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0 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL MARCO ANTÔNIO PRESOTTO MAPEAMENTO ACÚSTICO PARA A ZONA CENTRAL DE CAXIAS DO SUL - RS: UMA FERRAMENTA DE CONTROLE E AUXÍLIO NO CUMPRIMENTO DE NORMAS DE CONFORTO ACÚSTICO CAXIAS DO SUL 2017 1 MARCO ANTÔNIO PRESOTTO MAPEAMENTO ACÚSTICO PARA A ZONA CENTRAL DE CAXIAS DO SUL - RS: UMA FERRAMENTA DE CONTROLE E AUXÍLIO NO CUMPRIMENTO DE NORMAS DE CONFORTO ACÚSTICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade de Caxias do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Civil. Área de concentração: Acústica Orientador: Prof. MSc. Márlon Augusto Longhi CAXIAS DO SUL 2017 3 Dedico este trabalho a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente na sua completude. Em especial aos meus pais Áureo e Luciane por todo incentivo e apoio dado. 4 AGRADECIMENTOS Aos meu pais, Áureo e Luciane, pelo exemplo e educação que sempre me deram, além do incentivo e apoio dado em todos momentos para que eu atingisse meus objetivos acadêmicos e pessoais; Ao meu orientador, professor Márlon Augusto Longhi por todo apoio e por ter aceito o desafio de me auxiliar no desenvolvimento deste trabalho; Aos meus professores da graduação em Engenharia Civil da UCS por terem contribuído de forma excepcional na minha formação acadêmica; A todos meus colegas e amigos do curso e de fora dele pelo companheirismo ao longo desta jornada, em especial aos amigos do “La Pelota” e da turma “Gurizada Buena” do churrasco de todo semestre, com tempo bom ou ruim; A toda equipe do ISAM (Instituto de Saneamento Ambiental), em especial ao professor Taison Anderson Bortolin, por ter me ensinado muito como meu orientador na bolsa de pesquisa juntamente com todos colegas bolsistas pelas conversas, brincadeiras e diversas risadas que tornavam as manhãs e tardes de pesquisa muito mais divertidas; Aos membros da banca examinadora, professor Dr. Daniel Tregnano Pagnussat e professora Drª. Lais Zuccheti, pelas análises e considerações feitas que contribuíram para a evolução e conclusão deste trabalho; A todos, o meu sincero e profundo agradecimento. 5 “Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las.” Sêneca 6 RESUMO PRESOTTO, M. A. Mapeamento acústico para a zona central de Caxias do Sul – RS: Uma ferramenta de controle e auxílio no cumprimento de normas de conforto acústico. 2017. 106 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Civil). Áea do Conhecimento de Ciências Exatas e Engenharias, UCS – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul – RS, 2017. Este trabalho teve por objetivo principal desenvolver um mapa acústico para uma área de aproximadamente 400.000 m² localizada na zona central do município de Caxias do Sul – RS. Caxias do Sul é a segunda cidade mais populosa do estado do Rio Grande do Sul, e assim como outros centros urbanos brasileiros e do mundo, já sofre com o aumento da poluição sonora, caracterizada pelo ruído urbano. Neste contexto o mapeamento acústico se torna imprescindível, pois torna mais clara a visualização dos níveis de ruído em diferentes locais da cidade. Para tanto foi realizada primeiramente uma revisão bibliográfica sobre os assuntos que abrangem o tema, para em um segundo momento aplicar a metodologia proposta neste trabalho que foi baseada na NBR 10151/2000 e em estudos já realizados. A metodologia abordou medições em campo simultâneas de nível de ruído (𝐿𝐴𝑒𝑞) e de fluxo de tráfego, realizadas utilizando um medidor de nível sonoro e uma máquina fotográfica digital, além da interpolação dos resultados de 𝐿𝐴𝑒𝑞 no software ArcGIS 10.3 para geração do mapa acústico da área de estudo em formato bidimensional (2D). As medições foram realizadas em dias úteis, de segundas a sextas-feiras no horário de pico de tráfego (17:00h as 18:30h), em um total de 15 pontos, sendo que cada ponto foi analisado 7 vezes por medições com duração de 5 minutos. Como resultado, pode-se constatar que durante todas as 101 medições realizadas os níveis de ruído estavam acima dos 60 dB (A) estabelecidos pela normativa federal e municipal para a área analisada, tendo como 𝐿𝐴𝑒𝑞 mínimo 62,3 dB e máximo 82,4 dB. Pode-se concluir que o mapeamento acústico é uma ferramenta fundamental para auxiliar na visualização dos níveis de ruído em determinado local, permitindo a todos a fácil visualização da situação acústica da área de estudo, contribuindo tanto para que planos de redução de ruído possam ser criados como também para amparar engenheiros e arquitetos na escolha dos materiais utilizados nos sistemas de vedação vertical externa para o desenvolvimento de empreendimentos com melhores desempenhos acústicos. Palavras-chave: Mapa Acústico. Mapa de Ruído. Poluição Sonora. Ruído Urbano. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação do som: zonas de compressão e rarefação ...................................... 21 Figura 2 – Faixa ou gama audível de frequências: infrassons, audível e ultrassons ................ 23 Figura 3 – Classificação dos ruídos .......................................................................................... 26 Figura 4 – Exemplo de fontes sonoras: (a) pontual e (b) linear ............................................... 27 Figura 5 – Esquema dos mecanismos de atenuação/amplificação sonora ao ar livre .............. 28 Figura 6 – Fenômenos de absorção, reflexão e transmissão sonora ......................................... 29 Figura 7 – Efeito dos gradientes de temperatura na propagação de raios sonoros ................... 31 Figura 8 – Efeito do vento na propagação de raios sonoros ..................................................... 32 Figura 9 – Zona de sombra acústica ......................................................................................... 33 Figura 10 – Equivalência acústica entre veículo pesado e veículos leves ................................ 34 Figura 11 – Espaços acústicos: (a) aberto e (b) fechado .......................................................... 36 Figura 12 – Processamento do som nos seres humanos ........................................................... 37 Figura 13 – Nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝑒𝑞) ........................................................... 41 Figura 14 – Cuvas de ponderação ............................................................................................ 42 Figura 15 – Exemplo de escala de cores apresentada em mapas de ruído ............................... 47 Figura 16 – Mapa de ruído gerado por meio de software de informação geográfica ............... 47 Figura 17 – Mapas de ruído de fachadas .................................................................................. 48 Figura 18 – Papel do monitoramento acústico nagestão da qualidade do ar ........................... 49 Figura 19 – Mapas acústicos europeus ..................................................................................... 50 Figura 20 – Mapas acústicos brasileiros ................................................................................... 51 Figura 21 – Sequência metodológica do trabalho .................................................................... 52 Figura 22 – Mapa de localização da área de estudo em Caxias do Sul - RS ............................ 53 Figura 23 – Localização dos pontos de medição de ruído e de tráfego na área de estudo ....... 55 Figura 24 – Equipamentos utilizados para as medições acústicas e de tráfego ........................ 58 Figura 25 – Sequência metodológica para o desenvolvimento do mapa acústico.................... 59 Figura 26 – Localização dos pontos de medição em vista aérea do centro da cidade .............. 61 Figura 27 – Vista geral do ponto 1 ........................................................................................... 62 Figura 28 – Vista geral do ponto 2 ........................................................................................... 63 Figura 29 – Vista geral do ponto 3 ........................................................................................... 64 Figura 30 – Vista geral do ponto 4 ........................................................................................... 65 Figura 31 – Vista geral do ponto 5 ........................................................................................... 66 Figura 32 – Vista geral do ponto 6 ........................................................................................... 67 8 Figura 33 – Vista geral do ponto 7 ........................................................................................... 68 Figura 34 – Vista geral do ponto 8 ........................................................................................... 69 Figura 35 – Vista geral do ponto 9 ........................................................................................... 70 Figura 36 – Vista geral do ponto 10 ......................................................................................... 71 Figura 37 – Vista geral do ponto 11 ......................................................................................... 72 Figura 38 – Vista geral do ponto 12 ......................................................................................... 73 Figura 39 – Vista geral do ponto 13 ......................................................................................... 74 Figura 40 – Vista geral do ponto 14 ......................................................................................... 75 Figura 41 – Vista geral do ponto 15 ......................................................................................... 76 Figura 42 – Mapa acústico para o horário de pico com dados de 𝐿𝐴𝑒𝑞 médio........................ 84 Figura 43 – Mapa acústico para o horário de pico com dados de L10 médio .......................... 85 Figura 44 – Mapa acústico para o horário de pico com dados de L90 médio .......................... 86 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1– Níveis de pressão sonora coletados no ponto 1 ...................................................... 62 Gráfico 2 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 2 ..................................................... 63 Gráfico 3– Níveis de pressão sonora coletados no ponto 3 ...................................................... 64 Gráfico 4 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 4 ..................................................... 65 Gráfico 5 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 5 ..................................................... 66 Gráfico 6 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 6 ..................................................... 67 Gráfico 7 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 7 ..................................................... 68 Gráfico 8 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 8 ..................................................... 69 Gráfico 9 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 9 ..................................................... 70 Gráfico 10 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 10 ................................................. 71 Gráfico 11 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 11 ................................................. 72 Gráfico 12 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 12 ................................................. 73 Gráfico 13 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 13 ................................................. 74 Gráfico 14 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 14 ................................................. 75 Gráfico 15 – Níveis de pressão sonora coletados no ponto 15 ................................................. 76 Gráfico 16 – Níveis de pressão sonora médio após todas medições ........................................ 78 Gráfico 17 – Relação nível de pressão sonora equivalente média x fluxo médio de veículos . 79 Gráfico 18 – Coeficientes de determinação R² para as equações geradas em cada ponto ....... 82 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Impactos do ruído sobre a saúde humana .............................................................. 38 Quadro 2 – Pressões sonoras e níveis de pressão sonora com sensação subjetiva associada... 40 Quadro 3 – Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos ............................ 44 Quadro 4 – Limites municipais de ruído para a cidade de Caxias do Sul - RS ........................ 45 Quadro 5 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 1 .......................... 62 Quadro 6 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 2 .......................... 63 Quadro 7 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 3 .......................... 64 Quadro 8 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 4 .......................... 65 Quadro 9 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 5 .......................... 66 Quadro 10 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 6 ........................ 67 Quadro 11 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 7 ........................ 68 Quadro 12 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 8 ........................ 69 Quadro 13 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 10 ...................... 71 Quadro 14 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 11 ...................... 72 Quadro 15 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 12 ...................... 73 Quadro 16 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 13 ...................... 74 Quadro 17 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 14 ...................... 75 Quadro 18 – Equações de regressão para estimar o nível de ruído no ponto 15 ...................... 76 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Parâmetros para medições em campo de diferentes metodologias ......................... 53 Tabela 2 – Sequência de medição em campo adotada .............................................................. 57 Tabela 3 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 1 ..................................... 62 Tabela 4 – Volume de tráfego e níveisde pressão sonora no ponto 2 ..................................... 63 Tabela 5 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 3 ..................................... 64 Tabela 6 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 4 ..................................... 65 Tabela 7 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 5 ..................................... 66 Tabela 8 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 6 ..................................... 67 Tabela 9 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 7 ..................................... 68 Tabela 10 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 8 ................................... 69 Tabela 11 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 9 ................................... 70 Tabela 12 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 10 ................................. 71 Tabela 13 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 11 ................................. 72 Tabela 14 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 12 ................................. 73 Tabela 15 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 13 ................................. 74 Tabela 16 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 14 ................................. 75 Tabela 17 – Volume de tráfego e níveis de pressão sonora no ponto 15 ................................. 76 Tabela 18 – Média dos níveis acústicos obtidos em campo ..................................................... 77 Tabela 19 – Resultados de nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) ................................. 80 Tabela 20 – Classificação dos resultados obtidos .................................................................... 80 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente dB Decibel DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito et al. e outros IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISO International Organization for Standardization – Organização Internacional para Padronização 𝐿𝐴𝑒𝑞 Nível de Pressão Sonora Equivalente (ponderado na curva A) 𝐿𝑒𝑞 Nível de Pressão Sonora Equivalente L10 Nível de Pressão Sonora obtido em 10 % do tempo de medição L90 Nível de Pressão Sonora obtido em 90 % do tempo de medição NBR Norma Técnica Brasileira NCA Nível de Critério de Avaliação ºC Grau Celsius Pa Pascal PNMA Política Nacional do Meio Ambiente SVVE Sistema de Vedação Vertical Externa UCS Universidade de Caxias do Sul WHO World Health Organization – Organização Mundial da Saúde 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 16 1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 17 1.2 QUESTÃO DE PESQUISA ............................................................................... 17 1.3 OBJETIVOS DO TRABALHO ......................................................................... 18 1.3.1 Objetivo principal ............................................................................................. 18 1.3.2 Objetivos secundários ....................................................................................... 18 1.4 HIPÓTESE ......................................................................................................... 18 1.5 PRESSUPOSTO ................................................................................................. 18 1.6 DELIMITAÇÃO ................................................................................................. 19 1.7 LIMITAÇÕES .................................................................................................... 19 1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................... 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 21 2.1 SOM E ONDAS SONORAS .............................................................................. 21 2.1.1 Intensidade, potência e pressão sonora ........................................................... 23 2.2 RUÍDO ................................................................................................................ 25 2.2.1 Classificação dos ruídos ................................................................................... 25 2.3 CAMPO SONORO ............................................................................................. 26 2.4 FONTES SONORAS .......................................................................................... 26 2.5 PROPAGAÇÃO SONORA AO AR LIVRE ...................................................... 27 2.5.1 Absorção, reflexão e transmissão sonora ........................................................ 28 2.5.2 Difração sonora ................................................................................................. 29 2.5.3 Efeito do ar ........................................................................................................ 30 2.5.4 Efeito do solo ..................................................................................................... 30 2.5.5 Efeito da vegetação ........................................................................................... 30 2.5.6 Efeito da inclinação do terreno ........................................................................ 31 2.5.7 Efeito da temperatura ...................................................................................... 31 2.5.8 Efeito do vento ................................................................................................... 31 2.5.9 Efeito de barreiras acústicas ............................................................................ 32 2.6 RUÍDO URBANO .............................................................................................. 33 2.6.1 Ruído de tráfego urbano .................................................................................. 34 14 2.6.2 Forma urbana e comportamento do som ....................................................... 35 2.7 IMPACTOS DECORRENTES DO RUÍDO ...................................................... 36 2.7.1 Impactos no homem .......................................................................................... 37 2.7.2 Impactos na economia ...................................................................................... 38 2.8 MEDIÇÃO DO RUÍDO URBANO ................................................................... 39 2.8.1 Nível de pressão sonora .................................................................................... 39 2.8.2 Nível de pressão sonora equivalente ............................................................... 40 2.8.3 Níveis estatísticos .............................................................................................. 41 2.8.4 Curvas de ponderação ...................................................................................... 41 2.8.5 Medidor de nível sonoro ................................................................................... 42 2.9 LEGISLAÇÕES E NORMAS ............................................................................ 43 2.9.1 Cenário nacional ............................................................................................... 43 2.9.2 Cenário municipal ............................................................................................ 45 2.10 MAPEAMENTOACÚSTICO ........................................................................... 46 2.10.1 Trabalhos realizados ...................................................................................... 49 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 52 3.1 ÁREA DE ESTUDO .......................................................................................... 52 3.2 METODOLOGIA DAS MEDIÇÕES EM CAMPO .......................................... 53 3.2.1 Número de pontos, dias e horários de medição .............................................. 55 3.2.2 Grandezas acústicas e de trágego coletadas ................................................... 57 3.3 DESENVOLVIMENTO DE EQUAÇÕES DE RUÍDO .................................... 59 3.4 DESENVOLVIMENTO DO MAPA ACÚSTICO ............................................ 59 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 61 4.1 ANÁLISE GERAL ............................................................................................. 77 4.2 ANÁLISE DAS EQUAÇÕES GERADAS ........................................................ 82 4.3 MAPAS ACÚSTICOS ....................................................................................... 83 4.4 SUGESTÕES PARA REDUZIR O RUÍDO NA ÁREA DE ESTUDO ............ 88 5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 90 5.1 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS .............................................. 92 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 94 APÊNDICE A .................................................................................................................. 104 16 1 INTRODUÇÃO Segundo Sousa et al. (2010) desde o início da história, o desenvolvimento urbano esteve diretamente ligado à acústica, denominada por Bistafa (2011) como a ciência do som, englobando sua geração, propagação e efeitos. Este desenvolvimento urbano acelerado nas cidades, chamado de urbanização, fez com que surgissem diversos problemas decorrentes da falta de planejamento, podendo se destacar entre eles a poluição sonora (SOUZA, 2011). Para Brown (1987), a poluição sonora pode ser considerada como um problema de grande dimensão para os moradores de centros urbanos, e a menos que haja um controle desta, o número de prejudicados só tende a aumentar no futuro devido ao crescimento das cidades juntamente com o aumento da frota de veículos e consequente aumento do ruído de tráfego, apontado como principal causador de ruído urbano nas cidades (TSAI; LIN; CHEN, 2009; ZANNIN et al., 2002). Arndt, Philips e Barbosa (2010) destacam o ruído urbano como caracterizador da poluição sonora nas cidades, sendo considerado um ruído um tanto complexo, por ser um somatório de diversos ruídos originários de fontes variadas. Para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2011), a poluição sonora está entre os três principais agentes de poluição ambiental que mais atingem a população juntamente com a poluição da água e do ar e a exposição do indíviduo a níveis elevados de poluição sonora podem provocar efeitos negativos relacionados à saúde, como estresse e insônia, ocasionando a perda auditiva em casos mais graves. Também são vistos impactos negativos na economia com o gasto em saúde e a desvalorização de imóveis provocada pelo excesso de ruído (GERGES, 2000; SANDBERG, 2001; MOTA, 2006; BISTAFA, 2011). No entanto, devido aos efeitos ocasionados pelo excesso deste ruído dificilmente serem percebidos em um primeiro momento, os governantes priorizam outros interesses (SOARES, 2013). Desta forma, este trabalho buscou obter uma solução técnica e educativa com o intuito de aumentar o conhecimento acerca do ruído urbano e assim auxiliar tanto o poder público e os profissionais ligados a área (construtores, engenheiros civis, arquitetos e urbanistas, entre outros), como também a população em geral, com o fornecimento de dados atualizados dos níveis de ruído a partir da elaboração de um mapa acústico de uma área no centro de Caxias do Sul – RS. Segundo Pinto e Mardones (2009), o mapeamento acústico permite a fácil visualização dos pontos críticos possibilitando a adoção de ações e medidas necessárias para o 17 controle da poluição sonora e cumprimento das normas e leis vigentes de conforto acústico e ruído urbano. 1.1 JUSTIFICATIVA A cidade de Caxias do Sul - RS possuia uma população aproximada de 436 mil habitantes no ano de 2010, tendo segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) uma estivatima de crescimento populacional de 10,02% até 2016, chegando a uma população estimada de 479 mil habitantes (IBGE, 2017). Junto a isso, observa-se também o expressivo aumento de 31,12% no número de veículos na cidade, passando dos quase 238 mil veículos em 2010 para mais de 311 mil veículos em abril de 2017, sendo este aumento superior ao de cidades maiores como Porto Alegre (22,94%) e São Paulo (23,32%) no mesmo período (DENATRAN, 2017). Este aumento da frota de veículos ocasiona a saturação das vias de circulação comprometendo o conforto acústico da cidade, visto que é o tráfego de veículos o maior emissor de ruído urbano (NUNES; DORNELLES; SOARES, 2000). De acordo com Bistafa (2011), o ruído está presente 24 horas por dia nas atividades humanas sendo apontado como um dos principais causadores da diminuição da qualidade de vida, principalmente nas grandes cidades, sendo que este problema não tende a desaparecer com o tempo. Assim sendo, a elaboração de um mapa acústico sobre o nível de pressão sonora atual para a região central, pode ser extremamente interessante, visto que os resultados gerados poderão contribuir tanto para que medidas de atenuação do ruído urbano sejam tomadas como também para auxíliar na escolha dos materiais para o desenvolvimento de empreendimentos com melhores desempenhos acústicos (ANDRADE, 2012; ANSAY, 2013; MARQUES, 2010). Considerando os problemas ocasionados pelo excesso de ruído, os benefícios da utilização de um mapa acústico para quantificar e ilustrar o problema crescente do ruído urbano, e pela ainda inexistência de um trabalho que contemple este assunto no município de Caxias do Sul – RS, esse estudo torna-se de extrema relevância para a cidade e, portanto, justifica-se. 1.2 QUESTÃO DE PESQUISA A partir do que foi apresentado se formulou a questão central que norteou o trabalho: A quais níveis de ruído está exposta a população que utiliza ou reside na área central do município de Caxias do Sul - RS? 18 1.3 OBJETIVOS DO TRABALHO A seguir, são apresentados os objetivos que guiam este trabalho, divididos em objetivo principal e objetivos secundários. 1.3.1 Objetivo principal O principal objetivo deste trabalho consiste em elaborar um mapa de ruído urbano de uma determinada área na região central do município de Caxias do Sul - RS. 1.3.2 Objetivos secundários Como objetivos secundários deste trabalho têm-se: a) avaliar os níveis equivalentes de pressão sonora na área central do município; b) quantificar o tráfego veicular urbano e relacioná-lo com os níveis de pressão sonora com o objetivo de formular equações que estimem o ruído por meio do fluxo de tráfego; c) identificar as áreas da região central com níveis de ruído acima dos permitidos pela legislação municipal (Lei Complementar 376/2010) e pela normativa nacional(NBR 10151/2000); d) propor possíveis alternativas para auxilir na atenuação dos níveis de ruído nestas áreas; 1.4 HIPÓTESE A hipótese deste trabalho é que a maior parte da área central do município de Caxias do Sul possui níveis de pressão sonora acima dos permitidos em normas e leis vigentes. 1.5 PRESSUPOSTO Se pressupõe que tanto a metodologia quanto os equipamentos e materiais utilizados neste trabalho são suficientes para realizar o mapeamento acústico com certa precisão. 19 1.6 DELIMITAÇÃO O mapeamento acústico será realizado somente para uma área de aproximadamente quatrocentos mil metros quadrados (400.000 m²), previamente delimitada pelo autor, localizada no centro do município de Caxias do Sul no horário de pico do tráfego, considerado pelo autor como o intervalo compreendido entre as 17h e 18h30min. 1.7 LIMITAÇÕES São consideradas limitações deste trabalho: a) a utilização do software ArcGIS para a montagem do mapa acústico 2D devido ao alto custo de aquisição de um software acústico, não considerando portanto a influência de fenômenos como reflexão, absorção, difração e transmissão sonora; b) a utilização de um medidor de nível sonoro não integrador, sendo necessário calcular o nível de pressão sonoa equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) no software Excel; c) a utilização de somente um equipamento de medição, o que acarreta em um elevado tempo de coleta de dados para uma área considerada pequena; d) a coleta de dados de nível de pressão sonora em campo depende da situação climática favorável, isto é, para que possam ocorrer são necessários dias de sol e com vento fraco, de forma a não prejudicar os resultados, podendo aumentar assim o período de coleta. 1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está dividido em 5 capítulos. O capítulo um trata da introdução ao tema abordado, onde são expostas as considerações iniciais, a justificativa para a existência deste trabalho, os objetivos, as limitações e outras informações relevantes para a realização deste. No segundo capítulo é apresentada a fundamentação teórica, tendo a finalidade de embasar todos conceitos utilizados neste presente estudo, englobando o conceito de som e ondas sonoras, a diferença entre som e ruído, a forma de propagação sonora ao ar livre e as influências do meio ambiente nesta propagação, a definição de ruído urbano e os impactos ocasionados por este, as legislações e normativas de ruído urbano vigentes a nível municipal e nacional, assim como a definição e importância da elaboração de mapas acústicos. No fim do capítulo ainda são descritos alguns trabalhos já realizados no Brasil e no exterior que possuiam objetivos 20 semelhantes ao deste. Já no capítulo três, tem-se a descrição da metodologia adotada e dos materiais utilizados para a realização do mapeamento acústico na área central do município de Caxias do Sul – RS, apresentando as etapas a serem seguidas para conclusão do mesmo. Os capítulos 4 e 5 apresentam os resultados obtidos, os mapas acústicos desenvolvidos, as discussões e análises pertinentes, além das conclusões e sugestões para futuros trabalhos. 21 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 SOM E ONDAS SONORAS Segundo Saliba (2000) qualquer vibração ou onda mecânica que pode ser escutada é denominada som. Ao ocorrer uma vibração, as moléculas existentes no meio, a exemplo do ar, sofrem compressões e rarefações, devido a variação de pressão produzida, dando origem assim a propagação de ondas sonoras que estimularão o aparelho auditivo (Figura 1). Esta propagação de energia mecânica ocorre em meios materiais (sólidos, líquidos ou gasosos) por meio de movimentos ondulatórios propagados em todas direções (CARVALHO, 2010). Para Bistafa (2011) o termo som possui uma conotação mais ampla, não se referindo somente ao fenômeno no ar responsável pela sensação de audição, como também por tudo aquilo que é governado por princípio físico semelhante. Para o mesmo autor, som é um movimento ondulatório mecânico, podendo ser definido como como uma variação da pressão ambiente detectável pelo sistema auditivo. Figura 1 – Representação do som: zonas de compressão e rarefação Fonte: Adaptado de FQ.PT (2016). Fisicamente, uma onda é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e periódica no tempo (FERNANDES, 2002). Halliday et al. (2012) descreve que a palavra onda indica uma larga distribuição de energia que ocupa os espaços pelos quais ela passa, sendo as ondas sonoras, mencionadas em todo este trabalho, enquadradas como ondas mecânicas, necessitando de um meio físico para se propagar. Além disso, segundo os mesmos 22 autores, elas são classificadas como tridimensionais, visto que sua propagação ocorre em todas as direções. As ondas sonoras se propagam através do ar a uma velocidade de aproximadamente 330 m/s quando a 0 ºC, porém esta velocidade depende das caraterísticas do meio, como a umidade, pressão atmosférica e temperatura, fazendo com que a velocidade aumente para 343 m/s a 20 ºC por exemplo (CARVALHO, 2010). De acordo com Goelzer, Hansen e Sehrndt (2001), as ondas sonoras tem como propriedades os seguintes elementos: a) comprimento de onda (λ): descreve a distância percorrida pela onda para que um ciclo se complete na curva de variação da pressão sonora versus distância, podendo ser descrito conforme equação 1 (BISTAFA, 2011); λ = 𝐶 𝑓 (1) Onde: λ: comprimento de onda (m); C: velocidade do som (Aproximadamente 340 m/s); f: frequência (Hz). b) amplitude (A): descreve a máxima pressão ou o módulo do deslocamento máximo sofrido pelos elementos a partir da posição de equilíbrio; c) período (T): descreve o intervalo de tempo, em segundos, decorrido para que um ciclo se complete na curva de variação da pressão com o tempo. Pode ser definido também como o inverso da frequência (HALLIDAY et al., 2012); d) frequência (f): descreve a quantidade de períodos (T) existententes em um segundo, isto é, o número de variações da pressão que ocorrem durante um segundo, expresso por ciclos por segundo ou Hertz, podendo ser obtido pela equação 2. 𝑓 = 1 𝑇 (2) Onde: f: frequência (Hz); T: período (s). 23 Saliba (2000) destaca que a orelha humana pode detectar normalmente sons entre 20 e 20.000Hz (Figura 2). As vibrações com frequência abaixo de 20 Hz são chamadas de infrassons e acima de 20.000 Hz, ultrassons, sendo que as frequências mais altas possuem um maior número de oscilações, correspondendo aos sons mais agudos, enquanto que as frequências mais baixas possuem menor número de oscilações, correspondendo aos sons mais graves (BISTAFA, 2011; MURGEL, 2007). Figura 2 – Faixa ou gama audível de frequências: infrassons, audível e ultrassons Fonte: Mateus (2008). 2.1.1 Intensidade, potência e pressão sonora Para Fernandes (2002), intensidade se caracteriza como a quantidade de energia contida no movimento vibratório, estando diretamente ligada a maiores ou menores amplitudes da onda sonora. Segundo Carvalho (2010), é a quantidade de energia com que o som chega ao receptor e para Bistafa (2011) é definida como a quantidade média de energia, na unidade de tempo, que atravessa determinada área perpendicular a direção de propagação da onda,funcionando como um indicador da magnitude, direção e sentido de propagação da onda sonora. Como energia na unidade de tempo é definido por potência (watts), a unidade de intensidade sonora é o watt por metro quadrado (W/m²), podendo ser definida pela equação 3. 𝐼 = 𝑃𝑒𝑓𝑖𝑐𝑎𝑧(𝑟) 2 𝜌𝑐 (3) Onde: 𝑃𝑒𝑓𝑖𝑐𝑎𝑧(𝑟) 2 : valor eficaz da pressão sonora à distância r da fonte sonora (Pa); ρc: impendância característica (rayls) ou (kg/m².s). 24 Potência sonora por sua vez, pode ser definida como a quantidade de energia transmitida por uma fonte sonora (VALLE, 2009). A potência sonora indica a capacidade de uma fonte sonora em gerar som, sendo uma característica intrínseca da fonte sonora. Como a unidade de intensidade sonora é potência por unidade de área, então para uma onda esférica, ao se multiplicar a intensidade sonora pela área da superfície esférica pulsante, se obtém a potência sonora transmitida, sendo esta descrita pela equação 4 (BISTAFA, 2011). 𝑊 = 𝐼 . 4𝜋𝑟2 (4) Onde: W: potência sonora (watts); I: intensidade sonora (W/m²); r: distância da fonte sonora (m). Pressão sonora, pode ser definida como uma grandeza física fortemente ligada com a sensação subjetiva de intensidade sonora, ou seja, o quão intenso é determinado som que escutamos. Sua relação com a intensidade e potência de um som é dada pela equação 5, que expõe que para uma fonte sonora qualquer que transmite uma potência sonora W, a intensidade da fonte sonora e o quadrado do valor eficaz da pressão sonora serão inversamente proporcionais ao quadrado da distância desta fonte. Dessa forma, quando a fonte transmitir uma potência sonora constante e a distância entre a fonte e o receptor dobrar, a mesma potência sonora irradiará por uma superfície esférica quatro vezes maior, logo, sua intensidade sonora será quatro vezes menor, enquanto o valor eficaz da pressão sonora será duas vezes menor (BISTAFA, 2011). 𝐼 = 𝑊 4𝜋𝑟2 = 𝑃𝑒𝑓𝑖𝑐𝑎𝑧(𝑟) 2 𝜌𝑐 (5) Onde: I: intensidade sonora (W/m²); W: potência sonora (watts); r: distância da fonte sonora (m); 𝑃𝑒𝑓𝑖𝑐𝑎𝑧(𝑟) 2 : valor eficaz da pressão sonora à distância r da fonte sonora (Pa); ρc: impendância característica (rayls) ou (kg/m².s). 25 2.2 RUÍDO Segundo a norma técnica NBR 12179 (ABNT, 1992), ruído pode ser definido como um estímulo indesejável e desagradável constituído por uma mistura de sons com frequências que não seguem padrões. Um ruído pode ser considerado um som, mas um som não é obrigatoriamente um ruído, sendo a definição de ruído associada a som desagradável e indesejável (GERGES, 2000). Bistafa (2011) relata que certos sons são agradáveis para algumas pessoas, porém quando são desagradáveis, perturbadores, incômodos e não condizem com os interesses da pessoa no momento, estes sons são chamados de ruído. Para Fernandes (2010), o ruído possui duas definições: uma subjetiva, que o caracteriza como uma sensação auditiva indesejável ou insalubre; e uma física, que o define como um fenômeno acústico não periódico com diversas frequências e amplitudes de forma não harmônica. De acordo com Grandjean (1998), determinados sons não prejudicam nem perturbam as pessoas, desde que elevados até um limite, porém quando este limite é ultrapassado, tornam-se perturbadores e incômodos, passando a ser definidos como ruído. 2.2.1 Classificação dos ruídos De acordo com a norma ISO 2204 (ISO, 1979), os ruídos podem ser classificados como contínuos (Figura 3.a), com flutuações de nível de pressão acústica desprezíveis dentro do período de observação e não contínuos, onde o nível de pressão acústica muda significativamente durante o período de observação. Os ruídos não contínuos ainda podem ser separados em flutuantes (Figura 3.b), onde o nível de pressão acústica apresenta variações num grau considerável, intermitentes (Figura 3.c), onde o nível cai bruscamente ao nível do ambiente, impulsivos ou de impacto (Figura 3.d), onde existem explosões de energia acústica com duração menor que 1 segundo e impulsivo quase contínuo (Figura 3.e), onde ocorre uma série de explosões de energia acústica com amplitudes energéticas comparáveis, sendo que os intervalos entre estas explosões são inferiores a 0,2 segundos. 26 Figura 3 – Classificação dos ruídos Fonte: Adaptado de Mateus (2008). 2.3 CAMPO SONORO Campo sonoro é definido como o meio pelo qual os sons são transmitidos, isto é, a região onde ocorre a propagação da onda sonora, e podem ser divididos como (GOELZER; HANSEN; SEHRNDT, 2001): a) campo livre ou direto: região onde o som consegue se propagar livremente sem nenhum obstáculo, não sofrendo reflexões nem interferências; b) campo próximo: região próxima a fonte sonora onde tanto a pressão sonora, como a velocidade das partículas do som estão defasadas, sendo limitado a maior distância entre o comprimento de onda ou três vezes a maior dimensão da fonte sonora; c) campo distante: inicia a partir do campo próximo e segue até o infinito. Na passagem de um campo para outro ocorre uma transição gradual das características de ambos os campos, reduzindo 6 dB no nível de pressão sonora no caso de fontes esféricas e 3 dB em fontes lineares; d) campo reverberante: região onde o som transmitido pela fonte sonora sofre pelo menos uma reflexão em qualquer superfície num ambiente fechado. 2.4 FONTES SONORAS Uma fonte sonora é definida como um corpo, um objeto ou um sistema do qual se origina um som, e podem ser classificadas como pontuais, lineares ou planas (BISTAFA, 2011; GERGES, 2000; HASSAL; ZAVERI, 1979). Gerges (2000) descreve que o som nasce por meio 27 de vibrações, portanto, uma fonte sonora pode ser representada como qualquer superfície vibrante. De acordo com Bistafa (2011), fontes pontuais são geradoras de ondas esféricas que possuem intensidade sonora igual em todas direções propagadas (Figura 4.a), tendo sua pressão sonora diminuída pela metade quando a distância da fonte é dobrada, resultando em uma diminuição de 6 dB no nível de pressão sonora para cada duplicação de distância, enquanto que as fontes lineares por sua vez geram ondas cilíndricas (Figura 4.b) e diferentemente das fontes pontuais, o nível de pressão sonora decai 3 dB ao duplicar a distância da fonte. Figura 4 – Exemplo de fontes sonoras: (a) pontual e (b) linear (a) (b) Fonte: Merchán (2014). As fontes planas podem ser consideradas casos especias, onde o nível de pressão sonora não decai com o aumento da distância da fonte e podem ocorrer por exemplo quando um alto-falante irradia o som dentro de um tubo metálico de parede expessa tendo o comprimento de onda do som irradiado muito maior que o diâmetro do tubo, de forma que o nível de pressão sonora seja constante e uniforme em qualquer seção transversal (BISTAFA, 2011). 2.5 PROPAGAÇÃO SONORA AO AR LIVRE Gerges (2000) cita que o som se propaga a partir de uma fonte sonora, sendo que este som necessita de um meio elástico para que a propagação ocorra, a exemplo do ar, da água, do concreto ou de qualquer outro meio capaz de se deformar com a passagem das ondas sonoras e se restaurar a seu formato original logo após sua passagem. Esta propagação,está sujeita a 28 perdas de intensidade a medida que o som se propaga, ocasionadas tanto pela própria atenuação do ar, como também por atenuações diversas, tais como: existência de um obstáculo na trajetória de propagação, velocidade do vento, gradientes de temperatura, presença de vegetação e tipo de solo. Outros fenômenos como reflexão, absorção, difração e transmissão sonora também podem ocorrer quando a onda sonora se depara com uma superfície, conforme apresentado na Figura 5. Alguns destes fatores além de exercerem papel atenuante, podem funcionar como amplificantes, de acordo com as características físicas dos mesmos (BISTAFA, 2011; GERGES, 2000). Figura 5 – Esquema dos mecanismos de atenuação/amplificação sonora ao ar livre Fonte: Adaptado de Zaganelli (2014). Para um melhor entendimento, nas seções seguintes serão discutidos estes meios de atenuação e amplificação da propagação sonora ao ar livre, juntamente com o modo como atuam sobre a mesma. 2.5.1 Absorção, reflexão e transmissão sonora Quando uma onda sonora incide sobre um obstáculo, parte da energia sonora incidente é absorvida pelo material e parte é refletida de volta ao meio. Ainda em alguns casos, dependendo do material e espessura deste obstáculo, parte da energia é transmitida para o outro lado da superfície, conforme Figura 6 (BISTAFA, 2011). A absorção acontece quando as ondas sonoras colidem com uma superfície qualquer, tendo uma parcela da energia sonora absorvida em virtude do atrito e da viscosidade do material, transformando a energia sonora em energia térmica (BISTAFA, 2011; LONG, 2006). A reflexão sonora por sua vez, ocorre no momento 29 em que a energia originária das ondas, incide sob certa superfície e retorna ao meio de origem de forma total ou parcial (HASSAL; ZAVERI, 1979). Segundo Calixto (2013), quanto mais lisa a superfície e mais rígido e denso for o obstáculo ou barreira, maior será a fração de onda sonora refletida, sendo esta reflexão “devolvida” ao ambiente com um ângulo igual ao de incidência (VALLE, 2009). Já a transmissão sonora ocorre quando parte da energia do som atravessa o obstáculo, uma parede sem aberturas por exemplo, e surge do outro lado da mesma (LONG, 2006). Fernandes (2013) explica que quando ondas sonoras atingem uma parede, a mesma vibra e passa a funcionar como uma nova fonte, transmitindo o som, porém com menor intensidade. Figura 6 – Fenômenos de absorção, reflexão e transmissão sonora Fonte: Portalacustica (2016). 2.5.2 Difração sonora Niemeyer e Slama (1998) citam que a difração ocorre quando a energia das ondas sonoras “contornam” o obstáculo ou passam por ele através de frestas e pequenos vãos. Da mesma forma, Gerges (2000) afirma que a difração é a propriedade de contornar obstáculos. Enquanto a absorção, reflexão e transmissão sonora dependem do tipo de material que compõem a superfície do obstáculo, a difração sonora depende da geometria deste (NETO, 2002). 30 2.5.3 Efeito do ar O processo de atenuação sonora devido ao efeito do ar é dependente da temperatura, da umidade e da pressão do ar, no entanto o valor atenuado é pequeno se comparado com outros mecanismos de atenuação (SANTOS, 2004). Segundo Bistafa (2011), a atenuação ocasionada pela absorção do ar ocorre por meio de dois processos: o macroscópico e o microscópico. No primeiro, chamado de processo clássico, ocorre a extração de energia das ondas sonoras através da combinação de efeitos de condução de calor e de atrito viscoso entre as partículas do ar. No segundo processo, o microscópico, a absorção ocorre em função do relaxamento térmico molecular. Neste processo, é importante destacar a umidade relativa do ar, que auxilia na absorção sonora por meio das partículas de água presentes no meio. Através destas partículas ocorre uma diminuição entre as colisões moleculares, reduzindo desta forma, a transferência de energia vibratória. 2.5.4 Efeito do solo O solo é um elemento que por vezes possui características atenuantes e por vezes características amplificantes, sendo esta definição função da “dureza” do mesmo. Normalmente, solos considerados “duros”, como o asfalto por exemplo, funcionam como amplificadores, enquanto solos ditos “macios”, como terrenos com grama ou solos não compactados, funcionam como atenuadores do nível sonoro (BISTAFA, 2011). 2.5.5 Efeito da vegetação Segundo Gerges (2000), a vegetação fornece baixíssima atenuação de ruído, porém a mesma pode exercer papel de isolante visual, apresentando desta forma efeitos psicológicos favoráveis aos receptores. De acordo com Irvine e Richards1 (1998, apud GUEDES, 2005), tanto árvores quanto arbustos não apresentam efeito significativo na atenuação do som, sendo necessário uma faixa de 30 metros de vegetação densa para reduzir 3dB (A). 1 IRVINE, Leland K.; RICHARDS, Roy L. Acoustics and noise control handbook for architects and builders. Malabar FL,, USA: Krieger Publishing Company, 1998. 31 2.5.6 Efeito da inclinação do terreno Em um ambiente externo, assim como o tipo de pavimento usado e a vegetação presente, a inclinação do terreno pode influenciar na propagação de sons (GERGES, 2000). Para Nunes (1999) e Bezerra (2014) os trechos com mais ruído são os trechos com terreno inclinado, pois segundo as autoras para que a velocidade de um automóvel seja mantida em aclives, é necessário diminuir marchas para que a rotação do motor e sua potência aumente, emitindo assim um maior nível de pressão sonora. 2.5.7 Efeito da temperatura A velocidade do som é proporcional a temperatura, isto é, quanto maior a temperatura, maior a velocidade do som e, portanto, mais longe o som pode ser propagado. Dessa forma, o efeito da temperatura na propagação sonora é influenciado por gradientes de temperatura conforme apresentado na Figura 7. No momento em que não ocorre variação de temperatura, o gradiente é zero, logo, a frente de onda sonora será ortogonal ao nível do solo e o raio sonoro paralelo (Figura 7.a). Quando este gradiente de temperatura é positivo, isto é, quando a temperatura aumenta conforme a altitude, a frente de onda sonora é inclinada para o solo e o raio sonoro começa a incidir sobre ele (Figura 7.b). Por outro lado, quando o gradiente é negativo, isto é, quando a temperatura diminui conforme a altitude, a frente de onda se inclina para cima afastando o raio sonoro do solo (Figura 7.c) (BISTAFA, 2011). Figura 7 – Efeito dos gradientes de temperatura na propagação de raios sonoros Fonte: Bistafa (2011). 2.5.8 Efeito do vento A velocidade do vento aumenta conforme a altitude aumenta, visto que camadas de ar próximas ao solo possuem a tendência a frear por atrito. As ondas sonoras que se encontram a favor do vento (sotavento) são refratadas na direção do solo sem alterar o seu nível sonoro, assim como ocorre com o gradiente de tempeatura. No entanto, quando a propagação sonora se 32 dá em sentido contrário ao movimento do vento (barlavento), as ondas se refratam para cima, gerando uma zona de sombra acústica, conforme apresentado na Figura 8 (BISTAFA, 2011; GERGES, 2000). O efeito do vento na propagação sonora é influenciado também pela densidade de edificações presentes na área analisada. Caso a densidade de edificações seja grande, a influência do vento será pequena, visto que estas irão dissipar a velocidade do vento de forma a evitar ações consideráveis no nível do solo, onde geralmente são realizadas as medições (TANAKA; SHIRAISHI, 2008). Figura 8 – Efeito do vento na propagação de raios sonoros Fonte: Lawrence2(1989, apud BISTAFA, 2011). 2.5.9 Efeito de barreiras acústicas Bistafa (2011), define barreiras acústicas como qualquer estrutura ou obstáculo que impeça a visão da fonte pelo receptor, até mesmo o próprio solo, caso este estiver elevado e interferindo com a a linha de visão. Conforme Gerges (2000), as barreiras acústicas podem ser utilizadas como forma de atenuação de diversas fontes geradoras de ruídos, como o fluxo de veículos por exemplo. No caso de longas barreiras, as ondas sonoras que alcançam o topo desta são curvados por difração para baixo, gerando assim uma zona de sombra acústica atrás desta como mostrado na Figura 9 (BISTAFA, 2011). 2 LAWRENCE, A. Acoustics of the built environment. Elsevier Applied Science, Londres, 1989. 33 Figura 9 – Zona de sombra acústica Fonte: Adaptado de Gerges (2000). No entanto, barreiras acústicas não são eficientes em trechos que atravessam centros urbanos devido a sua inviabilidade de construção, pois a mesma necessitaria possuir grandes dimensões para impedir a propagação sonora a edificações de grande porte (CALLAI, 2008). Além disso, Marques (2010) relata que barreiras acústicas altas podem criar sombras indesejáveis, bloquear vistas panorâmicas e/ou impedir correntes de ar natural. 2.6 RUÍDO URBANO O ruído urbano, também denominado ruído ambiental ou ruído em comunidade, pode ser definido como o ruído emitido por diferentes fontes sonoras (RIBAS, 2007). Arruda et al.3 (2000, apud SANTOS, 2004) descrevem ruído urbano como o conjunto de ruídos provenientes de atividades urbanas, sendo caracterizado por possuir fontes sonoras múltiplas, como automóveis, aviões, trens, obras, entre outras. Bistafa (2011) relata que a qualidade de vida, principlamente dos moradores de grandes cidades, está sendo deteriorada por meio do excesso de poluição sonora. Conforme Marques (2010), a poluição sonora ocorre por meio do ruído, tido como uma das principais formas de agressão ao homem. De acordo com Moraes et al. (2003) estudos sobre o ruído urbano contribuem definitivamente para o controle e mitigação da poluição sonora em grandes cidades. Segundo Ansay (2013) o ruído gerado pelo tráfego é a principal fonte geradora de ruído urbano, tendo a construção civil, os trabalhos de escavações e os trabalhos em estradas como outros grandes geradores de ruído. De acordo com López (1998), 81% da população de Madrid, na Espanha, considerou o ruído urbano como temerário para a qualidade de vida, sendo 3 ARRUDA, F. R.; COELHO, J. L. B.; SLAMA, J. G. Aspectos do controle de ruído urbano na cidade do Rio de Janeiro. In: XIX Meeting of the Brazilian Society of Acoustics. 2000. p. 19. 34 que para 32% o ruído de tráfego é a principal fonte prejudicial. Em Valência, também na Espanha, 80% das pessoas consideraram o ruído de tráfego como o ruído mais incômodo. (DIAZ et al., 1998). Em pesquisa semelhante, realizada na Suécia e na Noruega, a principal fonte de ruído urbano segundo a população é o ruído gerado pelo tráfego (AMUNDSEN e KLÆBOE, 2005). No Brasil, Zannin et al. (2002) realizaram a pesquisa na cidade de Curitiba, no Paraná, e constataram que para 73% da população, o tráfego de veículos é a fonte de ruído ambiental que mais incomoda. 2.6.1 Ruído de tráfego urbano Conforme a norma técnica NBR 16313 (ABNT, 2014), o ruído de tráfego urbano é resultante do tráfego de veículos (leves e pesados), em vias públicas urbanas em uma dada situação. Fiedler (2013) aponta o ruído de tráfego como uma parcela do ruído ambiental total, sendo resultado do somatório dos sons gerados por automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas. Para Nunes (1999), cada veículo emite ruídos conforme a velocidade, as condições de pilotagem do motorista e a qualidade tanto do veículo, como do pavimento, sendo que a presença de cruzamentos ou semáforos podem auxiliar no aumento do ruído devido a mudanças da rotação do motor para virar uma esquina ou pelo som de buzinas, geralmente ocasionadas pela impaciência e pressa do motorista em semáforos. Segundo Tsunokawa e Hoban (1997), o ruído de tráfego é altamente variável, podendo ser influenciados por quatro fatores: a) veículos: O ruído do veículo dependerá do tipo de veículo, da potência do motor, do sistema de freios, do tipo de suspensão e das condições de manutenção do veículo. Em geral, veículos leves, como automóveis emitem menos ruído do que veículos pesados, como ônibus ou caminhões, pois normalmente estes últimos possuem mais rodas em contato com a via, conforme ilustrado na Figura 10; Figura 10 – Equivalência acústica entre veículo pesado e veículos leves Fonte: Tsunokawa e Hoban (1997). 35 b) tipo e condições de pavimentação: O ruído de tráfego depende basicamente do atrito entre os pneus e o pavimento, do tipo de pavimento utilizado e das condições de manutenção deste. Estradas quando bem conservadas produzem menos ruído do que estradas danificadas, rachadas ou com superfícies remendadas. Carvalho e Rocha (2008) comentam que pavimentos com incorporação de borrachas podem atuar tanto na redução do ruído de tráfego, como na melhor absorção das ondas refletidas diminuindo assim o ruído ambiental. De acordo com Nunes (1999) foram encontradas diferenças de até 11 dB (A) entre pavimentos de asfalto liso e de concreto fresado; c) comportamento dos motoristas: Os condutores contribuem para o ruído de tráfego através do uso de buzinas, através de frenagens bruscas ou acelerações com motor em alta rotação. De acordo com Arruda et al.4 (2000, apud MARQUES, 2010), o ruído que predomina nas médias e altas velocidades é o do atrito entre os pneus e a estrada e nas baixas velocidades, o emitido pelo motor e pelo escapamento; d) operações de construção ou manutenção da via: A construção ou manutenção de vias e estradas requerem o uso de maquinários e equipamentos que produzem ruídos elevados, além de também ocasionarem uma redução na velocidade dos veículos durante a operação, gerando por vezes, congestionamento; 2.6.2 Forma urbana e comportamento do som Cortês5 (2013, apud FERNANDES, 2013), destaca que além do ruído de tráfego, a forma urbana, caracterizada por fatores como: densidade construtiva, altura e alinhamento das edificações, topografia, tipo de revestimento das fachadas e superfícies refletoras podem influenciar diretamente no nível de ruído ambiental. Para Moraes et al. (2003), a forma urbana de grandes centros, caracterizada pelo número excessivo de serviços e comércios nas áreas centrais, não suporta a demanda dos veículos, aumentando assim a poluição sonora ambiente. Segundo Bistafa (2011), o processo de verticalização das cidades forma os chamados cânions urbanos, propiciando a formação de um campo reverberante, onde as inúmeras reflexões de 4 ARRUDA, F. R; COELHO, J. L. B.; TENENBAUM, R. A.; SLAMA J. G. Aspectos do controle de ruído na cidade do Rio de Janeiro. In: XIX Encontro da Sociedade Brasiletira de Acústica – SOBRAC. Anais... Belo Horizonte - MG, 2000, p.410-415. 5 CORTÊS, M. M. Morfologia e Qualidade Acústica do Ambiente Construído: Estudo de caso em Petrópolis, Natal/RN. Dissertação (Mestrado em Ciências em Arquitetura) - PROARQ/FAU, UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, 2013. 36 ondas sonoras geradas pelo tráfego não conseguem se dissipar tão facilmente ocasionando a amplificação do ruído. Para Valle (2009), a reverberação ocorre quando há múltiplas reflexões de ondas sonoras em intervalos curtosde tempo em todas as direções de um ambiente semifechado ou fechado. De acordo com Niemeyer e Slama (1998), os ambientes acústicos podem ser separados em dois tipos: os espaços abertos e os espaços fechados. O primeiro se caracteriza por propagar os ruídos em um campo sonoro direto ou livre, sem obstáculos de modo que a intensidade do som emitido diminua conforme a distância entre a fonte sonora e o receptor (Figura 11.a). Nos espaços fechados, o nível sonoro recebido não depende somente da distância da fonte, mas também da reflexão das ondas que formarão um campo sonoro reverberante (Figura 11.b). A atenuação do ruído nesses casos ocorre pela perda de energia da onda sonora a cada reflexão, ou quando a onda sonora consegue encontrar um ângulo de fuga. Para uma mesma fonte sonora a uma mesma distância, o nível sonoro em um espaço fechado será maior do que em um espaço aberto, por somar o som direto e as múltiplas reflexões. Figura 11 – Espaços acústicos: (a) aberto e (b) fechado Fonte: Niemeyer e Slama (1998). 2.7 IMPACTOS DECORRENTES DO RUÍDO No ambiente urbano, o ser humano está sujeito normalmente a uma ampla escala de níveis de pressão sonora, que variam desde o limiar da audição, 0 dB correspondente a uma pressão de 0,0002 Pa, até o limiar da dor entre 120 dB (A) e 140 dB (A), cuja pressão é 200 Pa aproximadamente. Os impactos da variação destes quando não controlados prejudicam não só o homem, com possíveis perdas auditivas, como também a economia (GERGES, 2000; CALLAI, 2008; BISTAFA, 2011; OLIVEIRA FILHO, 2014; STRIEDER, 2014). 37 2.7.1 Impactos no homem De acordo com Goelzer, Hansen e Sehrndt (2001) o impacto do ruído no ser humano não depende somente das características físicas do som, mas também da resposta que o organismo humano dará para este estímulo sonoro. Conforme Bistafa (2011), o som gerado é propagado pelo ar até a orelha externa onde fará o tímpano e os ossículos da orelha média vibrarem de forma que o som chegue na cóclea localizada na orelha interna para ser codificado e trasmitido ao cérebro por meio de fibras nervosas assim como indicado na Figura 12. Figura 12 – Processamento do som nos seres humanos Fonte: Adaptado de Bistafa (2011). A resposta do organismo de uma pessoa a este estímulo é dependente de diversos fatores como: intensidade sonora (maior intensidade, maior o dano), faixa de frequência (maior a frequência, maior o dano), período de exposição (maior o período, maior o dano), continuidade ou intermitência do ruído além de características individuais da pessoa exposta como idade e condições de saúde (MOTA, 2006). Segundo Carmo (1999), o ruído pode afetar o homem tanto prejudicando o sistema auditivo como comprometendo atividades físicas, psíquicas ou fisiológicas, podendo desta forma se separar os efeitos do ruído em efeitos auditivos e efeitos não auditivos. Entre os efeitos auditivos pode-se citar a perda de audição induzida por ruído (PAIR), podendo esta perda ser temporária ou permanente. Na perda temporária, a lesão no ouvido é pequena e a recuperação da audição normal é possível, porém, na perda permanente a lesão é irreversível. Estas lesões podem ocorrer tanto com a exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora, como também em eventos que produzem um ruído intenso, como o disparo de uma arma de fogo. A sensação de zumbido é um dos indicativos que já ocorreu a perda de audição permanente de forma parcial (BERISTÁIN, 1998; BISTAFA, 2011; GERGES, 2000; LONG, 2006; MOTA, 2006; NUDELMANN, 1997, WHO, 2011). 38 Em relação aos efeitos não auditivos ocasionados pela exposição a elavados níveis de ruído, é comumente citado na literatura o surgimento de danos e sintomas como: nervosismo, ansiedade, estresse, irritação, dificuldade de repouso, distúrbios do sono, vertigens, cefaléia, fadiga, aumento da frequência respiratória, aumento dos batimentos cardíacos, hipertensão, redução da concentração e redução da criatividade (BERISTÁIN, 1998; GERGES, 2000; SALIBA, 2000; BISTAFA, 2011; WHO, 2011). O Quadro 1, relaciona o nível de pressão sonora com os impactos negativos sobre saúde humana ocasionados por este. Quadro 1 – Impactos do ruído sobre a saúde humana Nível de Pressão Sonora [dB] Impacto Negativo sobre a Saúde Até 50 Confortável – Pode até incomodar, mas o organismo se adapta 50 – 55 Início de estresse, desconforto, aborrecimento, problemas no sono 55 – 65 Diminuição da concentração e prejuízo na produtividade 65 – 70 Diminuição da resistência imunológica, interferência na comunicação 70 – 100 Efeitos sobre a saúde mental, aumenta o risco de infarto, derrame cerebral, hipertensão e outras doenças graves, ocorre prejuízo auditivo Acima de 100 Pode haver perda de audição permanente Fonte: Elaborado pelo autor (2017), a partir de Berglund, Lindvall e Scwhela (1999), Manzana6 (1998, apud SOUZA, 2012) e WHO (2011). 2.7.2 Impactos na economia De acordo com Berglund, Lindvall e Schwela (1999), a presença excessiva de ruído causa perdas em diversas escalas econômicas, desde custos com medidas para controlar e diminuir o ruído, passando por gastos na saúde em virtude de problemas decorrentes do mesmo, até a desvalorização dos imóveis. De acordo com Sandberg (2001), o impacto econômico mais perceptível é a desvalorização imobiliária que acarreta perdas altíssimas como a que foi constatata na Suécia, de aproximadamente 330 milhões de dólares anuais ligados somente a desvalorização de imóveis devido a poluição sonora. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro/RJ foi constatado que o custo da poluição sonora é elevado no mercado imobiliário, chegando a desvalorizar em até 30% os imóveis (O GLOBO, 2012). Segundo Lake et al. (1998) em análise feita na cidade de Glasgow, Escócia, se verificou uma desvalorização aproximada de 1,07% sobre o valor do imóvel para cada 1 dB (A) de ruído acima do permitido em lei. Em Seoul, Coréia do Sul, esta desvalorização pode 6 MANZANA, A. C. El Ruído em la Ciudad, Gestión e Control. Sociedad Espanõla de Acustica, 1998. 39 chegar a 1,3% para cada 1 % de aumento de ruído de tráfego, enquanto na Polônia e na Suécia as desvalorizações podem chegar a 2,9% e 3% respectivamente por acréscimo de dB (A) na poluição sonora (KIM; PARK; KWEON, 2007; LOWICKI e PIOTROWSKA, 2015; WILHELMSSON, 2000). 2.8 MEDIÇÃO DO RUÍDO URBANO A principal questão em torno da medição do ruído urbano é a obtenção de resultados efetivos e de fácil entendimento para que assim seja possível qualificá-lo, no entanto, esta tarefa é dificultada pelo fato deste ruído ser um somatório de várias fontes sonoras. Deste modo, o uso de equipamentos e escalas de medição que facilitem tal processo é indicado (ANSAY, 2013). 2.8.1 Nível de pressão sonora Segundo Bistafa (2011), o nível de pressão sonora é a melhor medida física para caracterizar a sensação subjetiva da intensidade dos sons por parte do ser humano, sendo sempre calculado através do valor eficaz da pressão sonora. Gerges (2000) descreve que o nível de pressão sonora é medido em decibel (dB) e se refere à relação logarítmica do quadrado da pressão sonora medida com o quadrado da pressão sonora de referência. De acordo com a norma técnica NBR 10152 (ABNT, 2017), o nível de pressão sonora (Lp), pode ser definido pela equação 6: 𝐿𝑝 = 10𝑙𝑜𝑔10 ( 𝑃 𝑃0 ) 2 (6) Onde: Lp: nível de pressão sonora (dB); P: valor eficaz da pressão sonora de uma determinada fonte (Pa); P0: pressão sonorade referência (20μPa), correspondente ao limiar da audição na frequência de 1KHz. Ainda de acordo com Bistafa (2011), a escala decibel utilizada no nível de pressão sonora, permite comprimir milhões de unidades da escala linear de pressão (de 0,00002 Pa, limiar da audição, a 200 Pa, com perigo de ruptura do tímpano) para apenas 140 unidades na escala logarítmica de decibel, conforme é apresentado no Quadro 2. 40 Quadro 2 – Pressões sonoras e níveis de pressão sonora com sensação subjetiva associada Sensação Subjetiva Descrição Pressão Sonora (Pa) Nível de Pressão Sonora (dB) Estrondoso Possível ruptura do tímpano - Avião a jato a 1 m 200 140 Limiar da dor - Avião a jato a 5 m 63 130 Muito barulhento Limiar do desconforto – Broca pneumática 20 120 Metrô 6,3 110 Indústria barulhenta 2 100 Barulhento Rua barulhenta 0,63 90 Aspirador de pó 0,2 80 Moderado Rua de barulho médio 0,063 70 Rádio com volume médio 0,02 6 Tranquilo Restaurante tranquilo 0,006 50 Sala de aula (ideal) 0,002 40 Silencioso Teatro vazio 0,0006 30 Movimento de folhagem 0,0002 20 Muito silencioso Respiração normal 0,00006 10 Limiar da audição – Laboratório 0,00002 0 Fonte: Bistafa (2011). 2.8.2 Nível de pressão sonora equivalente O nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝑒𝑞) pode ser definido como um nível médio contínuo (Figura 13), que equivale em termos de energia sonora, aos mesmos níveis variáveis de ruído obtidos ao longo da medição (BISTAFA, 2011). Para Fernandes (2013) o nível equivalente auxilia na representação do possível dano auditivo que ruídos variáveis causariam no mesmo intervalo de tempo. Conforme a norma técnica NBR 10151 (ABNT, 2000), o nível de pressão sonora equivalente pode ser obtido através da equação 7 nos casos em que o medidor de nível de pressão sonora não dispor desta função automaticamente. 41 Figura 13 – Nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝑒𝑞) Fonte: Fernandes (2002). 𝐿𝐴𝑒𝑞 = 10𝑙𝑜𝑔 1 𝑛 ∑ 10 𝐿𝑖 10𝑛𝑖=1 (7) Onde: 𝐿𝐴𝑒𝑞: nível de pressão sonora equivalente ponderado na curva A; Li: nível de pressão sonora em dB (A), lido em resposta rápida (fast); n: número total de leituras. 2.8.3 Níveis estatísticos Gerges (2000) cita que os níveis estatísticos conseguem descrever a real situação do ambiente acústico em termos de probabilidade com que determinados níveis de pressão sonora podem ser superados. Segundo Nagem (2004) em determinados estudos de ruído ambiental, pode ser interessante o uso de descritores acústicos estatísticos, tais como o L90, L50, L10 e L5 para descrever uma situação sonora. Estes níveis representam o nível de pressão sonora que foi excedida em uma determinada porcentagem (N%) durante o intervalo de tempo analisado. Como exemplo pode se citar o L90, nível que foi excedido em 90% do tempo de medição. Ainda de acordo com Gerges (2000), o nível L10 é o mais utilizado para estudos de ruído ambiental pois normalmente caracteriza o ruído de trânsito e segundo Alvares e Pimentel-Souza (1992) quando os níveis L10 e L90 estão próximos, ocorre uma menor percepção ao ruído e um menor incômodo a população que de “adapta” mais facilmente devido ao fluxo de veículos ser permanente, sem grandes oscilações de níveis de pressão sonora. 2.8.4 Curvas de ponderação As curvas de ponderação, chamadas também de filtros ponderadores, surgiram devido ao fato do ouvido humano responder de modo diferente a diferentes faixas de frequência (GERGES, 2000). Segundo Fernandes (2013), as curvas de ponderação utilizam pesos 42 diferenciados para cada faixa de frequência, de modo a compensar a sensibilidade auditiva, fazendo com que o som captado pelo aparelho de medição se assemelhe à real percepção do ouvido humano. Existem quatro curvas ponderadoras, sendo estas nomeadas por meio de letras: A, B, C e D. A curva “A” é a que mais se aproxima do modo que o ouvido percebe o som, atenuando fortemente as baixas frequências até 1000Hz, ampliando os sons entre 1000 Hz e 5000Hz e voltando a atenuá-los nas frequências acima de 5000 Hz, sendo o filtro mais utilizado para medições de ruído urbano. A curva “B” é utilizada para níveis médios de pressão sonora, sendo raramente utilizada, enquanto a curva “C” é usada para níveis elevados e de impacto e por não possuir quase que nenhuma alteração no espectro original resulta em níveis de pressão sonora praticamente iguais aos obtidos sem ponderação alguma, podendo então ser utilizada para medir o som ambiente ou quantificar sons de frequências baixas. A curva “D”, por sua vez, foi padronizada para medições em aeroportos (BISTAFA, 2011; FERNANDES, 2002; GERGES, 2000; SALIBA, 2000). A Figura 14 apresenta o ganho em dB para cada curva de ponderação conforme a frequência do som, sendo que quando um som é ponderado por determinada curva, sua unidade passa a ser o dB (A), dB (B), dB (C) ou dB (D), conforme a curva utilizada. Figura 14 – Cuvas de ponderação Fonte: Bistafa (2011). 2.8.5 Medidor de nível sonoro O nível de pressão sonora é a grandeza acústica que determina a sensação subjetiva de intensidade dos sons, desta forma, o aparelho para medir o nível de pressão sonora é chamado 43 medidor de nível sonoro ou sonômetro e tem a função de transformar a pressão sonora gerada pelo som em um sinal elétrico que será armazenado no aparelho ou expresso no visor do mesmo simultaneamente à ocorrência do som em termos de nível de pressão sonora, na unidade dB (decibel). Este aparelho também é conhecido como decibelímetro e pode ser tanto convencional, medindo somente o nível sonoro instantâneo, como integrador, que já efetua automaticamente o cálculo do nível de pressão sonora equivalente (BISTAFA, 2011). Conforme Fiedler (2013), os resultados obtidos por meio destes aparelhos auxiliam na formação de uma base de dados importante, porém seu uso para este fim é limitado, visto que os aparelhos com capacidade de identificar as diferentes fontes de ruído em uma cidade e realizarem automaticamente o cálculo do nível equivalente e ponderado em A (𝐿𝐴𝑒𝑞) são mais caros e, portanto, de difícil acesso a maioria dos profissionais (NUNES, 1999). 2.9 LEGISLAÇÕES E NORMAS O crescimento dos centros urbanos traz consigo o aumento da poluição sonora. Uma das formas de se controlar esta poluição é por meio de leis e normas. Dessa forma, este capítulo apresenta legislações e normas sobre o ruído ambiental, apresentando as regulamentações e os limites de ruído vigentes, tanto na esfera nacional, quanto na esfera municipal. 2.9.1 Cenário nacional Na esfera nacional existem diversas normas e leis que citam a poluição geral, a poluição sonora e os níveis de ruído aceitáveis para cada local. Em 1981 foi criada a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), instituída pela Lei Federal 6938/81, que define por meio do artigo 3º que poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, gerando matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981). Juntamente com a PNMA, a Constituição da República Federativa do Brasil, datada do ano de 1988, determina em seu artigo 23, inciso VI, que a proteção do meio ambiente e o combate da poluição, seja ela qual for é de competência comum da União, dos Estados e dos municípios. Em seu artigo 225 é citado que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
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