f(r). Da mesma forma, podemos introduzir o vetor gradiente ∇f da função f por ∇f = µ ∂f /∂x1 ∂f /∂x2 ¶ = µ ∂ /∂x1 ∂ /∂x2 ¶ f (13) Podemos considerar o simbolo ∇ como um operador diferencial que tem componentes, como um vetor, ∇ = µ ∂ /∂x1 ∂ /∂x2 ¶ . (14) Com a notação vetorial, a quantidade entre [ ] na Eq.(11) pode ser escrita na forma compacta, δx1 ∂ ∂x1 + δx2 ∂ ∂x2 = (δx1 δx2) µ ∂ /∂x1 ∂ /∂x2 ¶ = δx ·∇ (15) onde3 δx ≡ µ δx1 δx2 ¶ e utilizamos o produto escalar entre dois vetores de n componentes (no caso acima n = 2), a ·b = (a1 a2 · · · · an) ⎛ ⎜⎜⎜⎝ b1 b2 ... bn ⎞ ⎟⎟⎟⎠ = a Tb = a1b1 + a2b2 + · · · anbn. (16) Assim, podemos expressar a expansão de Taylor de uma função de duas varáveis até a primeira ordem em δr por f(r + δr) = f(r) + δr ·∇f(r) (17) = (1 + δr ·∇) f(r) (18) 3Note que δx ·∇ não é igual a ∇ · δx . 12 A vantagem do uso da notação vetorial é que nesta forma, o resultado não depende de número de variáveis. Quando a função é de n variáveis, a fórmula acima continua valendo se os vetores r e δr têm n componentes, r = ⎛ ⎜⎜⎜⎝ x1 x2 ... xn ⎞ ⎟⎟⎟⎠ , δr = ⎛ ⎜⎜⎜⎝ δx1 δx2 ... δxn ⎞ ⎟⎟⎟⎠ , e o operador ∇ também tem n componentes; ∇ = ⎛ ⎜⎜⎜⎝ ∂/∂x1 ∂/∂x2 ... ∂/∂xn ⎞ ⎟⎟⎟⎠ . A afirmação acima pode ser confirmado para n = 3 diretamente e a extensão para n geral parece ser natural. Mas devemos provar isto. Isto é, queremos provar que uma função de n variáveis, a variação da função em até primeira ordem de suas variáveis fica escrita como δf ≡ f(r + δr)− f(r) = nX i=1 δxi µ ∂f ∂xi ¶ . (19) Para mostrar isto, utilizamos a indução matemática. 1. Para n = 2, já mostrada que vale f(r + δr) = f(r) + 2X i=1 δxi µ ∂f ∂xi ¶ . para r = µ x1 x2 ¶ . 2. Suponhamos que, para um número inteiro n, vale f(r + δr) = f(r) + nX i=1 δxi µ ∂f ∂xi ¶ . (20) 13 para r = ⎛ ⎜⎜⎜⎝ x1 x2 ... xn ⎞ ⎟⎟⎟⎠ . Agora consideramos a função f acima depende não só de r = (x1, x2, ..., xn) e uma outra variável xn+1, f(r) = f (r, xn+1) . Pela suposição, temos f(r + δr, xn+1) = f(r, xn+1) + nX i=1 δxi µ ∂f (r, xn+1) ∂xi ¶ . Se xn+1 desloca para xn+1 + δxn+1, temos f(r+δr, xn+1+δxn+1) = f(r, xn+1+δxn+1)+ nX i=1 δxi µ ∂f (r, xn+1 + δxn+1)∂xi ¶ Podemos considerar f(r, xn+1 + δxn+1) como função de xn+1, e ex- pandindo pela série de Taylor, temos f(r+δr, xn+1+δxn+1) = f(r, xn+1)+δxn+1 ∂f (r, xn+1) ∂xn+1 + nX i=1 δxi µ ∂f (r, xn+1) ∂xi ¶ (21) até a primeira ordem em δxn+1 e δr. Definindo o vetor de n+ 1 com- ponentes, ξ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎝ x1 x2 ... xn xn+1 ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎠ , podemos escrever a Eq.(21) como f ³ ξ + δξ ´ = f ³ ξ ´ + δξ · ∇f ³ ξ ´ , provando que a Eq.(20) vale para n→ n+ 1. 14 3. De item 1 e item 2, provamos pela indução que a Eq.(20) é válida para qualquer número inteiro positivo n. Assim, a forma Eq.(17) vale para qualquer dimensão do vetor r. 2.3 Ordens superior Uma vez provada nesta forma até a primeira ordem, podemos obter os termos da expansão de Taylor a ordem mais alta. Para isto, notamos que f (r + 2δr) = f (r + δr + δr) = (1 + δr ·∇) f (r + δr) = (1 + δr ·∇) (1 + δr ·∇) f (r) = (1 + δr ·∇)2 f (r) , e podemos mostrar analogamente que f (r +N δr) = (1 + δr ·∇)N f (r) . Denotando N δr = a, temos f (r + a) = µ 1 + 1 N a ·∇ ¶N f (r) . (22) Isto só vale que o vetor de deslocamento δr é infinitesimal e, portanto, a = Nδr deve ser também infinitesimal, quando N é finito. Entretanto, podemos escolher uma finito masN infinito, δr se torna infinitesimal. Assim, tomando N →∞ na Eq.(22), a pode ser um vetor finito. Assim, para um deslocamento finito a do vetor r, temos f (r + a) = lim N→∞ µ 1 + 1 N a ·∇ ¶N f (r) . (23) 15 Já que lim N→∞ ³ 1 + x N ´N = eX , Podemos escrever formalmente f (r + a) = ea·∇f (r) , onde ea·∇ é definido por ea·∇ = ∞X n=0 1 n! (a ·∇)n = 1 + a ·∇+ 1 2! (a ·∇)2 + 1 3! (a ·∇)3 + · · · Finalmente, a expansão de Taylor para uma função de muitas variáveis fica f (r + a) = f (r) +a ·∇f (r) + 1 2! (a ·∇)2 f (r) + 1 3! (a ·∇)3 f (r) + · · · (24) Exercício: Mostre que o segundo termo na Eq.(24) pode ser expresso na forma matricial, 1 2 (a ·∇)2 f(r) = 1 2 aT ·H · a, (25) onde H = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎝ ∂2f ∂x21 ∂2f ∂x1∂x2 . . . ∂ 2f ∂x1∂xn ∂2f ∂x1∂x2 ∂2f ∂x22 ... . . . ∂2f ∂x1∂xn ∂2f ∂x2n ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎠ . (26) Se a função f é uma escalar em relação a transformação de variáveis, r→ r0 = Ar, mostre que H é um tensor de rank 2 sob esta transformação. A matriz H acima é chamado de Hessiana da função f . A expansão de Taylor de uma função de n variáveis fica, f(r + δr) = f(r) + nX i=1 δxi µ ∂f ∂xi ¶ + 1 2! nX i=1 nX j=1 Hijδxiδxj + · · · (27) 16 Em resumo, a expansão de Taylor de uma função é para agrupar a dependên- cia da variação da função em mesmas potências de variações {δx0is} nos var- iáveis. O primeiro termo é de ordem 0, o segundo é linearmente depende em {δx0is}, o terceiro quadraticamente, e assim por diante. Exercício: A expansão de Taylor até terceira ordem ficaria f(r + δr) = f(r) + nX i=1 δxi µ ∂f ∂xi ¶ + 1 2! nX i=1 nX j=1 Hijδxiδxj+ + 1 3! X i X j X k Tijkδxiδxjδxk + · · · Determine Tijk. Mostre que {Tijk} é um tensor de rank 3 quando f (r) é um escalar em relação a transformação de coordenadas, r→ r0 = Ar. 2.4 Funcional Um funcional é uma função de uma função4. Por exemplo, a área entre uma função, y = f(x) e o eixo horizontal X no intervalo [a, b] da variável x é dada pela integral A = Z b a f(x)dx. (28) A é um funcional de f . Isto é, o valor de A depende da forma de f . Escreve- mos então A = A [f(x)]. Como sabemos, a integral acima é o limite n→∞ da soma, A = lim n→∞ nX i=1 ∆x fi (29) = ∆x {f1 + f2 + · · · fn + · · · } , (30) onde fi = f(xi), 4Matematicamente falando, um funcional é mapeamento de um epaço vetorial ao corpo, ou seja, o conjunto de números. 17 ∆x = b− a n , e xi = a+ (i− 1)∆x. Desta forma, podemos considerarA como uma função (neste caso, é linear) de {fi, i = 1, ...,∞}. Em geral, um funcional é nada mais do que uma função de infinitas (contínua) variáveis. Por exemplo, a energia potencial gravitacional da corda mencionada no início desta sessão é uma quantidade que depende da forma da corda. Assim, a energia potencial da corda é um funcional da forma da curva. Devemos calcular a energia potencial da corda para uma dada configuração. 2.5 Energia Potencial da Corda Pendurada como Fun- cional da Forma Após estabelecido certos conceitos sobre funcional, vamos voltar o problema da corda pendurada. Para calcular a energia potencial da corda, precisamos especificar a natureza da corda. Por simplicidade, consideramos que a corda é totalmente flexível. Seja a forma da corda expressa por uma função, y = f(x), xa ≤ x ≤ xb. (31) Aqui, a forma da função f(x) é o nosso objetivo de saber e, portanto, ainda não está especificada. Mas independentemente da forma específica, podemos expressar a energia potencial da corda como funcional da f . Vamos dividir o intervalo [xa, xb] de x em n tirinhas iguais (ver a figura abaixo). Cada tirinha tem a largura ∆x = (xb − xa) /n. xi xi+1 Fig. 3 18 A energia potencial total é a soma das energias potenciais dos pequenos segmentos, [xi, xi+1], U = nX i=1 ∆U[i,i+1]. Para n suficientemente grande, podemos considerar que a energia potencial gravitacional do segmento [i, i+ 1] fica ∆U[i,i+1] = σ g∆l y¯[i,i+1] onde σ é a densidade linear de massa da corda, ∆l é o comprimento do segmento ( σ∆l = a massa do segmento), g é a constante da acceralação gravitacional e y¯[i,i+1] é o valor médio da posição vertical do segmento (essen- cialmente (yi + yi+1) /2). Podemos ainda considerar que o cada segmento da corda é considerada como uma reta. O comprimento da corda dentro do segmento é dl[i,i+1] = p (xi+1 − xi)2 + (yi+1 − yi)2 = |xi+1 − xi| s 1 + µ yi+1 − yi xi+1 − xi ¶2 = ∆x s 1 + µ dy dx ¶2 = ∆x s 1 + µ df dx ¶2 . Assim, a energia potencial total da corda fica, U = lim n→∞ nX i=1 ∆U[i,i+1] = gσ∆x lim n→∞ y¯[i,i+1] s 1 + µ dy dx ¶2 = gσ Z xb xa dx f(x) s 1 + µ df dx ¶2 . (32) Como podemos ver, a energia potencial da corda foi expressa como um fun- cional da forma da corda y = f(x), isto é, U = U [f(x)]. Só que, neste caso, o valor da energia não só depende de f mas também depende da sua derivada, df/dx. De qualquer modo, a derivada é a função da forma do f e, então, U é uma função da forma da curva. Uma vez sabemos a função f(x), podemos obter o valor do U . Quando mudamos a forma de f , pode mudar o valor do U . 19 A consideração anterior indica que a forma da função f (x) da corda em equilíbrio deve ser aquela forma que a energia potencial U seja o menor possível entre todas as formas possíveis. Esta condição deve determinar a forma da função f . No caso de mínimo de uma função, utilizamos a condição de que a derivada anula no ponto. No caso funcional, devemos introduzir o analogo da derivada, o que é chamado de derivada funcional. 3 Derivada Funcional - Expansão de Taylor para um Funcional Consideramos um funcional I de uma função f = f(x). I = I [f(x)] . (33) Note que o simbolo-x na expressão acima usado para expressar a variável da função f é irrelevante no caso de um funcional. Ou seja, podemos escrever igualmente I = I [f(t)] , (34) ou I = I [f(z)] , (35) etc. Isto porque, o valor do funcional depende da forma da função f , e não importa a variável que expressar sua forma. Mais especificamente, vamos considerar um funcional da forma, I = I [f(x)] = Z b a F (f(x))dx (36) onde F é uma função qualquer. Por exemplo, I = Z b a ef(x)dx, (37) ou I = Z b a 1 f(x)2 + 1 dx, (38) etc. Vejamoslogo que podemos escrever também como I = I [f(t)] = Z b a F (f(t))dt. (39) 20 Assim, é usual omitimos a variável da função dentro de um funcional e es- crevemos apenas I = I [f ] . Aqui, é importante o uso do simbolo [ ] para indicar que I é um funcional. Por outro lado, utilizamos o símbolo ( ) para expressar a função, por ex- emplo, L = L (f) . Neste caso, L é uma função de só um valor de f no ponto específica da variável do f . Por exemplo, L (f) = sin (f (x)) e portanto, L depende de x. Mas o funcional, I [f ] = Z dx sin (f (x)) . já não depende de x, mas depende da forma, ou seja, depende de f para todos os valores de x. Já que podemos considerar um funcional como o análogo de uma função de infinitas variáveis (contínuas), podemos também perguntar se existe o análogo da expansão de Taylor para um funcional. A resposta é sim. Para isto, consideremos uma pequena variação na função f por f → f + δf onde δf é uma função com amplitide infenitesimal. A variação do funcional é, então, definida por δI ≡ I [f + δf ]− I [f ] . (40) Se o funcional é suave em f , então, em analogia a Eq.(27), devemos poder escrever esta variação por δI = Z dx δf(x)C (x) + 1 2! Z dx Z dy H(x, y)δf(x)δf(y) + · · · (41) Esta é o análogo da expansão de Taylor de uma função F de n variáveis {fα ;α = 1, ..., n}, δF (f1, f2, ..., fn) = nX α=1 δfaCα + 1 2! nX α=1 nX β=1 Hαβδfαδβ + · · · . 21 Vemos que a quantidade C (x) corresponde a coeficiente Cα e a variável x está fazendo o papel do indice α. Já que Cα = ∂F ∂fα , é razoável escrever C (x) ≡ δI δf(x) e é chamada de derivada funcional (a primeira ordem). Note que C (x) é uma função de x, como a coeficiente Cα possui o indice α. Analogamente, H (x, y) corresponde a Hessiana Hαβ, e denotamos por H (x, y) ≡ δ 2I δf(x)δf(y) é a derivada funcional de segunda ordem. Ela é uma função de duas variáveis, x e y. Exemplo: A derivada funcional de funcional do tipo I[f ] = Z b a dx F (f(x)). (42) Neste caso, temos δI = I [f + δf ]− I [f ] = Z b a dx F (f(x) + δf(x))− Z b a dx F (f(x)) = Z b a dx {F (f(x) + δf(x))− F (f(x))} A quantidade F (f(x) + δf(x)) − F (f(x)) para dado valor de x fixo pode ser considerada como F (f + δf)− F (f) = ∂F ∂f δf + 1 2 ∂2F ∂f2 (δf)2 + · · · , (43) portanto, δI = Z b a dx ½ ∂F ∂f (x)δf(x) + 1 2 ∂2F ∂f2 (x) (δf(x))2 + · · · ¾ . (44) 22 Comparando com a definição de derivadas funcionais, temos δI δf(x) = ∂F ∂f (x), (45) δ2I δf(x)δf(y) = ∂2F ∂f2 (x)δ(x− y), (46) onde δ(x− y) é a função δ de Dirac. Exercício: Calcule as derivadas funcionais (até segunda ordem) dos fun- cionais, (28), (37) e (38). 4 Ponto estacionário de um funcional Na física, surgem frequentemente questões para descobrir a forma de função que minimiza (maximiza) um dado funcional. No caso de funções, o ponto máximo ou mínimo de uma função é determinado pela condição de a derivada da função no ponto seja nula. No caso de funcional, o máximo ou mínimo de um funcional é dado pela uma forma da função para qual a derivada funcional se anula. Vamos ver este ponto. Seja a forma da função que dá o valor mínimo (ou máximo) fm. Então, por analogia com o argumento no caso de função de muitas variáveis, a variação de primeira ordem do funcional em tôrno desta função deve ser nula, ou seja, δI = I [fm + δf ]− I [fm] = 0, ∀δf (47) onde δf é uma função arbitrária cuja amplitude é infinitesimal para todos os valores do seu argumento. Por outro lado, em termos de derivada funcional, temos δI = Z dx δf(x) δI δf(x) ¯¯¯¯ f(x)=fm(x) , (48) portanto, temos Z dx δf(x) δI δf(x) ¯¯¯¯ f(x)=fm(x) = 0, ∀δf (x) . (49) Aqui, a condição, ∀δf (x) (para qualquer δf arbitrária) é fundamental. 23 Exercício: Prove que se Z dx A (x)B (x) = 0, para qualquer A (x) arbitrária, então temos que ter B (x) ≡ 0. Usando o resultado do execício acima, da Eq.(49), devemos δI δf(x) ¯¯¯¯ f(x)=fm(x) = 0, (50) para todos os valores de x. Esta equação impõe uma condição para a função fm(x). Por exemplo, seja I [f ] = Z b a dx © f(x)2 + 2f(x) ª . (51) Neste caso, temos δI δf(x) = d df © f 2 + 2f ª (x) = 2f(x) + 2. (52) Assim, a função que estacionariza o funcional (51) deve satisfazer 2fm(x) + 2 = 0, ou fm(x) = −1 = const. (53) isto é, a função fm deve ser uma constante, com valor −1. Exercício: Mostre que este tipo de resultado, fm(x) = const. sempre ocorre para qualquer funcional do tipo (36). Exercício: Discute estacionaridade dos funcionais, (28), (37) e (38). Para um funcional mais geral, a condição (50) fornece uma condição não trivial como veremos a seguir. 24 5 Variação de um funcional que depende de derivada - Equação de Euler-Lagrange Como calcular a derivada funcional de um funcional mais generico? Por exemplo, para o funcional tipo Eq.(32) não se aplica a fórmula, Eq.(45) ou Eq.(46). Infelizmente não existe a fórmula geral para escrever a derivada funcional diretamente para um dado funcional. Devemos aplicar a definição da derivada funcional caso por caso. Mas existe uma classe de funcionais que aparecem frequentemente nos problemas de física, para a qual, podemos obter a fórmula para derivada funcional. Vamos considerar um funcional com a forma5, I[f ] = Z xb xa L µ f, df dx ¶ dx (54) onde L = L(f, g) é uma função dada de duas variáveis f e g. Calculamos a variação do funcional associada a variação da função f , f → f + δf. (55) A variação de I fica δI ≡ I[f + δf ]− I[f ] = Z xb xa dx ½ L µ f + δf, d(f + δf) dx ¶ − L µ f, df dx ¶¾ . (56) Utilizando a relação, d(f + δf) dx = df dx + d(δf) dx , e expandindo a função L nas suas variáveis, o primeiro termo da Eq.(56) fica, L µ f + δf, d(f + δf) dx ¶ = L µ f, df dx ¶ + δf ∂L ∂f + d(δf) dx ∂L ∂ ¡ df dx ¢ + · · · , (57) e, consequentemente, temos δI = Z xb xa dx ( δf ∂L ∂f + d(δf) dx ∂L ∂ ¡ df dx ¢) . (58) 5Muitos problemas na Mecânica se reduzem a este tipo de funcional. Na Mecânica, I é referido como ação e L é chamado de função Lagrangeana. 25 Fazendo a integração por partes no segundo termo, a variação do I até primeira ordem em δf fica δI = Z xb xa dxδf(x) ( ∂L ∂f − d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!)+ "δf(x) ∂L ∂ ¡ df dx ¢#¯¯¯¯¯ x=xb x=xa , (59) É bastante comum que as variações de f sejam feitas utilizando-se a condição de que δf = 0 em x = xa e x = xb, δf(xa) = δf(xb) = 0. (60) Neste caso, o segundo termo da Eq.(59) anula e temos δI = Z xb xa dxδf(x) ( ∂L ∂f − d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!) . (61) e, portanto, pela definição, a derivada funcional de primeira ordem fica, δI δf (x) = ∂L ∂f − d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢! . (62) 6 Equação de Euler-Lagrange: Ponto esta- cionário de um funcional Se fm(x) é a função que corresponde ao máximo (ou mínimo) de I, então devemos ter δI = Z b a dxδf(x) ( ∂L ∂f − d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!) f=fm ≡ 0, (63) para qualquer variação δf . Assim, concluímos que a função fm(x) tem que satisfazer à equação diferencial,( ∂L ∂f − d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!) f=fm = 0. (64) Esta é chamada de Equação de Euler-Lagrange para o funcional (54). Em geral, a Equação de Euler-Lagrange resulta numa equação diferencial de se- gunda ordem. 26 Exercício: Considere uma função I({fi}) de n variáveis, {fi} = {f1, · · · , fn} , tipo I = ∆x X i L(fi, 1 ∆x (fi − fi−1)), (65) onde ∆x = (xb − xa) /n e fi = f(xi) com xi = xa + (i− 1)∆x. Obvia- mente, no limite de n→∞, (65) se recupera(54). 1. Calcule a derivada parcial (não funcional), ∂L ∂fi 2. Tomando o limite n → ∞, verifique que a expressão acima coin- cide com a derivada funcional, a menos de um fator, 1/∆x. Exercício: Obenha a equação de Euler-Lagrange das seguintes funcionais e interprete a equação resultante. I = Z dt L µ x, dx dt ¶ , onde 1. L = 1 2 m µ dx dt ¶2 − V (x) , 2. L = −m s 1− 1 c2 µ dx dt ¶2 . Exercício: O que acontece para a equação de Euler-Lagrange quando na Eq.(54) a Lagrangiana L contem a dependência explicita em t, ou seja, I[f ] = Z xb xa L µ f, df dx ; t ¶ dx ? 6.1 Exemplo: Mínimo da Energia Potencial da Corda - I (Sem Vínculo) Vamos aplicar a Equação de Euler-Lagrange (64) para a energia potencial da corda pendurada. Note que o esquema da subseção anterior corresponde 27 exatamente ao processo de procurar a configuração da corda que tenha a menor energia potencial gravitacional. O fato de que os dois extremos da corda são fixos corresponde a condição de contorno Eq.(60). Identificamos L = σ f s 1 + µ df dx ¶2 , (66) portanto, ∂L ∂f = σ s 1 + µ df dx ¶2 , (67) e ∂L ∂ ¡ df dx ¢ = σf 1q 1 + ¡ df dx ¢2 dfdx. (68) Assim, pela Equação de Euler-Lagrange, a função y = fm(x) deve satisfazer a equação diferencial, d dx ⎛ ⎝ fq 1 + ¡ df dx ¢2 dfdx ⎞ ⎠ = s 1 + µ df dx ¶2 . (69) Esta constitui uma equação diferencial de segunda ordem para f (x). À primeira vista, parece ser muito complicada para resolver. Mas, neste caso, uma pequena mudança de variável ajuda para simplificar a equação. Lem- bramos que o pequeno elemento de comprimento da corda dl pode ser ex- presso em termos de f por dl = p dx2 + dy2 = dx s 1 + µ df dx ¶2 . (70) A integral, l(x) = Z x xa dx s 1 + µ df dx ¶2 (71) mede o comprimento da corda medido do ponto x = xa até x = x. Podemos inverter (em princípio) esta relação l = l(x) 28 e utilizar l como a variável em vez de x, x = x(l). Consequentemente, consideramos a função f(x) como a função de l. Neste caso, temos df(l) dl = df dx dx dl = 1q 1 + ¡ df dx ¢2 dfdx. Assim, trocando a variável independente x para l, a Eq.(69) pode ser re- escrita d dl µ f df dl ¶ = 1. (72) Esta equação diferencial é fácil de ser integrada. A primeira integral em l fica f df dl = l + C, (73) Podemos escolher, sem perder a generalidade, que a coordenada y seja 0 para x = xa, ou para l = 0, f(l = 0) = 0. (74) Com isto, temos C = 0. A segunda integral fica 1 2 f 2 = 1 2 l2 + C 0. (75) Novamente, com a condição de f(0) = 0, temos C 0 = 0. Assim, concluimos que f(l) = ±l. (76) Para expressar a função em termos de variável x, derivamos dois lados desta equação em relação a x e temos df dx = ± dl dx = ± s 1 + µ df dx ¶2 (77) onde na segunda igualdade, utilizamos a Eq.(70). A equação (77) é obvia- mente inconsistente, a menos que¯¯¯¯ df dx ¯¯¯¯ →∞ ! (78) 29 Mas, se a Eq(78) seja verdadeira, então a forma da corda seria uma linha vertical!! 6 O que significa isto? Será que algo errado no raciocínio? Na verdade, a resposta (78) é correta dentro da pergunta formulada. A pergunta foi, “Qual é a configuração da corda que minimiza a energia po- tencial?” Nesta pergunta, não foi indicado nenhum momento que qual é o comprimento da corda. Assim, na verdade, a pergunta foi, “Qual é a con- figuração da corda que minimiza a energia potencial independentemente do comprimento da corda?” Ou seja, foi permitido implicitamente que a corda possa esticar livremente. Neste caso, obviamente, a configuração que tem menor energia é tal que a corda estica indefinidamente, pendurada dos pon- tos da extremidade (ver Fig.4). Fig. 4 Assim, a resposta (78) estava correta dentro da pergunta formulada!. O que não era correto era a pergunta em si. É interessante notar que a matemática encontra a solução que se encaixa na pergunta como foi formu- lada. Agora, se quisermos a resposta para o problema inicialmente proposto, devemos reformular a pergunta. A pergunta mais precisa é, • “Qual é a configuração de uma corda, de dado comprimento, digamos l0, pendurada nos dois pontos, que tenha a menor energia potencial gravitacional? 6A mesma conclusão pode ser obtida diretamente da Eq.(76), pois se o valor da co- ordenada vertical y do cada ponto da corda fica identica ao comprimento da corda até o ponto, a corda deve estar na direção vertical. 30 Desta forma, a função y = f(x) que representa a forma da corda não será mais tão arbitrária como antes. Da Eq.(71), o comprimento da corda total deve ser igual a l0, Z xb xa dx s 1 + µ df dx ¶2 = l0 = const, (79) o que não deve ser satisfeito pela fução f (x) tão artibrária. Ou seja, a Eq.(79) constitui um vínculo para o problema de princípio variacional. 7 Vínculo e Método de Constante Multipli- cadora de Lagrange Frequentemente temos que incluir alguns vínculos entre variáveis para de- terminar o mínimo de uma quantidade. Por exemplo, vamos considerar o problema de encontrar o retângulo que tem o maior área possível, formado de um fio de comprimento 2a. A área desta retângulo, com largura x e altura y é S = S(x, y) = xy. (80) Queremos maximizar esta área. Mas aqui x e y não pode ser arbitrária, mas têm que satisfazer a condição x+ y = a. (81) Se o vínculo for simples como este, poderíamos eliminar uma das variáveis, x ou y da Eq.(81) e procurar o mínimo de S. Entretanto, nos problemas mais geral, o vínculo poderia ter uma forma mais complicada do que a Eq.(81) e a eliminação de uma das variáveis pode se tornar complicada ou até não é possível fazer analiticamente. Um método muito eficiente e, portanto, é frequentemente usado é o método da constante multiplicadora de Lagrange. Vamos ver no caso acima mais simples. Escrevendo o vínculo (81) na forma φ(x, y) = 0, (82) onde obviamente φ(x, y) = x+ y − a 31 as variações de x e y devem satisfazer δφ = 0, (83) onde, como já sabemos, δφ = ∂φ ∂x δx+ ∂φ ∂y δy = δx ·∇φ. (84) Isto é, temos que δx ·∇φ = 0. (85) Esta equação mostra que o vetor de variação δx tem que ser ortogonal ao vetor ∇φ. Isto significa que as variações compatíveis com o vínculo (82) têm que estar no plano perpendicular ao vetor ∇φ. Por outro lado, em torno do ponto máximo da área, sua variação é nula para qualquer δr que satisfaça à Eq.(83), δS = 0, (86) onde novamente, δS = ∂S ∂x δx+ ∂S ∂y δy = δx ·∇S, (87) ou seja, δx ·∇S = 0. (88) Quer dizer que, o vetor ∇S tem que ser perperndicular ao vetor arbitrário δx no plano perperndicular ao ∇φ. Isto é, o vetor ∇S é perpendicular ao plano. Isto implica que os dois vetores, ∇φ e ∇S são paralelos, ∇S = λ∇φ, (89) onde λ é uma constante arbitrária. Por outro lado, se a Eq.(89) é válida, a equação δr · (∇S − λ∇φ) = δr ·∇(S − λφ) = 0, (90) é sempre verdade, para qualquer δr, mesmo fora do plano perpendicular ao ao ∇φ. Mas, neste caso, a Eq.(90) é equivalente a dizer que δ(S − λφ) = 0, (91) 32 para qualquer δr, agora sem nenhum vínculo. Isto é, o problema de procurar o máximo da função S(x, y) sob o vínculo dado pela Eq.(82) é equivalente a procurar o máximo da função, S − λφ, sem nenhum vínculo, onde λ é uma constante. O valor de λ deve ser de- terminado utilizando a equação de vínculo posteriormente. Este é o método da constante multiplicadora de Lagrange o qual incorpora o vínculo num problema de princípio variacional. Vejamos um exemplo de como funciona. Vamos aplicar o método para o caso de procurarmos o máximo da área de rectângulo com circuferência fixo. Neste caso, S = xy, φ = x+ y − a, e, portanto, deve existir um constante λ tal queδ[xy − λ(x+ y − a)] = 0 para qualquer δx e δy. Tomando independentemente as derivadas em relação a x e y, temos y − λ = 0, x− λ = 0. Daí, eliminando λ e utilizando o vínculo, temos os valores de x e y que dão o máximo de S como x = y = a/2. O valor máximo de S é, portanto, (a/2)2. Exercício: Qual é a forma de um paralelepipido que tem o maior volume, sendo a área de superfície constante? Exercício: Duas variáveis, x e y satisfazem a relação, 2x2 + y2 = 1. Determina os valores de x e y que máximize a função, z = x2 + y2 + 2(x+ y). 33 O método de constante multiplicadora de Lagrange pode ser fácilmente generalizado para casos de muitos variáveis, inclusive existam mais do que um vínculo entre as variáveis. Sejam φ1(x1, x2, ..., xn) = 0, ... φm(x1, x2, ..., xn) = 0, m(< n) vínculos entre as variáveis, x1, ..., xn. Um máximo (ou mínimo) local de uma função f (x1, ..., xn) é dado pela condição δF = δ " f − mX i=1 λiφi # = 0, (92) para qualquer {δxi}. Exercício: Demonstre a Eq.(92). Exercício: Tres variáveis, x, y e z satisfazem as relações, 2x2 + y2 = 1, x+ y + z = 1. Encontre o máximo da função, F = x2 + y2 + z2 + 2x+ 3y + z. 8 Vínculo Funcional No problema de procular máximo (mínimo) de um funcional, quando existir alguns vínculos para a função, podemos trata-los em termos do método de constantes multiplicadoras de Lagrange. Seja I = I[f ] um funcional que deve ser maximizado (minimizado) e Φ[f ] = 0 o vínculo para a função f , dado na forma funcional. Neste caso, a função f deve ser obtida pela variação, δ[I − λΦ] = 0, (93) onde λ é uma constante. Em termos da derivada funcional, podemos expres- sar esta condição por δI δf − δ (λΦ) δf = 0. 34 A justificativa deste método é completamente análoga ao caso das funções. Vamos aplicar o método para resolver o problema da corda pendurada. Neste caso, I = σg Z xb xa dx f(x) s 1 + µ df dx ¶2 , (94) e Φ = Z xb xa dx s 1 + µ df dx ¶2 = l0 (95) Assim, o princípio variacional fica, δ[I − λΦ] = 0, (96) ou, podemos escrever na forma, δ Z xb xa dx L µ f, df dx ¶ = 0, (97) onde, agora, L = σg (f − ζ) s 1 + µ df dx ¶2 , (98) com ζ = λ/σg. Desta forma, poder aplicar a equação de Euler-Lagrange e obtemos, d dx ⎛ ⎝(f − ζ) 1q 1 + ¡ df dx ¢2 dfdx ⎞ ⎠ = s 1 + µ df dx ¶2 . (99) Damesma forma que foi feita anteriormente, introduzimos uma nova variável, dl = p dx2 + dy2 = dx s 1 + µ df dx ¶2 . (100) Assim, a Eq.(99) pode ser re-escrita por d dl µ (f − ζ) df dl ¶ = 1. (101) A primeira integral em l fica (f − ζ) df dl = l + C1, (102) 35 onde C1 é uma constante de integração e a segunda integral fica (f − ζ)2 = (l + C1)2 + C2. (103) (C2 = constante). Ou seja, f − ζ = ± q (l + C1) 2 + C2, (104) Esta é a relação entre a altura do ponto de corda y = f(l) em função do comprimento l medido do ponto x = xa. Para saber a forma da corda, queremos saber a função y = f(l(x)). Para isto, devemos eliminra a variável l da Eq.(104) usando a equação, dl dx = s 1 + µ df dx ¶2 . (105) Tomando a derivada dos dois lados da Eq.(104) em relação a x, temos df dx = ± l + C1q (l + C1) 2 + C2 dl dx (106) = ± q (f − ζ)2 − C2 f − ζ dl dx (107) Substituindo a Eq.(105), temos df dx = ± q (f − ζ)2 − C2 f − ζ s 1 + µ df dx ¶2 . (108) Esta é uma equação algebrica em relação a dfdx . Resolvendo, temos df dx = ± s (f − ζ)2 − C2 C2 , (109) que constitui uma equação diferencial de primeira ordem em relação a f . Temos dfq (f−ζ)2−C2 C2 = dx, 36 e integrando ambos lados, temos f(x) = ± p C2 cosh 1√ C2 (x− x0) + ζ, (110) onde x0 é uma constante de integração. Exercício: Verifique que a Eq.(110) satisfaz a equação (99). Exercício: Esboce a forma de função (110) e discute o significado de con- stantes, x0, ζ e √ C2. Qual dos sinais ± deve ser escolhido como a solução do problema? Note que a solução, Eq.(110) contém 3 constantes incognitas. Entretanto, estas devem ser determinadas pelas condições, ya = f(xa), yb = f(xb), e l0 = Z xb xa dx s 1 + µ df dx ¶2 = p C2 ∙ sinh 1√ C2 (xb − x0)− sinh 1√ C2 (xa − x0) ¸ . Exercício: Expresse x0, √ C2 e ζ em termos de xa, xb, yD e l0 quando dois extreminades da corda tem a mesma altura, yD. Um fato importante para notar é que estas constantes são determinadas puramente as condição geométricas, e não entra nenhuma propriedade física da corda (densidade de massa, σ). Isto é, qualquer corda flexível, indepen- dente da material (seja a corrente de aço, a linha de algodão, etc), desde que tenha mesmo comprimento, terá mesma forma quando pendurada de dois pontos na parede. Isto fato pode ser fácilmente verificado experimental- mente. 37 9 A Primeira Ingegral Uma das vantagens da abordagem variacional é que podemos extrair algumas propriedades da solução do problema do ponto de visat banstante genério, sem resolver a equação diferencial. Como vimos o princípio variacional para um funcional da forma, I = Z xb xa dx L(f, df dx ), (111) resulta a equação de Euler-Lagrange, d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!− ∂L ∂f = 0, (112) que é, em geral, a equação difrencial de segunda ordem para f(x). A solução de uma equação diferencial de segunda ordem contém 2 constantes de inte- gração. No caso da equação de Euler-Lagrange acima, Eq.(112), podemos mostrar que a primeira integral é obtida por H(f, df dx ) ≡ ∂L ∂ ¡ df dx ¢ df dx − L = const. (113) De fato, tomando a derivada desta quantidade, temos dH dx = d dx " ∂L ∂ ¡ df dx ¢ df dx − L # = d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢! df dx + ∂L ∂ ¡ df dx ¢ d2f dx2 − dL dx . (114) Por autro lado, já que L é uma função de f e dfdx , temos dL dx = ∂L ∂f df dx + ∂L ∂ ¡ df dx ¢ d2f dx2 . (115) Substituindo esta expressão em Eq.(114), temos dH dx = d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢! df dx − ∂L ∂f df dx = " d dx à ∂L ∂ ¡ df dx ¢!− ∂L ∂f # df dx (116) 38 Mas a quatidade dentro do chave [ ] acima é exatamente o lado esquerdo da Equação de Euler-Lagrange, Eq.(112). Assim, se a equação de Euler- Lagrange é satisfeita, temos dH dx = 0. Consequentemente, para a solução da equação de Euler-Lagrange, é sempre verdade que ∂L ∂ ¡ df dx ¢ df dx − L = const. (117) Vamos aplicar este resultado ao problema de corda que estudamos. Tomando L como na Eq.(98), temos H = ∂L ∂ ¡ df dx ¢ df dx − L = −σg f − ζq 1 + ¡ df dx ¢2 . (118) Segundo o argumento geral, esta quantidade deve ser constante, ou seja, σg f − ζq 1 + ¡ df dx ¢2 = C, (119) Daí, temos df dx = ± r σg C (f − ζ)2 − 1, (120) que é exatamente igual a Eq.(109) com a idendificação, σg C = 1√ C2 . (121) Desta forma, a primeira integral do nosso problema é sempre obtida de forma immediata. Na sessão anterior, sabendo este fato, poderiamos ter abreviado todas as contas entre a Eq.(98) e a Eq.(109). 10 Vínculos Locais Um funcional pode depender de mais de uma função. Por exemplo, no prob- lema anterior da corda, poderiamos ter considerado a forma da corda em 39 termos de função de seu comprimento l, x = x(l) y = y(l). As duas funções, x(l) e y(l) determinam a forma da corda, expressa para- metricamente. Porém, as duas funções não devem ser independente, pois o comprimento da corda está relacionado com as duas funções por, dx2 + dy2 = dl2, ou 1 = sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 , (122) A Eq.(122) é um vínculo entre as duas funçõesx = x(l) e y = y(l) para todos os valor de l. Em contraste ao vínculo integrado como a Eq.(95), este vínculo é “local” no sentido de que a Eq.(122) tem que ser satisfeita localmente (cada valor de l). Para aplicar o método de constante multiplicador de Lagrange, podemos expressar a Eq.(122) na forma ingegrada,Z l0 0 dl λ(l) ⎡ ⎣ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎤ ⎦ = 0, ∀λ(l). (123) Exercício: Verifique que a exigência que esta equação vale para qualquer λ(l) é equivalente a Eq.(122). A energia potencial da corda fica mais simples nesta representação, U = σg Z D 0 y(l)dl (124) pois σgdl = dm é a massa da corda correspondente ao pequeno comprimento dl. O principio variacional agora pode ser expresso por δ Z l0 0 dl ⎧ ⎨ ⎩σgy + λ(l) ⎡ ⎣ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎤ ⎦ ⎫ ⎬ ⎭ = 0 (125) onde a variação é em relação a quaisquer variações das duas funções, x(l)→ x(l) + δx(l) e y(l)→ y(l) + δy(l). 40 Para facilitar a visão geral, vamos considerar o funcional I [x, y] = Z lb la dl L(x(l), y(l), dx dl , dy dl ; l), e o principio variacional, δI = δ Z lb la dl L(x(l), y(l), dx dl , dy dl ; l) = 0. (126) Agora o funcional depende de duas funções (e suas derivadas). No problema acima, obviamente L = σgy + λ(l) ⎡ ⎣ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎤ ⎦ . (127) Fazendo os procedimentos análogos no caso de uma função, temos δI = I [x+ δx, y + δy]− I [x, y] = Z lb la dl ∙ L(x+ δx, y + δy, d(x+ δx) dl , d(y + δy) dl ; l)− L(x(l), y(l), dx dl , dy dl ; l) ¸ = Z lb la dl " δx(l) ( ∂L ∂x − d dl ∂L ∂ ¡ dx dl ¢)+ δy(l)(∂L ∂y − d dl ∂L ∂ ¡dy dl ¢)# . (128) Se δI = 0 para qualquer δx e δy, então, concluimos que ∂L ∂x − d dl ∂L ∂ ¡ dx dl ¢ = 0, ∂L ∂y − d dl ∂L ∂ ¡dy dl ¢ = 0. (129) 41 Assim, obtemos a equação de Euler-Lagranges para cada uma das funções, x e y. No caso da corda, Eq.(127), temos ∂L ∂x = 0, ∂L ∂ ¡ dx dl ¢ = λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dxdl ∂L ∂y = σg, ∂L ∂ ¡dy dl ¢ = λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dydl , portanto as equações de Euler-Lagrange fica, d dl ⎡ ⎣ λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dxdl ⎤ ⎦ = 0, d dl ⎡ ⎣ λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dydl ⎤ ⎦ = σg. Integrando as duas equações em l, temos λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dxdl = C1, λ(l)q¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 dydl = −σgl + C2. Eliminamos λ pela divisão da segunda equação pela primeira, temos dy dx = σgl + C2 C1 . Derivando os dois lados em termos de x (não l), temos, d2y dx2 = σg C1 dl dx = 1 C s 1 + µ dy dx ¶2 . 42 onde C = −C1/σg é uma constante a ser determinada. Chamando dy/dx de φ(x), a equação acima fica na forma dφ dx = 1 C q 1 + φ2, (130) que fácilmente integrada. Temos φ = sinh( x− x0 C ) (131) onde x0 é a constante de integração. Assim, dy dx = sinh( x− x0 C ). (132) Integrando, temos, y = C cosh( x− x0 C ) + y0 (133) que é novamente a solução obtida anteriormente. Exercício: Deduza as equações de Euler-Lagrange para 3 funções f, g e h cuja Lagrangiana é L = L(f, g, h, df dx , dg dx , dh dx ). 10.1 A primeira integral no caso de duas variáveis Podemos verificar fácilmente a primeira integral correspondente a Eq.(113) no caso de ter duas variáveis é dada por H(x, y, dx dl , dy dl ) = dx dl ∂L ∂ ¡ dx dl ¢ + dy dl ∂L ∂ ¡dy dl ¢ − L. Exercício: Prove que dH dl = 0 para as funções x, y que satisfazem as equações, ∂L ∂x − d dl ∂L ∂ ¡ dx dl ¢ = 0, ∂L ∂y − d dl ∂L ∂ ¡dy dl ¢ = 0. (134) 43 10.2 Exemplo 2. Uma Mola Homogênea Vamos aplicar as ideias discutidas acima para tratar um problema analogo da corda pendurada, mas agora no lugar de uma corda, consideramos uma mola elástica. No caso de uma mola, o próprio peso faz com que a mola estica, e diferentemente do caso de uma corda, não podemos saber o comprimento da mola, apriori. Por outro lado, o princípio que determina a configuração da mola deve ser igual ao caso da corda. Isto é, no equilíbrio, a mola deve atingir a configuração cuja energia total seja mínima. A diferença é que quando a mola estica, a energia interna da mola aumenta. Assim, na medida que a mola pendura e estica, a redução da energia potencial gravitacional acaba equlibrando com o aumento da energia interna da mola pela sua elasticidade. Como sabemos, se a mola estica homogeniamente, a energia interna da mola associada a sua estensão é dada por Uint(Homog.) = k 2 (l∗ − l0)2 (135) onde l0 é o comprimento da mola no estado natural e l∗ o comprimento es- tendida da mola. Agora, quando a mola fica pendurada, a estenção da mola não é homogênea. Assim, devemos subdividir a mola em pequenos pedaços, e calcular a energia como a soma das energias internas dos estes pequenas pedaços. Para isto, temos que lembrar que, quando subdividir uma mola em pequenos pedaços, a constante da mola para cada pedaço não é igual a da corda como todo. Isto é fácil de ver de seguinte forma. Considere que a mola no estado natural como uma sequência dos n pedaços iguais (Fig.5). 44 dl Fig.5 Dividindo a mola em segumentos Cada segumento tem o comprimento dl = l0/n. Quando a mola estica ho- mogeniamente por um fator, digamos α, então cada pedaço estica propor- cionalmente, dl→ dl∗ = αdl. A energia da mola de cada pedaço fica dUint = 1 2 k0(dl∗ − dl)2 = 1 2 k0dl2(α− 1)2, e a energia interna total da mola fica Uint = X 1 2 k0dl2(α− 1)2 = ndl k0dl 2 (α− 1)2 = k0/n 2 (α− 1)2 l2 = k 0/n 2 (l∗ − l0)2 45 Comparando esta expressão com a Eq.(135), temos k0 = nk = k l0 dl . (136) Quanto maior que subdividimos a mola, a constante da mola de cada pedaço fica maior, ou seja, a mola pequena fica mais dura. Uma vez calculado o valor da constante da mola do pequeno segumento da mola, podemos agora calcular a eneriga interna da mola mesmo quando a grau da estensão for inhomogenia. Suponhamos que a mola estende de forma inhomogênia de forma que dl∗ = dl∗(l), onde l é o comprimento até o segumento medodo de um dos extremidades quando a mola não esteja esticada. A energia interna da mola fica Uint = X 1 2 k0(dl∗ − dl)2 = X 1 2 k l0 dl ( dl∗ dl − 1)2dl2 = 1 2 k Z l0 0 dl µ dl∗ dl − 1 ¶2 . Na representação da forma da mola pendurada em termos de duas funções, x = x(l) e y = y(l), temos dl∗ = p dx2 + dy2 (137) e, portanto, dl∗ dl = sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 . (138) A energia total da mola é a soma da energia potencial gravitacional e a energia interna da mola. Assim, temos Utot = Ugrav + Uint = σg Z l0 0 dl y(l) + 1 2 k Z l0 0 dl ⎛ ⎝ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ 2 (139) 46 Agora podemos aplicar o princípio variacional para obter a forma do equi- líbrio da mola. A configuração de equilíbrio da mola deve satisfazer o princí- pio, δUtot = 0, (140) para qualquer variações δx e δy das duas funções x(l) e y(l) em torno da sua forma equilíbrio, x(l)→ x(l) + δx(l), y(l)→ y(l) + δy(l), (141) A energia total, Eq.(139) tem a forma que a equação de Euler-Lagrange é diretamente aplicável. Assim, temos d dl ⎡ ⎣k ⎛ ⎝ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ dx dlq¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 ⎤ ⎦ = 0, (142) d dl ⎡ ⎣k ⎛ ⎝ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ dy dlq¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 ⎤ ⎦ = −σg, (143) As primeras integrais são fácilmente feitas e temos ⎡ ⎣k ⎛ ⎝ sµdx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ dx dlq¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 ⎤ ⎦ = C1, (144) ⎡ ⎣k ⎛ ⎝ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ dy dlq¡ dx dl ¢2 + ¡dy dl ¢2 ⎤ ⎦ = σgl + C2. (145) Estas formam um sistema de equações algébricas em relação a dx/dl e dy/dl. Para resolver o sistema, tomamos quadrados dos dois lados de cada equação e somando os dois lados, temos k2 ⎛ ⎝ sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 − 1 ⎞ ⎠ 2 = C21 + (σgl + C2) 2 , ou sµ dx dl ¶2 + µ dy dl ¶2 = 1 k q C21 + (σgl + C2) 2 + 1. 47 Substituindo esta expressão nas equações (144) e (145), temos dx dl = C1 k + C1q (σgl + C2) 2 + C21 , dy dl = σgl + C2 k + σgl + C2q (σgl + C2) 2 + C21 , Podemos integrar facimente e temos x(l) = x0 + C1 k l + C1 σg sinh−1 σg C1 µ l + C2 σg ¶ , (146) y(l) = y0 + σgl2/2 + C2l k + sµ l + C2 σg ¶2 + µ C1 σg ¶2 . (147) No limite de que a constante da mola fica infinito (k →∞)7, temos x(l) = x0 + C1 σg sinh−1 σg C1 µ l + C2 σg ¶ , y(l) = y0 + sµ l + C2 σg ¶2 + µ C1 σg ¶2 . A eliminação do variável l destas equações resulta em y − y0 = C1 σg cosh σg C1 (x− x0) que coincide com o resultado da corda. Exercício: Utilizando os recursos númericos adequados, obtenha graficos y = y(x) para a configuração da mola partindo Eqs.(146,??). 7a mola rígido para estensão, mas flexível = a corda 48 11 Princípio Variacional na Mecânica Muitos problemas de Física podem ser formulados em termos de Princípio Variacioal. Por exemplo, na ótica geométrica, a trajétoria de raio de luz no meio da matéria pode ser obtida pelo Princípio de Huygens: a luz es- colhe o caminho que custa o menor tempo para chegar. Do ponto de vista matemática, podemos escrever o Princípio de Huygens na forma de Princí- pio Variacional. Para simplificar, consideramos o caso bidimensional ( a luz propaga num plano). A trajetória da luz pode ser expressa pela função, y = f(x), (148) onde ya = f(xa), yb = f(xb), são as coordenadas dos pontos de partída e chegada da luz, respectivamente. No meio da matéria, a velocidade da luz não necsssarriamente é constante mas uma função da posição, dependendo da propriedade da matéria (índice de difração n). Assim, escrevemos v = cn(x, y), (149) onde c é a velocidade da luz no vácuo. O Princípio de Huygens pode ser escrita como δT [f ] = 0, ∀δf (150) onde T [r] = Z xb xa q 1 + ¡ df dx ¢2 cn(x, y) dx. (151) Exercício: Escreva o Princípio de Huygens para o caso 3-dimensional. Independentemente de saber o porque deste Princípio, a formulação varia- cional acima é, sem dúvida, útil para determinar o caminho da propagação da luz na matéria. Este princípio de Huygens deve ser naturalmente ex- plicado em termos de propagação da onda eletromagnetica, o que viremos posteriormente. É interessante é que, a trajetória de uma partícula sob ação de uma força conservativa também pode ser formulada em termos de um princípio variacional. Vejamos em seguida. 49 Exercício: O dono de um parque de diversão quer construir uma montanha russa econômica. Qual é a curva da montanha russa y = f(x) (y sendo a alutura da trilha) para que a carroça chega mais rápido ao ponto final (xb, yb), saindo do ponto de partída (xa, ya)? Suponha que não há nenhum atrito. (dica: O tempo total que a carroça gasta é a integral do inverso da velocidade da carroça alongo ao trajétória. Use a conservação de energia para determinar a velocidade em função de altura da carroça.) 12 Equação de Newton para Uma Partícula Como vimos, a equação de Euler-Lagrange para a função8 x = x(t), derivada do funcional do tipo I [x] = Z dt L(x, dx dt ), (152) é dada por d dt à ∂L ∂ ¡ dx dt ¢! = ∂L ∂x , (153) o que é uma equação diferencial de segunda ordem. Como mencionamos antes, L é chamada de função Lagrangiana (ou simplesmente Lagrangiana). Note que (ver o exercício anterior), se escolhemos L = 1 2 m µ dx dt ¶2 − V (x), (154) então, a equação de Euler-Lagrange resulta em m d2x dt2 = −dV dx . (155) Isto tem a forma de equação de movimento de uma partícula unidimensional sob a força derivada do potencial, F = −dV dx . (156) 8Nesta sessão, utilizamos a variável t como o parâmetro para especificar a função e é identficado como o tempo. 50 Por exemplo, considere uma massa m que movimenta alongo ao eixo x livre- mente, ligada numa mola com massa disprezivel. Neste caso, a equação de movimento de Newton fica m d2x dt2 = −kx, (157) onde k é a constante da mola. Esta equação pode ser obtida pela Equação de Euler-Lagrange com a Lagrangiana, L = 1 2 m µ dx dt ¶2 − 1 2 kx2. (158) O primeiro termo desta função é a energia cinética da partícula, e o segundo termo é a energia potencial da mola. Isto é, se colocamos a Lagrangiana como L = T − V, (159) então, o Princípio Variacional, δI = 0, ∀δx = δx(t) (160) com I = Z tb ta Ldt, (161) resulta a equação de movimento de Newton para uma partícula sob a força gerada do potencial V = V (x). Aqui, o funcional I é chamado de açao, e as variações δx deve satisfazer a condição de contorno, δx(t)|t=ta,tb = 0. O argumento pode ser fácilmente generalizado para o caso de uma partícula em movimento tridimensional. A energia cinética de uma partícula com massa m é T = 1 2 m õ dx dt ¶2 + µ dy dt ¶2 + µ dz dt ¶2! = 1 2 m µ dr dt ¶2 , (162) e a energia potencial fica V = V (x, y, z) = V (r). (163) 51 Colocando L = L(r, dr dt ) = T − V = 1 2 m µ dr dt ¶2 − V (r). (164) Como tem 3 funções, x = x(t), y = y(t) e z = z(t), a equação de Euler- Lagrange para cada função fica d dt à ∂L ∂ ¡ dx dt ¢! = −∂V ∂x , (165) d dt à ∂L ∂ ¡dy dt ¢! = −∂V ∂y , (166) d dt à ∂L ∂ ¡ dz dt ¢! = −∂V ∂z . (167) ou, d dt µ ∂L ∂x˙ ¶ = −∂V ∂x , (168) d dt µ ∂L ∂y˙ ¶ = −∂V ∂y , (169) d dt µ ∂L ∂z˙ ¶ = −∂V ∂z . (170) onde x˙ = dx/dt, etc. Verificamos que estas resultam em m d2x dt2 = −∂V ∂x , m d2y dt2 = −∂V ∂y , m d2z dt2 = −∂V ∂z , ou m d2r dt2 = −∇V. (171) 52 Isto é a equação de movimento de uma partícla sob a força derivada do potencial V . É importante notar que a quantidade, ∂L ∂x˙ é igual a componente x do momento linear da partícula. Isto é, ⎛ ⎝ ∂L ∂x˙ ∂L ∂y˙ ∂L ∂z˙ ⎞ ⎠ = ⎛ ⎝ px py pz ⎞ ⎠ , (172) ou ∇v L = p, (173) onde introduzimos a notação, ∇v = ⎛ ⎝ ∂ ∂x˙ ∂ ∂y˙ ∂ ∂z˙ ⎞ ⎠ , (174) que é o análogo da gradiente, mas a derivada é em relação a velocidade, v = dr/dt. Exercício: Escreva a Lagrangiana para o movimento da Terra em torno do Sol, considerando apenas a força gravitacional do Sol, fixo na origim. O lado direito da equação de Euler-Lagrange é a negativa do gradiente do potencial, ou seja a força. A estrutura da equação de Euler-Lagrange então tem a forma d dt p = f. (175) • A derivada da Lagrangiana em relação a derivada temporal da coorde- nada é o momento, e a derivada da Lagrangeiana em relação a coor- denada própria é a força. 53 Vimos que a equação de movimento de Newton sob a força conservativa pode ser obtida pelo Princípio Variacional para o ação, Eq.(161). O Princí- pio Variacional aplicado para Mecânica é chamado o Princípio de Mínima Ação (ou Princípio de Hamilton). A generalização do Princípio de Mínima Ação para sistemas que contem muitas partículas é trivial. Introduzimos a Lagrangiana, L = L µ r1, r2, · ·· , rn; dr1dt , dr2 dt , · · · , drn dt ¶ = nX i=1 Ti − U(r1, r2, · · · , rn), (176) onde U (r1, ..., rn) representa a energia potencial do sistema para a configu- ração de partículas representada pela coordenadas de n partículas, {r1, r2, · · · , rn} , e Ti é a energia cinética de i−esima partícula, Ti = mi 2 µ dri dt ¶2 . (177) O princípio de Mínima Ação leva as seguintes 3×n-equações de movimento, m d2xi dt2 = −∂V ∂xi , m d2yi dt2 = −∂V ∂yi , (178) m d2zi dt2 = −∂V ∂zi , para i = 1, ..., n. Consideramos que este Princípio de Mínima Ação (Princípio de Hamil- ton) como o princípio que substituir as leis de Newton. Nesta posição, esta- mos considerando que todos os movimentos da Natureza devem ser dirigido por este princípio. Ou seja, existe sempre uma quantidade chamada de La- grangiana, expressa em termos de coordenadas e suas derivadas temporais, de tal forma que a trajétoria que se realiza na Natureza é aquela que faz o mínimo da ação, a integral da Lagrangiana no tempo. Então, o que é significado deste princípio variacional? O que é “ação”? As respostas para 54 estas perguntas não são simples. Se a lei da dinâmica é obtida pelo Princípio de Mínima Ação, então, nos nunca podemos observar movimentos que não corresponde o ponto mínimo da ação I. Ou seja, o ação como funcional de possíveis trajetórias nunca seria mensurável em natureza. Assim, pode se parecer que o conceito da ação é apenas uma coisa virtual, o conceito apenas matémático. Por ser equivalente, o todo que pode se obter pelo Princípio de Mínima Ação também pode ser obtido em termos de Equação de Newton. Neste sentido, pode se pensar que o formalismo não acrecenta nenhuma coisa nova do ponto de vista física e, que é puramente um jogo matemático. Naturalmente devemos evitar de brincar com apenas mero formalismos, só para ser pedante sem ter nenhum utilidade prática. Mas, no caso do Princípio de Mínima Ação, é mais do que comprovado que o formalismo fornece uma visão esclarecedora para compreensão da estrutura da lógica da Mecânica Clássica, além de ser um ferramento extremamente útil para resolver problemas práticos. Podemos citar alguns pontos como: • Sendo a Lagrangiana uma escalar, é fácil efetuar qualquer transfor- mação de variáveis. • A conservação da energia é imediata. • É fácil de generalizar para sistemas de muitos partículas, ou até o meio contínuo. • Certas leis de conservação (constantes de movimento) podem ser de- duzido da forma da Lagrangiana. Isto dá uma interpretação da razão de existência destas constantes de movimento. Por exemplo, a conser- vação de momento linear tem como origim a homogenidade do espaço. A conservação do momento angular está associada com a isotropia do sistema, etc. • Para certos sistemas, em particular, quando existe vínculos entre var- iáveis, é muito mais fácil identificar a Lagrangiana do que construir a equação de movimento. • O formalismo serve para generalizar a Mecânica, introduzindo novos conceitos, como vejamos em teoria dos campos. • Foi fundamental para formular a Macânica Quântica. 55
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