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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 SEGUNDA PARTE - PROCEDIMENTO COMUM DO PROCESSO DE CONHECIMENTO: FASE POSTULATÓRIA CAPÍTULO 6. INDEFERIMENTO DA INICIAL E REJEIÇÃO LIMINAR DO PEDIDO Capítulo 6. INDEFERIMENTO DA INICIAL E REJEIÇÃO LIMINAR DO PEDIDO Esse capítulo examina duas hipóteses de decisões que têm em comum: (i) o momento processual em que proferidas, que é o início do processo, ainda antes da citação do réu (são, nesse sentido, decisões "liminares"); e (ii) o efeito sobre o procedimento, que é a extinção da fase cognitiva ou a redução do seu objeto. Diferenciam-se quanto ao seu conteúdo e consequente eficácia externa e autoridade. O indeferimento da petição inicial contém uma negativa de resolução do mérito. A rejeição liminar do pedido é um julgamento de mérito, de improcedência do pedido, apto, inclusive a fazer coisa julgada material. 6.1. Indeferimento da inicial O indeferimento da petição inicial consiste na negativa de processamento da demanda. Há a extinção da fase cognitiva, logo no seu nascedouro, sem a resolução do mérito (arts. 330 e 485, I). 6.1.1. Conflito entre princípios fundamentais Trata-se de hipótese indesejada pelo sistema processual. O CPC/2015 contém normas que reservam o indeferimento da inicial a casos excepcionais. Não bastassem as normas gerais que consagram o dever de prevenção e de saneamento dos defeitos processuais e a preferência pela resolução do mérito (arts. 282, § 2.º, 317 e 488, p. ex.), há normas específicas que restringem o indeferimento da inicial às hipóteses em que absolutamente não foi possível superar ou corrigir os defeitos nela contidos (arts. 319, §§ 2.º e 3.º, e 321). Mas, ainda assim, o mecanismo do indeferimento da inicial tem um âmbito próprio de incidência e uma razão de ser, fundada em valores constitucionais também relevantes. Subjacentemente ao tema, há um inegável conflito entre princípios fundamentais. Por um lado, não se pode perder de vista que o processo, do qual a petição inicial é o ponto de partida, é instrumento e não um fim em si mesmo. A instrumentalidade consiste, exatamente, em não se sacrificar o fim em homenagem ao meio. À jurisdição não interessa o encerramento prematuro do processo, sem a solução do caso apresentado. Afinal, como o Estado chama para si o uso da força para a solução de conflitos, ele não pode eximir-se injustificadamente de resolvê-los, quando provocado pelos interessados. Sob esse prisma, todos os componentes aproveitáveis devem ser considerados, ainda que não constituam a melhor técnica. No mais das vezes, a parte deposita todas as suas esperanças na solução jurisdicional, e uma sentença de extinção do processo sem resolução do mérito é, no mínimo, frustrante. Sob todos os aspectos: o litígio não foi resolvido; a parte contrária se sente vitoriosa, sem realmente o ser; a atividade jurisdicional terá sido inútil e tende a ser repetida. Por outro lado, o exercício do direito de defesa em sua plenitude exige que os parâmetros objetivos e subjetivos da pretensão do autor sejam claros. A petição inicial é o elemento desencadeador de toda a atividade jurisdicional subsequente. É ela que dá início à formação do processo, que introduz a demanda em juízo, que leva ao conhecimento do juiz uma situação jurídica que reclama a intervenção do Estado e estabelece para o réu os parâmetros da pretensão da qual ele tem de se defender. Então, uma petição inicial eivada de defeitos graves, se levada adiante sem correções, gera o risco de uma atuação jurisdicional inútil ou arbitrária, bem como de graves prejuízos ao exercício da defesa pelo réu. Somam-se a isso razões de economia processual. Não há sentido em levar adiante o processo quando, já em seu limiar, escancara-se uma irremediável deficiência do ato que lhe serve de ponto de partida. Por isso, na sistemática do Código, o indeferimento da petição inicial só tem lugar quando ela padecer de vício de tal monta que chegue a impossibilitar o exercício do direito de defesa ou mesmo a outorga da tutela jurisdicional. Meras falhas ou pequenas omissões na indicação de elementos da petição inicial não determinam necessariamente seu indeferimento. Por exemplo, os §§ 2.º e 3.º do art. 319 determinam que, mesmo faltando determinadas informações relativas ao réu, a inicial não seja indeferida, quando o defeito não inviabilizar a citação do réu ou for impossível ou muito oneroso o seu suprimento. As diretrizes explicitadas nesses dois casos específicos são aplicáveis a outras hipóteses de irregularidade na inicial. Afinal, elas não fazem mais do que expressar os princípios da instrumentalidade das formas e da razoabilidade. 6.1.2. Hipóteses de cabimento O indeferimento da petição inicial efetivamente ocorrerá, nos termos em que dispõe o art. 330, nas seguintes hipóteses: a) quando a inicial for inepta. Inepta é uma petição inicial incompreensível, ininteligível, que não permite ao réu defender-se e (ou) da qual é impossível extraírem-se os limites em que a jurisdição deverá atuar. O conceito de inépcia está, de um modo ou de outro, relacionado com o pedido, que é o elemento nuclear da petição inicial. Sua falta, sua deficiência intrínseca ou sua incongruência extrínseca afetam a própria essência dessa peça processual. Nos termos do § 1.º do art. 330, há inépcia da petição inicial quando: a.1) lhe faltar pedido ou causa de pedir: Sem pedido, a peça apresentada nada mais é do que um simulacro, uma mera aparência vazia de petição inicial. Como dito, o pedido é a essência da petição inicial. O próprio nome o diz: petição significa o ato de pedir. Sem que se formule pedido, não há autorização para jurisdição atuar - aliás, não se tem como saber nem sobre o que se deveria atuar -, não há meios do réu se defender, não há como se definir a competência - e assim por diante. Quanto à causa de pedir, como se viu (n. 4.2.3), o aspecto relevante é a apresentação dos fatos constitutivos da pretensão formulada. Em outros termos, é a causa de pedir remota o que importa. A identificação das normas aplicáveis, o nome dos institutos jurídicos envolvidos, a qualificação dos fatos tudo isso pode e deve ser feito pelo próprio juiz, independentemente da iniciativa da parte (iura novit curia). A fundamentação jurídica já estará satisfeita na medida em que os fatos apresentados, ao menos em tese, guardem coerência com os efeitos jurídicos pretendidos - o que se traduz em outro dos elementos de aptidão da inicial, adiante examinado. Assim, a inicial jamais será inepta apenas porque não contém a citação de dispositivos legais ou os apresenta erroneamente. Importa é a adequada descrição dos fatos e a formulação de pedido coerente com essa causa de pedir remota; a.2) contiver pedido indeterminado: é indispensável que se apresentem com clareza a providência processual, o objeto e o alcance pretendidos. Nos nn. 5.2 e 5.4, viu-se que apenas em hipóteses excepcionais é possível a formulação de um pedido genérico (art. 324, § 1.º). Fora de tais casos, não se justifica a indeterminação do pedido. Ainda que não o diga o art. 330, § 1.º, II, haverá também inépcia se o pedido for incerto. Em todos esses casos, a indefinição da pretensão apresentada impede a determinação do âmbito em que a jurisdição deveria atuar e dificulta a defesa; a.3) contiver pedidos incompatíveis entre si. A compatibilidade entre os pedidos formulados é um requisito de admissibilidade da cumulação simples de pedidos (n. 5.8, acima). Se o autor pleiteia com igual grau de prioridade, para receber simultânea e conjuntamente, duas ou mais providências inconciliáveis entre si, estabelece-se um impasse, gerador da inépcia. Como não há uma escala de preferência entre tais pedidos, não há como definir qual delas deve prevalecer, de modo que eles se aniquilam reciprocamente (já na cumulação sucessiva eventual, que também exige pedidos compatíveis entre si,há uma ordem de preferência: o pedido antecedente prepondera sobre o subsequente - de modo que, se eles forem incompatíveis entre si, não há inépcia, mas a simples prevalência daquele primeiro pedido; a.4) se dos fatos não decorrer logicamente o pedido: a correlação lógico-jurídica entre os fatos da causa de pedir e a pretensão externada constitui o próprio fundamento jurídico da demanda - o único aspecto que, em face do iura novit curia, pode-se exigir a título de causa petendi próxima (n. 4.2.3, acima). Assim, a contradição entre os fatos narrados e o pedido implica a ausência de causa de pedir - de modo que essa hipótese de inépcia já se enquadraria, de qualquer modo, naquela outra prevista em "a.1", acima; b) se houver ilegitimidade de parte. A ilegitimidade, mesmo quando compreendida nos estritos limites de condição da ação, nem sempre é verificável desde logo. Como já destacado, sobretudo em casos de legitimação extraordinária, a averiguação dos seus pressupostos específicos podem demandar instrução probatória (v. vol. 1, n. 10.3 e 10.4.2). Assim, o indeferimento da inicial por esse fundamento é reservado aos casos em que a ilegitimidade é patente, manifesta. Nessa hipótese, pode aplicar-se tanto à ilegitimidade ativa quanto passiva; c) quando faltar interesse processual. Idênticas considerações aplicam-se à falta de interesse de agir, que também constitui condição da ação (v. vol. 1, n. 10.2). A petição inicial só é inepta quando de plano for possível verificar que, independentemente da razão da parte quanto aos fatos que afirma, a tutela jurisdicional por ela pleiteada é inútil ou inadequada em face do contexto processual existente; d) quando não for atendida determinação de emenda no prazo concedido: cinco dias para a indicação de endereço advogado (art. 106, § 1.º); quinze dias para emenda ou complementação à petição inicial, de modo a adequá-la aos requisitos dessa peça, previstos nos arts. 319 e 320 (art. 321). Cabem aqui três ressalvas: (1.ª) ao determinar a emenda, o juiz deve indicar com precisão os aspectos que precisam ser corrigidos ou esclarecidos (art. 321, v. n. 4.3, acima); (2.ª) só se deve exigir a emenda, sob pena de indeferimento da inicial, quando o defeito verdadeiramente inviabilizar o processamento da demanda, a compreensão do seu objeto ou a citação ou defesa do réu; (3.ª) é possível reiterar a determinação de emenda à inicial, desde que a primeira intimação nesse sentido não tenha sido pura e simplesmente desatendida. Assim - e ressalvados os casos de evidente má-fé -, se, apesar de tempestivamente feita pelo autor, a emenda não tiver sido adequada ou suficiente, o juiz deve mandar repetir ou completar o ato, em vez de simplesmente decretar a extinção da fase cognitiva do processo. (v. n. 4.3, acima). 6.1.3. Natureza do pronunciamento e recurso cabível A decisão de indeferimento da petição inicial tem natureza de sentença: põe fim à fase cognitiva e seu conteúdo insere-se no rol de matérias do art. 485 (art. 203, § 1.º). Assim, contra ela cabe recurso de apelação (arts. 331 e 1.009). O pronunciamento deve ser fundamentado (art. 93, IX, da CF/1988; art. 11 do CPC/2015), observando inclusive as determinações do art. 489, § 1.º (sobre o tema, v. n. 21.9.2, adiante). 6.1.4. Juízo de retratação na apelação A regra do art. 331 autoriza o juiz a reformar a sentença de indeferimento da inicial, no prazo de cinco dias seguintes à apelação interposta. Aliás, o art. 485, § 7.º, estende esse juízo de retratação a todos os casos de apelação contra sentença que não resolve o mérito. A extinção prematura do processo não é, em si mesma, o resultado ideal - mas, como dito, justifica-se para preservar a garantia da ampla defesa e por razões de economia processual. Por isso, se as razões recursais evidenciarem que a petição inicial pode cumprir sua finalidade, o magistrado está autorizado a, reformando sua sentença de indeferimento, determinar o seguimento do processo. Seria despropositado conceder apenas ao tribunal o poder de corrigir o pronunciamento extintivo incorreto, para só depois (de meses, talvez anos...) o processo poder iniciar seu curso. Vale dizer: se a decisão de indeferimento da inicial está errada, as mesmas razões de economia processual que justificariam tal pronunciamento, se ele estive certo, impõem a pronta retratação pelo próprio juízo que a prolatou. Não havendo a reconsideração por parte do juiz, o réu será citado para responder ao recurso (art. 331, § 1.º). Havendo a reforma da sentença pelo Tribunal, o prazo para contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos ao juízo a quo (art. 331, § 2.º). 6.1.5. Intimação do réu, na ausência de recurso do autor Não interposta a apelação, o réu deverá ser intimado do trânsito em julgado da sentença (art. 331, § 3.º). Tal intimação presta-se a permitir que o réu tome conhecimento do processo malogrado instaurado pelo adversário e da decisão extintiva que, sob certo aspecto, lhe foi favorável. Isso permitirá, por exemplo, que, se o autor vier promover novamente a mesma demanda sem ter recolhido custas pendentes do processo anterior, o réu possa invocar como defesa preliminar a regra do art. 486, § 2.º (que condiciona o processamento da segunda ação ao pagamento das verbas de sucumbência da primeira). Nesse caso, o réu poderá também fazer valer a regra do art. 486, § 1.º, que não admite a repropositura da ação senão com a correção do defeito que levou à anterior sentença extintiva. 6.1.6. Indeferimento parcial da inicial O defeito ensejador do indeferimento da inicial pode atingir apenas parte dessa peça (p. ex., apenas um dos pedidos é incompatível com a causa de pedir; a ilegitimidade concerne a apenas um dos litisconsortes ativos ou passivos; falta interesse processual apenas para uma das pretensões etc.). Constatado o efetivo prejuízo gerado pelo defeito e esgotada a possibilidade de sua correção, caberá o indeferimento parcial da petição inicial - tanto quanto caberia, em qualquer outro caso, a negativa parcial de resolução do mérito (art. 354, par. ún.). O pronunciamento de indeferimento parcial consistirá em decisão interlocutória (art. 203, § 2.º) - e contra ele caberá agravo de instrumento (art. 354, parágrafo único, c/c art. 1.015, XIII), que também dará ensejo a juízo de retratação (art. 1.018, § 1.º). 6.1.7. Indeferimento tardio da inicial Se presentes os defeitos justificadores da extinção da inicial, e uma vez exaurida a possibilidade de sua correção, convém que o juiz, ainda antes da citação do réu, ponha fim à fase cognitiva (ou, na hipótese do item anterior, reduza seu objeto, sem julgamento de mérito). Mas não há preclusão dos poderes do juiz quanto à matéria. Se o defeito da inicial passar despercebido no limiar do processo, ao ser notado mais adiante, já depois de citado o réu, ainda caberá a decisão extintiva sem julgamento de mérito. Trata-se de matéria de ordem pública, cognoscível de ofício e a todo tempo. Tanto é possível a extinção posterior fundada nos motivos de indeferimento na inicial, que a lei arrola esses fundamentos entre aqueles que o réu pode alegar como preliminar na contestação e o juiz, conhecer de ofício (art. 337, IV, IX e XI, e § 5.º). Apenas não é comum que, quando essa decisão é dada depois de citado o réu, ela seja chamada de "indeferimento da inicial". Mas os fundamentos e efeitos são os mesmos. A decisão terá a mesma natureza daquela proferida liminarmente: será sentença ou decisão interlocutória conforme a recusa de julgamento do mérito abranja a totalidade ou apenas parte do objeto do processo. 6.2. Improcedência liminar do pedido O art. 332 disciplina as hipóteses excepcionais em que, constatando-se de antemão não haver necessidade de fase instrutória, o magistrado está autorizado a proferir sentença de improcedência, liminarmente (i.e., antes da citação do réu). O dispositivo congrega dois diferentesgrupos de hipóteses. Por um lado, prevê casos em que o cerne da disputa reside unicamente em uma questão jurídica que já foi resolvida, em julgamento precedente ao qual o ordenamento confere especial valor, contrariamente à pretensão do autor (art. 332, I a IV). Por outro lado, admite a rejeição da demanda em seu mérito quando for possível, de plano, constatar-se haver prescrição ou decadência (art. 332, § 1.º). Os dois grupos têm em comum a circunstância de que é absolutamente desnecessária a produção de qualquer prova para um julgamento contrário ao autor. Se houver questões fáticas que dependam de elucidação - seja para definir se o caso é mesmo enquadrável na hipótese já enfrentada pelos precedentes, seja para aferir o termo inicial ou o efetivo curso do prazo prescricional ou decadencial - não é aplicável a técnica da improcedência liminar do pedido. O outro elemento fundamental comum aos dois grupos é a possibilidade de julgamento liminar apenas contra o próprio autor, que já integra e participa da relação processual. Uma decisão definitiva contra o réu, nesse momento, seria ofensiva às garantias do contraditório e da ampla defesa. 6.2.1. Improcedência liminar fundada em precedente Assim, por um lado, cabe o julgamento liminar de improcedência quando a tese em que se funda a pretensão do autor já tiver sido rejeitada: (I) em enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça. A regra aplica-se tanto aos casos de súmula vinculante do STF, quanto aos de súmulas comuns dessa mesma corte e do STJ; (II) em acórdão proferido pelo STF ou pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos. O julgamento pelo STF ou STJ de uma tese que está reiterada em uma grande quantidade de recursos extraordinários ou especiais ("julgamento por amostragem") origina uma "decisão-quadro" que deve ser aplicada não apenas a todos os recursos pendentes de julgamento que versem sobre a mesma questão jurídica, como também a todas as demais ações em que ela igualmente se ponha (v. cap. 30). A regra do art. 332, II, dá um passo além, ao determinar a aplicação liminar, em outros processos, da tese afirmada na decisão-quadro; (III) em pronunciamento emitido em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. Valem aqui as mesmas considerações feitas para a hipótese anterior. A decisão proferida nesses incidentes tem força vinculante em sentido estrito (v. cap. 34 e 39) - e o art. 332 III, prevê que, não havendo necessidade de provas, ela seja aplicada de plano a outros processos; (IV) em enunciado de súmula de tribunal de justiça estadual ou do Distrito Federal sobre direito local. Essa regra é espelho daquela prevista no inc. I do art. 332. A mesma força que a súmula dos tribunais superiores tem relativamente a questões de direito federal constitucional e infraconstitucional a súmula do tribunal de justiça tem para as questões de direito local. Nem todos esses precedentes têm força vinculante em sentido estrito - de modo a caber reclamação se eles não forem observados no caso concreto (v. cap. 34 e 39, adiante). Falta tal eficácia às súmulas não vinculantes do STF e a todas as súmulas do STJ e dos tribunais locais. O art. 332 não constitui uma regra concernente à vinculação em sentido estrito. Trata-se, em vez disso, de uma norma sobre "vinculação média", i.e, uma regra de simplificação procedimental fundada na existência do precedente.1 Confere-se tal poder ao juiz a fim de impedir que inúmeros processos sobre casos análogos seguissem inutilmente todo o longo itinerário procedimental, para só muito depois chegar a um resultado desde o início já previsto, com total segurança. Prestigiam-se os princípios da economia processual e da duração razoável do processo. Mas isso significa que a não aplicação do art. 332 pelo juiz, em hipótese em que ele poderia ser aplicado, não implicará o cabimento de reclamação para o tribunal que proferiu o precedente. O juiz estará apenas deixando de seguir esse caminho mais simplificado (eventualmente, porque tem dúvidas quanto a seus pressupostos), mas não estará decidindo contra os precedentes. A reclamação apenas caberá se depois vier a ser proferida sentença adotando a tese contrária a algum daqueles precedentes, entre os arrolados no art. 332, que efetivamente se revestem de eficácia vinculante em sentido estrito, quais sejam: as súmulas vinculantes, previstas no inc. I, e todos os pronunciamentos previstos nos inc. II e III (e, no caso de inobservância das decisões- quadro tomadas em recursos especiais e extraordinários e repetitivos, só depois de esgotadas as vias ordinárias de impugnação, cf. art. 988, § 5º, II, na redação dada pela Lei 13.256/2016 - v. cap. 39, adiante). Em todos os casos, é imprescindível que a solução adotada no precedente oponha-se de modo frontal e inequívoco à tese veiculada na ação. Há de se tratar da mesma questão jurídica, para a qual o autor sustenta uma solução, que daria procedência à sua pretensão, e o precedente adota outra absolutamente divergente. Quando houver essa direta contraposição, o julgamento liminar de improcedência é aplicável. Além disso, não será necessária a abertura de oportunidade de contraditório ao autor, pois não se estará trazendo para o processo uma questão nova, um fato novo, ou uma qualificação jurídica diversa daquela já posta nos autos. Haverá a simples e direta negativa da tese sustentada pelo autor. Já se a questão solucionada no precedente tiver apenas uma repercussão argumentativa, reflexa, sobre a tese sustentada pelo autor, se houver a necessidade de analogias ou de interpretação ampliativa - enfim, se a questão resolvida no precedente constitui um importante subsídio, mas não a desautorização frontal e imediata da tese do autor -, não é possível o direto julgamento de improcedência liminar. Isso não significa que a orientação adotada no precedente, nesse caso, não possa constituir importante elemento contra a procedência da pretensão do autor e até mesmo sirva de fundamento principal para a sua rejeição. Mas já não será o caso de julgamento liminar de improcedência. Haverá inclusive a necessidade de se propiciar o contraditório ao autor, para que ele possa discutir a existência e intensidade da repercussão do precedente sobre a solução da questão posta no caso concreto (CF, art. 5.º, LV; CPC, arts. 9.º e 10). 6.2.2. Reconhecimento liminar de prescrição ou decadência O julgamento liminar de improcedência do pedido pode também fundar-se na direta constatação da ocorrência de decadência ou prescrição (art. 332, § 1.º). A prescrição consiste na extinção da pretensão de direito material por falta de seu exercício no prazo legalmente fixado. A decadência extingue, pelo mesmo motivo, o próprio direito material. Assim, trata-se de fatos que impedem ou extinguem o direito do autor - ensejando sentença de mérito (art. 487, II). O julgamento prima facie do mérito nesses casos é permitido também em homenagem aos princípios da celeridade e economia processuais. Normalmente, a averiguação do decurso do prazo prescricional ou decadencial não demanda maior pesquisa fática, bastando simples verificação do tempo de inércia do titular do direito, decorrido até que se operasse a causa extintiva. O § 1.º do art. 332 apenas autoriza o direto julgamento de rejeição do pedido fundada na prescrição ou decadência, sem propiciar-se contraditório ao autor, somente antes da citação do réu. Se o juiz constatar possível prescrição ou decadência, em momento posterior à citação, deverá abrir vista às partes, antes de pronunciar-se sobre o tema (art. 487, parágrafo. único, que não faz mais do que especificar a regra do art. 10). Nesse momento, se desejar, o réu poderá exercer sua renúncia à prescrição - hipótese em que o juiz estará impedido de decretá-la (art. 191 do CC/2002). Ainda, quando não houver a renúncia, tal prévia concessão de vista às partespermitirá também que o próprio autor, se for o caso, aduza razões que convençam o juiz de que, ao contrário de sua impressão inicial, não houve ainda decurso do prazo de prescrição. Quanto à renúncia à prescrição, veja-se ainda o n. 6.2.7, abaixo. 6.2.3. Improcedência liminar e devido processo legal Como se verá no cap. 12, quando, depois da fase postulatória, o juiz resolve a causa sem precisar da produção de provas, tem-se o "julgamento antecipado do mérito" (arts. 355 e 356). Assim, não há exagero em dizer que, na improcedência liminar, tem-se um julgamento antecipadíssimo do mérito. Mas tanto nessa como naquela hipótese, a expressão é enganosa: não se está fazendo nada antes da hora; não há razões para se aguardar, diante da plena possibilidade de se resolver a lide. Mas a doutrina já lançou dúvidas sobre a constitucionalidade desse mecanismo. Cogitou-se de violação ao devido processo, tanto em relação ao contraditório e à ampla defesa quanto no que concerne ao acesso à justiça. A circunstância de a decisão ser proferida antes da citação do réu, em si, não é violadora do contraditório e da ampla defesa, pois tal julgamento só é admissível na medida em que seja inteiramente favorável ao próprio réu. Por outro lado, houve quem aventasse de violação à garantia da ação, nela compreendido o direito do autor de influir sobre o convencimento do juiz. Em defesa da improcedência liminar responde-se apontando que o autor, que já teve a oportunidade de convencer o juiz com a inicial, terá ainda o direito de apelar - e de até obter rapidamente a retratação do juiz, se tiver havido equívoco na decisão (art. 332, § 3.º). Talvez o problema mais delicado que se ponha, quanto ao respeito das garantias, refira-se mesmo ao réu. O problema não está no julgamento de improcedência em si, mas no risco de, havendo recurso do autor, o resultado inverter-se totalmente em segundo grau, com um julgamento de total procedência. O réu, como se vê a seguir, é citado para participar desse procedimento recursal. Porém esse "salto" do primeiro grau de jurisdição para o réu (que ingressa já na fase de apelação perante o tribunal) acaba por lhe subtrair algumas faculdades que poderia exercer em primeiro grau, ao ser citado, tais como reconvir, provocar determinadas modalidades de intervenção de terceiros (chamamento ao processo, denunciação de lide) etc. A supressão dessas faculdades pode até justificar-se, considerando-se os demais valores jurídicos envolvidos. Mas há um ponto que não pode ser flexibilizado: na citação, o mandado precisará deixar claro ao réu que não lhe cabe apenas contrarrazoar o recurso, mas, mais do que isso, apresentar o integral conteúdo de sua contestação. Retoma-se o tema abaixo. 6.2.4. Natureza da decisão e recurso cabível O pronunciamento de rejeição liminar do pedido é sentença (art. 203, § 1.º), passível, portanto, de apelação (arts. 332, §§ 2.º e 3.º, e 1.009). Como resolve o mérito da causa (art. 487), tal sentença faz coisa julgada material (art. 502). 6.2.5. Juízo de retratação Tal como na apelação contra a sentença de indeferimento da inicial, o recurso contra a sentença de improcedência liminar também comporta juízo de retratação do juiz, em cinco dias (art. 332, § 3.º). Havendo retratação, o processo será retomado, com a determinação de citação do réu para contestar - e terá curso o procedimento comum em primeiro grau de jurisdição. 6.2.6. Citação do réu para acompanhamento da apelação Se o magistrado não se retratar, antes de encaminhar os autos ao tribunal ele deverá determinar a citação do réu para responder ao recurso (art. 332, § 4.º). As contrarrazões do réu terão conteúdo análogo ao de uma contestação, tendo em vista que será sua primeira manifestação no processo. Mas buscará reforçar a argumentação do magistrado, em defesa da sentença prolatada. Ventilados, pelo réu, defesa preliminar ou fato novo, faz-se necessário assegurar o contraditório e proceder à intimação do autor para que se manifeste sobre o alegado. Sendo o caso de reforma da sentença, estando o processo em condições de julgamento (i.e., não havendo necessidade de produção de provas), o tribunal poderá desde logo examinar o mérito e julgar procedente a demanda - inclusive quando em primeiro grau se havia afirmado a prescrição ou decadência (art. 1.013, § 4.º). É esse ponto que exige especial atenção para que não se sacrifique o direito de defesa do réu. Impõe-se reconhecer que as contrarrazões, na apelação contra a rejeição liminar do pedido, veiculam mais do que resposta recursal. Elas constituem o veículo da defesa do réu. Assumem o papel normalmente atribuído a contestação. Então, nesse caso, é indispensável - sob pena de nulidade - que no mandado de citação do réu conste expressamente a advertência prevista no art. 250, II, segunda parte, do CPC/2015, quanto à consequência da não apresentação de defesa. 6.2.7. Comunicação do resultado do julgamento ao réu Como se trata de decisão definitiva, havendo o trânsito em julgado, deve-se comunicar ao réu o resultado desse julgamento, a fim de que tenha conhecimento de uma sentença que lhe favorece e que está acobertada pela coisa julgada material (art. 332, § 2.º c/c art. 241). Não se trata, propriamente de uma citação, pois o réu recebe a notícia de um processo já findo; ele não integrará a relação processual (que se extinguiu antes de se tornar trilateral); ele não é chamado para defender-se... Tal comunicação é importante para que o réu, sabendo da existência dessa coisa julgada material em seu favor, ele possa depois invocá-la, se o autor, indevidamente, tornar a propor a mesma ação. Mas há um caso especial em que essa comunicação tem ainda outra finalidade, que lhe confere eventualmente o caráter de citação. Trata-se da hipótese de julgamento liminar de improcedência fundado na prescrição (art. 332, § 1.º). A prescrição, como dito, pode ser conhecida de ofício pelo juiz. Contudo, como também já destacado, o réu tem a faculdade de renunciar à prescrição (CC/2002, art. 191), se o objeto da pretensão for disponível. Quando, no curso do processo, com o réu já tendo sido citado, o juiz constata haver prescrição, ele deve antes intimar o réu para verificar se esse pretende exercer tal renunciar. Mas se o juiz, antes ainda de citar o réu, constata que a pretensão está prescrita e julga desde logo improcedente o pedido, o réu não terá sido ouvido previamente para indicar se desejaria renunciar à prescrição. Assim, ao ser cientificado na forma do art. 241, o réu, querendo, poderá interpor uma apelação exclusivamente para que seja considerada a sua renúncia. Nesse caso, o juiz, ao receber a apelação, deverá exercer juízo de retratação (art. 332, § 3.º), revogando a sentença antes proferida e dando continuidade ao processo. Essa é a construção interpretativa que compatibiliza a expressa previsão de rejeição liminar fundada na prescrição com a norma, que provém do direito material e não pode ser ignorada, de renunciabilidade da prescrição. Assim, nessa hipótese, deve-se compreender a comunicação ao réu como verdadeira citação, pois lhe abre a oportunidade de exercício de uma faculdade dentro do processo. Por consequência, deve- se também compreender adequadamente a menção a "trânsito em julgado": quer significar apenas ausência ou exaurimento de recurso por parte do autor, pois, para o réu, não há ainda trânsito em julgado nesse momento, uma vez ele pode reabrir a questão, ao pedir que se considere a sua renúncia à prescrição. 6.2.8. Rejeição liminar e parcial do pedido A exemplo do que se afirmou a respeito do indeferimento da inicial, cabe também a rejeição liminar de apenas um ou alguns dos pedidos cumulativamente feitos pelo réu ou de uma parte de um pedido que seja decomponível. Isso acontecerá quando o pressuposto para a improcedência liminar ocorrer apenas em relação a uma parte do mérito. A possibilidade dessarejeição liminar parcial extrai-se inclusive do art. 356 do CPC. Contra tal capítulo decisório caberá agravo de instrumento (arts. 356, § 5.º, e 1.015, II), que, já se indicou, comporta também juízo de retratação (art. 1.018, §1.º). 6.3. Aplicação geral As regras dos arts. 330 e 332, embora inseridas na disciplina do procedimento comum, são aplicáveis às demais modalidades procedimentais, independentemente da competência do juízo e inclusive naquelas de competência originária dos tribunais. O art. 968, §§ 3.º e 4.º, prevê sua incidência no processo da ação rescisória. O mesmo faz o art. 700, § 4.º, em relação à aplicabilidade do art. 330 à ação monitória. De todo modo, a aplicação desses mecanismos a ações especiais independe de regras expressas como essas. Indeferimento da inicial (art. 330) Conflito entre princípios fundamentais Inépcia da inicial Faltar pedido ou causa de pedir Pedido indeterminado Pedidos incompatíveis Dos fatos não decorrer logicamente o pedido I Ilegitimidade da parte Faltar interesse processual Emenda à inicial não efetuada (arts. 106, § 1.º, e 321) Natureza de sentença Apelação - Juízo de retratação (5 dias) Ausência de recurso do autor - intimação do réu Indeferimento parcial da inicial Agravo de instrumento - Juízo de retratação Indeferimento tardio Improcedência liminar do pedido (art. 332) Dispensada a fase instrutória Enunciado de súmula do STF/STJ Acórdão de recurso repetitivo Pronunciamento emitido em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência Enunciado de súmula de tribunal local Prescrição e decadência Improcedência liminar e devido processo legal Natureza de sentença Apelação - Juízo de retratação (5dias) Citação do réu para acompanhamento da apelação Rejeição liminar e parcial do pedido Agravo de instrumento - Juízo de retratação Aplicação geral Doutrina Complementar · Alexandre Freitas Câmara (O Novo Processo..., p. 195) aduz que: "Estabelece o art. 330 os casos em que a petição inicial deve ser indeferida, o que acarretará a extinção do processo sem resolução do mérito (art. 485, I). Vale recordar, porém, que só se extinguirá o processo sem resolução do mérito quando não for possível corrigir-se o vício, dado o princípio da primazia da resolução do mérito. Pois é exatamente por isso que se afirma na lei processual, expressamente, que a petição inicial será indeferida quando não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 (art. 330, IV), isto é, quando - tendo o juiz verificado não haver sido preenchido algum requisito da petição inicial - não tenha o autor a corrigido ou completado, emendando a inicial, no prazo de quinze dias (art. 321), ou quando, não havendo na petição inicial a indicação dos endereços dos advogados do demandante, não tenha sido o vício corrigido em cinco dias (art. 106, § 1.º)". · Georges Abboud e José Carlos Van Cleef de Almeida Santos (Breves..., p. 840) expõem que: "O indeferimento da petição inicial pode ser total ou parcial e - segundo dispõe o art. 203 do CPC/2015 - pode ensejar o proferimento de sentença ou de decisão interlocutória. Não se desconhece a técnica de cumulação de demandas, muito utilizada como forma de otimizar a prestação da tutela jurisdicional. Havendo mais de uma demanda cumulada em instrumento único é possível haja o indeferimento da petição inicial em relação a apenas uma das demandas, hipótese na qual o processo observará o seu regular desenvolvimento quanto a demanda remanescente. Consequentemente, não é verdadeira a afirmação que o indeferimento da petição inicial acarreta, necessariamente, o proferimento de sentença. Caso o indeferimento da petição inicial não importe o encerramento da fase cognitiva do procedimento em primeiro grau de jurisdição (v.g, por dizer respeito apenas uma das demandas cumuladas), o pronunciamento judicial terá a natureza jurídica de decisão interlocutória, segundo expressamente previsto no art. 203, § 2.º, do CPC/2015. De outra banda, ocorrendo a extinção da fase de conhecimento do processo, a hipótese é de sentença, conforme disposto no art. 203, § 1.º, do CPC/2015". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 758) afirma que: "Não se recomenda uma interpretação ampliativa, ou extensiva, das hipóteses legais de indeferimento sumário da inicial. O correto será estabelecer-se, primeiro, o contraditório, sem o qual o processo, em princípio, não se mostra completo e apto a sustentar o provimento jurisdicional nem a solução das questões incidentais relevantes. O indeferimento liminar e imediato da petição inicial, antes da citação do réu, é de se ver como exceção. A regra é a audiência bilateral, i.e., o respeito ao contraditório. Por isso, mesmo os motivos evidentes de indeferimento da peça de abertura do processo passam a ser, após o aperfeiçoamento da relação processual, causas de extinção do processo sem apreciação do mérito (art. 485)". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 902) conceituam o indeferimento da petição inicial como "trancar liminarmente a petição inicial, sem dar prosseguimento ao pretendido pelo autor. O ato do juiz que indefere a petição inicial é sentença, impugnável pelo recurso de apelação. As sentenças de indeferimento da petição inicial são de extinção do processo sem resolução do mérito (CPC 485 I). (...) Somente pode ocorrer essa figura jurídica do indeferimento da petição inicial se o juiz assim o fizer logo no início do procedimento. Determinada a citação do réu, não mais poderá haver indeferimento da petição inicial, pelo simples motivo de que já terá sido deferida, isto é, mandada processar. Caso o juiz, no decorrer do processo, resolva acolher, por exemplo, preliminar, arguida pelo réu, de manifesta ilegitimidade de parte (CPC 337 XI), ainda que esse tema enseje o indeferimento da petição inicial (CPC 330 II), não poderá indeferir a petição inicial já deferida, mas sim deverá extinguir o processo sem resolução do mérito (CPC 485 VI)". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 547; 548) comentam a intenção do legislador ao não permitir mais que o devedor, nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação de bens, deixe de adimplir a parte da obrigação tida por incontroversa (art. 330, § 3.º, CPC): "Trata-se de solução construída pela jurisprudência a partir das regras então existentes no sistema e que veio a ser reforçada, recentemente, pela criação do art. 285-B do CPC/73, e agora, no NCPC, no art. 330, § 3.º. Ao dispor expressamente que o valor incontroverso deve ser pago no tempo e modo contratados, pretendeu o legislador: (i) evitar que o autor recorra ao depósito judicial para efetuar o pagamento do valor incontroverso, durante o trâmite da ação revisional; (ii) exigir que o pagamento seja feito, com a atualização e remuneração previstas no contrato". Enunciados do FPPC N.º 81.(Art. 932, V, CPC/2015) Por não haver prejuízo ao contraditório, é dispensável a oitiva do recorrido antes do provimento monocrático do recurso, quando a decisão recorrida: (a) indeferir a inicial; (b) indeferir liminarmente a justiça gratuita; ou (c) alterar liminarmente o valor da causa. N.º 139.(Art. 287, CPC/2015) No processo do trabalho, é requisito da petição inicial a indicação do endereço, eletrônico ou não, do advogado, cabendo-lhe atualizá-lo, sempre que houver mudança, sob pena de se considerar válida a intimação encaminhada para o endereço informado nos autos. N.º 145.(Art. 319; art. 15, CPC/2015) No processo do trabalho, é requisito da inicial a indicação do número no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoasjurídicas, bem como os endereços eletrônicos do autor e do réu, aplicando-se as regras do novo Código de Processo Civil a respeito da falta de informações pertinentes ou quando elas tornarem impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. N.º 154.(Art. 354, parágrafo único; art. 356, § 5.º, CPC/2015) É cabível agravo de instrumento contra ato decisório que indefere parcialmente a petição inicial ou a reconvenção. N.º 280.(Art. 290, CPC/2015) O prazo de quinze dias a que se refere o art. 290 conta-se da data da intimação do advogado. N.º 281.(Art. 319, III, CPC/2015) O enquadramento normativo dos fatos não é requisito da petição inicial e, uma vez existente, não vincula o órgão julgador. N.º 282.(Art. 319, III; art. 343, CPC/2015) Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta previsto no art. 10. N.º 283.(Art. 319, §§ 1.º; art. 320; art. 396, CPC/2015) Aplicam-se os arts. 319, § 1.º, 396 a 404 também quando o autor não dispuser de documentos indispensáveis à propositura da ação. N.º 285. (Art. 322, § 2.º, CPC/2015) A interpretação do pedido e dos atos postulatórios em geral deve levar em consideração a vontade da parte, aplicando-se o art. 112 do Código Civil. N.º 290.(Art. 330, §§ 2.º e 3.º, CPC/2015) A enumeração das espécies de contrato previstas no § 2.º do art. 330 é exemplificativa. N.º 291.(Art. 331, CPC/2015) Aplicam-se ao procedimento do mandado de segurança os arts. 331 e parágrafos e 332, § 3.º do CPC. N.º 292.(Art. 4.º; art. 330; art. 321, CPC/2015) Antes de indeferir a petição inicial, o juiz deve aplicar o disposto no art. 321. N.º 293.(Art. 331; art. 332, § 3.º; art. 1.010, § 3.º, CPC/2015) Se considerar intempestiva a apelação contra sentença que indefere a petição inicial ou julga liminarmente improcedente o pedido, não pode o juízo a quo retratar-se. N.º 296.(Art. 338; art. 339, CPC/2015) Quando conhecer liminarmente e de ofício a ilegitimidade passiva, o juiz facultará ao autor a alteração da petição inicial, para substituição do réu, nos termos dos arts. 338 e 339, sem ônus sucumbenciais. N.º 367.(Art. 312; art. 503; art. 1.054, CPC/2015) Para fins de interpretação do art. 1.054, entende-se como início do processo a data do protocolo da petição inicial. N.º 425. (Art. 321; art. 106, § 1.º, CPC/2015) Ocorrendo simultaneamente as hipóteses dos art. 106, § 1.º, e art. 321, caput, o prazo de emenda será único e de quinze dias. Bibliografia Fundamental Alexandre Freitas Câmara, O novo processo civil brasileiro, São Paulo, Atlas, 2015; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, 56. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2015, vol. 1; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao Código de Processo Civil, São Paulo, Ed. RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.), Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil, São Paulo, Ed. RT, 2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo por artigo, São Paulo, Ed. RT, 2015. Complementar Accácio Cambi, Petição inicial. Aplicação do art. 284 do CPC. Dever omitido pelo juiz, RePro 105/309; Alfredo de Araújo Lopes da Costa, Manualelementardedireitoprocessualcivil, 3. ed., atual. 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Leis 11.187 e 11.232 de 2005; 11.276, 11.277 e 11.280 de 2006, Curitiba, Juruá, 2006; © desta edição [2016] civil. Leis 11.187 e 11.232 de 2005; 11.276, 11.277 e 11.280 de 2006, Curitiba, Juruá, 2006; _____, A resolução antecipada do mérito em ações repetitivas (Lei 11.277/2006), RePro 141/116; Voltaire de Lima Moraes, Reflexões sobre o art. 285-B do Código de Processo Civil, RDC 88/299, jul. 2013; Welington Luzia Teixeira, As novas reformas do CPC e o Estado Democrático de Direito: adequação ou colisão?, RDDP 42/142. FOOTNOTES 1 Quanto aos diferentes graus de força vinculante, v. Eduardo Talamini, "Objetivação do controle incidental de constitucionalidade e força vinculante (ou 'devagar com o andor que o santo é de barro')". In: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis (coord. Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier), v. 12, n. 3, p. 144 e ss. - também disponível em [www.academia.edu]. O tema é também aqui enfrentado, mais adiante, nos caps. 34 e 39.
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