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Cama de frango avicultura

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O PARADIGMA DA CAMA DE FRANGO 
 
LEVY REI DE FRANÇA1 
 
1 – Introdução 
 
A cama de frango é o material utilizado para forrar o piso de uma instalação 
avícola e a sua matéria prima pode ser casca de arroz triturada, maravalha, sabugo de 
milho triturado, feno de capim e outros. È utilizada para receber os excrementos, restos 
de ração e penas durante o crescimento das aves, apresenta concentrações variáveis 
desses resíduos dependendo do número de lotes de aves que passarão pelo galpão de 
criação sem que seja realizada a sua troca. 
A cama de frango tem sido um dos importantes assuntos estudados dentro da 
avicultura de corte, no passado era sugerida como uma excelente fonte alternativa de 
renda para os avicultores, mais recentemente foi rotulada como um complemento 
eventual de receita, mas não com a mesma euforia do lucro do passado. Hoje existem 
integrados reutilizando-a em até oito lotes sucessivos, demonstrando que ao longo do 
tempo essa realidade foi se modificando. 
A produção de cama de frango tem experimentado um crescimento constante, 
em Rio Verde-GO, que acompanha o crescimento da atividade avícola. Mesmo 
considerando a reutilização, esse material ainda tem crescido a sua oferta no mercado, 
por causa disso estão cada vez mais escassos os materiais utilizados para forração dos 
galpões, estimulando a reutilização da cama, inclusive como medida de racionalização. 
Segundo França (2006) a perspectiva futura é que o Centro-Oeste se torne o maior pólo 
de produção de aves de corte do Brasil, portanto de produção de cama também. 
A questão ambiental na Europa tem merecido grande preocupação, isto se deve 
a temperatura baixa do clima temperado que inibe a fermentação e dessa forma diminui 
a decomposição de resíduos orgânicos, portanto de cama de frango, isso limita a 
ampliação da produção animal naquela região. Uma opção que se apresenta no 
momento tem sido a produção de aves no clima tropical, diminuindo o problema 
ambiental na Europa e dinamizando a produção animal na região de Rio Verde. 
 
 
1
 Zootecnista, Biólogo,Mestre em Desenvolvimento Econômico, Doutor em Zootecnia (2012) 
Dessa forma, o Centro-Oeste se apresenta como a nova fronteira de produção 
de frangos de corte. Portanto, a capacidade de produção de frangos estaria determinada 
pela capacidade de aproveitar os dejetos das aves e de controlar os impactos negativos, 
dando sustentabilidade a estes sistemas de produção. Este artigo pretende apresentar 
algumas informações técnicas sobre o assunto e fazer uma reflexão sobre as 
perspectivas de futuras da produção de frangos de corte em nossa região considerando o 
desafio de gestão da produção de cama de frango. 
 
2 – Desenvolvimento 
 
2.1 - Composição química 
 
Considerando a composição química da cama de frango (Tabela 1), existem 
várias razões para a sua recomendação como adubo orgânico. Para determinar a 
quantidade a ser aplicada no solo, Pauletti e Motta (2004) recomendaram a seguinte 
estratégia: utilizar como referência o nutriente presente em maior quantidade e 
complementar os demais nutrientes através de adubação química. Comumente a cama 
de frango tem sido aplicada em função do suprimento de nitrogênio, com atenção 
especial para os níveis no solo de P, Zn, e Cu, principalmente, pois estes podem causar 
danos ambientais se em altas concentrações. 
 
TABELA 1 - Resultados dos teores de nutrientes em diferentes amostras de cama de 
frango 
 
Amostras pH N P2O5 K2O Ca Mg Cu Zn MO 
 ----------------------g/kg---------------------------
- 
-----mg/kg----- g/kg 
01 8,0 24 17 25 27 4,6 100 100 34 
02 8,7 25 27 20 38 6,3 100 200 31 
03 8,7 28 28 28 39 9,7 200 300 33 
04 8,5 29 25 21 33 7,0 100 200 34 
05 8,6 49 29 20 27 5,8 400 100 37 
06 8,5 28 18 22 28 4,8 200 100 36 
07 7,0 28 25 25 25 6,5 7,0 250 - 
Média 8,2 30 24 23 31 6,4 153 179 34 
Fonte: Menezes et al. (2004). 
 
Cobre (Cu) e zinco (Zn) são nutrientes que podem acumular no solo, e se 
absorvidos em quantidades excessivas pelas plantas e conseqüentemente pelos animais, 
inclusive no homem, como são elementos bioacumuláveis, podem causar problemas a 
saúde tal como o aumento da degeneração das células. Segundo a Cetesb (1999) as 
concentrações máximas de cobre e zinco permitidas nos solos são 50 mg/dm3 e 150 
mg/dm3 respectivamente. 
Para Lopes (1984), o zinco tem maior disponibilidade na faixa de pH 5,0 a 6,5, 
grandes quantidades de zinco podem ser fixadas pela fração orgânica do solo induzindo 
a deficiência. O cobre tem maior disponibilidade na faixa de pH 5,0 a 6,5, solos 
argilosos apresentam menores probabilidades de apresentarem deficiência desse 
micronutriente, enquanto que solos arenosos com baixos teores de matéria orgânica 
podem tornar-se deficientes em cobre em função de perdas por lixiviação. Esses 
micronutrientes podem ser também temporariamente imobilizados nos corpos dos 
microrganismos do solo especialmente é feita adubação com estercos. 
Quando adicionados ao solo com os resíduos orgânicos Cu e Zn apresentam 
um comportamento dependente da natureza do metal, do tipo de solo, conteúdo de 
matéria orgânica, teor de óxidos de ferro, alumínio e manganês, CTC (capacidade de 
troca de cátions), teor de umidade e pH. Em geral os metais tendem a se complexar com 
a matéria orgânica, o que diminui sua mobilidade no solo, mas há possibilidade de sua 
absorção pelas plantas com conseqüente entrada na cadeia alimentar. 
Brait e Antonios (2005) relataram que a determinação das quantidades de 
metais presentes em solos possíveis de serem absorvidas pelas plantas (quantidade 
fitodisponível) é uma tarefa complicada e depende de características de solo, do metal 
avaliado, da planta e dos outros elementos presentes, sendo extremamente difícil definir 
uma forma única de avaliação capaz de levar em conta todas essas variáveis. 
De acordo com Seganfredo (2006) o baixo aproveitamento dos diversos 
minerais como N, P, Cu, Zn pelas aves e as aplicações indiscriminadas de cama de 
frango ao solo são os principais fatores que podem transformar o fertilizante orgânico 
em poluente do solo, das águas, da atmosfera, causadores de toxidez às plantas e 
deterioração da qualidade dos produtos agrícolas produzidos. 
 
 
 
 
2.2 - Aproveitamento da cama de frango como fertilizante 
 
Para um aproveitamento racional da cama de frango, Seganfredo e Bittancourt 
(2006) relataram que as dietas fornecidas às aves devem ser balanceadas, evitando-se 
excedentes, principalmente de nitrogênio, potássio, cobre e zinco. Os autores sugerem 
ainda as seguintes recomendações: a) fazer análise química das camas para calcular as 
quantidades de nutrientes a serem aplicadas em cada cultura e conforme o tipo de solo; 
b) fazer análise química do solo, periodicamente, para conhecer e registrar a evolução 
do balanço de nutrientes, analisar periodicamente as águas de subsuperfícies dos solos 
onde são aplicadas as camas, pois sua qualidade é o principal indicativo das perdas, 
através do perfil, de nutrientes, nitratos e organismos patogênicos e; c) fazer 
acompanhamento das plantas a campo para detecção de eventuais distúrbios ou 
sintomas de deficiência ou fitotoxidez de nutrientes causados pela cama de frango. 
Quanto a aplicação no solo, as empresas, baseando-se em observações de 
campo, fizeram algumas recomendações sobre a quantidade a ser aplicada em diferentes 
culturas. Segundo Leão citado por Menezes et al. (2004), a Ave Fértil S. A, de Rio 
Verde-GO, sugere 2,5 toneladas por hectare para qualquer cultura, para Pimenta (2001), 
também citado por Menezes (2004) a Perdigão Agroindustrial S. A. sugere 1,5 a 2,5 
toneladas por hectare para soja e 3,0 a 5,0 toneladas por hectare para cultura do milho. E 
para pastagens a recomendação de uso de cama de frango no solocomo forma de 
adubação (informação verbal)2, sugere-se 10 toneladas/ha de cama de frango para 
pastagens. Já Ribeiro et al. (2006), recomendam 3,6 toneladas de cama de frango/ha três 
vezes ao ano 
 
2.3 - Custo da cama de frango 
 
Com finalidade de investigar os custos de produção da cama de frango, foram 
analisados a planilha de custos dos insumos e serviços necessários a forração de quatro 
galpões (denominado no projeto de um núcleo de produção que é constituído de quatro 
galpões de 1600 m2), considerando a reutilização em quatro lotes sucessivos. Segundo 
informações de um integrado para a criação de quatro lotes sucessivos são necessários 
os seguintes insumos e serviços (Tabela 2): a) dois botijões de gás de 13 litros por 
galpão, para queima das penas, após a criação do primeiro, segundo e terceiro lotes; b) 
 
2
 Informação fornecida pelo Eng. Agro. Eduardo Hara – Comigo – Rio Verde, 2006. 
serviços terceirizados fixos de descarregamento, colocação, nivelamento e retirada da 
cama, dentro dos galpões; c) 32 sacos de cal por lote no primeiro e segundo e 48 sacos 
no terceiro lote, e; d) R$ 2.800,00 de maravalha por barracão (21 toneladas/barracão). 
 
TABELA 2 - Planilha de custo da cama de frango, para criação de quatro lotes de 
frangos de corte sucessivos3 
 
Discriminação dos materiais e serviços Quantidade Custo unitário Custo total 
Palha de arroz 84 R$ 140,00 R$ 11.760,00 
Cal virgem 448 R$ 5,60 R$ 2.508,80 
Gás queima de pena 24 R$ 32,00 R$ 768,00 
Retirada da cama de frango 4 R$ 750,00 R$ 3.000,00 
Colocação da cama nova 4 R$ 250,00 R$ 1.000,00 
Total R$ 19.036,80 
Fonte: França et al. (2009). 
 
Considerando uma retirada média de 100 toneladas de cama a cada quatro lotes 
por barracão e um valor para venda da cama em torno de R$ 50,00/toneladas, seriam 
produzidos no total 440 toneladas nos quatro galpões e R$ 22.000,00 com a venda da 
cama, portanto sobrariam R$ 2963,20 de lucro a cada quatro lotes sucessivos. 
Entretanto não tem sido fácil encontrar compradores, existindo um excesso de oferta e o 
preço de venda não tem acompanhado a elevação dos custos dos insumos e serviços 
necessários à forração dos galpões. 
 
2.4 - Cama de frango, novos desafios 
 
França et al. (2009) estudaram a capacidade de ampliação das granjas de 
produção de frangos de corte do município de Rio Verde, GO – Brasil, fazendo uma 
simulação baseado na capacidade de utilização da cama de frango como fonte de 
adubação na própria propriedade. Através de questionários, foram coletadas 
informações sobre a quantidade de aves alojadas e do tamanho das propriedades. Para 
determinar a capacidade de utilização da cama de frango, foram considerados 3 níveis 
tecnológicos (baixo, médio e alto). 
Considerando a simulação para baixo nível tecnológico (utilização de 1,8 
toneladas de cama de frango/ha/ano), os resultados mostraram que não foram 
 
3
 Gás e cal são utilizados somente em 3 lotes, visto que o primeiro no caso da queima das penas e o 
último no caso da cal não são usados. 
 
verificadas possibilidades de ampliação do número de galpões em nenhuma das granjas 
pesquisadas, existindo ainda a produção de cama referente a 244 galpões acima da 
capacidade de utilização. 
Para o nível médio de tecnologia (4,4 toneladas de cama de frango/ha/ano) 
observou-se que poderiam ser ampliados 24 galpões em terras próprias, de algumas 
propriedades. Entretanto, ocorreu um excedente equivalente à produção de cama de 161 
galpões. 
Por ultimo, nas propriedades de alto nível tecnológico (8,7 toneladas de cama 
de frango/ha/ano), poderiam ser ampliados 135 galpões em algumas propriedades e em 
outras ocorreria um excedente equivalente à produção de 96 galpões. 
A cama de frango esta proibida por lei federal de ser utilizada para alimentação 
de bovinos, já que pode conter restos de farinha de carne das rações de frangos, 
permitindo o fechamento do ciclo que gerou a vaca louca o que, segundo França (2001), 
restringe a sua utilização apenas para adubação. 
Quando se analisa a possibilidade de utilização da cama de frango como adubo 
é necessário compará-la com as características dos adubos químicos, que são feitos por 
processos industriais, e que por apresentarem características bem definidas. 
Para França (2001) os adubos industriais apresentam: escala de produção, 
freqüência e uniformidade. A cama de frango está sendo produzida em grande escala, e 
tem freqüência o ano todo. Dessa forma, a uniformidade é o fator desejável ainda não 
existente na cama de frango. Fazendo uma analise neste aspecto é possível encontrar 
uma grande quantidade de motivos para explicar a falta de uniformidade, dentre eles 
pode-se citar: 
a) o número de lotes criados com a mesma cama de frango pode variar de um a oito; 
b) cama de frango pode ser feita com vários tipos de materiais diferentes; 
c) a densidade de frangos por metro quadrado é variável em função da época do ano, 
grau de climatização do galpão e sexo das aves (lotes de machos ou de fêmeas); 
d) a espessura pode variar de 5 a 10 cm, portanto pode-se ter cama mais concentrada ou 
mais diluída; 
e) o grau de umidade pode acelerar o metabolismo dos microorganismos da cama de 
frango alterando a sua composição, e; 
f) a conservação após a retirada pode facilitar a fermentação da cama, contribuindo para 
a diminuição do seu conteúdo de energia e nitrogênio; 
Uma matéria prima com uma falta de uniformidade tão grande cria fortes 
barreiras a sua utilização em quantidade, já que concorre com produtos que apresentam 
uma composição menos variável. 
 
3 – Conclusão 
 
 
Deve se monitorar as propriedades produtoras de frangos de corte, tendo em 
acompanhar a utilização da cama de frango como adubo, evitando uma possível 
contaminação do solo. 
É importante ter um rigoroso planejamento da ampliação da produção de 
frangos de corte em nossa região, de maneira a não deixar certas propriedades 
vulneráveis a contaminação. A distribuição uniforme e vinculada a um tamanho mínimo 
de propriedade, capaz de consumir a cama de frangos se faz necessários, garantindo 
sustentabilidade ao sistema produtivo. 
Desta forma, pelo que foi apresentado, um dos elos importantes da cadeia 
produtiva do frango é justamente a cama de frango. A elevação dos custos de forração 
dos galpões e a falta de alternativa de utilização a não ser como forma de adubação no 
solo na própria propriedade, poderá criar barreiras à ampliação da avicultura no Centro-
Oeste e em qualquer lugar. 
 
4 - Bibiografia 
 
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