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Revista n 20 Setembro Dezembro de 2015

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Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
Sumário
EXPEDIENTE4
APRESENTAÇÃO6
ENTREVISTA
1-) Maria Gorete Marques de Jesus 
entrevista Paulo Sérgio Pinheiro
9
ARTIGOS
1-) Por uma Outra Criminologia do 
Terceiro Mundo: perspectivas da 
Criminologia Crítica no Sul
Rodrigo Codino, traduzido por Salo 
de Carvalho
2-) Provando a tortura: reflexões a 
partir da análise de acórdãos dos 
Tribunais de Justiça brasileiros
Mayara Gomes, Nathércia Cristina 
Manzano Magnani, Paula Ramos e 
Vivian Calderoni
2-) Garantismo e facções 
criminosas: correlação da teoria 
Garantista com o surgimento e 
existência do Primeiro Comando da 
Capital
Julia Rosa Latuf
2-) Maíra Zapater entrevista Danilo 
Cymrot
3-) Os crimes preterdolosos e a 
cooperação dolosamente distinta 
no Código Penal Brasileiro
Rafael Santos Soares
4-) Os aspectos da extradição entre 
Brasil e Portugal sob a ótica da 
Convenção de Extradição entre os 
Estados Membros da Comunidade 
dos Países de Língua Portuguesa
Saulo Ramos Furquim
22
ESCOLAS PENAIS
1-) A (re)interpretação do papel 
da progressão de regime de 
cumprimento de pena à luz do 
pensamento de AlessAndro BArAttA
Thalita A. Sanção Tozi
85
134 DIREITOS HUMANOS1-) Era das Chacinas: breve 
discussão sobre a prática de 
chacinamento na era democrática
Camila de Lima Vedovello
2-) Substituição da prisão 
preventiva por domiciliar para 
mulheres gestantes acima do sétimo 
mês ou em risco, em Habeas Corpus 
no Tribunal de Justiça de São Paulo
Fernanda Peron Geraldini
3-) Militarização policial 
e constitucionalidade: 
compatibilidade do modelo policial 
militar com um estado democrático 
de direito
Gabriela Sutti Ferreira
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
Sumário
188 INFÂNCIA1-) A regra de tratamento de 
inocência antes do trânsito em 
julgado de sentença condenatória 
na seara da infância e juventude e 
a execução provisória da medida 
socioeducativa
Giancarlo Silkunas Vay
2-) Remissão e prescrição: Um 
diálogo necessário entre o Estatuto 
da Criança e do Adolescente e a 
sistemática penal
Bruno César da Silva e Naiara 
Volpato Prado
PARECER
Parecer técnico ao PLS n.º 508/2013 
e seu substitutivo
Rogério Fernando Taffarello
220
CONTO
O mensageiro de Deus
Gustavo Samuel
232
CADEIA DE PAPEL
Nome de horror
Debora Diniz
234
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
EXPEDIENTE
Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
4
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
Diretoria Executiva
Presidente:
Andre Pires de Andrade Kehdi
1º Vice-Presidente:
Alberto Silva Franco
2º Vice-Presidente:
Cristiano Avila Maronna
1º Secretário:
Fábio Tofic Simantob
2ª Secretária:
Eleonora Rangel Nacif
1ª Tesoureira:
Fernanda Regina Vilares
2ª Tesoureira:
Cecília de Souza Santos
Diretor Nacional das Coordenadorias 
Regionais e Estaduais:
Carlos Isa
Ouvidor
Yuri Felix
Colégio de Antigos Presidentes e Diretores
Alberto Silva Franco 
Alberto Zacharias Toron 
Carlos Vico Mañas
Luiz Flávio Gomes
Mariângela Gama de Magalhães Gomes
Marco Antonio R. Nahum
Marta Saad
Maurício Zanoide de Moraes 
Roberto Podval
Sérgio Mazina Martins
Sérgio Salomão Shecaira
Conselho Consultivo
Carlos Vico Mañas
Ivan Martins Motta
Mariângela Gama de Magalhães Gomes
Marta Saad
Sérgio Mazina Martins
Publicação do 
Instituto Brasileiro
de Ciências CriminaisExpediente
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
EXPEDIENTE
Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
5
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
Coordenador-Chefe
Roberto Luiz Corcioli Filho
Coordenadores-Adjuntos
Alexandre de Sá Domingues
Giancarlo Silkunas Vay
João Paulo Orsini Martinelli
Maíra Zapater
Maria Gorete Marques de Jesus
Thiago Pedro Pagliuca Santos
Conselho Editorial
Alexandre Morais da Rosa
Alexis Couto de Brito
Amélia Emy Rebouças Imasaki
Ana Carolina Carlos de Oliveira
Ana Carolina Schwan
Ana Paula Motta Costa
Anderson Bezerra Lopes
André Adriano do Nascimento 
Silva
André Vaz Porto Silva
Antonio Baptista Gonçalves
Bruna Angotti
Bruna Rachel Diniz
Bruno Salles Pereira Ribeiro
Camila Garcia
Carlos Henrique da Silva Ayres
Christiany Pegorari Conte
Coordenação da
Revista Liberdades
Cleunice Valentim Bastos Pitombo
Dalmir Franklin de Oliveira Júnior
Daniel Pacheco Pontes
Danilo Dias Ticami
Davi Rodney Silva
David Leal da Silva
Décio Franco David 
Eduardo Henrique Balbino Pasqua
Fábio Lobosco
Fábio Suardi D’ Elia
Francisco Pereira de Queiroz
Fernanda Carolina de Araujo Ifan-
ger
Gabriel de Freitas Queiroz
Gabriela Prioli Della Vedova
Gerivaldo Neiva
Giancarlo Silkunas Vay
Giovani Agostini Saavedra
Gustavo de Carvalho Marin
Humberto Barrionuevo Fabretti
Janaina Soares Gallo
João Marcos Buch
João Victor Esteves Meirelles
Jorge Luiz Souto Maior
José Danilo Tavares Lobato
Karyna Sposato
Leonardo Smitt de Bem
Luciano Anderson de Souza
Luis Carlos Valois
Marcel Figueiredo Gonçalves
Marcela Venturini Diorio
Marcelo Feller
Maria Claudia Girotto do Couto
Matheus Silveira Pupo
Maurício Stegemann Dieter
Milene Maurício
Nidival Bittencourt
Peter Schweikert
Rafael Serra Oliveira
Renato Watanabe de Morais
Ricardo Batista Capelli
Rodrigo Dall’Acqua
Ryanna Pala Veras
Vitor Burgo
Yuri Felix
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
6
APRESENTAÇÃO
6
Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
Apresentação
É indiscutível que vivemos um período de intensas transformações políticas e sociais que exigem reflexões em vários 
níveis.
Pensando na atualidade dessas e de outras questões, a presente edição apresenta uma entrevista com Paulo Sérgio 
Pinheiro, que fala sobre o cenário político atual no Brasil e os riscos de prováveis retrocessos de direitos conquistados 
ao longo desses anos pós ditadura civil militar. A presença ainda forte do racismo e do autoritarismo revela que ainda 
não superamos nossas mazelas culturais, ainda tão latentes em nossa história. “O racismo não se extinguiu no Brasil. 
E, na verdade, ainda que isso não seja colocado publicamente, quem irá preso caso a redução da maioridade penal 
passe serão os adolescentes não brancos, afrodescendentes, negros”. Acrescentou que a onda conservadora não é 
um fenômeno apenas nacional, mas está presente em diversas partes do mundo, especialmente em países da Europa, 
que estão construindo muros com objetivo de conter a entrada de refugiados.
Nesta edição também apresentamos a entrevista com Danilo Cymrot, músico e autor de uma pesquisa sobre a 
criminalização do funk. Da criminalização dos MC’s, quando são enquadrados por tipos penais como o de apologia 
ao crime,à elaboração de legislações administrativas que proíbem os bailes funk, o entrevistado narra os processos 
criminalizadores do funk. Também descreve a variedade de gêneros de funks, do “Funk Consciente” ao “Funk 
Neurótico”. “O funk vive fases bastante diferentes, dependendo do momento, inclusive, político em que vive a cidade”.
Iniciamos a seção de artigos com o excelente texto de Rodrigo Codino, traduzido por Salo de Carvalho: Por uma 
outra criminologia do terceiro mundo: perspectivas da Criminologia Crítica no Sul. “O artigo refaz o percurso 
da criminologia crítica na América Latina, enfatizando a construção de um saber teórico autóctone direcionado à 
denúncia das violências estrutural e institucional. Na sequência, relaciona a criminologia crítica latino-americana com 
a criminologia africana, problematizando, a partir do relato da tensão entre direito europeu (colonizador) e direito 
comunitário, seus conceitos, objetos, métodos e, sobretudo, os desafios comuns para resistir às distintas formas de 
violência e de dominação.”
Na sequência, Provando a tortura: reflexões a partir da análise de acórdãos dos Tribunais de Justiça brasileiros, de 
Mayara Gomes, Nathércia Cristina Manzano Magnani, Paula Ramos e Vivian Calderoni, reflete como os operadores 
do direito avaliam o valor da palavra da vítima e do acusado, as provas periciais e os obstáculos envolvidos na 
comprovação da tortura. Esta reflexão faz parte da pesquisa Julgando a tortura, disponível no site: http://www.
conectas.org/arquivos/editor/files/Julgando%20a%20tortura.pdf.
Rafael Santos Soares, autor de Os crimes preterdolosos e a cooperação dolosamente distinta no Código Penal 
brasileiro, faz uma discussão sobre o conceito e a conformação histórica do instituto da cooperação dolosamente 
distinta a partir da disciplina legal do concurso de pessoas no Código Penal do Brasil, com destaque para a Reforma 
Penal de 1984, e salienta a importância de tal instituto para a concretização da responsabilidade penal subjetiva no 
ordenamento jurídico. Há, ainda, uma interessante análise crítica da jurisprudência no que diz respeito à aplicação da 
norma do art. 29, §2º do Código Penal aos partícipes de roubo que não desejaram e tampouco assumiram o risco de 
produzir a morte da vítima e, portanto, não devem responder por latrocínio. 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
0201
ENTREVISTA
0201
INFÂNCIA
030201
DIREITOS HUMANOS
0201
ESCOLAS PENAIS
PARECER
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APRESENTAÇÃO
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Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
Ainda na seção Artigos encontraremos Os aspectos da extradição entre Brasil e Portugal sob a ótica da Convenção 
de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, de Saulo Ramos 
Furquim, que descreve as possibilidades de extradição entre Brasil e Portugal bem como as pertinentes restrições 
constitucionais.
Na seção Escolas Penais, apresentaremos os trabalhos de Thalita A. Sanção Tozi, com o texto A (re)interpretação 
do papel da progressão de regime de cumprimento de pena à luz do pensamento de AlessAndro BArAttA, e de Julia 
Rosa Latuf, autora do artigo Garantismo e facções criminosas – Correlação da teoria garantista com o surgimento e 
a existência do Primeiro Comando da Capital. O primeiro artigo, de claro viés marxista, visto que inspirado na obra 
do criminólogo italiano Baratta, desconstrói o mito da ressocialização e analisa de forma crítica a jurisprudência 
relacionada à progressão de regime de estrangeiros, concluindo que “não há justificativas para a negação ao 
estrangeiro de seu direito de progressão de regime de cumprimento de pena. Além de afrontar a legislação nacional e 
internacional, não se vislumbra objetivo além de constranger esses seres humanos a sofrimento excessivo”. O segundo 
artigo analisa como “a mitigação de direitos dos encarcerados por parte do Estado, mas também do Judiciário, dá 
ensejo (ou fomento) à necessidade de a comunidade carcerária se organizar em busca da efetivação de seus direitos 
essenciais”.
Na seção de Direitos Humanos, Era das Chacinas – breve discussão sobre a prática de chacinamento na era 
democrática, de Camila de Lima Vedovelho, descreve como a lógica desse tipo de execução atinge determinados 
sujeitos. Na mesma seção, o artigo Substituição da prisão preventiva por domiciliar para mulheres gestantes acima 
do sétimo mês ou em risco, em Habeas Corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, de Fernanda Peron Geraldini, 
analisa como o Tribunal de Justiça paulista tem aplicado o art. 138, IV, do CPP, que “permite às mulheres presas 
provisoriamente que cumpram essa custódia em casa após o sétimo mês ou em caso de risco”. Militarização policial e 
constitucionalidade: compatibilidade do modelo policial militar com um estado democrático de direito, de Gabriela 
Sutti Ferreira, encerra a seção Direitos Humanos. Neste artigo, a autora analisa brevemente a construção do espaço 
público brasileiro e faz uma reflexão “sobre sua implicação a formação normativa policial até 1988 e a compatibilidade 
desta com o modelo democrático de direito”.
Na seção Infância apresentamos os artigos A regra de tratamento de inocência antes do trânsito em julgado de 
sentença condenatória na seara da infância e juventude e a execução provisória da medida socioeducativa, de 
Giancarlo Silkunas Vay, e Remissão e prescrição: Um diálogo necessário entre o Estatuto da Criança e do Adolescente e 
a sistemática penal, de Bruno César da Silva e Naiara Volpato Prado. O primeiro traça “o estado da arte na Jurisprudência 
acerca da execução provisória das medidas socioeducativas no âmbito dos processos socioeducativos”, buscando 
“refutar os argumentos centrais para tal proceder, apontando sua incompatibilidade para com o sistema de garantias 
dos adolescentes, sobre quem recai a regra de tratamento de inocência até o advento de sentença condenatória 
transitada em julgado”. O segundo analisa “os institutos da remissão e da prescrição na sistemática do direito da 
criança e do adolescente e como se dá a aplicação de ambos em conjunto, em especial respondendo a questões 
práticas, como o marco inicial de contagem do lapso prescricional e o prazo em si nos casos das medidas aplicadas 
em sede de remissão, buscando solucionar a omissão legislativa com a realização de um diálogo com o sistema penal”.
Na sequência apresentamos o Parecer técnico ao PLS n.º 508/2013 e seu substitutivo, de Rogério Fernando Taffarello. 
Este Parecer trata do PLS que “tipifica como crime de vandalismo a promoção de atos coletivos de destruição, 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
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0201
INFÂNCIA
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DIREITOS HUMANOS
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ESCOLAS PENAIS
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APRESENTAÇÃO
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Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
dano ou incêndio em imóveis públicos ou particulares, equipamentos urbanos, instalações de meios de transporte de 
passageiros, veículos e monumentos”.
Na seção de Contos, Gustavo Samuel apresenta O mensageiro de Deus. De acordo com o autor: “A ideia era de que 
o conto denunciasse como uma hipérbole a realidade, mas ao que parece, os absurdos têm se compatibilizado com o 
cotidiano brasileiro”. Um instigante e provocativo conto, que não está nada distante do real.
Por fim, apresentamos a seção de crônicas da antropóloga Debora Diniz (UnB e Anis), na Cadeia de Papel. “É no 
conjunto das meninas mais pobres e escuras, da periferia e com pouca escola que se conformam as meninas da cadeia 
de papel. (...) O gênero conforma o feminino a uma ordem patriarcal de poder; porém, é no cruzamento com outras 
formas de precarização davida que surgem as meninas da cadeia de papel (Diniz, 2015b)”.
Boa leitura!
Coordenadores da gestão 2015/2016.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CONTO
CADEIA DE PAPEL
EXPEDIENTE
Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
ARTIGOS
04030201
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DIREITOS HUMANOS
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Maria Gorete Marques de Jesus entrevista Paulo Sérgio Pinheiro*1
1) Bom dia, Paulo Sérgio. Uma das propostas para a próxima edição da Revista Liberdades é trazer reflexões 
sobre o cenário político atual e o risco de prováveis retrocessos de direitos conquistados ao longo desses anos 
pós ditadura civil militar. Gostaríamos justamente de iniciar esta entrevista com esta questão: qual a sua avaliação 
sobre o cenário político brasileiro?
Resposta: Nos últimos 30 anos, basicamente, o cenário político me interessa em termos da sua ação nos direitos 
humanos. Se nós olharmos por essa perspectiva, é um momento muito regressivo. Mas para entender isso você tem de 
ter uma compreensão mais abrangente da situação política. A campanha política foi muito radicalizada; as campanhas 
ultrapassaram os limites do aceitável em termos de uma convivência política, não considerando o adversário como 
inimigo, mas os adversários se comportaram como inimigos. Depois houve uma vitória irrecusável. Evidente que as 
eleições consagraram a eleição da presidenta Dilma, mas como a diferença não foi enorme, as oposições começaram 
vários esforços para desqualificar a eleição, o que acho totalmente equivocado. As oposições tinham de concluir que 
perderam e esperar para se organizar para 2018.
2) Qual sua opinião sobre a configuração atual do Congresso Nacional?
Resposta: Esse Congresso Nacional, especialmente a Câmara dos Deputados, é a mais retrógrada desde a volta da 
democracia. Recuso-me a culpar a população, os eleitores. Na realidade, os eleitores foram conformados e influenciados 
por campanhas totalmente simplistas e assuntos de vários interesses específicos. Um diz mais respeito às políticas 
de direitos humanos, outros, não relacionados a direitos humanos, levam demandas que contrapõem direitos. Há 
bancadas que representam diversos interesses: a bancada da bala, financiada por empresas de armamentos; a 
bancada dos evangélicos, que apresenta uma agenda muito retrógrada em termos dos avanços que se fez na área 
de direitos humanos no Brasil; a bancada ruralista, ligada aos interesses agrários que, por exemplo, querem rever a 
definição de trabalho escravo. Os candidatos dessas bancadas tinham muitos recursos, e a campanha deles podia ser 
simplista, com pautas como a da redução da maioridade penal, porque nessas campanhas os candidatos querem só 
ser eleitos, não é o momento de diálogo com a população, de esclarecer, de tornar mais adequadas para os interesses 
da população as políticas públicas. Creio que a tarefa básica desse Congresso é desconstruir a constitucionalidade de 
1988, porque a mobilização que houve para a Constituinte de 1988 foi extraordinária. Todos os setores da população 
passaram pelas consultas na Constituinte, que resultou em uma Constituição bastante progressista, afirmativa no que 
diz respeito aos direitos e garantias individuais. A melhor Constituição de toda a história brasileira, mesmo que as 
várias Constituições, até as autoritárias do século XX se referiram aos direitos humanos, nenhuma, evidentemente, foi 
capaz de inscrever os direitos humanos no horizonte da sua implementação. E mal ou bem, entre 1988 e o presente, 
houve um avanço enorme nos direitos, a pensar, por exemplo, nas políticas afirmativas que jamais o Brasil tinha lidado 
com essa questão; o próprio reconhecimento do racismo estrutural pelo governo Fernando Henrique, como, por 
exemplo, no primeiro censo federal de funcionários públicos por etnia ou raça; até a criação do grupo de repressão ao 
trabalho escravo. Nenhum governo, antes dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, deram ênfase a perseguir 
o trabalho escravo no Brasil no século XX. Isso foi possível após a Constituição de 1988. Depois, a Lei Maria da Penha, 
em termos da violência contra a mulher. E também o avanço das pautas ligadas aos direitos, por exemplo, orientação 
* Entrevista transcrita por Eduardo Carvalho, graduando em Direito pela Universidade Anhanguera de São Bernardo do Campo.
SUMÁRIO
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Edição nº 20 setembro/dezembro de 2015
sexual que, apesar de que os homossexuais continuassem a ser assassinados em todo o Brasil, houve um progresso 
muito grande, também, na legislação. Sem falar em uma vertente importante dos direitos econômicos e sociais, que 
foram o Bolsa-Família e outros programas que tiraram milhões da pobreza. Então, a Câmara dos Deputados é uma 
Câmara regressista, porque o objetivo deles é, explicitamente, desmontar o que foi conseguido. 
3) O que pode explicar esses retrocessos, especialmente com relação à redução da maioridade penal? 
Resposta: Creio que no fundo de tudo isso está o racismo brasileiro, ainda que o racismo tenha se tornado crime. 
O racismo não se extinguiu no Brasil. E, na verdade, ainda que isso não seja colocado publicamente, quem irá 
preso caso a redução da maioridade penal passe serão os adolescentes não brancos, afrodescendentes, negros. 
Isso é evidenciado no sistema carcerário. Segundo o Mapa do Encarceramento, lançado pela Secretaria Nacional da 
Juventude, a população prisional é composta em sua grande maioria por jovens, pobres, negros e semianalfabetos. 
Contudo, essa população é a que mais morre vítima de homicídios. Em 2012, 77% dos jovens mortos eram negros ou 
pardos. Ou seja, ou eles são presos, ou eles são mortos.
O outro problema diz respeito ao sistema de segurança pública. A segurança pública não foi tocada pela Constituição 
de 1988, até por uma conciliação entre a Constituinte e a legislação da ditadura. E esse tema não será tocado por esse 
Congresso, porque, na verdade, quando você tem o lobby de 300.000 policiais militares, contando com os votos de 
suas famílias, você tem um colégio muito importante para desagradar. E, o que é paradoxal é que, na medida em que 
não se constrói um novo sistema de segurança pública, a população, aderindo a essas medidas grosseiras de lidar 
com a questão do crime, vai se colocando em uma posição fragilizada, porque, na realidade, as vítimas do crime ou 
as vítimas por parte das polícias, principalmente a polícia militar, são, justamente, aquele contingente com menos 
recursos. Grosso modo, o aparelho de segurança pública do Estado funciona a serviço das classes dominantes. 
Então, há uma instrumentalização, há uma manipulação dos interesses das classes dominantes no que diz respeito ao 
funcionamento do aparelho de segurança.
4) Na sua opinião, o que é preciso fazer para mudar esse quadro? O que dá para fazer?
Resposta: Bom, não há nenhuma solução mágica. Creio que as mobilizações da sociedade civil sejam um ponto 
relevante. As mobilizações de maio/junho de 2013 foram importantes, mas parece que não tinham pauta muito 
definida. A percepção estava certa, em termos da identificação dos problemas, mas sem uma pauta política definida. 
As últimas manifestações são de desconforto, de desagrado, mas muito colocadas na vertente da posição partidária e 
até na extrema direita com milhares de pessoas defendendo a volta ao Regime Militar. É evidente que as mobilizações 
são essenciais. A sociedade civil apresenta uma diversidade de representações, com diversas posições políticase 
ideológicas. Esses grupos de direita, as igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, e as várias organizações 
ligadas às empresas de segurança, todas estão trabalhando dentro da sociedade civil pela desconstrução da 
constitucionalidade democrática de 1988. Então, a tarefa dos grupos da sociedade civil que defendem direitos 
humanos é muito mais difícil hoje do que o foi na transição democrática ou nas primeiras décadas ou na primeira 
década depois da Constituinte de 1988, que nós achávamos que tínhamos ganhado. Doce ilusão, não ganhamos. 
Outra vertente importante é a mídia. Hoje alguns veículos de comunicação se colocam numa posição de desconstrução 
democrática, perdendo um pouco a oscilação que havia logo depois de 1988 de disputa pela consagração dos direitos. 
Hoje, canais de televisão aberta e os grandes jornais da mídia assumem causas retrógradas como, por exemplo, a 
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redução da maioridade penal. Então essa é uma nova frente de enfrentamento que precisa ser levada em conta, mas 
a situação é enormemente mais difícil. Acredito que talvez os jovens e mais pessoas se informem através das redes 
sociais e outros canais da internet, mídias alternativas, enfim, essas são possibilidades de acesso a outras fontes de 
notícias, não apenas aquelas das grandes mídias. Essa é uma nova frente de enfrentamento que precisa ser levada 
em conta.
Este retrocesso não é algo que apenas nós estamos enfrentando, isso está acontecendo no mundo. Você tem a 
Europa construindo muros. Agora, a última novidade é que o Reino Unido pretende fazer um muro em Calais para os 
migrantes não passarem para o Reino Unido através do trem, uma coisa totalmente delirante. Temos o retrocesso da 
questão palestina, acirradas após a agressão a Gaza. Hoje o Estado de Israel tem o governo mais de extrema-direita 
que já houve. Então, o mundo também está complicado, não é só o Brasil. Ao mesmo tempo, no mundo, você também 
tem avanços. A vitória do casamento gay nos Estados Unidos recentemente, quer dizer, são contradições que estão 
presentes hoje no mundo e no Brasil. Então, para não convidar quem lê esta entrevista para a depressão profunda, 
nós temos que viver dentro desta contradição. Porque há um Congresso, há uma Câmara de Deputados regressista, 
não quer dizer que nós vamos cruzar os braços e esperar o seu Cunha acabar o mandato dele. Até porque, haverá 
substitutos para ele, é uma ilusão achar que é só ele que comanda o espetáculo. Então, é uma conjuntura muito difícil, 
mas com virtualidades que não existiam há 20 anos.
5) O que o senhor acha do ativismo judicial, que muitas vezes precisa agir para suprir os vazios deixados pelo 
Executivo e Legislativo? 
Resposta: Se você olhar para outras democracias na América Latina e nos Estados Unidos, vai ver que alguns avanços, 
como esse do casamento gay nos Estados Unidos, só foi possível por causa da Suprema Corte. Alguns constitucionalistas 
como Joaquim Falcão e Oscar Vilhena mostram todo um elenco de decisões modernas progressistas tomadas pelo 
Supremo Tribunal Federal. Os temas que o Supremo Tribunal Federal assume, tem enfrentado de uma maneira 
moderna as novas pautas. E também hoje há juízes que são aliados da sociedade civil e também a Procuradoria da 
República e as diversas procuradorias estaduais. É uma situação muito mais favorável do que no período da Ditadura, 
ou mesmo de antes da Ditadura. Não me sinto desconfortável com esse ativismo jurídico, o que não pode acontecer 
é que esse ativismo jurídico venha substituir a mobilização e a organização político-partidária. O ativismo jurídico não 
dá sozinho para compensar a desconstrução da constitucionalidade de 1988.
6) Na sua opinião, há legitimação de parte da sociedade civil em relação a posicionamentos conservadores dos 
parlamentares?
Resposta: A sociedade, a população em geral tende a ser conservadora, e o espantoso seria se não fosse assim 
depois de você ter séculos de escravidão e de discriminação de boa parte da população. O surpreendente seria achar 
que seria diferente. A democracia não tem esse efeito imediato. Nós temos um legado racista e discriminatório no 
Brasil, ele persiste na cultura política da população, ainda que seja difícil generalizar. Mas, evidentemente que você 
não vai definir a legislação de um Estado através das pesquisas de opinião, mesmo que 99% da população seja a favor 
da pena de morte. A democracia é importante, e muitas das legislações brasileiras são muito avançadas. Nós temos 
uma lei contra o castigo corporal que a maioria dos países do mundo não tem. Mesmo que 99% da população seja a 
favor de tortura, não quer dizer que o Estado brasileiro agora vá legalizar a tortura. Na mesma esteira, essa questão 
da redução da maioridade penal. Mas a população conservadora, em que o racismo está presente, ela é submetida a 
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muitos riscos, como eu digo, o precário funcionamento do aparelho de Estado, ou da segurança pública, e o avanço 
da criminalidade. 
Quer dizer, o Estado, apesar de alguns progressos, é incapaz de enfrentar a criminalidade organizada. É um pouco 
desconcertante dizer isso em um momento em que o Brasil, pela primeira vez na sua história, está enfrentando a elite 
que manteve o poder político desde o retorno da Ditadura, que são as empreiteiras, que continuaram a fazer seus 
esquemas sem nunca terem sido arranhadas. Hoje você tem empreiteiro na cadeia. Eu sou contra a cadeia, não tenho 
nenhum entusiasmo com a cadeia, mas a minha posição é isonômica. Se você quer o cumprimento estrito do Processo 
Penal que, a meu ver, não está sendo arranhado, porque tudo está sendo corroborado pelo Ministro Teori Zavascki, do 
STF, então tudo deve valer para os 600.000 presos. Quer dizer, se os empreiteiros da Lava Jato podem beber água 
Envian ou Perrier, eu não vejo por que os 600.000 presos brasileiros têm de beber uma água contaminada. E, enquanto 
a prisão existir, a execução da pena deve ser igual para todos (não há coisa mais estúpida do que prisão especial 
para universitários). A maioria desses 600.000 presos brasileiros envolvidos em crimes não violentos como furto ou 
consumo de droga são brincadeira de criança perto dos fundos que esses senhores, alegadamente, se apropriaram. E, 
no entanto, eles estão tendo um tratamento VIP, como eu gostaria que todos os presos tivessem. A prisão preventiva, 
eu gostaria que fosse igual para todos os presos em prisão preventiva no Brasil. Não é nada e ninguém se importa. 
Todo mundo se lixa. Não se pergunta a opinião de nenhum jurista sobre a defesa deles e de que maneira são tratados: 
não há nenhum artigo na imprensa escrita a respeito. Certamente, para falar bem do IBCCRIM, há entidades como 
este Instituto que, certamente, se preocupam com esse descompasso, mas a maioria da intelectualidade brasileira, 
quero dizer, os que pensam o mundo e o Brasil estão pouco se importando. Agora, é um ai Jesus, Deus nos acuda, por 
que o Marcelo Odebrecht tem que limpar a sua cela, isso é uma graça. A faxina das penitenciárias brasileiras, como 
você sabe, está nas costas dos presos. Então, essa indignação diária com o que acontece com os presos brancos faz 
parte dessa tolerância com as elites, mesmo pelas classes médiasbaixas. Essas classes na questão da diminuição da 
maioridade penal, não se dão conta de que os pilotos de prova dessa mudança vão ser boa parte daquelas classes 
mais exploradas que estão apoiando entusiasmadamente a diminuição da idade penal, quer dizer aquelas classes 
cujos membros hoje estão dentro dos presídios. Os adolescentes que vão ser jogados nas masmorras com 8 ou 10 
anos de pena não serão, necessariamente, os meus filhos ou os filhos dos meus colegas ou dos meus amigos. Essa 
classe média alta, branca que, em geral, jamais vai ter problemas com a justiça, porque os filhos são educados; os 
escolarizados têm acesso preferencial ao mercado de trabalho, à universidade e não é o caso desses jovens entre 18 
e 24 anos, que constituem a maioria dos presos.
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Maíra Zapater entrevista Danilo Cymrot*1
P: Você é autor de um conhecido trabalho de pesquisa a respeito do que chamou de “criminalização do funk”. 
Como você vislumbrou essas conexões entre o funk e a criminologia?
R: Bom, eu sou músico. Isso acho que foi determinante na escolha do tema, porque eu sou uma pessoa que gosta 
muito de música. Toco, canto e acompanho. Gosto de funk, de ouvir, de dançar, mas a ideia surgiu, na verdade, 
quando eu estudei criminologia ainda na graduação e estudei, principalmente, a teoria [criminológica] da subcultura 
delinquente. Eu vi que havia toda uma corrente na criminologia, que, ainda na década de 1950, se ocupava em estudar 
as culturas juvenis; o impacto do cinema, dos meios de comunicação, enfim, na dinâmica criminal, e esse tipo de coisa 
me causou muito interesse. Depois, quando eu estudei [a teoria criminológica d]o Labeling Approach, também tive 
acesso à pesquisa do Howard Becker junto a músicos de jazz, eu vi que existia essa ponte entre música e criminologia 
e era justamente essa parte da criminologia que mais me interessava. Quando eu estava, enfim, pensando em um 
projeto de mestrado, no primeiro momento eu pensei até em ver algo que muita gente, inclusive, já pesquisou, que 
é esse tipo de articulação entre a criminologia e o samba. Mas depois eu pensei: bom, isso é uma coisa que já foi 
feita, assim, há tanto tempo e em vez de trabalhar com sambas das décadas de 1930 e 1940, por que eu não pego 
uma coisa que está acontecendo agora no momento, um tema do momento; até achei que teria uma função social, 
digamos assim, estudar algo que pudesse, inclusive, contribuir no sentido de fornecer argumentos em uma luta 
política mesmo, que acontece e tal. Não é à toa que já fui até apelidado de “intelectual orgânico”, não sei se de forma 
pejorativa ou não, mas eu sempre tomo como uma...
Pois é, e aí eu pensei, bom, por que o funk? Por que eu vi, bom, se já existia essa ligação entre o samba e a marginalidade, 
no funk isso era mais claro ainda. A primeira vez que eu ouvi proibidão, eu tinha quatorze, treze, quatorze anos. 
P: O proibidão carioca? 
R: O proibidão carioca. Aquilo não me chamou muita atenção [na época]. Ficou, assim, um pouco esquecido. Mas 
depois, quando eu estava pensando no tema eu me lembrei desse funks que são acusados de fazer apologia ao 
crime, às facções criminosas e tal, e comecei a ver que existia, de fato, uma associação muito grande entre o funk e a 
criminalidade, o tráfico, a violência. Em alguns episódios, isso ficava mais evidente ainda, como o próprio assassinato 
do Tim Lopes. Quando eu comecei a estudar, na verdade, e fiz o projeto, eu nem tinha conhecimento do funk de São 
Paulo. Na verdade, foi um pouco contemporâneo, porque eu comecei o meu mestrado em 2009 e o funk chega de 
São Paulo, vindo da Baixada Santista, e aporta na Cidade Tiradentes mais ou menos nessa época, um pouquinho 
antes. Mas o funk começa realmente a tomar a cidade de São Paulo, por Cidade Tiradentes, em 2009. Quer dizer, 
então não deu nem tempo... O fenômeno estava acontecendo no mesmo momento [da elaboração da dissertação de 
mestrado]... Eu só vim a descobrir o funk de São Paulo quando eu estava prestes a depositar já a dissertação.
Eu depositei [a dissertação] em 2011. E aí foi que eu comecei a descobrir a cena de São Paulo e o assassinato dos MC’s, 
como o Daleste. Os crimes, então, ocorreram depois, eu já tinha depositado [a dissertação]. Por isso, a desvantagem 
de escrever sobre o funk é essa. Não é um fenômeno que está acontecendo agora. Você tem que acompanhar sempre, 
né? Eu tenho sempre que atualizar. Agora, quer dizer, para se ter uma ideia, na minha pesquisa eu não abordo funk 
* Entrevista transcrita por Eduardo Carvalho, graduando em Direito pela Universidade Anhanguera de São Bernardo do Campo.
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ostentação.
P: Que está super rolando agora, não é?
R: Não. O funk ostentação nem está rolando mais. Já é decadente agora. O MC Guimê, por exemplo, já está muito 
pop. O que faz sucesso agora é o funk ousadia. É uma vertente do funk putaria, mas esse tem outro nome, que é o 
funk cantado por esses MC’s adolescentes. Mas, enfim, a minha pesquisa, basicamente, foi centrada no funk do Rio de 
Janeiro da década de 1990. Eu não fiz pesquisa de campo no mestrado, até porque eu não teria condições de fazer. 
Demandava um preparo, um conhecimento. Entre fazer malfeito, ter essa pretensão, e não fazer, eu preferi recolher 
o depoimento de outros pesquisadores que fizeram essa incursão, inclusive etnográfica em bailes funk do Rio de 
Janeiro na década de 1990.
A primeira grande obra na referência bibliográfica e talvez a mais importante até hoje é o mestrado do Hermano 
Vianna, que estudou os bailes funk no Rio de Janeiro ainda na década de 1980. 
P: Ainda da época do charme do funk? 
R: Isso. Ainda antes da nacionalização do funk carioca, em 1987, se não me engano, 1987, 1988. Eu digo isso, porque 
em 1989 ocorre a nacionalização do funk, quando é gravado o primeiro LP de funk carioca com letras em português.
P: Até então o que chegava era o funk norte-americano, a chamada black music?
R: Isso. Era o funk norte-americano, que ou era instrumental ou era com letras em inglês que as pessoas acabavam, 
pela sonoridade, criando refrões em português, mas pela sonoridade. E o too much virava tomate, esse tipo de coisa.
P: O que você pegou de legislação e jurisprudência, referente a que situações?
R: No caso do Rio de Janeiro, legislação estadual principalmente. Municipal também, mas principalmente estadual, 
porque o funk foi objeto de uma CPI estadual no Rio de Janeiro. De uma CPI municipal também. E no Rio de Janeiro 
houve uma série de leis que tentaram disciplinar o funk. A última delas é de 2009, de autoria do Marcelo Freixo e do 
Wagner Montes, que reconhecem o funk como manifestação cultural. Se bem que o que eu defendo é que essa lei, 
na prática, não é obedecida, não é seguida, é desrespeitada, porque existe uma instrução normativa da Secretaria de 
Segurança Pública que, na prática, inviabiliza, hoje, os bailes funk no Rio de Janeiro, porque faz uma coisa que uma lei 
anterior estadual já fazia: impõe uma série de requisitos burocráticos para que o baile possa ser realizado. Então você 
tem que ter autorização do batalhão de polícia militar da área, com tantos dias de antecedência... Quer dizer, você 
dá uma margem de arbitrariedade muito grande, inclusive,que enseja práticas de corrupção. Se você paga propina, 
libera; se você não paga, não libera. Você precisa ter câmera de vigilância, detector de metal, ambulância, isolamento 
acústico, quer dizer... É claro que o funk se profissionalizou, as equipes de som bastante estão consolidadas, mas 
muitos bailes são realizados de forma tremendamente precária.
P: E que faz um pouco parte da cultura do funk, eu acho. De fazer na rua, de fazer com o carro aberto, então, me 
corrija se a minha percepção do seu trabalho estiver equivocada, mas quando você fala de criminalização do funk, 
é uma criminalização às vezes por essa via, não criminalização propriamente dita de legislação, mas tem uma 
normativa administrativa que, na prática, impede que ele seja praticado.
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R: Exatamente, até porque eu trabalho muito com o conceito de infrapenalidade de Foucault, quer dizer, é você 
criminalizar por meio do Direito Administrativo. Até porque quem mais se ocupa em regulamentar o funk é a Câmara 
Municipal e as Assembleias Legislativas no Rio e em São Paulo. E até por uma questão de competência constitucional, 
eles não podem legislar sobre Direito Penal, então se faz uso de tipos penais bastante abertos.
P: Como contravenção penal de perturbação da paz pública, essas coisas? 
R: Isso. Exatamente! E do Direito Administrativo. Por que eu sustento que existe uma criminalização do funk? Bom, 
por um lado, existe uma criminalização no sentido estrito mesmo, porque, apesar de o funk não ser criminalizado, 
alguns MC’s acabam sendo enquadrados por tipos legais como de apologia ao crime, caso do Proibidão. Mas no caso 
dos bailes: na maioria das vezes é a legislação administrativa que acaba proibindo a sua realização e aí vem a força 
policial, muitas vezes de forma violenta ou fazendo uso de armamento não letal, bombas de gás lacrimogênio para 
proibir, fechar. 
P: Eu acho que valeria a pena explicar, Danilo, que a gente está falando aqui bastante de Proibidão e talvez não 
necessariamente o leitor esteja totalmente familiarizado com o termo. O que é o “Funk Proibidão”?
R: Os produtores, os cantores de funk dizem que quem criou essa terminologia, mesmo, foi a imprensa.
P: Eles não se autoidentificam com o termo?
R: Hoje em dia sim, mas muitos não gostam. Eles preferem chamar de “Funk Neurótico” ou “Funk Consciente”. 
O problema é o seguinte: existe um limite tênue entre o Funk Proibidão e outros gêneros, como o próprio Funk 
Consciente, o que faz com que haja essa confusão. O Funk Consciente, digamos assim, é aquele funk que faz crítica 
social, que retrata a realidade, denuncia o racismo, a violência policial, e o funk apelidado de Funk Proibidão, o 
Funk Neurótico, é aquele funk de facção, acusado de fazer apologia ao crime, principalmente apologia às facções 
criminosas. Então é o funk em que o cantor canta que pertence a uma facção e, no funk, ele esculacha, digamos 
assim, os inimigos, sejam membros das facções rivais. Por exemplo: tem o funk do Comando Vermelho, que fala mal 
do Terceiro Comando e do Terceiro Comando Puro; expõe, na letra, o poderio bélico, e não só bélico, da facção. Quer 
dizer, enaltece, dizendo que eles têm armas e têm poder e que eles têm AK 47 [tipo de fuzil cujo porte a lei brasileira 
restringe às Forças Armadas]. A polícia também tem AK 47. Quer dizer, esses enaltecem. Tem uns funks proibidões 
que narram práticas criminosas mesmo, sequestro, roubo.
P: Em geral esses crimes narrados nas letras são relacionados ao patrimônio e tráfico de entorpecentes?
R: Exatamente. E até fiz um artigo em que eu brincava com isso, foi publicado em um livro organizado por Carlos 
Bruce Batista. No Rio de Janeiro, foi editado pelo Instituto Carioca de Criminologia. O artigo se chamava “Proibidão 
Classe A”, em que eu brincava justamente com isso. Eu escrevo músicas também, e escrevi o que seria o Proibidão, 
que, ao invés de falar sobre roubo, sequestro, fala sobre crime de colarinho branco. Mas “Proibidão” também é um 
guarda-chuva que engloba outros estilos. Existe um Proibidão que não fala sobre crime nem tráfico, mas fala sobre 
putaria, então tem palavrão e esse tipo de coisa. Geralmente esses funks têm duas versões: a versão proibida e a 
versão “família”, que é cantada nos grandes meios de comunicação.
Mas esse funk proibidão que eu analiso, principalmente, não é tanto esse. O que eu analiso e o que eu estudo é, 
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principalmente, o funk que fala e faz apologia ao crime. E aí, o que os MC’s dizem? “Olha, veja, eu não estou fazendo 
apologia ao crime. Na verdade, existe guerra de facção na favela e eu estou, simplesmente, retratando essa realidade, 
então não é porque eu incorporo um eu-lírico traficante que eu sou um traficante ou que eu acho isso legal, que eu 
apoio”. É uma forma até de denúncia, por isso que muitos se recusam a usar a terminologia funk proibidão. Eles falam: 
“O que nós fazemos é funk consciente, então, quando a gente critica a polícia, a gente fala mal da polícia, a gente 
xinga a polícia, é porque a polícia exerce no imaginário social da favela aquilo que todos nós conhecemos”. Claro, há 
funks que falam abertamente em matar policial, mas outros, não, simplesmente criticam a polícia – e aí a polícia diz 
que eles estão incitando a desordem ao criticar a polícia.
P: Aí depende de quem está narrando para que se possa identificar se aquilo é um retrato crítico da realidade, ou 
se a pessoa está, de fato, pregando, realmente, a morte de um policial. Quem tem o poder de deter a narrativa é 
que vai predominar.
R: Claro. E o que eles falam também é que, na verdade, o problema não é tanto a mensagem, o conteúdo das letras, 
mas a pessoa que canta. Se for um cantor de MPB que canta uma música com um eu-lírico traficante, claro, caso de 
um Chico Buarque ou de um Caetano Veloso criticando a polícia, eles não vão ser presos.
P: Se o Caetano e o Gil cantarem Haiti...
R: É, Haiti, inclusive tem um episódio interessante. Essa música foi citada quando, em 1993, eu vi um show no 
Anhangabaú dos Racionais [grupo paulistano de RAP] e de um outro grupo de rap. Eles foram presos depois do 
show, porque eles cantavam uma música chamada Homens da Lei, que criticava a polícia e a polícia, injustamente, 
levou os músicos para a delegacia sob o argumento de que estavam incitando a revolta do público contra a polícia, 
que estavam fazendo apologia ao crime. E a declaração do cantor foi justamente essa: “mas o Caetano e o Gil, eles 
podem cantar Haiti. Por que nós não podemos?”
Isso depende muito de quão institucionalizado o músico está no próprio cenário da música brasileira. Os Titãs, 
por exemplo, no final da década de 1980, cantaram [a música] Polícia. Hoje em dia eles podem cantar, estão 
superinstitucionalizados, são considerados, inclusive, já abraçados pela MPB. Não são considerados marginais, nada 
disso, já são senhores de meia-idade, mas a gente não pode esquecer que eles compuseram Polícia justamente porque 
dois dos integrantes, o Arnaldo Antunes e não sei se o Tony Bellotto, foram presos, assim como o próprio Gilberto 
Gil foi preso. Hoje em dia é difícil alguém imaginar isso acontecendo. E acontece. A Rita Lee foi detida e processada 
pela polícia, mas é uma coisaque causa escândalo, as pessoas saem em defesa da Rita Lee, ainda que um ou outro 
saia em defesa da polícia. 
P: Tem um ponto ao qual eu vou querer voltar: você começou dizendo que tinha interesse de falar do samba do 
começo do século XX. Você vê uma relação paralela ao funk, nessa inter-relação de arte, representação de situações 
criminógenas e classe social? O samba tinha esse caráter meio transgressor, na minha leitura muito semelhante 
com o que o funk tem hoje. Isso foi apropriado por uma intelectualidade de classe média e foi alçado a um outro 
patamar e hoje me parece muito improvável pensar em um sambista falando de crime, ou pensar em samba como 
uma música periférica. Eu não tenho essa visão mais do samba como uma música das populações periféricas, e o 
funk, me parece, ocupa um pouco esse lugar agora. Você vê uma apropriação do funk por elites quando, às vezes, 
se vê bairros nobres de São Paulo abrigando cantores de funk? É possível identificar um processo semelhante ao 
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que ocorreu com o samba? 
R: Em termos. No caso do samba, é uma questão de identidade, institucionalização e mediação social. O que eu 
quero dizer com isso? Em 1890, quando foi promulgado o Código Criminal da República, a Capoeira foi criminalizada. 
Por quê? A escravatura havia sido abolida há dois anos e havia um medo muito grande – quem fala bastante desse 
medo da população negra na cidade do Rio de Janeiro é a Vera Malagutti Batista. E havia um medo de que os negros 
pudessem causar insurreições, cobrando reformas mais profundas, uma democratização real da sociedade. Isso vinha 
desde 1835, quando houve a Revolta dos Malês. O haitianismo também, sempre pairando como um fantasma aqui, 
uma ameaça para as elites brancas do Brasil. Fizeram com que qualquer ajuntamento de negros num espaço público 
fosse regulado e visto com desconfiança e, portanto, interditado. Os capoeiras eram vistos nessa lógica ameaçadora 
e, portanto, foram criminalizados. O samba também, no começo do século XX era identificado ainda com a população 
negra. Há várias piadas racistas sobre isso, por exemplo: “negro toca cavaquinho, porque é um samba que dá para 
tocar algemado”.
O que acontece, como você bem lembrou e o Hermano Vianna estudou na tese de doutorado dele [intitulada] 
“O Mistério do Samba”, é que, na década de 1930, há uma aproximação entre o sambista de morro e intelectuais, 
que estavam preocupados em pensar uma identidade nacional e isso, inclusive, foi incorporado visando um projeto 
político de integração nacional varguista, nacionalista, que adotou o samba. E poderia ter sido outro, poderia ter sido 
o baião, poderia ter sido a chula no Rio Grande do Sul. No entanto, adotaram o samba como símbolo nacional. E a 
partir desse momento que o samba é alçado, de marginal ele passa a ser motivo de identidade nacional, de orgulho 
nacional, símbolo de identidade nacional, enfim, ele é institucionalizado. É claro que sempre existiu, ainda, um quê de 
marginalidade aí. O próprio Bezerra da Silva compunha o “sambandido”. Ele fazia essa crônica da malandragem, da 
bandidagem, teve problema com a polícia também. Não é à toa ele ser tão idolatrado pela nova geração do rap. O 
Marcelo D2 gravou um CD só cantando Bezerra da Silva. Mas de uma forma geral, o samba, apesar de ainda estar muito 
identificado com a negritude, passou a ser abraçado como uma cultura brasileira, um patrimônio cultural nacional. E 
o funk, realmente, principalmente a partir da década de 1970, quando ele é confinado nos subúrbios e nas favelas do 
Rio de Janeiro, passa a ser associado com a população negra, pobre, suburbana e favelada do Rio de Janeiro. Não é à 
toa, também, que um dos grandes sucessos do funk, no comecinho dos anos 2000, fala exatamente que era “um som 
de preto e de favelado”. Havia sempre essa associação. Então, o problema – e é o que eu falo – não é com a batida em 
si. Se bem que há estudos em que falam que a batida ela pode acabar, digamos assim, incentivando comportamentos 
mais ou menos violentos. Os chamados bailes de corredor, em que as pessoas brigavam. Mas além do o Pancadão, 
tem o punk, não é? Que é uma batida violenta também. O que eu quero dizer é que dificilmente alguém vai brigar 
ao som de Beethoven, a não ser no [filme de Stanley Kubrick] “Laranja Mecânica” (risos). Mas, enfim, o que eu quero 
dizer é que o problema não é a música. Então se tiver uma festa que toque funk, em uma discoteca fechada, em um 
bairro nobre do Rio de Janeiro ou de São Paulo, frequentada por jovens de classe média alta, brancos, a polícia não vai 
entrar, não vai proibir. Não tem problema. O problema é com uma música que é associada à juventude negra e pobre 
e esse é o problema, então eu digo que o funk pode seguir o mesmo caminho do samba. Hoje em dia o que a gente 
vê é que o funk anda em uma corda bamba, porque, por um lado, ele foi incorporado pela indústria cultural, chegou 
na trilha sonora da novela, artistas de funk gravaram em grandes gravadoras multinacionais, estão nos programas 
de TV, enfim, mas ele preserva um quê de originalidade. Porque quando o funk atinge um público maior, ele também 
se modifica, ele fica mais pop, então, tem muita gente que não considera a Anita, por exemplo, funkeira. A Anita é 
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vista como se fosse traidora do movimento, muito mais pop do que funkeira. Aí vem a Valesca [Popozuda, cantora de 
funk] e fala: “eu, sim, sou funkeira”. Ou melhor, a Tati Quebra-Barraco, falando: “não! Esse negócio de diva pop não é 
comigo, eu sou funkeira mesmo e tal”. 
Às vezes, a gente vê um mesmo artista transitar por ambientes diferentes e, ao transitar por ambientes diferentes, 
ele assume uma postura outra, dependendo do lugar onde ele está. Vamos citar o exemplo do Mr. Catra: quando o 
Mr. Catra está na TV, ele canta um tipo de repertório, ele faz um tipo de declaração. Quando ele vai fazer um show na 
favela, ele canta outro tipo de repertório, ele faz outro tipo de declaração, até porque ele sabe que aquelas pessoas da 
favela têm um repertório simbólico, cultural compartilhado, que outras pessoas em uma festa universitária não têm. 
Então não adianta, se você começar a falar de gírias do crime em uma festa universitária aqui de São Paulo, é capaz 
de ninguém entender, porque os funkeiros, eles jogam muito com a ironia, com a ambiguidade, o discurso é bastante 
ambíguo, irônico. E mantém essa espécie de corda bamba: tem que se popularizar, mas sem perder as raízes.
P: O rap é um gênero musical mais a São Paulo do que ao Rio de Janeiro. E também costuma ser muito associado, 
mais do que a populações periféricas, à população carcerária. O funk também tem essa associação com a população 
carcerária? Há aproximações, distanciamentos, os dois estilos? 
R: Sim. Durante muito tempo, o funk e o rap tiveram um conflito. Muitos falavam que o Rio de Janeiro era a terra do funk 
e São Paulo era a terra do rap, o que não é verdade, porque no Rio de Janeiro sempre teve rap e em São Paulo cada 
vez mais tem funk. A grande disputa era a seguinte: eu costumo dizer que muitas vezes se afirma uma identidade pela 
negação do outro, e quanto mais próximo você for do outro, maior é a necessidade de você demarcar as fronteiras. 
Mas, também,estão cada vez mais próximos, há misturas. O comprometimento é com a diversão e com o deboche. 
Essa é uma das coisas, inclusive, que fez com que o funk e o rap entrassem em conflito, porque o funk, no começo, 
ele surge muito influenciado pelo rap: no começo, os funks eram chamados de raps, como “O rap da felicidade”, “O 
rap do Salgueiro”. Compartilhavam, inclusive, a mesma terminologia, e os cantores de funk, chamados de MC’s, que 
nem os rappers. E principalmente os rappers, que tinham essa preocupação um pouco purista de marcar território, 
se incomodavam muito, porque eles diziam que não queriam ser confundidos com funkeiros, porque, enquanto o 
modelo ideal deles, purista, os rappers seriam pessoas comprometidas com a conscientização social, politizados; o 
funkeiro seria uma pessoa alienada, debochada, enfim.
Inclusive o rap sempre foi muito mais respeitado pela intelectualidade, pela MPB, como uma pessoa consciente que 
faz letras elaboradas, com rimas ricas, do que o funkeiro, que é um cara semianalfabeto que faz letras pobres, enfim, 
o que não é verdade, como o exemplo do funk consciente. Com a chegada do funk na periferia de São Paulo, o rap 
foi perdendo cada vez mais espaço, isso acabou causando um desconforto, também, muito grande. No primeiro 
momento, portanto, não só por questões identitárias, mas até por questões financeiras, de sobrevivência, os rappers 
se opunham ferozmente à entrada do funk aqui em São Paulo, porque eles estavam perdendo espaço, inclusive, 
trabalho. Mas, de uns tempos para cá, o que se tem visto é um diálogo cada vez maior entre o funk e o rap de São 
Paulo, porque eles compartilham o mesmo espaço social, que é a periferia de São Paulo. Muitas vezes, são amigos e 
sofrem dos mesmos problemas, as mesmas questões, mas o funk ainda não foi institucionalizado como o rap. Ele é 
ainda mais respeitado, visto como um gênero politizado consciente conseguiu, inclusive, criar pontes com a militância 
política e partidária. O PT e o PCdoB, mas principalmente o PT, sempre valorizam muito o rap como cultura popular 
– como se o funk não fosse – e criou pontes com os rappers a ponto de rappers fazerem campanha para o PT. Agora 
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que o funk está começando a se organizar e se aproximar de partidos de esquerda, principalmente, então aqui em São 
Paulo, por exemplo, tem o vereador Reis, do PT, que é o maior defensor do funk na Câmara Municipal; na Assembleia 
Legislativa é a Leci Brandão. E é curioso porque a Leci Brandão é do samba, mas muito antenada com o pessoal do 
rap e do funk. É o que eu digo, é a identidade negra que acaba congregando esses três estilos, que convivem no 
mesmo espaço social, o samba, o rap e o funk.
P: Danilo, para a gente fechar, queria só uma reflexão sua sobre as realidades culturais de São Paulo e do Rio de 
Janeiro, como você vê isso?
R: Essa divisão eu não conto muito, porque geralmente essas divisões são simplificadoras. No caso do Rio de Janeiro, 
de fato, qual o cenário hoje em dia, não é? Diz o MC Leonardo, que é da APAFUNK, Associação dos Profissionais 
Amigos do Funk, que, na prática, o funk está proibido no Rio de Janeiro, que acabaram os bailes, eles foram fechados, 
muitos por causa das UPPs, da política de UPP: onde tem UPP não tem baile. Até se tentou fazer o baile pacificado, tem 
algumas experiências, uma ou outra, mas por causa dessa instrução normativa da Secretaria de Segurança Pública, 
na prática o funk do Rio de Janeiro está proibido. O funk do Rio de Janeiro já teve vários momentos: no começo da 
década de 1990, em que nas letras o tom hegemônico era da apologia à paz, porque, justamente, como o funkeiro foi 
muito associado à violência, à briga, ao quebra-quebra, arrastão, os funkeiros começaram a dar essa resposta.
P: Foi a época do refrão “eu só quero é ser feliz e andar tranquilamente na favela onde eu nasci”?
R: Isso. Rocinha pede a paz. Se você for pegar 1994, 1995, praticamente só se vê esse tipo de funk, pedindo paz, paz 
nos bailes, contra a violência. Depois houve um momento em que os bailes ficaram muitos violentos: era a época dos 
bailes de corredor em que a tônica do funk no Rio de Janeiro era a briga. Essa época passou e foi substituída por uma 
nova fase, que é a do funk sensual, o funk putaria. Nesse momento surgem as MC’s mulheres. Elas ganham destaque 
nessa fase do funk, como a Tati Quebra-Barraco, a Deize Tigrona. E, por fim, também teve a fase do proibidão, que foi 
muito forte quando os bailes de clube, onde ocorriam essas brigas, foram proibidos. Os funks foram confinados mais 
uma vez nas favelas, na ilegalidade, na informalidade. Também coincidiu com uma época no Rio de Janeiro em que 
as disputas pelo tráfico entre as facções criminosas do Rio estavam bastante intensas e toda essa história foi narrada 
em funks proibidões. Tem um trabalho muito interessante do Thiago Vieira, do Rio de Janeiro, que ele fala justamente 
isso, como você consegue entender muito da história não oficial do Rio de Janeiro, que não está nos livros didáticos, 
mas se pode conhecer por meio das letras dos proibidões. O funk vive fases bastante diferentes, dependendo do 
momento, inclusive, político em que vive a cidade. No caso de São Paulo, de fato havia uma diferença muito grande 
com o Rio de Janeiro, porque a ostentação é um fenômeno típico de São Paulo.
Quando o funk surge em São Paulo, ele não era simplesmente uma imitação do Rio de Janeiro. Em um primeiro 
momento até era, mas ele ganha personalidade, ele ganha identidade própria, o funk paulista, com a ostentação. 
Isso também não é à toa, porque o que aconteceu no fim dos anos 2000? Uma época de euforia, de otimismo, 
euforia econômica, o fim do segundo Governo Lula. Muito se falou em ascensão da nova classe média, aumento do 
consumo, do crédito. Não que essas pessoas consumissem tudo aquilo que elas cantavam, elas não tinham todas 
carros importados, enfim, mas era uma realidade que não estava tão distante assim, você conseguia ver um outro 
carro luxuoso nas favelas. 
O funk ostentação incomodava as pessoas. Não é à toa que os rolezinhos também foram criminalizados, não era tão 
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reprimido e tão criminalizado quanto o proibidão, que em São Paulo fala sobre o PCC. Mas tinha um momento em 
que as pessoas não queriam, no momento de lazer delas, falar sobre PCC, sobre crime, sobre assuntos pesados; elas 
queriam celebrar a vida, alegria. Então elas preferiam falar sobre o consumo a falar sobre a realidade do cárcere. 
Respondendo, inclusive, a sua pergunta anterior, que eu tinha deixado escapar, o funk está nas prisões, fortíssimo. 
Existem concursos de funk lá, falando a realidade do cárcere, e eu não sei avaliar a correlação de forças, quem está 
mais forte, hoje, dentro da cadeia, se é o funk ou se é o rap. Mas se a correlação de forças na cadeia seguir a mesma 
lógica do que ocorre, hoje, na periferia – que é de onde vem a maioria dos presidiários, em geral pessoas negras, 
pobres, com baixa escolaridade, muitos vindos de bairros periféricos –, o funk estaria mais forte. É uma percepção, 
não posso afirmar com segurança. Mas o fato é que a ostentação ganha força em detrimento do funk proibidão, que 
fala sobre o PCC. Esses MC’s que foram assassinadosna baixada santista, o próprio MC Daleste, eram, justamente, 
MC’s que surgiram cantando proibidão, falando de PCC, e depois mudaram para a ostentação. Mas eu também não 
gosto dessa divisão rígida de estilos, eu sempre digo que ostentação e proibidão se conversam, não são gêneros 
estanques. Eles jogam muito com ambiguidade, com a sugestão, em algum momento ele fala que ele é do crime, mas 
ele não deixa a par de onde vem o dinheiro que ele está ostentando.
Agora, o que acontece em São Paulo hoje é que o ostentação, que nunca foi muito forte no Rio de Janeiro, também 
perdeu força, também por razões... Existe um pesquisador chamado Renato Barreiros, que ele estuda bastante o funk 
de São Paulo, e na análise dele, com a qual concordo, ele diz: não só houve uma saturação, porque é natural, o gênero 
faz sucesso e daí todo mundo começa a copiar, todo mundo faz naquele estilo. Chega uma hora que satura. Não só 
houve uma saturação do gênero ostentação, mas a própria realidade econômica mudou de 2008 para cá. Não faz 
mais sentido ficar falando de gastos milionários com carros de luxo. E aí que, em São Paulo, ganha força essa nova 
vertente do funk, que é o funk ousadia.
É um funk que fala sobre putaria ou é um funk debochado. O foco sai e volta para a dança. A própria repressão fez 
com que alguns desses funkeiros abraçassem, voltassem os seus olhos para o pop, para outros estilos. Assim como 
no Rio, aqui em São Paulo a gente está vivendo uma situação parecida, que é a repressão dos bailes funk de rua, os 
chamados “fluxos”, justamente sob o argumento de que nesses espaços ocorre o consumo de drogas, inclusive por 
menores, não há isolamento acústico, o trânsito fica prejudicado, as pessoas não entram em suas casas, o som é alto. 
Tudo isso aconteceu no Rio de Janeiro. Existia uma política repressiva e o que eu estou estudando no momento é 
exatamente isso, como que chegou na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal, como que o Poder Público tem 
tentado compatibilizar o direito ao lazer e à cultura, por um lado, e o direito do sossego da vizinhança, esse tipo de 
coisa. No meu doutorado eu estudei os deputados policiais militares, que mais propõem projetos de repressão ao 
funk. Tem, por exemplo, um projeto do Conte Lopes no sentido de permitir a realização de bailes funk apenas no 
Anhembi. Mas isso depois de ele já ter feito um projeto junto com o coronel Camilo no sentido de proibir geral, a não 
ser que sejam espaços fechados, com isolamento acústico. Foi vetado pelo prefeito esse projeto, feito em parceria do 
Conte Lopes com o coronel Camilo no âmbito municipal. Depois o coronel Camilo se elegeu agora para a Assembleia 
Legislativa, e junto com o coronel Telhada propuseram agora um novo projeto, na Assembleia Legislativa, no sentido 
de restringir o máximo possível a realização dos bailes ou tentar regulamentar isso. É esse que está em trâmite agora 
[maio de 2015]. É um tema que eu tenho que estar o tempo todo de olho e a cada semana acontece... Em São Paulo, 
na cidade de São Paulo, pelo menos a gente tem uma prefeitura, uma secretaria municipal de cultura. Eu não sei 
agora com o Nabil Bonduki, mas com o Juca Ferreira havia um espaço de diálogo, eu sentia que havia boa vontade 
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no sentido de reconhecer o funk como manifestação cultural, isso claramente. No âmbito estadual isso não está muito 
claro, mas isso, muito em virtude do próprio perfil do Juca Ferreira, que foi ministro e é um ministro, assim como 
o Gilberto Gil, que valoriza outras manifestações culturais, não apenas aquelas associadas à cultura erudita nem à 
cultura popular folclórica, mas à cultura de massa mesmo. 
P: Alguma consideração final que você gostaria de fazer, algo a acrescentar, algo que você gostaria de ter falado 
e acabou não sendo contemplado nas questões?
R: Não. Acho que já deu para traçar um perfil.
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Por uma outra criminologia do terceiro mundo: perspectivas da Criminologia Crítica no Sul1
For another third world criminology: perspectives from the South’s Critical Criminology
Rodrigo Codino
Professor e Coordenador do Programa de investigação em Criminologia da Universidade Nacional de San Martín, 
Buenos Aires, Argentina.
Traduzido por Salo de Carvalho 
(Faculdade Nacional de Direito, UFRJ).
Resumo: O artigo refaz o percurso da criminologia crítica na América Latina, enfatizando a construção de um 
saber teórico autóctone direcionado à denúncia das violências estrutural e institucional. Na sequência, relaciona 
a criminologia crítica latino-americana com a criminologia africana, problematizando, a partir do relato da tensão 
entre direito europeu (colonizador) e direito comunitário, seus conceitos, objetos, métodos e, sobretudo, os desafios 
comuns para resistir às distintas formas de violência e de dominação.
Palavras-chave: Criminologia crítica; criminologia africana; criminologia latino-americana.
Abstract: This article retraces the critical criminology route in Latin America, emphasizing the construction of an 
autochthonous theoretical knowledge directed to the complaint of structural and institutional violence. In addition, 
the paper relates the Latin American critical criminology with the African criminology, debating – from the report of 
the tension between European law (colonizer) and Community law – its concepts, objects, methods and, above all, 
common challenges to resist to different forms of violence and domination.
Keywords: Critical criminology; african criminology; latin american criminology.
Sumário: 1. A primeira criminologia autóctone em nosso continente. O marco teórico. O compromisso político – 2. 
Uma outra criminologia terceiro-mundista: aproximações. A etnocriminologia na África negra. As normas sociais 
tradicionais – 3. A lei penal do “outro” – 4. A criminologia terceiro-mundista em jardins arrasados.
1. A primeira criminologia autóctone em nosso continente
Há mais de 40 anos era realizado evento de enorme transcendência para a criminologia da América Latina. A reunião 
de criminólogos europeus e latino-americanos na Venezuela, nos anos 70, com o objetivo de analisar a violência,2 
marcou o início de uma nova etapa no desenvolvimento do pensamento criminológico regional.3 As investigações 
1 Apresentação realizada no III Congresso Latino-americano de Direito Penal e Criminologia, ALPEC, 18-20 de novembro de 2014, Tegucigalpa, 
Honduras.
2 Algumas comunicações da reunião no XIII Congresso Internacional de Criminologia foram recompiladas por Lola Anyiar de Castro e publicadas 
sob o título “Los rostros de la violencia”, Centro de Investigações Criminológicas, Maracaibo: Universidade de Zulia, 1974.
3 Referimo-nos à rejeição sem precedentes e ao abandono do pensamento criminológico positivista que acompanharam, durante todo o 
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que se desdobraram logo após este encontro e que se realizaram durantedécadas delinearam uma criminologia 
local, ou seja, de corte latino-americano, distinta daquela formulada nos países centrais: uma criminologia do terceiro 
mundo ou terceiro-mundista.
Muito se discutiu sobre a possibilidade de realmente falar de uma criminologia própria ou apenas de uma proposta 
diferente na forma de fazer criminologia em nosso continente, notadamente depois do reinado do positivismo 
criminológico. Quem colocou em dúvida as características próprias deste movimento, entendeu-o como manifestação 
de uma atitude voluntarista, isto é, de uma proposição de como os autores gostariam que fosse a criminologia;4 
mas, em realidade, não teria sido nada além de uma transnacionalização do saber criminológico de acordo com os 
modelos impostos pelos centros de poder localizados nos países centrais. Tratava-se, portanto, para esta posição, de 
uma repetição exagerada do discurso criminológico europeu.5 Outros sustentaram que nesta época a criminologia na 
América Latina estava estreitamente ligada à discussão sobre o compromisso político-intelectual (o “dever ser” do 
criminólogo crítico) e que isto havia obstruído a capacidade do “ser” da criminologia crítica. A criminologia crítica 
na América Latina aparecia como uma “grande narrativa” ou uma “importação cultural”, sem um desenvolvimento 
que permitisse considerá-la autônoma da europeia. Inclusive houve aqueles que a assinalaram como “teoricamente 
subdesenvolvida” ou de “escasso nível científico”.6
Esta primeira criminologia autóctone teve dois momentos: um teórico e outro sangrento.
O marco teórico. Nossos criminólogos se ocuparam dos elementos centrais da vida política latino-americana, que 
eram temas estranhos aos europeus. Entre eles, a ingerência do primeiro mundo nas guerras civis centro-americanas 
e a sua manipulação ideológica nos meios de comunicação, a doutrina de segurança nacional, a existência de modelos 
econômicos diversos no Primeiro e no Terceiro Mundos etc.7 Além disso, realizaram investigações sobre a violência 
na América Latina, sobre a criminalidade de colarinho branco e sobre a corrupção administrativa, cujo conteúdo foi 
examinado em seminários em distintos países.8
Esta criminologia local levou em consideração tanto as peculiaridades étnicas, linguísticas e culturais dos países da 
região, como a injusta desigualdade no campo econômico. Para alcançar um enfoque mais adequado da realidade 
social latino-americana e os fins de controle social, afirmava-se que deveriam ser colocados em evidência a dominação 
sofrida pelo nosso continente e o poder despótico de grupos, famílias ou indivíduos que, em conivência com grupos 
século XX, a criminologia regional e a sua substituição pelo pensamento criminológico crítico.
4 DEL OLMO, Rosa. Criminología y derecho penal: aspectos gnoseológicos de una relación necesaria en la América Latina actual. Doctrina 
Penal, ano 10, n. 37, Buenos Aires, 1987, p. 36.
5 DEL OLMO, Rosa. Un reencuentro con América Latina y su Criminología. Segunda ruptura criminológica. Caracas: Universidad Central de 
Venezuela, 1990, p. 137.
6 Ver SOZZO, Máximo. Traduttore traditore: traducción, importación cultural e historia del presente de la criminología en América Latina. 
Reconstruyendo las criminologías críticas. Buenos Aires: Ad Hoc, 2006, p. 404-406.
7 Sobre o tema, ANIYAR DE CASTRO, Lola. Historia no contada de la Criminología Latinoamericana. Criminología de la Liberación, Maracaibo: 
Universidad de Zulia, 1976, p. 3-18; ANYIAR DE CASTRO, Lola. CODINO, Rodrigo. Manual de criminología sociopolítica. Buenos Aires: Ediar, 2013.
8 Sobre violência na América Latina: seminários de Quito (1976); Lima (1977) e Bogotá (1978); sobre a criminalidade de colarinho branco: 
seminários do Rio de Janeiro (1979); sobre corrupção administrativa: seminários do Panamá (1972) e Costa Rica (1983).
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de poder internacionais, haviam produzido totalitarismos homicidas9 contra a vida de indígenas, campesinos e 
trabalhadores.
A criminologia não poderia seguir esquecendo que era um setor da política criminal geral e uma parte do conjunto 
concreto de cada povo com sua geografia e com sua história.10
Qualquer aproximação com uma criminologia na nossa margem deveria contar a nossa própria história. Na América 
Latina, referir-se ao Estado Providência ou benfeitor não fazia sentido, tal como na criminologia europeia ou 
americana, pois não se compartilhava esta forma de Estado. Nossa região estava ameaçada por outras ideologias 
estatais perigosas como a do capitalismo de Estado, a do Estado tecnocrático ou a do Estado de segurança nacional.11
O compromisso político. As páginas escritas pelos nossos criminólogos não passaram inadvertidas por alguns 
governos autoritários de ocasião. 
Pertencer a um movimento de criminologia crítica foi perigoso na América Latina.12 Vários membros deste movimento 
latino-americano caíram nas mãos dos regimes autoritários, alguns foram obrigados ao exílio13 e outros tiveram menos 
sorte.
Vale lembrar os assassinatos – ainda impunes – de Jorge Palacios Mota e Guillermo Monzón Paz em 1981, na Guatemala, 
professores da Universidade de San Carlos (Guatemala), que professavam uma criminologia e um direito penal 
críticos. Monzón Paz havia apresentado um trabalho no congresso da Venezuela de 1974, cujo título era significativo 
e representava o pensamento crítico da época: “a imprensa dos países da América Latina nas mãos das oligarquias 
criollas14 é uma forma de violência institucionalizada”.
É provável que não exista apenas um fator determinante para a queima do Palácio da Justiça na Colômbia em 1985, 
mas a morte de Alfonso Reyes Echandía e Emiro Sandoval Huertas, Presidente e Ministro da Suprema Corte deste 
país, ambos criminólogos críticos, deixa suspeitas sobre o incômodo que as suas ideias produziram no poder político 
da época. Estes autores haviam denunciado a formação de pessoal militar e policial nos Estados Unidos e no Panamá 
e a ingerência norte-americana em assuntos internos da Colômbia com a presença de tropas em território latino-
americano; assinalavam que a Justiça Militar havia suplantado a Justiça ordinária ao assumir o poder de administrar a 
9 BERGALLI, Roberto. Hacia una criminología de la liberación en América Latina. Capítulo Criminológico, n. 9/10, Universidad de Zulia, Maracaibo, 
1981/1982.
10 BERISTAIN IPIÑA, António. La criminología comparada y su aportación a la política criminal: una reflexión tercermundista. Colóquio 
Internacional “A Comparação como Método Científico no Direito Penal e Criminologia”, Freiburg, 1978. 
11 ZAFFARONI, E. Raúl. Criminología y derecho. Anuário da Faculdade de Direito e Ciências Sociais de Rosário. Rosário: Universidad Católica 
Argentina, 1981, p. 532 e ss. Igualmente em ZAFFARONI, E. Raúl. Política criminal latinoamericana. Buenos Aires: Hammurabi, 1982, p. 31 e ss.
12 Nesse sentido, SZABO, Denis; RICO, José Maria. Criminología y represión en América Latina. Capítulo Criminológico, n. 8/10, Universidad de 
Zulia, Maracaibo, 1981/1982.
13 Tiveram de deixar a Argentina, entre outros: Luis Marcó del Pont, Emilio García Mendez, Juan Pegoraro, Roberto Bergalli (que, além de tudo, 
foi preso e torturado). Em El Salvador, Atilo Ramírez Amaya.
14 São designadas “oligarquías criollas” as elites econômicas latino-americanas, sobretudo aquelas cujo capital deriva diretamente da 
expropriação de terra dos povos autóctones e que deu origem aos grandes latifúndios rurais. (N.T.)
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