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João Batista Vieira Bonome Mestrando em Administração Pública com ênfase em Políticas Sociais pela Fundação João Pinheiro. Especialista em Relações de Trabalho e Negociações pelo Instituto de Educação Conti- nuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Bacharel em Admi- nistração de empresas pela PUC-Minas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas Durante as quatro primeiras décadas do século passado, a análise em- presarial amparou-se fortemente nas perspectivas apresentadas pela Teoria Clássica da Administração, através de seus princípios, de seus conceitos e de suas regras. É bem verdade que a Teoria Clássica desenvolveu uma nova ma- neira de compreender as empresas, e também forneceu bases adequadas para o entendimento da civilização industrial recém surgida, postulando que a tecnologia e o método de trabalho constituíam os mais importantes fatores para que o administrador pudesse obter a eficiência de sua produção. Todavia, apesar da supremacia da Administração Clássica e, consequen- temente, do fato de que esta não foi questionada por nenhuma outra teoria administrativa no início do século passado, não quer dizer que seus princípios foram facilmente aceitos, principalmente pelos trabalhadores, mas também pelos sindicatos norte-americanos. Em um país caracterizado pelo sistema democrático, como os Estados Unidos, tanto os trabalhadores quanto os seus sindicatos passaram a interpretar e a visualizar a Administração Científica e a Teoria Clássica como meios bastante sofisticados de exploração do trabalho a favor dos interesses dos patrões. Através de pesquisas mais aprofundadas pôde-se perceber que já existiam pesquisas que mostravam traços autocrá- ticos ao sistema proposto por Taylor. Desta feita, verificou-se que o processo gerencial baseava-se em princípios não muito apropriados ao estilo de vida norte-americano. Foi, portanto, pelo desenvolvimento da Abordagem Humanística que a ciência da Administração sofreu uma “revolução” conceitual, pois foi trans- ferido o enfoque na tarefa e na estrutura organizacional para as pessoas que trabalhavam nas empresas. Com a Abordagem Humanística, a preocupação com a máquina e com o método de trabalho e a preocupação com a orga- nização formal e os princípios de Administração aplicáveis aos aspectos or- ganizacionais cederam prioridade para a preocupação com o homem e seu grupo social. Há, portanto, um deslocamento dos aspectos técnicos e formais para os aspectos psicológicos e sociológicos. Nesse aspecto a Psicologia Industrial contribuiu intensamente na de- monstração da parcialidade dos princípios de Administração adotados pela Teoria Clássica. Soma-se a esse fato a ocorrência de diversas modificações 63Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 64 Escola de Relações Humanas no ambiente econômico, político, tecnológico que incluíram inúmeras vari- áveis para a ciência da Administração. Um bom exemplo disso é o fato de que, enquanto em alguns países, a partir da Primeira Guerra Mundial, o típico liberalismo do século XIX foi substituído por uma crescente intervenção do Estado na economia, com o aparecimento de governos totalitários (nos quais a Teoria Clássica encontrava um solo fértil), nos Estados Unidos, os pressu- postos de democracia estavam sendo desenvolvidos e reafirmados. Além do mais, com o advento da Primeira Guerra Mundial iniciou-se o declínio da Europa Centro-Ocidental que era tida como líder e, em contrapartida, houve a espetacular ascensão dos Estados Unidos como potência econômica e po- lítica mundial. Com a depressão econômica por volta de 1929, a procura pela eficiên- cia nas empresas passou a se intensificar. A crise mundial, que teve suas ori- gens nas dificuldades econômicas dos Estados Unidos e também na situação de dependência da maioria dos países capitalistas em relação à nascente e preponderante economia norte-americana, provocou de forma indireta a reestruturação dos conceitos gerenciais e também a reavaliação dos prin- cípios de Administração, que até então eram aceitos sem qualquer tipo de questionamento. Como veremos adiante, a Abordagem Humanística da Administração começou logo após a morte de Taylor, porém, apenas a partir da década de 1930 encontrou enorme aceitação nos Estados Unidos, principalmente pelas suas características eminentemente democráticas. Sua divulgação fora dos Estados Unidos somente ocorreu bem depois do final da Segunda Guerra Mundial, na década de 1960. Assim, a Escola de Relações Humanas surgiu da necessidade em corrigir a tendência à desumanização dos operários, oriunda da rigorosa aplicação de métodos científicos, sob os quais os trabalhadores deveriam forçosamente se submeter. Origem da Escola de Relações Humanas Dado o contexto anteriormente apresentado, pode-se elencar como sendo as principais origens da Teoria das Relações Humanas: A necessidade de humanização e democratização da ciência da Admi- nistração, livrando-a dos conceitos mecanicistas e rígidos propostos pela Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 65 Teoria Clássica e, assim, adequando-a ao estilo de vida do povo norte- -americano. Dessa forma, a Escola de Relações Humanas mostrou-se como sendo um movimento bem típico dos norte-americanos, direcionado emi- nentemente para a “democratização” de conceitos administrativos. Já se percebia certo desenvolvimento das denominadas Ciências Hu- manas, tais como a Psicologia e a Sociologia e, a reboque desse movi- mento, a sua aplicação em organizações industriais. De forma gradual, as Ciências Humanas começavam a apontar as arestas dos princípios lançados pela Teoria Clássica. Os resultados da experiência de Hawthorne, desenvolvida no perío- do compreendido de 1927 a 1932, sob a coordenação de George Elton Mayo, que questionou inequivocadamente os princípios propostos pela Teoria Clássica da Administração. Exposto dessa maneira é pertinente dizer que o movimento da Escola de Relações Humanas foi de reação e de oposição à Teoria Clássica da Adminis- tração. Contudo, para que se possa compreender corretamente como essa reação ocorreu, é preciso que entendamos especialmente sobre a experiên- cia de Hawthorne, que foi um marco para o desenvolvimento da abordagem humanística da Administração. A experiência de Hawthorne Por volta do ano de 1923, Elton Mayo, um psicólogo industrial de origem australiana que era professor na Universidade de Harvard, estava desenvol- vendo uma pesquisa em uma empresa do segmento têxtil no estado da Fi- ladélfia, EUA. Essa empresa possuía alguns problemas relacionados à produ- ção, como um alto índice de rotatividade de pessoas (em torno de 250% ao ano) e, por isso, estava tentando implantar, inutilmente, alguns esquemas de incentivos para que esse índice reduzisse. Inicialmente Mayo introduziu um intervalo para descanso, deixando a cargo dos próprios trabalhadores a decisão sobre quando as máquinas deveriam ser paradas e, além disso, contratou uma enfermeira para que socorresse os trabalhadores quando da ocorrência de algum problema físico. Logo após a introdução dessas modificações, Mayo notou que emergira um espírito de grupo, que a produção aumentara e que a rotatividade de pessoal havia declinado. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 66 Escola de Relações Humanas Já em 1927, o Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos come- çou a desenvolver uma experiência em uma fábrica da empresa Western Electric, situada em Chicago, especificamente no bairro de Hawthorne, mascom uma finalidade um pouco distinta: a de determinar a relação entre a intensidade da iluminação na planta de produção e a eficiência dos traba- lhadores, utilizando como medida o volume de produção. Essa experiência, que se tornou famosa, foi coordenada também por Elton Mayo, que logo a estendeu para o estudo da fadiga, da rotatividade de pessoal (turnover), dos acidentes no trabalho e também do efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. A Western Electric fabricava componentes e equipamentos para a novi- dade tecnológica da época: o telefone. Naquela época, a empresa já desen- volvia uma política de pessoal voltada para o bem-estar dos trabalhadores, oferecendo salários satisfatórios e boas condições de trabalho. Na sua fábrica de Hawthorne havia um departamento de montagem de relés para telefones, que era constituído de trabalhadoras (montadoras) que executavam tarefas simples e muitas vezes repetitivas, o que demanda- va rapidez. A montagem desses relés era feita sobre uma base mantida por quatro parafusos, sobre a qual eram colocadas as bobinas, molas de contato, armaduras e isolantes elétricos. Naquela época, o ciclo de montagem era de cinco relés em cada seis minutos, por trabalhadora. A empresa não estava interessada somente em descobrir algum meio para aumentar a produção, mas também em conhecer melhor os seus empregados. Essa pesquisa, pelos seus objetivos e pelos resultados obtidos, foi dividida em quatro fases, cada uma apresentando um método e um resultado distinto que, unidos, foram responsáveis por originar o marco teórico da Abordagem Humanística da Administração. É o que será visto a seguir. Primeira fase da experiência de Hawthorne Nessa primeira fase da experiência, dois grupos de trabalhadores que es- tavam fazendo tarefas semelhantes, em condições bem próximas, foram es- colhidos para a realização da experiência: um grupo, denominado de grupo de observação, trabalhou sob uma intensidade de luz variável, enquanto o segundo grupo, denominado de grupo de controle, trabalhou sob uma in- tensidade invariável, constante. Pretendia-se, dessa forma, explicar o efeito Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 67 da iluminação sobre a produtividade dos trabalhadores, de acordo com os pressupostos clássicos de Taylor. Uma vez percebido que a produtividade do grupo de observação aumentou, conseguiu-se comprovar que havia preponderância de fatores psicológicos sobre os fatores fisiológicos; em suma, a relação entre as condições físicas e a eficiência dos trabalhadores poderia ser afetada por condições psicológicas. Segunda fase da experiência de Hawthorne Em 1927, dando prosseguimento à experiência, foram selecionadas seis trabalhadoras de nível médio – sem serem novatas e muito menos já expe- rientes – para que constituíssem um grupo de observação: cinco dessas tra- balhadoras ficavam montando, enquanto uma sexta ficaria fornecendo peças para manter o ritmo de trabalho constante. A sala onde ocorria essa etapa da experiência ficava separada do resto do departamento. Tanto o local como os equipamentos de trabalho eram bastante semelhantes àqueles usados no departamento de onde haviam sido retiradas as funcionárias. Incluía-se apenas um plano inclinado e um contador de peças que, individualmente, marcava a produção de cada uma das trabalhadoras, através de uma fita per- furada. A produção era, portanto, facilmente medida, passando a ser o índice comparativo entre o grupo experimental e o grupo de controle. Essa etapa da experiência contribuiu com algumas conclusões, a saber: as trabalhadoras gostavam de trabalhar naquela sala, porque era mais divertido e a supervisão mais branda permitia trabalhar com maior liberdade e menor nível de ansiedade; havia um ambiente sem pressões, amistoso, amigável, onde havia o entrosamento, a conversa era tolerada e até mesmo permitida, o que acarretou em um aumento da satisfação no trabalho; não havia medo quanto a presença do supervisor. Apesar de estarem sendo mais supervisionadas, as características e os objetivos dessa su- pervisão eram bem diferentes; ocorreu certo desenvolvimento social no grupo de observação. As tra- balhadoras estabeleceram amizades entre si e esses laços de amizade estenderam-se externamente ao trabalho. As trabalhadoras passaram Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 68 Escola de Relações Humanas a se preocupar mais umas com as outras, e, quando alguma delas es- tava cansada do trabalho, outra colega acelerava a produção: de uma união de trabalhadoras originou-se uma equipe de trabalho; o grupo de observação conseguiu desenvolver uma liderança e objeti- vos comuns. Terceira fase da experiência de Hawthorne Essa fase apresenta uma mudança, um afastamento dos interesses iniciais que orientavam a experiência, pois mediante as modificações nas atitudes das trabalhadoras, os pesquisadores, sob a supervisão de Mayo, afastaram o interesse inicial que era o de verificar as melhores condições físicas de tra- balho e passaram então a aprofundar os estudos nas relações humanas no trabalho, que já eram perceptíveis. Assim, em 1928, iniciou-se a etapa designada de Programa de Entrevistas. Esse programa compreendia entrevistas com as trabalhadoras a fim de obter conhecimentos mais aprofundados sobre as suas atitudes e seus sentimen- tos, para ouvir suas opiniões sobre seu trabalho e sobre o tratamento que recebiam, bem como ouvir sugestões que pudessem ser aproveitadas para o treinamento de seus supervisores. O Programa de Entrevistas conseguiu apontar a existência de uma orga- nização informal no âmbito formal do trabalho. Através dessa organização informal, os trabalhadores mantiveram-se unidos com certo grau de lealdade, de solidariedade entre si. Todavia, os pesquisadores perceberam que, em muitas das vezes, o trabalhador queria também ser comprometido com a empresa que trabalhava. Esse comprometimento dividido entre o grupo e a empresa po- deria trazer certo conflito, inquietação, tensão e, provavelmente, certo des- contentamento. Para estudar esse fenômeno, os pesquisadores desenvolve- ram uma quarta etapa da experiência. Quarta fase da experiência de Hawthorne Nessa quarta etapa da experiência, alterou-se o grupo experimental. Esse passou a ser constituído por nove operadores, nove soldadores e dois ins- petores –, todos designados para a montagem de terminais das estações te- lefônicas. Essa experiência durou de 1931 a 1932 (logo depois foi suspensa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 69 em razão da crise de 1929), e procurava analisar a organização informal dos operários, conforme diagnosticado anteriormente. Verificou-se que os trabalhadores apresentaram certa padronização, uni- formidade em seus sentimentos, surgindo daí certo grau de solidariedade grupal. Esse grupo desenvolveu alguns métodos que asseguravam suas ati- tudes, pois consideravam como delator aquele membro que prejudicasse algum companheiro e pressionavam os mais rápidos a “estabilizarem” a sua produtividade, utilizando-se de punições simbólicas. Essa última etapa per- mitiu o estudo das relações entre a organização informal dos empregados e a organização formal da fábrica. Conclusões da experiência de Hawthorne A experiência de Hawthorne permitiu delinear os princípios básicos da Abordagem Humanística. Entre as principais conclusões, podemos apontar: O nível de produção é resultante da integração social do trabalha- dor – verificou-se que o nível de produção não era determinado somen- te pela capacidade física do trabalhador (comopostulado pela Teoria Clássica), mas também pelas normas sociais e expectativas em torno delas. É, portanto, a capacidade social do trabalhador, capacidade de se integrar, que estabelece o nível de habilidade/competência e mostra a sua eficiência, e não necessariamente a sua capacidade de realizar cor- retamente movimentos necessários em um tempo previamente delimi- tado. Ou seja, quanto maior o grau de integração social do indivíduo no grupo de trabalho, maior será a sua predisposição em produzir. Dessa maneira, caso o trabalhador possua ótimas condições físicas para o tra- balho, mas não esteja em condições de se integrar em círculos sociais, a sua eficiência sofrerá um enorme impacto, dado esse desajuste social. Comportamento social dos empregados – a experiência de Hawthorne mostrou que o comportamento dos trabalhadores apoia-se completamente no grupo a que pertence. Tanto o indivíduo quanto o trabalhador não age ou reage de forma isolada, mas sim como membro de grupos dos quais fazem parte. No decorrer da experiência, cada trabalhador não se sentia absolutamente livre para estabelecer, por si mesmo, a sua produtividade; esta era estabelecida, imposta e mantida pelo grupo a que pertencia. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 70 Escola de Relações Humanas A qualquer tipo de desvio percebido dessas normas estabelecidas pelo grupo, o trabalhador sofreria punições sociais ou mesmo morais por parte de seus colegas de trabalho; punições estas que buscavam ajustá-lo aos padrões estabelecidos pelo grupo. Essa decorrência da experiência é primordial, pois a Teoria Clássica não percebeu que o comportamento dos trabalhadores era influenciado pelas normas e pelos valores dos grupos sociais que participavam. A Escola de Rela- ções Humanas confrontou o comportamento social do trabalhador com o comportamento do tipo “máquina”, oriundo da Teoria Clássica. As recompensas e sanções sociais – no desenvolvimento da experiência de Hawthorne, notou-se que os trabalhadores que produziram acima ou abaixo das normas socialmente determinadas pelo grupo a que pertenciam, perdiam o respeito de seus colegas de trabalho (os trabalhadores da sala de montagem de terminais preferiam produzir menos e, portanto, ganhar menos, do que perder as relações amistosas mantidas com seus companheiros). É por isso que se percebe que o comportamento dos trabalhadores fica condicionado a normas e padrões sociais estabelecidos. Cada gru- po social é capaz de desenvolver crenças em relação à administração: essas crenças e expectativas – sendo reais ou mesmo imaginárias – in- fluenciam suas atitudes, também nas normas e nos padrões de com- portamento que o grupo define como permitidas. Os trabalhadores passam a ser avaliados pelo grupo mediante o confronto que ocorre com essas normas e padrões de comportamento grupais. São toma- das como bons colegas de trabalho somente se o comportamento se ajustar a essas normas e a esses padrões de comportamento, e são avaliados como colegas desleais caso o comportamento transgrida as normas e padrões aferidos. De acordo com esse fenômeno, Mayo pôde compreender que a mo- tivação econômica não era primordial para a determinação do rendi- mento do trabalhador. Para a Escola de Relações Humanas, as pessoas eram motivadas primeiramente pela necessidade de aprovação social, reconhecimento e de participação nas atividades dos grupos sociais em que convivem. Advém daí a definição de homem social. As recompensas e as sanções simbólicas (não econômicas) influenciam de maneira significativa o comportamento dos trabalhadores e são ca- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 71 pazes de limitar os resultados pretendidos pelos planos de incentivos econômicos existentes na empresa. Essas recompensas sociais e morais são simbólicas e influenciam a motivação do trabalhador. Grupos informais – enquanto os autores clássicos preocuparam-se ex- clusivamente com os aspectos formais da empresa (especialização, estu- dos dos tempos e movimentos, autoridade, responsabilidade, princípios gerais de administração etc.), os pesquisadores da Escola de Relações Humanas concentraram-se quase que totalmente nos aspectos infor- mais da empresa (grupos informais, crenças, comportamento social dos empregados e expectativa etc.). A empresa passou a ser vista como um tipo de organização social que era composta por vários grupos sociais informais, cuja estrutura não era coincidente com a estrutura formal da empresa, isto é, com os processos e com a estrutura definida. Os grupos informais podem ser considerados o formato organizativo humano da empresa. Esses grupos informais são capazes de definir suas próprias regras de comportamento, seus objetivos, as formas de recompensar ou sancionar, seus valores sociais, suas crenças e suas expectativas; elementos estes que cada participante vai assimilando e integrando. Com a Escola de Relações Humanas foi possível delinear um con- ceito de organização informal – a organização não só composta de indivíduos, mas pelo próprio conjunto de indivíduos que se rela- cionam de maneira espontânea entre si. Esses indivíduos também possuem sentimentos em relação aos outros, e, em seus relaciona- mentos diários, procuram estabelecer determinados padrões de interação. Grande parte dos indivíduos que vivem nesses padrões tende a aceitá-los como uma realidade clara e óbvia, e reagem de acordo com o que determinam. As relações humanas – de acordo com os resultados até agora des- critos e apresentados é possível verificar que os trabalhadores parti- cipam de grupos sociais e se mantêm em constante interação social. Procurando explicar o comportamento humano nas empresas, a Esco- la de Relações Humanas foi estudar como essa interação social ocorre. Desse modo, denominam-se relações humanas todo e qualquer tipo de ação ou atitude que é desenvolvida mediante os contatos estabele- cidos entre indivíduos e grupos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 72 Escola de Relações Humanas Cada indivíduo possui uma personalidade típica, diferenciada. Essa, por seu turno, influencia o comportamento e as atitudes dos outros indivíduos com quem estabelece seus contatos e, por outro lado, é igualmente influenciada pelos outros indivíduos. Cada indivíduo pro- cura ajustar-se aos outros indivíduos e aos outros grupos definidos, em busca de compreensão, de aceitação e de participação, pois querem ter os seus interesses atendidos. O comportamento individual é constantemente influenciado pelo am- biente e por atitudes e normas informais que existem nos diversos gru- pos. Principalmente dentro da empresa é que surgem oportunidades para estabelecimento de relações humanas, considerando o número de grupos e as interações proporcionadas. É através da compreensão da natureza dessas relações humanas que o administrador consegue obter resultados melhores de seus subordinados; é através da compre- ensão dessas relações que pode surgir um clima de trabalho em que cada indivíduo é encorajado a exprimir-se livremente. A importância do conteúdo do cargo – a contínua e intensa espe- cialização do trabalho – e consequentemente a maior fragmentação – não é a maneira mais eficiente de se dividir o trabalho. Mesmo não tendo como objeto de pesquisa, Elton Mayo e seus pesquisadores-co- laboradores constataram que a especialização defendida pela Teoria Clássica não criava necessariamente uma empresa mais eficiente. Eles observaram que os trabalhadores da sala de montagem frequente- mente trocavam sua posição/tarefa para variar e evitar a monotonia, de forma contrária ao estabelecidopela empresa. Essas trocas impac- tavam negativamente sobre a produção, mas, por outro lado, conse- guiam elevar o moral do grupo. De acordo com essas observações, verificou-se que tanto o conteúdo quanto a natureza do trabalho influenciam enormemente no moral dos trabalhadores. Muitas das vezes, trabalhos simples e repetitivos tendiam à monotonia e afetavam negativamente as atitudes dos tra- balhadores, reduzindo a eficiência. Ênfase nos aspectos emocionais – foi de acordo com os resultados obtidos pela experiência de Hawthorne que os elementos emocionais (não planejados e irracionais) do comportamento humano passaram a receber devida atenção. Até então esses aspectos que indefecti- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 73 velmente são naturais e espontâneos em todos os indivíduos sequer haviam sido considerados pelos administradores. Com essa considera- ção, o elemento humano passou a ser visto com outro olhar dentro das empresas. Comparação entre as propostas A título de compreensão acerca da importância das contribuições da Escola de Relações Humanas, é preciso que se faça uma comparação entre as propostas apresentadas pela Administração Científica e Teoria Clássica com essa escola. Nesses termos, o quadro abaixo é bastante esclarecedor, pois apresenta várias premissas que foram abordadas por ambas as perspectivas, permitin- do que a comparação seja observada facilmente. Quadro 1 – A evolução conceitual da Teoria Clássica e das Relações Humanas Características e premissas Teoria Clássica Teoria das Relações Humanas (C H IA VE N AT O , 2 00 0) Abordagem básica Engenharia Humana Adaptação do homem à máquina e vice-versa. Ciência Social Aplicada Adaptação do homem à organi- zação e vice-versa. Modelo de homem Econômico-racional Maximizador de vantagens financeiras. Racional-emocional Também motivado por senti- mentos e critérios “não racio- nais”. Comportamento do indivíduo Animal isolado Animal social Carente de apoio e de participa- ção grupal. Comportamento funcional do indi- víduo Padronizável Não padronizável Diferenças individuais justificam métodos diferentes. Incentivos Financeira (material) Maior remuneração por maior produção. Psicológica Apoio, elogio, consideração. Fadiga Fisiológica Estudo de tempos e movimentos, pau- sas adequadas. Grupo Monotonia, rotinização Ausência de criatividade Pouca utilização de aptidões Programação excessiva Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 74 Escola de Relações Humanas Unidade de análise Cargo A tarefa, tempo e movimentos; Avaliação de cargos e salários. Grupo A equipe A avaliação de criatividade Pouca utilização de aptidões Programa excessivo Conceito de organi- zação Estrutura formal Sistema social Representação gráfica Organograma e fluxograma Sociograma Pressupostos da Escola de Relações Humanas As pesquisas realizadas pela experiência de Hawthorne foram as respon- sáveis em sugerir que uma nova abordagem em relação à resolução de pro- blemas administrativos poderia ser encontrada, uma vez que descortinou os vetores que orientam o processo de motivação dos trabalhadores a fim de que possam alcançar as metas da empresa. Alguns desses pressupostos são: Integração e comportamento sociais – mesmo possuindo ótimas condições físicas para desenvolver suas tarefas, aquele trabalhador de- sajustado socialmente não será eficiente. Isso ocorre porque os aspec- tos sociais, psicológicos e até mesmo emocionais são mais importantes do que os aspectos técnicos ligados ao trabalho. A integração grupal é primordial para o bem-estar dos trabalhadores. Os trabalhadores não agem individualmente, mas sim como membros de grupos a que per- tencem. A administração que persegue o aumento da produtividade e a eficiência deve estar atenta e conciliar os objetivos empresariais com os interesses individuais dos trabalhadores, pois senão não obterão os resultados desejados. Participação nas decisões – o trabalhador deve ser considerado como um ser que pensa e que age em prol de seu interesse particular. É pre- ciso, por parte da empresa, que haja controle de seus resultados, mas não necessariamente é preciso que exista uma supervisão direcionada ao modo com que realiza suas tarefas. Uma forma criativa e singular de contornar essa situação é a participação nos processos decisórios, fato este que o favorece, pois através de uma comunicação bem realizada e de baixo para cima, o trabalhador poderá se sentir estimulado, e a empresa verá que a iniciativa do trabalhador causa impactos positivos na produtividade empresarial. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 75 Homem social – não são somente os aspectos fisiológicos que condi- cionam o comportamento dos trabalhadores, existem também as nor- mas e os padrões sociais. O que os trabalhadores querem e buscam é o reconhecimento pelo trabalho feito, aprovação social e participação em grupos. Conteúdo do trabalho – as tarefas devem ser estimulantes, desafiado- ras. Trabalhos simples e repetitivos são também monótonos e afetam ne- gativamente a motivação dos trabalhadores. As tarefas devem ser pensa- das visando incentivar os trabalhadores a se interessarem pelo aumento da produtividade e da melhoria da qualidade do que desenvolvem. Críticas à Escola de Relações Humanas Tal como a Administração Científica e a Teoria Clássica da Administração, a Abordagem Humanística também foi alvo de muitas críticas. Entre todas, podemos citar: Negação do conflito empresa-funcionário – a Escola de Relações Humanas negava que existiam diferenças entre os interesses empre- sariais e os interesses dos trabalhadores. Esse fato mostra que há certa superficialidade na abordagem desse tema. Restrição de variáveis e da amostra – a experiência de Hawthorne analisou somente o âmbito fabril, não possibilitando uma generaliza- ção dos resultados obtidos, pois a amostra de pesquisa em relação ao universo de empresas existentes foi bastante restrita. Concepção utópica – a abordagem proporcionada por Mayo apre- goou que um funcionário feliz e integrado ao ambiente de trabalho produz mais. A bem da verdade, felicidade e produtividade não são elementos diretamente proporcionais, pois funcionários infelizes tam- bém podem produzir bastante. Ênfase excessiva nos grupos informais – o fator integração social foi supervalorizado por essa abordagem com relação à produtividade. Esse fator é apenas uma das características que influenciam a produtividade. Espionagem disfarçada – a perspectiva ofertada pelas conclusões da Escola Humanística no que diz respeito ao estímulo à participação dos funcionários nas decisões não ocorreu na prática. O espaço destinado Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 76 Escola de Relações Humanas a proporcionar essa participação acabou sendo utilizado para antever o discurso dos trabalhadores e as insatisfações, gerando, portanto, mais insatisfações ainda. Ausência de novos critérios de gestão – a Escola de Relações Huma- nas não esclareceu o que poderia ou não ser feito para que melhores resultados fossem obtidos; não havia uma visão social e econômica realista do relacionamento sempre conturbado que existe entre a em- presa e o trabalhador. Ampliando seus conhecimentos A administração participativa (GARCIA, 1975. Adaptado.) A participação dos funcionários nas decisões da empresa, em maior ou menor escala, é uma constante em uma série de modelosde gestão. Nas últimas décadas vem se fortalecendo a adoção do modelo de admi- nistração participativa, devido à velocidade das mudanças, elevação do nível educacional, intensificação das comunicações, a turbulência ambiental (acir- ramento da concorrência) são algumas das razões que justificam a adoção de um maior grau de envolvimento dos funcionários na gestão das empresas. A administração participativa despontou e se consolidou como um dos fa- tores diferenciadores de produtividade e contribuiu para o avanço tecnológi- co dos produtos. O que é administração participativa? Consiste basicamente na criação de oportunidades para que as pessoas influenciem decisões que as afetarão. É uma filosofia que exige que o pro- cesso organizacional de tomada de decisões seja feito de forma que os recur- sos e responsabilidades necessários sejam estendidos até o nível hierárquico mais apropriado. É assegurar que decisões efetivas sejam feitas pelas pessoas certas. É uma filosofia ou política de administração de pessoas, que valoriza sua capacidade de tomada de decisões e resolver problemas. A administração participativa aprimora a satisfação e a motivação no trabalho. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 77 Administrar participativamente consiste em compartilhar as decisões que afetam a empresa, não apenas com os funcionários, mas também com clien- tes, ou usuários, fornecedores, e, eventualmente, distribuidores ou concessio- nários da organização. A meta é construir uma organização participativa em todas as suas interfaces. Quem inventou a administração participativa? É uma ideia que nasceu na Grécia, há mais de 2 000 anos, com o nome de democracia. Apesar disso, é uma ideia moderna, que integra as práticas mais avançadas e é considerada um dos novos paradigmas da administração. É um conceito que continua a oferecer desafios sem resposta definitiva. O que se pretende alcançar com a administração participativa? Maior competitividade. Redução de conflitos através da cooperação; satisfação das pessoas. Utilização de todo o potencial das pessoas. Redução da alienação. Cultura democrática. Equilíbrio dos interesses dos vários envolvidos. Responsabilidades sociais da empresa. Participação no processo decisório Significa consultar as pessoas, individualmente ou em grupo, sobre a solução de problemas, no nível do local de trabalho. E isso pode ocorrer através de: Equipes autogeridas – interação dos integrantes do grupo e interação com outros grupos para resolver problemas e tomar decisões. Participação na direção – Cogestão participar institucionalmente da estrutura de poder da organização, em órgãos e proporção variável. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 78 Escola de Relações Humanas Visa estabelecer bases de cooperação e harmonia entre sindicatos e empresas. Participação nos resultados – a participação nos resultados fecha o círculo do mecanismo da recompensa: se as pessoas participam dos problemas e decisões, também devem de alguma maneira beneficiar- -se dos resultados de seus esforços. Modalidades de participação Do faturamento; Dos incrementos nas receitas; Nas economias ou ganhos de produtividades; Dos lucros e da propriedade da empresa; Comissões sobre vendas; Abonos ou salários por atingimento de metas; Prêmios por sugestões que resultem em economias; Distribuição de ações. A cultura em organizações com administração participativa Cultura é o conjunto de hábitos, valores e crenças que as comunidades e grupos sociais desenvolvem e transmitem para seus novos integrantes. Como são as pessoas e como se deve tratá-las? As pessoas são confiáveis e gostam de assumir responsabilidade. Qual o papel do dirigente e como ele deve comportar-se com o subordinado? O papel é de facilitador e ele deve ver o grupo como empregado da empresa e não como “meu empregado”. De que maneira o subordinado deve comportar-se em relação aos diri- gentes? Não como súditos ou vassalos, mas sim como colaboradores. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 79 Implantação da administração participativa Envolve mudanças em três dimensões da organização: Comportamental – a forma de administrar pessoas – autoritário, im- positivo, indiferente, paternalista para cooperação mútua, liderança, autonomia e responsabilidade. Estrutural – redesenho das estruturas. A estrutura deve estimular as pessoas à participação. Interfaces – a administração é compartilhada pelos funcionários, clien- tes, fornecedores, outras interfaces. A administração participativa pressupõe um amadurecimento cultural que não é obtido sem dificuldade, deve ser continuamente acompanhado e atualizado para que os funcionários não caiam na mesma acomodação que existe nas empresas rígidas. A participação não é uma fórmula mágica, isso requer um trabalho paciente. Nenhuma das formas de participação que foram aplicadas até agora resolveu completamente os problemas e é muito possível que esses problemas, como tantos outros de relações humanas, nunca sejam resolvidos de forma definitiva. Mais importante que buscar soluções totais é reconhecer que se trata de um processo prolongado de aprendizagem. Mandamentos para atrair e manter pessoas nas organizações (SEMLER, 1988) Salário e benefícios adequados. Respeito pelo indivíduo. Produto que seja capaz de gerar orgulho. Sensação de envolvimento e espírito de equipe. Espaço para opinar. Redução da distância entre a cúpula e a base. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 80 Escola de Relações Humanas Preocupação com treinamento e aperfeiçoamento. Seriedade incontestável da empresa. Relativa segurança no emprego. Profissionalismo com ausência de favorecidos e protegidos. Atividades de aplicação 1. Quais as principais conclusões da segunda fase da experiência da Hawthorne? 2. Discorra a respeito do Comportamento Social dos Trabalhadores ob- servado na experiência da Hawthorne. 3. Caracterize o perfil típico do homem social. Gabarito 1. A supervisão mais branda permitia trabalhar com maior liberdade e menor nível de ansiedade; havia um ambiente sem pressões, amistoso, amigável; não havia medo quanto à presença do supervisor; ocorreu certo desenvolvimento social no grupo de observação; o grupo de observação conseguiu desenvolver uma liderança e obje- tivos comuns. 2. A experiência de Hawthorne mostrou que o comportamento dos tra- balhadores apoia-se completamente no grupo a que pertence. Tanto o indivíduo quanto o trabalhador não age ou reage de forma isolada, mas sim como membro de grupos de que fazem parte. No decorrer da experiência, cada trabalhador não se sentia absolutamente livre para estabelecer, por si mesmo, a sua produtividade; esta era estabelecida, imposta e mantida pelo grupo a que pertencia. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Escola de Relações Humanas 81 Qualquer tipo de desvio percebido dessas normas estabelecidas pelo grupo, faria com que o trabalhador sofresse punições sociais ou mes- mo morais por parte de seus colegas de trabalho; punições essas que buscavam ajustá-lo aos padrões estabelecidos pelo grupo. 3. Consideramos que não são somente os aspectos fisiológicos que con- dicionam o comportamento dos trabalhadores, mas existem também as normas e os padrões sociais. O que os trabalhadores querem e bus- cam é o reconhecimentopelo trabalho feito, aprovação social e parti- cipação em grupos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 82 Escola de Relações Humanas Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Referências BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reynaldo C. Teoria Geral da Administração. Gerenciando organizações. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo Japonês). 5. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1992. CERTO, Samuel C. Administração Moderna. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. _____. 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