Buscar

apostila de psicopatologia da FMU

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FMU 
PSICOPATOLOGIA GERAL I 
Profa. MS. Maria da Conceição Albano Ferreira 
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre, ArtMed, 2000. 
BARLOW, David H. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 4ª. Ed. Revisão técnica Francisco B. Assumpção Jr. São Paulo: Congage Learning, 2011. 
 1. O CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSICOPATOLOGIA 
 1.1 A CIÊNCIA DA PSICOPATOLOGIA 
 A psicopatologia é o estudo científico dos transtornos psicológicos. O que é transtorno psicológico ou comportamento anormal? É uma disfunção psicológica que ocorre em um indivíduo e está associada com angústia e diminuição da capacidade adaptativa e uma resposta que não é culturalmente esperada. 
A disfunção psicológica refere-se a uma interrupção no funcionamento cognitivo, emocional ou comportamental. Por exemplo, sair para um encontro pode ser divertido, mas se você experimenta um forte medo toda noite e só quer voltar para casa, mesmo que não haja nada para temer, e se o medo ocorre a cada encontro, suas emoções não estão funcionando adequadamente. Entretanto, se todos os seus amigos concordam que a pessoa que convidou você para sair é perigosa, não seria “disfuncional” ter medo e evitar o encontro. No entanto, apenas ter uma disfunção não é o suficiente para definir os critérios de um transtorno psicológico. 
O fato de que o transtorno ou o comportamento deve estar associado com angústia adiciona um componente importante e parece claro: o critério será satisfeito se o indivíduo for extremamente perturbado. Contudo, devemos lembrar que esse critério, por si só, não define o comportamento anormal. É bastante comum ficar angustiado – por exemplo, se alguém próximo morre. Assim, definir um transtorno psicológico apenas por angústia não funciona, embora o conceito de angústia contribua para uma boa definição. 
O conceito de prejuízo é útil, embora não inteiramente satisfatório. Por exemplo, muitas pessoas se consideram tímidas ou preguiçosas. Isso não significa que elas sejam anormais. No entanto, se você é tão tímido que acha impossível namorar ou mesmo interagir com outras pessoas, e se você tenta impedir as interações mesmo que goste de ter amigos, seu funcionamento social está prejudicado. 
Finalmente, o critério para o qual a resposta seja atípica ou não esperada segundo o aspecto cultural é importante, mas também insuficiente para determinar a anormalidade. Às vezes, algo é considerado anormal porque não ocorre com frequência; ele se desvia da média. 
Quanto maior o desvio, maior a anormalidade. É possível dizer que alguém é baixo ou alto de forma anormal, significando que a altura da pessoa desvia -se substancialmente da média, mas isso não é uma definição de transtorno. Muitas pessoas estão longe da média no que se refere a seus comportamentos, mas poucas seriam consideradas perturbadas. Poderíamos chamá-las de talentosas ou excêntricas. 
Concluindo, é difícil definir “normal” e “anormal”. A definição mais aceita no DSM-IV-TR descreve como anormais disfunções comportamentais, emocionais e cognitivas que são inesperadas em seu contexto cultural e associadas com angústias e substancial inadequação no funcionamento inesperadas em seu contexto cultural e associadas com angústia e substancial inadequação no funcionamento.
 
1.2 – CONCEITOS HISTÓRICOS DO COMPORTAMENTO ANORMAL
 Por centenas de anos, os seres humanos têm tentado explicar e controlar o comportamento problemático. No entanto, nossos esforços sempre advieram de teorias e modelos de comportamento populares em determinada época. A finalidade desses modelos é explicar por que alguém está “agindo dessa maneira”. Três modelos principais nos fizeram voltar até os primórdios da civilização. 
 Os seres humanos sempre supuseram que os agentes externos a nossos corpos e o ambiente influenciavam nosso comportamento, pensamento e emoções. Esses agentes, como os campos magnéticos ou a lua e as estrelas, são as forças dirigentes por trás do modelo sobrenatural. Além disso, desde a Grécia antiga, a mente tem sido denominada alma ou psique e considerada uma parte separada do corpo. Embora muitas pessoas tenham pensado que a mente pudesse influenciar o corpo e este, por sua vez, pudesse influenciar a mente, a maioria dos filósofos procurava por causas do comportamento anormal em um ou outro. Essa separação fez que surgissem duas correntes de pensamento sobre o comportamento anormal, resumidas em modelo biológico e modelo psicológico . 
 Esses três modelos – o sobrenatural, o biológico e o psicológico – são muito antigos, mas são utilizados até hoje. 
 
 A TRADIÇÃO SOBRENATURAL 
 Em grande parte de nossa história, o comportamento desviante tem sido considerado um reflexo da batalha entre o bem e o mal. Quando confrontadas com o inexplicável, com o comportamento irracional e com o sofrimento e a revolta, as pessoas percebiam o mal. 
 
 DEMÔNIOS E FEITICEIRAS – Uma forte corrente de opinião colocou, de maneira forçada, as causas e o tratamento dos transtornos psicológicos no domínio do sobrenatural. Durante o último quartel do século XIV, religiosos e autoridades laicas apoiaram as superstições populares, e a sociedade passou a acreditar na realidade e no poder dos demônios e das feiticeiras. A Igreja Católica se dividiu, e um segundo centro completo com um papa, surgiu no sul da França para competir com Roma. 
 As pessoas recorriam cada vez mais à mágica e à bruxaria para resolver seus problemas. Durante essa época turbulenta o comportamento bizarro das pessoas atormentadas pelos transtornos psicológicos era visto como ação do diabo ou das bruxas. Os tratamentos incluíam exorcismo, em que diversos rituais religiosos eram desenvolvidos para livrar a vítima dos maus espíritos. A convicção de que as bruxas e a bruxaria eram as causas da loucura e de outros males continuou pelo século XV afora, mesmo após a formação dos Estados Unidos, como ficou evidenciado pelos julgamentos das bruxas de Salém. 
 
 ESTRESSE E MELANCOLIA – Uma opinião igualmente forte, mesmo durante esse período, refletiu a visão esclarecida de que a insanidade era um fenômeno natural, causa do pelo estresse mental ou emocional, e que ela era curável. A depressão e a ansiedade foram reconhecidas como doenças, embora os sintomas, como desespero e letargia, fossem frequentemente identificados pela Igreja como o pecado da apatia ou preguiça. Tratamentos comuns eram o repouso, o sono e o ambiente alegre e saudável. Outros tratamentos incluíam banhos, ungüentos e diversas poções. Durante o século XIV e XV, o insano, juntamente com o deformado ou incapacitado, eram transferidos de casa em casa nos vilarejos medievais, de forma que os vizinhos alternavam-se no cuidado deles.
 TRATAMENTOS PARA A POSSESSÃO – Pela conexão entre as proezas do mal e o pecado de um lado, e os transtornos psicológicos do outro, é lógico concluir que o sofredor é responsável pelo transtorno, que poderia bem ser uma punição por más ações. Isso parece familiar? Nos anos 1990, a síndrome epidêmica da AIDS este associada a um a crença similar entre algumas pessoas. Muitas pessoas acreditavam ser isso uma punição divina para os homossexuais praticantes, por considerarem esse comportamento repugnante. 
 A possessão, entretanto, nem sempre é relacionada ao pecado, pode ser vista como involuntária, e o indivíduo possuído, como um inocente. Na Idade Média, se o exorcismo falhasse, algumas autoridades pensavam em quais passos seriam necessários para fazer o corpo inabitável para os espíritos maus, assim muitas pessoas eram submetidas ao confinamento, a açoitamento e a outras formas de tortura. 
 A LUA E AS ESTRELAS – Paracelso, um médico suíço que viveu de 1943 a 1541, rejeitou as noções de possessão demoníaca, sugerindo que em vez disso, os movimentos da lua e das estrelas tinham profundos efeitos sobre o funcionamento psicológico das pessoas. Essa teoria de influência inspirou a palavra lunático, derivada da palavra latina luna, lua. A crença de queos corpos celestes ainda afetam o comportamento humano ainda existe, embora não haja nenhuma evidência científica que a apóie. 
 
 
A TRADIÇÃO BIOLÓGICA
 Buscam-se as causas físicas dos transtornos mentais desde os primórdios da história. Foi importante para a tradição psicológica um homem,Hipócrates, uma doença, a sífilis,e as primeiras consequências da crença de que os transtornos psicológicos eram causados pelo aspecto biológico. 
 HIPÓCRATES E GALENO – O médico grego Hipócrates (460 -377 a.C) é considerado o pai da medicina moderna. Ele e seus discípulos deixaram um compêndio de trabalhos chamado Corpus Hipocrático, escrito entre 450 e 350 a.C, em que sugerem que os transtornos psicológicos poderiam ser tratados como qualquer doença. Hipócrates considerou o cérebro a sede da sabedoria, da consciência, da inteligência e da emoção. Também reconheceu a importância das contribuições psicológicas e interpessoais para a psicopatologia, como às vezes, os e feitos negativos do estresse familiar, em determinadas ocasiões, ele removeu pacientes de suas famílias. 
O físico Galeno (129-198 d.C) adotou posteriormente as idéias de Hipócrates e as desenvolveu ainda mais, criando uma escola poderosa e influenciadora de pensamento dentro da tradição biológica que se estendeu até o século XIX. Um dos legados mais interessantes e influentes da abordagem hipocrático-galênica é a teoria humoral dos transtornos. Hipócrates afirmava que o funcionamento normal do cérebro estava relacionado aos quatro fluidos corporais ou humores: o sangue (vinha do coração), a bílis negra (do baço), a bílis amarela ou cólera (do fígado) e a linfa (do cérebro) (ou fleuma). 
Os quatro humores foram relacionados ao conceito grego das quatro qualidades básicas: calor, secura, umidade e frio. Os termos derivados dos quatro humores ainda aplicados aos traços de personalidade. Por exemplo, o sanguíneo (vermelho, como sangue) descreve alguém que é muito corado em sua compleição, sendo então, alegre e otimista, embora a insônia e o delírio fossem pensados como causados por excessivo sangue no cérebro. O melancólico significa depressivo (pensou-se que a depressão fosse causada pela bílis negra derramada no cérebro). Uma personalidade fleumática indica apatia e morosidade, mas também pode significar calma em situações de estresse.Uma pessoa colérica é de temperamento quente. 
Hipócrates também cunhou a palavra histeria para descrever um conceito que aprendeu com os egípcios, que tinham identificado o que hoje chamamos transtornos somato formes.
 
 
Nestes transtornos, os sintomas físicos parecem ser resultado de uma patologia orgânica para a qual nenhuma causa orgânica pode ser encontrada, como paralisia e alguns tipos de cegueira. 
Em razão desses transtornos terem ocorrido primeiro em mulheres, os egípcios (e Hipócrates) erroneamente afirmaram que eram restritos ao sexo feminino. Eles também presumiram uma causa: o útero vazio perambulava por várias partes do corpo em busca de concepção (a palavra grega para “útero” é hysteron).
O SÉCULO XIX – Sífilis – Os sintomas comportamentais e cognitivos do que hoje conhecemos como sífilis avançada, doença sexualmente transmissível causada por um micro -organismo bacteriano que entra no cérebro inclui a crença de que alguém está tramando contra você (delírio de perseguição) ou que você é Deus (de lírio de grandeza), bem como outros 
comportamentos bizarros. Embora esses sintomas sejam muito semelhantes aos da psicose, os pesquisadores reconheceram que, em um subgrupo d e pacientes aparentemente psicóticos com deterioração mental permanente, as pessoas se tornavam paralisadas e morriam a partir de 5 anos, a contar do início. Este curso dos fatos contrastava com o dos pacientes mais psicóticos, que permaneciam bastante estáveis. 
John P. Grey – O campeão da tradição biológica nos EUA foi o psiquiatra americano mais influente da época. Grey defendia que a insanidade sempre era consequência de causas físicas, por conseguinte, o paciente que sofria de doença mental deveria ser tratado como um paciente que sofria de doença física. A ênfase era novamente no descanso, na dieta e em temperatura ambiente e ventilação adequada, abordagens usadas há séculos pelos terapeutas anteriores na tradição biológica. Grey melhorou muito as condições nos hospitais; assim, esses locais se tornaram instituições mais humanas e dignas de serem habitadas. Entretanto, nos anos posteriores, essas instituições se tornaram tão grandes e impessoais que a atenção individual não foi mais possível. 
De fato, os psiquiatras, no final do século XIX, ficaram alarmados pelo tamanho e pela impessoalidade crescentes dos hospitais mentais e recomendavam que eles fossem reduzidos. 
Quase cem anos antes, o movimento da comunidade de saúde mental foi bem -sucedido em reduzir a população dos hospitais mentais com a política muito controversa de “desinstitucionalização”, em que os pacientes eram reintegrados em suas comunidades. 
Infelizmente, essa prática tem tanto consequências negativas quanto positivas, incluindo o grande aumento do número dos pacientes sem lar e incapacitados nas ruas de nossas cidades. 
A TRADIÇÃO PSICOLÓGICA 
A TRADIÇÃO PSICOLÓGICA
É grande o salto dos espíritos maus até a patologia do cérebro como causa pra os transtornos psicológicos. Platão pensava que as duas causas do comportamento mal -adaptativo eram as influências sociais e culturais na vida de alguém e a aprendizagem que ocorria naquele ambiente. Se algo estivesse errado no ambiente, como o fato de os pais serem abusivos, os 
impulsos e as emoções de alguém dominariam a razão. O melhor tratamento era reeducar o indivíduo por meio da discussão racional de maneira que o poder da razão predominasse. Isso foi, em grande parte, um precursor das modernas abordagens psicossociais, que focalizam não 
apenas fatores psicológicos, mas também fatores sociais e culturais.
TERAPIA MORAL
 Durante a primeira metade do século XVIII, uma forte abordagem psicossocial dos transtornos mentais, chamada terapia moral, tornou-se influente. O termo moral, na realidade, significava “emocional” ou “psicológico”, em vez de ser um código de conduta. Seus princípios básicos incluíam tratar o paciente da forma mais normal em um 
ambiente que encorajasse e reforçasse interações sociais normais, de forma a lhes garantir muitas oportunidades de adequar seu contato social e interpessoal. A terapia moral como sistema origina-se com o famoso psiquiatra francês Philippe Pinel (1745 -1826). 
 Após William Tuke (1732-1822) ter seguido a liderança de Pinel na Inglaterra, Benjamin Rush (1745-1813), considerado o fundador da psiquiatria norte -americana, introduziu a terapia moral em seus trabalhos iniciais no Hospital da Pensilvânia. Este se tornou o tratamento de escolha nos principais hospitais. Os hospícios surgiram no século X VI e mais pareciam prisões que hospitais. Foi o aumento da terapia moral na Europa e nos Estados Unidos que tornou os hospícios habitáveis e até mesmo terapêuticos.
REFORMA MANICOMIAL E DECLÍNIO DA TERAPIA MORAL 
Infelizmente, após meados do XIX, o tratamento humano declinou em função de uma convergência de fatores. Em primeiro lugar, era amplamente reconhecido que a terapia moral funcionava melhor quando o número de paciente em uma instituição era de 200 ou menos, permitindo maior atenção individual ao paciente. Após a Guerra Civil, muitos imigrantes chegaram aos Estados Unidos e produziam suas próprias populações de doentes mentais. Os números de pacientes em hospitais aumentaram para mil, dois mil ou mais. Embora os grupos de imigrantes não fossem entendidos como merecedores dos mesmos privilégios que os norte -americanos “nativos”, a eles não eram dados os tratamentos morais, mesmo quando havia quantidade suficiente de funcionários nos hospitais. 
Um segundo motivo para o declínio na terapia moral teve uma fonte improvável. A expedicionária Dorothea Dix (1802-1887)fez uma enorme campanha pela reforma no tratamento da insanidade.Tendo conhecimento, em primeira mão, das deploráveis condições impostas aos insanos, adotou como trabalho de sua vida a responsabilidade de informar ao público norte - americano e a seus líderes esses abusos. Seu trabalho ficou conhecido como movimento pela higiene mental. 
A tradição psicológica permaneceu dormente por certo tempo, apenas para emergir de novo em diversas escolas de pensamento muito diferentes no século XX. A primeira abordagem foi à psicanálise,baseada na teoria elaborada por Sigmund Freud (1856 -1939); a segunda foi o behaviorismo, associado a John B. Watson, Ivan Pavlov e B. F. Skinner. 
TEORIA PSICANALÍTICA
 Freud elaborou o modelo psicanalítico,a mais abrangente teoria já construída sobre o desenvolvimento e estrutura de nossa personalidade. Ele também especulou em que aspecto esse desenvolvimento poderia estar errado e produzir transtornos psicológicos. Ainda que muitas opiniões de Freud tenham mudado com o passar do tempo, os princípios básicos do funcionamento mental que ele originalmente propôs permaneceram constantes por meio de seus escritos e ainda são aplicados pelos psicanalistas em nossos dias. 
As três premissas mais importantes da teoria psicanalítica são:
 1 . A estrutura da mente e as distintas funções da personalidade, que à vezes se chocam umas com as outras;
 2. Os mecanismos de defesa com os quais a mente se defende desses choques ou conflitos; 
 3. Os estágios do desenvolvimento psicossexual primitivo que oferece os grãos para o moinho de nossos conflitos internos.
 Os conceitos e observações psicanalíticos têm sido muito valiosos, não apenas para o estudo da psicopatologia e de psicoterapia dinâmica, mas também para a história das idéias na civilização ocidental. Estudos científicos de psicopatologia têm apoiado a observação dos processos mentais inconscientes, a noção de que as respostas básicas emocionais são frequentemente engatilhadas por dicas ocultas ou simbólicas e a compreensão de que as memórias dos acontecimentos em nossas vidas podem ser reprimidas e, por outro lado, impedidas por uma variedade de maneiras engenhosas. O relacionamento com o paciente, chamado de aliança terapêutica, é uma área importante de estudo na maioria das estratégias terapêuticas. 
As idéias revolucionárias de Freud que emergem da ansiedade patológica em conexão com alguns de nossos mais profundos e escuros instintos nos trouxeram de um longo caminho de processos de feitiçaria e de patologias incuráveis. Antes de Freud, a fonte do bem e do mal e dos desejos e proibições foi concebida como externa e espiritual, geralmente a guisa de 
demônios confrontando as forças do bem. A partir de Freud, nós próprios nos tornamos o campo de batalha para essas forças, e inexoravelmente somos trazidos à luta, algumas vezes para o melhor, outras, para o pior. 
 
TEORIA HUMANÍSTICA
 Jung e Adler romperam com Freud. A discordância fundamental era em relação à verdadeira natureza da humanidade. Freud desenhou a vida como um campo de batalha no qual estamos continuamente diante do perigo de sermos subjugados por nossas mais tenebrosas forças. Jung e Adler, por outro lado, enfatizaram o lado otimista e positivo da natureza humana. Jung, falava sobre o direcionamento de metas, olhando em direção ao amanhã e concebendo o futuro mais pleno de alguém. Adler acreditava que a natureza humana atinge seu potencial mais pleno quando contribuímos para outros indivíduos e para a sociedade. Suas filosofias gerais eram adotadas em meados do século por teóricos de
personalidade e tornaram-se conhecidas como psicologia humanística.
A autorrealização era o slogan desse movimento. Abraham Maslow (1908-1970) foi o mais sistemático ao descrever a estrutura da personalidade. Ele postulou uma hierarquia de necessidades; criou a hipótese de que não podemos progredir na hierarquia até que tenhamos 
satisfeito as necessidades dos níveis mais baixos. 
Carl Rogers (1902-1987) originou a terapia centrada no cliente. Nessa abordagem, o terapeuta assume papel passivo, fazendo o mínimo de interpretação possível. A questão é fornecer ao indivíduo a oportunidade de desenvolver-se durante o curso da terapia, desembaraçado dos temores do eu. 
No entanto, o modelo humanístico ofereceu poucas informações para o campo da psicopatologia. Um dos motivos para isso é que seus proponentes teóricos, com algumas exceções, não tiveram muito interesse em fazer pesquisas que descobrissem ou criassem novos 
conhecimentos.
O MODELO COMPORTAMENTAL
 O modelo comportamental, conhecido como modelo cognitivo-comportamental ou modelo de aprendizagem social, trouxe o desenvolvimento sistemático de uma abordagem mais científica para os aspectos psicológicos da psicopatologia. 
O fisiologista Ivan P.Pavlov (1849 -1936) iniciou o estudo do condicionamento clássico, um tipo de aprendizagem em que um estímulo é associado a uma resposta até que ele elicie a resposta. Por ser fisiologista, era natural que estudasse esses processos em um laboratório e a dotasse uma postura científica em relação a eles. Embora essa abordagem seja comum na biologia, não era de todo comum na psicologia naquela época. 
O psicólogo John B. Watson (1878 -1958) é o fundador do behaviorismo. Bastante influenciado pelo trabalho de Pavlov, Watson, em citação de um artigo em 1913, diz: “A psicologia, como um behaviorista a entende, é um ramo objetivo puramente experimental da ciência natural. Sua meta teórica é a previsão e o controle do comportamento”. Como muitos revolucionários, Watson levou sua causa a extremos, ele escreveu que “pensar”, para finalidades científicas, poderia ser comparado à conversa subvocal e que alguém precisa somente de movimentos em torno da laringe para estudar esse processo de modo objetivo. 
B. F. Skinner (1904-1990), em 1938 publicou O comportamento dos organismos, em que estabeleceu de maneira abrangente, os princípios do comportamento operante, um tipo de aprendizagem em que o comportamento muda como uma função do que persegue esse comportamento. Skinner cunhou o termo condicionamento operante porque o comportamento “opera” no ambiente e o modifica de alguma forma. 
O modelo comportamental contribuiu muito para a compreensão e o tratamento da psicopatologia. Por outro lado esse modelo é incompleto e inadequado para relatar o que agora sabemos sobre psicopatologia. No passado, havia pouco ou nenhum lugar para a biologia no behaviorismo, porque os transtornos eram considerados, em sua maior parte, reações 
comportamentais determinadas. O modelo também falha em descrever o desenvolvimento da psicologia através do ciclo da vida.
 Avanços recentes no conhecimento de como as informações são processadas, tanto consciente quanto inconscientemente, acrescentaram uma camada de complexidade. 
 
O PRESENTE: O MÉTODO CIENTÍFICO E UMA ABORDAGEM INTEGRADORA
 Nos anos 1990, dois avanços como nunca vistos, surgiram para iluminar a natureza da psicopatologia: 
(a) a crescente sofisticação dos instrumentos científicos e da metodologia (b) a constatação de que nenhuma influência – biológica, comportamental, cognitiva, emocional ou social – ocorre de forma isolada. Literalmente, cada vez que pensamos, sentimos ou fazemos alguma coisa, o cérebro e o restante do corpo estão trabalhando duro. Talvez não tão óbvio, entretanto, seja o fato de que nossos pensamentos, sentimentos e ações inevitavelmente influenciam a função e até mesmo a estrutura do cérebro, às vezes de modo permanente. Em outras palavras, nosso comportamento, tanto normal quanto anormal, é produto de uma 
interação contínua de influências psicológicas, biológicas e sociais. 
A visão de que a psicoterapia é multiplamente determinada tem seus partidários primeiros. Talvez o mais notável tenha sido Adolf Meyer(1866 -1950), decano da psiquiatria norte-americana. Considerando que a maioria dos profissionais, durante a primeira metade do século, possuía visões limitadasda causa da psicopatologia, Meyer enfatizou contribuições iguais de determinismo sociocultural, biológico e psicológico. Embora tenha tido alguns defensores, foi cem anos atrás que suas idéias tornaram-se reconhecidas na área.
No ano 2000, ocorreu uma verdadeira explosão de conhecimento sobre a 
psicopatologia. Os jovens campos da ciência cognitiva e da neurociência começaram a crescer exponencialmente, enquanto aprendíamos mais sobre o cérebro e sobre como processamos, lembramos e usamos as informações. Ao mesmo tempo, começar novas descobertas na ciência 
comportamental revelou a importância da experiência anterior na determinação do desenvolvimento posterior. Estava claro que um novo modelo era necessário e que ele deveria considerar as influências biológicas, psicológicas e sociais sobre o comportamento. Essa 
abordagem da psicopatologia combinaria as descobertas de todas as áreas com nossa rápida e crescente compreensão de como experimentamos a vida em diferentes períodos, da infância à velhice. 
 
2. AVALIANDO OS TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS 
 
O processo de avaliação clínica e diagnóstico é essencial para o estudo da 
psicopatologia e,em última análise, para o tratamento dos transtornos psicológicos. A avaliação clínica é a avaliação e a medida sistemáticas dos fatores sociais, biológicos e psicológicos em um indivíduo que apresenta um possível transtorno psicológico. O diagnóstico é o processo de 
determinar se um problema, em particular, afeta o indivíduo e preenche todos os critérios para um transtorno psicológico, conforme publicado no DSM-IV-TR (2000). 
 
No ano de 1 952, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) publicou a primeira edição do “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM -I ), e as edições seguintes, publicadas em 1968 (DSM-II), 19 80 (DSM-III), 1987 (DSM-III-R), 1994 (DSM -IV) e 2000 (DSM-IV-TR), foram revistas, modificadas e ampliadas .
O DSM-III (1980 )foi o mais revolucionário de todos e tornou -se um marco na história da psiquiatria moderna. Novas categorias diagnósticas foram descritas, como, por exemplo: a neurose de angústia foi subdividida em transtorno de pânico com e sem agorafobia e transtorno de ansiedade generalizada; a fobia social tornou -se uma entidade nosológica própria; a psicose maníaco-depressiva passou a ser denominada de transtorno do humor bipolar, com ou sem sintomas psicóticos. Muitas palavras passaram a ser evitadas. O termo neurose, por exemplo, deixou de ser usada, para não suscitar questões etiológicas, a palavra histeria desapareceu do texto, pelo mesmo motivo, a expressão doença mental foi substituída por transtorno mental, etc.
Além disto, uma característica importante do DSM-III foi à hierarquização dos diagnósticos. Um paciente diagnosticado como esquizofrênico, por exemplo, não poderia receber o diagnóstico simultâneo de transtorno de pânico. A esquizofrenia, patologia mais grave, era considerada hierarquicamente superior ao quadro do pânico. Desta forma, era atendida a velha máxima da medicina, que preconiza a identificação de uma única patologia para explicar todos os sintomas que compõem o quadro clínico de um paciente. Entretanto, em 1987, com a 
publicação do DSM-III-R, esta hierarquia foi abolida, e o manual passou a incentivar a feitura simultânea de dois ou mais diagnósticos num mesmo paciente. Surgiu, assim, o conceito de comorbidade, em psiquiatria, que foi confirmado pelo DSM-IV e amplamente difundido nos anos 90, sendo utilizado regularmente nos dias atuais. 
 
O QUE É O DSM-IV? 
 
O DSM-IV é, portanto, um manual diagnóstico e estatístico, que foi adotado pela APA e que se correlaciona com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, da Organização Mundial da Saúde (OMS).Trata -se de um sistema classificatório multiaxial – publicado nos anos 90, que são considerados “a década do cérebro” pela OMS – organizado de maneira a agrupar 16 classes diagnósticas distintas, que recebem códigos numéricos específicos e se distribuem por cinco grandes eixos, que são os seguintes: 
Eixo I: Descreve os transtornos clínicos propriamente ditos. Por exemplo: transtorno de pânico sem agorafobia (300.01), transtorno depressivo recorrente (296.3), transtorno delirante (297.1), dependência do álcool (303.90), etc. 
Eixo II: Descreve o retardo mental. Por exemplo: retardo mental severo (318.1) e transtornos de personalidade, que foram reunidos em três grandes agrupamentos (clusters). No grupo A, estão os indivíduos com traços estranhos ou bizarros – por exemplo, transtorno de personalidade 
esquizóide (301.20); no grupo B, os indivíduos com traços dramáticos e instáveis – por exemplo, transtorno de personalidade borderline (301.50); e, finalmente,os inseguros e ansiosos no grupo C – por exemplo, transtorno de personalidade dependente (301.6).
Eixo III: Descreve as condições médicas gerais. Por exemplo: otite média recorrente (382.9). 
Eixo IV: Trata dos problemas psicossociais e ambientais, associados com o transtorno mental em questão. Por exemplo: ameaça de perda de Emprego. 
Eixo V: Constitui-se por uma escala de avaliação global de funcionamento (AGF), que recebe uma numeração. Por exemplo: AGF = 82. 
 
As principais características do DSM-IV são: 
1. Descrição dos transtornos mentais; 
2. Definição de diretrizes diagnósticas precisas, através da listagem de sintomas que configuram os respectivos critérios diagnósticos; 
3. Modelo ateórico, sem qualquer preocupação com a etiologia dos transtornos; 
4. Descrição das patologias, dos aspectos associados, dos padrões de distribuição familiar, da prevalência na população geral, do seu curso, da evolução, do diagnóstico diferencial e das complicações psicossociais decorrentes; 
5. Busca de uma linguagem comum, para uma comunicação adequada entre os profissionais da área de saúde mental; 
6. Incentivo à pesquisa. 
 
3. FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS 
 
Em geral quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade a fetiva, etc.) e seu conteúdo, ou seja, aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). Este último é geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo cultural e da personalidade prévia ao adoecimento. 
De modo geral, os conteúdos dos sintomas, estão relaciona dos aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc. ), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de 
substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica.
A ORDENAÇÃO DOS FENÔMENOS EM PSICOPATOLOGIA 
 
O estudo da doença mental, como de qualquer outro objeto, inicia pela observação cuidadosa de suas manifestações. A observação articula -se dialeticamente com a ordenação dos fenômenos. Isso significa que, para produzir, definir, classificar, interpretar e ordenar o observado em determinada perspectiva, seguindo certa lógica. 
Assim, desde Aristóteles, o problema da classificação está intimamente ligado ao da definição e do conhecimento de modo geral. Segundo ele, definir é indicar o gênero próximo e a diferença específica. Isso quer dizer que definir é, por um lado, afirmar a que o fenômeno definido se assemelha, do que é aparentado, com o que deve ser agrupado e, por outro lado, identificar do que ele se diferencia, a que é estranho ou oposto. Portanto, na linha aristotélica, o problema da classificação é a questão da unidade e da variedade dos fatos e dos conhecimentos que sobre eles são produzidos. 
 
Classicamente, distinguem-se três tipos de fenômenos humanos para a psicopatologia: 
 
1. Fenômenos semelhantes em todas as pessoas. De modo geral, todo homem sente fome, sede ou sono.Aqui se inclui o medo de um animal perigoso, a ansiedade perante uma prova difícil, o desejo por uma pessoa amada, etc. Embora haja uma qualidade pessoal própria para cada ser humano, essas experiências são basicamente semelhantes para todos. 
 
2. Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes. São fenômenos que o homem comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes aos que o doente mental vivencia. Assim, todo homem comum pode sentir tristeza; mas a alteração profunda, avassaladora, que um paciente com depressão psicótica experimenta é apenas parcialmente 
semelhante à tristeza normal. A depressão grave, por exemplo, com idéias de ruína, lentificação psicomotora, apatia, etc., introduzem algo qualitativamente novo na experiência humana.
3. Fenômenos qualitativamente novos, diferentes. São praticamente próprios apenas a certas doenças e estados mentais. Aqui se incluem fenômenos psicóticos, como alucinações, delírios, turvação da consciência, alteração da cognição nas demências, entre outros.
 
 
 
4. AVALIAÇÃO DO PACIENTE 
 
A avaliação do paciente, em psicopatologia, é feita principalmente por meio da entrevista. Aqui a entrevista não pode, de forma alguma, ser vista como algo banal, um simples perguntar ao paciente sobre alguns aspectos de sua vida. A entrevista, juntamente com a observação cuidadosa do paciente, é, de fato, o principal instrumento de conhecimento da psicopatologia. Por meio de uma entrevista realizada com arte e técnica, o profissional pode obter informações valiosas para o diagnóstico clínico, para o conhecimento da dinâmica afetiva do paciente e, para a intervenção e o planejamento terapêutico mais adequado. 
O Exame psiquiátrico completo abrange: 
1. O Exame clínico, compreendendo a anamnese completa, a revisão dos sistemas orgânicos, o exame físico e os exames complementares. 
2. O Exame psíquico – avaliação das funções psíquicas. 
A entrevista psicopatológica permite a realização dos dois principais aspectos da avaliação: 
1. A anamnese [do grego ana, trazer de novo emnesis, memória significa relembrar todos os fatos significativos relacionados com um assunto específico (uma dor, hábitos nutricionais, atividade física). Na prática é um roteiro de diferentes tipos de perguntas que permitem a condução de uma entrevista, na qual um profissional normalmente da área da saúde (médico, fisioterapeuta, professor de Educação Física, psicólogo) inicia um processo de diagnóstico de uma determinada situação e posteriormente de planejamento de ações terapêuticas e corretivas], ou seja, o histórico dos sinais e dos sintomas que o paciente apresenta ao longo de sua vida, seus antecedentes pessoais e familiares, assim como de sua família e meio social. 
2. O exame psíquico (avaliação das funções psíquicas – cujo estudo é o objetivo desta disciplina), também chamado exame do estado mental atual . Realizado com cuidado e minúcia pelo entrevistador desde o início da entrevista até a fase final, quando são feitas outras perguntas. 
Abaixo, segue um modelo – esquemático, porém bastante completo – de exame, com algumas sugestões e elementos básicos de orientação. As questões relacionadas com as funções psíquicas devem ter como referência, os itens que serão abordados durante as aulas. 
O instrumento de observação é o próprio entrevistador; cada um deve aprender a usara própria personalidade como se fosse seu estetoscópio, deixando de lado teorias e classificações. 
Essa relação estabelecida e as vivências que ela produz na existência do entrevistador constituem a base de observação clínica psicopatológica. O estudo detalhado das funções mentais tem por objetivo organizar e complementar essa observação, mas não é a sua essência. 
O exame é uma entrevista, não um simples bate-papo, nem muito menos 
um interrogatório policial. O seu propósito é o conhecimento e a compreensão do paciente. A ordenação de itens destina-se apenas à apresentação do relatório final. Portanto, a sequência das perguntas não precisa ser necessariamente esta. Como logo tornar -se- á evidente, muitas observações do exame psíquico serão feitas antes mesmo de se coletar quaisquer dados da anamnese. A esquematização das funções mentais tem por objetivo disciplinar o exame e não esquematizar o diagnóstico. A entrevista deve buscar a compreensão das relações de sentido na vida do paciente e não o estabelecimento de vínculos de causa e efeito entre os e ventos e manifestações psicopatológicas. O diagnóstico não faz parte do exame não deve estar entre as preocupações fundamentais na primeira entrevista. 
O iniciante deve fazer certo esforço de conscientização para evitar que os eventos singulares, os fatos escabrosos, os relatos impressionantes e as situações inusitadas se transformem em atrativos irresistíveis para a condução da entrevista.
 
5. A ENTREVISTA COM O PACIENTE 
 
A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e no tratamento em saúde mental. Esse primeiro contato, sendo bem pronduzido, deve produzir no paciente uma sensação de confiança e de esperança em relação ao alívio do sofrimento. Entrevistas iniciais desencontradas, desastrosas, nas quais o profissional é,involuntariamente ou não, negligente ou hostil com o paciente, em geral são seguidas de abandono do tratamento. 
 
1.Dados de Identificação: Nome, idade, estado civil, sexo e circunstâncias 
atuais de vida. As informações também podem incluir o local ou situação onde a entrevista ocorreu, as fontes das informações e se este é o primeiro episódio deste tipo, para o paciente. 
 
2.Queixa Principal (QP): Nas palavras do próprio paciente, enuncia o motivo pelo qual veio em busca de auxílio. Caso o paciente traga várias queixas, registra-se aquela que mais o incomoda e, preferencialmente, em não mais de duas linhas. Deve-se colocá-la entre aspas e nas palavras do paciente. 
Ex: “Tô sem saber o que faço da minha vida. Acho que é culpa do governo”. 
 
3.História da Doença Atual (HDA): Aqui se trata apenas da doença psíquica 
do paciente. Registram-se os sintomas mais significativos, a época em que 
começou o distúrbio; como vem se apresentando, sob que condições melhora ou piora. Essa informação é provavelmente a parte mais útil da história em termos de se estabelecer o diagnóstico psiquiátrico. 
 
Indaga-se se houve instalação súbita ou progressiva, se algum fato desencadeou a doença ou episódios semelhantes que pudessem ser correlacionados aos sintomas atuais. 
 
Averigua-se se já esteve em tratamento, como foi realizado , e quais resultados obtidos, se houve internações e suas causas, bem como o que sente atualmente. Pede -se ao paciente que explique, o mais claro e detalhado possível, o que sente. 
É importante lembrar que ao se fazer o relato escrito deve haver uma cronologia dos eventos mórbidos (do mais antigo para o mais recente). 
 
São anotados, se houver os medicamentos tomados pelo paciente (suas doses, duração e uso). Caso não tome remédios, registra-se: “Não faz uso de medicamentos”. 
 Neste item busca -se,com relação à doença psíquica, “como” ela se manifesta, com que freqüência e intensidade e quais os tratamentos tentados. 
 
 4.História Pessoal (HP ): Coloca-se, de forma sucinta, separando-se cada 
tópico em parágrafos, dados sobre a infância, educação, escolaridade, 
relacionamento com os pais, relacionamento social, aprendizado sobre 
sexo..., enfim, tudo o que se refere à vida pessoal do paciente. Não se titulam esses tópicos, apenas relata-se a que se refere cada um deles.
- De nascimento e desenvolvimento: gestação (quadros infecciosos, traumatismos emocionais ou físicos, prematuridade ou nascimento a termo), parto (normal, uso de fórceps, cesariana), condições ao nascer. Se o paciente foi uma criança precoce ou lenta, dentição, deambulação (ato de andar ou caminhar), como foi o desenvolvimento da linguagem e a excreta (urina e fezes). 
Ex: “Paciente declara ter nascido de gestação a termo, partonormal...”. 
 
- Sintomas neuróticos da infância : medos, terror noturno, sonambulismo, sonilóquio (falar dormindo), tartamudez (gagueira), enurese noturna, condutas impulsivas (agressão ou fuga), chupar o dedo ou chupeta (até que idade), ser uma criança modelo, crises de nervosismo, tiques, roer unhas. 
- Escolaridade: anotar começo e evolução, rendimento escolar, especiais aptidões e dificuldades de aprendizagem, relações com professores e colegas, jogos mais comuns ou preferidos, divertimentos, formação de grupos, amizades, popularidade, interesse por esportes, escolha da profissão. 
 
- Puberdade: época de aparição dos primeiros sinais; nas mulheres, a história menstrual. 
 
- História sexual : aqui se registram as primeiras informações que o paciente obteve e de quem; as primeiras experiências masturbatórias; início da atividade sexual; jogos sexuais; atitude ante o sexo o posto; intimidades, namoros; experiências sexuais extraconjugais; homossexualismo; separações e recasamentos; desvios sexuais. 
 
- Trabalho: registrar quando o paciente começou a trabalhar. Diferentes empregos e funções desempenhadas (sempre em ordem cronológica), regularidade nos empregos e motivos que levaram o paciente a sair de algum deles, satisfação no trabalho, ambições e circunstâncias econômicas atuais, aposentadoria. 
 
- Hábitos: uso do álcool, fumo ou quaisquer outras drogas. Caso não faça uso , assinalar: 
“Não faz uso de álcool, fumo ou quaisquer outras drogas”
5 .História Familiar (HF): O item deve abrigar as relações familiares (começa- se pela filiação do paciente). 
 
- Pais: idade; saúde; se mortos; cau sa e data do falecimento; ocupação; personalidade; 
recasamentos se houver de cada um deles. Verificar se há caso de doença mental em um deles ou ambos. 
 
- Irmãos: idade; condições maritais; ocupação; personalidade. Indagar se há caso de doença mental. Apenas referir-se por iniciais. 
 
- Cônjuge: idade, ocupação e personalidade; compatibilidade; vida sexual; frigidez ou impotência; medidas anticoncepcionais. 
 
- Filhos: número; idades; saúde; personalidade. Também referir-se apenas pelas iniciais. 
 
- Lar: neste quesito, descrevem-se, em poucas palavras, a atmosfera familiar, os acontecimentos mais importantes durante os primeiros anos e aqueles que, no momento, estão mobilizando toda a família; as relações dos parentes entre si e destes com o paciente. 
Nunca é demais lembrar que se evite o estilo romanceado e opiniões pessoais por parte de quem faz a anamnese. Frases curtas e objetivas, contendo dados essenciais, facilitarão a apreensão do caso . A utilização das palavras do paciente será produtiva na medida em que se queira explicitar, de maneira objetiva e clara, alguma situação ou característica relevante. 
6 Exame Psíquico (EP): Até aqui, tivemos um relato feito pelo paciente e, em alguns casos, outros dados colhidos por familiares ou pessoa que o 
acompanha à entrevista. Nosso trabalho foi o de registrar e organizar tais 
informações. Neste ponto da anamnese, cessa esse relato do paciente e 
passa-se a ter o registro da observação do entrevistador ou terapeuta, no momento da(s) entrevista(s). 
 
Os tópicos seguintes apontam para os diferentes aspectos da vida psíquica do indivíduo e devem ser investigados. A coleta desses dados, bem como a de todos os outros, poderá ser feita na ordem em que melhor parecer ao entrevistador. Porém, no texto final, será mantida uma ordem preestabelecida, com a finalidade de facilitar o acesso ao material. 
 
No exame psíquico, não se usam termos técnicos ; o que se espera que seja registrado aqui são aspectos objetivos que justifiquem os termos técnicos que serão empregados posteriormente na súmula. 
 
1. Apresentação: Refere-se à impressão geral que o paciente causa no entrevistador. Compreende: 
 
a. Aparência: tipo constitucional, condições de higiene pessoal, adequação do vestuário,cuidados pessoais. Não confundir com a classe social a que pertence o indivíduo. 
b. Atividade psicomotora e comportamento : mímica – atitudes e movimentos expressivos da fisionomia (triste, alegre, ansioso, temeroso, desconfiado, esquivo, dramático, medroso, etc.); 
gesticulação (ausência ou exagero); motilidade – toda a capacidade motora (inquieto, imóvel, incapacidade de manter-se em um determinado local); deambulação – modo de caminhar (tenso, 
elástico, largado, amaneirado, encurvado, etc.). 
c. Atitude para com o entrevistador: cooperativo, submisso, arrogante, desconfiado, apático, superior, irritado, indiferente, hostil, bem-humorado, etc. 
d. Atividade verbal: normalmente responsivo às deixas do entrevistador, não -espontâneo (tipo pergunta e resposta), fala muito, exaltado ou pouco e taciturno. 
 
2. Funções Psíquicas 
 
7.Hipótese Diagnóstica (HD): “Diagnóstico ” é uma palavra de origem grega e significa “reconhecimento”. No ato médico, refere -se ao reconhecimento de uma enfermidade por meio de seus sinais e sintomas. Trata -se aqui de diagnóstico nosológico a ser seguido em conformidade com o CID-10. 
 
De acordo com o que pode ser observado durante a entrevista, propõe -se uma hipótese de diagnóstico, que poderá ser esclarecida, reforçada ou contestada por outro profissional ou exames complementares, se houver necessidade. Não é demais lembrar que poderá haver um diagnóstico principal e outro(s) secundário(s), em comorbidade. 
 
Ex: F 30.2 – Mania com sintomas psicóticos.
8 Hipótese Psicodinâmica (HP): A hipótese psicodinâmica e a atuação 
terapêutica deverão constar em outra folha à parte. Um entendimento 
psicodinâmico do paciente auxilia o terapeuta em seu esforço para evitar 
erros técnicos. Há que se ter uma escuta que vá além do que possa parecer à primeira vista. A compreensão da vida intrapsíquica do paciente é de fundamental importância no recolhimento de dados sobre ele. 
 
Uma avaliação psicodinâmica não prescinde da avaliação realizada na anamnese. Pode ser considerada, inclusive, como uma extensão valiosa e significativa dela. 
É na busca do funcionamento psicodinâmico do paciente que se tem um melhor entendimento do quanto ele está doente, de como adoeceu e como a doença o serve. 
 
Estabelecido um bom rapport entre entrevistador e paciente, é de fundamental importância que este último seja compreendido como alguém que em muito contribui para o seu próprio entendimento, além de ajudar na precisão de um diagnóstico. O paciente não é uma planta 
sendo observada por um botânico. É uma pessoa que, por não conseguir mais se gerenciar sozinho, busca auxílio em outro ser humano. Sente medo , ansiedade, desconfiança, alegria e está diante de outra pessoa que ele julga poder auxiliá-lo. 
 
À medida que esse entendimento vai se estruturando, o entrevistador pode começara formular hipóteses que liguem relacionamentos passados e atuais do paciente, assim como a repetição de seus padrões de relação e comportamento. Deve haver, portanto , uma interpretação global 
da problemática desse paciente a respeito do que pode estar causando suas dificuldades atuais, motivo da busca de ajuda profissional. 
 
Fica evidente que uma hipótese psicodinâmica vai além do que o paciente diz. Alcança, também, o estilo de relação que ele estabelece com o terapeuta e que dá indícios de sua demanda latente. Também é preciso ressaltar que a hipótese psicodinâmica está sempre baseada num referencial teórico seguido pelo terapeuta, que deverá circunscrever o funcionamento psicodinâmico do paciente, formulando uma hipótese que resuma da melhor maneira possível a psicodinâmica básica do paciente. 
 
6. DEFINIÇÃO DE SINAIS E SINTOMAS 
 
Os termos “sinais” e “sintomas” referem-se a eventos específicos: sinais são achados objetivos observados pelo médico (por exemplo, taquicardia e hiperatividade motora); sintomas são queixas subjetivas apresentadas pelo paciente (por exemplo, palpitaçõese ansiedade). 
A síndrome e o transtorno andam juntos enquanto são constituídas pelo conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma determinada patologia. Enquanto não se identifica a patologia continuamos a chamar esse conjunto de sinais e sintomas de síndrome. No momento em que se define a patologia, o quadro passa a ser chamado de transtorno. Tanto a síndrome como o transtorno pode ser orgânica ou funcional , sendo chamado de orgânico quando se caracteriza por representar um problema em um determinado órgão em mal funcionamento detectável, ou seja, quando é causada diretamente por anomalias estruturais cerebrais, neuroquímicas ou neurofisiológicas do paciente. Normalmente o que nos facilita a caracterização de determinado distúrbio de orgânico é quando o paciente apresenta prejuízos cognitivos consideráveis, como a falta de memória, dificuldade muito grande de orientação, cálculos 
freqüentemente errados, erros graves de julgamento, falta de compreensão da linguagem, etc. 
 
O distúrbio orgânico é considerado uma síndrome quando o médico suspeita de uma causa orgânica, mas ainda não possui dados clínicos suficientes para essa confirmação. A partir do momento que essa causa orgânica é identificada esse distúrbio passa a ser considerado um transtorno mental orgânico. Quando se identifica o órgão, mas esse não apresenta qualquer anormalidade detectável nos exames, chamamos esse distúrbio de funcional. 
A ocorrência da Síndrome ou do Transtorno nos leva a deduzir pela presença, na pessoa, da estrutura psicótica correspondente, exceto nos casos de transtornos orgânicos a partir de determinadas lesões, o que faz o paciente adquirir comportamentos tal qual o psicótico, mesmo sem ter a estrutura correspondente nascida com ele, mas adquirida com a lesão.
 
 
 
DISFONIA e DISF EMIA 
Estes são te rmos importantes na clínica, geralmente utilizados de forma imprecisa em 
psicopatologia. Disfonia é a alteração da fala produzida pela mudança de sonoridade das 
palavras. Já a Afonia é uma forma a centuada de disfonia, na qu al o indivíduo não consegue 
emitir qu alquer som ou palavra. Tal alteração de sonoridade é causada por uma d isfunção do 
aparelho fonador ou um defeito da respiração durante a fala. 
A Disfemia é a alteração da linguagem falada sem q ualquer lesão ou d isfunção 
orgânica, determinada por conflitos e fatores p s icogênicos. Está comumente associada a 
estados emocionais intensos, a quadros histéricos e a conflitos inconscientes intensos. 
A Gagueira é um tipo de d isfemia. Trata-se de dificuldade ou da impossibilidade de 
pronunciar certas sílabas, no começo ou ao long o d e uma frase , com repetição ou intercalação 
de fonemas ou somente trepidação na elocução, conseguindo o paciente, ao final, terminar a 
frase normalmente. Pode ocorrer ta nto devido a d efeitos mecânicos da fo nação como devido a 
fatores emocionais, com ansiedade e timidez. 
 
DISLALIA 
É a alteração da linguagem falada q ue resulta da deformação da omissão ou da 
substituição dos fonemas, não h avendo alterações identificáveis nos movimentos d os músculos 
que participam da articulação e da e missão das palavras. As dislalias orgânicas resultam de 
defeitos da língua, dos lábios, da abóbada palatina ou de qualquer outro componente do 
aparelho fonador. Nas dislalias fu ncionais, não se observam alterações orgânicas do aparelho 
fonador, sendo sua origem geralmente psic ogênica, por conflitos interpessoais ou por imitação. 
 
Alterações da linguagem associadas a transtornos psiquiátricos primários 
 
LOGORRÉIA e LOQUACIDADE 
Na Logorréia, existe a produ ção aumentada e acelerada ( taquifasia) da linguagem 
verbal, um fluxo incessante de palavras e frases, podendo haver perda da lógica do discurso. 
Loquacidade é o aumento da fluência verbal sem qualquer prejuízo da lógica do 
discurso. 
 
BRADIFASIA 
Esta é uma alteração da linguagem oposta à taquifasia. Aqui o paciente fala muito 
vagarosamente, as palavras seguem -se umas às outras de forma lenta e difícil. Em geral, está 
associada a quadros depressivos graves, estados demenciais e e squizofrenia crônica ou com 
sintomas negativos. 
 
MUTISMO 
De modo muito genérico, o mutismo pode se r def inido como a a usência de resposta 
verbal oral por parte d o d oente. O paciente fica no leito sem responder ao entrevistador, sem 
qualquer resposta verbal. Os fato res causais associados ao mutismo são muito variáveis, 
podendo ser de natureza neurobiológica, psicótica ou psicogênica. O mutismo nas síndromes 
psiquiátricas é, na maior parte das vezes, uma forma de negativismo verbal, de tendência 
automática a se opor às solicitações do ambiente no que concerne à resposta e à produção 
verbal. Em crianças, observa-se, com certa frequência, o mutismo eletivo ou seletivo, forma 
psicogênica de mutismo ocasionada por conflitos interpessoais, principalmente na escola, 
dificuldades de relacionamento familiar, frus trações, medos, ansiedade so cial, intensa timidez ou 
hostilidade não-elaborada por meio de uma comunicação mais clara. 
 
 
 
31 
ECOLALIA 
É a repetição da última ou d as últimas palavras que o entrevistador (ou alguém no 
ambiente) fa lou ou dirigiu ao p aciente. É um fenômeno quase que automático, involuntário, 
realizado se m planejamento ou controle. Ao ser questionado “Qual o seu nome?”, o paciente 
fala: “Nome, no me, nome”, “Qual a sua idade?”, ele diz: “Idade, idade, idade”. A eco lalia é 
encontrada principalmente na esquizofrenia catatônica e nos quadros psico -orgânicos

Outros materiais