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Gramática Aplicada Da Língua Portuguesa - Livro-Texto Unidade I

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Siomara Ferrite Pacheco
Colaboradoras: Profa. Joana Ormundo
Profa. Cielo Griselda Festino
Profa. Tania Sandroni
Gramática Aplicada da 
Língua Portuguesa
Professora conteudista: Siomara Ferrite Pacheco
É mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), professora 
na Universidade Paulista (UNIP) de disciplinas ligadas à área de Língua Portuguesa e doutoranda pela mesma 
instituição desde o início de 2010. Além da experiência no nível superior, já lecionou no ensino básico, tanto 
em escolas particulares quanto em escolas públicas. Participa de bancas de correção como Enem, Enade, entre 
outras.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
P116 Pacheco, Siomara Ferrite
Gramática Aplicada da Língua Portuguesa. / Siomara Ferrite 
Pacheco. - São Paulo: Editora Sol.
 100 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos 
e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-012/11, 
ISSN 1517-9230. 
1.Gramática 2.Norma 3.Variedade Linguística I.Título
CDU 801.5
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Simone Oliveira dos Santos
Sumário
Gramática Aplicada da Língua Portuguesa
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 DA LINGUAGEM à GRAMáTICA – CONCEITOS E PRECEITOS ............................................................9
1.1 Linguagem, sistema, língua e fala ....................................................................................................9
2 A NATUREzA DAS REGRAS DO SISTEMA DA LíNGUA E DAS REGRAS DA 
LíNGUA PADRãO ................................................................................................................................................. 10
2.1 Outras gramáticas ................................................................................................................................ 13
2.2 Conceito de norma e gramática ..................................................................................................... 14
2.3 A seleção da norma ............................................................................................................................. 20
3 NíVEIS DA LINGUAGEM E REGISTROS .................................................................................................... 21
3.1 A variedade linguística: primeiros conceitos ............................................................................ 22
3.2 As variações do vernáculo e do português ................................................................................ 22
3.2.1 Variação dialetal ...................................................................................................................................... 23
4 VARIAçãO DE REGISTRO .............................................................................................................................. 28
Unidade II
5 O ESTUDO DA GRAMáTICA: âMBITO DA FONOLOGIA, DA MORFOLOGIA, DA 
SINTAXE E DA SEMâNTICA .............................................................................................................................. 36
6 NíVEIS GRAMATICAIS .................................................................................................................................... 37
6.1 âmbitos de estudo da gramática: fonologia e morfologia ................................................. 37
6.2 âmbitos de estudo da gramática: a sintaxe e a semântica ................................................ 46
Unidade III
7 NORMA CULTA ................................................................................................................................................. 54
7.1 Estudo gramatical: uso da norma culta na expressão escrita do texto ......................... 54
8 ESTUDO CRíTICO DA METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIzAGEM DA 
GRAMáTICA NORMATIVA EM SALA DE AULA ......................................................................................... 81
7
APreSentAção
Caro aluno e leitor,
A nossa disciplina tem como foco a gramática, entretanto, é preciso compreendê-la de modo amplo 
e sem as restrições que advêm do preconceito social. Por isso, iniciaremos com definições como a de 
linguagem/língua, de sistema, de norma e de fala.
Além dessas definições, veremos os níveis de linguagem e os registros da língua, assim como 
observaremos normas do padrão culto que devem ser seguidas na produção de textos, ampliando nossos 
conhecimentos linguísticos.
É preciso, também, refletir sobre o ensino da língua portuguesa e os aspectos relevantes da 
metodologia de ensino dessa disciplina, entendendo-a como uma área ampla e complexa, mas que 
precisa ser vista com maior atenção por aqueles que estão se preparando para ser profissionais 
nessa área.
Dessa forma, apresentamos nossos objetivos e conteúdos a seguir.
Como objetivos gerais, temos:
• Propiciar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da competência linguística.
• Aprimorar a intelecção e produção de textos.
• Introduzir a reflexão e o estudo de questões relevantes ao ensino-aprendizagem da língua 
materna.
Para atingirmos nossos objetivos gerais, temos por objetivos específicos:
• Desenvolver a habilidade de observação e de análise das estruturas e dos processos 
sintático-semânticos na organização de textos em diferentes tipologias.
• Aprimorar o conhecimento da gramática em seus diferentes registros.
• Refletir sobre a metodologia de ensino da gramática da língua materna, direcionando-a 
para a conscientização do uso adequado das diversas possibilidades ou modalidades de 
uso.
Assim, nosso conteúdo programático consiste em:
• Linguagem, sistema, língua e fala.
• Divisões da gramática e disciplinas afins. âmbitos de estudo da gramática (fonologia, morfologia, 
sintaxe e semântica).
8
• Conceito de norma padrão e desvios., conceito de gramática normativa e de gramática descritiva 
e outros conceitos.
• Descrição da língua portuguesa em seus aspectos morfológicos: formação de palavras, processos 
de derivação e composição e classes de palavras.
• Níveis de linguagem. Registros. Norma culta.
• Estudo gramatical: casos produtivos da norma culta para a expressão escrita do texto.
• Emprego de pronomes, uso dos tempos verbais, concordância nominal e verbal, regência nominal 
e verbal e colocação ou ordem dos termos na oração e das orações no período e seus efeitos 
estilísticos.
• Estudo crítico de metodologia de ensino-aprendizagem da gramáticanormativa em sala de aula.
Além de acompanhar o conteúdo teórico deste material e fazer os exercícios, leia também obras 
sugeridas na bibliografia (indicada no final deste livro-texto) para ampliar seu conhecimento.
Bom estudo!
Introdução
A disciplina Gramática Aplicada da Língua Portuguesa tem por objetivo principal desmitificar os 
conceitos que se têm sobre a gramática, tornando-a um instrumento de construção do conhecimento 
linguístico para aquele que gostaria de saber mais sobre a sua própria língua, e não apresentá-la como 
um instrumento de tortura, como muitas vezes tem sido feito na educação básica. Por isso, iniciaremos 
o nosso material tratando de conceitos referentes à gramática, para que possamos pensá-la em sua 
forma plural, até chegarmos às questões da norma de prestígio, selecionada como padrão de uso do 
falante que deseja ser reconhecido socialmente.
É importante observar que, enquanto estudante do curso de Letras, você está sendo preparado 
para formar outras pessoas que também terão contato com essas questões e, portanto, lhe 
caberá a responsabilidade de desvendar os mistérios que assombram o mundo da gramática e 
acabam desestimulando nossos jovens adolescentes a terem interesse pelo estudo da Língua 
Portuguesa.
Como já apresentamos inicialmente, esses conceitos de linguagem, sistema, língua e fala são 
importantes para compreendermos a gramática nesse contexto. Por isso, passemos a essas definições 
no primeiro item da primeira unidade.
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1 dA LInGuAGem à GrAmátIcA – conceItoS e PreceItoS
1.1 Linguagem, sistema, língua e fala
A primeira questão a ser considerada quando nos propomos a estudar uma língua é o que isso 
significa, ou ainda: língua e linguagem têm o mesmo significado? Eis a primeira questão a ser respondida 
antes de prosseguirmos na busca do entendimento de outros conceitos, como o de gramática, por 
exemplo.
Nessa perspectiva, é preciso compreender que o significado de linguagem abarca um número maior 
de signos envolvidos que aquele referente à língua. Qualquer forma de expressão pode ser considerada 
linguagem, ao passo que a língua é um código que pressupõe o uso de palavras e é organizado de 
acordo com a estrutura e as regras de cada grupo que o utiliza.
Nessa perspectiva, a língua é entendida como um código social, portanto de natureza coletiva 
e não individual como a linguagem. Se esse código é de natureza social e/ou coletiva, ele obedece 
às leis do contrato estabelecido pelos integrantes do grupo social em que se instaura.
Devemos lembrar ainda que esse código que é a língua pode ser descrito, o que nos diferencia 
de um animal, podendo-se chegar a seus elementos mínimos depreendidos, os fonemas. Ao se 
analisar tal código, pode-se observar que ele tem um sistema de funcionamento. Desse modo, 
de acordo com o elemento a ser descrito nesse sistema, o estudo da língua pode ser dividido em 
fonologia, morfologia e sintaxe (o que retomaremos mais adiante).
 Lembrete
Linguagem é toda e qualquer forma de expressão, como gestos, cores, 
sons, palavras etc.
Língua é um sistema de signos e um código convencionado na e pela 
sociedade.
Fala é a língua em uso.
Sistema é a organização do código utilizado, bem como sua descrição. 
Temos, por exemplo, a linguagem de sinais, usada na comunicação entre pessoas surdas.
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Veja a seguir:
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A B C D
E F G H
I J K L
M N Ñ O
P Q R S
T U V W
X Y z
Figura 1 – Alfabeto Manual LGP
2 A nAturezA dAS reGrAS do SIStemA dA LínGuA e dAS reGrAS dA 
LínGuA PAdrão
Tendo em vista ser amplo o conceito de linguagem, uma vez que abarca tanto a humana quanto a 
animal e tanto a verbal (que tem por base a palavra) quanto a não verbal (gesto, dança, entre outras 
formas de expressão), torna-se importante ressaltar que a linguística propõe-se a estudar a linguagem 
verbal humana.
Tal estudo opõe-se aos estudos da gramática tradicional, na medida em que aquela tem por objetivo 
descrever os mecanismos de funcionamento e uso da língua sem a preocupação de estabelecer um 
padrão, enquanto esta estabelece padrões e descreve os desvios deles, considerando-os erros. A primeira 
tem por objetivo descrever e explicar os padrões sonoros, gramaticais e lexicais em uso, sem avaliar esse 
uso em relação a outro padrão, o que é feito pela segunda.
Ao contrário do que se defende pelo senso comum, a linguística não é uma ciência que se opõe à 
gramática. Ela é a “ciência mãe”, da qual se originaram outras vertentes, inclusive novos olhares para os 
estudos relacionados à gramática.
A(s) gramática(s) da língua: a normativa, a descritiva e a internalizada
Passemos, então, a conceituar a gramática, a fim de desmascarar o conceito que se arraigou na 
sociedade, o qual compartilhamos muitas vezes sem nos darmos conta e tampouco sabermos o porquê. 
Para tanto, torna-se necessária a questão: afinal,o que é gramática?
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Se procurarmos responder a essa questão, chegaremos à resposta de que se trata de um “conjunto 
de regras”. É com base nesse princípio que Possenti (2005, p. 64) entende a gramática sob três 
perspectivas:
As três definições correspondem, respectivamente, às gramáticas normativa, descritiva e 
internalizada:
a) conjunto de regras que devem ser seguidas;
b) conjunto de regras que são seguidas;
c) conjunto de regras que o falante da língua domina.
A primeira definição corresponde à visão que normalmente temos da gramática, ou seja, de um 
conjunto de normas prescritas para o “bem falar e bem escrever” do indivíduo. Nessa perspectiva, a 
gramática é como uma “receita” que deve ser seguida e jamais questionada e/ou modificada. Aquele 
que não faz uso dessa gramática fica à margem da sociedade. Por isso, essa gramática é denominada 
normativa ou prescritiva.
Para exemplificar, se alguém disser “nóis vai lá amanhã”, sob o ponto de vista dessa gramática 
prescritiva, é considerado um sujeito que não conhece a gramática da língua portuguesa por não seguir 
o padrão de concordância do verbo “vamos” com o sujeito “nós”. Se fosse visto de outro ponto de vista 
(como veremos mais à frente), esse indivíduo não ficaria marginalizado, apenas haveria adequação do 
uso da gramática ao contexto social, tendo em vista a situação comunicativa.
Daí a definição de gramática como algo que “deve ser seguido”, sob esse ponto de vista normativo, 
prescritivo, em que há o “certo” em oposição ao “errado”.
A segunda definição de gramática diz respeito a um conjunto de regras que são descritas a partir da 
língua falada por um grupo, isto é, trata-se da preocupação do linguista em identificar e descrever regras 
que são seguidas pelos falantes no uso efetivo da língua. Portanto, essa noção de gramática está ligada 
à realidade e, consequentemente, à naturalidade do uso da língua e não à artificialidade imposta pela 
prescrição de uso dessa língua.
Por exemplo, a gramática normativa (ou prescritiva) do português institui uma forma verbal 
correspondente a cada pessoa do discurso. Assim, o correto seria “eu amo”, “tu amas”, “ele ama”, “nós 
amamos”, “vós amais”, “eles amam”. Essa prescrição não admite que os falantes tenham uma variação 
dessa norma e utilizem as formas “eu amo”, “tu/você ama”, “ele ama”, “nós/a gente ama”, “vocês ama”, 
“eles ama”. No entanto, no português falado no dia a dia, é o que encontramos.
Os linguistas que se preocupam com a variedade de uso da língua, chamados de sociolinguistas,pesquisaram e identificaram essa “economia” na conjugação dos verbos no português não padrão, em 
que vemos a redução das seis formas previstas pela norma padrão em apenas duas. Esse fato leva 
à caracterização dessa língua falada como mais enxuta que a outra. Trata-se de constatação feita a 
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partir de investigações na sociedade, no caso, a brasileira, que utiliza o mesmo código, ou seja, a língua 
portuguesa. É a análise desse tipo de fenômeno a que se propõe a gramática descritiva.
Há gramáticas que, ao descreverem o sistema linguístico, propõem, ainda, a “forma correta”. Essas 
gramáticas, além de descritivas, são normativas também. Uma gramática que seja apenas descritiva não 
tem a pretensão de julgar o “certo” e o “errado”. Aliás, essa noção de erro é de caráter muito mais social 
que linguístico, uma vez que sua definição tem por base a norma instituída pela classe de prestígio (que 
é determinada pelo poder econômico).
Seguindo o raciocínio proposto inicialmente, a terceira definição de gramática está relacionada ao 
conhecimento internalizado que o falante tem da língua. Esse conhecimento está relacionado ao léxico 
e à organização sintático-semântica dos enunciados, tanto para a produção quanto para a identificação 
de formas linguisticamente aceitas pelo grupo social.
Exemplificando, se alguém disser “dufens vornasam mo léu”, essa estrutura não será gramaticalmente 
reconhecida pelo falante, sobretudo em sua organização fonética e semântica. Sintaticamente, até 
poderíamos dizer que corresponde à ordem SVC de nossa língua, ou seja, que “dufens” é o sujeito, 
“vornasam”, o verbo e “mo léu” é o complemento. Todavia, se tivéssemos, então, “nuvens formam-se 
no céu”, esta seria uma oração, digamos, “plenamente” reconhecida do ponto de vista gramatical pelo 
falante de língua portuguesa.
São essas questões que ratificam a tese de que o indivíduo é dotado de uma gramática internalizada, 
isto é, de que cada um tem em mente os padrões linguísticos do código (no caso, a língua portuguesa) e os 
ativa no momento de elaborar e/ou reconhecer enunciados gramaticalmente produtivos nesse código.
Nessa perspectiva, tendo em vista o paradigma atual – a pragmática, – há estudos que estão sendo 
realizados de um ponto de vista funcionalista, isto é, de um ponto de vista que busca descrever o 
modo como as pessoas conseguem comunicar-se pela língua e, portanto, tem por base a competência 
comunicativa do falante.
Para esse tipo de investigação, a ordem dos elementos no enunciado é fator relevante, uma vez que, 
por exemplo, a inversão da posição do sujeito pressupõe uma intenção; a de dar ênfase a um elemento em 
relação aos outros na sintaxe da oração.
Ilustrando, se em vez de se dizer “João é um sujeito bacana”, diz-se “um sujeito bacana é o João”, 
observamos que, na primeira oração, a ênfase é dada ao sujeito, ao passo que, na segunda, dá-se ênfase 
à caracterização desse sujeito.
É desse tipo de questão que trata a gramática funcional, uma vertente atual que já tem um grupo 
representativo aqui no Brasil.
Como vimos, definir gramática não se reduz à simplificação de um conjunto de regras “que devem 
ser seguidas”. É preciso ampliar nossa visão, bem como aceitarmos os outros pontos de vista sobre essa 
definição e concluirmos que eles se complementam e não se excluem.
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2.1 outras gramáticas
Além dos tipos de gramática apresentados, Travaglia (1998, p. 33) propõe outros três tipos, com base 
na explicitação da estrutura e do mecanismo de funcionamento da língua. São eles:
• Gramática implícita: a competência linguística internalizada do falante, que é implícita 
porque este não tem consciência dela. É também denominada gramática inconsciente e, por 
possibilitar o uso automático da língua — além de estar diretamente relacionada com o que se 
chama no ensino de gramática e no trabalho escolar com a gramática —, também é chamada 
de gramática de uso.
• Gramática explícita ou teórica: todos os estudos que buscam, por meio de uma atividade 
metalinguística sobre a língua, explicitar sua estrutura, constituição e funcionamento.
• Gramática reflexiva: gramática em explicitação. Trata-se de uma gramática voltada mais 
ao processo que ao produto do ato linguístico. São atividades de observação e reflexão 
que buscam constituição e funcionamento da língua. Essa gramática parte das evidências 
linguísticas para tentar dizer como é a gramática implícita do falante, que é a gramática da 
língua.
Travaglia relaciona esses tipos de gramática (explícita ou teórica, reflexiva e implícita) à 
distinção entre atividades linguísticas, atividades epilinguísticas e atividades metalinguísticas. 
Segundo esse autor:
As atividades linguísticas são as que o usuário realiza quando estabelece uma interação 
comunicativa por meio da língua. Para tanto, o falante tem de organizar seu texto de acordo com 
a situação, os objetivos de comunicação, bem como de acordo com o tópico discursivo (assunto ou 
tema). Trata-se, pois, de atividades de construção e/ou reconstrução do texto que o usuário realiza 
para se comunicar. Daí podermos relacionar essas atividades com a gramática de uso, uma vez que 
o usuário utiliza de forma automática a sua gramática internalizada.
Quanto às atividades epilinguísticas, são as que possibilitam tratar dos próprios recursos linguísticos 
que estão sendo utilizados ou de aspectos da interação por meio da suspensão do desenvolvimento do 
tópico discursivo e introdução do referido tratamento.
Vejamos exemplos de atividades epilinguísticas:
1. Achei o vestido de Joana lindo. Lindo, não, maravilhoso.
2. Vamos encerrar este assunto, pois o horário da consulta já terminou.
E, finalmente, as atividades metalinguísticas compreendem aquelas em que se faz uso da língua 
para analisar a própria língua, ou seja, é a construção da metalinguagem – conjunto de elementos 
linguísticos próprios e apropriados para se falar sobre a língua. Portanto, a atividade metalinguística 
normalmente está relacionada a teorias linguísticas e métodos de análise da língua, o que nos leva a 
relacioná-la diretamente com a gramática teórica.
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Travaglia (1998, p. 35) chama a atenção para a existência ainda de outros tipos de gramática, que 
são definidos tanto por seus objetos de estudo quanto por seus escopos. São elas:
• Gramática contrastiva ou transferencial – útil para mostrar diferenças e semelhanças entre 
as variedades linguísticas, uma vez que descreve e compara duas línguas ao mesmo tempo.
• Gramática geral – uma gramática de previsão de possibilidades gerais por comparar o maior 
número possível de línguas, a fim de reconhecer todos os fatos linguísticos realizáveis, bem como 
as condições em que se realizarão.
• Gramática universal – gramática que investiga as características comuns a todas as línguas do 
mundo. Nem sempre se distinguem gramática geral e gramática universal.
Veja alguns exemplos de universais linguísticos:
1. todas as línguas têm vogais;
2. todas as línguas têm dupla articulação;
3. todas as línguas têm categorias pronominais envolvendo pelo menos três pessoas e dois números.
• Gramática histórica – estuda o desenvolvimento de um idioma, isto é, estuda a origem e a 
evolução de uma língua por meio do acompanhamento de suas fases desde seu aparecimento até 
o momento atual.
• Gramática comparada – estuda uma sequência de fases evolutivas de várias línguas, a fim de, 
normalmente, buscar pontos comuns. Foram essesestudos que estabeleceram famílias de línguas 
e também propiciaram o descobrimento de parentescos entre línguas aparentemente distantes, 
como o Latim e o Sânscrito.
 Saiba mais
Há uma gramática interessante, que trata do uso da língua portuguesa 
no Brasil. Procure saber mais a respeito consultando a obra de Neves, M. 
H. de M. Gramática de uso do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000. 
Disponível em: < http://books.google.com/books?id=6XPNR3WkygEC&pri
ntsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_similarbooks_s&cad=1#v=one
page&q&f=false>. Acesso em: 24 mai. 2011.
2.2 conceito de norma e gramática
Quando pensamos em gramática, pensamos em “norma”, ou seja, a relação entre ambos os conceitos 
está tão arraigada em nossa cultura que não conseguimos dissociá-los.
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Nesse sentido, Bagno (2003) chama-nos a atenção para o fato de desse substantivo derivar 
dois adjetivos, os quais o autor, com base em reflexões de outros estudiosos do assunto, assim os 
distingue:
 Norma
Normal Normativo
Uso corrente Preceitos
Real Ideal
Comportamento Reflexão consciente
Observação Elaboração
Situação objetiva Intenções subjetivas
Média estatística Conformidade
Frequência Juízos de valor
Tendência geral e habitual Finalidade designada
(BAGNO, 2003, p. 41)
Bagno chama atenção para o fato de que o conceito norma geralmente está acompanhado do 
adjetivo culta e que, para essa qualificação, há vários critérios, contudo, o mais antigo e que teve mais 
adeptos é o que estabelece a relação entre culta e literária em termos de língua.
Esse critério de padrão da linguagem literária como referência remonta à Antiguidade e até fazia 
sentido naquela época, em que apenas os falantes pertencentes ao grupo social de prestígio tinham 
acesso ao texto escrito e, consequentemente, ao texto literário.
A partir do advento da imprensa, esse quadro mudou, uma vez que houve uma popularização da 
leitura. Hoje, temos acesso a textos jornalísticos, que variam sua linguagem, apresentando desde a mais 
coloquial até a mais formal, de acordo com o gênero (e tudo que este implica).
No Brasil, devemos considerar que a influência de textos literários é ínfima se comparados a outros 
textos, como o jornalístico.
Todavia, ressaltamos que a gramática tradicional não estuda a variedade oral do português, e sim 
a variedade escrita, mais especificamente a dos textos literários clássicos. Daí o distanciamento entre a 
realidade e a prescrição da norma.
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Nesse sentido, há gramáticos contemporâneos que adotam como linguagem padrão a dos textos 
jornalísticos e técnicos. É o caso de Gramática descritiva do português, de Mário A. Perini. O autor assim 
justifica seu critério:
(...) existe uma linguagem padrão utilizada em textos jornalísticos e técnicos 
(...) linguagem essa que apresenta uma grande uniformidade gramatical, e 
mesmo estilística, em todo o Brasil (PERINI, 2005, p. 26).
A concepção tradicional dos gramáticos em relação à norma culta isola a língua da sociedade, isto é, coloca-a 
em uma redoma de vidro, como se fosse um ser sobrenatural, ao qual apenas os “iluminados” têm acesso.
Essa visão da língua e, consequentemente, da norma culta, torna-a uma língua ideal, um modelo 
abstrato e leva a conceitos que qualificam as variantes linguísticas em certas vs. erradas, elegantes vs. 
grosseiras, cultas vs. ignorantes.
Nessa perspectiva, o português corresponde apenas a esse ideal abstrato de língua certa, que não 
aceita nenhuma outra realização verdadeira, autêntica, da fala dos nativos. Daí a crença de que não 
sabemos português, um mito que é oriundo dessa visão coercitiva da gramática.
Atualmente, como já dissemos, há outros critérios para se estabelecer a “norma culta”, como, por 
exemplo, os que são empregados por pesquisadores que estudam a norma culta no projeto Nurc (Norma 
Urbana Culta).
Trata-se de um grupo de linguistas que investiga, desde 1970, a linguagem efetivamente usada 
pelos falantes cultos de cinco grandes cidades brasileiras: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e 
Porto Alegre. O critério de classificação “falante culto” está atrelado à escolaridade superior completa e 
à inserção no contexto cultural urbano da cidade investigada.
Desse ponto de vista, o conceito de norma culta passa a relacionar-se com algo concreto, que existe na 
realidade social. Com base nessa investigação, podem-se verificar mudanças no uso da língua, como, por 
exemplo, a quase inexistência do pronome cujo(a) na língua falada pelos brasileiros considerados cultos.
Tendo em vista os dois conceitos de norma culta apresentados, um do ponto de vista prescritivo e outro 
do ponto de vista descritivo da língua, podemos apresentar o seguinte quadro proposto por Bagno (2003):
Quadro 1
Norma culta prescritiva (normativa) Norma culta descritiva (normal)
• “Língua” prescrita nas gramáticas normativas, inspiradas 
na literatura “clássica”.
• Atividade linguística dos “falantes cultos”, com 
escolaridade superior completa e vivência urbana.
• Preconceito (baseia-se em mitos sem fundamentação na 
realidade da língua viva, inspirados em modelos arcaicos 
de organização social).
• Conceito (termo técnico usado em investigações empíricas 
sobre a língua, correlacionadas com fatores sociais).
• Doutrinária (compõe-se de enunciados categóricos, 
dogmáticos, que não admitem contestação).
• Científica (baseia-se em hipóteses e teorias que devem ser 
testadas para, em seguida, serem validadas ou invalidadas).
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• Pretensamente homogênea. • Essencialmente heterogênea.
• Elitista. • Socialmente variável.
• Presa à escrita literária, separa rigidamente a fala da escrita. • Manifesta-se tanto na fala quanto na escrita.
• Venerada como uma verdade eterna e imutável (cultuada). • Sujeita a transformações ao longo do tempo.
(BAGNO, 2003, p. 54)
Como vemos, a questão da norma culta pode ser vista desses dois pontos de vista: um que 
corresponde ao normativo, ou seja, a um caráter prescritivo da língua, e outro que corresponde 
ao que é normal, isto é, ao que é colocado em prática pelos falantes cultos e que é descrito pelos 
linguistas.
Poderíamos associar esses dois pontos de vista do conceito de norma culta aos dois tipos de gramática 
já apresentados anteriormente: a gramática normativa e a gramática descritiva, lembrando que uma 
está ligada à outra. Para sabermos qual é a prescrição, qual é o normativo, temos que primeiro descrever 
o que é normal. Daí a relação entre normativo-prescritivo e normal-descritivo.
Então, nessa perspectiva, para sabermos qual é a norma de determinado grupo, temos de descrever 
a língua falada pelos seus integrantes. Foi assim que os linguistas observaram a variedade de uso da 
mesma língua, além da variedade de um mesmo indivíduo no uso da língua.
Devemos lembrar, entretanto, que há um ponto de vista pelo qual se distingue norma culta 
de norma popular. Trata-se geralmente de uma visão deturpada em que o que é popular está 
ligado a uma desclassificação social, isto é, tudo que é popular corresponde ao oposto do que é 
culto, erudito. É uma forma negativa de avaliação do que é popular em relação ao que é culto, 
uma vez que deixa subentendido que o primeiro tem uma conotação pejorativa, depreciativa, 
ao passo que o segundo corresponde a tudo que seja sofisticado e aceito por uma classe social 
privilegiada.
A fim de solucionar esseproblema de rotulação do que é (e o que não é) culto, Bagno (2003) propõe 
refletirmos sobre a relação entre língua e sociedade no Brasil a partir de três chaves principais, sobre as 
quais reproduzo as palavras do autor:
1. A primeira é a “norma culta” dos prescritivistas, ligada à tradição gramatical 
normativa, que tenta preservar um modelo de língua ideal, inspirado na 
grande literatura do passado.
2. A segunda é a “norma culta” dos pesquisadores, a língua realmente 
empregada no dia a dia pelos falantes que têm escolaridade superior 
completa, nasceram, cresceram e sempre viveram em ambiente urbano.
3. A terceira é a “norma popular”, expressão usada tanto pelos tradicionalistas 
quanto pelos pesquisadores para designar um conjunto de variedades 
linguísticas que apresentam determinadas características fonéticas, 
morfológicas, sintáticas, semânticas, lexicais etc., que nunca ou muito 
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raramente aparecem na fala (e na escrita) dos falantes “cultos” (BAGNO, 
2003, p. 63).
Essa noção de norma popular está ligada às classes sociais que não têm acesso à escolarização 
(como as comunidades rurais, por exemplo) e, também, àquelas que são marginalizadas e encontram-se 
nas periferias dos grandes centros urbanos.
Há uma variedade de termos para a classificação do que seja a língua “certa”, quer dizer, a que é 
instituída socialmente. Variam entre “língua padrão”, “dialeto padrão”, “variedade padrão”.
Além dessa classificação, é preciso utilizar termos que diferenciam o que é do que não é padrão. Para 
tanto, Marcos Bagno propõe os termos “variedades de prestígio” e “variedades estigmatizadas”.
A primeira classificação corresponde à norma utilizada pelos grupos de prestígio e, portanto, 
pressupõe falantes que tiveram acesso à escolarização e que, naturalmente, do ponto de vista social, 
passaram pela seleção de pertencerem a um grupo privilegiado que já cumpriu todas as etapas de 
formação escolar, critério este, aliás, utilizado pelos linguistas para definir o falante culto.
Quanto à segunda classificação, esta abrange todos os grupos sociais desprestigiados do Brasil. 
Esse desprestígio, assim como o prestígio, não é determinado internamente por meio das estruturas 
linguísticas utilizadas, uma vez que ele está fundamentado em critérios socioeconômicos e de relação 
de poder.
Enfim, essa questão da norma de prestígio lembra-nos aquele dito popular que diz “manda quem 
pode, obedece quem tem juízo”. Se buscamos a aceitação na sociedade, temos de ter consciência de que, 
apesar das diversidades, há uma tendência à uniformização de nossa maneira de utilizar a língua, a qual 
muitas vezes acabamos acreditando não conhecer em virtude de tanta estigmatização e preconceito 
(que não é linguístico, mas social).
Nesse sentido, de acordo com Lucchesi (1994, apud PERINI, 2000), há uma polaridade entre normas 
vernáculas e normas cultas. As primeiras corresponderiam ao uso da língua por falantes menos 
escolarizados, enquanto as segundas corresponderiam aos usos dos falantes mais escolarizados.
Perini (2000) expõe as diferenças entre o que o autor denomina “portuguê s” e “vernáculo” e questiona 
sobre qual seria a língua que falamos no Brasil.
Nessa distinção, o autor chama de vernáculo brasileiro a língua falada no país, aquela que é utilizada 
no dia a dia, em situações rotineiras de comunicação do brasileiro. A outra língua, o português, ficaria 
mais restrita a situações formais, principalmente de uso da língua escrita, em que o falante tem de 
recorrer às normas prescritas pela gramática.
Portanto, o vernáculo corresponderia ao conceito de “normal”, de acordo com a definição de norma 
culta da língua, ao passo que o português estaria diretamente ligado à norma culta de cunho prescritivo, 
isto é, normativo. Para cada situação comunicativa, o falante deve selecionar que norma deve utilizar.
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Podemos dizer que saber a norma prescritiva da língua não significa dominar o uso dessa mesma 
língua. Ou seja, um escritor, por exemplo, não tem necessidade de saber de cor todas as regras da gramática 
normativa, no entanto, deve ter capacidade de utilizar a língua para expressar seus pensamentos e 
fazer-se compreender pelo leitor.
É o que veremos no texto que segue:
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá 
em casa numa mesma missão, designada por seu professor de português: 
saber se eu considerava o estudo da gramática indispensável para aprender 
e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador 
cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava 
arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta 
coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, 
e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até 
preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). 
Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos 
tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que 
não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação 
e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras 
básicas da gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são 
dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever 
bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer 
“escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. 
(E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos 
na área do talento, que também não tem nada a ver com gramática). A 
gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de 
interesse restrito a necrólogos e professores de latim, gente em geral pouco 
comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias 
em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação 
pelo português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o 
português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia 
definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, 
como a gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não 
tem futuro. As múmias conversam entre si em gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti 
que minha implicância com a gramática na certa se devia à minha pouca 
intimidade com ela. Sempre fui péssimo em português. Mas – isso eu disse – 
vejam vocês, a intimidade com a gramática é tão indispensável que eu ganho 
a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô 
das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um 
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cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas 
são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço 
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, 
sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida 
particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o 
que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo 
em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, 
afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo 
calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passassea respeitar a intimidade gramatical das suas 
palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo 
seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou 
a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com 
que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com 
elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e 
colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A gramática precisa 
apanhar todos os dias pra saber quem é que manda (VERíSSIMO, 1982).
2.3 A seleção da norma
Afinal, perguntamo-nos: que norma devemos seguir?
O conceito de norma é visto ainda em sentido amplo e em sentido restrito por alguns estudiosos da língua.
O primeiro corresponde a um fator de coesão social, ou seja, à necessidade que o grupo social tem de manter 
a identidade de sua língua, a relativa uniformidade linguística de importância política para as nações. Já o 
sentido restrito estabelece o padrão linguístico adotado por uma sociedade, ou seja, corresponde aos 
usos, atitudes e aspirações da classe social de prestígio de uma nação em virtude de razões políticas, 
econômicas e culturais.
Tendo em vista o conceito de norma (ou padrão) que vigora nas gramáticas normativas utilizadas no 
ensino de língua, alguns preconceitos são gerados, tais como:
• A norma culta da classe de prestígio é a única correta.
Isso não é verdade, uma vez que todas as variedades da língua são eficazes. O que há são modalidades de 
prestígio e modalidades desprestigiadas (ou estigmatizadas, como já vimos) em função do grupo social 
que a utiliza. Portanto, não há certo ou errado em termos de língua, todavia, o ideal é que o falante 
conheça todas as variedades para selecionar a que deve usar no momento da comunicação.
• O bom português é aquele praticado em determinada região.
Esse preconceito apenas desloca o caráter social para o caráter regional. No Brasil, pelo fato 
de termos vários centros de prestígio cultural, encontramos mais de uma norma culta válida, 
principalmente na língua falada.
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• O bom português é aquele exemplificado nas chamadas épocas de ouro da literatura.
Essa crença limita o português culto à variedade escrita, ao passo que, de acordo com estudos 
realizados atualmente, temos o português culto falado nos grandes centros urbanos.
Além disso, na escrita, há outras variedades do português, como a que é utilizada em textos 
jornalísticos e técnicos (revistas semanais, jornais, livros didáticos e científicos).
E, por fim, essa afirmação leva-nos a uma atitude conservadora e saudosista de que o português 
culto é o de épocas passadas.
• Diante da variedade linguística existente, apenas uma é a correta e todas as outras são erradas.
Se acreditarmos nessa afirmação, derrubamos todos os conceitos de gramática desenvolvidos 
até então e voltamos a acreditar que existe apenas uma norma a ser seguida, a prescritiva, que 
não admite nenhuma outra forma de expressão a não ser a determinada por ela como certa.
E, como já foi dito, até o padrão culto varia de um grupo para outro, isto é, para cada norma culta há, 
de acordo com a situação comunicativa, várias formas consagradas por pessoas que têm prestígio 
social em razão de pertencerem a grupos privilegiados social, econômica e politicamente.
Mais uma vez reforçamos que o falante ideal é aquele que sabe lidar com a diversidade e selecionar 
adequadamente o padrão a ser seguido, de acordo com cada situação comunicativa vivenciada por ele.
Nós somos atores, representando papéis sociais o tempo todo. Para cada um, devemos saber o script. 
Assim, não correremos o risco de sermos excluídos socialmente, ao menos do ponto de vista linguístico, 
que, se analisarmos por essa perspectiva, acaba se tornando um meio democrático de interação social.
Embora não seja nosso objeto específico de estudo, não podemos deixar de considerar a variedade 
na língua, tendo em vista os conceitos de norma de gramáticas, no plural, como vimos anteriormente. 
Portanto, apresentaremos uma breve descrição dessa variação, visto que esse assunto também faz parte 
da disciplina linguística, na qual haverá um estudo mais detalhado sobre isso.
 Saiba mais
Veja a obra Bagno, M. A norma oculta - língua & poder na sociedade 
brasileira. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2003, sobre a qual você 
encontra uma resenha de Jeferson Correia Dantas disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502004000100009&script=sci_
arttext>. Acesso em: 24 mai. 2011.
3 níveIS dA LInGuAGem e reGIStroS
Afinal, qual é o português que devemos usar? Em que situação(ões)? Essas e outras questões surgem cada 
vez que nós, falantes da mesma língua – a portuguesa –, temos de utilizá-la nas mais variadas situações.
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Para melhor compreendermos essas questões, precisamos ter conhecimento de alguns conceitos 
(e teorias) que dizem respeito às variedades linguísticas e às gramáticas do português, sobretudo do 
Brasil.
3.1 A variedade linguística: primeiros conceitos
A partir dos conceitos de gramática apresentados, podemos verificar que não há regra para o uso da 
língua, mas regras que variam conforme as situações comunicativas do falante. Essa variação decorre 
de fatores como diferenças entre grupos sociais escolarizados e não escolarizados, entre falantes de 
regiões diferentes, entre sexos opostos, além das diferenças de idade, posição social, enfim, de fatores 
que determinam as regras (no plural).
Do ponto de vista da gramática tradicional, há apenas a variedade padrão – a norma culta – em 
oposição à popular. A primeira corresponde à variedade que segue as regras instituídas pela gramática 
normativa, prescritiva da língua, enquanto a segunda diz respeito a toda e qualquer variedade que se 
oponha ao “bem falar” e “bem escrever” instituídos pelo padrão.
Todavia, temos de considerar a pluralidade linguística para desenvolvermos a competência 
comunicativa enquanto usuários da língua. Essa pluralidade está diretamente ligada às variedades 
linguísticas. Portanto, não podemos desconsiderar que os falantes variam o uso da língua, seja de região 
para região, entre faixas etárias diferentes, de um sexo para outro, enfim, há grupos que se diferenciam 
de acordo com o seu modo de falar.
 Saiba mais
Veja a polêmica sobre o assunto em: <http://oficinadetravessias.mg.gov.
br/preconceito-contra-a-educacao>. Acesso em: 24 mai. 2011. 
Assista ao filme Língua - Vidas em Português. Brasil, Portugal. Direção: 
Victor Lopes. 105 minutos, 2004. Um documentário belíssimo!
3.2 As variações do vernáculo e do português
Além das variedades tratadas no item anterior, o falante de língua portuguesa, no caso, do Brasil, 
também encontra diversidade no uso dessa língua de acordo com as situações comunicativas em que 
se encontra.
Desse modo, a variação de uso dessa língua estará ligada ainda ao grau de formalismo que a situação 
requerer. Trata-se, primeiramente, de diferenciarmos o que já foi tratado como “vernáculo” ou como 
“português” por alguns estudiosos.
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Figura 2 – O português no Brasil
3.2.1 Variação dialetal
O primeiro grupo de variação, que alguns pesquisadores chamam de variação dialetal, compreendebasicamente as diferenças regionais, de nível social, de idade e de sexo. Nesse sentido, Travaglia (1998) 
propõe seis dimensões de variação dialetal: territorial (ou geográfica), social, de idade, de sexo, de 
geração e de função.
• Dialetos na dimensão territorial, geográfica ou regional: variação entre pessoas de diferentes 
regiões em que se fala a mesma língua. Essa variação pode ocorrer por influência da formação 
cultural do povo ou pelo fato de os indivíduos pertencentes geograficamente à mesma comunidade 
apresentarem comportamento linguístico que os identifique. As diferenças podem ser no plano 
fonético, no léxico ou no das diferenças sintáticas.
Portugal
Cape verde
Guiné - Bissau
Equatorial Guinea
São Tomé and Prícipe
Brasil Angola
Mozambique
Macau
East Timor
Figura 3 – O português no mundo
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É preciso considerar, então, que esse código chamado língua portuguesa apresenta, no Brasil (sem 
levar em conta outros países), diversidade de uso. Basta pensarmos naquele que vive no sertão nordestino 
e o falante que vive em uma metrópole como São Paulo, por exemplo.
Do ponto de vista fonético (talvez a diversidade mais evidente entre os falantes), um indivíduo 
que viva na primeira região citada pronunciará o [r] de “porta” diferentemente do outro indivíduo, 
bem como haverá outras realizações do mesmo fonema (variantes) para indivíduos de outras regiões 
do país.
Vejamos as marcas da oralidade, a fim de caracterizar o nordestino, personagem focalizado no 
texto de Luiz Gonzaga, um grande representante da música de raízes, a sertaneja, pela qual tomamos 
conhecimento da cultura do povo dos sertões do Brasil.
Quando oiei a terra ardendo
Qua fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, uai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão
Quando o verde dos teus oio
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração
(GONzAGA, 1971).
Nesse texto, podemos observar a troca do fonema /lh/ por /i/ em “oiei”, “fornaia”, assim como a troca 
do /l/ pelo /r/ em “farta”, fenômenos que marcam a fala dos moradores do sertão, constituindo uma 
variante linguística no nível fonético.
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Há ainda variações morfológicas, cujas variantes podem opor o uso do morfema flexional de um 
verbo à sua ausência, como, por exemplo, “andá” vs. “andar”, em que o –r constitui a marca do infinitivo 
do verbo e o falante pode colocá-lo ou subtraí-lo no final.
Vejamos um texto em que essas variantes são bem explícitas:
Moi de Repoi nu ai iói
Ingridienti:
5 den di ái
3 cuié di oi
1 cabêss di repôi
1 cuié de mastumati
Sali a gosto
Me qui fais?!
Casca u ái, pica u ái e soca o
ái cum Sali. Quemnta o oi; foga
o ái no oi quentim.
Pica o repôi bemmm finimm, foga
o repôi.
Poim a mastumati mexi ca cuié
Pra fazê o moi.
Prontim!1
Verifiquemos que há novas construções de palavras como “mastumati”, variante de “massa de 
tomate”, uma palavra composta, em que, a partir da aglutinação dos fonemas, deu-se uma nova forma 
da palavra. A redução de palavras é uma marca da fala mineira, como “ai”, “oi”, “den di”, “cabess”.
Quando se trata de léxico, podem também ocorrer variantes. O que é mandioca para uns pode ser 
macaxeira ou aipim para outros. Ou o pivete de São Paulo pode ser o guri do Rio de Janeiro.
Podemos, ainda, encontrar variação sintática no uso da língua. É o caso, por exemplo, do uso do 
pronome relativo nas seguintes sentenças:
• Este é o amigo em cuja casa estive ontem.
• Este é o amigo que eu estive na casa ontem.
• Este é o amigo que eu estive na casa dele ontem.
Verifiquemos que as três formas de uso do pronome relativo expressam o mesmo significado, todavia, 
a construção sintática é que varia.
1Este texto não possui referência pelo fato de estar veiculado na internet e ter sido obtido via e-mail.
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Essas e outras variedades caracterizam o português falado no Brasil, tendo em vista a 
nossa geografia e os falantes situados em toda extensão territorial. De norte a sul, de leste a 
oeste, a língua portuguesa é o nosso idioma, mas sua diversidade de uso é que marca a nossa 
identidade.
Não é, porém, apenas o fator geográfico que determina as diferenças do “nosso português”. Há 
diversos fatores, como os que já foram destacados no início da unidade (sexo, idade, escolaridade, entre 
outros), que podem marcar essa diversidade linguística.
Entre outros, o uso de pronomes pode ser também uma marca. Assim como determinadas regiões, 
entre elas o Rio Grande do Sul, são reconhecidas pelo uso do “tu”, os paulistanos são identificados pelo 
uso de “você”, assim como o mineiro pelo uso de “ocê”.
• Dialetos na dimensão social: são variações de acordo com a classe social a que pertencem 
os usuários da língua. São consideradas variedades dialetais de natureza social os jargões 
profissionais ou de determinadas classes sociais bem definidas como grupos (artistas, médicos, 
professores, marginais, favelados, entre outros). Nesse contexto, a gíria é uma forma de dialeto 
social.
Figura 4 – Dimensão social
O uso do plural varia de um falante escolarizado para um que não o seja. O primeiro dirá “os meninos”, 
enquanto o segundo dirá “os menino”. A marcação do plural apenas em uma das palavras (normalmente 
o artigo ou outra palavra que acompanhe o substantivo) é característica da fala do indivíduo não 
escolarizado.
Entretanto, esse mesmo recurso pode ser utilizado por falante considerado culto (cujo critério de 
classificação é o nível universitário de escolaridade) em situação informal de comunicação.
• Dialetos na dimensão da idade: são variações relativas ao modo de usar a língua por pessoas 
de idades diferentes, em faixas etárias diversas – adultos, velhos, crianças, jovens.
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Figura 5
• Dialetos na dimensão do sexo: são variações de acordo com o sexo de quem fala.
Um garoto pode expressar-se diferentemente de uma garota em uma mesma situação comunicativa. 
Ela poderá dizer “ganhei uma blusinha maravilhosa!”, uma vez que o uso do diminutivo é marca 
da fala feminina, o que causaria estranhamento na fala masculina.
Figura 6
Veja que o uso do aumentativo é uma marca da fala masculina, especialmente do jovem que necessita 
expressar sua virilidade.
• Dialetos na dimensão da geração (ou variação histórica): são estágios no desenvolvimento 
da língua.
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Figura 7
• Dialetos na dimensão da função: são variações na língua decorrentes da função que o falante 
desempenha. Exemplo: plural majestático, em que governantes ou altas autoridades expressam 
seus desejos ou intenções com o pronome “nós”, que indica sua posição de representante do 
povo.
O mesmo falante pode variar sua forma de comunicação de acordo com o contexto. Daí a noção de 
registro da língua, para a qual há uma primeira divisão entre o que é formal e o que não é. Esse graude 
formalismo está ligado aos padrões da escrita e da oralidade. Quanto mais próximo do primeiro, mais 
formal, quanto mais próximo do segundo, mais informal e/ou coloquial.
4 vArIAção de reGIStro
O segundo grupo de variação é o das variações de registro, que são classificadas por Travaglia (1998) 
em três grupos: grau de formalismo, modo e sintonia.
• Grau de formalismo: escala de formalidade, isto é, uso dos recursos da língua, variando o 
cuidado e apuro de acordo com a situação e com a maior variedade de recursos utilizados e 
aproximando-se cada vez mais da língua padrão e culta em seus usos mais “sofisticados”.
• Variação de modo é entendida como a língua falada em contraposição à língua escrita.
Exemplos:
(1) A tarefa de lançar as bases da nova gramática é muito longa e complexa; devemos, portanto, 
deixá-la para a próxima semana.
(2) A nova gramática do português, ela vai ser muito difícil a gente escrever. Melhor a gente deixar 
ela pra semana que vem (Perini, 2005).
O exemplo 1 está mais próximo do texto escrito, ao passo que o exemplo 2 parece ser a transcrição 
de uma fala espontânea, portanto, mais próxima da oralidade.
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A língua escrita e a falada apresentam as seguintes diferenças, segundo Travaglia (1998, p. 52):
• A língua falada pode usar recursos do nível fonológico que na escrita não podem ser usados 
(entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos sons, entre outros).
• Na língua falada aparecem truncamentos (de palavras e frases), hesitações, repetições, retomadas 
e correções que não aparecem na língua escrita.
Para Travaglia (1998), na interação face a face, no texto oral, é possível:
que o locutor observe as reações do interlocutor e formule, explicações, 
repetições, reformulações, cortes da frase etc. Observar marcas de 
relação entre o falante e o ouvinte na conversação como os marcadores 
conversacionais, tais como “uhm”, “certo?”
Sempre se valer de elementos do contexto imediato de situação e formular 
frases que seriam incompreensíveis na escrita sem a formulação de um prévio 
quadro de referência, o que não é necessário na língua falada (TRAVAGLIA, 
1998, p. 52).
O texto de Millôr ilustra bem essa questão.
“As mulheres têm uma maneira de falar
que eu chamo de vago-específica”.
Richard Gehman
–Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
–Junto com as outras?
–Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer 
coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
–Sim senhora. Olha, o homem está aí.
–Aquele de quando choveu?
–Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
–Que é que você disse a ele?
–Eu disse pra ele continuar.
–Ele já começou?
–Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
–É bom?
–Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
–Você trouxe tudo pra cima?
–Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora 
recomendou para deixar até a véspera.
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–Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão 
atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
–Está bem, vou ver como.
(MILLÔR, 1956)
Quadro 2
Variedades de modo
Variantes de grau de 
formalismo
Língua falada Língua escrita
Oratório
Formal (Deliberativo)
Coloquial
Coloquial distenso
Familiar
Hiperformal
Formal
Semiformal
Informal
Pessoal
(TRAVAGLIA, 1998, p. 54)
A língua escrita apresenta um conjunto de variedades de grau de formalismo, assim como a língua 
oral. Na língua escrita, há maior tendência à regularidade e, geralmente, à maior formalidade do que 
na língua falada.
Não podemos, entretanto, relacionar formalidade/informalidade a texto escrito/oral, respectivamente. 
Há uma variação desse grau de formalidade e/ou informalidade tanto na escrita quanto na oralidade. 
Podemos ter textos com grau extremo de formalidade na língua falada, bem como textos informais na 
língua escrita.
Além desses, há outros casos de variação no uso do mesmo código – a língua portuguesa. Para cada 
um, poderíamos dizer que há uma gramática própria, tendo em vista a adoção de uma norma pelos 
falantes de cada grupo. O que existe, portanto, são diferenças, variações de uso do mesmo código, não 
havendo melhor ou pior.
Como dito anteriormente, para a gramática tradicional há apenas a variedade padrão – a norma 
culta – em oposição à popular.
Todavia, temos de levar em consideração a pluralidade linguística para desenvolvermos a competência 
comunicativa enquanto usuários da língua. Essa pluralidade está diretamente ligada às variedades 
linguísticas.
Desse modo, Travaglia (1998, p. 54), com base em estudos já realizados por outros pesquisadores, 
propõe uma classificação do grau de formalismo:
• Oratório: elaborado, enfeitado, utilizado por especialistas, tais como advogados, sacerdotes, 
políticos e outros. É sempre reconhecido como apropriado para uma situação muito formal. O 
equivalente escrito do oratório é o hiperformal.
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• Deliberativo: quando se fala a grupos grandes ou médios, em que se excluem as respostas 
informais (conferências científicas normalmente são realizadas com esse nível de formalidade). O 
formal apresenta características semelhantes, numa forma de linguagem cuidada, na variedade 
culta e padrão, mas dentro do estilo escrito (bons jornais e revistas, por exemplo).
 observação
O falante seleciona qual das modalidades deve usar no evento 
comunicativo. Se ele se encontrar em uma situação que exija a formalidade, 
utilizará o modo oratório; caso contrário, escolherá o modo deliberativo.
• Coloquial: comumente utilizado no diálogo, em que os participantes interagem sem planejamento 
prévio, mas continuamente controlado. Caracteriza-se por construções gramaticais soltas, 
repetições frequentes, frases bem curtas, conectivos simples e léxico mais comum. Na escrita, o 
semiformal corresponde ao coloquial, mas aquele apresenta mais formalidade que este.
• Casual (coloquial distenso): completa integração entre falante e ouvinte, em que pode aparecer, 
por exemplo, o uso de gírias, indicador de relacionamento próprio de um grupo fechado. Exemplos 
desse nível são as conversações descontraídas entre amigos, colegas de trabalho etc. Quando esse 
nível corresponde à relação entre membros de uma família ou amigos íntimos, temos o grau 
informal.
• Íntimo: inteiramente familiar, particular, pessoal. Aparecem, portanto, elementos da linguagem 
afetiva com função emotiva. Esse grau íntimo pode tornar-se pessoal quando escrevemos recados 
para pessoas de nosso círculo familiar, em bilhetes ou lista de compras, por exemplo.
A partir das definições dadas, podemos verificar que hierarquicamente temos o oratório e o 
hiperformal como extremos de formalidade, seguidos do deliberativo e do formal. Do outro lado, temos 
o familiar e o pessoal e, um pouco acima, o casual (coloquial distenso) e o informal.
• Sintonia: quanto à terceira dimensão da classificação de registro, a sintonia, há pelo menos 
quatro distinções feitas por Travaglia (1998). São o status, a tenacidade, a cortesia e a norma.
• Status: um funcionário não fala da mesma forma com seu colega de trabalho e com seu chefe. 
Há variação de formas ou pronúncia, tom de voz que denotam respeito especial à pessoa a quem 
nos dirigimos, com a finalidade de se definirem as posições relativas de cada falante. Um homem 
pode diferenciar sua linguagem para falar com o filho e para falarcom sua esposa, por exemplo.
• Tenacidade: variação que ocorre em função do volume de informações ou conhecimentos que 
o falante supõe ter o ouvinte sobre o assunto. Podemos observar esse tipo de variação entre um 
artigo de divulgação científica, que é veiculado para um público leigo, e um artigo científico, 
destinado a um público específico, o acadêmico-científico.
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• Cortesia: variação que ocorre de acordo com a dignidade que o falante considera apropriada 
ao(s) seu(s) interlocutor(es) e/ou à ocasião. Essa variação vai da blasfêmia/obscenidade ao 
eufemismo.
• Norma: ao se dirigir ao seu interlocutor, o falante considera o que este julga “bom” em termos 
de linguagem. Isto é, a variedade linguística a ser utilizada será selecionada de acordo com os 
participantes da atividade comunicativa.
Essa variedade pode ser selecionada de acordo com critério regional, social, um registro mais ou 
menos formal e assim por diante.
Por assim, podemos sintetizar as variações apresentadas no seguinte quadro:
Quadro 3
Variação dialetal Variação de registro
Territorial (ou geográfica) Grau de formalismo
Social Modo
De idade Sintonia
De geração
De função
Enquanto falantes do português, devemos usar adequadamente a variação, seja ela dialetal ou 
de registro. Enquanto interlocutores (ouvintes ou leitores), devemos respeitar as diferenças que 
não são erros, como vimos, mas apenas formas diferentes de realização do mesmo código: a língua 
portuguesa.
 Saiba mais
Leia Bagno, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo, 
Contexto, 1997.
Consulte o site: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u60.
jhtm>. Acesso em: 24 mai. 2011.
 resumo
Lembre-se de que, nesta unidade, vimos que língua é um código 
convencionado na e pela sociedade e linguagem é qualquer forma de 
expressão, portanto, o conceito do segundo abarca o primeiro.
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Vimos também que o conceito de gramática deve ser considerado 
no plural, lembrando que todos temos uma gramática internalizada 
(a que dominamos e utilizamos espontaneamente), além de se poder 
classificar a gramática como descritiva (a que descreve a língua), 
tanto como normativa (a que institui o padrão de uso). Há ainda 
outras propostas de classificação: implícita, explícita e reflexiva, 
às quais se relacionam atividades linguísticas, epilinguísticas e/ou 
metalinguísticas.
Levando em consideração tanto o objeto de estudo quanto os 
objetivos, temos ainda: gramática contrastiva, gramática geral, 
gramática universal, gramática histórica e gramática comparada.
Quanto ao conceito de norma, ele pode ser associado ao 
adjetivo normal ou ao adjetivo normativo. O primeiro corresponde 
às normas de uso da língua, estabelecidas no interior das 
comunidades linguísticas, o que pode sofrer variação. Já o adjetivo 
normativo corresponde à gramática que prescreve “o bem falar e o 
bem escrever”. Cada uma dessas gramáticas pode ser vinculada ao 
termo “culta”, havendo, assim, a norma culta “normal” e a norma 
culta “normativa”.
A variação linguística pode ser vista do ponto de vista da dimensão 
dos dialetos (ou falares) e, nesse caso, variar de uma região para outra, ou 
de uma classe social para outra, bem como entre os sexos, gerações, faixas 
etárias ou funções sociais. A língua pode, ainda, variar enquanto registro, 
isto é, o mesmo falante pode variar o uso dela tendo em vista o grau de 
formalismo, o modo e a sintonia.
 Questões
Questão 1 (Enade, 2007). Vamos supor que você recebeu de um amigo de infância e colega de 
escola um pedido, por escrito, vazado nos seguintes termos:
“Venho mui respeitosamente solicitar-lhe o empréstimo do seu livro Redação para Concurso, para 
fins de consulta escolar”.
Essa solicitação em tudo se assemelha à atitude de uma pessoa que:
A) Comparece a um evento solene vestindo smoking completo e cartola.
B) Vai a um piquenique engravatado, vestindo terno completo e calçando sapatos de verniz.
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C Vai a uma cerimônia de posse usando um terno completo e calçando botas.
D) Frequenta um estádio de futebol usando sandálias de couro e bermudas de algodão.
E) Veste terno completo e usa gravata para proferir uma conferência internacional.
Resposta correta: alternativa B
Análise das alternativas:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa:
Comparecer a um ato solene com roupa social é adequado.
B) Alternativa correta.
Justificativa:
Estabelecendo-se uma analogia entre o tipo de roupa e o nível de linguagem, podemos considerar 
que o nível formal corresponde ao traje social, enquanto que o informal corresponde ao traje do 
dia a dia. No caso do enunciado, o rapaz usou uma linguagem excessivamente formal em uma 
situação que exigia a coloquialidade. Trata-se, portanto, de uma inadequação. O piquenique exige 
uma vestimenta mais à vontade, é inadequado ir a um passeio desse tipo com traje social, como 
ilustra a questão.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa:
O uso de botas destoa do terno completo, seria como falar uma gíria no meio de um discurso formal.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa:
Ir a um jogo com esse tipo de roupa é adequado.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa:
O uso do traje social é adequado em uma conferência internacional.
Questão 2 (adaptada – Enade, 2006). Analise a charge reproduzida na figura:
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Considere as seguintes afirmativas:
I – Pelo texto, observa-se que os sinônimos produzem sempre o mesmo efeito de sentido no texto.
II – Observa-se que o personagem valoriza a cultura regional.
III – Pelo texto, percebe-se que o personagem se refere a dois doces distintos.
Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s):
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resolução desta questão na Plataforma.

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