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Impressoras 3D: o direito da propriedade intelectual precisará alcançar novas dimensões

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Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS 
ESCOLA DE DIREITO FGV DIREITO RIO 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
HUGO ANCIÃES DA CUNHA 
 
 
 
 
Impressoras 3D: o direito da propriedade intelectual precisará alcançar novas 
dimensões? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, novembro/2013. 
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS 
ESCOLA DE DIREITO FGV DIREITO RIO 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
HUGO ANCIÃES DA CUNHA 
 
 
 
 
Impressoras 3D: o direito da propriedade intelectual precisará alcançar novas 
dimensões? 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, sob 
orientação da professora Marília Maciel, 
apresentado à FGV DIREITO RIO como 
requisito parcial para obtenção do grau 
de bacharel em Direito. 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, novembro/2013. 
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS 
ESCOLA DE DIREITO FGV DIREITO RIO 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
Título do trabalho - Impressoras 3D: o direito da propriedade intelectual precisará 
alcançar novas dimensões? 
 
 
Elaborado por HUGO ANCIÃES DA CUNHA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à FGV DIREITO RIO como 
requisito parcial para obtenção do grau 
de bacharel em Direito. 
 
Comissão examinadora: 
Nome do orientador: Marília Maciel 
Nome do examinador 1: _________________ 
Nome do examinador 2: _________________ 
Assinaturas: 
___________________________________________ 
Professor Orientador 
___________________________________________ 
Examinador 1 
___________________________________________ 
Examinador 2 
Nota final: _______ 
 
Rio de Janeiro, ____ de ____________ de 2013. 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para as minhas avós, com todo o carinho do mundo. 
AGRADECIMENTOS 
 
À Fundação Getúlio Vargas, pelas oportunidades, pela formação e pela bolsa de 
estudos; 
À Professora Marília Maciel, pela grande ajuda; 
Ao Professor Thiago Bottino, por estar sempre lá; 
A todos os professores, por tudo que sei; 
Aos funcionários da Fundação, por tratarem meus problemas como se fossem seus; 
À Dra. Dulce, por ser a melhor chefe que eu poderia querer; 
Ao Marcus, por ter me acolhido antes mesmo de me conhecer; 
À Sheila, por me lembrar sempre do quão forte e generosa uma pessoa pode ser; 
Ao Bernardo, por ser meu irmão mais novo; 
Ao Fernando, pelos pudins; 
Ao Ian, pelas risadas; 
À minha avó Emília, por me mostrar que o valor de uma pessoa não vem daquilo que 
ela tem; 
À minha avó Cecília, pela minha educação e por me ensinar o que é a bondade; 
À minha mãe, pelo amor nos dias mais difíceis; 
Ao meu pai, por uma feliz reconciliação; 
A Deus, por tudo; e 
À Helena, por ser, ao mesmo tempo, minha melhor amiga, minha alegria, minha 
ajudante, minha força, meu futuro e minha luz; 
 
Eu nunca teria conseguido sem vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Any customer can have a car painted any color that he wants, 
so long as it `s black. 
Henry Ford 
RESUMO: A presente monografia tem como objeto a análise dos possíveis impactos 
causados no campo da Propriedade Intelectual oriundos do desenvolvimento da 
tecnologia de impressão 3D. Este trabalho se estrutura em torno de três grandes 
seções. A primeira visa à apresentação das impressoras 3D ao leitor, descrevendo um 
pouco de sua história e, também, suas aplicações. A segunda expõe os principais 
contornos jurídicos que caracterizam a Propriedade Intelectual e os direitos dela 
decorrentes, relacionando-os com a impressão 3D. Na última seção, por fim, realiza-se 
uma reflexão quanto aos desafios apresentados no decorrer do texto e, também, a 
apresentação de situações que indicam possíveis rumos para a interação entre a 
tecnologia em questão e a Propriedade Intelectual. 
PALAVRAS-CHAVE: Impressão 3D. Impressoras 3D. Manufatura Aditiva. Propriedade 
Intelectual. Direitos Autorais. Marcas. Patentes. 
 
 
SUMMARY: This monograph focuses the analysis of potential impacts in the field of 
Intellectual Property arising from the development of 3D printing technology. The work is 
structured around three main sections. The first intends to present 3D printers to the 
reader, describing some of its history and applications. The second sets out the main 
legal contours that characterize Intellectual Property, relating it with 3D printing. In the 
last section, a reflection on the challenges presented throughout the text will be made, 
as well as the presentation of possible directions for the collision of additive 
manufacturing and Intellectual rights. 
KEY WORDS: 3D Printing. 3D Printers. Additive Manufacturing. Intellectual Property. 
Copyright. Trademarks. Patents. 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10 
1. FÁBRICAS EM FORMA DE MÁQUINA: AS IMPRESSORAS 3D .............................. 14 
2. MINHA MENTE, MEUS DIREITOS: A PROPRIEDADE INTELECTUAL ................... 20 
2.1. Livros, músicas, obras de arte: os direitos autorais ............................................. 23 
2.2. A racionalidade humana dedicada à produção: a propriedade industrial ............. 27 
3. CONCLUSÃO: O FUTURO EM TRÊS DIMENSÕES ................................................. 33 
3.1. A reação dos detentores de Propriedade Intelectual ........................................... 33 
3.2. Inovar é preciso .................................................................................................... 36 
3.3. O Direito da Propriedade Intelectual precisará alcançar novas dimensões? ....... 38 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 41 
ANEXO A – ILUSTRAÇÕES .......................................................................................... 44 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema a análise de 
algumas das possíveis implicações oriundas do desenvolvimento1 da tecnologia de 
impressão de objetos sólidos em três dimensões (“impressão 3D”). Embora sejam 
previstas consequências nos mais diferentes campos, como o da Economia2 e o do 
controle de armas3
As impressoras 3D podem ser compreendidas como verdadeiras fábricas em 
forma de máquina. Por meio de mecanismos tecnológicos que serão abordados a 
seguir, estes dispositivos tornam possível a fabricação de objetos de diferentes 
tamanhos, formatos e espécies de maneira inovadora, ao passo que praticamente 
dispensam o emprego de outros aparelhos, ou de muitas pessoas, para que seja 
produzido o item desejado por quem as opera. 
, esta abordagem se voltará, especificamente, à resposta – que 
segundo a hipótese adotada ao longo da pesquisa seria positiva – ao seguinte 
problema: a evolução das impressoras em três dimensões (“impressoras 3D”) trará 
impactos ao Direito da Propriedade Intelectual? Tal opção não foi motivada apenas pelo 
profundo interesse do aluno pelo assunto, mas também pela preocupação em conceder 
o tratamento merecido e necessário à questão, o que certamente não seria possível 
caso a discussão fosse direcionada a múltiplas áreas da ação humana. 
Tal capacidade representa uma ruptura em relação aos modelos de produção 
tradicionais, como o taylorismo, o fordismo e o toyotismo, que, dentro de suas 
 
1 Estudos indicam que em 2016 a indústria de impressoras em três dimensões movimentará US$ 3,1 bilhões. Para o 
ano de 2020, as previsões saltam para US$ 5,2 bilhões, o que representaria umaumento de aproximadamente 40%. 
MCCUE, TJ. 3D Printing industry will reach $3.1 billion worldwide by 2016. Disponível em: 
<http://www.forbes.com/sites/tjmccue/2012/03/27/3d-printing-industry-will-reach-3-1-billion-worldwide-by-2016/>. 
Acesso em: 10 set. 2013. 
2 MILLS, Mark P. Manufacturing, 3D Printing and what China knows about the emerging American century. 
Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/markpmills/2011/07/05/manufacturing-3d-printing-and-what-china-
knows-about-the-emerging-american-century/>. Acesso em: 20 ago. 2013; KARLGAARD, Rich. 3D Printing will 
revive American manufacturing. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/richkarlgaard/2011/06/23/3d-
printing-will-revive-american-manufacturing/>. Acesso em: 10 set. 2013. 
3 KAPLAN, Jeremy A. As 3D-Printed rifles get real, are changes to gun-control laws coming? Disponível em: 
<http://www.foxnews.com/tech/2013/08/09/as-3d-printed-rifles-get-real-are-changes-to-gun-laws-coming/>. Acesso 
em: 12 set. 2013. 
11 
 
particularidades, se estruturam em torno de uma concepção descentralizada da 
fabricação de objetos, na qual diversas pessoas e diversas máquinas contribuem com 
parte do esforço necessário à obtenção do produto final. Essa mudança de paradigma 
foi traduzida de forma irretocável na imagem que estampou a capa da célebre revista 
The Economist, edição de 21 de abril de 20124
 
: 
 
 
 
 
 
 
 
 
No entanto, as possibilidades de aplicação da impressão 3D não se limitam ao 
setor industrial. Hoje, embora existam impressoras industriais avaliadas em centenas de 
milhares de dólares, que podem imprimir objetos de grande complexidade e proporção, 
também há máquinas voltadas ao uso doméstico, com menor custo e capacidade 
técnica. 
Por mais que não consista em uma invenção extremamente recente – ao 
contrário do que grande parte das pessoas imagina, alguns tipos de impressoras 3D já 
 
4 RYDER, Brett. Ilustração pertencente à revista The Third Industrial Revolution. The Economist. Edição de 21 abr. 
2012, capa. Imagem redimensionada. Formato JPEG. Disponível em: < http://www.economist.com/node/21552901> 
Acesso em: 19 ago. 2013. 
RYDER, Brett (2012) 
12 
 
existiam há décadas5
Diante da crescente lucratividade
 – a impressão 3D tem encontrado grande espaço no mercado e 
na mídia nos últimos anos. A atenção repentina ao tema pode ser explicada pela 
intensa evolução da referida tecnologia nesse período, impulsionada por sólidos 
investimentos e por avanços científicos e técnicos que, quando aplicados às 
impressoras 3D, permitem a fabricação de objetos e a utilização de materiais de forma 
nunca antes vista – exceto, talvez, em uma criativa história de ficção científica. 
6
Nesse contexto, o Direito determinará o que poderá e o que não poderá ser feito 
por criadores e usuários de impressoras 3D ao longo dos próximos anos. Sob a 
perspectiva da Propriedade Intelectual, o desafio que se vislumbra é o de aplicar as 
normas existentes – estruturadas a partir de uma lógica secular – e criar novas regras 
de modo a conciliar os interesses morais e econômicos dos envolvidos e o máximo 
aproveitamento da tecnologia em benefício da coletividade. Nesse sentido, atenta 
Ronaldo Lemos
, da promessa de incríveis descobertas e do 
frisson dos consumidores, pode-se afirmar que as impressoras 3D deverão evoluir 
rapidamente em um futuro próximo. Não obstante, é impossível precisar o quão próximo 
está este futuro. Mesmo assim, é inegável, como será evidenciado adiante, que a 
impressão 3D tem potencial para modificar, em diferentes proporções, o mundo que 
conhecemos hoje. Assim, é essencial refletir com antecedência acerca de tais 
mudanças, de forma a orientar as ações necessárias no momento em que elas 
efetivamente acontecerão. 
7
O direito da propriedade intelectual é um bom exemplo dessa relação 
entre a manutenção da dogmática jurídica e a transformação da 
: 
 
5 KRUSZELNICKI, Karl S. 3D Printing revolution. Disponível em: 
<http://www.abc.net.au/science/articles/2013/05/15/3759543.htm>. Acesso em: 15 ago. 2013. 
6 ROBINSON, Michael A. The Profit Potential from 3D Printing is Massive. Disponível em: 
<http://moneymorning.com/2013/03/04/the-profit-potential-from-3d-printing-is-massive/#> Acesso em: 14 nov. 
2013; ZHANG, J.J. Winners and losers as 3-D printing disrupts the market. Disponível em: 
<http://www.marketwatch.com/story/winners-and-losers-as-3-d-printing-disrupts-market-2013-10-23> Acesso em: 
14 de nov. de 2013. 
7 LEMOS, Ronaldo. Direito, tecnologia e cultura. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005, p. 8. Licenciado em 
Creative Commons. Disponível em: <http:// www.overmundo.com.br/banco/livrodireito-tecnologia-e- cultura-
ronaldolemos>. Acesso em: 05 set. 2013. 
13 
 
realidade. Apesar do desenvolvimento tecnológico que fez surgir, por 
exemplo, a tecnologia digital e a internet, as principais instituições do 
direito de propriedade intelectual, forjadas no século XIX com base em 
uma realidade social completamente distinta da que hoje presenciamos, 
permanecem praticamente inalteradas. Um dos principais desafios do 
jurista no mundo de hoje é pensar qual a repercussão do direito em vista 
das circunstâncias de fato completamente novas que ora se 
apresentam, ponderando a respeito dos caminhos para sua 
transformação. 
Ante o exposto, é fundamental destacar que o tema ora abordado reveste-se de 
novidade e importância, notadamente em decorrência de três fatores: (i) embora muitos 
não conheçam as impressoras 3D, elas já são uma realidade, com um enorme potencial 
a ser descoberto e explorado, o que, inclusive, fez com que a mídia especializada 
apontasse essas máquinas como as precursoras da próxima Revolução Industrial8; (ii) 
o cenário jurídico, principalmente no Brasil, carece de produções acadêmicas acerca 
deste assunto, pois a ampla divulgação do novo invento na imprensa ainda é muito 
recente9
Este trabalho se estrutura em torno de três grandes seções. A primeira visa à 
apresentação das impressoras 3D ao leitor, descrevendo um pouco de sua história e 
também suas aplicações. A segunda expõe os principais contornos jurídicos que 
caracterizam a Propriedade Intelectual e os direitos dela decorrentes, relacionando-os 
com a impressão 3D. Na última seção, por fim, realiza-se uma reflexão quanto aos 
desafios apresentados no decorrer do texto e, também, a apresentação de situações 
que indicam possíveis rumos para a interação entre a tecnologia em questão e a 
Propriedade Intelectual. 
; e (iii) quando os primeiros embates entre impressão 3D e Propriedade 
Intelectual surgirem – e veremos adiante que eles já estão surgindo – os operadores do 
Direito precisarão estar preparados para os desafios que essa tecnologia inovadora 
impõe às regras concebidas em um passado marcado por outro contexto científico e 
tecnológico. 
 
8 The Third Industrial Revolution. The Economist. Edição de 21 abr. 2012. Disponível em: 
<http://www.economist.com/node/21552901> Acesso em: 19 ago. 2013. 
9 As pesquisas realizadas revelaram que são muito escassos ou inexistentes os trabalhos acadêmicos que abordam o 
tema sob a presente perspectiva. A título de exemplo, não foi encontrado nenhum livro em língua portuguesa que 
tivesse como objeto a relação entre impressoras 3D e Propriedade Intelectual. No que tange às notícias nos meios de 
comunicação, a grande maioria dos artigos analisados datam da década de 2010. 
14 
 
1. FÁBRICAS EM FORMA DE MÁQUINA: AS IMPRESSORAS 3D 
 
 
Quem se depara com as crescentes notícias acerca das inovadoras aplicaçõesdas impressoras 3D certamente imagina que estes aparelhos são tão recentes quanto 
as redes sociais ou os smartphones. No entanto, em 1986, quando muitos sequer 
sabiam o que era a internet, o engenheiro americano Charles Hull já havia patenteado o 
procedimento técnico necessário às primeiras impressões em 3D: a estereolitografia10
À procura de um modo rápido e eficiente de trazer à vida objetos tridimensionais 
que existiam apenas em meio digital, Hull se inspirou na então recente invenção das 
impressoras a jato de tinta para elaborar um processo que possibilitava a fabricação de 
protótipos das peças que criava no computador em um material frágil, mas que servia 
aos seus propósitos à época. A primeira impressora 3D
. 
11 empregava um raio de luz 
ultravioleta que ao entrar em contato com um plástico ou polímero em estado líquido o 
solidificava, formando assim a estrutura dos objetos desejados12
Ocorre que, desde 1986, a tecnologia evoluiu de tal forma que as impressoras 
3D, anteriormente utilizadas somente para fins de prototipagem rápida, passaram a 
poder reproduzir muito mais do que versões prévias dos produtos que seriam 
fabricados, parte por parte, em um processo industrial complexo e segmentado. Em 
dado momento, tornou-se possível empregar apenas uma máquina – a impressora 3D – 
para obter os produtos já em sua versão final, prontos para uso e comercialização
. 
13
 
10 Para obter informações detalhadas acerca da referida patente é possível analisar ser conteúdo integral por meio do 
seguinte link: <
. 
http://www.google.com.br/patents/US4575330?hl=pt-BR&dq=charles+hull>. Acesso em: 11 set. 
2013. 
11 Note-se que, à época, não era essa a terminologia utilizada para se referir às impressoras 3D, então conhecidas 
como máquinas de prototipagem rápida. O novo e bem-sucedido nome, com maior apelo comercial, foi concebido 
apenas em 1995, pelos estudantes do MIT Tim Anderson e Jim Bredt, fundadores da Z Corporation, uma empresa 
extremamente relevante no atual cenário da impressão 3D. O artigo Behind the rise of the 3D printing revolution, de 
Jamillah Knowles, publicado em 08 de dezembro de 2012, aborda bem essa questão. KNOWLES, Jamillah. Behind 
the rise of the 3D printing revolution Disponível em: <http://thenextweb.com/insider/2012/12/08/behind-the-rise-of-
the-3d-printing-revolution/>. Acesso em: 20 set. 2013. 
12 Informações mais detalhadas podem ser obtidas em:<http://www.google.com.br/patents/US4575330?hl =pt-
BR&dq=charles+hull>. Acesso em: 11 set. 2013. 
13 GIBSON, Ian; ROSEN, David W; STUCKER, Brent. Additive Manufacturing Technologies. Nova York: 
Springer, 2010, p.1-2. 
15 
 
Diante desses avanços, não havia mais como tratar as impressoras 3D como 
simples meio de obtenção de protótipos, razão pela qual se convencionou14
Mais do que uma alteração de cunho meramente formal, a mudança de nome 
refletiu uma nova visão da indústria e dos especialistas quanto à consolidação da 
manufatura aditiva no mercado, haja vista que hoje não é exagero considerá-la um 
meio de produção inovador
 adotar a 
terminologia “manufatura aditiva” para se referir de maneira tecnicamente mais precisa 
ao processo popularmente conhecido como impressão 3D. 
15
Com o passar dos anos, os especialistas não se limitaram apenas a aprimorar o 
processo concebido por Charles Hull. Atualmente, uma pessoa que queira imprimir 
determinado objeto em três dimensões dispõe de numerosas técnicas para fazê-lo. 
Dentre elas, é possível mencionar, além da estereolitografia, a impressão baseada em 
pó
. Essa alteração de perspectiva resultou em crescentes 
investimentos em pesquisa e desenvolvimento desta tecnologia, que tem vivenciado 
uma fase muito frutífera, já que a todo momento surgem novas e bem-sucedidas 
aplicações para as impressoras 3D. 
16 e a modelagem por depósito de material fundido17
 
14 O grande passo para a consolidação da nova terminologia foi seu estabelecimento como nomenclatura padrão pela 
ASTM International, organismo internacional de definição de standards. Ver: GIBSON, Ian; ROSEN, David W; 
STUCKER, Brent. Additive Manufacturing Technologies. Nova York: Springer, 2010, p. 2. 
. 
15 Em oposição à manufatura subtrativa, método tradicional no qual partes de um bloco bruto de determinado 
material são retiradas de forma a “esculpir” um produto, a manufatura aditiva se destaca pelo aproveitamento mais 
eficiente – e lucrativo – da matéria-prima, haja vista que, em decorrência da sobreposição de camadas, que permite a 
fabricação de um objeto “do zero”, há pouco ou nenhum desperdício. As técnicas tradicionais de manufatura 
subtrativa chegam a implicar um assombroso desperdício de até 90% do material inicialmente empregado. Para mais 
informações ver: FLEMING, Mark. What is 3D Printing? An overview. Disponível em: 
<http://www.3dprinter.net/reference/what-is-3d-printing>. Acesso em: 11 ago. 2013; e GOBRY, Pascal-Emmanuel. 
The next trillion dollar industry: 3D Printing. Disponível em: <http://www.businessinsider.com/3d-printing-2011-
2>. Acesso em: 13 nov. 2013. 
16 Nesse tipo de impressão, materiais que podem assumir a forma de pó, como vidro, aço, prata e cerâmica, são 
colocados em um grande recipiente, no qual são atingidos por um raio laser cuja temperatura poder ser ajustada ao 
ponto de fusão da substância empregada na impressão. Assim, as partículas fundidas do material se unem e dão 
forma ao objeto desejado. FLEMING, Mike. What is 3D Printing? An Overview. Disponível em: 
<http://www.3dprinter.net/reference/what-is-3d-printing>. Acesso em: 22 set. 2013. 
17 Esta técnica se baseia na obtenção de objetos por meio do depósito contínuo de materiais já fundidos em camadas. 
Ao deixarem o dispositivo extrusor, os materiais sofrem um choque térmico e se solidificam, formando, assim, a 
estrutura do objeto desejado. FLEMING, Mike. What is 3D Printing? An Overview. Disponível em: 
<http://www.3dprinter.net/reference/what-is-3d-printing>. Acesso em: 22 set. 2013. 
16 
 
Independentemente da técnica ou da máquina utilizada, toda impressão 3D 
presume o uso de um dispositivo mecânico para dispor e unir partículas minúsculas de 
um ou mais materiais em finíssimas camadas. A repetida sobreposição dessas 
camadas dá origem às formas tridimensionais que compõem o objeto que se desejava 
imprimir, permitindo, inclusive, a impressão do interior dos produtos, que, caso o 
operador da máquina assim deseje, não são fabricados como uma peça oca e, 
tampouco, como um bloco rígido de material18. É possível, ainda, produzir objetos 
intrincados, que já saem montados das impressoras 3D, a exemplo do modelo de 
transmissão automática de automóvel mostrado a seguir19
 
: 
 
 
 
 
 
 
 
Naturalmente, tecnologias de impressão diferentes tendem a produzir resultados 
diferentes. Nesse sentido, atentam Gibson, Rosen e Stucker20
All commercialized additive manufacturing machines to date use a layer-
based approach; and the major ways that they differ are in the materials 
that can be used, how the layers are created, and how the layers are 
bonded to each other. Such differences will determine factors like the 
accuracy of the final part plus its material properties and mechanical 
: 
 
18 O`NEIL, Terence; WILLIAMS, Josh. 3D Printing. Ann Harbor: Cherry Lake Publishing, 2013. 
19 SOWARDS, Andy. Best 3D printing creations. Imagem redimensionada. Formato JPEG. Disponível em: < 
http://designyoutrust.com/designyoutrust/best-3d-printing-creations/> Acesso em: 11 nov. 2013. 
20 GIBSON, Ian; ROSEN, David W; STUCKER, Brent. Additive Manufacturing Technologies. Nova York: 
Springer,2010, p.2 
SOWARDS, Andy (2013) 
 
17 
 
properties. They will also determine factors like how quickly the part can 
be made, how much postprocessing is required, the size of the additive 
manufacturing machine used, and the overall cost of the machine and 
process. 
Para uma melhor visualização do processo de manufatura aditiva, basta imaginar 
que uma impressora tradicional a jato de tinta hipoteticamente poderia ser usada para 
imprimir, em uma mesma folha de papel, um mesmo texto, por incontáveis e seguidas 
vezes. Em algum momento, ao ser suficientemente sobreposta, a tinta iria se acumular, 
se elevando sobre o papel e gerando uma versão tridimensional do texto impresso. Foi 
esse o princípio imaginado por Hull na década de 1980. É esse o princípio da 
impressão 3D. 
Nas imagens a seguir21
 
21 DERRINGER, Jaime. Want it? Makerbot gives you the power to make it. Imagens redimensionadas. Formato 
JPEG. Disponível em: < http://design-milk.com/want-it-makerbot-gives-you-the-power-to-make-it/>. Acesso em 13 
nov. 2013. 
, é possível observar uma impressora 3D imprimindo um 
objeto e, também, uma destas máquinas cercada por itens fabricados por meio de 
técnicas de manufatura aditiva. 
DERRINGER, Jaime (2012) 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todavia, na prática, para que tudo isso seja possível, é necessário que exista um 
modelo tridimensional do objeto desejado em meio digital, editável por meio de 
softwares de CAD – Computer Aided Design, como Maya, 3D Studio e AutoCad, 
programas de computador que não são exclusivamente utilizados no âmbito da 
impressão 3D, mas também em ramos como arquitetura e engenharia22
Visando à obtenção deste tipo de arquivo digital podem ser utilizadas duas 
técnicas: a modelagem do objeto diretamente em um software específico, a exemplo 
dos mencionados acima – método este que exige conhecimentos mais aprofundados 
em computação – ou, ainda, o escaneamento 3D, que pode ser realizado tanto por 
caríssimas máquinas industriais quanto por dispositivos que muitas pessoas já 
possuem em suas casas, como um smartphone
. 
23, um tablet24 ou um Kinect25
 
22 BRINQUEDOS, carros e casas impressos em 3D. O Globo. Rio de Janeiro, 07 abr. 2013, p. 45. 
 – em 
diferentes níveis de detalhamento e fidelidade em relação ao objeto original. 
23 O aplicativo Trimensional permite o escaneamento 3D por meio das informações que obtém após o usuário 
fotografar o objeto que deseja imprimir sob diferentes ângulos. Disponível em: <http://www.trimensional.com/>. 
Acesso em: 10 ago. 2013. 
24 FLAHERTY, Joseph. This Amazing Accessory Turns Your iPad Into a 3-D Scanner. Disponível em: 
<http://www.wired.com/design/2013/09/structure-3-d-scanner-for-your-ipad/>. Acesso em: 30/09/2013 
DERRINGER, Jaime (2012) 
19 
 
Ressalte-se, também, que além da própria impressora 3D e do arquivo digital 
acima mencionado, são indispensáveis os materiais que irão compor o objeto sólido a 
ser fabricado. Em contraste com os plásticos pouco resistentes que eram empregados 
nas primeiras máquinas de manufatura aditiva, o amplo rol de matérias-primas já 
utilizadas em impressões 3D hoje inclui metais como ferro, aço e ouro, polímeros de 
diferentes espécies, vidro, células e até chocolate. É importante destacar que o uso 
desses materiais está limitado ao custo e à capacidade de cientistas e pesquisadores 
viabilizarem que essas novas “tintas” assumam um estado físico compatível com o 
processo de impressão, mas os avanços nesse âmbito têm ocorrido rapidamente. 
Dessa forma, hoje já existem impressoras 3D domésticas que podem imprimir 
uma ampla gama de pequenos objetos feitos, basicamente, de materiais plásticos, 
como capas para celular, armações de óculos, action figures e xícaras, e impressoras 
que envolvem custos elevados, detidas por indústrias, laboratórios e empresas em 
geral, as quais já conseguiram fabricar roupas, instrumentos musicais, próteses 
médicas de alta qualidade, peças de reposição, carros, casas e até mesmo tecidos 
humanos26
Em 2012, foi realizada em Londres a 3D Printshow, a primeira grande convenção 
voltada exclusivamente à apresentação dos mais distintos – e incríveis – objetos 
impressos em 3D. Com diversos artigos prontos para comercialização em grande 
escala, a feira fez tanto sucesso que já foram confirmadas suas próximas três 
edições
. 
27
Nesse contexto, é compreensível o recente entusiasmo dos especialistas e dos 
leigos no tratamento do tema em análise. O desenvolvimento da impressão 3D tem, no 
mínimo, potencial para impactar de forma significativa diversos setores das atividades 
humanas e de suas ciências. Mas no que tange, especificamente, ao cenário da 
. 
 
25 O software Kscan3D transforma o Kinect, acessório do console de videogame XBOX 360 baseado na detecção de 
movimentos pelo jogador, em um scanner 3D. Disponível em: <http://www.kscan3d.com/>. Acesso em: 21 set. 
2013. 
24 Imagens de alguns desses itens podem ser encontradas no Anexo A – Ilustrações. 
27 Informações retiradas da página oficial do evento na internet. Disponível em: <http://3dprintshow.com/> Acesso 
em: 18 de set. 2013. 
20 
 
regulação da Propriedade Intelectual, quais serão as consequências da evolução dos 
dispositivos de manufatura aditiva? 
 
2. MINHA MENTE, MEUS DIREITOS: A PROPRIEDADE INTELECTUAL 
 
 
Na década de 1990, Shawn Fanning e Sean Parker imaginaram que seria ótimo 
se amigos pudessem compartilhar gratuitamente as músicas armazenadas em seus 
computadores. Desta ideia, para desespero da indústria fonográfica, nasceria o 
Napster, o primeiro serviço de compartilhamento Peer to Peer (P2P) a se tornar 
popular. Por meio do software era possível disponibilizar e obter suas canções favoritas 
com usuários do mundo inteiro, sendo apenas necessários dois computadores com 
acesso à internet. Em pouco tempo, os criadores se viram envolvidos em incontáveis 
batalhas judiciais – contra gravadoras e artistas – que culminaram com a completa 
descaracterização do programa, hoje voltado à venda online de músicas28
O episódio acima consiste em um dos vários exemplos de reações ao 
surgimento de novas tecnologias, como a fita cassete, o gravador de CD`s, a 
impressora tradicional e a própria internet. Tais reações têm em comum uma origem 
marcante: a Propriedade Intelectual. 
. 
Celebrada em 1967, na cidade de Estocolmo, a convenção29
For the purposes of this Convention: 
 que instituiu a 
WIPO – World Intellectual Property Organization, organismo da ONU apoiado 
atualmente por 186 países, estabelece que: 
[...] 
“intellectual property” shall include the rights relating to: 
- literary, artistic and scientific works, 
- performances of performing artists, phonograms, and broadcasts, 
- inventions in all fields of human endeavor, 
 
28 TYSON, Jeff. How the old Napster worked? Disponível em: <http://computer.howstuffworks.com/napster.htm>. 
Acesso em: 10 jun. 2013. 
29 WIPO. Convention Establishing the World Intellectual Property Organization. Estocolmo. 14 jul. 1967. 
Disponível em: <http://www.wipo.int/treaties/en/convention/trtdocs_wo029.html>. Acesso em: 24 set. 2013. 
21 
 
- scientific discoveries, 
- industrial designs, 
- trademarks, service marks, and commercial names and designations, 
- protection against unfair competition, and all other rights resulting from 
intellectualactivity in the industrial, scientific, literary or artistic fields. 
 
Da ampla definição acima depreende-se, primeiramente, que a Propriedade 
Intelectual é, em essência, uma criação jurídica, motivada pela demanda por proteção 
de autores e inventores contra a utilização de suas obras sem o seu consentimento30
Nesse sentido, são naturais os movimentos de resistência capitaneados pelos 
titulares de algum tipo de Propriedade Intelectual – autores, artistas, inventores ou 
agentes para os quais estes cederam os direitos de exploração de suas obras – em 
face de mecanismos que permitam ou que tornem mais fácil a cópia, o 
compartilhamento e a utilização de suas criações sem a devida permissão. Afinal, a 
maioria das violações nesse âmbito pode ser interpretada como causa imediata de 
perdas financeiras, haja vista que os detentores de Propriedade Intelectual poderiam 
explorá-la economicamente, mas não o fazem, pois a venda, o uso e a tradição dos 
objetos protegidos ocorrem de forma alheia à sua vontade e, muitas vezes, ao seu 
conhecimento. 
. 
Assim, não são surpreendentes as primeiras discussões que a possível 
popularização das impressoras 3D tem despertado nesse tocante. Por serem capazes 
de criar, a partir do zero, os mais diferentes objetos sólidos, com perfeitas 
funcionalidades internas e externas, essas máquinas podem elevar as infrações contra 
a Propriedade Intelectual a um novo patamar. 
Observe-se ainda que, por se tratarem de arquivos digitais, os modelos 
tridimensionais utilizados na manufatura aditiva não precisam ser gerados diretamente 
pelo usuário que os deseja imprimir. Basta que alguém com o aparato necessário os 
 
30 Nesse sentido, observar a lição de Pedro Paranaguá e Sérgio Branco: “Claramente, o alvorecer do direito autoral 
nada mais foi que a composição de interesses econômicos e políticos. Não se queria proteger prioritariamente a 
“obra” em si, mas os lucros que dela poderiam advir. É evidente que ao autor interessava também ter sua obra 
protegida em razão da fama e da notoriedade de que poderia vir a desfrutar, mas essa preocupação vinha, sem 
dúvida, por via transversa.” PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos Autorais. Rio de Janeiro: Editora 
FGV, 2009, p. 16 
22 
 
elabore ou use um scanner 3D para criá-los, disponibilizando-os posteriormente na 
internet, literalmente à distância de um simples clique. Hoje, há diversos sites 
especializados no compartilhamento e na venda de designs 3D prontos para 
impressão31, mas a troca destes arquivos também pode ser realizada por pen drives, e-
mail, serviços de armazenamento em nuvem, ou mesmo pelas plataformas tradicionais 
de troca de músicas, filmes e livros na internet. Já existe até um Pirate Bay da 
impressão 3D32
Por isso, muitos artigos protegidos por algum tipo de Propriedade Intelectual 
foram e vêm sendo trocados pelos usuários de impressoras 3D, o que já motivou os 
primeiros movimentos em sentido contrário a essa nova tecnologia. Em 07 de fevereiro 
de 2013, a gigante da TV americana HBO encaminhou uma Cease and Desist Letter a 
Fernando Sosa, um entusiasta da série Game of Thrones que projetou um modelo 3D 
de suporte para iPhone na forma do trono de ferro mostrado no programa
. 
33
 
 e começou 
a comercializá-lo na internet. 
 
 
 
 
 
 
 
31 Dentre eles, podemos destacar <www.shapeways.com> e <www.thingiverse.com>. Acesso em: 15 set. 2013. 
32 “PIRATE Bay” for 3D printing launched. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/technology-21754915>. 
Acesso em: 08 jun. 2013. 
33 HURST, Nathan. HBO Blocks 3-D Printed Game of Thrones iPhone Dock. Imagem redimensionada. Formato 
JPEG. Disponível em: <http://www. wired.com/design/2013/02/got-hbo-cease-and-desist/>. Acesso em: 12 jun. 
2013. 
HURST, Nathan (2013) 
23 
 
Segundo a empresa, o ato violaria sua Propriedade Intelectual – que abrangeria 
não apenas o programa, mas todos os elementos nele apresentados ou por ele 
inspirados – e causaria confusão aos consumidores, que seriam levados a crer que o 
trono se tratava de um produto oficial34
Este é apenas um exemplo das iniciativas que definirão o modo de se relacionar 
entre os detentores de algum tipo de Propriedade Intelectual e a impressão 3D. Por 
enquanto, na maioria das vezes, podemos apenas fazer previsões acerca desta 
interação, analisando o tratamento jurídico atual sobre o tema e o modo como as regras 
existentes foram aplicadas em casos semelhantes. 
. 
2.1. Livros, músicas, obras de arte: os direitos autorais 
 
Do ponto de vista jurídico, a Propriedade Intelectual pode ser subdividida em 
duas grandes vertentes: direitos autorais e propriedade industrial35. Embora, ao longo 
dos séculos, muitos juristas tenham divergido36 quanto à natureza jurídica dos direitos 
do autor, hoje é possível afirmar que estes “formam um sistema de direitos sui generis, 
e, no Brasil37, inserem-se na categoria jurídica dos direitos civis”38
 
34 HURST, Nathan. HBO Blocks 3-D Printed Game of Thrones iPhone Dock. Disponível em: <
. 
http://www. 
wired.com/design/2013/02/got-hbo-cease-and-desist/>. Acesso em: 12 jun. 2013. 
35 LEMOS, Ronaldo. Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro: Material Didático da Faculdade de Direito da 
Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito Rio. p. 3. Disponível em <http://academico.direito-
rio.fgv.br/ccmw/images/2/25/Propriedade_Intelectual.pdf>. Acesso em: 30 set. 2013. 
36 ABRÃO, Eliane. Direitos de Autor e direitos conexos.São Paulo: Editora do Brasil, 2002, p. 34-35. 
37 Necessário destacar que “no mundo, há dois sistemas principais de estrutura dos direitos de autor: o droit d’auteur, 
ou sistema francês, ou continental, e o copyright, ou sistema anglo-americano. O Brasil se filia ao sistema continental 
de direitos autorais. Este se diferencia do sistema anglo-americano porque o copyright foi construído a partir da 
possibilidade de reprodução de cópias, sendo este o principal direito a ser protegido. Já o sistema continental se 
preocupa com outras questões, como a criatividade da obra a ser copiada e os direitos morais do autor da obra.” 
PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos Autorais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009, p. 20-21. No 
presente artigo, procuramos realizar uma análise dos direitos autorais sob uma perspectiva abrangente, sem nos 
atermos à literalidade deste ou daquele sistema. Note-se que, independentemente da estrutura jurídica adotada, em 
âmbito internacional, países com diferentes leis acerca do tema há anos se vinculam por meio de tratados e acordos, a 
cumprir obrigações idênticas no que tange à Propriedade Intelectual. Vide as Convenções de Paris e de Berna e o 
Acordo TRIPS, por exemplo. 
38 ABRÃO, Eliane. Direitos de Autor e direitos conexos.São Paulo: Editora do Brasil, 2002, p. 35. 
24 
 
Tais direitos se revestem de finalidade dúplice39: (i) resguardar a relação de 
identidade entre o autor e sua obra, que é compreendida como genuína manifestação 
de sua personalidade e, portanto, atinente ao campo dos direitos morais40; e (ii) 
assegurar que o autor poderá auferir os ganhos econômicos decorrentes da exploração 
de suas criações, vertente esta relacionada à esfera dos direitos patrimoniais41
Ademais, é fundamental mencionar que os direitos autorais protegem a 
expressão de uma ideia e não a ideia em si. Somente a partir do momento no qual a 
ideia deixa o nível do pensamento e é exteriorizada em qualquer meio ou fixada em um 
suporte, tangível ou intangível, se inicia automaticamente a proteção em favor do autor, 
que passa a deter os direitos morais e patrimoniais sobresua obra. São abrangidos, 
assim, salvo algumas exceções, que variam de acordo com as leis de cada país
. 
42
A utilização, direta ou indireta, das obras protegidas por direitos autorais 
depende de prévia e expressa autorização dos autores, que podem ordenar a imediata 
cessação do uso indevido de suas criações e pleitear as indenizações dele decorrentes 
junto ao Poder Judiciário
, os 
direitos referentes a livros, músicas, roteiros, pinturas, fotografias, filmes, esculturas e 
outras obras artísticas, científicas e literárias. 
43
 
39 LEMOS, Ronaldo. Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro: Material Didático da Faculdade de Direito da 
Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito Rio. p. 3. Disponível em <http://academico.direito-
rio.fgv.br/ccmw/images/2/25/Propriedade_Intelectual.pdf>. Acesso em: 30 set. 2013. 
. No entanto, as violações neste campo nem sempre se 
tornam conhecidas e em muitas ocasiões não atingem os autores de forma 
suficientemente relevante para motivar um conflito. A despeito da retirada do 
supracitado suporte para iPhone da internet, diversos outros artigos para impressão 3D 
40 A título de exemplo, observar o que dispõe o Capítulo II da Lei 9.610/1998, que estabelece quais são as 
prerrogativas dos autores decorrentes dos direitos morais sobre suas obras no ordenamento jurídico brasileiro. 
41 Nesse sentido, ter em vista o Capítulo III da Lei 9.610/1998. BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 fev. 1998. Altera, 
atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 12 set. 2013. 
42 No Brasil, as exceções ao resguardo pelos direitos autorais são aquelas se encontram previstas no art.8º da Lei 
9.610/1998. Na França, é o art. L122-5 do Code de la Propriété Iintellectuelle que define o regramento vigente nesse 
âmbito. Nos Estados Unidos, vige a doutrina do fair use, estruturada na seção 107 do Copyright Act, de 1976. 
FRANÇA. Code de la Propriété Intellectuelle. Disponível em: < 
http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006069414>. Acesso em: 14 set. 2013; 
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Copyright Act, de 19 out. 1976. Disponível em: < 
http://www.copyright.gov/title17/>. Acesso em: 14 set. 2013. 
43 Vide Art. 29 da Lei 9.610/1998. 
25 
 
relacionados à série Game of Thrones podem ser facilmente encontrados para 
download, por exemplo44
Nesse tocante, é notável a proliferação dos modelos 3D de objetos disponíveis 
no mundo virtual que têm como inspiração livros, filmes, séries, revistas em quadrinhos, 
desenhos animados e outras obras semelhantes. Tal movimento é capitaneado por fãs 
que sempre desejaram os artigos relacionados aos seus personagens favoritos, mas 
não podiam tê-los até o surgimento das impressoras 3D, haja a vista a escassez destes 
produtos no mercado – seja por falta de interesse ou de visão comercial dos detentores 
dos direitos intelectuais. 
. 
E quando os itens a serem impressos não fazem referência a nenhuma obra 
artística, científica ou literária protegida por direitos do autor? Nesse caso, a proteção 
via direitos autorais sofre grandes ressalvas. Afinal, objetos comuns como garfos, pesos 
de papel e escovas de dente, dentre muitos outros, em geral não pertencem aos 
domínios das artes, ciências ou literatura, protegidos por esse tipo de Propriedade 
Intelectual. Tal constatação é relevante não apenas ao considerarmos o regime jurídico 
de objetos que poderão ser parcial ou inteiramente copiados por meio de impressoras 
3D, mas também ao analisarmos qual será a proteção dada aos produtos impressos 
nestas máquinas. 
Nos Estados Unidos, há entendimento tradicional no sentido de que objetos que 
possuam uma função utilitária intrínseca que exceda ao intuito de ser agradável aos 
sentidos ou de fornecer informação não são resguardados por direitos autorais. Assim, 
uma estátua estaria protegida, mas uma panela não. Note-se, ainda, que um objeto 
pode, ao mesmo tempo, conter elementos abrangidos e não abrangidos pelos direitos 
do autor. Os detalhados ornamentos em ouro de uma cadeira ensejariam proteção por 
 
44 Uma pesquisa pelo nome da série no Thingiverse resulta em nada menos do que 35 itens disponíveis para 
impressão. Disponível em: <http://www.thingiverse.com/search/page:1?q=game+of+thrones&sa=>. Acesso em: 11 
out. 2013. 
26 
 
este tipo de Propriedade Intelectual, mas a cadeira em si, não45. Nesse sentido, 
esclarece a agência norte-americana de Direitos Autorais46
A “useful article” is an object that has an intrinsic utilitarian function that 
is not merely to portray the appearance of the article or to convey 
information. Examples are clothing; automobile bodies; furniture; 
machinery, including household appliances; dinnerware; and lighting 
fixtures. (…) Copyright does not protect the mechanical or utilitarian 
aspects of such works of craftsmanship. Copyright may, however, protect 
any pictorial, graphic, or sculptural authorship that can be identified 
separately from the utilitarian aspects of an object. Thus a useful article 
can have both copyrightable and uncopyrightable features. For example, 
a carving on the back of a chair or a floral relief design on silver flatware 
can be protected by copyright, but the design of the chair or the flatware 
itself cannot, even though it may be aesthetically pleasing. 
: 
 
Além disso, é importante discutir se os modelos tridimensionais projetados em 
computador também poderão ser resguardados por direitos autorais, detidos por quem 
os desenhou. No início de 2013, Ulrich Schwanitz, um designer holandês, criou um 
arquivo CAD que continha o modelo para impressão de um Triângulo de Penrose, uma 
figura geométrica com características muito peculiares, concebida originalmente quando 
nem existiam máquinas de manufatura aditiva, e o disponibilizou para encomenda ao 
custo de US$ 70. Em pouco tempo, outro designer ofereceu o arquivo para download 
gratuito no site Thingverse, o que originou uma take down notice por parte de 
Schwanitz, que, arrependido, acabou disponibilizando sua obra sem cobrar nada dias 
depois47. A seguir, o objeto impresso conforme o modelo projetado pelo designer48
 
45 Diante disso, os tribunais dos Estados Unidos consagraram o uso do severability test., procedimento no qual os 
juízes separam os elementos protegidos e não protegidos por direitos autorais em um mesmo objeto e tentam 
quantificar o valor econômico de cada um deles, chegando assim a um valor justo de indenização para os titulares de 
Propriedade Intelectual que tenha sido violada. Para mais informações, ver WEINBERG, Michael. What`s the Deal 
with copyright and 3D Printing? Disponível em: <http://publicknowledge.org/Copyright-3DPrinting>. Acesso em: 
24 set. 2013. 
: 
46 Disponível em http://www.copyright.gov/fls/fl103.html>. Acesso em 24 set. 2013. 
47DOCTOROW, Cory. 3D printing's first copyright complaint goes away, but things are just getting started. 
Disponível em: <http://boingboing.net/2011/02/21/3d-printings-first-c.html>. Acesso em: 08 set. 2013. 
48 MCCARTHY, Erin. Sxsw: The looming legal battles over 3D printing. Imagem redimensionada. Formato JPEG. 
Disponível em: < http://www.popularmechanics.com/how-to/blog/sxw-the-looming-legal-battles-over-3d-printing-
7333888 >. Acesso em: 15 nov. de 2013. 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2. A racionalidade humana dedicada à produção: a propriedade industrial 
 
No que tange à propriedade industrial, o traço mais marcante diz respeito à 
necessidade de registro junto ao órgão governamentalcompetente para que se obtenha 
a proteção da criação intelectual, diferentemente dos direitos autorais, detidos de forma 
automática desde o momento da exteriorização de uma ideia, em qualquer suporte49
Tomando o ordenamento jurídico brasileiro como base – cada país possui um 
regime legal próprio acerca do tema – nota-se que as criações industriais podem ser 
protegidas por patentes de invenção ou de modelo de utilidade, por desenhos 
. O 
procedimento administrativo necessário ao registro é composto por diversas etapas e o 
prazo de proteção concedido ao final do trâmite varia, mas é consideravelmente inferior 
em relação àquele detido pelos autores de obras protegidas por direitos autorais, que, 
no Brasil, é de 70 anos contados do falecimento do criador. Assim, o universo de 
objetos protegidos por algum tipo de propriedade industrial é substancialmente menor. 
 
49 Vide Art. 18 da Lei 9.610/98: “A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro.” 
MCCARTHY, Erin (2012) 
28 
 
industriais e por marcas registradas50. As patentes de invenção englobam produtos, 
processos e aparelhos e resguardam as criações: (i) que ainda não se tornaram 
acessíveis ao público; (ii) que não decorram, aos olhos de um especialista, de maneira 
óbvia ou evidente do estado da técnica de sua área de conhecimento; e (iii) que tenham 
aplicação industrial51. Dentre outras exceções52
Nas sábias palavras de Di Blasi, Garcia e Mendes
, não ficam abrangidas por estas 
patentes obras literárias, arquitetônicas, artísticas, científicas e estéticas. 
53
A invenção, embora possa aludir a um produto, aparelho ou processo, 
entre outros, não é a representação material destes objetos. Trata-se de 
um conjunto de regras de procedimento, estabelecidas por uma pessoa 
especial – o inventor –, as quais, utilizando-se dos meios ou elementos 
fornecidos pela ciência, possibilitam a obtenção de um bem material (por 
exemplo: um produto, aparelho ou processo) que venha a proporcionar 
um avanço em relação ao estado da técnica. 
: 
 
A patente de modelo de utilidade54 é similar à patente de invenção, com 
amplitude mais reduzida, protegendo apenas objetos de uso prático, ou partes destes, 
suscetíveis de aplicação industrial, que apresentem nova forma ou disposição, de 
maneira que implique melhoria funcional no seu uso ou fabricação55
 
50 DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A propriedade industrial: os 
sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002, p. 17. 
. Assim, a 
preexistência do objeto sobre o qual recai a melhoria funcional é requisito fundamental 
para que exista modelo de utilidade patenteável. As dobras aplicadas no final de 
canudos para tornar o ato de beber mais confortável e o formato sextavado de um lápis 
51 BARBOSA, Dênis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, 
p. 364. 
52 Vide Art. 10 da Lei 9.279/96. 
53 DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A propriedade industrial: os 
sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002, p. 19. 
54 Além do Brasil, países como Argentina, China, França, Alemanha, Itália, Rússia e Portugal também admitem 
patentes de modelo de utilidade em sua legislação. Vide: BARBOSA, Dênis Borges. Uma Introdução à 
Propriedade Intelectual. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 567. 
55 Vide Art. 9º da Lei 9.279/96. BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 maio 1996. Regula direitos e obrigações relativos à 
propriedade industrial. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm>. Acesso em: 12 set. 
2013. 
29 
 
que impede que ele deslize quando em um plano inclinado são exemplos célebres de 
criações que ensejam a proteção por este tipo de patente. 
Note-se, ainda, que nos modelos de utilidade a não obviedade em face do 
estado da técnica é observada com menor rigidez se comparada à patente de invenção, 
motivo pelo qual o prazo de proteção é igualmente menor56
Os registros de desenho industrial, por sua vez, dizem respeito à forma plástica 
ornamental de um objeto tridimensional ou ao conjunto ornamental de linhas e cores 
bidimensionais que possam ser aplicados a determinado produto para proporcionar um 
resultado novo e original em sua configuração externa. Não gozam de proteção os 
desenhos que tenham cunho unicamente artístico – abrangidos pelos direitos autorais –
, os que não apresentem informações novas
. 
57
Ainda no campo diferenciação de mercadorias, é essencial atentar às marcas, 
suscetíveis ao registro nos órgãos estatais de Propriedade Intelectual. As marcas são 
sinais compostos por figuras, palavras ou outros elementos que permitem que a origem 
de determinado artigo seja prontamente identificada, servindo, assim à clientela, que 
passa a associar características como qualidade e desempenho às marcas que 
 em relação à forma comum do objeto e, 
ainda, os que sejam novos tão somente por considerações técnicas ou funcionais. Em 
diversos setores da indústria, como nos mercados automobilístico e de decoração, o 
design dos produtos é fundamental na decisão final do consumidor e, 
consequentemente, no sucesso nas vendas. 
 
56 BARBOSA, Dênis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, 
p. 568. 
57 Nesse âmbito, interessante notar a ressalva estabelecida por Di Blasi, Garcia e Mendes ao discorrerem quanto à 
exigência implícita por parte do INPI no que tange à novidade dos desenhos industriais submetidos a registro mesmo 
sem disposição expressa em lei brasileira nesse sentido: “É importante que se saiba que na maioria dos países não há 
exame de mérito referente à novidade, em caso de pedido de registro de desenhos industriais. Inclusive, a própria 
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) discute a necessidade de proteção para desenhos 
industriais.” DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A propriedade 
industrial: os sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio 
de 1996. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 193. 
30 
 
consome, e ao titular desta espécie de propriedade intelectual, que pode construir uma 
reputação e se destacar dentre os concorrentes a partir de sua marca.58
Em muitas ocasiões, uma marca atinge tanto sucesso que se torna sinônimo do 
produto à qual se refere, como Gilette, Band-Aid, Xerox, Durex, Chiclete, Isopor, 
Cotonete e Catupiry. Considerando o contexto moderno de globalização e de ampla 
concorrência, as marcas constituem uma grande parcela dos ativos das empresas. Um 
levantamento realizado em 2013 pela Interbrand estima que a Apple detém, apenas em 
sua marca, um ativo de 98,3 bilhões de dólares
 
59
Ademais, são inúmeras as embalagens e os formatos físicos que, por si só, 
identificam determinado produto. Diante disso, diversos países, incluindo o Brasil, 
permitem o registro das chamadas marcas tridimensionais, compostas pela “forma 
particular não funcional e não habitual dada diretamente ao produto ou a seu 
recipiente”
. 
60
A importância comercial e estratégica das marcas se reflete na duração da 
proteção sobre essa vertente de propriedade intelectual: a prática mais comum, 
inclusive em âmbito internacional, preza pela concessão de um prazo inicial de 
. Ressalte-se que este tipo de marca se distingue dos desenhosindustriais 
por ter como finalidade principal a identificação do produto dentre outros do mesmo 
gênero, enquanto que nos desenhos industriais o que se protege é a estética e o 
caráter ornamental do objeto. O design de uma caneta BIC é exemplo claro de marca 
tridimensional, sendo muito mais importante na identificação da proveniência da caneta 
do que a própria palavra BIC escrita no corpo transparente do objeto. 
 
58 DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A propriedade industrial: os 
sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002, p. 162. 
59 Disponível em: <http://www.interbrand.com/pt/best-global-brands/2013/Best-Global-Brands-2013.aspx> Acesso 
em: 10 out. 2013. 
60 DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A propriedade industrial: os 
sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002, p. 172 
31 
 
proteção relativamente curto, mas renovável indefinidamente mediante pedido do titular 
dos direitos61
Ante o exposto, se evidencia a possibilidade de violações por meio de 
impressoras 3D a qualquer das modalidades de propriedade industrial apresentadas. E 
não poderia ser diferente – a finalidade básica de qualquer indústria e, também, de 
qualquer máquina de manufatura aditiva é a fabricação de produtos para uso próprio ou 
comercialização com pessoas físicas e jurídicas. 
. 
Sendo certo que, por sua natureza, os itens abrangidos por propriedade 
industrial podem ser materializados em objetos físicos, não é apenas possível, mas 
provável, que vejamos muitos destes objetos sendo impressos em versão tridimensional 
ao longo dos próximos anos. O monopólio concedido aos detentores deste tipo de 
Propriedade Intelectual é posto sob risco quando a reprodução de artigos patenteados, 
com desenho industrial registrado ou com marcas famosas em sua superfície se torna 
extremamente mais fácil. Para que se copie um objeto muito semelhante ao original não 
será necessário envidar grandes estudos ou esforços, mas apenas algumas horas. 
Basta lançar mão de um scanner 3D ou de um bom designer gráfico e começar a 
impressão, em escala limitada apenas à quantidade de material disponível. 
Em níveis elevados, a falta de controle sobre tal situação, principalmente no que 
tange à atividade industrial, poderá gerar graves desincentivos à pesquisa e ao 
desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, haja vista a grande chance de cópia 
por concorrentes, em velocidade nunca vista. 
Talvez o futuro seja de fábricas de produtos, originais ou piratas, abarrotadas de 
impressoras 3D, o que desencadearia uma batalha pelo menor custo de matéria-prima 
e dispensaria uma parcela significativa da mão de obra, uma vez que não são 
necessárias muitas pessoas para que se opere uma destas máquinas – a redução das 
despesas trabalhistas poderia até permitir a entrada de novos países no mercado. Há 
 
61 No Brasil, o prazo inicial de proteção é de dez anos, vide art. 133 da Lei 9.279/96. 
32 
 
quem diga que a impressão 3D é a grande esperança dos EUA para deter o 
crescimento chinês62
Por outro lado, também há quem observe a aplicabilidade industrial da 
manufatura aditiva sob um enfoque diferente. Na própria China, as impressoras 3D têm 
sido usadas com intuito de agilizar a fabricação de moldes empregados no processo 
tradicional de produção, haja vista que ainda não há escala que permita a impressão 
dos bilhões de artigos que saem das indústrias do país a preço reduzido. No resto do 
mundo, o que se verifica atualmente é a utilização das impressoras 3D na obtenção de 
produtos feitos sob medida, adequados às necessidades do usuário. Estudos indicam 
que, atualmente, somente 25% dos itens saídos das máquinas de manufatura aditiva 
são produtos finais, prontos para comercialização em massa
. 
63
Sob qualquer destas perspectivas, deve-se destacar que a violação a patentes e 
desenhos industriais, aos olhos do infrator, é muito menos óbvia do que a violação a 
direitos autorais, por exemplo. Em regra, é necessária uma consulta prévia ao órgão 
governamental competente para que se torne conhecida a proteção – com o agravante 
de que o registro pode ser realizado em diferentes órgãos e países e que um mesmo 
objeto pode ser alvo de inúmeras patentes. Ora, considerando que muitas indústrias 
não realizam esse procedimento de pesquisa, não é surpreendente notar que 
pouquíssimas pessoas físicas ao menos sabem que ele existe. O referido cenário indica 
que é possível esperar numerosas infrações nesse âmbito, não apenas por parte de 
empresas, mas também por usuários domésticos. 
. 
Dessa forma, torna-se oportuno realizar uma reflexão quanto aos desafios 
apresentados no decorrer do texto e, também, a apresentação de situações que 
indicam possíveis rumos para a interação entre a tecnologia de impressão 3D e a 
Propriedade Intelectual. 
 
62 MILLS, Mark P. Manufacturing, 3D Printing and What China Knows About the Emerging American Century. 
Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/markpmills/2011/07/05/manufacturing-3d-printing-and-what-china-
knows-about-the-emerging-american-century/>. Acesso em: 20 ago. 2013. 
633D PRINTING Scales Up. Disponível em: <http://www.economist.com/news/technology-quarterly/21584447-
digital-manufacturing-there-lot-hype-around-3d-printing-it-fast>. Acesso em: 13 nov. 2013. 
33 
 
3. CONCLUSÃO: O FUTURO EM TRÊS DIMENSÕES 
 
 
3.1. A reação dos detentores de Propriedade Intelectual 
 
Diante do exposto, considerando que a impressão 3D se desenvolve em ritmo 
acelerado, mas ainda não atingiu todo seu potencial, é relevante que, por ora, imagine-
se como será um futuro marcado por esta tecnologia. Primeiramente, é possível discutir 
como os detentores das variadas espécies de Propriedade Intelectual reagirão às 
violações decorrentes da manufatura aditiva. Atualmente, no que tange ao 
compartilhamento digital não autorizado de livros, músicas e filmes, tem-se observado o 
foco de artistas, autores, editoras e gravadoras no combate às fontes propagadoras dos 
objetos protegidos, como softwares e sites de download, por exemplo. Na maioria dos 
casos, usuários domésticos têm permanecido incólumes, muito em razão da 
normalidade que tal prática, em tese ilegal, adquiriu, do amplo universo de pessoas que 
o praticam e do caráter extremamente difuso do compartilhamento via internet. 
Note-se, ainda, que este tipo de estratégia encontra obstáculos em razão do 
surgimento constante de páginas na internet e programas de computador voltados à 
propagação de arquivos. Quando os detentores de Propriedade Intelectual conseguem 
uma vitória judicial contra um de seus algozes, outros já surgiram para ocupar o lugar 
vago. Assim, os titulares dos direitos intelectuais têm procurado usar célebres fontes 
propagadoras de suas obras como exemplo, visando a desestimular novas violações. 
Dentre os infratores famosos que sofreram restrições é possível mencionar o Napster e 
o Pirate Bay. 
Entretanto, a tecnologia de impressão 3D se reveste de características que 
talvez ponham em xeque a eficácia do modelo de controle acima descrito. Apesar dos 
arquivos CAD poderem ser trocados por meio da internet como qualquer outro arquivo 
digital, obtê-los por meio de sites e softwares de compartilhamento é apenas uma das 
formas de municiar uma impressora 3D. Dispositivos de escaneamento e designers 
gráficostornam o download destes arquivos prescindível e possibilitam que as infrações 
34 
 
se iniciem longe dos olhos das autoridades e dos titulares de Propriedade Intelectual. 
Além disso, a tecnologia possui uma aplicabilidade industrial que não se limita apenas 
ao setor gráfico ou fonográfico, abrangendo grande parte das atividades que envolvem 
a produção e a comercialização de objetos sólidos. Os interesses econômicos em 
utilizar as impressoras 3D às margens da lei serão consideráveis, para usuários 
domésticos e industriais. 
Diante destas dificuldades, já começam a surgir as primeiras tentativas de 
limitação das impressoras 3D. A empresa americana Intellectual Ventures of Bellevue, 
especializada no registro de patentes para venda futura, detém, desde 2012, patente 
sobre uma tecnologia de Digital Rights Management (DRM) que bloquearia o uso de 
impressoras 3D com arquivos não identificados como impressões legais64
Sabe-se, no entanto, que, mesmo com os esforços da indústria, em grande parte 
dos casos é possível o desbloqueio do dispositivo no mercado alternativo e, além disso, 
a não ser que surja uma previsão legal nesse sentido, ainda é questionável se será de 
interesse dos fabricantes de impressoras 3D venderem seus produtos com 
autolimitações – na indústria dos games, distribuidoras de jogos e fabricantes de 
consoles por vezes fazem parte de um mesmo grupo econômico ou mantém parcerias 
comerciais, o que contribui para a opção pelo bloqueio. Além disso, a partir de um 
objeto impresso de maneira legal incontáveis outros poderiam ser reproduzidos de 
forma ilegal, por intermédio do escaneamento 3D ou da modelagem em meio digital. 
, algo como o 
bloqueio a jogos piratas já utilizado em diversos videogames. 
Outro mecanismo que desponta como um meio de proteção dos detentores de 
Propriedade Intelectual no que tange à manufatura aditiva é o idealizado pelos 
criadores do Sendshapes, um serviço online de streaming especificamente destinado 
 
64 MARKS, Paul. Patent could schackle 3D printers with DRM. Disponível em: 
<http://www.newscientist.com/blogs/onepercent/2012/10/patent-could-shackle-3d-printers-drm.html>. Acesso em: 
12/09/2013. 
35 
 
às impressoras 3D65
Novamente, o sucesso desse tipo de restrição ficaria sujeito à evolução 
tecnológica dos scanners 3D, uma vez que a possibilidade de produção de cópias do 
objeto impresso legalmente por streaming comprometeria a eficácia do serviço. Hoje, os 
scanners com capacidade tecnológica suficiente à obtenção de réplicas perfeitamente 
fidedignas ainda apresentam preços elevados. Contudo, certamente os dispositivos de 
escaneamento evoluirão ao longo dos próximos anos, mas ainda é difícil precisar o 
ritmo e os limites de tal evolução. O que se sabe, é que o seu emprego pode ser um 
fator decisivo na definição dos meios de restrição às infrações à Propriedade Intelectual 
via impressoras 3D. 
. A tecnologia do streaming já é amplamente empregada por 
empresas como a Netflix, permitindo o uso de arquivos digitais via internet sem que 
ocorra a transferência dos mesmos para o computador do usuário. Explica-se: por meio 
do Sendshapes empresas e autores disponibilizariam suas obras na internet a 
determinado custo e quem desejasse fabricar uma versão sólida daquele objeto em sua 
impressora 3D poderia fazê-lo, mas nunca teria o modelo tridimensional do artigo salvo 
seu computador. 
Recentemente, foi anunciado no mercado o Sense, um scanner 3D leve e 
portátil, feito para ser operado com apenas uma mão66. Por possuir uma interface 
simples e um software que permite o escaneamento em tempo real de objetos de até 
três metros de altura ou largura, o Sense também poderá ser utilizado por usuários 
domésticos, não exigindo grandes conhecimentos de design ou computação. O 
dispositivo está à venda por 399 dólares e produz modelos tridimensionais de qualidade 
satisfatória, como o observado a seguir67
 
65 PAUL, Ian. New 3D printing DRM copies Netflix's moves to blockade physical pirates. Disponível em: < 
http://www.techhive.com/article/2047633/new-3d-printing-drm-copies-netflixs-moves-to-blockade-physical-
pirates.html>. Acesso em: 12/11/2013. 
: 
66 ALVES, Paulo. Empresa cria scanner 3D portátil três vezes mais barato que concorrentes. Disponível em: < 
http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/11/empresa-cria-scanner-3d-portatil-tres-vezes-mais-barato-que-
concorrentes.html>. Acesso em: 12 nov. 2013. 
67 ALVES, Paulo. Empresa cria scanner 3D portátil três vezes mais barato que concorrentes. Imagem 
redimensionada. Formato JPEG. Disponível em: < http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/11/empresa-
cria-scanner-3d-portatil-tres-vezes-mais-barato-que-concorrentes.html>. Acesso em: 12 nov. 2013. 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.2. Inovar é preciso 
Em que pesem às significativas consequências que as impressoras 3D trarão ao 
campo das violações aos direitos autorais e à Propriedade Industrial, é fundamental que 
também atentemos aos aspectos positivos do desenvolvimento da manufatura aditiva. 
Como já ressaltado anteriormente, a impressão 3D tem possibilitado avanços 
antes inimagináveis em áreas de extrema importância para a sociedade, como a 
medicina, a construção civil e a indústria em geral. Não é exagero afirmar que a 
tecnologia poderá salvar muitas vidas, ou ao menos mudá-las para melhor. 
Outrossim, a manufatura aditiva promete diminuir consideravelmente os custos 
da produção industrial e os custos ambientais, em virtude da já mencionada redução 
dos desperdícios de matéria prima que implica. Outra aplicação que poderá trazer 
impactos favoráveis aos bolsos dos consumidores diz respeito à possibilidade de 
impressão 3D de partes de objetos danificados para reposição, que permite o conserto 
sem seja necessário recorrer a um serviço de manutenção. 
Nota-se, também, que as impressoras 3D vêm sendo exploradas 
economicamente de variadas formas, que só tendem a se multiplicar. Prova disso é que 
ALVES, Paulo (2013) 
37 
 
hoje já existem empresas especializadas na impressão 3D de objetos sob encomenda, 
que transformam os modelos digitais dos artigos enviados por seus clientes em 
realidade68. Há espaço, ainda, para aproveitamento das diferentes possibilidades de 
customização que a manufatura aditiva envolve, que podem gerar frutos para indivíduos 
que se especializem na impressão doméstica de determinado objeto para posterior 
comercialização ou para empresas, como a Airbus, a Boeing, a General Eletric, e a 
Siemens, que já estão investindo nesse campo69·. Recentemente, a gigante do ramo 
esportivo New Balance desenvolveu um tênis esportivo que pode ser impresso nas 
medidas ideais para o consumidor, por exemplo70
Nesse tocante, é plausível imaginar que a evolução da manufatura aditiva 
consolidará uma mudança definitiva no paradigma produtivo de fabricação de 
mercadorias idênticas ou pouco diferentes entre si. Com efeito, a humanidade há anos 
tem transitado neste sentido. A gama de produtos disponíveis ao consumidor 
inegavelmente foi ampliada desde os tempos em que Henry Ford afirmou que seus 
clientes poderiam ter carros na cor que quisessem, contanto que fossem pretos. Talvez 
a impressão 3D seja o primeiro passo rumo a uma nova fase da indústria. 
. 
Sendo assim, impõe-se o desafio de conciliar os benefícios à coletividade – de 
valor inestimável – com os direitos, principalmente de cunho econômico – mas por 
vezes de natureza moral – de indivíduos que detenham alguma espécie de Propriedade 
Intelectual. Se por um lado limitações excessivas à tecnologia podemcomprometer 
gravemente o seu desenvolvimento, por outro também não parece sensato isentá-la de 
todo e qualquer controle, sob pena de grave prejuízo aos titulares de Propriedade 
Intelectual e à própria inovação, pois autores e inventores certamente relutariam em 
divulgar suas criações se soubessem que estas careceriam de qualquer proteção. 
 
68 Como exemplo nacional temos o site Imprima 3D e no exterior um dos serviços mais famosos é o IMaterialise. 
Disponível em: < http://www.imprima3d.com/>. Acesso em: 12 out. 2013; Disponível em:< 
http://i.materialise.com/>. Acesso em: 12 out. 2013. 
69 3D PRINTING Scales Up. Disponível em: <http://www.economist.com/news/technology-quarterly/21584447-
digital-manufacturing-there-lot-hype-around-3d-printing-it-fast>. Acesso em: 13 nov. 2013. 
70NEW BALANCE pushes the limits of innovation with 3D printing. Disponível em: 
<http://www.newbalance.com/New-Balance-Pushes-the-Limits-of-Innovation-with-3D-
Printing/press_2013_New_Balance_Pushes_Limits_of_Innovation_with_3D_Printing,default,pg.html>. Acesso em: 
20 out. 2013. 
38 
 
3.3. O Direito da Propriedade Intelectual precisará alcançar novas dimensões? 
Ao longo deste trabalho, os principais aspectos que compõem o tema em análise 
foram apresentados por meio de três seções. Primeiramente, procedeu-se ao estudo 
aprofundado das impressoras 3D, que incluiu: um histórico da evolução destas 
máquinas até os dias atuais; detalhes sobre o seu funcionamento; e uma abordagem 
das possibilidades técnicas resultantes do invento, na qual foram mencionados diversos 
objetos já fabricados com sucesso via impressoras 3D. 
Assim, constatou-se que a impressão 3D promete mudar algumas das 
concepções clássicas a respeito da produção fabril, haja vista que torna possível a 
obtenção de objetos sólidos de maneira extremamente inovadora. Ademais, foi 
observada a interação desta tecnologia com a internet, que possibilita o fácil 
compartilhamento dos modelos tridimensionais necessários à manufatura aditiva –
obtidos por meio da modelagem direta em softwares de CAD ou por dispositivos 
específicos de escaneamento. 
Em um segundo momento, foi feita uma exposição quanto à Propriedade 
Intelectual e suas vertentes. Nesse âmbito, verificou-se que o regramento jurídico 
vigente relativo ao tema em muito é aplicável à impressão 3D, sendo certo que, 
segundo as leis atuais, por meio da referida tecnologia poderiam ser concretizadas 
violações a direitos autorais, patentes de invenção e de modelo de utilidade, desenhos 
industriais e marcas registradas. 
Esta última seção, por sua vez, trouxe à tona possíveis reações dos detentores 
de Propriedade Intelectual ao uso das impressoras 3D e os benefícios provenientes da 
manufatura aditiva. Ante o exposto, foi demonstrada a necessidade de encontrar um 
ponto de equilíbrio entre a proteção dos direitos de autores, inventores, artistas e da 
indústria em geral sobre suas criações e a garantia do melhor aproveitamento do 
potencial inovador das impressoras 3D. 
39 
 
Por fim, resta apenas refletir acerca da questão que deu origem a esta 
monografia. Afinal, a evolução das impressoras 3D trará impactos ao Direito da 
Propriedade Intelectual? Ora, por tudo que já foi dito até aqui, não haveria como 
responder negativamente a esta indagação, o que comprova a hipótese adotada no 
momento inicial da pesquisa que instruiu o presente trabalho. Por sua capacidade 
técnica e por permitirem a obtenção de objetos sólidos de variadas espécies, as 
máquinas de manufatura aditiva podem infringir os direitos atinentes à Propriedade 
Intelectual de forma significativa. 
Note-se que, embora não haja menção legal expressa às impressoras 3D, a 
aplicação e a elaboração das normas voltadas à Propriedade Intelectual prezam pela 
defesa dos interesses do titular dos direitos independentemente do meio empregado 
para concretizar a violação ou do suporte no qual esta se materializa. 
Dessa forma, por mais que muitos dos conflitos entre impressão 3D e 
Propriedade Intelectual ainda não tenham sido tratados em sede legal, doutrinária ou 
jurisprudencial, é inegável que condutas como a cópia de objetos patenteados ou a 
utilização de elementos abrangidos por direitos autorais visando ao lucro seriam 
reprováveis do ponto de vista normativo. No entanto, há comportamentos formalmente 
ilegais conforme a redação das leis ora vigentes que não justificam uma absoluta 
proibição ou que dificilmente serão descobertos ou fiscalizados. 
Tal fato demonstra apenas que a impressão 3D, assim como outras tecnologias 
que envolvem o compartilhamento digital de arquivos e o caráter cada vez mais difuso 
da internet, indica que a estrutura do Direito da Propriedade Intelectual, concebida há 
séculos atrás, não se adéqua perfeitamente às características e aos interesses da 
sociedade moderna. 
Os desafios, então, passam pela reflexão acerca da recente síndrome de 
inefetividade vivida por normas referentes à Propriedade Intelectual, haja vista que a 
mera ilegalidade formal não tem sido suficiente na repressão às infrações neste campo. 
No embate entre proteção dos direitos intelectuais e evolução das impressoras 3D é 
40 
 
essencial que a tecnologia não seja vista como inimiga, mas sim como aliada no 
processo de conciliação dos interesses envolvidos. 
Por mais difícil que possa parecer, é fundamental que o Direito, como definidor 
de comportamentos indesejáveis e gerador de incentivos sociais, caminhe lado a lado 
com os rápidos avanços tecnológicos. Caso contrário, levará muito tempo para que a 
humanidade alcance novas dimensões de desenvolvimento. 
41 
 
REFERÊNCIAS 
 
3D PRINTING Scales Up. Disponível em: <http://www.economist.com/news/technology-
quarterly/21584447-digital-manufacturing-there-lot-hype-around-3d-printing-it-fast>. 
Acesso em: 13 nov. 2013. 
ABRÃO, Eliane. Direitos de Autor e direitos conexos. São Paulo: Editora do Brasil, 
2002. 
ALVES, Paulo. Empresa cria scanner 3D portátil três vezes mais barato que 
concorrentes. Disponível em: < 
http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/11/empresa-cria-scanner-3d-portatil-
tres-vezes-mais-barato-que-concorrentes.html>. Acesso em: 12 nov. 2013. 
BARBOSA, Dênis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2 ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2003. 
BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 maio 1996. Regula direitos e obrigações relativos à 
propriedade industrial. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm>. Acesso em: 12 set. 2013. 
BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 fev. 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre 
direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 12 set. 2013. 
BRINQUEDOS, carros e casas impressos em 3D. O Globo. Rio de Janeiro,07 abr. 
2013, p. 45. 
DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Sorensen; MENDES, Paulo PARENTE M. A 
propriedade industrial: os sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais 
analisados a partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio de Janeiro: Forense, 
2002. 
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getting started. Disponível em: <http://boingboing.net/2011/02/21/3d-printings-first-
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http://www.copyright.gov/title17/>. Acesso em: 14 set. 2013. 
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Disponível em: <http://www.wired.com/design/2013/09/structure-3-d-scanner-for-your-
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FLEMING, Mike. What is 3D Printing? An Overview. Disponível em: 
<http://www.3dprinter.net/reference/what-is-3d-printing>.

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