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QUÍMICA ORGÂNICA
Principais fontes de pesquisa utilizadas:
Química Orgânica - Robert T. Morrison / Robert N. Boyd
Edições Cardoso - São Paulo, 1961
Enciclopédia Ciência Ilustrada
Editora Abril - São Paulo, 1971
Química Orgânica vol. 4 - Ricardo Feltre / Setsuo Yoshinaga
Editora Moderna ltda - São Paulo, 1973
E.D.Q.O. (Estudo Dirigido de Química Orgânica) - Geraldo Camargo de
Carvalho
São Paulo Editora S.A. - São paulo, 1976
Química vol. 3 - Antônio Lembo / Antônio Sardella
Editora Ática S.A. - São Paulo, 1977
Química vol. 3 química orgânica - Carmo Gallo Netto
Editora Scipione ltda. - São Paulo, 1991
2013
INSTITUTO FEDERAL DE RONDÔNIA
CÂMPUS JI-PARANÁ
PROF. MS. VONIVALDO GONÇALVES LEÃO
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1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA ORGÂNICA
1.1. Histórico
1.2. Teoria das ligações e hibridação
1.3. Ligações inermoleculares nos compostos e solubilidade
1.4. Efeito indutivo na cadeia carbônica
1.5. Algumas conseqüências do efeito indutivo
1.5.1. A estabilidade dos carbocátions
1.6. Efeito mesomérico na cadeia carbônica
1.6.1. Efeito mesomérico em fenóis e aminas aromáticas
1.7. Comparação da força ácida
2. O ÁTOMO DE CARBONO E AS CADEIAS CARBÔNICAS
2.1. Modelos moleculares estruturais
2.2. Classificação das cadeias carbônicas
2.2.1. Cadeias acíclicas ou cadeias abertas ou cadeias
alifáticas
2.2.1.1. Quanto à disposição dos átomos
2.2.1.2. Quanto às ligações entre os átomos
2.2.1.3. Quanto à natureza dos átomos
2.2.2. Cadeias cíclicas ou fechadas ou alicíclicas
2.2.2.1. Quanto à disposição dos átomos
2.2.2.2. Quanto às ligações entre os átomos
2.2.2.3. Quanto à natureza dos átomos
3. REAÇÕES ORGÂNICAS
3.1. Rupturas de ligações
3.1.1. Ruptura homolítica
3.1.2. Ruptura heterolítica
3.2. Classificação dos reagentes
3.3. Mecanismos de reações orgânicas
3.4. Classificação das reações orgânicas
3.4.1. Reações de adição
3.4.2. Reações de substituição
3.4.3. Reações de eliminação
3.4.4. Substituição x Eliminação
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HIDROCARBONETOS
1- Nomenclatura
2- Radicais livres
3- A cadeia principal
4- Sub funções
ALCANOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- As conformações moleculares
3- Algumas fontes naturais e aplicações dos alcanos
4- Propriedades físicas
5- Métodos de obtenção
6- Propriedades químicas
ALCENOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- A dupla ligação
3- Isomeria geométrica
4- Propriedades físicas
5- Métodos de obtenção
6- Propriedades químicas
DIENOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Classificação dos dienos
3- Propriedades físicas
4- Métodos de obtenção
5- Propriedades químicas
ALCINOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- A ligação tripla
3- Propriedades físicas
4- Métodos de obtenção
5- Propriedades químicas
HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Teoria das tensões de Baeyer
3- As ligações no ciclohexano
4- Isomeria geométrica
5- Propriedades físicas
6- Métodos de obtenção
7- Propriedades químicas
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HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Estrutura e estabilidade do benzeno
3- A aromaticidade
4- Propriedades físicas
5- Métodos de obtenção
6- Propriedades químicas
7- Orientação da segunda substituição no benzeno
CARBENOS
ISOMERIA ÓPTICA
Parte 1
1- A luz polarizada
2- A atividade óptica
3- Assimetria e Quiralidade molecula
4- Rotação específica
5- Elementos de simetria molecular
- Plano de simetria
- Eixo de simetria
- Centro de simetria
Parte 2
6- Moléculas com mais de um carbono assimétrico
7- Configuração relativa
8- Configuração absoluta
- Configuração absoluta na representação de Fischer
9- Estereoquímica de reações
- Reação no carbono assimétrico
- Reação em carbono não-assimétrico
10- Resolução de racematos
HALETOS DE ALQUILA/ARILA
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos haletos
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ÁLCOOIS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos álcoois
FENÓIS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Sais de fenóis
6- Aplicações dos fenóis
ÉTERES
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos éteres
ALDEÍDOS E CETONAS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos aldeídos e cetonas
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ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Sais de ácidos carboxílicos
6- Aplicações dos ácidos carboxílicos
ÉSTERES
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- As gorduras e o sabão
6- Aplicações dos ésteres
ANIDRIDOS E HALETOS DE ÁCIDOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos anidridos e dos cloretos de ácidos
AMINAS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Sais e hidróxidos de amina quaternária
6- Sais de diazônio
7- Aplicações das aminas
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AMIDAS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações das amidas
NITRILAS E ISONITRILAS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações das nitrilas e isonitrilas
NITROCOMPOSTOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos nitrocompostos
ÁCIDOS SULFÔNICOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos ácidos sulfônicos
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TIO-COMPOSTOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- Propriedades físicas
3- Métodos de obtenção
4- Propriedades químicas
5- Aplicações dos tio-compostos
COMPOSTOS HETEROCÍCLICOS
1- Nomenclatura e exemplos
2- A estabilidade dos compostos heterocíclicos
3- Propriedades físico-químicas
4- Principais ocorrências dos compostos heterocíclicos
5- Algumas aplicações dos compostos heterocíclicos
6- Os Alcalóides
A ESPECTROMETRIA
Parte 1
1- Definição e conceitos importantes
2- A absorção de energia
3- Espectrometria no Ultravioleta
- O gráfico de absorção
- Cálculos teóricos de absorção
Parte 2
4- Espectrometria no Infravermelho
- Os picos de absorção no Infravermelho
- Identificação de bandas caracteríticas
5- Espectrometria de Massa
Parte 3
6- Espectrometria de Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
- A origem do sinal
- O deslocamento químico
- Identificação dos tipos de hidrogênio
- O desdobramento do sinal
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Parte 4
6- Espectrometria de RMN do carbono 13
- Os sinais do espectro de RMN 13C
- O deslocamento químico do 13C
- Cálculos teóricos de deslocamento químico do 13C
POLÍMEROS
1- Introdução
2- Classificação dos polímeros
- Quanto à ocorrência - Quanto à natureza da cadeia -
Quanto à estrutura final do polímero
3- As reações de polimerização- Polímeros de Adição - Copolímeros - Polímeros de
Condensação
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1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA ORGÂNICA
1.1- Histórico
As substâncias encontradas na natureza eram divididas na
antiguidade, em três grandes reinos:
- o vegetal,
- o animal e o mineral.
Tanto o reino vegetal como o reino animal são constituídos por
seres vivos ou orgânicos.
Apesar de serem conhecidas várias substâncias extraídas de
produtos naturais, a Química como ciência, teve início no fim da
Idade Média com o nome de "alquimia".
Os alquimistas, como eram chamados os primeiros pesquisadores
tinham por objetivos:
- transformar qualquer metal em ouro - princípio chamado de
"pedra filosofal" e
- o "elixir da vida", para prolongar a vida.
O médico Paracelso (Suiço) que também atuava no campo da
alquimia, afirmou, que "o homem é um composto químico, cujas
doenças são decorrrentes das alterações desta estrutura, sendo
necessários medicamentos para combater as enfermidades."
Foi o início do uso de medicamentos para curar as enfermidades
da época (séculos XVI e XVII).
Somente no século XVIII foram extraídas várias substâncias a
partir de produtos naturais, além daquelas anteriormente
conhecidas (vinho, fermentação da uva e os produtos obtidos pela
destilação de várias outras substâncias).
Neste mesmo século, no ano de 1777, a química foi dividida em
duas partes de acordo com Torben Olof Bergmann:
- a Química Orgânica que estudava os compostos obtidos
diretamente dos seres vivos;
- a Química Inorgânica que estudava os compostos de origem
mineral.
Entretanto, o desenvolvimento da Química Orgânica era
prejudicado pela crença de que, somente a partir dos organismos
vivos - animais e vegetais - era possível extrair substâncias
orgânicas. Tratava-se de uma teoria, conhecida pelo nome de "Teoria
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da Força Vital, formulada por Jöns Jacob Berzelius, que afirmava: a
força vital é inerente da célula viva e o homem não poderá criá-la
em laboratório".
John Jacob Berzelius (1779-1848): Químico sueco, foi professor
de Química em Estocolmo e Secretário da Academia de Ciências de seu
país. Importante cientista de sua época, dentre inúmeras
contribuições para a ciência, foi quem introduziu, em 1811, os
símbolos que usamos atualmente para nomear os elementos químicos.
Em 1828, após várias tentativas, um dos discípulos de
Berzelius, mais precisamente Friedrich Wöhler, conseguiu por acaso
obter uma substância encontrada na urina e no sangue, conhecida
pelo nome de uréia.
Estando no laboratório, Wöhler aqueceu o composto mineral
"cianato de amônio" e obteve a "uréia", composto orgânico,
derrubando assim, a Teoria da Força Vital.
(Aquecimento do cianato de amônio para obtenção da uréia: Síntese
de Wöhler – 1828.)
Friedrich Wöhler (1800 – 1882): Químico alemão e discípulo de
Berzelius, teve um papel muito importante no desenvolvimento da
Química Orgânca ( e em algumas áreas da Química Inorgânica) no
século passado.
Após o êxito desta experiência vários cientistas voltaram ao
laboratório para obter outras substâncias orgânicas e verificaram
que o elemento fundamental era o carbono.
Em 1858 Friedrich A. Kekulé definiu a Química Orgânica como
sendo a parte da química dos compostos do carbono.
Friedrich August Kekulé (1829-1896): Antes de se dedicar ao
estudo da estrutura molecular de compostos orgânicos, Kekulé
estudou arquitetura. Suas publicações teóricas sobre as ligações do
carbono foram de fundamental importância para o desenvolvimento da
Química Orgânica.
Dentre os vários postulados de Kekulé, estão:
• Tetravalência do carbono;
• O carbono com capacidade de formar cadeias bem como o
silício;
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1.2- Teoria das ligações e hibridização
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Uma ligação sigma é formada pelo compartilhamento de spins de
elétrons em dois orbitais 2p de dois átomos vizinhos. Até o
momento, estamos ignorando as interações de qualquer orbital 2py e
2pz que também contém elétrons desemparelhados, mas que não podem
formar ligações sigma.
Quando os elétrons de dois
hidrogênios se emparelham e os
orbitais s se sobrepõem, formam uma
ligação sigma que é aqui
representada pela superfície
limitante da nuvem eletrônica. A
nuvem tem simetria cilíndrica ao
redor do eixo internuclear
espalhando-se sobre os dois
núcleos.
Uma ligação sigma também pode ser
formada pelo emparelhamento de
elétrons de orbitais 1s e 2p (onde
z é a direção ao longo do eixo
internuclear). Os dois elétrons da
ligação se espalham sobre toda a
região ou espaço ao redor da
superfície limitante.
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Orbitais Moleculares e Hibridização do Carbono
Distribuicão Eletrônica em orbitais
Os elétrons se distribuem em orbitais seguindo duas regras : o
Princípio da exclusão de Pauli e a Regra de Hund ou Regra de máxima
multiplicidade.
• Princípio da exclusão de Pauli : num orbital existem no máximo
2 elétrons com spins opostos
• Regra de Hund ou Regra de máxima multiplicidade : o
preenchimento dos orbitais de um mesmo subnível deve ser feito
de modo que tenhamos o maior número possível de elétrons, ou
seja, desemparelhados.
Exemplo :
1H ==>
1s1
3Li ==> 1s2 2s1
6C ==> 1s2 2s2 2p2
Temos 2 elétrons desemparelhados nos orbitais p
De acordo com Pauling, a formação dos pares eletrônicos,
característicos da ligação covalente, corresponde a uma
interpretação de orbitais atômicos incompletos, ou seja, que
possuem só um elétron, sendo que esses elétrons devem apresentar
spins opostos. Dessa interpenetração resulta um novo orbital,
denominado orbital molecular, contendo um par eletrônico. Desta
maneira, cada orbital incompleto de um átomo correspondente à
possibilidade de uma ligação covalente. Se um átomo, no seu estado
fundamental, apresentar x orbitais incompletos, ele poderá efetuar
x ligações covalentes.
Orbitais Moleculares
• Orbitais :
A região do espaço onde o elétron possivelmente se
encontra é denominada orbital. Na verdade, o orbital não tem
significado físico; é mais uma probabilidade matemática. Podemos
representar o orbital simplificadamente através da linha cheia
que delimita a região onde o elétron "está a maior parte do
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tempo". Comumente os estudos demonstram os orbitais s e p,
presentes em todos os níveis).
• Orbitais moleculares são o resultado do entrosamento de
orbitais atômicos segundo o mesmo eixo são denominados
s(sigma) , os resultantes de entrosamento paralelo, p (pi).
Exemplos da formação de orbitais moleculares.
Exemplo 1 : Formação de H2
Ao formar-se a molécula de H2, ocorre o entrosamento dos orbitais 1s
dos respectivos átomos.
Note-se que a densidade eletrônica entre os núcleos aumenta
consideravelmente. Isto significa que uma vez formada a ligação a
probabilidade de se encontrarem os elétrons na região entre os
núcleos é ainda maior. O orbital molecular formado, que tem a forma
final de um orbital s distorcido, contém os dois núcleos e está
completo, pois possui dois elétrons de spins opostos (Princípio de
Pauli)
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Exemplo2 : Formação da molécula F2
Ao formar-se a molécula F2, ocorre o entrosamento dos orbitais p
semipreenchidos dos átomos de Flúor :
O orbital molecular forma-se à custa do entrosamento de dois
orbitais p e se completa com doiselétrons de spins opostos. Os
dois orbitais p já completos de cada átomo não admitem ligação. Ao
tipo de ligação que tem assimetria axial dá-se o nome de ligação
sigma (s ) – ligação simples.
Exemplo3 : Formação da molécula de HF
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Como apenas um orbital p do Flúor está semipreenchido, somente
ele pode admitir entrosamento com o único orbital s do hidrogênio
(Ligação s (s-p))
Forma-se assim uma ligação sigma. Observa-se o caráter
direcional dos orbitais p.
Exemplo 4 : Formação da molécula de N2
Dois orbitais p , um de cada átomo, entrosam-se, dando origem
a ligação sigma.
Estabelecida a ligação, restam em cada átomo dois orbitais p
semipreenchidos. Eles se aproximam paralelamente segundo um mesmo
plano, dando origem a um outro tipo de ligação: a ligação pi
Como se estabelecem entre os orbitais p situados em um mesmo
plano, as ligações pi pertencem a planos perpendiculares entre si.
As ligações sigma são sempre mais fortes que as ligações pi,
tornando o sistema mais estável com ligações sigma.
• Conceito de Hibridização :
Sendo o carbono tetravalente como o carbono formaria 4
ligações???
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Esta situação pode ocorrer se houver promoção do elétron do
orbital 2s para o terceiro orbital 2p
Haveria alguma diferença entre as 3 ligações p e a única
ligação sigma ???
Foi comprovado experimentalmente que não há diferença entre
essas ligações pois sabe-se que no metano as ligações são
equivalentes.
Hibridização – é a redistribuição dos orbitais atômicos em
orbitais híbridos equivalentes. No caso, corresponderia a
redistribuição de 3 orbitais p e um s em 4 orbitais híbridos com 3
partes de p e uma de s, orbitais híbridos sp3
Hibridização sp3
a) Para o metano CH4
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Desta forma o metano fica assim distribuído
As quatro ligações tem em comum no metano:
• Mesma energia 101k/cal/molde ligação C-H
• Mesmo comprimento 1,10 Aº
• Mesmos ângulos de ligação 109º28´
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b) Para o composto C2H6
Conforme é demonstrado abaixo :
Hibridização sp2
No eteno, cada carbono liga-se a 3 outros átomos
No caso, os orbitais híbridos formam-se com um orbital s
e dois orbitais 2p; pôr isso são chamados de híbridos sp2.
Na distribuição mais estável de 3 orbitais em torno do
núcleo, os elétrons estão nos vértices de um triângulo equilátero
centrado no Carbono
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Na formação da molécula C2H4, ocorre entrosamento entre os
orbitais sp2 dos átomos de carbono, formando um orbital molecular s
(sp2-sp2)
O entrosamento lateral dos orbitais p (entrosamento segundo os
eixos paralelos) dá origem a uma nuvem semelhante ao orbital
atômico p – é chamado orbital molecular pi, constituído de 2
lóbulos, um abaixo, o outro acima do plano que contém os núcleos
dos átomos :
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Hibridização sp
No etino, cada átomo de carbono se liga há 3 ligações
covalentes, teremos uma ligação sigma e duas pi, sendo assim é
necessário que em cada carbono fiquem dois orbitais p inalterados :
No caso, os orbitais híbridos formam-se com um orbital 2s e um
orbitais 2p; pôr isso são chamados de híbridos sp.
Na distribuição mais estável de 2 orbitais em torno do núcleo,
correspondem a um arranjo linear que permite o máximo afastamento
dos orbitais híbridos sp
Na formação da molécula C2H2, para que ocorra o máximo
entrelaçamento entre os orbitais sp dos carbonos , a aproximação
tem que ser linear, dando origem a um orbital Molecular s
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1.3- Ligações intermoleculares nos compostos e solubilidade
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1.4- Efeito Indutivo na cadeia carbônica
Analise o esquema abaixo:
Na ligação C - C numa sucessão só de átomos de carbono os
elétrons da ligação estão equidistantes de cada átomo. Já numa
sucessão de carbonos terminada por um elemento muito
eletronegativo, como o cloro, por exemplo, ocorre uma
deslocalização de elétrons das ligações C - C por causa do efeito
da ligação C - Cl. Esse efeito é chamado efeito indutivo. O cloro
funciona com um ponto de atração eletrônica, "puxando" para si os
elétrons da ligação com o carbono ligado a ele. É como uma trilha
de dominó em que as peças caem umas sobre as outras: o cloro atrai
para si os elétrons da ligação com o carbono ligado a ele; este,
por sua vez, fica com uma certa "deficiência eletrônica" e, por
isso, atrai para si os elétrons da ligação com o carbono seguinte,
tentando compensar essa deficiência, e assim sucessivamente. Isso
acaba gerando uma polarização na cadeia carbônica.
Do ponto de vista do efeito indutivo, existem duas
espécies de grupos que podem se ligar a uma cadeia carbônica:
Grupos elétron-atraentes (efeito indutivo -I): São aqueles que
atraem os elétrons das ligações em sua direção. Os mais importantes
grupos elétron-atraentes são aqueles que possuem elementos muito
eletronegativos em relação ao carbono (F, O, N, Cl, Br, I etc.) ou
radicais insaturados. Os radicais insaturados possuem ligações pi,
que por efeito de ressonância, irão atrair os elétrons das ligações
em sua direção.
Grupos elétron-repelentes (efeito indutivo +I): São aqueles
que "empurram" os elétrons das ligações em direção oposta a eles.
Os mais importantes grupos elétron-repelentes são os radicais
saturados (alquila) e os que possuem carga elétrica negativa. Nos
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radicais alquilas, quanto mais átomos de C e H (com simples
ligações) tiver o radical mais elétron-repelente ele será.
1.5- Algumas consequências do Efeito Indutivo
1.5.1) A estabilidade dos carbocátions:
Uma consequência importantíssima do efeito indutivo relaciona-
se com a estabilidade do carbocátion numa reação química em que há
formação desta espécie como intermediária no processo. O tipo de
carbocátion formado pode determinar que produtos serão formados e
em que proporções relativas. O carbocátion é um íon que possui um
carbono com apenas três ligações (sp2), isto é, possui uma carga
positiva. Experimentalmente verifica-se uma grande facilidade de se
formarem carbocátions terciários (cuja carga positiva está num
carbono terciário) em relação a carbocátions secundários ou
primários. Essa estabilidade diminui do carbocátion terciário para
o secundário e deste para o primário. Veja abaixo a possível
explicação para esse fato:
Nesse caso, a carga positiva funciona como o centro de atração
eletrônica na cadeia. Perceba que no carbocátion primário apenas um
sentido de corrente eletrônica está disponível para compensar a
deficiência de elétrons do carbono sp2. Já no secundário existem
dois sentidos de corrente, e no terciário, três sentidos.
Logicamente, quanto maior a disponibilidade eletrônica para
compensar a carga positiva, maior a facilidade do carbocátion e
maior a facilidade de ser formado. Muitas vezes, devido à alta
instabilidade, os carbocátions primários nem chegam a se formar. A
não ser que as condições do meio em que ocorre a reação sejam
favoráveis à sua formação. Maiores detalhes serão vistos adiantenas reações químicas que passam por carbocátions.
33
1.5.2) Força de ácidos e bases:
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Outra consequência interessante do efeito indutivo relaciona-
se com a força de ácidos e bases orgânicos.
Caráter ácido - Vejamos um ácido carboxílico que possui um
grupo de indução ligado à cadeia. Esse grupo pode ser elétron-
atraente ou elétron-repelente:
No primeiro caso (a) o grupo X é elétron-atraente. O efeito
indutivo é -I e, portanto, deixa a carbonila com déficit
eletrônico, o que leva a um enfraquecimento da ligação com o
hidrogênio ácido. Logo, será mais fácil a liberação do próton.
Assim, o caráter ácido aumenta.
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No segundo caso (b) o grupo X é elétron-repelente. O efeito
indutivo é +I e, portanto, deixa a carbonila com superávit
eletrônico, o que leva a um aumento da força de ligação com o
hidrogênio ácido. Logo, será mais difícil a liberação do próton.
Assim, o caráter ácido diminui.
Caráter básico - Vejamos agora o que ocorre com uma amina
(base orgânica):
Segundo a teoria de Lewis, base é uma espécie química que
possui um ou mais pares eletrônicos não-ligantes, ou seja, é capaz
de coordenar pares eletrônicos. Dessa forma, assim como a força de
um ácido está relacionada com a sua capacidade de receber elétrons,
a "força" de uma base relaciona-se com sua capacidade de coordenar
elétrons. Logo, quanto maior a disponibilidade eletrônica em uma
espécie química, maior será seu caráter básico.
No primeiro caso (a) o grupo X é elétron-atraente. O efeito
indutivo é -I e, portanto, deixa o grupo amino com déficit
eletrônico, o que leva a uma diminuição do seu caráter básico.
No segundo caso (b) o grupo X é elétron-repelente. O efeito
indutivo é +I e, portanto, deixa o grupo amino com superávit
eletrônico, o que leva a um aumento do seu caráter básico.
1.6- Efeito Mesomérico na cadeia carbônica
O efeito mesomérico está diretamente relacionado com o fenômeno
da ressonância. Para que exista ressonância é preciso que haja na
espécie química uma movimentação de elétrons que resulte em duas ou
mais estruturas equivalentes, isto é, estruturas idênticas, mas que
possuem arranjos eletrônicos diferentes. E sempre que essas
estruturas tiverem aproximadamente o mesmo conteúdo energético, a
ressonância será muito importante na estabilidade da espécie
química. Veja o esquema abaixo:
Com o deslocamento do par de elétrons da ligação pi, aparece
uma carga positiva em um carbono e uma carga negativa no outro.
Embora a estrutura carregada eletricamente (da direita) não
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contribua para a estabilidade da molécula, ela é possível, e a
estrutura real da molécula seria um híbrido das duas estruturas
acima - uma estrutura parcialmente ionizada. As setas indicam
apenas uma movimentação de elétrons e não a transformação de uma
estrutura na outra. Essa polarização foi provocada pelo fenômeno da
ressonância. Se a carbonila estiver ligada a outros átomos ela
poderá transmitir essa polarização através da cadeia. Esse fenômeno
é chamado efeito mesomérico ou efeito mesômero.
1.6.1) Efeito mesomérico em fenóis e aminas aromáticas:
Uma consequência muito interessante do efeito mesômero
relaciona-se com a força ácido-básica dos fenóis e das aminas
aromáticas. Por efeito de ressonância, o anel aromático é um
híbrido de várias estruturas equivalentes. Esse fenômeno irá
acarretar algumas consequências nestes compostos. O esquema abaixo
mostra um exemplo de cada um destes compostos (fenol e anilina),
descrevendo as possíveis estruturas de ressonância em cada um
deles:
No primeiro caso (a) os pares eletrônicos não-ligantes do
oxigênio participam da ressonância do anel aromático. O efeito
mesomérico é +M, porque "empurra" os elétrons para o anel e,
portanto, deixa a hidroxila com déficit eletrônico. Isso leva a um
enfraquecimento da ligação O-H, dando assim um caráter ligeiramente
ácido aos fenóis.
O segundo caso (b) é semelhante ao primeiro: o par
eletrônico não-ligante do nitrogênio também participa da
ressonância do anel, porém, a consequência disso é diferente, por
se tratar de uma base. O efeito +M diminui a capacidade do grupo
amino de coordenar elétrons. Assim, seu caráter básico é baixo.
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1.4- Comparação da força ácida
Façamos agora uma comparação do caráter ácido entre algumas
espécies químicas. Vejamos as bases conjugadas do fenol, do ácido
acético e do etanol:
Veja que, para o fenol existem três estruturas de ressonância
possíveis para estabilizar o ânion. Para o ácido acético existem
apenas duas estruturas, e para o álcool, não há estruturas de
ressonância. Sabemos que a ressonância é um importante fator de
estabilidade química. Logo, quanto maior o número de estruturas
possíveis de ressonância, mais estável deverá ser a espécie. Assim,
a força ácida do fenol é realmente maior que a do etanol, porém,
menor do que a do ácido acético. Ora, pelo número de estruturas,
deveríamos esperar justamente o contrário, ou seja, que o fenol
fosse mais ácido que o ácido acético. no entanto, um outro fator
predomina nessa disputa: a semelhança canônica - quando as
estruturas de ressonância são equivalentes (como no caso do ácido
acético), a espécie adquire uma incrível estabilidade se comparada
a uma espécie cujas estruturas canônicas apresentam diferenças
(como no fenol).
É claro que, numa espécie química, a presença ou ausência de
grupos de indução poderá determinar uma força ácida mais ou menos
intensa. Um bom exemplo é o 2,4,6 - trinitrofenol (ácido pícrico):
seu caráter ácido é tão forte quanto os ácidos inorgânicos.
Normalmente, porém, em espécies mais simples, pode-se generalizar:
força ácida: ácido carboxílico > fenol > álcool
38
Outro exemplo:
Como o valor de Ka do p-nitrofenol é o maior, este é o mais
ácido. Sendo o valor de Ka do p-metilfenol o menor de todos, este é
o menos ácido. Observe que o grupo nitro (NO2) exerce um efeito
retirador de elétrons, enfraquecendo a ligação O-H fenólica e
aumentando a acidez enquanto o grupo metil (CH3) exerce um efeito
doador de elétrons, fortalecendo a ligação O-H fenólica e
diminuindo a acidez.
Partindo-se dos valores de Ka podemos perceber que o ácido o-
nitrofenol é cerca de 800 vezes mais ácido que o fenol, não
substituído. O ácido o-metilfenol, por outro lado é apenas cerca de
50 vezes menos ácido que o fenol não substituído. Isto se deve ao
fato de que as intensidades dos efeitos eletrônicos atuantes nessas
moléculas serem diferentes. Dessa forma, podemos facilmente
perceber que a influência de um grupo doador ou retirador de
elétrons no que diz respeito a acidez ou basicidade está
diretamente relacionada com o forma pelo qual estes elétrons são
atraídos ou repelidos.
2. O ÁTOMO DE CARBONO E AS CADEIAS CARBÔNICAS
2.1. Modelos moleculares estruturais
Segundo Kekulé, as ligações do carbono podem ser representadas
por traços, e além de represetá-las mediante traços, ele as situava
em um único plano:
39
Lê Bel e Van’t Hoff propuseram que as quatro valências do
carbono possuíam disposição espacial, isto é, que o carbono ocupa o
centro de um tetraedro regular e que as suas valências se dirigem
para os vértices:
H
C H
H
H
Esquematicamente a representação é:
H
C H
H H
A tridimensionalidade do átomo de carbono também é facilmente
perceptível quandose usa a técnica representativa do modelo
“gravata borboleta”:
C H
H
H H
C
40
Neste modelo as linhas grossas representam as valências que se
projetam para a frente e as linhas pontilhadas as que se projetam
para trás.
Contudo, qualquer desenho representativo de moléculas, quando
se deseja mostrar sua estrutura, sempre fica aquém dos modelos
criados para melhor compreensão da projeção espacial de uma
molécula.
Com tal finalidade foram propostos modelos como o de pau-e-
bola, em que o metano, CH4, teria o seguinte aspecto:
O mesmo metano teria o seguinte aspecto com o modelo de Dreiding:
Modelo de Dreiding Modelo de Hirschfelder
O modelo criado por Hirschfelder é um modelo sumamente
interessante já que mostra o tamanho relativo de cada átomo e, por
isso, é o que mais se aproxima da realidade.
Lewis apresenta a representação do metano no formato de
elétrons entre os átomos de carbono e hodrogênio:
H
H
H
H C
x
x
xx
41
2.2. Classificação das cadeias carbônicas
Inicialmente apresentamos um esquema que lhe servirá de
orientação e lhe proporcionará uma visão geral das cadeias
carbônicas.
Cadeias
Acíclicas,
Abertas ou
Alifáticas
Cíclicas ou
Fechadas
Quanto à disposição
dos átomos
Quanto às ligações
entre os átomos
Quanto à naturreza
dos átomos
Retas ou normais
Ramificadas
Saturadas
Insaturadas
Homogêneas
Heterogêneas
Quanto à disposição
dos átomos
Simples
Ramificadas
Quanto às ligações
Entre os átomos
Saturadas
Insaturadas
Quanto à natureza
dos átomos
Homogêneas
(homocíclicas)
Benzênica ou
Aromática
Mononuclear
Polinuclear
Núcleos Iso-
lados
Núcleos con-
densados
Heterogêneas
(heterocíclicas)
Alicíclica
(cicloalifática)
Ciclânica
Ciclênica
A seguir faremos a descrição sucinta de cada uma das
categorias.
2.2.1. Cadeias acíclicas ou cadeias abertas ou cadeias alifáticas.
São aquelas em que os átomos de carbono se ligam sem formar
ciclo ou anel, tendo extremidas livres na cadeia.
O termo alifático vem do grego aleiphos = eu unto,
compostos da série graxa.
42
Exemplos:
C H 4
CH 3 C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
C H 3
C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
CH 3 C H 3
2.2.1.1.Quanto à disposição dos átomos:
a. As cadeias podem ser retas ou normais, ou seja, apresentam
em sua estrutura carbonos exclusivamente primários, ou primários e
secundários.
Exemplos:
C H 4
CH 3 C H 3
CH 3 O
C H 3
CH 3
C H 3
N H
CH 3
C H 3
CH 3 C H 3
b. As cadeias podem ser ramificadas, ou seja, apresentam em
sua estrutura carbonos terciários e quaternários.
Exemplos:
C H 3
CH 3
CH 3
CH 3
C H 3
CH 3
CH 3
C H 3
CH 3
C H 3
C H 3
CH 3
C H 3
CH 3
CH 3 C H 3 C H 3
C H 3
43
2.2.1.2. Quanto às ligações entre os átomos
A. Saturadas
As ligações saturadas são aquelas onde há superposição de
orbitais chamada de overlap. Tais ligações consideradas na química
como ligações covalentes sigma são consideradas ligações simples e
representadas por traços.
Exemplos:
CH3
CH3 CH3
CH4
CH3 CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3 CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
B. Insaturadas
As ligações insaturadas são aquelas onde a núvem eletrônica
acontece nos orbitais paralelos, não ocorrendo superposição.
Essas ligações são chamadas de ligações covalentes pi. São mais
fracas que as ligações sigma.
Exemplos:
CH3
CH3 CH3
CH2 CH2
CH3
CH
CH2
CH3
CH3 CH3
CH3
CH2
CH2
CH3
CH3
CH3
CH3
44
2.2.1.3. Quanto à natureza dos átomos
A. Homogêneas
As cadeias homogêneas apresentam apenas átomos de
hidrogênio e carbono em suaa estruturas.
Exemplos:
CH3
CH3 CH3
CH2 CH2
CH3
CH
CH2
CH3
CH3 CH3
CH3
CH2
CH2
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3 CH3
CH3
CH3
B.Heterogêneas
Nas cadeias heterogêneas, entre os átomos de carbono há átomos
diferentes de carbono. Os principais átomos que formam uma cadeia
heterogênea são chamados de heteroátomos: S, N, O, P.
Exemplos:
NH
CH3
CH3 CH3
CH2 N
CH3
O CH3
CH3
N CH3
CH3
CH3 CH3
CH3
S
CH2
CH2
CH3
CH3
CH3
CH3
PH CH3
CH3
2.2.2. Cadeias cíclicas ou fechadas
As cadeias cíclicas ou fechadas são aquelas onde os átomos de
carbono ligam-se entre si para formar ciclos ou anéis.
Exemplos:
45
CH2
CH2H2C
ON
H
2.2.2.1. Quanto à disposição dos átomos
A.Simples
São simples quando todos os átomos de carbono pertencem ao
ciclo.
Exemplos:
B.Ramificadas ou mistas
São ramificadas quando apresentam átomos de carbono não
pertencentes ao ciclo.
Exemplos:
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
46
2.2.2.2. Quanto às ligações entre os átomos
A. Saturadas
Quando as ligações no composto só for simples, classificamos o
composto como saturado.
Exemplos:
C H 3
C H 3
C H 3
CH 3
C H 3
C H 3
B. Insaturadas
Quando os compostos apresentarem duplas ou triplas ligações
entre os carbonos, então serão classificados como insaturados.
Exemplos:
CH3
CH3
CH3
CH3
CH2
CH3
2.2.2.3. Quanto à natureza dos átomos
A. Homogêneas ou homocíclicas
Homogêneas ou homocíclicas são os compostos que apresentam
apenas ligações entre carbono. Não há a presença de um heteroátomo
entre dois carbonos.
Exemplos:
47
OH
CH3
CH3
CH3
CH3
NH2
A.1.1. Homogêneas ou homocíclicas Benzênica ou aromática
Apresentam o ciclo formado pelo anel benzênico.
Exemplos:
CH3
CH3
A.1.2. Homogênias ou homocíclicas aromáticas mononuclear
Apresentam apenas um anel aromático.
CH3
CH3
A.1.3. Homogêneas ou homocíclicas aromáticas polinuclear
Apresentam mais de um anel aromático.
Exemplos:
CH3
CH3
A.2. Homogêneas ou homocíclicas alicíclicas ou cicloalifáticas
São cadeias cíclicas não benzênicas
Exemplos:
48
A.2.1. Homogênias ou homocíclicas alicíclicas ciclânicas
São cadeias cíclicas com ligações simples entre átomos de
carbono.
Exemplo:
A.2.2. Homogêneas ou homocíclicas alicíclicas ciclênicas
São cadeias cíclicas com ligações duplas entre os átomos de
carbono.
Exemplos:
C H 3
B. Heterogêneas ou heterocíclicas
São cadeias cíclicas que apresentam entre os átomos de carbono
do ciclo um heteroátomo.
Exemplos:
N
H
S
O
O C H 3
49
3. AS REAÇÕES ORGÂNICAS
O estudo das reações orgânicas pode ser feito de várias
formas. A maioria dos autores prefere discutir primeiramente os
aspectos teóricos pertinentes ao tipo de cisãoque pode ocorrer
numa ligação química bem como os efeitos eletrônicos que podem
estar envolvidos nessas quebras. Nesse contexto faz-se necessário o
entendimento de como ocorre de fato uma reação. Qualquer que seja a
reação orgânica (ou inorgânica), esta envolve o mesmo processo
mecanístico: no início deve haver contato e afinidade entre os
reagentes.
Em segundo lugar, mesmo que haja contato e afinidade, deve
haver uma energia mínima necessária para se alcançar o que chamamos
de “estado de transição”. Nesse momento temos uma reação
propriamente dita. Supondo que estas condições sejam obedecidas,
todas as reações se processam a partir do rearranjo molecular dos
reagentes participantes para se converter em produtos. Em outras
palavras, de forma resumida, deve haver quebra de ligações entre os
reagentes e formação de novas ligações nos produtos.
3.1- Rupturas de ligações
Nas reações orgânicas é muito comum a formação de
grupos intermediários instáveis, sendo, portanto, de existência
transitória, nos quais o carbono não tem efetuadas suas quatro
ligações. Estes grupos se originam da ruptura de ligações entre
átomos, que pode ocorrer de modo homogêneo ou heterogêneo.
3.1.1) Ruptura Homolítica:
Quando a ruptura é feita igualmente, de modo que
cada átomo fique com seu elétron original da ligação, temos uma
ruptura homolítica, que resulta na formação de radicais livres.
Radical livre, portanto, é um átomo ou grupo de átomos com elétrons
desemparelhados, e têm carga elétrica igual a zero. As rupturas
homolíticas frequentemente ocorrem em moléculas apolares ou com
baixa diferença de eletronegatividade entre os átomos das ligações
e exigem alta energia. Veja o exemplo abaixo:
50
3.1.2) Ruptura Heterolítica:
Quando a ruptura é feita de modo desigual, ficando o par
eletrônico com apenas um dos átomos da ligação, temos uma ruptura
heterolítica, resultando na formação de íons. As rupturas
heterolíticas frequentemente ocorrem em ligações polarizadas, em
presença de solventes polares, à custa de pouca energia. Veja os
seguintes exemplos:
a) Rompendo-se heteroliticamente a ligação entre o
carbono e o bromo, de modo que o bromo, sendo mais eletronegativo,
leve consigo o par eletrônico, temos a formação do íon brometo e do
carbocátion.
b) Rompendo-se heteroliticamente a ligação entre o
carbono e o hidrogênio, de modo que o carbono leve consigo o par
eletrônico, temos a formação de um carbânion ou carboânion, e um
íon H+ (próton).
3.2- Classificação dos reagentes
As espécies químicas que se combinam com os compostos
orgânicos são classificados em dois tipos, conforme utilizem os
elétrons ou os forneça para efetuar a ligação com o composto
orgânico:
Reagente eletrófilo (E) - O eletrófilo é uma espécie que
possui afinidade por elétrons, e se liga a espécies capazes de
51
fornecer-lhe esses elétrons (ver teoria de Lewis). O eletrófilo
pode ser um cátion ou uma molécula com deficiência eletrônica (com
orbital vazio para receber um par eletrônico). Quando um eletrófilo
se combina com um reagente orgânico (substrato), temos uma reação
eletrofílica. Pelo conceito de Lewis, o reagente eletrófilo é um
ácido e o substrato é uma base.
Reagente nucleófilo (:Nu) - O nucleófilo é uma espécie
que possui par de elétrons disponíveis para efetuar uma ligação, e
se liga a espécies capazes de comportar esses elétrons (ver teoria
de Lewis). O nucleófilo pode ser um ânion ou uma molécula com
disponibilidade eletrônica (com orbital preenchido para coordenar
elétrons não-ligantes). Quando um eletrófilo se combina com um
reagente orgânico, chamado de substrato (S), temos uma reação
nucleofílica. Pelo conceito de Lewis, o reagente nucleófilo é uma
base e o substrato é um ácido.
3.3- Mecanismos de reações orgânicas
Mecanismo de uma reação é a descrição das várias etapas
pelas quais ela passa, como a ruptura das ligações, os ataques
eletrofílicos e nucleofílicos ao reagente orgânico, a formação de
novas ligações e de compostos intermediários etc. Um mecanismo
proposto é sempre um modelo que se baseia em evidências
experimentais, mas nem sempre é a única maneira de se explicar a
formação de determinado produto. No mecanismo da reação influem
fatores eletrônicos (polaridade das ligações, deslocalização de
elétrons etc), fatores estéricos (presença ou não de grupos
volumosos envolvendo o centro reativo da molécula etc) e a natureza
52
do solvente. Uma reação orgânica pode ocorrer basicamente de duas
maneiras: ionicamente ou via radicais livres.
Mecanismo iônico - Inicia-se com a ruptura heterolítica
de uma ligação covalente, originando íons (entre eles, o
carbocátion). Normalmente a ligação a ser rompida é polarizada e a
reação ocorre em solvente polar. Assim, os íons formados se
estabilizam por solvatação.
Mecanismo via radicais livres - Inicia-se com a ruptura
homolítica de uma ligação covalente, formando radicais livres, em
geral, muito instáveis, portanto, muito reativos. Por não possuírem
carga elétrica, não podem ser estabilizados por solvatação, e
tendem a se combinar instantaneamente com outros radicais para
adquirir estabilidade.
Muitas vezes, num sistema em reação, existem, por
exemplo, mais de uma espécie de nucleófilo ou eletrófilo, que então
competem para a reação com o substrato. No entanto, vários fatores
físicos e químicos vão determinar qual deles é que vai efetivamente
reagir, como por exemplo, reagentes muito volumosos, força ácido-
básica etc. Antes de se realizar uma reação, todas as
características dos reagentes são verificadas e os reagentes são
escolhidos convenientemente, dependendo do produto que se deseja
obter. Deve-se deixar bem claro: O mecanismo de uma reação é uma
maneira didática de explicar passo a passo a formação de
determinado produto. Não importa se existem possibilidades de
formação de outros produtos. O mecanismo tem que explicar o que
aconteceu realmente na prática.
3.4- Classificação das reações orgânicas
Quando uma reação orgânica efetua-se em diversas etapas,
é a primeira etapa que irá classificar essa reação.
3.4.1) Reações de Adição:
Nas reações de adição dois reagentes originam um único
produto: A + B C
Adição nucleofílica - Reação comum dos compostos
carbonilados, ocorre quando o substrato adiciona na primeira etapa
um reagente nucleófilo.
• 1o etapa: adição nucleofílica
• 2o etapa: adição eletrofílica
Vejamos como se comporta um aldeído (ou cetona) quando em
contato com HCN. Primeiramente ocorre uma cisão heterolítica do
HCN, que é um ácido fraco (dissociação): HCN H+ + CN -
53
Adição eletrofílica - Reação comum em alcenos e alcinos,
ocorre quando o substrato adiciona na primeira etapa um reagente
eletrófilo:
• 1o etapa: adição eletrofílica
• 2o etapa: adição nucleofílica
Veja um exemplo:
É importante dizer que a entrada do nucleófilo se dá
na posição trans em relação ao eletrófilo anteriormente adicionado.
Isso ocorre devido às repulsões intereletrônicas entre os dois
átomos de cloro. A posição trans é a mais estável.
3.4.2) Reações de Substituição:
Nas reações de substituição, o substrato tem um de
seus ligantes substituído por outro: A-B + C A-C + B
Substituição nucleofílica - Essa reação é típica dos
haletos, e em sua primeira etapa um dos gruposdo substrato é
substituído por um reagente nucleófilo.
Substituição Nucleofílica bimolecular ou de 2o ordem (SN2)
- Nesse mecanismo ocorrem dois fatos importantes: ataque
nucleofílico, formando um estado de transição (etapa lenta) e
eliminação do grupo abandonador (etapa rápida). Nesse mecanismo, a
velocidade da reação depende da concentração dos dois reagentes - o
nucleófilo e o substrato. Isso porque a primeira etapa, que é lenta
e por isso determina a velocidade da reação, depende dos dois
reagentes para ocorrer - a formação do estado de transição. Veja um
exemplo:
54
A reação por SN2 origina um produto cuja
configuração absoluta é oposta à inicial (inversão total de
configuração). Isso porque a entrada do nucleófilo (no caso do
exemplo acima, o OH-) se dá em lado contrário ao grupo anbandonador
(no caso do exemplo acima, o Br), devido às repulsões entre pares
eletrônicos dos grupos ligantes. O carbono, incialmente
tetraédrico, adquire uma estrutura radial, no estado de transição,
com cinco ligantes: a ligação com o Br está sendo desfeita e,
simultaneamente, está se formando a ligação com o OH. EM seguida,
após a saída do Br, o carbono reassume a forma tetraédrica, mas em
configuração invertida à original.
Veja abaixo alguns fatores que favorecem o mecanismo
SN2:
• Pressão - Como o mecanismo SN2 depende da concentração de
ambos os reagentes, é fundamental um grande número de
choques entre eles para que a reação ocorra. Por isso,
quanto maior a pressão mais intensas serão as colisões
intermoleculares.
• Solvente apolar - Como o estado de transição (complexo
ativado) no mecanismo SN2 é uma estrutura sem carga
elétrica, um solvente polar poderia desestabilizar a
estrutura, por distorcer a nuvem eletrônica dessa
estrutura. Nesse caso, um solvente apolar seria o ideal
para manter o estado de transição durante a reação.
• Cadeia pequena - Se a cadeia carbônica for pequena, sem
ramificações, será mais fácil a aproximação do
nucleófilo, para efetuar a ligação com o substrato e
formar o estado de transição, sem a necessidade de
eliminar antes o grupo abandonador. O mecanismo SN2,
portanto, é favorecido.
• Efeito indutivo -I - Quando a cadeia carbônica apresenta
grupos elétron-atraentes, que "puxam" elétrons para eles,
esses elétrons "parcialmente retirados" contribuirão para
desestabilizar o carbocátion que possivelmente se forme.
Portanto, o mecanismo mais favorecido será o SN2, que não
forma carbocátion.
Substituição Nucleofílica monomolecular ou de 1o ordem
(SN1) - Nesse tipo de reação, ocorrem dois fatos importantes:
formação do carbocátion, eliminando o grupo abandonador (etapa
lenta) e ataque nucleofílico (etapa rápida). Nesse mecanismo, a
velocidade da reação depende da concentração de apenas um dos
reagentes - o substrato. Isso porque a primeira etapa, que é lenta
e por isso determina a velocidade da reação, não depende do
nucleófilo, pois a formação do carbocátion acontece pela absorção
de energia, não envolvendo outras estruturas. Veja um exemplo:
55
A reação por SN1 origina uma mistura de
enantiômeros: ocorre retenção e inversão de configuração. Isso
porque o carbocátion tem geometria trigonal plana, oferecendo dois
lados para a entrada do nucleófilo. No entanto, a racemização não é
completa, e geralmente predomina o enantiômero de configuração
invertida. Isto ocorre provavelmente devido ao fato de o haleto,
durante sua saída, proteger (por causa das repulsões inter-
eletrônicas com o OH-) esse lado do carbono contra o ataque do
nucleófilo, que então entra preferencialmente, pela retaguarda.
Veja abaixo alguns fatores que favorecem o mecanismo SN1:
• Temperatura - Como no mecanismo SN1 o estado
intermediário é um carbocátion, um estado altamente
energético, quanto maior a disponibilidade de energia no
meio, mais favorecida será a formação desse carbocátion.
• Solvente polar - Por possuir carga elétrica, o
carbocátion pode ser estabilizado por um solvente polar.
A atração eletrostática que as moléculas polares do
solvente exercem sobre o carcocátion facilita a formação
do carbocátion.
• Cadeia ramificada - Se a cadeia carbônica for muito
ramificada, criar-se-á uma certa "dificuldade" de
aproximação e ligação do nucleófilo com o substrato, ou
seja, será mais difícil a formação de um estado de
transição. Logo, o mecanismo SN1 será favorecido. Essa
dificuldade é denominada impedimento estérico. Atente
para o seguinte fato: A molécula volumosa do (CH3)3C - Br
tem geometria tetraédrica, de difícil aproximação do
nucleófilo para formar o complexo ativado. Porém, com a
saída do Br ela adquire uma geometria trigonal plana
(carbocátion), menos volumosa, facilitando a entrada do
nucleófilo.
• Efeito indutivo +I - Quando a cadeia carbônica do
carbocátion apresenta grupos elétron-repelentes, ou seja,
que "empurram" elétrons para o carbono sp2, esses elétrons
contribuirão para estabilizar o carbocátion.
Substituição eletrofílica - Essa reação, típica dos
compostos aromáticos, e em sua primeira etapa um dos grupos do
substrato é substituído por um reagente eletrófilo.
• 1o etapa: adição eletrofílica
• 2o etapa: eliminação
A primeira etapa consiste no ataque do substrato a
um eletrófilo , formando um carbocátion. Em seguida o carbocátion
elimina um próton (desprotonação), neutralizando a estrutura.
56
Veja um exemplo:
Substituição por radical livre - Nessa reação,
típica de alcanos, o substrato sofre na primeira etapa um ataque
por radical livre. Veja um exemplo:
3.4.3) Reações de Eliminação:
Geralmente, nas reações de eliminação, o substrato
tem dois de seus ligantes retirados, formando uma insaturação: B-A-
A-C A=A + B + C
Eliminação E1 ou de primeira ordem - O mecanismo E1
tem certa semelhança com a reação SN1. Forma-se um carbocátion na
primeira etapa e a velocidade da reação só depende da concentração
do substrato. Os fatores que favorecem esse mecanismo são os mesmos
que favorecem SN1. Vejamos um exemplo:
57
Eliminação E2 ou de segunda ordem - O mecanismo E2
tem certa semelhança com a reação SN2. Forma-se um estado
intermediário na primeira etapa e a velocidade da reação depende da
concentração de ambos os reagentes. Os fatores que favorecem esse
mecanismo são os mesmos que favorecem SN2. Vejamos um exemplo:
3.4.4) Substituição x Eliminação:
Uma comparação importante pode ser feita entre os
mecanismos SN e E. Isto porque, sempre existirão, durante uma
substituição nucleofílica ou uma eliminação, porcentagens de
produtos de substituição e eliminação, em quantidades variadas.
Tome como exemplo a reação acima, do 2- bromo butano com o íon
hidróxido. Se o OH- atacar o carbono, a reação será de substituição
e o produto será um álcool; mas se atacar um hidrogênio, será de
eliminação e o produto será um alceno. Tanto maior será a
porcentagem de produto de eliminação quanto mais ramificado for o
alceno que puder ser formado, devido à estabilidade dos alcenos
ramificados. Assim, no caso dos haletos, os haletos primários
sofrerão mais rapidamente substituição e os haletos terciários
(mais ramificados) sofrerão mais rapidamente eliminação.
58
4.HIDROCARBONETOS
4.1- Nomenclatura
A nomenclatura dos hidrocarbonetos, assim como a de todos
os compostos orgânicos está baseada na utilização de prefixos,
infixos e sufixos. O prefixo indica o número de carbonos existente
na cadeia:
1 C- MET 5 C - PENT 9 C – NON
2 C - ET 6 C - HEX 10 C – DEC
3 C - PROP 7 C - HEPT 11 C – UNDEC
4 C - BUT 8 C - OCT 12 C - DODEC
13 C - TRIDEC
21 C – HENEICOS 50 C – PENTACONT
14 C – TETRADEC 22 C – DOEICOS 60 C – HEXACONT
15 C – PENTADEC 30 C – TRIACONT 90 C – NONACONT
20 C – EICOS 40 C – TETRACONT 100 C – HECT
O infixo está relacionado com à saturação do composto e o
sufixo designa a subfunção do hidrocarboneto (alcano, alceno,
alcadieno, alcino, alcenino etc.):
• A cadeia não contém insaturações - prefixo + ANO
• A cadeia contém uma dupla - prefixo + ENO
• A cadeia contém uma tripla - prefixo + INO
• A cadeia contém uma duas duplas - prefixo + ADIENO
• A cadeia contém uma dupla e uma tripla - prefixo + ENINO
• A cadeia contém duas ligações duplas – prefixo + DIEN
• A cadeia contém três ligações duplas – prefixo + TRIEN
59
• A cadeia contém duas ligações triplas – prefixo + DIIN
4.2- Radicais livres
Imagine uma ligação covalente entre carbono e hidrogênio.
Se houver uma ruptura homolítica dessa ligação, teremos a formação
de um radical livre:
Os radicais são nomeados usando-se o prefixo do número de
carbonos seguido do sufixo IL (a) (o). Abaixo estão representados
os principais radicais livres derivados dos hidrocarbonetos.
4.3- A cadeia principal
Um hidrocarboneto é nomeado de acordo com sua cadeia
principal. A escolha da cadeia principal segue, em ordem de
prioridade, as seguintes exigências:
• Deve conter o maior número de insaturações
• Deve ter a maior sequência de carbonos possível
• Deve apresentar o maior número de radicais e os menos
complexos possíveis
60
Os átomos de carbono restantes são considerados como
radicais. A numeração da cadeia começa preferencialmente da
extremidade mais próxima da insaturação, se houver. Caso contrário
inicia-se da extremidade mais próxima do carbono que contém mais
radicais, dando preferência aos menos complexos. Veja o exemplo
abaixo - a cadeia principal está em vermelho e os radicais em azul:
Ou
2,3,8-trimetil-3,7-dietil-7-isopropil-non-4-eno.
É fundamental localizar a insaturação na cadeia,
numerando-a no final do nome. Veja que no exemplo acima, a dupla
ligação está na quarta posição. Os radicais são colocados em ordem
de complexidade ou em ordem alfabética, no caso de igual
complexidade. Se o composto tiver cadeia fechada e esta contiver
maior número de carbonos que a maior ramificação dá-se preferência
a ela como principal e as ramificações são consideradas radicais.
Daí acrescenta-se o termo CICLO antes do prefixo:
61
4.4- Subfunções
Os hidrocarbonetos são divididos em várias classes ou
subfunções, baseadas na saturação ou insaturação do composto, o que
lhes confere propriedades físico-químicas muito diferentes. São as
principais classes de hidrocarbonetos:
4.4.1. ALCANOS
4.4.2. ALCENOS
4.4.3. ALCADIENOS
4.4.4. ALCINOS
4.4.5. ALICÍCLICOS
4.4.6. AROMÁTICOS
4.4.1. ALCANOS ou PARAFINAS
62
4.4.1.1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + ano
63
64
Alguns exemplos importantes:
OBS: é comum também a denominação n-alcano para os
alcanos cadeias normais, para diferenciá-los dos isômeros de cadeia
ramificada. Ex: n-propano.
4.2- As conformações moleculares
Os alcanos são hidrocarbonetos saturados, ou seja, todos
os seus carbonos realizam quatro ligações simples. A hibridação
nesse caso é sp3, o que lhes confere uma geometria tetraédrica. Veja
abaixo duas posições espaciais para a molécula de etano:
65
66
67
Trata-se de duas posições completamente opostas entre si.
no entanto, entre essas duas posições existe uma infinidade de
outras posições possíveis. essas posições são chamadas de
conformações. Mas qual seria então a verdadeira conformação do
etano? A resposta é: todas elas.
A ligação sigma que une dois átomos de carbono tem
simetria cilíndrica - a sobreposição de orbitais e a energia da
ligação, portanto, deve ser a mesma em todas as disposições
possíveis. Se os vários arranjos possíveis não diferem entre si
quanto aos valores correspondentes de energia, a molécula não
ficará restrita a um, entre eles, mas poderá mudar livremente de um
arranjo para outro. Dado que a passagem de uma conformação para
outra se faz por meio da rotação da ligação sigma carbono-carbono,
dizemos que existe uma rotação livre à volta da ligação simples
carbono-carbono.
Certas propriedades físicas indicam que a conformação
eclíptica, no caso do etano, aumenta a energia do sistema em 3
kcal/mol, devido à repulsões que surge entre os pares de elétrons
que mantêm os hidrogênios em posição. Essa repulsão é chamada de
interação não-dirigida, e desestabiliza o sistema. A maioria das
moléculas do etano, portanto, deve existir na conformação
interpolada, que é mais estável. Contudo, a barreira de 3 kcal não
se pode considerar alta. mesmo à temperatura ambiente, é bastante
elevada a fração de choques entre as moléculas que se dão com
energia suficiente para operar a passagem de uma conformação à
outra.
68
A interconversão de uma estrutura na outra é tão rápida
que não se pode separá-las. A temperaturas muito baixas, porém, a
energia dos choques entre as moléculas é baixa. isso explica o fato
de se ter conseguido separar dois isômeros do composto CHBr2CHBr2 em
que há considerável aglomeração atômica.
4.3- Algumas fontes naturais e aplicações dos alcanos
O metano, o mais simples dos alcanos, e outros alcanos
com poucos átomos de carbono constituem a parte principal dos gases
emanados presentes nos terrenos petrolíferos e em locais
pantanosos, onde há muita matéria orgânica em decomposição, ou nas
minas de sais potássicos, onde se notam, frequentemente, formações
de gases ricos em metano. Outra fonte natural de alcanos é o
petróleo, geralmente formado por uma mistura de hidrocarbonetos nos
quais os átomos de carbono variam de 1 a 40. Também em algumas
essências vegetais verifica-se a presença de alcanos, em especial o
heptano normal. Outros alcanos, de elevada massa molecular,
encontram-se em pequenas porcentagens na cera de abelha,
principalmente o heptacosano (C27H56) e o hentriacotano (C31H64).
4.4- Propriedades físicas
Por serem compostos completamente apolares, as forças (de
Van der Waals) que mantêm unidas as moléculas dos alcanos são
muitas fracas e de curto raio de ação - atuam apenas entre partes
de moléculas vizinhas que se encontrem em contato, ou seja, entre
as superfícies das moléculas. Deve-se esperar, portanto, que quanto
maior for a molécula, e consequentemente a área superficial,
maiores serão as forças intermoleculares. Assim, algumas
propriedades físicas, como o ponto de fusão (PF) e o ponto de
ebulição (PE) crescem à medida que aumenta o número de carbonos na
cadeia dos alcanos.
À temperatura ambiente os n-alcanos com até 4 carbonos
são gasosos;de 5 a 16 carbonos são líquidos e acima de 17 são
sólidos. Os alcanos isômeros apresentam diferenças no PE e PF. Por
exemplo, o butano tem PE = 0,8o C e o isobutano tem PE = -11,7o C.
Pode-se generalizar que, para alcanos isômeros, aquele que tiver
maior número de ramificações terá menor ponto de ebulição. Imagina-
se que, pela inserção de cadeias laterais, a molécula tende a
aproximar-se da forma esférica; isso produz um decréscimo da área
superficial relativa e, consequentemente, enfraquecimento das
forças intermoleculares, as quais podem, assim, ser vencidas a
temperaturas mais baixas.
Quanto à solubilidade, os alcanos, sendo moléculas
apolares, dissolvem-se apenas em solventes apolares como benzeno e
em outros alcanos líquidos (gasolina, querosene etc). A densidade
dos alcanos aumenta inicialmente com o peso molecular, mas tende
69
depois para um limite de cerca de 0,778, sendo todos, portanto,
menos densos que a água.
4.5- Métodos de obtenção
Os alcanos mais baixos, desde o metano até o n-pentano,
podem ser obtidos em estado puro, pela destilação fracionada do
petróleo e do gás natural. As frações separadas do petróleo, no
entanto, são constituídas de misturas complexas de vários
hidrocabonetos com diferentes números de átomos de carbono e, sob a
forma de diversos isômeros. Os demais alcanos têm de ser preparados
em laboratório. O uso que se dá a cada uma das frações depende
essencialmente da respectiva volatilidade ou viscosidade dos
compostos.
Os métodos de obtenção dos Alcanos podem ser classificados em 4
tipos:
1. Métodos que mantêm a cadeia carbônica;
2. Métodos que aumentam a cadeia carbônica;
3. Métodos que diminuem a cadeia carbônica;
4. Métodos a partir de fontes naturais.
A seguir, descreveremos os principais métodos de cada um destes
tipos:
1. Métodos que mantêm a cadeia carbônica
Nestes métodos o número de átomos de carbono do Alcano obtido
é o mesmo da substância que lhe dá origem.
A seguir descreveremos os seguintes métodos desse tipo:
1.1. Método de Sabatier-Senderens;
1.2. Método de Berthelot;
1.3. Redução de haletos de alquila;
1.4. Método de Grignard.
1.1. Método de Sabatier-Senderens
Consiste na hidrogenação catalítica de alceno ou alcino. A
ligação dupla de um alceno ou a ligação tripla de um alcino podem
adicionar hidrogênio quantitativamente em presença de
catalisadoresde platina, paládio ou níquel para formar um alcano
com o mesmo esqueleto carbonado.
70
Exemplos:
Importante:
Com catalisador de platina ou paládio, os mais ativos, a
reação se efetua a temperatura e pressão ambientes. Com catalisador
de níquel, menos ativo porém mais barato, há necessidade de
empregar temperaturas de 100oC a 150oC e pressão de 70 a 150
atmosferas para aumentar a velocidade da reação.
A hidrogenação (redução) de alcenos constitui a
síntese mais importante dos alcanos, pois se trata de uma reação
totalmente geral e só é limitada pela oferta de alcenos que, por
sua vez, podem ser obtidos com facilidade a partir dos álcoois.
1.2. Método de Berthelot
Consiste na hidrogenação de uma substância orgânica
qualquer pelo hidrogênio nascente fornecido pela dissociação, a
280 oC, do ácido iodídrico, HI, chamado de redutor universal de
Berthelot.
Neste método, as ligações duplas e triplas tornam-se
simples; os halogênios transformam-se em hidrácidos, o oxigênio em
água, o enxofre em ácido sulfídrico, o nitrogênio em amoníaco, e
assim por diante.
CH2 CH CH3 + H2
Pt, Pd, Ni
CH3 CH2 CH3P
r
o
p
e
n
o
P
r
o
p
a
n
o
CH CH + H2
Pt, Pd, Ni
CH2 CH2E
t
i
n
o
E
t
e
n
o
E
s
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q
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n
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l
m
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n
t
e
:
E
s
e
q
ü
e
n
c
i
a
l
m
e
n
t
e
:
CH2 CH2 + H2
Pt, Pd, Ni
CH3 CH3E
t
e
n
o
E
t
a
n
o
71
1.3 Redução de haletos de alquila
Os haletos de alquila podem ser reduzidos diretamente a
alcanos, por meio do H do hidreto de lítio e alumínio, LiAlH4.
a) pelo hidrogênio nascente
O hidrogênio pode ser obtido por meio de sistemas como
HCl + Zn, Álcool + Na ou H2O + Na.Hg (Amálgama de sódio). Também
pode ser usado hidrogênio gasoso com catalisador de platina ou
paládio.
b) Pelo hidreto metálico de lítio e alumínio
Desde sua introdução, em 1947, o hidreto de lítio e
alumínio vem substituindo, em grande parte, muitos outros agentes
redutores mais antigos.
1.4 Método de Grignard
Consiste na hidrólise simples de um composto de
Grignard em que o grupo orgânico ligado ao magnésio seja alifático
saturado:
CCl4
+
8HI CH4
+
4HCl
+
4I2
Tetacloreto
de carbono
Metano
C2H5OH
+
2HI C2H6
+
H2O
+
I2
Etanol Etano
C6H12O6
+
14HI C6H14
+
6H2O
+
7I2
Glicose Hexano
C2H5.NH2
+
2HI C2H6
+
NH3
+
I2
Etilamina Etano
H3C-COOH
+
6HI CH3 CH3
+
H2O
+
3I2
Ácido acético Etano
CH3 I
+
HI CH4
+
I2
CH3 CH2 CH2 Br + 2H CH3 CH2 CH3 + HBr
Brometo de propila Propano
CH3 Cl + LiAlH 4CH4 + LiCl + AlCl3
72
Equação geral:
R-Mg-X + HOH RH + Mg(OH)X
2. Métodos que aumentam a cadeia caarbônica
Nestes métodos, o número de átomos de carbonos do alcano
obtido é maior do que o número de átomos de carbono do composto que
lhe deu origem. Apresentaremos três métodos desta categoria, a
saber:
2.1 Método de Wurtz;
2.2 Método de Grignard;
2.3 Método de Kolbe.
2.1. Método de Wurtz
Consiste na reação de um iodeto de alquila com sódio.
Este método é aplicável a todos os alcanos, exceto ao metano. Já
permitiu preparar alcanos até o tetrahexacontano, C64H130.
Equação geral:
R I + Na + Na + I R � R-R + 2NaI
Na síntese de Wurtz há duas possibilidades:
1a) A partir de um só iodeto:
2RI + 2Na�R-R + 2NaI (as moléculas de R-R são simétricas.)
2a) A partir de iodetos diferentes:
RI + R’I + 2Na�R-R’ + 2NaI (Além desta, ocorrem mais duas
reações para formar R-R e R’-R’).
2.2. O método de Grignard
Consiste na reação entre um composto de Grignard
alifático e saturado com um haleto orgânico também alifático e
saturado:
Equação geral:
R – MgBr + R’-Br � R-R’ + MgBr2
2.3. Método de Kolbe ou síntese anódica
73
Consiste na eletrólise de um sal sódico ou potássico de
ácido carboxílico alifático e saturado, em solução aquosa.
Nesta síntese o alcano obtido terá sempre 2n-2 carbonos.
3. Métodos que diminuem a cadeia
3.1. Método de Dumas
Consiste no aquecimento de sais sódicos de ácidos carboxílicos
alifáticos saturados com cal sodada. A cal sodada é uma mistura de
NaOH com CaO. A função da cal, CaO, na reação é moderar a ação
corrosiva do NaOH.
Dos exemplos apresentados, podemos tirar as seguintes
conclusões:
2 CH 3 CH 2 C
O
O N a
2 CH 3 CH 2 C
O
O-
+ 2 Na +
S u b m e te n d o a s o lu ç ã o a q u o s a à e le tró l is e , te re m o s n o
â n o d o :
2 CH 3 CH 2 C
O
O-
2e- H 3 C - CH 2
H 3 C - CH 2 :
: C
O-
O
C
O
O-
CH 3 CH 2 CH 2 C H 3 + 2 CO 2
n-Butano
CH 3 C
O
O
Na
+ NaOH
CaO
CH 4 + Na 2CO 3
Acetato de Sódio
Metano
C
O
O
CH 2
C
O
O Na
Na
+ 2NaOH
CaOCH 4 + 2Na 2CO 3
Malonato de sódio
Metano
CH 3 CH 2 C
O
ONa
+ NaOH
CaO
CH 3 CH 3 + Na 2CO 3
Propionato de Sódio
Etano
74
a) A síntese de Dumas é uma descarboxilação;
b) Quando se trata de sal de cálcio monocarboxílico, o
alcano obtido terá um átomo de carbono a menos que o sal empregado.
4. Métodos a partir de fontes naturais
Estes são, evidentemente, os métodos mais importantes.
4.1 Destilação dos petróleos
Através da destilação fracionada cuidadosa dos
diversos tipos de petróleo, é possível isolar alcanos puros, em
qualquer estado físico: gasoso, líquido e sólido.
4.2 Destilação seca
Podemos obter alcanos pela destilação seca (pirogenação) de
hulha, madeira, lignita, xisto pirobetuminoso, etc.
4.3 Captação do gás natural
Os alcanos podem ser obtidos pela captação do gás natural, que
se desprende principalmente nas regiões petrolíferas. O gás natural
contém os alcanos voláteis, de baixo peso molecular, desde C1 até
C8, aproximadamente. Sua composição varia muito com a origem, porém
uma distribuição percentual típica é a seguinte:
Metano 80% Butano 1%
Etano 13% Alcanos C5-C8 0,5%
Propano 3% Nitrogênio 2,5%
Os hidrocarbonetos voláteis desta série são narcóticos
por inalação.
Fração Temperatura de
ebulição
Número de átomos de
carbono
Gás abaixo de 20o C 1 a 4
Éter de petróleo 20 - 60o C 5 a 6
Ligroína (nafta leve) 60 - 100o C 6 a 7
Gasolina natural 40 - 205o C 5 a 10 e cicloalcanos
Petróleo de iluminação 175 - 325o C 12 a 18 e aromáticos
Gasóleo acima de 275o C 12 ou mais
Óleo de lubrificação líquidos não
voláteis
cadeias longas ligadas a
ciclos
Asfalto ou coque do
petróleo
sólidos não
voláteis estruturas policíclicas
75
4.6- Propriedades químicas
Os alcanos são compostos naturalmente pouco
reativos. Para fazer reagir um alcano é preciso fornecer grande
quantidade de energia, pois sua estrutura é muito estável e muito
difícil de ser quebrada. Só uma partícula extremamente reativa,
como um átomo ou um radical livre, consegue atacar a molécula do
alcano. As reações geralmente se dão pela subtração de hidrogênios
do alcano, rompendo homoliticamente a ligação. Forma-se então um
radical livre, que continua a sequência da reação. A molécula do
alcano, todavia, possui diversos átomos de hidrogênio, e o produto,
que efetivamente se forma, depende de qual desses hidrogênios é
removido.
5. PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ALCANOS
5.1- Craque ou Pirólise
5.2- Halogenação
5.3- Nitração
5.4- Sulfonação
5.5- Oxidação
5.1- Craque ou Pirólise
Os alcanos, quando convenientemente aquecidos, sofrem
ruptura homolítica na cadeia, simétrica ou não, resultando outros
alcanos e alcenos de cadeias menores. Essa reação é muito usada
para se obter gasolina (mistura de octanos) a partir de querosene e
óleo diesel (alcanos com mais de 16 carbonos). O alcano passa
através de uma câmara aquecida a cerca de 400 a 600o C, utilizando
geralmente um catalisador formado por óxidos metálicos. Essas
reações também produzem certa quantidade de hidrogênio.
76
5.2- Halogenação
A halogenação de um alcano se dá por substituição de um
átomo de hidrogênio por um halogênio, resultando em um haleto de
alquila. Por exemplo, na cloração do metano e do etano os produtos
são, respectivamente, cloro metano e cloro etano. Para alcanos com
mais de dois carbonos existe mais de uma possibilidade para o
halogênio se posicionar. Deste modo o produto da reação será uma
mistura de isômeros de posição. Entretanto, as quantidades dos
isômeros formados diferem-se na mistura. A reação ocorre via
radicais livres.
Tomemos como exemplo a bromação do propano. As
quantidades de 1- bromo propano e 2- bromo propano obtidas dependem
das velocidades relativas a que os radicais n-propil e isopropil se
formam. Se os radicais isopropil se formarem mais rapidamente será
também o 2- bromo propano o que se formará mais rapidamente e o que
constitui, portanto, a maior parte dos produtos da reação. Devemos
então comparar as velocidades relativas em que os hidrogênios
primários e secundários são subtraídos do propano. Para se calcular
a porcentagem de cada um dos produtos devemos usar a seguinte
regra:
CH 3 CH 2 C H 3
600 °C
∆
CH 3 CH C H 2 + H 2
CH 2 C H 2 + C H 4
Propeno
Eteno
CH 3 CH 2 CH 2 C H 3
600 °C
∆
Misturas de alcenos C 4H 8 e H 2
CH 3 CH C H 2
Propeno
+ C H 4
CH 3 C H 3 CH 2 C H 2
Eteno
+
Metano
Etano
Metano
77
Velocidades relativas de subtração do hidrogênio:
H primário = 1,0
H secundário = 3,8
H terciário = 5,0
O propano tem seis hidrogênios primários e dois
hidrogênios secundários, portanto:
para H primário: 6 x 1,0 = 6,0
para H secundário: 2 x 3,8 = 7,6
total: 6,0 + 7,6 = 13,6
13,6 corresponde a 100% das velocidades relativas.
Logo, por regra de três simples, temos que 7,6 (H primário)
corresponde a aproximadamente 55,9% e que 6,0 (H secundário)
corresponde a 44,1%. Essas porcentagens são as quantidades
relativas dos radicais n-propil e isopropil formados e,
consequentemente, também dos produtos formados. Percebe-se então
que o radical substituído no carbono secundário, isto é, o radical
isopropil, forma-se mais rapidamente que o n-propil, o que leva a
uma maior rapidez na formação do 2-bromo propano.
Essa regra funciona bem para a monohalogenação dos
alcanos e os resultados são geralmente porcentagens não muito
discrepantes entre si, pois na maioria dos alcanos o número de
hidrogênios menos reativos é maior, quer dizer, a menor reatividade
está compensada por um fator de probabilidade de ataque mais alto e
disto resulta que se obtenham quantidades apreciáveis de todos os
isômeros.
Veremos posteriormente alguns aspectos estereoquímicos da
halidrificação de alcenos.
78
5.3- Nitração
Os alcanos podem ser nitrados utilizando-se ácido
nítrico concentrado em condições enérgicas (aprox. 400o C),
produzindo nitro-compostos:
5.4- Sulfonação
Os alcanos podem ser sulfonados utilizando-se ácido
sulfúrico concentrado a altas temperatura, produzindo ácidos
sulfônicos:
5.5- Oxidação
A oxidação dos alcanos pode ser de três tipos:
5.1.1 Combustão completa;
5.1.2 Combustão incompleta;
5.1.3 Oxidação com oxidantes.
5.1.1. Combustão completa
A combustão ou queima dos alcanos se faz com formação de
CO2 e H2O e desprendimento de apreciável energia calórica, o
que os torna tão importantes como combustíveis.
C H 4 + H 2 SO 4
∆
H 3 C-SO 3 H + H 2 O
Metano Ácido metilsulfônico
CH 3 C H 3 + H 2 SO 4
∆
H 3 C-CH 2 -SO 3 H + H 2 O
Etano Ácido etilsulfônico
79
O calor liberado na queima de cada mol de alcano é
chamado de calor de combustão desse alcano e aumenta de
maneira regular ao se progredir na série homóloga, de cerca de
158 Kcal/mol para cada grupo CH2. O metano tem calor de
combustão de 212 kcal/mol; o etano, 373; o propano, 531 e
assim sucessivamente, sendo que o decano é 1620.
A reação geral da combustão completa é:
CnH2n+2 + (3n+1)/2 O2 � nCO2 + (n+1)H2O +
calor
5.1.2. Combustão incompleta
A queima de alcanos com insuficiência de
oxigênio produz vapor de água e carbono na forma de pó fino
chamado de negro defumo, empregado em recheio em produtos de
borracha e como pigmento preto para tintas.
A reação geral da combustão incompleta é:
CnH2n+2 + (n+1)/2 O2 � nC + (n+1) H2O + calor
Entre esses dois extremos da combustão completa
e incompleta, existe mais um tipo de combustão, também chamada
incompleta, e que ocorre quando a quantidade de oxigênio é
média, com formação de monóxido de carbono, considerado
altamente tóxico.
A reação geral da combustão incompleta com
formação de monóxido de carbono é:
CnH2n+2 + (2n+1)/2 O2 � nCO + (n+1) H2O + calor
A gasolina dentro da câmara de combustão de um
automóvel sofre, em parte, uma combustão desse tipo.
5.1.3. Oxidação com oxidantes
O bicromato de potássio (K2Cr2O7), e o
permanganato de potássio (KMnO4), são oxidantes enérgicos que,
em condições adequadas – concentrados, quentes e em meio ácido
– produzem oxigênio nascente e podem atacar alcanos,
transformando-os em ácidos carboxílicos. Quanto maior a cadeia
carbônica, maior a facilidade de ocorrência da reação. Essa
reação tem interesse prático na transformação de certos
alcanos de cadeia longa, componentes do petróleo, em seus
ácidos carboxílicos. Por exemplo, o octadecano pode ser
transformado no ácido esteárico (octadecanóico):
80
6. ALCENOS ou OLEFINAS
6.1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC:
prefixo + eno + posição da dupla
ligação
Alguns exemplos importantes:
6.2- A dupla ligação
A principal característica de um alceno é, sem
dúvida, a dupla ligação. Toda ligação dupla é formada a partir de
uma ligação sigma e uma ligação pi. A hibridação do carbono ligado
pela dupla é sp2, o que lhe confere uma estrutura geométrica
trigonal plana. A energia contida numa ligação dupla carbono-
carbono está em torno de 100 kcal (sigma: 60 ; pi: 40),
evidentemente, mais forte que uma ligação simples. O fato de os
carbonos estarem mais fortemente ligados entre si faz com que a
distância da ligação seja menor.
6.3- Isomeria geométrica
6.3.1) Isomeria geométrica cis-trans A-B:
Analise as duas estruturas abaixo:
C 17 H 35 CH 3 + O
K2Cr2O7
KMnO4
(conc.,∆,H+)
C 17 H 35 COOH + H 2O
81
Se os carbonos estivessem ligados por uma ligação
simples, poder-se-ia interconverter uma estrutura na outra
simplesmente girando essa ligação carbono-carbono. Portanto, as
duas estruturas seriam apenas conformações espaciais diferentes
para uma mesma molécula. No entanto, ao contrário de uma ligação
simples, a dupla ligação não permite esse giro entre os átomos
ligados, pois a rotação impediria a sobreposição de orbitais p e
destruiria a ligação pi. Conclui-se então que as estruturas
apresentadas são moléculas diferentes. Esse fenômeno é chamado
isomeria geométrica A-B, e ocorre quando existe uma dupla ligação,
sendo que nos carbonos estão ligados dois pares iguais de grupos
diferentes, como o exemplo acima.
As duas estruturas são isômeros geométricos, e
recebem nomes ligeiramente diferentes: a estrutura I é chamada Cis
1,2-dicloroeteno e a estrutura II é chamada Trans 1,2-dicloroeteno.
O prefixo cis indica que os grupos iguais estão do mesmo lado no
plano que corta a dupla ligação. O prefixo trans indica que os
grupos iguais estão em lados opostos no plano que corta a dupla
ligação. Os isômeros geométricos diferem entre si em algumas
propriedades químicas, especialmente quanto à velocidade das
reações, mas diferem principalmente nas propriedades físicas, tais
como PF e PE, índices de refração, solubilidade, densidade etc.
6.3.2) Isomeria geométrica cis-trans E-Z:
Um tipo especial de isomeria geométrica - a isomeria
geométrica E-Z - ocorre quando os carbonos de rotação impedida são
ligados a dois grupos diferentes, podendo ser os quatro grupos
diferentes entre si. Nesse caso a referência é o número atômico (Z)
dos grupos ligados aos carbonos. Veja um exemplo:
No isômero cis, os grupos de maior Z (em vermelho)
estão do mesmo lado do plano da dupla ligação e no isômero trans,
estão em lados opostos.
82
6.4- Propriedades físicas
Os alcenos apresentam essencialmente as mesmas
propriedades físicas dos alcanos: são insolúveis em água e solúveis
em solventes apolares, são menos densos que a água e os pontos de
ebulição escalonam-se igualmente segundo o número de carbonos na
cadeia e dependem da maior ou menor ramificação que nela exista.
Também o número de ramificações existentes no alceno pode conferir-
lhe estabilidade: quanto maior o número de grupos alquila ligados
aos carbonos da dupla ligação, mais estável será o alceno.
Os alcanos são completamente apolares. Certos
alcenos, ao contrário, podem ser fracamente polares, como, por
exemplo, o H3C - CH = CH2. A ligação que une o grupo alquilo ao
carbono da dupla ligação tem uma pequena polaridade, cuja
orientação se julga ser do grupo alquil para o carbono da dupla.
Por efeito indutivo +I, o grupo alquil pode ceder elétrons para o
carbono parcialmente polarizado da dupla ligação. Visto não existir
outro grupamento capaz de gerar um efeito indutivo equivalente em
sentido oposto, cria-se na molécula um certo momento de dipolo ( µ ).
Os alcenos que apresentam o fenômeno da isomeria geométrica podem
apresentar diferenças em seus pequenos momentos de dipolo. Os
isômeros trans geralmente apresentam µ �µ ��. Já os isômeros cis
revelam um pequeno valor para�µ . Isso porque os isômeros trans
possuem grupos iguais em posições opostas, gerando portanto,
efeitos indutivos equivalentes que se anulam, o que não ocorre com
os isômeros cis.
6.5- Métodos de obtenção
Os alcenos mais simples, até cinco átomos de
carbono, podem ser obtidos em forma pura, na indústria do petróleo.
Os demais são produzidos em laboratório.
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS ALCENOS
6.5.1- Craque de alcanos
6.5.2- Hidrogenação de alcinos(Método de Sabatier-
Sanderens)
6.5.3- Desidratação intramolecular de álcoois
6.5.4- Desalidrificação de haletos
6.5.5- Desalogenção de dihaletos vicinais com
zinco(método de Frankland)
6.5.6- Reação de aldeídos ou cetonas com ilídio
6.5.7- Síntese de Grignard
83
6.5.1- Craque de alcanos
Os alcanos, quando convenientemente aquecidos,
sofrem ruptura homolítica na cadeia, simétrica ou não, resultando
outros alcanos e alcenos de cadeias menores. Essa reação é muito
usada para se obter gasolina (mistura de octanos) a partir de
querosene e óleo diesel (alcanos com mais de 16 carbonos). O alcano
passa através de uma câmara aquecida a cerca de 400 a 600o C,
utilizando geralmente um catalisador formado por óxidos metálicos.
Essas reações também produzem certa quantidade de hidrogênio.
6.5.2- Hidrogenação de alcinos
Método de Sabatier-Sanderens
Os alcinos podem ser hidrogenados em presença de um
catalisador. Este atua diminuindo a energia de ativação necessária
para que a reação ocorra. Os reagentes são adsorvidos na sua
superfície, rompendo as ligações pi e enfraquecendo as ligações
sigma, o que facilita a reação. O paládio, a platina e o níquel
podem servir como catalisadores da hidrogenação. Veja que, como a
adição do hidrogênio ocorre como se fosse um "encaixe", no mesmo
lado, o alceno formado terá sempre a configuração cis :
846.5.3- Desidratação intermolecular de álcoois
Os álcoois podem ser desidratados com ácido
sulfúrico concentrado a quente ou com Al2O3 (alumina). O produto
formado dependerá basicamente da temperatura em que a reação for
realizada. A cerca de 180o C o produto principal é de eliminação -
um alceno. Trata-se de uma desidratação intramolecular. Veja:
Analogamente, no caso do 3-metil-2-butanol, o produto
principal é o 2-metil-2-buteno.
Isto é explicado pela regra de Saytzeff que estabelece
que, nas reações de desidratação, a facilidade de eliminação dos
átomos de hidrogênio ao formar-se o alceno é:
terciário> secundário > primário
CH3 C CH + H2
Ni
∆,Pressão
CH3 CH CH2
Propino Propeno
Se o alceno que se forma apresentar
isomeria geométrica, forma-se
principalmente o isômero cis.
CH3 C C CH3 + H2
Ni
∆, Pressão
CH3
C C
CH3
H H
Cis-2-Buteno
2-Butino
CH3 CH CH2
OH
CH3
H2SO4
170 °C
CH2 CH CH2 CH3 + CH3 CH CH CH3
1-Buteno 2-Buteno
Produto Secundário Produto Principal
CH2 CH CH CH3
CH3
CH3 CH CH CH3
CH3OH
H2SO4
170 °C
CH3 CH C CH3
CH3
+
3-metil-2-butanol 3-mtil-1-buteno 2-metil-2-buteno
85
6.5.4- Desalidrificação de haletos
Tratando os haletos com uma solução alcoólica
aquecida de uma base inorgânica (KOH, por exemplo) é possível
transformá-los em alcenos. É importante notar que, no caso de
haletos com mais de três carbonos, podem se formar produtos
diferentes, em quantidades variadas. No exemplo abaixo, o 2- Bromo
butano dá origem a uma mistura de dois alcenos isômeros:
Os haletos de alquila terciário são os que melhor reagem,
depois os secundários e, por último, os primários.
Quanto à facilidade de deshalogenação em função da
natureza do halogênio, a ordem de reatividade é:
Iodo > Bromo > Cloro
Também aqui, os haletos não simétricos, terciários ou
secundários, produzem misturas de alcenos e segue a regra de
Saytzeff
Podemos citar como exemplo as reações do 2-bromo-butano e
do 2-bromo-2-metil-butano.
CH3 CH2 CH2 I + KOH KI + CH3 CH CH2
Iodeto de propila Propeno
CH3
CH3
Br
KOH
C2H5OH
CH3
CH3 +
CH3
CH2+
KBr + H2O
CH3
CH3
Br
CH3 KOH
C2H5OH
CH3
CH3
CH3
+
CH3
CH2
CH3
+ KBr + H2O
2-bromo-butano 2-buteno (81%) 1-buteno (19%)
2-bromo-2-metil-butano 2-metil-2-buteno (71%) 2-metil-1-buteno (29%)
86
6.5.5- Desalogenação de haletos vicinais com
zinco(método de Frankland)
Os dihaletos vicinais, quando tratados com zinco
metálico, podem ser desalogenados, originando alcenos. Veja o
exemplo abaixo:
mais completa:
6.5.6- Reação de aldeídos ou cetonas com ilídio
Os aldeídos e cetonas, quando reagidos com ilídios
(compostos especiais de fósforo pentavalente: H2C = PR3), produzem
alcenos. O ilídio mais comumente usado, por sua grande reatividade,
é o metileno-trifenil-fósforo. Veja:
6.5.7- Síntese de Grignard
CH3
Br
CH3
Br
+ Zn
C2H5OH
∆
CH3
CH3
+ ZnBr2
2,3-dibromo-butano
2-buteno
87
Um dos dois reagentes deve ter substituintes com ligação
dupla.
Informação: Os alcenos voláteis possuem ação narcótica
6.6- Propriedades químicas
Os alcenos sofrem principalmente reações de adição. Estes
hidrocarbonetos caracterizam-se por possuírem uma dupla ligação
entre carbonos, constituída de uma ligação sigma, forte, e uma
ligação pi, fraca. É de se esperar, portanto, que as reações
consistam na ruptura da ligação mais fraca. Tal previsão é
confirmada experimentalmente: a química dos alcenos é basicamente a
ruptura da ligação pi, fraca, e a formação de duas ligações sigma,
fortes, na mesma molécula. Logo, são reações de adição.
Os elétrons da ligação pi contribuem menos que os
elétrons da ligação sigma para manter os núcleos dos átomos unidos.
Consequentemente, os próprios elétrons pi são menos fortemente
atraídos pelos núcleos e, portanto, mais disponíveis,
particularmente para um reagente deficiente de elétrons, ou seja,
um eletrófilo. Veja abaixo o que ocorre com a insaturação, devido
ao efeito da ressonância:
Como a estrutura é um híbrido que comporta tanto uma
carga positiva quanto uma carga negativa, existem duas
possibilidades: a adição nucleofílica e a adição eletrofílica.
Verifica-se experimentalmente que, talvez devido à alta mobilidade
dos elétrons pi, uma quase totalidade das reações dos alcenos é
iniciada por um ataque desses elétrons a um eletrófilo. Portanto,
as adições eletrofílicas são típicas dos alcenos.
CH2
I + CH3 MgI
CH2
CH3
+ MgI2
Iodeto de alila Iodeto de metil-magnésio 1-buteno
88
7. PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ALCENOS
7.1- Halidrificação
7.2- Formação de haloidrina
7.3- Halogenação
7.4- Hidratação
7.5- Reação com H2SO4
7.6- Reação com perácidos
7.7- Hidrogenação
7.8- Oxidação por KMnO4
7.9- Ozonólise
7.1- Halidrificação
O HCl, o HBr e o HI transformam os alcenos nos
correspondentes haletos de alquila. A reação consiste em fazer
passar o haleto de hidrogênio, gasoso e anidro, diretamente através
do alceno. Alcenos com mais de dois carbonos poderiam dar origem a
mais de um produto. No entanto, na grande maioria dos casos, apenas
um deles se forma ou existe um deles que se forma em maior
quantidade em relação ao outro. A orientação da adição nos alcenos
depende da estabilidade do carbocátion. Veja o exemplo abaixo:
Como se percebe, o carbocátion que se forma é
secundário, e não primário. Entretanto, a orientação da adição do
HBr, em especial, depende exclusivamente da presença ou ausência de
peróxidos. Se a reação for feita em ausência de peróxidos
orgânicos, a orientação da adição segue a regra de estabilidade dos
carbocátions. Caso seja feita em presença de peróxidos, a
orientação da adição se dá exatamente de modo oposto, ou seja, o H
se liga ao carbono secundário e o Br no carbono primário. isso
porque a reação nestas condições não se dá por meio iônico, e sim
via radicais livres. O peróxido utilizado, frequentemente derivado
de ácidos carboxílicos, inicia a reação por radical livre, e não há
formação do carbocátion. Veja:
89
O motivo pelo qual o radical formado é secundário e
não primário é o mesmo da estabilidade dos carbocátions: o efeito
indutivo +I causado pelos grupamentos alquila para compensar e
deficiência eletrônica no carbono.
7.2- Formação de haloidrina (reação com H2O + Cl2)
Na adição de cloro ou bromo, em presença de água,
podem formar-se compostos que possuem um halogênio e um grupo
hidroxila em carbonos vicinais. Estes compostos denominam-se
vulgarmente haloidrinas. Por escolha conveniente das condições da
reação pode-se obtê-las como principais produtos. Veja:
7.3- Halogenação
O cloro e o bromo transformam facilmente os alcenos
em dihaletos vicinais, dissolvidos normalmente em um solvente
inerte, como o tetracloreto de carbono. O iodo, em geral, não
90
reage. A adição prossegue rapidamente, à temperatura ambiente ou
inferior, constituindo a melhor maneira de se obter di-haletos
vicinais. Sabemos que as moléculas de um halogênio qualquer é
apolar, ou seja, não há diferença de eletronegatividade entre os
átomos na molécula. Sabemos também que a adição em alcenos se dá
pelo ataque dos elétrons pi a um eletrófilo. Neste caso, não há um
eletrófilo com carga real. No entanto, as moléculasdo halogênio
criam um dipolo induzido pelo forte campo elétrico gerado pelas
nuvens pi das moléculas do alceno que se encontram no meio. A densa
nuvem eletrônica da dupla ligação tende a repelir a nuvem
eletrônica do halogênio, fazendo com que o átomo de halogênio que
estiver mais próximo da dupla seja relativamente mais positivo e o
mais afastado relativamente negativo.
7.4- Hidratação
Em meio ácido, os alcenos reagem com a água formando
álcoois:
7.5- Reação com H2SO4
Os alcenos podem reagir com ácido sulfúrico
concentrado a quente, originando sulfatos ácidos:
91
7.6- Reação com perácidos
Pode-se tratar alcenos com perácido orgânico,
resultando um processo de epoxidação, isto é, formação de um
epóxido:
O epóxido formado pode ser tratado posteriormente
hidratado em meio ácido ou básico, produzindo um glicol (diálcool
vicinal):
92
7.7- Hidrogenação
Frequentemente utiliza-se a hidrogenação de alcenos
para a produção de alcanos, isto é, quebra-se a dupla ligação,
originando-se duas ligações simples. A adição de hidrogênio aos
alcenos pode servir também como método de análise, para se
determinar, por exemplo, o número de duplas ligações existentes no
composto, através da verificação da quantidade de hidrogênio
consumido na reação. A quantidade de calor liberado na hidrogenação
de um mol de um composto insaturado chama-se calor de hidrogenação.
Essa quantidade de calor em quase todos os alcenos gira em torno de
31 kcal por cada ligação dupla no composto. Os calores de
hidrogenação podem também nos dar informações sobre as
estabilidades relativas dos compostos insaturados.
Geralmente, quanto menor o calor liberado na
hidrogenação, maior a estabilidade do composto. Por exemplo, o 2-
buteno-cis libera 28,6 kcal/mol enquanto o isômero trans libera
27,6 kcal/mol. Isso significa que o isômero trans do 2-buteno é
mais estável do que o cis. Também verificou-se que, quanto maior
for o número de grupos alquilo ligados aos carbonos entre os quais
existe a dupla ligação, mais estável será o alceno. Sendo a reação
de hidrogenação exotérmica, não se dá, no entanto, mesmo a alta
temperatura, se não estiver presente um catalisador. Este atua
diminuindo a energia de ativação necessária para que a reação
ocorra. Os reagentes são adsorvidos na sua superfície, rompendo as
ligações pi e enfraquecendo as ligações sigma, o que facilita a
reação. O paládio, a platina e o níquel podem servir como
catalisadores da hidrogenação.
7.8- Oxidação por KMnO4
Os alcenos podem ser oxidados com permanganato de
potássio em solução aquosa de duas maneiras: brandamente ou
energicamente. As reações de oxidação e redução geralmente não
apresentam um mecanismo bem explicado. Por isso não devemos nos
preocupar muito com os detalhes destes processos.
Oxidação branda (Reação de Baeyer) - O permanganato
em meio neutro ou levemente alcalino é oxidante brando, pois não
chega a romper a dupla ligação, mas reage introduzindo oxigênios na
cadeia. O permanganato é uma solução de coloração violeta intensa e
quando ele passa para MnO2 precipita esse óxido marrom escuro. O
93
resultado da oxidação branda de um alceno com KMnO4 é um diálcool
vicinal (glicol). Como exemplo, vejamos a oxidação do propeno:
Oxidação enérgica - Em meio ácido o permanganato é
oxidante bastante enérgico e leva à ruptura da dupla ligação,
quebrando o alceno em moléculas menores. Os produtos formados na
reação dependem do tipo de carbono da dupla ligação. Carbonos
primários originam CO2 e H2O; carbonos secundários, ácidos
carboxílicos, e carbonos terciários, cetonas. Vejamos o primeiro
exemplo - a oxidação do buteno-2:
Perceba que o carbono da dupla na molécula inicial
era secundário; daí a formação de ácidos carboxílicos.
O segundo exemplo é a oxidação do metil-propeno.
Como os carbonos da dupla são terciário e primário, formam-se,
respectivamente cetona e CO2 + H2O:
7.9- Ozonólise
Os alcenos, reagindo com o ozônio em meio aquoso,
produzem aldeídos e/ou cetonas. Trata-se de uma reação que destrói
94
completamente a dupla ligação, quebrando a molécula do alceno em
moléculas menores. O ozônio é um oxidante bastante enérgico e entra
em reação de adição com o alceno, formando o ozonídeo ou ozoneto,
um produto intermediário instável, que então se decompõe nos
produtos finais, por hidrólise.
Na prática, faz-se borbulha o gás ozônio numa
solução do alceno em solvente inerte, como o tetracloreto de
carbono. Por evaporação do solvente em seguida, obtém-se o
ozonídeo, que tem a forma de um óleo viscoso. Por ser muito
instável e explosivo, não se pode purificar esse ozonídeo, e faz-se
reagir diretamente com a água, geralmente em presença de um agente
redutor. A função desse agente redutor, geralmente a limalha de
zinco, consiste em impedir a formação do peróxido de hidrogênio,
que se aparecesse, reagiria com aldeídos e cetonas. O zinco captura
um oxigênio, formando o óxido de zinco (ZnO). Veja o exemplo da
ozonólise do metil propeno:
8.DIENOS
8.1-Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC:
prefixo + adieno + posição das duplas
ligações
Alguns exemplos importantes:
8.2- Classificação dos dienos
Conforme a posição das duplas ligações, podemos
dividir os dienos em três grupos:
• De duplas acumuladas ou alênicos
• De duplas conjugadas ou eritrênicos
95
• De duplas isoladas
8.3- Propriedades físicas
As mesmas dos alcenos.
8.4- Métodos de obtenção
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS DIENOS
1- Eliminação em dihaletos vicinais
2- Eliminação em dióis
1- Eliminação em dihaletos vicinais
Os dialetos vicinais, quando tratados com
hidróxidos, produzem dienos conjugados:
2- Eliminação em dióis
Os diálcoois em meio ácido e a temperaturas elevadas
podem produzir dienos:
96
8.5- Propriedades químicas
As propriedades químicas dos dienos dependem das posições
em que se encontram as ligações duplas. Ligações duplas isoladas ou
acumuladas pouco efeito exercem uma sobre a outra, e, por isso,
cada uma delas reage como se fosse um alceno simples. Excetuando o
consumo de maior quantidade de reagente, as propriedades químicas
dos dienos não conjugados são idênticas às dos alcenos. Os dienos
conjugados, porém, diferem dos alcenos simples em três aspectos:
são mais estáveis, são mais reativos e apresentam adição 1,4.
Quando se compara os calores de hidrogenação de um dieno
de duplas isoladas ou acumuladas com um dieno de duplas conjugadas,
ambos com o mesmo número de carbonos, verificamos que os dienos
conjugados liberam menos energia. Isso significa que contêm menos
energia, ou seja, são mais estáveis. Por exemplo, o pentadieno -1,4
(duplas isoladas) tem calor de hidrogenação = 61 kcal/mol e o
pentadieno -1,3 (conjugado), 54 kcal/mol. Portanto, este último,
com menor calor de hidrogenação, é mais estável que o primeiro.
As duplas ligações em dienos isolados e acumulados
assumem posições fixas, ou seja, a ressonância existente não
deslocaliza a ligação pi. Estes dienos se comportam, então como
alcenos simples, pois não há possibilidade de deslocalizar a
ligação pi. Veja:O contrário ocorre com os dienos conjugados: nesse caso
há uma deslocalização de elétrons, mudando a posição da ligação pi.
Isso lhes confere algumas propriedades químicas diferentes. Veja
abaixo um esquema do movimento dos elétrons pi no butadieno - 1,2,
gerando formas canônicas da estrutura:
97
Num dieno conjugado, os orbitais p (que fazem a ligação
pi) dos carbonos vizinhos estão a uma mesma distância uns dos
outros, devida à ressonância, que faz com que as ligações carbono-
carbono tenham o mesmo comprimento. As nuvens eletrônicas podem
então assumir um aspecto contínuo, como mostrado abaixo:
9.PRINCIPAIS REAÇÕES DOS DIENOS
9.1- Halidrificação de dienos conjugados (adição 1,4)
9.2- Hidratação de dienos acumulados (adição de H2O)
9.1- Halidrificação de dienos conjugados (adição 1,4)
A ressonância dos dienos conjugados deslocaliza a nuvem
pi e produz formas canônicas do composto, tornando possíveis mais
duas posições para os reagentes adicionados - a posição 1,2 e a
posição 1,4. Por este motivo, os produtos de uma reação desse tipo
são chamados produto de adição 1,2 e produto de adição 1,4. Veja
abaixo a reação entre o butadieno - 1,3 e o HBr:
98
As quantidades relativas de cada um dos produtos formados
depende da temperatura em que a reação foi efetuada. Quando ela se
realiza a baixas temperaturas (aprox. -80o C) obtém-se uma mistura
de 20% do produto 1,4 e 80% do produto 1,2. Se ela for realizada em
temperaturas mais elevadas (aprox. 40o C), porém, obtém-se uma
mistura de composição inversa: 20% do produto 1,2 e 80% do produto
1,4. A temperaturas intermediárias obtém-se uma mistura cuja
composição se situa entre as duas indicadas. Outra observação
importante é a de que qualquer um dos compostos separadamente se
transforma na mistura dos dois isômeros, por aquecimento, indicando
que ela resulta do equilíbrio entre os dois compostos.
9.2- Hidratação de dienos acumulados (adição de H2O)
Os dienos que possuem duplas acumuladas reagem com água,
produzindo cetonas. Veja um exemplo de reação, envolvendo o 1,2-
butadieno:
99
10. ALCINOS
10.1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC:
prefixo + ino + posição da tripla
ligação
Alguns exemplos importantes:
10.2- A ligação tripla
A ligação tripla constitui a característica principal dos
alcinos, e os carbonos ligados dessa forma possuem hibridação sp,
que lhes confere uma geometria linear. A ligação tripla é formada
por uma ligação sigma e duas ligações pi ortogonais, assumindo a
forma de um tubo. A sua energia total é de 123 kcal. Mais forte,
portanto, que a ligação dupla (100 kcal) e a ligação simples (83
kcal). Por estarem mais fortemente unidos, a distância da ligação
entre os núcleos dos átomos de carbono é menor. A inexistência de
isômeros geométricos do acetileno (HC CH) serve para confirmar a
estrutura da ligação tripla.
10.3- Propriedades físicas
Os alcinos são compostos de baixa polaridade e apresentam
essencialmente as mesmas propriedades físicas dos alcanos e dos
alcenos: são insolúveis em água e solúveis em solventes apolares,
são menos densos que a água e os pontos de ebulição escalonam-se
igualmente segundo o número de carbonos na cadeia e dependem da
maior ou menor ramificação que nela exista.
10.4- Métodos de obtenção
Não são muito importantes as reações que produzem
alcinos, porém, vale a pena destacar a desalogenação de dihaletos
vicinais.
100
10.5- Propriedades químicas
O carbono, quando em tripla ligação, comporta-se como se
fosse um elemento mais eletronegativo do que o carbono que
participa apenas de ligações ou duplas. Assim, o hidrogênio ligado
ao carbono da tripla ligação adquire um apreciável caráter ácido.
Assim, a presença ou não do hidrogênio no carbono da tripla ligação
faz com que os alcinos tenham propriedades químicas diferentes. Os
alcinos que possuem o hidrogênio terminal são chamados alcinos
verdadeiros, e os que não o possuem são chamados alcinos falsos.
Veja um exemplo que deixa clara essa diferença:
(alcino verdadeiro) H3C - C C - H + Na H3C - C C - Na +
1/2 H2
(alcino falso) H3C - C C - CH3 + Na não reage
Os alcinos sofrem típicas reações de adição eletrofílica,
assim como os alcenos, e pela mesma razão: a reatividade dos
elétrons pi. O alcino de maior importância industrial é
precisamente o membro mais simples da família - o acetileno
(etino), preparado pela ação da água sobre o carbeto de cálcio
(CaC2):
H2O + CaC2 HC CH + CaO
É enorme o consumo anual de acetileno. Dissolvido, sob
pressão, em acetona, vende-se em garrafas de aço para utilização na
soldadura oxiacetilênica. O acetileno é material de partida de
várias sínteses industriais de importantes compostos orgânicos.
OBS: O carbeto de cálcio (conhecido também como
carbureto) pode ser obtido pela reação entre o óxido de cálcio
(CaO) e o carvão coque, realizada a temperaturas próximas à 2000o C
em fornos elétricos.
101
11. PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ALCINOS
11.1- Halidrificação
11.2- Halogenação
11.3- Hidratação
11.4- Trimerização do acetileno
11.5- Hidrogenação
11.6- Adição nucleofílica de HCN
11.7- Oxidação por KMnO4
11.1- Halidrificação
Quando reagidos com HX, os alcinos produzem haletos e, se
existir excesso de HX poderemos obter dihaletos germinados. Veja o
exemplo da reação entre acetileno e HBr:
11.2- Halogenação
Quando reagidos com halogênios, os alcinos produzem
dihaletos. Caso exista halogênio em excesso, poderemos obter um
derivado tetrahalogenado. Veja o exemplo:
102
11.3- Hidratação
O mecanismo da adição de água nos alcinos ocorre de
maneira análoga à hidratação dos alcenos, porém, o produto - um
enol - tautomeriza-se na forma cetônica ou aldeídica, dependendo da
estrutura da cadeia carbônica. Veja o exemplo da hidratação do
acetileno:
11.4- Trimerização do acetileno
Aquecendo-se o acetileno e fazendo-o passar por tubos de
ferro a temperaturas elevadas obtém-se o benzeno. O processo não é
industrial porque existem outras fontes de extração do benzeno
(alcatrão da hulha e petróleo).
103
11.5- Hidrogenação
Os alcinos podem ser hidrogenados em presença de um
catalisador. Este atua diminuindo a energia de ativação necessária
para que a reação ocorra. Os reagentes são adsorvidos na sua
superfície, rompendo as ligações pi e enfraquecendo as ligações
sigma, o que facilita a reação. O paládio, a platina e o níquel
podem servir como catalisadores da hidrogenação. Veja que, como a
adição do hidrogênio ocorre como se fosse um "encaixe", no mesmo
lado, o alceno formado terá sempre a configuração cis :
11.6- Adição nucleofílica de HCN
A reação de um alcino com HCN é um caso de adição
nucleofílica. Inicialmente, o HCN ioniza-se e fornece íons CN-
(nucleófilo), que irão iniciar a reação. Veja:
11.7- Oxidação por KMnO4
Oxidação branda - Nessa reação, a tripla ligação não
chega a se romper, e aos carbonos são adicionados oxigênios. Os
produtos dependem dos tipos de carbono iniciais. Geralmente resulta
um aldeído ou uma função mista, como no exemploabaixo - um
cetoaldeído:
104
Oxidação enérgica - A oxidação enérgica dos alcinos por
permanganato segue uma reação semelhante à oxidação enérgica dos
alcenos. Carbonos primários dão CO2 e H2O, secundários dão ácidos
carboxílicos e terciários, cetonas.
12.HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS
12.1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: ciclo + prefixo + sufixo + o
105
Alguns exemplos importantes:
12.2- Teoria das tensões de Bayer
De modo geral, quando um átomo de carbono se encontra
ligado a quatro outros átomos de carbono, o ângulo entre duas
ligações quaisquer é de 109o 5' (geometria tetraédrica). Segundo
Adolf Von Baeyer, em alguns ciclanos, um dos ângulos de ligação, em
cada átomo de carbono, não possui o valor normal do ângulo
tetraédrico, pois estas ligações são forçadas a se comprimir, de
modo a fechar o ciclo. Assim, o ciclopropano é um triângulo
equilátero, com ângulos de 60o, e o ciclobutano é um quadrado, com
ângulos de 90o.
Devido ao fator de o valor do ângulo de ligação entre os
carbonos no ciclo diferir do valor normal tetraédrico, existe
nessas moléculas um certa tensão, e daí resulta serem elas
instáveis, em comparação com as moléculas cujos ângulos de ligação
são tetraédricos. A tensão em um ciclo pode ser calculada pela
106
fórmula (109o 5' - �) / 2, onde ��é o ângulo entre dois carbonos do
ciclo, supondo uma cadeia coplanar. Assim, pela equação, o
ciclopropano tem uma tensão de 24o 75', o ciclobutano de 9o 75' e o
ciclopentano de 0o 75' (desprezível). O ciclopentano, por ter uma
tensão desprezível, já possui uma grande estabilidade, preferindo
reações de substituição, como nos alcanos, enquanto o ciclopropano
e o ciclobutano, com tensões elevadas, sofrem facilmente ruptura na
cadeia, dando reações de adição, como nos alcenos.
E o ciclohexano? Este teria um ângulo coplanar de 120o, o
que causaria uma tensão em sentido oposto em relação aos casos
citados anteriormente, ou seja, de acordo com a fórmula, a tensão
para o ciclohexano seria de -5o 25, que seria uma tensão de
distensão. Por isso, o ciclohexano deveria ser muito instável.
Porém, ele é mais estável que o ciclopentano e praticamente só dá
reação de substituição. Bayer errou, porque os átomos de carbono
nas cadeias cíclicas com mais de cinco carbonos não são coplanares,
e mantêm o ângulo tetraédrico (109o 5'), sem tensão. No caso do
ciclohexano, os carbonos, mantendo o ângulo tetraédrico, podem
assumir duas conformações espaciais, que foram denominadas barco e
cadeira, por fazerem lembrar esses objetos. No entanto, a estrutura
em forma de cadeira é a mais estável delas. Não pela tensão
angular, já que ambas têm o mesmo ângulo de ligação (109o 5'), mas
pelo fato de a conformação barco apresentar interações não-
dirigidas entre os átomos de hidrogênio.
12.3- As ligações no ciclohexano
Observando um modelo molecular do ciclohexano podemos
perceber que as ligações dos átomos de carbono possuem duas
direções possíveis: a axial e a equatorial. As ligações axiais
estão dispostas perpendicularmente ao plano grosseiro do anel e as
ligações equatoriais encontram-se na cintura do anel, sendo que as
ligações axiais e equatoriais são alternadas. Veja:
As ligações em vermelho são axiais e as ligações em azul
são equatorias. Um ligante que se encontre em posição axial é menos
favorecido do que na posição equatorial. Isso porque as maiores
107
aglomerações eletrônicas, que geram as inteações não-dirigidas,
ocorrem entre dois ligantes que se localizam em posições axiais,
devido à menor distância entre eles. Na posição equatorial, os dois
ligantes estão a uma distância máxima entre si e, portanto, essa é
a posição mais favorecida. Isso pode ser visto facilmente com um
modelo molecular tridimensional.
12.4- Isomeria geométrica
As cadeias fechadas, assim como os alcenos, também podem
apresentar isomeria geométrica cis-trans, pois também existe a
impossibilidade de rotação livre das ligações. Veja abaixo duas
estruturas cíclicas cuja disposição espacial para os seus ligantes
possibilitam a isomeria cis-trans:
configuração cis configuração trans
As estruturas não são iguais, visto que a energia
necessária para romper as ligações e converter uma estrutura na
outra é muito elevada. Pode-se, então, isolar os dois isômeros.
12.5- Propriedades físicas
As propriedades físicas dos hidrocarbonetos alifáticos
assemelham-se às dos hidrocarbonetos correspondentes de cadeia
aberta, embora os pontos de fusão e ebulição e as densidades destes
compostos sejam ligeiramente mais altos. Por serem compostos
apolares, dissolvem-se apenas em solventes apolares ou fracamente
polares.
12.6- Métodos de obtenção
Em certas regiões (em especial, na Califórnia), o
petróleo é rico em cicloalcanos, entre eles o ciclo-hexano, o metil
ciclo-hexano, o ciclo-pentano e o 1,2 - dimetil ciclo-pentano.
Estes compostos são excelentes combustíveis, com elevado número de
octanos. Os demais alicíclicos são preparados em laboratório.
108
13.PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS
13.1- Eliminação por nucleófilo em haletos cíclicos
13.2- Desalogenação de dihaletos não-vicinais com zinco
13.3- Eliminação com sódio metálico em haletos cíclicos
13.4- Desidroxilação de álcoois cíclicos
13.1- Eliminação por nucleófilo em haletos cíclicos
Tratando um haleto cíclico com bases pode-se obter um
hidrocarboneto alicíclico. Veja:
13.2- Desalogenação de dihaletos não-vicinais com zinco
Os dihaletos não-vicinais podem ser tratados com zinco
metálico, obtendo-se hidrocarbonetos alicíclicos. Veja:
13.3- Eliminação com sódio metálico em haletos cíclicos
Com sódio metálico, os haletos cíclicos podem produzir
hidrocarbonetos alicíclicos binucleados. veja:
109
4 - Desidroxilação de álcoois cíclicos
Os álcoois cíclicos podem produzir hidrocarbonetos
alicíclicos, se tratados em meio ácido. Veja:
14.PRINCIPAIS REAÇÕES DOS HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS
14.1- Halidrificação
14.2- Halogenação
14.3- Formação de haloidrinas
14.4- Hidratação
14.5- Abertura do ciclopropano
14.1- Halidrificação
Os cicloalcenos podem reagir com HX, da mesma forma como
os alcenos, produzindo haletos:
110
14.2- Halogenação
Os cicloalcenos podem reagir com halogênios, da mesma
forma como os alcenos, produzindo dihaletos vicinais:
14.3- Formação de haloidrinas
Os cicloalcenos podem reagir com halogênios em solução
aquosa, da mesma forma como os alcenos, produzindo haloidrinas:
14.4- Hidratação
111
Os cicloalcenos podem ser hidratados em meio ácido, da
mesma forma como os alcenos, produzindo álcoois:
14.5- Abertura do ciclopropano
Os alicíclicos pequenos sofrem reações de abertura do
anel, devido à existência das tensões de Bayer. Estes compostos
reagem com certas substâncias, dando origem a compostos de cadeia
aberta, que conferem maior estabilidade à molécula. Especialmente o
ciclopropano, cujas tensões internas são muito fortes,reage com
várias substâncias. Veja:
15.HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS
15.1- Nomenclatura e exemplos
A nomenclatura dos hidrocarbonetos não segue uma norma
fixa e vários destes compostos possuem nomes próprios. No entanto,
a maioria deles é nomeado de acordo com os mesmos termos usados nas
demais nomenclaturas: radicais, prefixos, infixos e sufixos. Grande
parte destes compostos têm como cadeia principal o benzeno.
Alguns exemplos importantes:
112
15.2- Estrutura e estabilidade do benzeno
O mais comum dos compostos aromáticos é o benzeno. Sua
estrutura, descrita abaixo com as possíveis representações, é um
anel com seis átomos de carbono e três duplas ligações conjugadas.
Essa estrutura é plana, pois só existem carbonos sp2 (geometria
trigonal plana), e o ângulo de ligação entre eles é de 120o. Além
disso, as ligações entre os carbonos no anel aromático têm o mesmo
tamanho, sendo intermediárias entre uma ligação simples e uma
ligação dupla. A representação do anel aromático com um círculo no
meio indica a ocorrência do fenômeno da ressonância, isto é, os
elétrons são deslocalizados. No anel isto ocorre provavelmente pela
ação das ligações sigma, que, por estarem muito comprimidas, forçam
as ligações pi a se deslocarem ciclicamente pelo anel, permitindo
uma maior distensão destas ligações. Por ser um anel de duplas
conjugadas, as nuvens pi no benzeno assumem um aspecto contínuo.
Essa estrutura foi proposta em 1865 pelo químico alemão
Friedrich August Kekulé e até hoje é aceita pelos químicos de todo
o mundo. Chegou-se a essa estrutura a partir de vários
experimentos, dentre os quais obteve-se três isômeros de um mesmo
produto, quando se substituiu dois dos hidrogênios do anel
113
benzênico. A estrutura de Kekulé, portanto, explica
satisfatoriamente os fatos verificados. Veja abaixo os isômeros
obtidos na substituição de dois hidrogênios por dois átomos de
bromo:
Os calores de hidrogenação e combustão do benzeno são
mais baixos do que seria de esperar. Calor de hidrogenação é a
quantidade de calor que se liberta quando se hidrogena um mol de um
composto insaturado. Na maioria dos casos observa-se o valor de 28-
30 kcal/mol para cada ligação dupla do composto. Veja abaixo os
calores de hidrogenação de alguns compostos:
Perceba que a ruptura da dupla ligação no ciclohexeno
forneceu 28,6 kcal/mol. No ciclohexadieno o valor obtido foi bem
póximo do esperado, ou seja, 2 x -28,6. Deveríamos supor então que,
no benzeno, seria liberado uma quantidade de calor equivalente a
três duplas ligações, ou seja, 85,8 kcal/mol. Mas não é o que se
verifica na prática. O benzeno fornece 49,8 kcal/mol, isto é, um
valor muito menor. Esse fato nos indica que o benzeno deve possuir
menos energia interna, sendo, por isso, mais estável.
Os compostos insaturados geralmente sofrem reações de
adição, nas quais a dupla ligação se rompe e duas ligações sigma
são formadas. Já o benzeno e outros anéis aromáticos dão
preferência às reações de substituição eletrofílica, nas quais dois
ligantes são substituídos por outros e a o sistema aromático de
duplas ligações permanece intacto. Isso confirma a excepcional
estabilidade do benzeno.
15.3- A aromaticidade
114
Para que um composto seja classificado como aromático,
deve seguir rigorosamente três regras: Deve ter estrutura cíclica e
plana e deve ter 4n + 2 elétrons pi, onde n é obrigatoriamente um
número inteiro. Portanto, no anel aromático não pode existir
carbonos sp3 (exceto como radicais), que têm geometria tetraédrica.
Veja alguns exemplos abaixo:
As estruturas 1 e 4 não são aromáticas porque possuem
carbono sp3 no anel, portanto, o ciclo não é plano. A estrutura 3,
apesar de ter somente carbonos de geometria trigonal, tem um número
de elétrons pi que não condiz com a fórmula 4n + 2, já que o n deve
ser um número inteiro. As estruturas 2 e 5 são aromáticas, pois
respeitam as três regras (lembre-se que um carbocátion tem
geometria trigonal plana, pois sustenta somente três ligações).
OBS: Vale lembrar que não só os anéis homocíclios possuem
caráter aromático. Muitos compostos heterocíclicos também
apresentam propriedades aromáticas.
15.4- Propriedades físicas
Como compostos de baixa polaridade, apresentam
basicamente as mesmas características dos demais hidrocarbonetos.
Os pontos de fusão dos aromáticos relativamente mais elevados que
os equivalentes alicíclicos, devido ao fato de as moléculas
aromáticas serem planas, o que permite uma melhor interação
intermolecular. Em um dialquil-benzeno, os isômeros apresentam
pontos de fusão diferentes. Verifica-se experimentalmente que os
pontos de fusão dos derivados crescem na seguinte ordem: orto <
meta < para. Esse fato constitui um caso particular do efeito da
simetria molecular sobre as forças cristalinas. Quanto mais elevada
for a simetria de um composto, tanto melhor será a ordenação
segundo uma rede cristalina e por isso tanto mais alto será o ponto
de fusão e mais baixa será a solubilidade. veja, por exemplo, os
pontos de fusão dos isômeros do xileno (dimetil-benzeno):
Orto-xileno: -25o C
Meta-xileno: -48o C
Para-xileno: 13o C
115
15.5- Métodos de obtenção
O alcatrão da hulha é a melhor fonte natural de compostos
aromáticos. A hulha é uma variedade do carvão mineral, e pode ser
destilada em retortas especiais, produzindo três frações:
• Fração gasosa - gás de iluminação (mistura de H2, CH4, CO
e outros)
• Fração líquida - águas amoniacais e alcatrão da hulha
• Fração sólida - carvão coque (praticamente carbono puro)
O alcatrão da hulha é a parte mais densa e contém grande
número de compostos aromáticos:
• Óleos leves (até 160o C) - benzeno, tolueno, xileno etc.
• Óleos médios (160 - 230o C) - fenol, piridina, naftaleno
etc.
• Óleos pesados (230 - 270o C) - cresóis, naftóis, anilina
etc.
• Óleos de antraceno (270 - 360o C) - antraceno, fenantreno,
Uma reação laboratorial interessante é a trimerização do
acetileno, a alta pressão, que produz o benzeno. Outro método
eficaz é a alquilação de Friedel-Crafts, que produz hidrocarbonetos
aromáticos complexos a partir de outros mais simples.
15.6- Propriedades químicas
Os hidrocarbonetos aromáticos participam
preferencialmente de reações de substituição eletrofílica.
15.7- Orientação da segunda substituição no benzeno
O benzeno pode sofrer mais de uma substituição. A
primeira substituição ocorre normalmente, com a entrada do
eletrófilo no lugar de qualquer um dos hidrogênios do anel, já que
são equivalentes. No entanto, uma segunda substituição dependerá do
radical já existente, que então irá orientar a entrada do próximo
grupo no anel. Um segundo radical pode entrar em duas posições:
meta ou orto/para, dependendo da natureza do radical existente no
anel. A explicação para esse fato está relacionada com o maior ou
menor número de estruturas de ressonância possíveis para
determinada posição. Lembre-se de que, quanto maior o número de
estruturas ressonantes, mais estável é a estrutura.
Ativadores ou Orto-Para-dirigentes - Empurram elétrons
para o anel (ver grupos de indução). Pode-se dividir os grupos
ativadores em três subgrupos, de acordo com a reatividade que eles
dão ao anel:
116
• Fortemente ativadores: NH2, NHR, NR2, OH
• Moderadamente ativadores: OR, NHCOR
•Fracamente ativadores: Radical fenilo, radicais alquilo e
halogênios
Esses grupos geralmente apresentam somente ligações
simples. Veja no exemplo abaixo, as possíveis estruturas de
ressonância para o hidróxi-benzeno (fenol):
O núcleo benzeno é susceptível a ataques eletrofílicos,
portanto, quanto maior a densidade eletrônica no átomo, mais
facilmente ele será atacado pelo eletrófilo. Os carbonos que
apresentam maior densidade eletrônica estão nas posições orto e
para. Logo, a entrada de um eletrófilo se dará facilmente nestas
posições. Ora, se o primeiro radical (OH) aumenta a densidade
eletrônica do anel, ele é um grupo ativador, e, portanto, aumenta a
reatividade do composto.
Desativadores ou Meta-dirigentes - Atraem para si
elétrons do anel (ver grupos de indução). Exs: NO2, NH3+, NR3+, SO3H,
COOH, COOR, CHO, COR, CN, etc. Estes grupos geralmente apresentam
ligações duplas, triplas ou coordenadas. Os grupos desativadores
orientam a segunda substituição preferencialmente na posição meta.
Veja abaixo as possíveis estruturas de ressonância para o nitro-
benzeno:
Veja que as posições orto e para possuem baixa densidade
eletrônica, pois ficam constantemente destituídos de elétrons.
Logo, o composto sofrerá facilmente ataques eletrófilos na posição
meta. Ora, se o primeiro radical (NO2) diminui a densidade
eletrônica do anel, ele é um grupo desativador, e diminui a
reatividade do composto.
117
16.PRINCIPAIS REAÇÕES DOS HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS
16.1- Nitração
16.2- Sulfonação
16.3- Halogenação
16.4- Acilação de Friedel-Crafts
16.5- Alquilação de Friedel-Crafts
16.6- Oxidação do cumeno
16.1- Nitração
O benzeno pode reagir com ácido nítrico, em presença de
ácido sulfúrico que, sendo um ácido mais forte que o HNO3, faz com
que este se comporte como base de Lewis, recebendo um próton do
H2SO4. Trata-se de um equilíbrio ácido-base.
16.2- Sulfonação
O benzeno pode ser sulfonado com ácido sulfúrico
fumegante - uma solução de SO3 em H2SO4 - em que o próprio SO3 será o
eletrófilo:
118
16.3- Halogenação
O benzeno e outros compostos aromáticos podem ser
halogenados, em presença de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis). À
primeira vista, acharíamos que a reação se iniciasse como na
halogenação de um alceno ou de um cicloalcano: devido à alta
reatividade da ligação pi, esta atacaria o halogênio simplesmente
pela existência das cargas formais na molécula desse halogênio
(dipolos induzidos). No entanto, como já vimos, os anéis
aromáticos, por serem estruturas ressonantes, possuem menor
reatividade que alcenos e ciclenos. Por isso é necessário
"potencializar" essa carga formal do halogênio. Para isso, usa-se,
por exemplo, o AlCl3, que é um ácido de Lewis, e age recebendo um
par de elétrons de um dos átomos do halogênio. Veja o exemplo da
cloração do benzeno:
Quando halogenamos um anel aromático que possui um
radical alquila (cadeia lateral), pode-se conseguir dois produtos
diferentes, dependendo das condições em que a reação é realizada.
Por exemplo, na cloração do tolueno, se a reação for efetuada em
presença de um ácido de Lewis, no escuro e a frio, a substituição
ocorrerá no anel. No entanto, se a reação for efetuada em
temperaturas elevadas e em presença de luz, a substituição ocorrerá
na cadeia lateral. O mecanismo nesse caso não é iônico, mas via
radicais livres. Veja os exemplos abaixo:
119
A reação I se inicia com a ruptura homolítica do
halogênio. Logo, é uma reação via radicais livres, semelhante
àquelas que ocorrem com os alcanos. Daí a preferência pela cadeia
lateral (grupo alquilo). Na prática, é necessário manter a luz,
pois podem ocorrer associações entre os átomos de cloro,
regenerando o Cl2. A reação II ocorre na presença de ácido de Lewis,
que quebra heteroliticamente o halogênio, ou seja, formam-se íons.
A reação é iônica e a orientação da entrada do eletrófilo será dada
pelo grupo que estiver presente no anel.
16.4- Acilação de Friedel-Crafts
Reagindo-se haletos de ácido com benzeno, em presença de
AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se cetonas. O eletrófilo é o
íon acetoxônio. Veja o exemplo abaixo:
16.5- Alquilação de Friedel-Crafts
Reagindo-se haletos de alquila com benzeno, em presença
de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se outro hidrocarboneto
120
aromático. O eletrófilo é o carbocátion que se forma. Veja o
exemplo abaixo:
Uma limitação séria na alquilação de Friedel-Crafts está
no fato de que alguns carbocátions, ao serem formados após a reação
entre o haleto e o ácido de Lewis, sofrem um rearranjo instantâneo,
alterando o radical que se pretendia adicionar ao anel. Esse íon
sofre rearranjo sempre que, por transposição vicinal de um
hidrogênio ou de um grupo alquilo, for possível formar um
carbocátion mais estável. Veja:
16.6- Oxidação do cumeno
Esse é um dos métodos mais importantes e eficazes,
utilizado inclusive industrialmente, para a obtenção do fenol e da
acetona. Trata-se da oxidação do isopropil-benzenol (cumeno):
121
HALETOS DE ALQUILA /ARILA
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC: halogênio + hidrocarboneto
Nomenclatura usual: ânion do halogênio + de + radical
orgânico
Alguns exemplos importantes:
3- Propriedades físicas
Em virtude da polaridade existente na ligação
carbono-halogênio, os haletos possuem pontos de ebulição levemente
mais elevados do que os alcanos de mesmo peso molecular. Apesar da
polaridade, no entanto, os haletos não são solúveis em água,
provavelmente por não terem possibilidade de formarem ligações de
hidrogênio. Dissolvem-se apenas em solventes orgânicos. Os haletos
mais simples, com até dois cerbonos na cadeia, são gases. À medida
que a massa molecular aumenta, eles se tornam líquidos e,
posteriormente, sólidos. Os haletos mais importantes são líquidos
122
incolores de cheiro agradável, porém, tóxico. Apresentam pontos de
ebulição próximos aos alcanos de mesma massa molecular.
O PE varia com o aumento da massa molecular do
haleto, seja pelo aumento do radical orgânico, seja pelo aumento da
massa do halogênio. Consequentemente, o PE aumenta ao passarmos dos
fluoretos para cloretos, brometos e iodetos. Aumenta também
passando de um mono para um di, tri etc e para um polihaleto. Os
monofluoretos e os monocloretos são menos densos que a água; já os
brometos e os iodetos são mais densos. Os polihaletos em geral são
bastante densos. Em particular, o CH2I2 é o líquido de maior
densidade (d = 3,32 g/ml). Ele é usado como "líquido de contraste"
no estudo dos minerais ao microscópio.
4- Métodos de obtenção
A grande maioria dos haletos são sintetizados em
laboratório para serem usados como ponto de partida para a obtenção
de outros compostos orgânicos de maior interesse.
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS HALETOS
1- Halogenação de alcanos
2- Halidirificação de alcenos
3- Halogenação de alcenos
4- Halidrificação de alcinos
5- Halogenação de alcinos
6- Halidrificação de cicloalcenos
7- Halogenação de cicloalcenos
8- Halogenação de anéis aromáticos
9- Halidirificação de dienos conjugados (adição 1,4)
10- Reação de álcoois com HX diluído
11- Reação de álcooiscom cloreto de tionila
12- Reação de álcoois com haletos de fósforo
1- Halogenação de alcanos
A halogenação de um alcano se dá por substituição de
um átomo de hidrogênio por um halogênio, resultando em um haleto de
alquila.
123
2- Halidrificação de alcenos
O HCl, o HBr e o HI transformam os alcenos nos
correspondentes haletos de alquila. A reação consiste em fazer
passar o haleto de hidrogênio, gasoso e anidro, diretamente através
do alceno. Alcenos com mais de dois carbonos poderiam dar origem a
mais de um produto.
3- Halogenação de alcenos
O cloro e o bromo transformam facilmente os alcenos
em dihaletos vicinais, dissolvidos normalmente em um solvente
inerte, como o tetracloreto de carbono. O iodo, em geral, não
reage. A adição prossegue rapidamente, à temperatura ambiente ou
inferior, constituindo a melhor maneira de se obter di-haletos
vicinais. Sabemos que as moléculas de um halogênio qualquer é
apolar, ou seja, não há diferença de eletronegatividade entre os
átomos na molécula. Sabemos também que a adição em alcenos se dá
pelo ataque dos elétrons pi a um eletrófilo. Neste caso, não há um
eletrófilo com carga real. No entanto, as moléculas do halogênio
criam um dipolo induzido pelo forte campo elétrico gerado pelas
nuvens pi das moléculas do alceno que se encontram no meio. A densa
nuvem eletrônica da dupla ligação tende a repelir a nuvem
eletrônica do halogênio, fazendo com que o átomo de halogênio que
estiver mais próximo da dupla seja relativamente mais positivo e o
mais afastado relativamente negativo.
124
4- Halidrificação de alcinos
Quando reagidos com HX, os alcinos produzem haletos
e, se existir excesso de HX poderemos obter dihaletos germinados.
Veja o exemplo da reação entre acetileno e HBr:
5- Halogenação de alcinos
Quando reagidos com halogênios, os alcinos produzem
dihaletos. Caso exista halogênio em excesso, poderemos obter um
derivado tetrahalogenado. Veja o exemplo:
125
6- Halidrificação de cicloalcenos
Os cicloalcenos podem reagir com HX, da mesma forma
como os alcenos, produzindo haletos:
7- Halogenação de cicloalcenos
Os cicloalcenos podem reagir com halogênios, da
mesma forma como os alcenos, produzindo dihaletos vicinais:
8- Halogenação de anéis aromáticos
O benzeno e outros anéis aromáticos podem ser
halogenados, em presença de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis). À
primeira vista, acharíamos que a reação se iniciasse como na
halogenação de um alceno ou de um cicloalcano: devido à alta
reatividade da ligação pi, esta atacaria o halogênio simplesmente
pela existência das cargas formais na molécula desse halogênio
(dipolos induzidos). No entanto, como já vimos, os anéis
aromáticos, por serem estruturas ressonantes, possuem menor
reatividade que alcenos e ciclenos. Por isso é necessário
"potencializar" essa carga formal do halogênio. Para isso, usa-se,
por exemplo, o AlCl3, que é um ácido de Lewis, e age recebendo um
par de elétrons de um dos átomos do halogênio.
126
9- Halidrificação de dienos conjugados (adição 1,4)
A ressonância dos dienos conjugados deslocaliza a
nuvem pi e produz formas canônicas do composto, tornando possíveis
mais duas posições para os reagentes adicionados - a posição 1,2 e
a posição 1,4. Por este motivo, os produtos de uma reação desse
tipo são chamados produto de adição 1,2 e produto de adição 1,4.
Veja abaixo a reação entre o butadieno - 1,3 e o HBr:
As quantidades relativas de cada um dos produtos
formados depende da temperatura em que a reação foi efetuada.
Quando ela se realiza a baixas temperaturas (aprox. -80o C) obtém-se
uma mistura de 20% do produto 1,4 e 80% do produto 1,2. Se ela for
realizada em temperaturas mais elevadas (aprox. 40o C), porém,
obtém-se uma mistura de composição inversa: 20% do produto 1,2 e
80% do produto 1,4. A temperaturas intermediárias obtém-se uma
mistura cuja composição se situa entre as duas indicadas. Outra
observação importante é a de que qualquer um dos compostos
separadamente se transforma na mistura dos dois isômeros, por
127
aquecimento, indicando que ela resulta do equilíbrio entre os dois
compostos.
10- Reação de álcoois com HX diluído
Os álcoois podem ser tratados com ácidos
halogenídricos (HX), produzindo haletos. Veja:
11- Reação de álcoois com cloreto de tionila
Com cloreto de tionila, os álcoois produzem haletos:
12- Reação de álcoois com haletos de fósforo
Pode-se obter haletos pela reação de um álcool com
haletos de fósforo, especialmente, os cloretos. Veja:
128
5- Propriedades químicas
Os haletos de alquila são muito reativos e a partir
deles pode-se obter praticamente todas as funções orgânicas. Isto
torna-os importantíssimos nas sínteses orgânicas. Essa grande
reatividade dos haletos é explicada pela forte polaridade da
ligação entre o halogênio e o carbono, causando na cadeia um efeito
indutivo -I. Já os haletos aromáticos são menos reativos, pois o
efeito indutivo -I é contrabalanceado pelo efeito mesomérico +M,
que aparece devido à ressonância de um par eletrônico livre do
halogênio com o anel aromático. A reatividade dos haletos de
alquila cresce da seguinte maneira: R-I > R-Br > R-Cl > R-F. Isso
porque quanto maior o haleto, mais polarizável ele se torna, logo,
reage com mais facilidade.
6- Aplicações dos haletos
Em geral, os haletos são usados como:
• Matéria-prima para sínteses orgânicas
• Solventes
• Desengraxantes para metais
• Composto para lavegem de roupas a seco
Em particular, o cloro-etano é usado como:
• Anestésico
• Reagente na produção do chumbo-tetraetila - antidetonante
para gasolina
Alguns haletos polifluorados são usados como:
• Lubrificantes inertes
• Matéria-prima para fabricação de plásticos de alta
resistência química (teflon)
129
Alguns haletos aromáticos policlorados são usados
como:
• Inseticidas (BHC, DDT, lindane, dieldrin etc)
• Medicamentos (cloromicetina)
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS HALETOS
1- Desalidrificação
2- Desalogenação de haletos vicinais com zinco
3- Desalogenação de dihaletos vicinais
4- Eliminação por nucleófilo em haletos cíclicos
5- Desalogenação de dihaletos não-vicinais com zinco
6- Eliminação com sódio metálico em haletos cíclicos
7- Substituição nucleofílica interna
8- Reação com alcóxidos
9- Reação com sais de ácidos carboxílicos
10- Hidroxilação de haletos aromáticos
1- Desalidrificação
Tratando os haletos com uma solução alcoólica
aquecida de uma base inorgânica (KOH, por exemplo) é possível
transformá-los em alcenos. É importante notar que, no caso de
haletos com mais de três carbonos, podem se formar produtos
diferentes, em quantidades variadas. No exemplo abaixo, o 2- Bromo
butano dá origem a uma mistura de dois alcenos isômeros:
2- Desalogenação de haletos vicinais com zinco
Os dihaletos vicinais, quando tratados com zinco
metálico, podem ser desalogenados, originando alcenos. Veja o
exemplo abaixo:
130
3- Desalogenação de dihaletos vicinais
Os dialetos vicinais,quando tratados com OH - em
meio alcoólico, sofrem eliminação, produzindo alcinos. Nesse caso,
o hidrogênio atacado é o secundário. Veja:
Caso o hidrogênio capturado seja o primário, teremos
a formação de dienos conjugados:
4- Eliminação por nucleófilo em haletos cíclicos
Tratando um haleto cíclico com bases pode-se obter
um hidrocarboneto alicíclico. Veja:
131
5- Desalogenação de dihaletos não-vicinais com zinco
Os dihaletos não-vicinais podem ser tratados com
zinco metálico, obtendo-se hidrocarbonetos alicíclicos. Veja:
6- Eliminação com sódio metálico em haletos cíclicos
Com sódio metálico, os haletos cíclicos podem
produzir hidrocarbonetos alicíclicos binucleados. Veja:
7- Substituição nucleofílica interna
Quando um composto possui em sua molécula um grupo
de fácil saída e um nucleófilo, pode ocorrer um tipo especial de
substituição nucleofílica. Veja o exemplo abaixo - a hidratação do
conhecido "gás mostarda". Nesse caso a reação desse gás com a água
é acelerada pela existência do enxofre (nucleófilo), que causa um
rearranjo estrutural na molécula, facilitando a saída do cloro.
132
Esse "auxílio" dado pelo nucleófilo interno é chamado ajuda
anquimérica.
8- Reação com alcóxidos (síntese de Williamson)
Com alcóxidos os haletos podem produzir éteres:
9- Reação com sais de ácidos carboxílicos
Com os sais de ácidos carboxílicos os haletos
produzem ésteres:
10- Hidroxilação de haletos aromáticos
133
Os haletos aromáticos podem ser hidroxilados, de
modo que o ataque nucleofílico ocorra no carbono polarizado da
ligação com o haleto, e não capturando um próton. Veja:
ÁLCOOIS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + infixo + ol
Nomenclatura usual: álcool + prefixo + ílico
OBS: Uma outra nomenclatura que pode ser usada para
álcoois, porém, em desuso, é feita chamando-se o grupo C-OH de
carbinol e tratando o restante da cadeia como radicais desse grupo:
radicais + carbinol
Os álcoois podem ser classificados de duas maneiras:
De acordo com o número de hidroxilas:
• 1 hidroxila - monoálcool ou monol
• 2 hidroxilas - diálcool ou diol (também chamado glicol)
• 3 hidroxilas - triálcool ou triol
• . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
• Várias hidroxilas - poliálcool ou poliol
Quanto à posição da hidroxila:
• OH em carbono primário - álcool primário
• OH em carbono secundário - álcool secundário
• OH em carbono terciário - álcool terciário
Alguns exemplos importantes:
134
2- Propriedades físicas
As moléculas dos álcoois, por possuírem o grupo polar OH,
pode-se dizer, são ligadas entre si pelos mesmos tipos de forças
intermoleculares que agregam as moléculas de água umas às outras -
as ligações de hidrogênio. Por essa razão é possível misturar as
duas substâncias. Isso, no entanto, verifica-se apenas nos álcoois
mais simples (metanol, etanol e propanol). Nesses álcoois, que são
líquidos incolores voláteis e de cheiro característico, o grupo OH
constitui importante porção da molécula. Com o aumento da cadeia
carbônica, todavia, o grupo OH começa a perder importância, pois a
maior parte da molécula é um hidrocarboneto. Os álcoois então
tornam-se mais viscosos, menos voláteis e menos solúveis em água,
até chegarmos em álcoois de massa molecular tão elevada que são
sólidos e insolúveis em água. A viscosidade e a solubilidade dos
álcoois em água também aumenta se o número de hidroxilas aumentar.
Quanto maior o número de grupos OH, mais intensas serão as
interações intermoleculares e maiores serão os ponto de fusão e
ebulição dos álcoois.
O etanol, em especial, quando misturado com a água na
proporção de 95% de álcool e 5% de água, forma com esta uma mistura
azeotrópica ou azeótropo. Isto significa que não é possível
concentrar o álcool além de 95% através da destilação fracionada.
Esta mistura comporta-se como um composto puro, sendo praticamente
impossível separar os dois componentes. O álcool puro, chamado
álcool absoluto, é muito mais caro e utiliza-se apenas quando
estritamente necessário. O etanol a 95% em água tem PE = 78,15o C,
inferior aos pontos de ebulição de seus componentes (etanol = 78,3o
C e água = 100o C). Os azeótropos que possuem PE superior aos de
seus componentes são chamados misturas de ponto de ebulição máximo.
Se o álcool a 95% não se pode concentrar mais por
destilação, como é que se obtém o álcool etílico a 100% que também
se encontra à venda e que se conhece por álcool absoluto? Tirando
partido da existência de outra mistura azeotrópica. Esta, porém,
com três componentes (azeótropo ternário). A mistura do 7,5% de
água, 18,5% de etanol e 74% de benzeno é azeotrópica e tem ponto de
ebulição 64,9o C (mistura de ponto de ebulição mínimo). Vejamos o
que acontece se destilarmos uma mistura que contenha, por exemplo,
150 g de etanol a 95% (142,5 g de álcool e 7,5 g de água) e 74 g de
benzeno. O primeiro material a destilar é o azeótropo ternário;
onde destilarão 100 g, o que corresponde a 7,5 g de água, 18,5 g do
álcool e 74 g do benzeno. Quer dizer, toda a água e todo o benzeno,
mas apenas parte do álcool destilarão; permanecendo 124 g do álcool
puro anidro. Na prática, é comum juntar-se um pouco mais de benzeno
do que o estritamente necessário. O excesso é removido, depois da
destilação da mistura ternária, como azeótropo binário com álcool
(PE = 68,3o C). O caso do álcool etílico demonstra que os azeótropos
embora, por vezes, bastante inconvenientes podem frequentemente ser
utilizados com vantagem prática. Para certos fins especiais tem de
se remover mesmo o mais leve vestígio de água que possa ainda
135
existir no álcool absoluto comercial. Consegue-se isto por
tratamento do álcool com magnésio metálico; a água é transformada
em Mg(OH)2 insolúvel, e o álcool é então destilado.
3- Métodos de obtenção
Normalmente, os álcoois não parecem livres na natureza.
Entretanto, eles são muito abundantes na forma de ésteres, tanto no
reino vegetal quanto no reino animal. Além disso, o álcool etílico
é obtido em grande escala por processos de fermentação de açúcares.
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS ÁLCOOIS
1- Hidratação de alcenos
2- Hidratação de cicloalcenos
3- Oxidação branda de alcenos
4- Hidratação de epóxidos
5- Reação de aldeídos ou cetonas com reagente de Grignard
6- Reação de éteres com HX
7- Hidrólise de ésteres
1- Hidratação de alcenos
Em meio ácido, os alcenos reagem com a água formando
álcoois:
2- Hidratação de cicloalcenos
Os cicloalcenos podem ser hidratados em meio ácido,
da mesma forma como os alcenos, produzindo álcoois:
136
3- Oxidação branda de alcenos
O permanganato em meio neutro ou levemente alcalino é
oxidante brando, pois não chega a romper a dupla ligação, mas reage
introduzindo oxigênios na cadeia. O permanganato é uma solução de
coloração violeta intensa e quando ele passa para MnO2 precipita
esse óxido marrom escuro. O resultado da oxidação branda de um
alceno com KMnO4 é um diálcool vicinal (glicol). Como exemplo,
vejamos a oxidação do propeno:
4- Hidratação de epóxidosOs epóxidos podem ser hidratados em meio ácido ou básico,
produzindo um glicol (diálcool vicinal):
137
5- Reação de aldeídos ou cetonas com reagente de Grignard
Os aldeídos e cetonas podem reagir com composto de
Grignard e posterior hidratação em meio ácido, produzindo álcoois.
O reagente de Grignard funciona como doador de carbânion:
6- Reação de aldeídos ou cetonas com hidreto
Os aldeídos e cetonas podem ser tratados com um agente
fornecedor de hidretos (ex: LiAlH4) e posteriormente, tratados em
meio ácido. Assim, obtemos um álcool:
7- Reação de éteres com HX
Os éteres, apesar de pouco reativos, podem sofrer ruptura
na cadeia, originando dois produtos. A reação com ácidos
halogenídricos fortes (HX), por exemplo, fornece um álcool e um
haleto. Veja:
8- Hidrólise de ésteres
Os éteres podem ser hidrolisados em meio básico ou em
meio ácido, resultando um álcool e um ácido crboxílico. Em meio
básico temos a seguinte proposta mecanística:
138
Em meio básico a reação é mais rápida, visto que os íons
hidróxido adicionados à solução são nucleófilos mais fortes do que
a água. Em meio ácido teríamos o seguinte:
4- Propriedades químicas
O grupo OH dos álcoois é a sua parte mais reativa, e
estes compostos podem reagir de duas maneiras: rompendo a ligação
O-H ou rompendo a ligação C-OH. Neste último caso, sendo o grupo OH
um péssimo abandonador, ou seja, difícil de se retirar de uma
molécula, geralmente utiliza-se protonar o grupamento, para
facilitar a sua saída. Estudando o comportamento químico dos
álcoois, pode-se conhecer muito do comportamento químico do grupo
hidroxila em outros compostos.
Os álcoois funcionam como substâncias anfóteras, isto é,
comportam-se às vezes como ácido e às vezes como base, ambos muito
fracos. Isso vai depender principalmente da natureza do outro
reagente. A acidicidade dos álcoois se deve ao fato de existir um
hidrogênio ligado a um átomo muito eletronegativo, o oxigênio. O
caráter ácido dos álcoois segue a seguinte ordem de intensidade:
álcool primário > álcool secundário >álcool terciário. Isso ocorre
por causa do efeito indutivo +I do grupo alquilo. Quanto mais
radicais existirem, maior será a densidade eletrônica no oxigênio,
e mais fortemente ligado estará o hidrogênio.
139
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ÁLCOOIS
1- Desidratação
2- Eliminação em dióis
3- Eliminação em álcoois cíclicos
4- Reação com HX diluído
5- Reação com HI concentrado
6- Reação com cloreto de tionila
7- Reação com haletos de fósforo
8- Reação com ácidos (Esterificação)
9- Reação com aldeídos ou cetonas
10- Reação com cloretos de ácidos
1- Desidratação
Os álcoois podem ser desidratados com ácido sulfúrico
concentrado a quente ou com Al2O3 (alumina). O produto formado
dependerá basicamente da temperatura em que a reação for realizada.
A cerca de 180o C o produto principal é de eliminação - um alceno.
Trata-se de uma desidratação intramolecular. Veja:
Se a reação, porém, for realizada a cerca de 140o C, o
produto principal é de substituição - um éter. Trata-se de uma
desidratação intermolecular. Veja:
2- Eliminação em dióis
140
Os diálcoois em meio ácido e a temperaturas elevadas
podem produzir dienos:
3- Eliminação em álcoois cíclicos
Em meio ácido, os álcoois cíclicos podem ser hidratados,
assim como os alcenos:
4- Reação com HX diluído
Os álcoois podem ser tratados com ácidos halogenídricos
(HX), produzindo haletos. Veja:
5- Reação com HI concentrado
141
O HI podem reagir com álcoois, produzindo alcanos. Essa
propriedade específica do HI se deve ao fato de o iodo ser um
elemento muito grande e abandona facilmente uma estrutura. Veja o
processo abaixo:
6- Reação com cloreto de tionila
Com cloreto de tionila, os álcoois produzem haletos:
7- Reação com haletos de fósforo
Pode-se obter haletos pela reação de um álcool com
haletos de fósforo, especialmente, os cloretos. Veja:
142
8- Reação com ácidos (Esterificação)
Uma das reações mais importantes dos álcoois é a
esterificação, ou seja, a formação de ésteres. Reage-se o álcool
com um ácido, a frio, em presença de H2SO4 concentrado:
Reação com aldeídos ou cetonas
Reagindo-se um álcool com aldeídos ou cetonas, em meio
ácido, pode-se obter compostos chamados acetais, que são éteres
duplos. Veja:
143
Reação com cloretos de ácidos
Reagindo-se um álcool com cloreto de ácido podemos obter
um éster:
5- Aplicações dos álcoois
Os álcoois mais simples são muito usados, dentre outras
coisas, como:
• Solventes na indústria e no laboratório
• Componentes de misturas "anti-freeze"- para baixar o
ponto de solidificação
• Matéria-prima de inúmeras reações para obtenção de outros
compostos orgânicos
• Combustível
• Componente de bebidas (etanol)
Um diálcool (glicol) muito importante é o etileno-glicol
(CH2OH - CH2OH), preparado pela oxidação do etileno por perácido. É
muito usado como:
144
• Umectante
• "Anti-freeze" - para baixar o ponto de congelamento da
água de radiadores em países frios
• Fluido em breques hidráulicos
• Matéria-prima de plásticos e fibras (poliésteres)
A glicerina (CH2OH - CHOH - CH2OH) é um triálcool de
grande aplicação. Dentre os principais usos estão:
• Solventes
• Tintas
• Plastificantes
• Lubrificantes
• Agente adoçante
• Componente de cosméticos
FENÓIS
1- Nomenclatura e exemplos
Os fenóis não seguem nenhuma regra fixa de nomenclatura.
Os mais simples, no entanto, podem ser nomeados usando o anel
aromático como cadeia principal e os grupos ligados a ele como
radicais.
Alguns exemplos importantes:
OBS: Três hidroxilas também propiciam três isômeros: pirogalol,
floroglucinol e oxiidroquinona.
2- Propriedades físicas
145
Os fenóis mais simples são líquidos ou sólidos de baixo
ponto de fusão e ponto de ebulição elevado, devido à ligação das
moléculas, umas às outras, por ligações de hidrogênio. São, em
geral, pouco solúveis ou insolúveis em água, de cheiro forte e
característico. São tóxicos e têm ação cáustica sobre a pele. A
menos que exista na molécula algum grupo susceptível de produzir
cor, os fenóis são incolores. Se oxidam facilmente, como as aminas,
e muitos fenóis apresentam cor devido à presença de produtos de
oxidação corados.
A comparação das propriedades físicas dos nitrofenóis
isômeros faz ressaltar um aspecto importante. Veja:
isômero PE(a 70
mmHg) solubilidade
volatilidade em vapor
d'água
orto-
nitrofenol
100o C
0,2 g /100g de
H2O
volátil em vapor
d'água
meta-
nitrofenol
194o C
1,35 g /100g de
H2O
não volátil em vapor
d'água
para-
nitrofenol
decompõe-
se
1,69 g /100g de
H2O
não volátil em vapor
d'água
Notamos que o orto-nitrofenol tem ponto de ebulição bem
mais baixo e muito menor solubilidade em água que os outros
isômeros, além de ser o único facilmente destilável em corrente de
vapor d'água. Como se explica essas diferenças?Consideremos primeiramente os isômeros meta e para. Eles
têm pontos de ebulição mais elevados devido à existência de
ligações de hidrogênio intermoleculares. A solubilidade mais
elevada se deve à formação de ligações de hidrogênio com as
moléculas de água. A destilação em corrente de vapor depende da
substância apresentar apreciável pressão de vapor à temperatura de
ebulição da água. A existência de ligações de hidrogênio
intermoleculares impede a evaporação dos isômeros meta e para que,
portanto, não destilam.
Observando-se o isômero orto-nitrofenol em um modelo
molecular, podemos ver claramente que a pequena distância dos
grupos NO2 e OH e as suas disposições no anel favorecem a formação
de ligações de hidrogênio intramoleculares, ou seja, uma ponte de
hidrogênio dentro da molécula. Neste isômero, portanto, as ligações
de hidrogênio intramoleculares tomam o lugar das ligações de
hidrogênio intermoleculares.
3- Métodos de obtenção
Muitos fenóis simples como o fenol comum, os naftóis e os
cresóis podem ser obtidos diretamente do alcatrão da hulha. Por
146
isso, em laboratório, as reações geralmente objetivam a produção de
fenóis com estruturas mais complexas.
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS FENÓIS
1- Hidrólise de sais de diazônio
2- Hidroxilação de haletos aromáticos
3- Oxidação do cumeno
1- Hidrólise de sais de diazônio
Os sais de diazônio podem ser transformados em fenóis por
hidrólise:
OBS: No sal de diazônio acima não está representado o
ânion, mas apenas o cátion, que é o importante para a reação. O sal
pode ser qualquer um: cloreto, sulfato, nitrato etc.
2- Hidroxilação de haletos aromáticos
Os haletos aromáticos podem ser hidroxilados, de modo que
o ataque nucleofílico ocorra no carbono polarizado da ligação com o
haleto, e não capturando um próton. Veja:
3- Oxidação do cumeno
Esse é um dos métodos mais importantes e eficazes,
utilizado inclusive em escala industrial. Trata-se da oxidação do
isopropil-benzenol (cumeno). É o método industrial utilizado para a
produção simultânea de fenol e acetona:
147
4- Propriedades químicas
Os fenóis têm caráter relativamente ácido, porém, menos
ácido que os ácidos carboxílicos (veja a comparação da força ácida
destes compostos). Os fenóis podem ser facilmente diferenciados dos
álcoois por meio de alguns testes simples em laboratório.
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS FENÓIS
1- Substituições eletrofílicas
2- Reação com haletos em meio básico
3- Esterificação
4- Reação com amônia
1- Substituições eletrofílicas
Ao anel aromático do fenol pode ser adicionado um ou mais
grupamentos funcionais, em reações de substituição eletrofílica,
semelhantes às que ocorrem com o benzeno (nitração, sulfonação,
halogenação, acilação, alquilação). No entanto, como o anel
apresenta um grupo direcionador orto-para (OH), a entrada dos
grupamentos serão orientadas nestas posições.
2- Reação com haletos em meio básico
Os fenóis podem ser reagidos com haletos em meio básico,
produzindo éteres. Geralmente utilizam-se os iodetos, por ser o
iodo um grupo de fácil saída.
148
3- Esterificação
Os fenóis, assim como os álcoois, podem ser transformados
em ésteres. Geralmente utiliza-se um anidrido ou cloreto de ácido:
4- Reação com amônia
Os fenóis podem reagir com a amônia, produzindo aminas:
5- Sais de fenóis
Como já foi dito, os fenóis são compostos relativamente
ácidos, e podem ser convertidos nos respectivos sais por soluções
aquosas de hidróxidos. Estes sais são conhecidos como fenóxidos ou
fenolatos. Como seria de se esperar, os fenóis e seus sais têm
características opostas, quanto à solubilidade: os sais são
solúveis em água e insolúveis em solventes orgânicos.
149
A força ácida dos fenóis e a solubilidade dos respectivos
sais em água podem utilizar-se tanto em análise quanto em
separações. Uma substância insolúvel em água, solubilizada por
soluções aquosas de hidróxido, mas não por soluções aquosas de
bicarbonato, tem, por força, de ser mais acídica que do que a água,
mas menos acídica do que os ácidos carboxílicos; a maioria dos
compostos neste escalão de acidicidade são fenóis. Com base na
solubilidade em meio alcalino, podem separar-se os fenóis dos
compostos não acídicos; por meio da insolubilidade em bicarbonato é
possível separá-los dos ácidos carboxílicos.
6- Aplicações dos fenóis
Os fenóis encontram diversas aplicações práticas, tais
como:
• Desinfetantes (fenóis e cresóis)
• Preparação de resinas e polímeros
• Preparação do ácido pícrico, usado na preparação de
explosivos
• Síntese da aspirina e de outros medicamentos
Entre os diidroxifenóis, a hidroquinona é a mais
importante. A partir dela se produz as quinonas, que são compostos
coloridos, variando do amarelo ao vermelho. Não apresentam caráter
aromático, sendo foretemente insaturados. A ação redutora da
hidroquinona, que à temperatura ambiente age com grande rapidez
sobre os sais de prata, faz dela um revelador fotográfico de largo
emprego.
Enfim, numerosos derivados do fenol estão difundidos na
natureza. Entre estes o eugenol e o isoeugenol, que constituem
essências de cravo e noz-moscada.
ÉTERES
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC:
prefixo do radical menor + óxi +
hidrocarboneto maior
Nomenclatura usual: éter + radical menor + prefixo do radical
maior + ílico
Alguns exemplos importantes:
150
OBS: Os éteres podem ser cíclicos, quando o heteroátomo de um ciclo
é o oxigênio. Nesse caso são chamados epóxidos.
2- Propriedades físicas
Sendo o ângulo entre as ligações R-O-R diferente de 180o
C, devido ao efeito da repulsão dos pares eletrônicos não ligantes
do oxigênio, os momentos de dipolo das duas ligações não se anulam
mutuamente. Por isso os éteres apresentam um certo momento de
dipolo, ainda que pequeno, mas diferente de zero. Essa fraca
polaridade, no entanto, não exerce efeito considerável sobre o
ponto de ebulição do éter, sendo aproximadamente igual ao do alcano
de massa molecular e geometria correspondentes, mas muito menor que
o dos álcoois isômeros. Isto se deve principalmente ao fato de que
nos álcoois é possível a formação de ligações de hidrogênio entre
as moléculas, o que não ocorre nos éteres. Por outro lado, a
solubilidade dos éteres em água é comparável à dos álcoois
correspondentes, já que, com as moléculas de água, os éteres podem
formar ligações de hidrogênio.
Os éteres são substâncias muito mais voláteis do que os
álcoois correspondentes (mais uma vez, devido à ausência de
ligações de hidrogênio). Os éteres líquidos são incolores, de
cheiro agradável. Por apresentarem um momento de dipolo
desprezível, os éteres podem servir como solventes apolares para
substâncias orgânicas.
3- Métodos de obtenção
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS ÉTERES
1- Desidratação intermolecular de álcoois
2- Reação de álcoois com aldeídos ou cetonas
3- Reação de fenóis com haletos
4- Reação de haletos com alcóxidos
1- Desidratação intermolecular de álcoois
Os álcoois podem ser desidratados com ácido sulfúrico
concentrado a quente ou com Al2O3 (alumina). O produto formado
dependerá basicamente da temperatura em que a reação for realizada.
A cerca de 180oC o produto principal é de eliminação - um alceno.
Trata-se de uma desidratação intramolecular. Porém, se a reação,
151
porém, for realizada a cerca de 140o C, o produto principal é de
substituição - um éter. Trata-se de uma desidratação
intermolecular. Veja:
2- Reação de álcoois com aldeídos ou cetonas
Reagindo-se um álcool com aldeídos ou cetonas, em meio
ácido, pode-se obter compostos chamados acetais, que são éteres
duplos. Veja:
3- Reação de fenóis com haletos
Os fenóis podem ser reagidos com haletos, em meio básico,
produzindo éteres. Geralmente utilizam-se os iodetos, por ser o
iodo um grupo de fácil saída.
152
4- Reação de haletos com alcóxidos (síntese de
Williamson)
Reagindo com alcóxidos, os haletos podem produzir éteres:
4- Propriedades químicas
Os éteres são pouco reativos, em virtude da grande
estabilidade das ligações C-O-C. No entanto, os éteres são
altamente inflamáveis, exigindo cuidado na sua manipulação. Além
disso, em contato com o ar, a maioria dos éteres alifáticos
transformam-se em peróxidos instáveis. Embora, se encontrem em
baixa concentração, esses peróxidos são muito perigosos, pois podem
dar origem a explosões violentas durante as destilações que se
seguem às extrações com éter. A presença de peróxido pode ser
identificada pela adição de sulfato ferroso e tiocianato de
potássio. O peróxido oxida o ferro II a ferro III, o qual reage com
o íon tiocianato, produzindo um complexo de coloração vermelho-
sangue característica. Essa é também uma maneira de eliminar o
peróxido, pois ele é reduzido pelo íon Fe2+. Também pode-se eliminar
o peróxido destilando o éter com ácido sulfúrico concentrado.
Poucas reações dos éteres são importantes. Porém, a
reação com HX é um método interessante para a obtenção de álcoois e
haletos.
5- Aplicações dos éteres
Os éteres mais simples são usados principalmente como
solventes. Dentre eles, o éter dietílico (éter comum) merece
destaque:
153
• Solvente no laboratório e na indústria
• Anestésico
• Extração de óleos, gorduras, essências etc.
ALDEÍDOS E CETONAS
1- Nomenclatura e exemplos
Para aldeídos:
Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + infixo + al
Nomenclatura usual I: aldeído + prefixo + ílico
Nomenclatura usual II: prefixo + aldeído
Para cetonas:
Nomenclatura oficial
IUPAC: prefixo + infixo + ona
Nomenclatura usual: radical menor + radical maior +
cetona
Alguns exemplos importantes:
2- Propriedades físicas
À temperatura de 25o C, os aldeídos com um ou dois
carbonos são gasosos, de 3 a 11 carbonos são líquidos e os demais
são sólidos. Os aldeídos mais simples são bastante solúveis em água
e em alguns solventes apolares. Apresentam também odores
penetrantes e geralmente desagradáveis. Com o aumento da massa
molecular esses odores vão se tornando menos fortes até se tornarem
154
agradáveis nos termos que contêm de 8 a 14 carbonos. Alguns deles
encontram inclusive emprego na perfumaria (especialmente os
aromáticos).
O grupo carbonilo confere uma considerável polaridade aos
aldeídos, e por isso, possuem pontos de ebulição mais altos que
outros compostos de peso molecular comparável. No entanto, não se
formam ligações de hidrogênio intermoleculares, visto que eles
contêm apenas hidrogênio ligado a carbono. Comparando-se as cetonas
com os aldeídos isômeros, as cetonas têm ponto de ebulição mais
elevados e são mais solúveis em água, pois suas moléculas são mais
polares que a dos aldeídos.
3- Métodos de obtenção
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE ALDEÍDOS E CETONAS
1- Oxidação enérgica de alcenos
2- Ozonólise de alcenos
3- Hidratação de dienos acumulados
4- Hidratação de alcinos
5- Oxidação de alcinos por KMnO4
6- Acilação de Friedel-Crafts
7- Oxidação do cumeno
1- Oxidação enérgica de alcenos
Em meio ácido o KMnO4 é oxidante bastante enérgico e leva
à ruptura da dupla ligação, quebrando o alceno em moléculas
menores. Os produtos formados na reação dependem do tipo de carbono
da dupla ligação. Carbonos primários originam CO2 e H2O; carbonos
secundários, ácidos carboxílicos, e carbonos terciários, cetonas.
Na oxidação do metil-propeno, por exemplo, como os carbonos da
dupla são terciário e primário, formam-se, respectivamente, cetona
e CO2 + H2O:
155
2- Ozonólise de alcenos
Os alcenos, reagindo com o ozônio em meio aquoso,
produzem aldeídos e/ou cetonas. Trata-se de uma reação que destrói
completamente a dupla ligação, quebrando a molécula do alceno em
moléculas menores. O ozônio é um oxidante bastante enérgico e entra
em reação de adição com o alceno, formando o ozonídeo ou ozoneto,
um produto intermediário instável, que então se decompõe nos
produtos finais, por hidrólise.
Na prática, faz-se borbulha o gás ozônio numa
solução do alceno em solvente inerte, como o tetracloreto de
carbono. Por evaporação do solvente em seguida, obtém-se o
ozonídeo, que tem a forma de um óleo viscoso. Por ser muito
instável e explosivo, não se pode purificar esse ozonídeo, e faz-se
reagir diretamente com a água, geralmente em presença de um agente
redutor. A função desse agente redutor, geralmente a limalha de
zinco, consiste em impedir a formação do peróxido de hidrogênio,
que se aparecesse, reagiria com aldeídos e cetonas. O zinco captura
um oxigênio, formando o óxido de zinco (ZnO). Veja o exemplo da
ozonólise do metil propeno:
3- Hidratação de dienos acumulados (adição de H2O)
Os dienos que possuem duplas acumuladas reagem com água,
produzindo cetonas. Veja um exemplo de reação, envolvendo o 1,2-
butadieno:
156
4- Hidratação de alcinos
O mecanismo da adição de água nos alcinos ocorre de
maneira análoga à hidratação dos alcenos, porém, o produto - um
enol - tautomeriza-se na forma cetônica ou aldeídica, dependendo da
estrutura da cadeia carbônica. Veja o exemplo da hidratação do
acetileno:
5- Oxidação de alcinos por KMnO4
Oxidação branda - Nessa reação, a tripla ligação não
chega a se romper, e aos carbonos são adicionados oxigênios. Os
produtos dependem dos tipos de carbono iniciais. Geralmente resulta
um aldeído ou uma função mista, como no exemplo abaixo - um
cetoaldeído:
157
Oxidação enérgica - A oxidação enérgica dos alcinos por
permanganato segue uma reação semelhante à oxidação enérgica dos
alcenos. Carbonos primários dão CO2 e H2O, secundários dão ácidos
carboxílicos e terciários, cetonas.
6- Acilação de Friedel-Crafts
Reagindo-se haletos de ácido com benzeno, em presença de
AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se cetonas. O eletrófilo é o
íon acetoxônio. Veja o exemplo abaixo:
7- Oxidação do cumeno
Esse é um dos métodos mais importantes e eficazes,
utilizado inclusive industrialmente, para a obtenção do fenol e da
acetona. Trata-se da oxidação do isopropil-benzenol (cumeno):
158
4- Propriedades químicas
Os aldeídos e cetonas são bastante reativos, em
decorrência da grande polaridade gerada pelo grupo carbonilo, que
serve como local de adição nucleofílica e aumentando a acidicidade
dos átomos de hidrogênio ligados ao carbono � (carbono ligado
diretamenteà carbonila). Em relação às cetonas, os aldeídos são
bem mais reativos. Como o grupo carbonilo confere à molécula uma
estrutura plana, e a adição de um reagente nucleófilo pode ocorrer
em dois lados, ou seja, a superfície de contato é maior, o que
facilita a reação. Isso possibilita a formação de racematos
(mistura de enantiômeros), caso o carbono seja assimétrico.
Outros fatores influenciam a reatividade dos aldeídos e
cetonas são a intensidade da polaridade entre C e O e o volume
do(s) grupamento(s) ligado(s) à carbonila. Os grupos de indução +I
diminuem a deficiência eletrônica no carbono e, consequentemente,
diminui a afinidade deste por reagentes nucleofílicos (:Nu), ou
seja, a reação de adição nucleofílica é mais difícil. Já os grupos
de indução -I aumentam a deficiência eletrônica no carbono e,
consequentemente, aumentam a afinidade deste por reagentes
nucleofílicos, ou seja, a reação de adição nucleofílica é mais
fácil. Quanto ao volume do(s) grupamento(s) ligado(s) à carbonila,
tanto mais facilitada será a reação quanto menor forem esses
grupos, devido a um menor impedimento estérico (facilita a
aproximação do reagente nucleofílico ao carbono). Também a
velocidade da reação cresce proporcionalmente à intensidade da
polaridade do grupo carbonilo, pois mais intensa será a carga
parcial positiva sobre o carbono, e maior será sua afinidade com o
nucleófilo.
Veja alguns testes simples em laboratório que prmitem
identificar e distinguir aldeídos de cetonas.
159
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ALDEÍDOS E CETONAS
1- Formação de cianidrinas (reação com HCN)
2- Reação com reagente de Grignard
3- Reação com hidreto
4- Reação com álcoois em meio ácido
5- Reação com ilídios
6- Reação com derivados da amônia
1- Formação de cianidrinas (reação com HCN)
Os aldeídos e cetonas reagem com HCN produzindo
cianidrinas. Veja o exemplo na reação de um aldeído:
2- Reação com reagente de Grignard
Os aldeídos e cetonas podem reagir com composto de
Grignard e posterior hidratação em meio ácido, produzindo álcoois.
O reagente de Grignard funciona como doador de carbânion:
3- Reação com hidreto
Os aldeídos e cetonas podem ser tratados com um agente
fornecedor de hidretos (ex: LiAlH4) e posteriormente, tratados em
meio ácido. Assim, obtemos um álcool:
160
4- Reação com álcoois em meio ácido
Reagindo-se um aldeído ou cetona com um álcool, em meio
ácido, pode-se obter compostos chamados acetais, que são éteres
duplos. Veja:
5- Reação com ilídios
Os aldeídos e cetonas, quando reagidos com ilídios
(compostos especiais de fósforo pentavalente: H2C = PR3), produzem
alcenos. O ilídio mais comumente usado, por sua grande reatividade,
é o metileno-trifenil-fósforo. Veja:
161
6- Reação com derivados da amônia
Os aldeídos e cetonas reagem, em meio ácido, com vários
derivados da amônia e produzem inúmeros produtos diferentes,
geralmente contendo uma insaturação carbono-nitrogênio,
característica. Veja as principais reações com estes compostos:
162
5- Aplicações dos aldeídos e cetonas
Os aldeídos mais importantes são os mais simples. O
aldeído fórmico é utilizado como:
• Desinfetante
• Líquido para conservação de cadáveres e peças anatômicas
• Matéria-prima na fabricação de plásticos
• Reagente para síntese de urotropina (medicamento renal)
O aldeído acético é utilizado para:
• Produção de cloral (CCl3 - CHO), usado como hipnótico,
como clarificador de tecidos animais e na produção de DDT
• Produção de ácido acético, anidrido acético, álcool n-
butílico etc.
• Produção de resinas
• Fabricação de espelhos (usado como redutor da prata)
• Indústria de materiais fotográficos
A cetonas mais importante é, sem dúvida, a propanona
(acetona comum), utilizada principalmente:
• Como solvente no laboratório e na indústria
• Na fabricação de pólvora sem fumaça
• Na fabricação de medicamentos hipnóticos (clorofórmio,
sulfonal, cloretona etc.)
• Na produção de anidrido acético
• Na extração de óleos e gorduras de sementes
• Na fabricação de vernizes
Dentre as cetonas aromáticas, merece destaque a
acetofenona, utilizada principalmente como solvente na indústria de
perfumaria e como intermediária em certas sínteses orgânicas.
ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: ácido + prefixo + infixo + óico
Alguns exemplos importantes:
163
Praticamente todos os ácidos carboxílicos possuem nomes
vulgares. É enorme a quantidade de ácidos que são mais conhecidos
por seus nomes vulgares do que pelo oficial (muitos destes ácidos
são diácidos, triácidos ou compostos mistos, como os hidroxi-
ácidos). Veja alguns deles:
Ácido Fórmula molecular
Fórmico HCOOH
Acético CH3COOH
Propiônico CH3CH2COOH
Butírico CH3(CH2)2COOH
Valérico CH3(CH2)3COOH
Capróico CH3(CH2)4COOH
Caprílico CH3(CH2)6COOH
Cáprico CH3(CH2)8COOH
Láurico CH3(CH2)10COOH
Mirístico CH3(CH2)12COOH
Palmítico CH3(CH2)14COOH
Esteárico CH3(CH2)16COOH
Oléico cis-octadeceno-9-óico
Linoléico cis, cis-octadecadieno-9,12-óico
Linolênico cis, cis, cis-octadecatrieno-9,12,15-óico
Benzóico (C6H5)COOH
Fenilacético (C6H5)CH2COOH
Ftálico o-(C6H5)(COOH)2
Isoftálico m-(C6H5)(COOH)2
Tereftálico p-(C6H5)(COOH)2
Salicílico o-(C6H4)(OH)(COOH)
Antranílico o-(C6H4)(NH2)(COOH)
Oxálico HOOC-COOH
Malônico HOOCCH2COOH
Succínico HOOC(CH2)2COOH
Adípico HOOC(CH2)4COOH
Metacrílico CH2=C(CH3)COOH
164
Sórbico CH3CH=CHCH=CHCOOH
Tartárico HOOCCH(OH)CH(OH)COOH
Gálico (C6H2)-3,4,5-(OH)3COOH
Acrílico CH2=CHCOOH
Crotônico trans-CH3CH=CHCOOH
Fumárico trans-HOOCCH=CHCOOH
Cítrico CH2(COOH)C(OH)(COOH)CH2COOH
OBS: Costuma-se nomerar as posições de substituição num ácido
carboxílico da seguinte maneira: o carbono ligado diretamente ao
grupo COOH é chamado carbono �, o carbono seguinte é o carbono �, o
próximo é o � e assim por diante.
2- Propriedades físicas
Como se poderia prever pela estrutura molecular, os
ácidos carboxílicos são substâncias polares e podem, como os
álcoois, formar ligações de hidrogênio entre si ou com moléculas de
outra espécie. Por essa razão, os ácidos carboxílicos apresentam
praticamente o mesmo comportamento dos álcoois, quanto à
solubilidade. Os ácidos com até 4 carbonos são líquidos incolores,
miscíveis com a água, os ácidos de 5 a 9 carbonos são líquidos
incolores e viscosos, muito pouco solúveis. Os ácidos com dez ou
mais carbonos são sólidos brancos, semelhante à cera, insolúveis em
água. O ácido aromático mais simples, o ácido benzóico, por
apresentar já elevado número de carbonos, não tem apreciável
solubilidade em água. Os ácidos carboxílicos são solúveis em
solventes menos polares, como o éter, o álcool, o benzeno.
O cheiro característico dos ácidos alifáticos mais baixos
passa progressivamente de forte e irritante nos ácidos fórmico e
acético, para extremamente desagradável (semelhante à manteiga
rançosa) nos ácidos butírico (4C), valérico (5C) e capróico (6C).
Os ácidos mais altos não têm muito odor, por serem pouco voláteis.
Comparando-se um ácido carboxílico e um álcool, ambos com
o mesmo número de carbonos, o ácido terá maior ponto de ebulição,
devido à formação de duas pontes de hidrogênio e não apenas uma,
como no álcool. Veja:165
3- Métodos de obtenção
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
1- Reação de alcenos com perácidos
2- Oxidação enérgica de alcenos
3- Oxidação de álcoois e aldeídos
4- Hidrólise de ésteres
5- Hidrólise de nitrilas
6- Hidrólise de cloretos de acila
1- Reação de alcenos com perácidos
Pode-se tratar alcenos com perácido orgânico
(epoxidação), produzindo ácidos carboxílicos:
2- Oxidação enérgica de alcenos
Em meio ácido o permanganato é oxidante bastante enérgico
e leva à ruptura da dupla ligação, quebrando o alceno em moléculas
menores. Os produtos formados na reação dependem do tipo de carbono
da dupla ligação. Carbonos primários originam CO2 e H2O; carbonos
secundários, ácidos carboxílicos, e carbonos terciários, cetonas.
Vejamos o primeiro exemplo - a oxidação do buteno-2:
166
Perceba que o carbono da dupla na molécula inicial era
secundário; daí a formação de ácidos carboxílicos.
3- Oxidação de álcoois e aldeídos
O álcoois primários e os aldeídos podem ser oxidados com
permanganato, produzindo ácidos carboxílicos (os mecanismos de
oxidação ainda não estão muito bem explicados):
RCH2OH + 2 [O] RCOOH + H2O
RCHO + [O] RCOOH
4- Hidrólise de ésteres
Os éteres podem ser hidrolisados em meio básico ou em
meio ácido, resultando um álcool e um ácido crboxílico. Em meio
básico temos a seguinte proposta mecanística:
Em meio básico a reação é mais rápida, visto que os íons
hidróxido adicionados à solução são nucleófilos mais fortes do que
a água. Em meio ácido teríamos o seguinte:
167
5- Hidrólise de nitrilas
As nitrilas podem ser hidrolisadas em meio ácido,
originando ácidos carboxílicos:
6- Hidrólise de cloretos de acila
Os cloretos de ácidos (cloretos de acila) podem ser
hidrolisados, produzindo o respectivo ácido carboxílico:
168
4- Propriedades químicas
Os ácidos carboxílicos possuem caráter ácido devido à sua
ionização em água: R-COOH + H2O R-COO- + H3O+. Essa força ácida
pode ser maior ou menor dependendo do tipo de efeito indutivo
causado pelo grupamento ligado à carboxila:
No primeiro caso (a) o grupo X é elétron-atraente. O
efeito indutivo é -I e, portanto, deixa a carbonila com déficit
eletrônico, o que leva a um enfraquecimento da ligação com o
hidrogênio ácido. Logo, será mais fácil a liberação do próton.
Assim, o caráter ácido aumenta.
No segundo caso (b) o grupo X é elétron-repelente. O
efeito indutivo é +I e, portanto, deixa a carbonila com superávit
eletrônico, o que leva a um aumento da força de ligação com o
hidrogênio ácido. Logo, será mais difícil a liberação do próton.
Assim, o caráter ácido diminui.
Os ácidos aromáticos comportam-se de maneira semelhante
quando neles se inserem grupos substituintes. Assim, a introdução
de grupos CH3, OH ou NH2 (efeito indutivo -I) no ácido benzóico, por
exemplo, conduz a ácidos mais fracos do que ele; já a introdução de
grupos Cl, Br ou NO2 (efeito indutivo +I) conduz a ácidos mais
fortes. Também influencia sobre a força ácida o efeito da
ressonância do anel aromático, que enfraquece o ácido devido à
deslocalização de cargas elétricas.
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
1- Reação com álcoois (Esterificação)
2- Reação com haletos de fósforo
3- Reação com amônia
4- Reação com cloreto de tionila
5- Reação com bases inorgânicas (formação de sais)
169
Veja o esquema abaixo: Os ácidos carboxílicos geralmente
apresentam quatro possibilidades para reagir.
Perceba que o ácido pode sofrer um ataque nucleofílico,
eletrofílico ou de uma base. No caso de um reagente nucleofílico
(:Nu), o ácido reage preferencialmente através do carbono da dupla,
que é muito polarizado e, portanto, tem uma carga parcial positiva,
o que permite a entrada do nucleófilo. Se for um reagente
eletrofílico (E), o ácido reage preferencialmente através do
oxigênio da hidroxila, que coordena um de seus pares de elétrons
livres para o eletrófilo. Finalmente, o reagente pode ser uma base,
que então vai atuar capturando um próton do ácido, seja da
hidroxila (que é liberado mais facilmente) ou, dependendo da força
dessa base e das condições da reação, do carbono � (carbono ligado
ao grupo COOH).
As substituições nucleofílicas nos ácidos carboxílicos
geralmente seguem o seguinte mecanismo:
A protonação prévia do ácido é necessária para facilitar
o ataque do nucleófilo e acelerar a reação. Caso contrário a reação
seria muito lenta ou talvez não ocorresse.
1- Reação com álcoois (Esterificação)
Uma das reações mais importantes dos ácidos é a
esterificação, ou seja, a formação de ésteres. Reage-se o ácido com
um álcool, a frio, em presença de H2SO4 concentrado:
170
2- Reação com haletos de fósforo
Pode-se obter haletos de ácidos pela reação de um ácido
com haleto de fósforo, especialmente, os cloretos. Veja:
3- Reação com amônia
Reagindo-se um ácido carboxílico com a amônia obtemos um
sal de amônio, que se submetido a uma temperatura adequada,
rearranja-se e transforma-se em amida. Veja:
Em laboratório, no entanto, para preparação de amidas, é
mais frequente recorrer-se à reação de cloretos de acila com
amônia.
171
4- Reação com cloreto de tionila
Com cloreto de tionila, os ácidos carboxílicos formam
cloretos de acila (cloretos de ácido):
5- Reação com bases inorgânicas (formação de sais)
Os ácidos carboxílicos, quando reagidos com bases
inorgânicas resultam sais, através de uma simples reação de
salificação:
5- Sais de ácidos carboxílicos
Embora muito mais fracos que os ácidos inorgânicos fortes
(sulfúrico, nítrico, clorídrico), os ácidos carboxílicos podem
reagir completamente com hidróxidos, produzindo os respectivos
sais; soluções de ácidos minerais (H3O+) realizam a transformação
inversa (veja mais detalhes em equilíbrios ácido-base e soluções
tampão):
RCOOH + OH- RCOO- + H2O
RCOO- + H3O+ RCOOH + H2O
Os sais dos ácidos carboxílicos, como todos os sais, são
sólidos cristalinos formados por íons positivos e íons negativos.
As intensas forças eletrostáticas existentes entre esses íons só
são vencidas por altas temperaturas ou por ação de solventes
altamente polares. Os sais carboxílicos dos metais alcalinos são
solúveis em água, mas insolúveis em solventes apolares. A maioria
dos outros sais são insolúveis.
172
Para solubilizar um ácido carboxílico insolúvel em água,
podemos usar uma solução aquosa de hidróxido de sódio ou de
bicarbonato, transformando o ácido em seu respectivo sal. Veja:
RCOOH + NaOH RCOONa (solúvel) + H2O
RCOOH + NaHCO3 RCOONa (solúvel) + CO2 + H2O
6- Aplicações dos ácidos carboxílicos
Os ácidos carboxílicos encontram numerosas aplicações na
indústria e no laboratório, mas sem dúvida os mais representativos
são os ácidos fórmico e acético. Veja os seus principais usos:
Ácido fórmico:
• Tingimento e acabamento de tecidos
• Produção de ácido oxálico e outros produtos orgânicos
• Desinfetante em medicina e na produção de bebidas
• Fabricação de polímeros
Ácido acético:
• Produção de acetato de vinila (plásticoPVA)
• Produção de anidrido acético e cloreto de vinila,
importantes em sínteses orgânicas
• Fabricação de ésteres, importantes como solventes, em
perfumaria e essências artificiais
• Produção de acetato de celulose (fibras têxteis
artificiais)
• Na fabricação do vinagre
ÉSTERES
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial
IUPAC:
hidrocarboneto+ato+de+radical que
substituiu o H
Alguns exemplos importantes:
173
2- Propriedades físicas
A presença de um grupo carbonila (C=O) confere aos
ésteres caráter polar. Os ésteres mais baixos são líquidos
incolores voláteis e têm cheiro agradável, sendo por isso
utilizados frequentemente na preparação de perfumes e essências
artificiais. À medida que a massa molecular aumenta eles vão se
tornando líquidos viscosos (óleos vegetais e animais) e os de massa
molecular muito elevada são sólidos (gorduras e ceras). Por não
formarem ligações de hidrogênio, os ésteres têm pontos de ebulição
menores que os dos álcoois e ácidos de igual massa molecular. Pelo
mesmo motivo, são insolúveis em água.
Veja abaixo alguns ésteres que fazem parte de algumas
essências naturais de frutas:
Éster Fórmula molecular Essências
Formiato de
etila HCOOCH2CH3 framboesa, groselha
Acetato de etila CH3-COOCH2CH3
laranja, pera, abacaxi,
framboesa
Acetato de
amila* CH3COOCH2(CH2)3CH3 maçã, banana
Butirato de
etila CH3(CH2)2COOCH2CH3
abacaxi, banana, morango,
framboesa
Butirato de
amila CH3(CH2)2COOCH2(CH2)3CH3 abricó
Caprilato de n-
nonila CH3(CH2)6OOCH2(CH2)7CH3 laranja
* O radical amila, ou n-pentila, na formação do éster, provém do
álcool amílico, de fórmula molecular CH3(CH2)4OH.
3- Métodos de obtenção
PRINCIPAIS MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS ÉSTERES
1- Reação de ácidos carboxílicos com álcoois
2- Reação de haletos com sais de ácidos carboxílicos
3- Reação de álcoois com cloreto de acila
174
1- Reação de ácidos carboxílicos com álcoois
Uma das reações mais importantes dos ácidos é a
esterificação, ou seja, a formação de ésteres. Reage-se o ácido com
um álcool, a frio, em presença de H2SO4 concentrado:
2- Reação de haletos com sais de ácidos carboxílicos
Com os sais de ácidos carboxílicos os haletos produzem
ésteres:
3- Reação de álcoois com cloretos de acila
Reagindo-se um álcool com cloreto de ácido podemos obter
um éster:
175
4- Propriedades químicas
Normalmente o grupo C=O não sofre qualquer modificação
permanente no decorrer da maioria das reações e, por consequência,
aparecem intactos nos compostos resultantes. A sua presença, no
entanto, determina o comportamento químico dos ésteres, assim como
o dos demais derivados dos ácidos carboxílicos. A reação mais
característica dos ésteres é a hidrólise, que fornece como produtos
um álcool e um ácido carboxílico.
5- As gorduras e o sabão
Do ponto de vista da nossa existência, os ésteres mais
importantes são os que se encontram nas gorduras e óleos animais e
vegetais. Um importante grupo destes compostos deriva de um álcool
apenas, o glicerol - HOCH2CH(OH)CH2OH - e são por isso chamados
glicerídeos. São triésteres de ácidos graxos (ácidos de elevada
massa molecular). Quando um glicerídeo é tratado com hidróxido
inorgânico, produz-se o sabão - um sal do ácido graxo (veja o
processo de saponificação de gorduras).
O sabão ordinário dos nossos dias é uma mistura de sais
de sódio de ácidos graxos. A composição de um sabão e seu método de
preparação pode variar, mas o seu comportamento químico é o mesmo.
A ação detergente do sabão é um assunto extremamente complicado,
podemos fazer alguns comentários acerca da sua atuação como agente
de limpeza. As moléculas do sabão têm uma extremidade polar (-COO-
Na+) e uma extremidade apolar, a longa cadeia carbônica. A
extremidade polar é solúvel em água (porção hidrófila) e a apolar
não (esta porção, hidrófoba, é solúvel em óleo). Normalmente, as
gotículas de óleo em contato com a água tendem a aglutinar-se,
formando uma camada distinta sobre a água. A presença do sabão,
porém, altera esta situação. As extremidades hidrófobas das
moléculas do sabão se interagem quimicamente por ligações
intermoleculares e dissolvem-se nas gotículas de óleo, enquanto as
extremidades hidrófilas se projetam para o exterior, na camada de
água circundante. devido à presença dos grupos iônicos (-COO-Na+),
cada uma das gotículas de óleo fica rodeada de uma atmosfera
iônica. A repulsão entre essas esferas de carga elétrica idêntica
impede a coesão das gotículas de óleo e obtém-se assim uma emulsão
estável de óleo em água. Essas esferas formadas são chamadas
micelas. O sabão limpa ao emulsionar a gordura que constitui ou
contém a sujeira. Veja mais informações sobre a inibição da ação do
sabão em água dura.
Veja abaixo um esquema da ação detergente do sabão:
176
6- Aplicações dos ésteres
Os ésteres encontram muitas áreas de aplicação. Dentre
seus principais usos estão:
• Fortalecimento de polímeros
• Produção de fibras sintéticas e plásticos
• Cardiotônicos, anestésicos e fungicidas (benzoatos)
• Fabricação de essências artificiais de frutas
• Solventes para vernizes
• Lubrificantes
• Perfumaria
ANIDRIDOS E HALETOS DE ÁCIDOS
1- Nomenclatura e exemplos
Para anidridos
Nomenclatura oficial IUPAC: anidrido + prefixo + infixo + óico
Para haletos de ácidos (haletos de acila)
Nomenclatura oficial IUPAC: haleto de + (ácido - ico) + íla
Alguns exemplos importantes:
177
2- Propriedades físicas
Em geral, todos os haletos de acila têm pontos de
ebulição muito baixos. Os cloretos de ácidos mais simples são
líquidos de cheiro forte e irritante, tóxicos, insolúveis e mais
densos que a água.
O anidrido mais simples é o acético - um líquido incolor
de cheiro forte e irritante, pouco solúvel em água, mas solúvel em
solventes orgânicos. Os anidridos de massa molecular elevada se
apresentam como sólidos de baixo ponto de fusão. Por não formarem
ligações de hidrogênio, os anidridos têm pontos de ebulição e
solubilidade em água menores que outros compostos de igual massa
molecular, que formam tais ligações.
3- Métodos de obtenção
O brometo e o iodeto de acila são muito difíceis de se
obter e, por isso, têm importância prática somente os cloretos de
acila. Estes são preparados a partir dos ácidos correspondentes,
por meio de reação destes últimos com cloretos de fósforo ou com
cloreto de tionila. Os anidridos são preparados principalmente pela
desidratação de ácidos (1) em presença de agentes desidratantes
como o P2O5, e pela reação entre um sal sódico de ácido e um cloreto
de ácido (2):
1) RCOOH + HOOCR RCO-O-OCR + H2O
2) RCOONa + ClOCR RCO-O-OCR + NaCl
O anidrido acético, em especial, é um dos mais
importantes, e frequentemente é preparado pela reação de um ácido
acético com um composto chamado ceteno, obtido a partir do
aquecimento da acetona a 700-750o C:
178
CH3COCH3 CH4 + H2C=C=O
H2C=C=O + RCOOH CH3-CO-O-OC-CH3
4- Propriedades químicas
Analogamente aos demais derivados dos ácidos
carboxílicos, os cloretos de acila e os anidridos reagem
principalmente por substituição nucleofílica. As reações são muito
semelhantes àquelas que ocorrem com os ácidos carboxílicos,onde o
grupo OH é protonado e abandona a estrutura para a entrada de outro
grupo básico. No entanto, os cloretos de acila são muito mais
reativos do que seus respectivos ácidos, visto que o cloro abando
facilmente a estrutura, sem precisar ser protonado. Daí a grande
importância dos cloretos de acila em laboratório.
Quando exposto ao ar úmido, o cloreto de acetila exala
odor de ácido acético e vapores brancos de ácido clorídrico, devido
à reação: CH3COOCl + H2O CH3COOH + HCl.
PRINCIPAIS REAÇÕES DOS CLORETOS DE ÁCIDOS
1- Reação com álcoois
2- Reação com amônia
3- Hidrólise
4- Acilação de Friedel-Crafts
1- Reação com álcoois
Reagindo-se um álcool com cloreto de ácido podemos obter
um éster:
2- Reação com amônia (ou com amina)
Reagindo com a amônia os cloretos de acila produzem
amidas:
179
Se for utilizado excesso de amônia, o subproduto da
reação pode ser o cloreto de amônio (NH4Cl). A reação também pode
ser feita com aminas, e o mecanismo é idêntico.
3- Hidrólise
Os cloretos de ácidos (cloretos de acila) podem ser
hidrolisados, produzindo o respectivo ácido carboxílico:
4- Acilação de Friedel-Crafts
Reagindo-se cloretos de ácido com benzeno, em presença de
AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se cetonas. O eletrófilo é o
íon acetoxônio. Veja o exemplo abaixo:
Os anidridos de ácidos carboxílicos apresentam as mesmas
propriedades químicas dos cloretos de acila, porém, as reações são
mais lentas. Enquanto nas reações dos cloretos de acila um dos
produtos é geralmente o HCl, nas dos anidridos um dos produtos é o
próprio ácido que lhe deu origem. Duas reações industrialmente
180
importantes dos anidridos são: com fenilamina (síntese da
acetanilida) e com o ácido salicílico (síntese da ácido acetil-
salicílico - AAS).
5- Aplicações dos anidridos e dos cloretos de ácidos
As aplicações mais importantes dos cloretos de ácido
estão no laboratório, como matéria-prima para síntese de outros
compostos. Dentre os anidridos mais importantes destacam-se o
anidrido acético e o anidrido ftálico. O anidrido acético é usado
principalmente em:
• Reações de acetilação (síntese de aspirina, acetato de
celulose etc.)
• Produção de filmes fotográficos
• Fabricação de fibras têxteis
O anidrido ftálico é usado principalmente em:
• Fabricação de resinas e plastificantes
• Síntese da fenolftaleína e outros corantes
AMINAS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
Podemos considerar as aminas como produtos resultantes da
substituição de um ou mais hidrogênios do NH3 por radicais alquila
ou arila. As aminas são classificadas em três tipos:
• Primária - Apenas um dos hidrogênios do NH3 é substituído
por radical.
• Secundária - Dois dos hidrogênios do NH3 são substituídos
por radicais.
• Terciária - Os três hidrogênios do NH3 são substituídos
por radicais.
Nomenclatura oficial IUPAC: radicais + amina
Alguns exemplos importantes:
181
OBS: Compostos como, por exemplo, HN=CHCH2 são chamados
iminas. Eles possuem um nitrogênio ligado a um carbono por dupla
ligação.
2- Propriedades físicas
A metilamina (também a dimetil e trimetilamina) e a
etilamina são gases; os termos seguintes até a dodecilamina são
líquidos, e daí em diante são sólidos. As metilaminas e etilaminas
têm cheiro forte, que lembra a amônia e as aminas alquílicas
maiores têm nitidamente um "cheiro de peixe". As aminas aromáticas
são geralmente muito tóxicas e facilmente absorvidas pela pele,
tendo muitas vezes consequências mortais. Estas aminas são
facilmente oxidadas pelo oxigênio do ar e, embora na maioria das
vezes sejam incolores quando puras, frequentemente apresentam-se
coradas devido aos produtos de oxidação.
A polaridade das aminas decresce no sentido primária -
secundária - terciária (as aminas terciárias não formam ligações de
hidrogênio). Consequentemente, os pontos de ebulição decrescem no
mesmo sentido. As aminas mais baixas são perfeitamente solúveis em
água, a partir das aminas com seis átomos de carbono a solubilidade
decresce, e as aminas passam a ser solúveis em solventes menos
polares (éter, álcool, benzeno etc.).
3- Métodos de obtenção
As aminas podem ser preparadas por vários métodos. Dentre
eles destacam-se:
• Alquilação da amônia (Reação de Hoffmann) - Reagindo-se
um haleto RX com NH3 obtém-se uma amina primária, que pode
ser novamente alquilada, gerando uma amina secundária, e
esta, por sua vez, uma terciária. Se a amina terciária
for alquilada, pode-se obter um sal de amina quaternária
(veja mais abaixo).
• Redução de compostos nitrogenados - Muitos compostos
nitrogenados (nitrilos, isonitrilios, oximas, amidas,
hidrazonas, nitro-compostos etc) podem ser reduzidos com
hidreto, produzindo aminas.
4- Propriedades químicas
As aminas têm caráter básico, semelhante ao da amônia, e
por isso as aminas são consideradas bases orgânicas. Esse caráter
básico pode ser maior ou menor dependendo dos grupos ligados ao
grupo amino. As reações características das aminas são aquelas
iniciadas por um ataque nucleofílico do nitrogênio (que tem um par
182
eletrônico disponível) a um eletrófilo (que pode ser um carbono
polarizado). Uma boa reação para mostrar a semelhança do caráter
básico das aminas com o da amônia é a reação de cloreto de acila
com amônia (ou amina).
Comparando-se uma amina primária com a secundária de
mesmo número de carbonos o caráter básico aumenta, devido ao
aumento do efeito indutivo +I causado pelos grupos alquila. No
entanto, a amina terciária tem menor basicidade, devido ao
impedimento estérico e dificuldade de aproximação do eletrófilo ao
nitrogênio.
Como acontece com o NH4OH, os hidróxidos das aminas são
instáveis e só existem em solução aquosa. Já os sais das aminas são
sólidos brancos cristalinos e solúveis em água, como os sais de
amônio. Essa dificuldade torna-se ainda maior se o eletrófilo
também for um grupo volumoso. As aminas aromáticas são bases muito
fracas, devido ao efeito da ressonância, que diminui a densidade
eletrônica no nitrogênio. Muitas reações das aminas aromáticas são
importantes devido ao forte efeito ativador do grupo amino, que
facilita a reação e orienta as substituições eletrofílicas nas
posições orto-para. Veja maiores detalhes na orientação da segunda
substituição no benzeno.
5- Sais e hidróxidos de amina quaternária
Os sais de aminas quaternárias são preparados a partir da
reação RX + R3N NR4X. Perceba que é semelhante à reação da
amônia com HX, dando NH4X. Este sal de amina quaternário, como já
foi dito, é idêntico a um sal de amônio comum, porém, os quatro
hidrogênios foram substituídos por radicais orgânicos (R) iguais ou
diferentes entre si. Veja alguns exemplos:
• [N(CH3)4] Cl - cloreto de tetrametilamina
• [N(CH3)2(C2H5)2] NO3 - nitrato de dimetil-dietilamina
• [NPh4]2 SO4 - sulfato de tetrafenilamina
Os sais de amina quaternária quando tratados com bases
produzem os respectivos hidróxidos de amina quaternária:
[N(CH3)4]Cl + AgOH [N(CH3)4]OH + AgCl
Ao contrário das aminas, os hidróxidos de amina
quaternária são bases fortíssimas, comparáveis ao NaOH ou KOH, e
também tóxicos e venenosos. Quando aquecidos, eles sofrem uma
decomposição conhecida como degradação de Hoffmann. Formam-se uma
amina terciária e um álcool:
[N(CH3)4]OH N(CH3)3 + CH3OH183
Entretanto, havendo um radical orgânico mais longo,
poderá ocorrer uma reação diferente. Veja:
[N(CH3)3(C3H7)]OH N(CH3)3 + H3C-CH=CH2 + H2O
Muitos radicais de amina quaternária aparecem nos seres
vivos e desempenham um papel importante no metabolismo (colina,
acetil-colina, lecitinas etc).
6- Sais de diazônio
As reações das aminas aromáticas primárias com ácido
nitroso (HNO2) dão origem a uma série de compostos importantes,
chamados sais de diazônio. Estes sais são obtidos a baixas
temperaturas (0 a 5o C), pois são decompostos pelo calor. Os sais de
diazônio anídricos são sólidos cristalinos, muitos deles
explosivos. Por isso, raramente eles são separados e purificados,
mas normalmente utilizados em solução aquosa. Como o ácido nitroso
é muito instável, tem de ser produzido diretamente em presença da
amina, para que ele reaja no mesmo instante em que se forma. Para
isso utiliza-se o nitrito de sódio em meio ácido (normalmente HCl
ou H2SO4). Essa reação é chamada diazotação:
Ar-NH2 + NaNO2 + 2 HCl Ar-N N+ Cl- + NaCl + 2 H2O
Os sais de diazônio servem de ponto de partida para a
síntese de vários outros compostos como fenóis, haletos, cianetos
etc e uma classe especial - os azo-compostos ou compostos azóicos
(Ar-N=N-Ar) - dos quais muitos deles são utilizados na preparação
de corantes (azo-corantes), como o alaranjado de metila, por
exemplo.
7- Aplicações das aminas
• No preparo de vários produtos sintéticos
• Como aceleradores no processo de vulcanização da borracha
• A etanolamina (HO-CH2-CH2-NH2) é usada como tensoativo,
isto é, para mudar a tensão superficial de soluções
aquosas
• Aminas aromáticas são muito usadas na produção de
corantes orgânicos (ex: anilina)
• Síntese da acetanilida e outros medicamentos
AMIDAS
1- Nomenclatura, classificação e exemplos
184
Podemos considerar as amidas como um derivado de ácido
carboxílico, resultante da substituição do OH por um grupo NH2, NHR
ou NR2. As amidas são classificadas em três tipos quanto à
substituição no nitrogênio:
• Simples - É do tipo R-CONH2, ou seja, não há substituições
no nitrogênio, além do grupo acila.
• N - substituída - É do tipo R-CONHR, ou seja, um dos
hidrogênios do NH2 foi substituído por um radical.
• N, N - dissubstituída - É do tipo R-CONRR', ou seja, os
dois hidrogênios do NH2 foram substituídos por radicais.
Podemos também classificar as amidas quanto ao número de
grupos acila ligados ao nitrogênio:
• Primária - É do tipo (R-CO)NH2, ou seja, há somente um
grupo acila ligado ao nitrogênio.
• Secundária - É do tipo (R-CO)2NH, ou seja, há dois grupos
acila ligados ao nitrogênio.
• Terciária - É do tipo (R-CO)3N, ou seja, há três grupos
acila ligados ao nitrogênio.
Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + infixo + amida
OBS: As amidas secundárias e cíclicas são chamadas imidas.
Alguns exemplos importantes:
2- Propriedades físicas
As amidas primárias têm pontos de ebulição muito
superiores aos dos ácidos correspondentes, apesar da massa
molecular ser aproximadamente igual. Isso se deve à formação de
maior número de ligações de hidrogênio e maior formação de
185
"moléculas dímeras" pelas amidas. Pode-se provar esse fato,
substituindo os hidrogênios do grupo amino por radicais CH3.
Verifica-se que os pontos de fusão e ebulição diminuem, apesar do
aumento da massa molecular:
Estrutura da amida mm PF (oC) PE (oC)
H3C-CO-NH2 59 81 222
H3C-CO-NH(CH3) 73 28 206
H3C-CO-N(CH3)2 87 06 166
3- Métodos de obtenção
As amidas normalmente não ocorrem na natureza, e são
preparadas em laboratório. Uma importante amida é a acetanilida. As
amidas podem ser preparadas principalmente por:
• Aquecimento (desidratação) de sais de amônio: R-COONH4
R-CONH2 + H2O
• Hidratação de nitrilas (catalisada por H2SO4): R-CN + H2O
R-CONH2
• Reação de cloretos de ácido com amônia (ou com amina)
(pode-se utilizar também, no lugar de cloreto de acila,
anidridos ou ésteres)
4- Propriedades químicas
A presença do grupo C=O confere às amidas um caráter
polar. Normalmente o grupo C=O não sofre qualquer modificação
permanente no decorrer da maioria das reações e, por consequência,
aparecem intactos nos compostos resultantes. A sua presença, no
entanto, determina o comportamento químico das amidas, assim como o
dos demais derivados dos ácidos carboxílicos.
5- Aplicações das amidas
As amidas são utilizadas em muitas sínteses em
laboratório e como intermediários industriais na preparação de
medicamentos e outros derivados. O nylon é uma poliamida muito
importante dentre os polímeros. A uréia, de fórmula CO(NH2)2, é uma
amida do ácido carbônico, encontrada como produto final do
metabolismo dos animais superiores, e eliminada pela urina. A amida
do ácido sulfanílico (sulfanilamida) e outras amidas substituídas
relacionadas com ela, têm considerável importância terapêutica e
conhecem-se por sulfamidas.
NITRILAS E ISONITRILAS
186
1- Nomenclatura e exemplos
Para nitrilas:
Nomenclatura oficial
IUPAC: hidrocarboneto + nitrila(o)
Nomenclatura usual: cianeto + de + radical ligado ao CN
Para isonitrilas:
Na nomenclatura oficial das isonitrilas, chamamos o grupo
NC de carbilamina e consideramos o restante da cadeia como um
radical.
Nomenclatura oficial
IUPAC: radical ligado ao NC + carbilamina
Nomenclatura usual: isocianeto + de + radical ligado ao CN
Alguns exemplos importantes:
2- Propriedades físicas
Da etanonitrila (termo mais simples) até o C14H29CN as
nitrilas são líquidos estáveis, insolúveis em água. Daí para diante
as nitrilas são sólidas, em condições normais. A grande polaridade
do grupo C N faz com que as nitrilas apresentem altos pontos de
fusão e ebulição As nitrilas são tóxicas, apesar de serem muito
menos do que o HCN (ácido cianídrico).
As isonitrilas mais simples são líquidos incolores, de
cheiro extremamente desagradável e muito tóxico. São ligeiramente
solúveis em água e bastante solúveis em álcool e éter.
3- Métodos de obtenção
As nitrilas normalmente são preparadas das seguintes
maneiras:
187
• Reação de haletos com cianeto de sódio: R-X + NaCN R-
CN + NaX
• Aquecimento de de sais de amônio (catalisado por P2O5):
R-COONH4 R-CONH2 R-CN + 2 H2O
As isonitrilas podem ser obtidas por:
• Reação de haletos com cianeto de prata: R-X + AgCN R-
NC + AgX
• Reação de aminas primárias com clorofórmio (em meio
fortemente básico):
R-NH2 + CHCl3 3 NaOH R-NC + 3 NaCl + 3 H2O
4- Propriedades químicas
Dentre as principais reações das nitrilas estão:
• Hidrólise (origina ácidos carboxílicos)
• Reação com composto de Grignard (produz cetonas):
R-CN + RMgX + 2 H2O R2C=O + NH3 + Mg(OH)X
• Redução (produz aminas primárias): R-CN + H2 R-CH=NH
(imina)
R-CH=NH + H2 R-CH2-NH2 (amina prim.)
As isonitrilas são mais reativas do que as nitrilas e
menos estáveis do que estas. Por aquecimento, as isonitrilas se
transformam nas nitrilas correspondentes. As reações mais
importantes das isonitrilas são:
• Hidrólise (origina ácidos carboxílicos e aminas): R-NC +
2 H2O HCOOH + R-NH2
• Reação com composto de Grignard (produz aldeídos e
aminas):
R-NC + RMgX + 2 H2O RCHO + R-NH2 + Mg(OH)X
• Redução(produz aminas secundárias): R-CN + H2 R-
N=CH2 (imina)
R-N=CH2 + H2 R-NH-CH3 (amina sec.)
• Reações de adição:
R-NC + 1/2 O2 R-C=N=O (isocianato)
R-NC + S R-C=N=S (isotiocianato)
188
5- Aplicações das nitrilas e isonitrilas
Dentre as nitrilas, sem dúvida, a acrilonitrila é a mais
importante, pois é usada industrialmente, em larga escala, para
produção de borrachas sintéticas de alta qualidade. As isonitrilas
não têm muitas aplicações, porém, são importantes para a produção
de outros compostos, como os isocianatos, que são utilizados na
síntese de polímeros.
NITROCOMPOSTOS
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: nitro + nome do hidrocarboneto
Alguns exemplos importantes:
2- Propriedades físicas
Os nitrocompostos são isômeros dos nitritos. A diferença
é que nos primeiros, o nitrogênio está ligado diretamente à cadeia
carbônica (R - NO2), enquanto que, no nitritos, a ligação do
nitrogênio à cadeia carbônica é feita através de um átomo de
oxigênio (R - O - N=O). Os nitroalcanos são líquidos incolores,
densos, de cheiro agradável, não venenosos e insolúveis em água.
São substâncias muito polares de modo que seus pontos de fusão e
ebulição e densidade são bem superiores aos dos nitritos isômeros.
veja um exemplo:
H3C-NO2 PE = 102o C
H3C-O-N=O PE = -12o C
O nitrobenzeno é um líquido amarelado, insolúvel e mais
denso que a água, venenoso e bom solvente para substâncias
orgânicas. Os nitrotoluenos também são líquidos. Já os dinitro e
189
trinitro-benzenos (e toluenos) são sólidos explosivos. Veja a
síntese do 2,4-dinitrotolueno.
3- Métodos de obtenção
Os nitrocompostos geralmente são preparados pela reação
com ácido nítrico. Essa reação é chamada nitração:
• Para alifáticos: Nitração de alcanos
• Para aromáticos: Nitração do benzeno (ou derivados)
As reações de obtenção dos nitrocompostos alifáticos são
mais difíceis e dão rendimentos bem mais baixos que os apresentados
pelos nitrocompostos aromáticos. Exige-se uma temperatura de cerca
de 400o C, em fase de vapor, de uma mistura de alcano e ácido
nítrico. A nitração de um alcano torna-se mais fácil ao passar-se
do carbono primário para secundário e para terciário (veja mais
detalhes na teoria da estabilidade dos carbocátions).
4- Propriedades químicas
O grupo NO2 gera um forte efeito desativador do anel
aromático, facilitando as substituições eletrofílicas
preferencialmente na posição meta (1,3). Veja abaixo as possíveis
estruturas de ressonância para o nitro-benzeno:
Veja que as posições orto e para possuem baixa densidade
eletrônica, pois ficam constantemente destituídos de elétrons.
Logo, o composto sofrerá facilmente ataques eletrófilos na posição
meta. Ora, se o primeiro radical (NO2) diminui a densidade
eletrônica do anel, ele é um grupo desativador, e diminui a
reatividade do composto.
Os nitroalcanos têm um pequeno caráter ácido, proveniente
do equilíbrio abaixo:
190
Este equilíbrio é semelhante ao equilíbrio que ocorre nos
aldeídos (equilíbrio aldo-enólico), nas cetonas (equilíbrio ceto-
enólico) e nos ésteres. No entanto, a acidez da aci-froma é mais
pronunciada do que a dos enóis. Em alguns casos podemos até separar
as duas formas, como por exemplo: Ph-CH2-NO2 (líquido oleoso
amarelo) e Ph-CH=NOOH
(sólido branco). Através da aci-forma, os
alcanos reagem com bases fortes, produzindo os sais
correspondentes:
R-CH=NO2H (aci-forma) + NaOH R-CH=NO2Na (sal) + H2O
5- Aplicações dos nitrocompostos
• Os nitroalcanos são usados como solventes e como
intermediários na produção de outros compostos orgânicos
• Por seu odor agradável (lembra amêndoas amargas) o
nitrobenzeno é utilizado na fabricação de perfumes
baratos
• O trinitro-tolueno, mais conhecido como TNT, é um dos
explosivos mais utilizados no mundo
• Os mono-nitrocompostos aromáticos (nitrobenzenos,
nitrotoluenos, nitroxilenos) são importantes para a
obtenção de aminas aromáticas, usadas na produção de
corantes orgânicos.
• O 2,4,6-trinitrofenol (ácido pícrico) além de ser
utilizado na fabricação de explosivos (como o picrato de
sódio), é usado como germicida e na fabricação de
medicamentos (como o picrato de butesina, usado em
queimaduras).
ÁCIDOS SULFÔNICOS
1- Nomenclatura e exemplos
Nomenclatura oficial IUPAC: ácido + hidrocarboneto + sulfônico
Nomenclatura usual: ácido + radical + sulfônico
Alguns exemplos importantes:
191
2- Propriedades físicas
Dentre os ácidos sulfônicos, têm grande importância
somente os aromáticos. Convém não confundir os ácidos sulfônicos,
nos quais o carbono se liga diretamente ao enxofre (Ar-SO3H), com os
sulfatos orgânicos (ésteres do ácido sulfônico), nos quais o
carbono se liga ao enxofre através de um oxigênio (Ar-OSO3H).
Os ácidos sulfônicos aromáticos são sólidos cristalinos,
insolúveis em substâncias apolares, mas bastante solúveis em água,
inclusive seus sais de cálcio, bário e chumbo são solúveis em água,
ao contrário dos sulfatos desses metais. Como seria de se esperar
da sua estrutura, os ácidos sulfônicos são compostos altamente
polares. De maneira geral verifica-se que eles são mais solúveis em
água do que qualquer outra espécie de composto orgânico. Por isso,
é comum inserir-se grupos SO3H em grandes moléculas, para conferir-
lhes solubilidade em água.
Os ácidos sulfônicos têm de baixa volatilidade e ao serem
aquecidos, decompõem-se, geralmente, antes de atingir o seu ponto
de ebulição. São compostos difíceis de se purificar, por serem
altamente deliquescentes, e por isso torna-se mais cômodo isolá-los
sob forma de sais. Utilizam-se muitas vezes nessa forma.
3- Métodos de obtenção
Normalmente os ácidos sulfônicos são preparados pela
reação com ácido sulfúrico concentrado. Essa reação é chamada
sulfonação:
• Para alifáticos: Sulfonação de alcanos
• Para aromáticos: Sulfonação do benzeno (ou derivados)
4- Propriedades químicas
Como ácidos fortes que são, os ácidos sulfônicos
encontram-se totalmente ionizados em água. As reações mais
importantes dos ácidos sulfônicos são aquelas em que o grupo SO3H,
sendo meta-dirigente, orienta as substituições no anel aromático
nesta posição.
5- Aplicações dos ácidos sulfônicos
Os ácidos sulfônicos são ponto de partida para a produção
de inúmeros derivados importantes, tais como:
192
• Detergentes: Geralmente sais de ácido sulfônicos
aromáticos com longa cadeia carbônica. Ex: dodecil-
benzeno-sulfonato de sódio (para - C12H25 - Ph - SO3Na)
• Sulfatos alquil-metálicos com radical alquila longo:
Utilizados também como detergentes. Ex: sulfato de
dodecil-sódio (C12H25)NaSO4
• Sulfonamidas: São amidas dos ácidos sulfônicos e têm
grande importância como medicamentos do grupo das
"sulfas". Ex: sulfanilamida (para - NH2 - Ph - SO2NH2)
• Sacarina: Uma imida do ácido o-sulfo-benzóico, usada como
adoçante
• Sulfatos de metila e etila: Líquidos altamente tóxicos e
corrosivos, usados como agentes alquilantes, por serem
tão reativos quanto os haletos correspondentes, porém,
mais baratos do que estes
TIO-COMPOSTOS
1- Nomenclatura e exemplos
Os tio-compostos são moléculas que apresentam átomos de
enxofre em sua estrutura. Em geral, eles são produzidospela
substituição dos átomos de oxigênio dos álcoois, fenóis, éteres e
peróxidos, por átomos de enxofre, originando os tioálcoois (ou
tióis), tiofenóis, tioéteres e dissulfetos.
Para tio-álcoois e tio-fenóis:
Nomenclatura oficial IUPAC: nome do hidrocarboneto + tiol
Nomenclatura usual I: radical + mercaptana
Nomenclatura usual II: radical + hidrogenossulfeto
Para tio-éteres:
Nomenclatura oficial
IUPAC:
radical menor + tio + hidrocarboneto
maior
Nomenclatura usual: sulfeto de + radical menor + e +
radical maior
Para dissulfetos:
Nomenclatura oficial
IUPAC:
dissulfeto de + radial menor + e +
radical maior
Alguns exemplos importantes:
193
2- Propriedades físicas
Os tioálcoois aparecem, em pequenas quantidades, na
putrefação de proteínas sulfuradas, no gás de hulha e no petróleo.
Os membros mais simples são líquidos incolores, pouco solúveis em
água e bastante voláteis, caracterizados por um odor penetrante e
desagradável, que os torna reconhecíveis mesmo em mínimas
concentrações. Os tioálcoois são muito solúveis em soluções básicas
fortes, pois apresentam um caráter ácido mais forte do que os
álcoois. Os pontos de ebulição dos tioálcoois são bem inferiores
aos dos álcoois correspondentes, pela baixa tendência do enxofre a
formar ligações de hidrogênio, enfraquecendo assim as forças
intermoleculares.
Os sulfetos (tioéteres) não ocorrem na natureza e são de
pequena importância. A iperita, ou gás mostarda, que é um sulfeto
clorado, foi usado durante a Segunda Guerra Mundial, como gás
tóxico. Os sulfetos mais simples são líquidos incolores, de cheiro
etérico, insolúveis em água e solúveis em álcool, éter etc.
O dissulfeto de alila (H2C=CH-CH2-S-S-CH2-CH=CH2) é um
líquido de odor penetrante, que ferve a 139o C, encontrado há muito
tempo no alho. O radical -CH2-CH=CH2 recebeu, por esse motivo, o
nome de alila. Os compostos em que ele aparece são ditos alílicos.
3- Métodos de obtenção
Os principais métodos de preparação dos tioálcoois são
(as duas primeiras dão bons rendimentos):
• Reação de sulfato de alquila com KSH (a quente): R-SO4 +
2 KSH 2 R-SH + K2SO4
• Reação de haletos de alquila com NaSH (a quente): R-X +
NaSH R-SH + NaX
• Reação de álcoois com P2S5: 5 R-OH + P2S5 5 R-SH + P2O5
• Reação de álcoois com H2S (catalisada por óxido de
tório): R-OH + H2S R-SH + H2O
Os sulfetos são preparados normalmente pelas reações:
• 2 R-X + Na2S R-S-R + 2 NaX
• R-X + R-SNa R-S-R + NaX
194
4- Propriedades químicas
A facilidade com que os tioálcoois reagem com o óxido de
mercúrio, e em geral com os metais de alta massa molecular,
formando compostos cristalinos, distingue os tioálcoois dos
álcoois. É dessa característica, aliás, que deriva seu nome usual
(mercaptana), formado a partir da expressão "mercurius captans", ou
seja, traduzindo literalmente, significa que se apodera do
mercúrio". Os tioalcoolatos, ou mercaptatos, são compostos
cristalinos obtidos com metais pesados, e correspondem aos
alcoolatos. Entretanto, além de se formarem com mais facilidade,
são mais estáveis que os alcoolatos.
A "iperita" sofre uma reação interessante, chamada
Substituição Nucleofílica Interna. Esse tipo de SN ocorre em
moléculas que apresentam em sua estrutra um nucleófilo e um bom
grupo abandonador. No caso da iperita, o nucleófilo é o enxofre
(que possui pares eletrônicos livres) e o grupo abandonador é o
cloro. A substituição do grupo abandonador por outro grupo mais
estável é facilitada pela ação do nucleófilo. A essa "ajuda"dada
pelo nucleófilo chamamos "ajuda anquimérica". Veja:
5- Aplicações dos tio-compostos
Dentre as mercaptanas alifáticas (tioálcoois), destaca-se
o etanotiol (C2H5SH), que constitui estágio intermediário para a
produção do sulfonal, que se presta à obtenção de remédios
hipnóticos. Das mercaptanas aromáticas, o tiofenol (C6H5SH) é um dos
membros mais importantes. A partir das mercaptanas é possível
obter, por oxidação, os ácidos sulfínicos (R-SO2H) e os ácidos
sulfônicos (R-SO3H). As mercaptanas, por seu forte odor penetrante,
são utilizados em mistura com gases de reservatórios e tubulações,
para detecção de vazamentos.
195
COMPOSTOS HETEROCÍCLICOS
1- Nomenclatura e exemplos
Compostos heterocíclicos são compostos cíclicos contendo,
no anel, um ou mais átomos diferentes do carbono. Normalmente, os
heteroátomos mais comuns são o nitrogênio, o oxigênio e o enxofre.
Na verdade, só consideramos como verdadeiros compostos
heterocíclicos aqueles que possuem anéis estáveis. Deste modo,
excluímos compostos como, por exemplo, epóxidos e anidridos
cíclicos, pois estes compostos sofrem facilmente a ruptura do anel,
dando reações que mais se assemelham às reações dos compostos
acíclicos.
Não há nenhuma regra rigorosa para a nomenclatura dos
heterocíclicos. A maioria deles tem nomes particulares.
Alguns exemplos importantes:
196
2- A estabilidades dos compostos heterocíclicos
Os heterocíclicos mais interessantes e mais importantes
são os que possuem caráter aromático. Os heterocíclicos aromáticos
mais simples são o pirrol, o furano e o tiofeno (veja acima), de
anéis pentagonais. A estabilidade destes compostos é explicada da
mesma forma que no anel benzênico, através das suas estruturas de
ressonância, que conferem grande estabilidade química ao composto.
Veja o exemplo do pirrol (as estruturas de ressonância do furano e
do tiofeno são análogas às ilustradas abaixo):
Em geral, os heterocíclicos aromáticos dão preferência a
reações de substituição eletrofílica: nitração, sulfonação,
halogenação, adições de Friedel-Crafts etc, que mantêm a
integridade do anel aromático. Os calores de combustão destes
197
compostos indicam uma energia de estabilização de ressonância de
22-28 kcal/mol, um pouco menor do que a do benzeno (36 kcal/mol),
porém, muito maior do que a maioria dos dienos conjugados (3
kcal/mol). A representação dos anéis heterocíclicos aromáticos
devem ser representadas, como no benzeno, por um círculo inscrito
no anel, indicando a ressonância. Comparativamente, quanto à
estabilidade do anel a ao caráter aromático, podemos dizer que:
tiofeno >> pirrol >> furano.
3- Propriedades físico-químicas
O tiofeno é um líquido de propriedades físico-químicas
muito semelhantes às do benzeno, e constitui inclusive a impureza
mais comum no benzeno obtido do alcatrão de hulha. A piridina é um
líquido incolor, de cheiro desagradável e bastante solúvel em água.
Como foi dito anteriormente, os heterocíclicos aromáticos dão
preferência a reações de substituição eletrofílica.
4- Principais ocorrências dos compostos heterocíclicos
Os anéis heterocíclicos são importantes, pois aparecem
frequentemente em produtos naturais, como açúcares, hemoglobina,
clorofila, vitaminas e alcalóides (cafeína, cocaína, estriquinina
etc). Anéis heterocíclicos existem também em medicamentos
sintéticos, como os antibióticos (penicilina, amicetina,
eritromicina etc)
• O furano aparece na no alcatrão de madeira (pinheiro); o
tiofeno e o pirrol existem no alcatrão de hulha
• O anel da pirrolidina aparece na cocaína e na atropina
• O anel do indol é o núcleo central do triptofano, um
aminoácido essencial, e em certos hormônios
• A estrutura da purina aparece na cafeína, no ácido úrico
e na adenosina (uma base nitrogenada existente nos ácidos
nucléicos)• A piridina aparece no alcatrão de hulha e na fumaça de
cigarro, em decorrência da decomposição da nicotina
• A piridina, quando reduzida, origina a piperidina, cujo
núcleo encontra-se na cocaína e na piperina (alcalóide de
pimenta branca)
• O núcleo da pirimidina aparece em bases nitrogenadas
existentes nos ácidos nucléicos
198
• O núcleo do benzopirano aparece em corantes de folhas,
flores e frutos
• A quinolina existe no alcatrão de hulha e seu núcleo
aparece também na quinina
• A isoquinolina ocorre no alcatrão de hulha e seu núcleo
aparece na morfina e na papaverina
• O núcleo do imidazol aparece na histamina (substância
responsável por muitas reações alérgicas)
5- Algumas aplicações dos compostos heterocíclicos
• O furano, por hidrogenação, produz o tetrahidrofurano,
usado como solvente
• A hidrólise do furano produz o furfural (um aldeído),
usado na fabricação de plásticos e também como solvente
para remover impurezas de óleos lubrificantes
• O pirrol é utilizado para fabricação de polímeros de cor
vermelha
• O indol tem odor agradável e serve à fabricação de
perfumes, mas sua grande importância reside no fato de
servir como matéria-prima para a fabricação do índigo
blue, um corante azul, utilizado no tingimento de tecidos
• A piridina tem um baixo caráter básico (devido ao efeito
de ressonância do anel, que deslocaliza o par eletrônico
do nitrogênio), mais fraco que o das aminas terciárias, e
é utilizada como catalisador básico em sínteses orgânicas
e para desnaturar o álcool etílico (tornar o etanol
industrial impróprio para a fabricação de bebidas)
• A pirimidina é usada na fabricação de certos barbituratos
(medicamentos usados em sedativos e soporíficos) e certas
sulfas
6- Os Alcalóides
Alcalóides são compostos nitrogenados, em geral,
heterocíclicos, de caráter básico, que são normalmente produzidos
por vegetais e têm ação enérgica sobre os animais - em pequenas
quantidades podem servir como medicamentos, e em doses maiores são
tóxicos. Quase todos os alcalóides são substâncias sólidas, de
sabor amargo. A classificação mais aceita para os alcalóides é
aquela que os agrupa de acordo com o núcleo da qual derivam (veja
199
as estruturas moleculares de alguns alcalóides). Os principais
grupos de alcalóides são:
6.1) Alcalóides relacionados com a piridina:
Coniina - Encontrada na cicuta, é um dos poucos
alcalóides que se apresenta sob a forma líquida. É um veneno
fortíssimo.
Piperina - Principal alcalóide da pimenta negra. A
toxidez dessa substância é relativamente baixa em relação à dos
demais alcalóides.
Nicotina - Principal alcalóide do tabaco, podendo
alcançar 4 a 5% da folha seca. O produto puro é um líquido incolor.
É um veneno muito violento. Por oxidação pelo dicromato de
potássio, dá origem ao ácido nicotínico, que é uma das vitaminas do
complexo B.
6.2) Alcalóides do grupo tropânico:
Atropina - Este alcalóide foi isolado da raiz da
beladona. É um éster do ácido trópico com o tropanol, com grande
aplicação em oftalmologia, devido ao seu poder midriático.
Hiosciamina - É um isômero da atropina, e se encontra em
algumas espécies de solanáceas.
Escopolamina - É um epoxi-derivado da atropina.
Cocaína - este alcalóide teve grande importância no
início de seu descobrimento, mas está praticamente abandonada como
medicamento, devida à grande tendência que apresenta para causar
dependência química. A cocaína é um veneno fortíssimo, encontrado
na folha da coca, juntamente com outros alcalóides. É um éster do
ácido benzóico com um derivado do tropano.
6.3) Alcalóides relacionados com a quinolina:
Quinina - É um pó branco pouco solúvel em água, mas forma
sais solúveis, sendo utilizada sob esta forma.
Cinconina - É muito semelhante à quinina em sua estrutura
química. Diferencia-se dela porque, em lugar de um grupamento OCH3,
apresenta um átomo de hidrogênio.
Estricnina - Em pequenas doses, a estricnina é utilizada
como tônico. Em doses elevadas, porém, pode causar a morte.
200
6.4) Alcalóides relacionados com a isoquinolina:
Morfina - É um sedativo de grande potência e largamente
empregado como tal. Por causar dependência, seu emprego é
extremamente controlado.
Codeína e Heroína - São também utilizados como narcóticos
analgésicos.
Especial: CARBENOS
Nos anos recentes, grande volume de pesquisa foi
dedicado à investigação de um grupo especial de compostos em que o
carbono forma somente duas ligações, ou seja, não se encontra no
estado híbrido. Estes compostos neutros de carbono divalente são
chamados carbenos. A maioria dos carbenos são compostos muito
instáveis, com uma existência fugaz. Logo que se formam, usualmente
reagem com outras moléculas. As reações dos carbenos são
interessantes, pois exigem, em muitos casos, notável grau de
estereoespecificidade.
O carbeno mais simples é o metileno (CH2), que pode ser
preparado pela decomposição térmica ou fotólise do diazometano
(CH2N2), um gás amarelo, muito venenoso:
CH2N2 CH2 + N2
As reações dos carbenos são também de grande utilidade
nas sínteses preparativas de compostos que têm anéis de três
membros.
CH2 + CH2=CH2 C3H6 (ciclopropano)
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ISOMERIA ÓPTICA
1- A luz polarizada
Uma lâmpada incandescente emite uma luz que é constituída
de ondas eletromagnéticas, que se propagam com vibrações em
infinitos planos, formando, teoricamente, um movimento espiralado.
Esse movimento é resultado da composição das diversas vibrações em
vários planos. Se "filtrarmos" essas vibrações de modo que se tenha
vibração em apenas um plano, teremos a chamada luz polarizada. Veja
o esquema abaixo:
Os dispositivos capazes de "filtrar" os planos de
propagação da luz são denominados polarizadores. Existem muitas
maneiras de polarizar a luz. Uma delas é utilizar o prisma de Nicol
- um cristal transparente de CaCO3 denominado espato da Islândia,
que possui a propriedade de produzir a dupla refração da luz. Para
cada raio incidente saem dois raios refratados. Esses dois raios
refratados são polarizados, porém, em planos diferentes. Para obter
a luz em um único plano de vibração é preciso eliminar um desses
raios. Para isso o prisma é cortado segundo um plano diagonal e em
seguida as partes cortadas são coladas com uma resina transparente
denominada bálsamo do Canadá. Essa resina é mais refringente que o
cristal; um dos raios atinge o bálsamo com um ângulo de incidência
maior que o ângulo limite e, consequentemente, é refletido. Somente
um dos raios é capaz de atravessar o prisma. Temos então a luz
polarizada:
211
2- A atividade óptica
Algumas substâncias, sólidas ou líquidas, possuem a
capacidade de produzir um desvio no plano da luz polarizada. São
chamadas substâncias opticamente ativas. Quando esse desvio é para
a direita (no sentido horário) dizemos que a substância é
dextrógira (representada pela letra d ou pelo sinal +). Quando o
desvio é para a esquerda(no sentido anti-horário) dizemos que a
substância é levógira (representada pela letra l ou pelo sinal -).
Quando uma substância opticamente ativa é atravessada pela luz
polarizada, ocorre uma rotação no plano de vibração, que é então
passado por um analisador, que faz a leitura do ângulo de rotação
(desvio do plano). A atividade óptica se manifesta nos seguintes
casos:
• Quando nos cristais, estes devem ser assimétricos, ou
seja, não ter nenhum plano de simetria.
• Quando nos líquidos, estes devem ser formados por
moléculas assimétricas.
3- Assimetria e Quiralidade molecular
Por exemplo, num par de sapatos, o pé esquerdo não serve
no pé direito e vice-versa. Logo o par de sapatos é composto por
duas formas diferentes, ou seja, não coincidentes. Observe ainda
que um pé direito do sapato diante de um espelho é a imagem do pé
esquerdo e vice-versa. Dizemos que esta é a imagem especular do
objeto. Já uma xícara, uma faca ou uma bola possuem uma imagem
especular que coincide com o objeto, pois apresentam pelo menos um
plano de simetria. O mesmo pode ser aplicado para moléculas. Veja a
comparação entre uma molécula simétrica (cloro-metano) e uma
molécula assimétrica (ácido láctico), ambas diante de um espelho
imaginário:
212
O par objeto-imagem de uma molécula assimétrica é
denominado par de enantiômeros ou antípodas ópticas. O fenômeno que
impede a sobreposição da imagem especular da molécula com seu
objeto é denominado quiralidade molecular e as moléculas são ditas
quirais. Um fator determinante da quiralidade molecular é a
presença do carbono assimétrico. Carbono assimétrico é um átomo de
carbono saturado (hibridação sp3), que apresenta quatro radicais
diferentes ligados a ele. Com essa estrutura, a molécula não
apresenta nenhum plano de simetria e sua imagem especular terá
estrutura não coincidente (Obs: O carbono assimétrico é marcado com
um asterisco: C*). Observando a representação da molécula do ácido
láctico abaixo podemos constatar que a sua imagem especular não
coincide com o objeto:
Perceba que, sobrepondo a imagem com o objeto, as
estruturas não coincidem. Concluímos então que essa molécula é
quiral e existem para ela duas estruturas possíveis no espaço.
Muitas vezes é difícil enxergar a impossibilidade de
sobreposição. À primeira vista, olhando para o desenho, em duas
dimensões, podemos pensar que é possível sobrepor as duas
estruturas, porque não visualizamos as três dimensões tão
facilmente. Para fazer essa verificação é muito importante usar
modelos moleculares. Construa um modelo tetraédrico com uma esfera
de cor diferente em cada vértice. Depois construa um outro modelo
que seja a imagem especular do primeiro. Então tente sobrepô-las
rotacionando à vontade (sem partir ligações) as duas estruturas.
Com certeza todas as dúvidas serão eliminadas.
213
4- Rotação específica
Os enantiômeros possuem propriedades físicas e químicas
idênticas, pois são o mesmo composto, com igual número e tipo de
átomos e ligações. Registra-se apenas uma característica diferente:
a rotação causada no plano da luz polarizada. Apenas o sentido da
rotação é diferente. A magnitude da rotação é a mesma. Se, por
exemplo, num dos isômeros, a rotação específica é de + 5,756o, no
outro é de - 5,756o.
Quando se misturam os enantiômeros em quantidades iguais,
tem-se uma mistura racêmica ou racemato, opticamente inativa. Isso
porque as moléculas levógiras anulam o efeito das dextrógiras sobre
a luz polarizada e vice-versa. Numa substância opticamente ativa,
não contaminada pelo respectivo enantiômero, a rotação provocada
pelas moléculas não é anulada, já que nenhuma molécula pode ser
considerada como imagem em espelho plano de outra, seja qual for a
distribuição em que elas se encontrem no espaço.
A rotação específica pode ser dada pela relação:
[�] = ��/ l.e
Onde:
[�] - rotação específica
��- desvio no plano da luz polarizada (em graus)
l - comprimento do tubo
e - concentração da substância (em g/ml)
OBS: Caso se trate de uma substância pura não diluída, a
concentração é substituída pela densidade dessa substância.
5- Elementos de simetria molecular
214
Os principais elementos de simetria molecular são o
plano, o eixo e o centro. As moléculas que apresentam pelo menos um
desses elementos são simétricas e, consequentemente, não têm
atividade óptica, ou seja, não desviam o plano da luz polarizada.
São por isso ditas opticamente inativas. No entanto, moléculas que
apresentam apenas o eixo de simetria (não possuem plano nem centro
de simetria) podem apresentar atividade óptica. Estas moléculas são
ditas dissimétricas.
As moléculas que não apresentam nenhum desses elementos
de simetria são assimétricas e ditas opticamente ativas, pois têm
atividade óptica.
5.1) Plano de simetria:
Vamos exemplificar com uma molécula simples, de geometria
tetraédrica. Para maior facilidade de visualização vamos considerar
cada vértice do tetraedro como um átomo distinto, ligado ao átomo
central. Podemos ter quatro situações possíveis (chamaremos o átomo
central de A e os ligantes de B, C, D e E):
• AB4 (quatro ligantes iguais em torno do átomo central) - A
molécula é simétrica. Qualquer plano passando por duas
ligações dividem-na em duas partes equivalentes.
• AB3C (três ligantes iguais e um diferente em torno do
átomo central) - A molécula é simétrica. Um plano que
passe pelo átomo diferente divide a molécula em duas
partes equivalentes.
• AB2CD (dois ligantes iguais e dois diferentes em torno do
átomo central) - A molécula é simétrica. Um plano que
pelos dois átomos diferentes divide a molécula em duas
partes equivalentes.
• ABCDE (todos os ligantes diferentes em torno do átomo
central) - A molécula é assimétrica. Por quaisquer duas
ligações que passemos um plano, nunca conseguiremos duas
metades equivalentes da molécula.
Veja as representações abaixo. A molécula ABCDE é a única
que não resulta duas metades equivalentes quando cortada por um
plano que passe por duas ligações. Por não ter nenhum plano de
simetria, moléculas desse tipo são ditas assimétricas.
215
5.2) Eixo de simetria:
Existe um eixo de simetria quando a molécula é girada de
um ângulo de 360o ao redor de um eixo e a situação é equivalente à
inicial. Veja como exemplo a molécula do trans 1,2 - dibromo
ciclobutano. Pode-se traçar um eixo no centro da molécula de modo
que, girando a estrutura 360o ao redor desse eixo, obtemos a mesma
disposição inicial dos átomos. A molécula apresenta, portanto, um
elemento de simetria, porém, sua imagem especular não é
sobreponível. A molécula é dita dissimétrica, e existe como um par
de enantiômeros, ou seja, apresenta atividade óptica. Veja:
5.3) Centro de simetria:
Se pudermos identificar na molécula um ponto pelo qual se
pode traçar uma linha que ligue partes iguais em lados opostos,
podemos dizer que a molécula é simétrica e não apresenta atividade
óptica Veja os exemplos:
216
6- Moléculas com mais de um carbono assimétrico
Em moléculas que apresentam mais de um carbono
assimétrico, podemos calcular o número de estereoisômeros por 2n,
onde n é o número de carbonos assimétricos da molécula. No entanto,
quando existem carbonos assimétricos idênticos, a simetria de
algumas estruturas elimina alguns estereoisômeros. Parater
certeza, em duas dimensões, se duas estruturas são ou não
sobreponíveis, recorre-se à representação de Fischer *. Veja um
exemplo:
Tente girar a imagem fazendo rotações no sentido horário
e anti-horário, sem tirar a molécula do plano do papel. Se você
conseguir coincidir exatamente a imagem com seu objeto, significa
que ambas são uma mesma estrutura espacial. Das moléculas acima, I
e II são enantiômeros, pois, não são sobreponíveis. Já III e IV são
a mesma estrutura, pois consegue-se sobrepô-las, girando uma delas
em 180o. Comparada a I e II, a estrutura III (estamos
desconsiderando arbitrariamente a estrutura IV) não tem relação
objeto-imagem. Dizemos que I e III (ou II e III) são
diasteroisômeros. A estrutura III é chamada mesocomposto.
* Nesta representação, devemos considerar as ligações
verticais como se estivessem "saindo" do plano e as horizontais
como se estivessem "entrando" no plano.
7- Configuração relativa
A configuração relativa é um tipo de classificação dos
compostos através da sua esturtura estérica, descrevendo a relação
entre dois centros assimétricos. Baseia sua nomenclatura na
estrutura do gliceraldeído e é usada somente para compostos
derivados dele - os açúcares. Veja:
217
Assim, da mesma forma, para outros açúcares, aqueles que
apresentarem maior número de hidroxilas para a direita são
classificados como D e aqueles que apresentarem maior número de
hidroxilas para a esquerda são classificados como L. Não confunda D
e L (maiúsculos) com d e l (minúsculos). Os primeiros indicam uma
configuração molecular específica para açúcares e os segundos
indicam o desvio do plano da luz polarizada para a direita ou para
a esquerda, nos compostos com atividade óptica. Pode inclusive
acontecer de um açúcar L ser dextrógiro (d) ou vice-versa. Isso
mostra que não existe nenhuma relação entre D-L e d-l.
8- Configuração absoluta
A configuração absoluta é um tipo de classificação dos
compostos através da sua estrutura estérica, especificando a ordem
dos átomos, determinando os enantiômeros e sua quiralidade. A
nomenclatura dos compostos assimétricos é feita da seguinte
maneira:
• Os átomos ou grupos de átomos ligados diretamente ao
carbono assimétrico (centro quiral) são ordenados e
numerados de acordo com o número atômico (Z), começando
pelo de maior Z para o de menor Z.
• Se houver empate, a prioridade é determinada no ponto de
diferença mais próximo (átomo de maior Z).
• Ligações duplas ou triplas são consideradas como duas
ligações simples. Por exemplo: C=O deve ser considerado
como O - C - O.
• No caso de existirem dois ligantes isótopos (por exemplo,
hidrogênio e deutério), terá prioridade o de maior número
de massa (A).
Veja um exemplo de numeração:
218
Ordenados os grupos, olhamos o centro quiral pelo lado
oposto ao grupo de ordem superior (de maior Z). É altamente
recomendável usar modelos moleculares tridimensionais em todo esse
estudo, devido à sua melhor visualização espacial. Caso contrário
pode-se fazer muita confusão.
O composto então numerado pode ter:
Configuração R (rectus = direita) - quando a sequência
dos números segue o sentido horário.
Configuração S (sinester = esquerda) - quando a sequência
dos números segue o sentido anti-horário.
Veja alguns exemplos (monte modelos moleculares como os
representados abaixo procure visualizar o sentido da numeração):
Estes exemplos seguem a representação em "cunha" - as
ligações comuns (linhas simples) estão num mesmo plano (a tela do
computador), a ligação tracejada está atrás e a ligação preenchida
está à frente. Trata-se de um método para facilitar a visualização
tridimensional.
219
8.1) Configuração absoluta na representação de Fischer:
Para se determinar a configuração absoluta de um composto
na representação tridimensional (em cunha) é necessário fazer um
cansativo exercício mental de visualização espacial da molécula. Na
representação de Fischer isso se torna extremamente complicado. Por
isso recorre-se a uma regra baseada na permuta entre grupos
ligantes do carbono assimétrico. Veja o que acontece se pegarmos
uma molécula quiral de configuração S e permutarmos dois ligantes
quaisquer:
Perceba que a troca de posição entre os ligantes 1 e 3
alterou a configuração da molécula de S para R. Trocando novamente
de posição dois ligantes quaisquer obtemos a configuração inicial
S. Podemos então enunciar que: Invertendo dois ligantes de posição
um número "par" de vezes não alteramos sua configuração absoluta.
Mas se o fizermos um número "ímpar" de vezes, sua configuração se
altera.
Veja agora o que se deve fazer na representação de
Fischer, supondo a seguinte molécula:
Consideraremos o ligante D como o de menor prioridade
(aquele que deve ser visualizado por trás). Depois de numerados os
ligantes, seguindo a ordem de prioridade de número atômico, caso o
ligante D não esteja na posição acima, deve fazer duas permutas
entre ligantes de modo a deixar o ligante D no topo da linha
vertical. Esse é o primeiro passo da regra. Feito isso, observa-se
a linha horizontal e aplica-se um dos artifícios abaixo, usando os
números da numeração de prioridade:
• Se o ligante de menor número estiver à direita, efetua-
se: (A+B) - C
• Se o ligante de menor número estiver à esquerda, efetua-
se: (A+B) - D
220
Se o valor encontrado for +1, -1 ou 3 a configuração é R.
Caso contrário será S.
9- Estereoquímica de reações
As reações orgânicas que envolvem compostos que
apresentam carbono assimétrico apresentam um fator estereoquímico,
que pode determinar a formação de produtos diferentes.
9.1) Reação no carbono assimétrico:
Envolve ligações de grupos substituintes diretamente no
carbono assimétrico.
1- Síntese de enantiômeros (racemização) - São aquelas
que produzem uma mistura de enantiômeros. Veja algumas delas:
Adição de HX ao 1-Buteno
Halogenação do n-Butano
Halogenação do 2-Buteno
Hidrogenação da butanona
Racemização por tautomerização
2- Síntese de mesocomposto - Algumas reações podem
produzir mesocompostos, ao invés de enantiômeros. Veja um exemplo:
Oxidação do ciclopenteno
9.2) Reação em carbono não-assimétrico:
Envolve ligações de grupos substituintes em outro
carbono, não-assimétrico, e não há formação de enantiômeros.
Retenção de configuração - A configuração absoluta
do composto é mantida durante a reação, ou seja, o produto tem a
mesma configuração do reagente.
Inversão de configuração - A configuração absoluta
do composto é invertida durante a reação, ou seja, o produto tem
uma configuração diferente daquela do reagente.
221
10- Resolução de racematos
Proceder com a resolução de um racemato (mistura
racêmica) significa separar seus enantiômeros um do outro, .
Sabemos que enantiômeros possuem propriedades idênticas, à exceção
do sentido de rotação do plano da luz polarizada). Por isso, não
podem ser separados por destilação ou cristalização fracionadas. A
única maneira de separar dois enantiômeros é química, e não física.
Por exemplo, se o racemato a ser resolvido for uma mistura de
caráter ácido, trata-se esta com um composto de caráter básico, e
vice-versa, de maneira que resultem sais, com ambas as
confugurações(R e S). No entanto, estes sais não são sobreponíveis
no espelho plano, ou seja, não são enantiômeros, mas
diasteroisômeros. Estes, por sua vez, possuindo propriedades
diferentes, podem ser separados por cristalização fracionada. Veja
o esquema:
Uma vez separados os dois sais, pode-se recuperar de
cada um deles os dois enantiômeros separadamente. Os
diasteroisômeros AB são tratados com H+, regenerando-se o ácido/base
(B) e o enantiômero (A). Como B é polar, solubiliza-se em água, e
A, um composto apolar ou fracamente polar, solubiliza-se em
solvente orgânico. Veja um exemplo que mostra a formação dos
diasteroisômeros:
222
A ESPECTROMETRIA
1- Definição e conceitos importantes
A espectrometria é um conjunto de recursos que nos
permite identificar a estrutura das partículas que constituem as
substâncias. Atualmente existem tecnologias tão avançadas que se
torna possível descrever com precisão a estrutura exata de uma
molécula. Os equipamentos modernos permitem detectar os tipos de
elementos presentes no composto, a quantidade de cada um deles, a
posição tridimensional de cada átomo e muito mais. Esses aparelhos
funcionam basicamente a partir de feixes de onda eletromagnética
incidentes sobre uma amostra do composto, que então, absorve
energia em determinados comprimentos de onda. Os valores da energia
e dos comprimentos de onda absorvidos são detectados no aparelho e
transformados em um gráfico no computador. É então pela análise
desse gráfico que se determina a estrutura da molécula.
Alguns termos básicos devem ser conhecidos:
Comprimento de onda (�) - Distância medida ao longo a
linha de propagação entre dois pontos equivalentes que estão em
fases adjacentes da onda.
Frequência (�) - Número de ciclos por unidade de tempo.
Transmitância (T) - Razão entre a energia radiante
transmitida por uma substância e a energia radiante incidente nessa
substância: T = Et/Ei
Absorbância ou Absorvância (A) - log (1/T)
223
Absortividade molar (a) - Relação descrita pela
absorbância dividida pelo produto da concentração C da substância
(amostra) e o comprimento óptico (c) percorrido pela radiação: a =
A/(C . c )
2- A absorção de energia
Radiação Comprimento de
onda
Energia
(kcal/mol)
Efeito causado nas
partículas
Raio Gama < 120 nm > 286 -----
UV no vácuo 100 - 200 nm 286 - 83 Transição
eletrônica
UV próximo 200 - 380 nm 83 - 36 Transição
eletrônica
Luz visível 380 - 800 nm 83 - 36 Transição
eletrônica
Infravermelho 8 - 300 �m 36 - 01 Vibração e deformação
Microondas 1 cm 10-4 Rotação
Radiofrequência metros 10-6 Acoplamentos de
spins
4- Espectrometria no Ultravioleta
Quando a radiação eletromagnética da região do UV passa
através de um composto que tem ligações múltiplas (duplas e
triplas), uma parcela da radiação é, usualmente absorvida pelo
composto. A quantidade de radiação absorvida depende do comprimento
de onda da radiação e da estrutura do composto. A absorção ocorre
pela subtração de energia do feixe de radiação provocada pela
excitação dos elétrons de orbitais de baixa energia para orbitais
de energia mais elevada. A espectrometria no UV, portanto, provocam
transições eletrônicas. Logo, para que um composto possa ser
detectado com radiações na região do UV, é necessário que esse
composto possua elétrons capazes de serem excitados, ou seja,
elétrons pi ou elétrons livres (não-ligantes). Os elétrons sigma
não podem ser excitados, porque a transição de elétrons de uma
ligação sigma acarretaria a quebra da ligação e, consequentemente,
a perda da estrutura característica do composto.
4.1) O gráfico de absorção:
A energia absorvida por uma substância é quantizada e
característica dessa substância, ou seja, ocorre em certos valores
específicos. Assim, espera-se, num gráfico de comprimento de onda
(x) em função da absorvância (y), picos lineares de maior
224
intensidade de absorção. Entretanto, devido a outras absorções
simultâneas, surgem bandas espectrais no gráfico. Na ilustração
abaixo vemos os picos de maior absorção (em vermelho), que são
aqueles pontos nos quais ocorreram as transições eletrônicas.
Porém, as energias absorvidas nas rotações, vibrações e deformações
das partículas também aparecem no gráfico, e por isso surgem
bandas, em linhas contínuas geradas por integração da função.
Quanto menor for a diferença entre o estado fundamental e o
excitado, menor será a energia necessária para a transição
eletrônica e maior será o comprimento de onda. Veja um exemplo de
espectro no UV obtido a partir do 2,5-dimetil-hexadieno-2,4:
A posição da absorção corresponde ao comprimento de onda
da radiação necessário para a transição eletrônica e a intensidade
da absorção depende da probabilidade de interação entre a radiação
e o sistema eletrônico. Depende também da diferença entre o estado
fundamental e o estado excitado da partícula. A probabilidade da
transição ocorrer é diretamente proporcional ao quadrado do momento
de transição (equivale ao momento de dipolo). O momento de
transição é proporcional à variação da distribuição de carga
durante a excitação. Absorções fortes (E > 104) são acompanhadas de
grande variação no momento de transição, o que não ocorre nas
absorções fracas (E < 103). As transições de baixa probabilidade são
chamadas transições proibidas, e são aquelas que não criam um
momento de dipolo considerável entre o estado fundamental e o
estado excitado. No entanto, elas podem ocorrer, gerando pequenos
ombros no gráfico, ou picos de intensidade muito baixa.
Para se medir a quantidade de energia luminosa absorvida
em cada comprimento de onda, na região do UV, usam-se instrumentos
denominados espectrômetros. Nestes instrumentos, um feixe de luz é
dividido em dois: uma das metades do feixe passa através de uma
célula transparente que contém a solução do composto que será
analisado e a outra metade do feixe passa através de outra célula,
contendo apenas o solvente que está sendo utilizado. O instrumento
opera de modo a fazer uma comparação entre as intensidades dos dois
feixes em cada comprimento de onda da região. O instrumento dá a
resposta na forma de um gráfico no computador, relacionando
comprimento de onda e absorvância: o espectro de absorção.
225
Os espectros de absorção no UV mostram bandas de absorção
geralmente largas, pois cada nível de energia eletrônica está
associado a subníveis de rotação e vibração. Assim, as transições
dos elétrons podem ocorrer a partir de um entre vários estados de
vibração e de rotação de um nível de energia eletrônica para um
entre diversos estados de vibração e de rotação do nível energético
mais elevado.
OBS: Na região do vísivel também ocorrem transições
eletrônicas, porém, essa parte da espectrometria está melhor
detalhada no capítulo de complexos, que são, em sua maioria,
compostos coloridos, pois as transições que ocorrem nestes
compostos absorvem comprimentos de onda nessa região do espectro.
4.2) Cálculos teóricos de absorção
A partir da estrutura molecular da substância é possível
prever, com pequena margem de erro, o seu máximo de absorção
(λ �max), ou seja, o comprimento de onda máximo absorvido pelo
composto. Antes de prosseguir, porém, devemos conhecer alguns
conceitos fundamentais:
• Grupo Cromóforo - Grupo insaturado covalente, responsável
pela absorção.
• Grupo Auxócromo - Grupo saturado que, quando ligado ao
cromóforo, altera o valor do comprimento de ondae/ou a
intensidade da absorção necessárias para a transição
eletrônica. Essas alterações podem constituir um:
1- Deslocamento Batocrômico - deslocamento da absorção para um λ
maior;
2- Deslocamento Hipsocrômico - deslocamento da absorção para um λ
menor;
3- Efeito Hipercrômico - aumento da intensidade da absorção;
4- Efeito Hipocrômico - diminuição da intensidade da absorção.
Na estrutura de uma molécula a ser analisada no UV,
consideramos diversas partes especiais, às quais se atribuem
valores aproximados de λ �max. Para efetuar um cálculo de λ �max,
primeiramente identifica-se o cromóforo principal da molécula, isto
é, aquela parte da cadeia que possui o maior número de duplas
conjugadas e/ou grupamentos funcionais. Tudo aquilo que estiver
ligado ao cromóforo principal será tratado como "incremento".
Assim, temos tabelas de valores de λ �max para alguns cromóforos mais
comuns. Esses valores são chamados "valores base". Os alcenos e
dienos não-conjugados têm, em geral, máximo de absorção abaixo de
200 nm, enquanto as moléculas que possuem ligações múltiplas
conjugadas têm máximo de absorção geralmente acima de 200 nm. Isso
significa que em compostos de duplas conjugadas a absorção de
energia é menos intensa, já que o comprimento de onda é maior
(lembre-se que λ �e λ são grandezas inversamente proporcionais).
226
Cromóforo principal Valor base (nm)
Benzeno (Ar) 255
Ar - COR 246
Ar - CHO 250
Ar - COOH 253
Ar - COOR 253
*dieno homoanular 253
*dieno heteroanular 214
* Dienos homoanular é um dieno conjugado dentro de um
mesmo anel e dieno heteroanular é um dieno conjugado com cada dupla
em um anel diferente.
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos no Ar-
COG (G é um grupamento qualquer ligado ao oxigênio):
Incremento �
λ �max
-OH, -OR o- m- +07
p- +25
-O- (oxiânion) o- +11
m- +20
p- +78
-Cl o- m- 0
p- +10
-Br o- m- +02
p- +15
-NH2 o- m- +13
p- +58
-NHCOR o- m- +20
p- +45
-NHR p- +73
-NR3 o- m- +20
p- +85
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos de um
dieno conjugado:
Incremento
λ �max
grupo alquila / resíduo de anel* +05
ligação dupla em extensão de conjugação** +30
dupla ligação exocíclica*** +05
dieno conjugado homoanular +39
-OR +06
227
-SR +30
-Cl, -Br +05
-NR2 +60
* Qualquer cadeia carbônica saturada (grupamento alquila)
ligada ao cromóforo principal, não importando o tamanho desse
grupamento, tem o mesmo valor de incremento (+5 nm). No caso de
anéis, esses grupamentos são chamados de resíduos de anel, e também
têm o mesmo valor de incremento (+5 nm).
** Qualquer dupla ligação ligada ao cromóforo principal,
sendo conjugada com este, é considera uma extensão da conjugação
desse cromóforo e tem valor de incremento +30 nm.
*** Dupla ligação exocíclica é uma dupla que utiliza um
carbono do cromóforo principal mas não está dentro do anel do
cromóforo. Imagine a molécula de ciclo-hexanona. A dupla =O é
exocíclica ao anel, pois utiliza um carbono desse anel, mas está
dentro dele.
Quando o espectro no UV é feito utilizando a amostra em
determinados solventes, é preciso acrescentar um valor no cálculo
de ��max (correção do solvente):
Solvente Correção (nm)
Etanol 0
Metanol 0
Dioxano +05
Clorofórmio +01
Éter +07
Água -08
Hexano +11
Ciclo-hexano +11
Vejamos dois exemplos para cálculos teóricos de absorção
(confira com os valores nas tabelas dadas):
228
Outro grupo cromóforo importante é a carbonila,
especialmente quando se encontra conjugada com uma dupla ligação.
Esse sistema é chamado α , β -insaturado.
Cromóforo principal Valor base (nm)
Cetonas acíclicas α , β -insaturadas
215
Cetonas cíclicas α , β -insaturadas (em anéis de 6
átomos) 215
Cetonas cíclicas α , β -insaturadas (em anéis de 5
átomos) 202
Aldeídos α , β -insaturadas
210
Ácidos carboxílicos e ésteres α , β -insaturadas
195
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos de uma
carbonila em sistema conjugado:
Incremento �
λ �max
ligação dupla em extensão de conjugação +30
grupo alquila / resíduo de anel � +10
� +12
� e maior +18
dupla ligação exocíclica +05
dieno conjugado homoanular +39
-OH � +35
� +30
� +50
-NR2 � +95
-Cl � +15
� +12
-Br � +25
-SR � +85
-OAc �,�,� +06
Veja um exemplo de cálculo de absorção envolvendo o
cromóforo carbonila:
229
4- Espectrometria no Infravermelho
Os compostos orgânicos também absorvem radiações na
região do infravermelho (IV) do espectro . A radiação infravermelha
não tem energia suficiente para excitar os elétrons e provocar
transições eletrônicas, mas ela faz com que os átomos ou grupos de
átomos vibrem com maior rapidez e com maior amplitude em torno das
ligações covalentes que os unem. Estas vibrações são quantizadas e,
quando ocorrem, os compostos absorvem energia IV em certas regiões
do espectro. Nas vibrações, as ligações covalentes comportam-se
como se fossem pequenas molas unindo os átomos. Quando os átomos
vibram, só podem oscilar com certas frequências, e as ligações
sofrem várias deformações. Quando a ligação absorve energia, ela
sofre alterações e, ao retornar ao estado original, libera essa
energia, que então é detectada pelo espectrômetro.
As moléculas podem vibrar de muitos modos. Dois átomos
unidos por uma ligação covalente podem efetuar vibrações de
estiramento dessa ligação, como se fosse uma mola que estica e
retorna ao tamanho original. Três átomos também podem efetuar
diferentes vibrações de estiramento e alteração dos ângulos de
ligação, em vários planos do espaço. No entanto, as vibrações de
estiramento são as mais importantes.
230
4.1) Os picos de absorção no infravermelho:
A frequência de uma vibração de estiramento no espectro
de IV pode se relacionar com dois fatores: as massas dos átomos
ligados (átomos mais leves vibram com frequências maiores) e a
rigidez relativa da ligação. As ligações triplas vibram com
frequências mais altas que as duplas e estas, com frequências mais
altas que as simples. Isto porque, enquanto uma ligação simples,
sendo mais maleável, permite um estiramento mais longo, as duplas e
têm menor capacidade de alongar-se. Logo, enquanto uma ligação
simples sofre um estiramento máximo, as duplas e triplas sofrem
estiramentos menores, porém, mais vezes, num mesmo intervalo de
tempo.
Nem todas as vibrações moleculares provocam absorção de
energia no IV. Para que uma vibração ocorra com absorção de energia
no IV o momento de dipolo da molécula deve se alterar quando a
vibração se efetua. Assim, quando os quatro átomos de hidrogênio do
metano vibram simetricamente, o metano não absorve energia no IV.
As vibrações simétricas das ligações carbono-carbono duplas ou
triplas do eteno e do etino não provocam, também, absorção de
radiação no IV. As absorções vibracionais podem estar fora da
região de medida de um espectrômetro particular e também podem
estar tão próximas que os picos se acumulam uns sobre os outros.
Nesses casos é muito difícil interpretar esses sinais, já que eles
se aglomeram, formando o que chamamos de harmônicos. É possível
observarnos espectros de IV os harmônicos das bandas de absorção
fundamentais, embora estes harmônicos apareçam com intensidades
muito reduzidas. Também aparecem no espectro bandas de combinação e
bandas de diferença. Como o espectro de IV têm muitos picos de
absorção, a possibilidade de dois compostos terem o mesmo espectro
é praticamente inexistente. Por isso, o espectro de IV é a
"impressão digital" da molécula.
Veja, no exemplo abaixo, o espectro da molécula de
butirolactona (um éster cíclico). No gráfico podemos ver alguns
picos, correspondentes às diversas deformações das ligações C-H, C-
O e C=O (as deformações das ligações C-C não aprecem porque
absorvem energia fora da faixa do IV). Também podemos notar alguns
harmônicos, localizados entre 1.000 e 900 cm-1.
231
O espectro acima foi interpretado com base numa tabela de valores
de absorção no infravermelho.
Não é possível desenvolver-se uma técnica de
interpretação completa dos espectros de IV, mas podemos reconhecer
a presença de picos de absorção provenientes de vibrações de grupos
funcionais característicos. Saiba, no entanto, que, somente com um
espectro de infravermelho não se pode determinar a estrutura
molecular de um composto. O IV nos fornece apenas parte das
informações, indicando quais os principais grupos funcionais
presentes.
4.2) Identificação de bandas características:
Algumas vibrações geram bandas e picos característicos no
espectro de IV, sendo facilmente identificados com um pouco de
prática. Veja abaixo as formações características de algumas dessas
vibrações no espectro de IV:
232
A hidroxila associada, isto é, que efetua ligação de
hidrogênio, aparece como uma banda forte e larga, muito
arredondada, numa região por volta de 3.500 cm-1. O composto pode
ser um álcool, um fenol ou um ácido carboxílico, por exemplo.
Quando a hidroxila está na forma livre, isto é, sem efetuar ligação
de hidrogênio, aparece como uma banda mais estreita e não muito
arredondada. O composto nesse caso encontra-se na fase gasosa ou
bastante diluído, pois isso não permite que se formem ligações de
hidrogênio.
As carbonilas dão picos muito intensos e geralmente
estreitos, na região entre por volta de 1.800 - 1.700 cm-1. Os
compostos alifáticos possuem muitas ligações C-H, que geram bandas
com picos múltiplos, na região por volta de 2.900 cm-1. Já nos
aromáticos, as ligações C-H existem em menor quantidade (devido às
insaturações), e geram bandas, também com picos múltiplos, porém,
de menor intensidade, numa região próxima, por volta 3.000 cm-1. As
ligações C=C de anéis aromáticos absorvem radiação numa região por
volta de 1.600 - 1450 cm-1. Nos compostos aromáticos podemos também
identificar uma banda de picos múltiplos por volta de 690 - 800 cm-
1
, correspondente a deformações angulares de átomos de hidrogênio
adjacentes no anel aromático.
5- Espectrometria de Massa
Simplificadamente, o espectro de massa funciona da
seguinte maneira: Um feixe de elétrons de alta energia bombardeia a
amostra, em fase gasosa, e o aparelho detecta e registra os
fragmentos gerados pelo impacto dos elétrons. Daí, a partir do
233
valor da massa molecular de cada um dos fragmentos, montamos a
molécula, como um quebra-cabeça. Os fragmentos gerados podem ser
íons, radicais ou moléculas neutras. No aparelho são detectados
apenas os fragmentos catiônicos (íons positivos), chamados íons
moleculares, de carga unitária. Estes íons possuem alta energia e
são capazes de romper ligações covalentes, fragmentando-se em
pedaços menores. A partir de um fragmento, portanto, podem surgir
vários outros fragmentos menores.
Num gráfico de espectro de massa aparecem picos de
intensidades variáveis, cada pico correspondendo a íons com uma
razão m/z. A intensidade do pico sugere a abundância relativa de
cada íon molecular. É importante deixar claro uma coisa:
Frequentemente aparecem no gráfico vários picos, de intensidade
muito baixa. A grande maioria deles não deve ser considerada na
análise do espectro, pois correspondem a fragmentos que não
conseguimos identificar. Só devemos considerar picos de intensidade
relativamente alta. O pico de maior massa molecular frequentemente
corresponde à própria molécula, porém, sem um elétron - esse pico é
chamado pico base. A intensidade do pico depende da estabilidade do
íon molecular. São mais estáveis aqueles íons que apresentarem um
sistema de ressonância em sua estrutura.
Veja abaixo o espectro de massa da benzamida. Para
justificar os fragmentos obtidos temos que propor diversas quebras
na molécula, de modo que resultem íons cuja massa corresponda
àqueles picos.
234
6- Espectrometria de Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
O núcleo de certos elementos e isótopos comportam-se como
se fossem ímãs girando em torno de um eixo. Têm esta propriedade
alguns núcleos como o do hidrogênio comum e o do carbono 13. Quando
se coloca um composto contendo átomos de 1H ou de 13C num campo
magnético muito forte e simultaneamente se irradia o composto com
energia eletromagnética, os núcleos podem absorver energia num
processo denominado ressonância magnética. A radiação utilizada no
espectrômetro de RMN é a radiofrequência (rf), de comprimento de
onda altíssimo (da ordem de metros) e baixa energia (da ordem de 10-
6
kcal/mol). A absorção desta radiação pelos núcleos desses
elementos é quantizada e produz um espectro característico. Esta
absorção não ocorre a menos que a frequência da radiação e a
intensidade do campo magnético tenham valores bem definidos. Os
espectrômetros permitem aos químicos medir a absorção de energia
pelos núcleos de 1H e de 13C, além do núcleo de outros elementos que
discutiremos mais adiante. Estes instrumentos trabalham com um
campo magnético muito forte, capaz de provocar até a morte de uma
pessoa que tenha uma ponte de safena e trabalhe muito perto do
aparelho de RMN. Vamos nos ater inicialmente à espectrometria de
ressonância magnética de prótons (RMN 1H).
Os aparelhos de RMN 1H em geral utilizam ímãs
supercondutores com campos magnéticos muito intensos e pulsos
curtos de radiação de radiofrequência, que provocam a absorção de
energia pelos núcleos de 1H, todos ao mesmo tempo, e ocorre
ressonância. A excitação dos núcleos provoca um fluxo de pequena
corrente elétrica numa bobina receptora que envolve a amostra. O
instrumento então amplifica a corrente exibe o sinal (um pico ou
uma série de picos) no computador, que então efetua a promediação
dos sinais e depois um cálculo matemático (transformada de
Fourier), exibindo um espectro legível.
235
6.1) A origem do sinal:
Assim como os elétrons possuem o número quântico spin
(S), os núcleos de 1H e de alguns isótopos também possuem spin. O
núcleo do hidrogênio comum é como o elétron: seu spin é 1/2 e pode
assumir dois estados: +1/2 e -1/2. Isto significa que o núcleo do
hidrogênio possui dois momentos magnéticos. Outros núcleos com
número quântico spin igual a 1/2 (veja mais sobre momento magnético
spin em Termos de Russel-Saunders), são os dos isótopos 13C, 19F e
31P. Elementos como 12C, 16O e 32S não têm spin (�S = 0) e por isso
não dão espectros de RMN. Há ainda núcleos com spin maior que 1/2.
Porém, vamos estudar apenas os espectros de 1H e de 13C, ambos com
�S = 1/2.
Como o próton tem carga elétrica, a rotação a rotação do
próton gera um pequeno momento magnético - momento cuja direção
coincide com a do eixo do spin. Este pequeno momento magnético
confere ao próton em rotação as propriedades de uma pequena barra
magnetizada.Na ausência de campo magnético externo, os momentos
magnéticos dos prótons de uma amostra estão orientados ao acaso.
Quando um composto contendo hidrogênios (portanto, prótons) é
colocado num campo magnético externo, os prótons só podem assumir
uma de duas orientações possíveis em relação ao campo magnético
externo. O momento magnético do próton pode estar alinhado
"paralelamente" ao campo externo, ou "antiparalelamente" ao campo.
estes dois alinhamentos correspondem aos dois estados de spin
mencionados anteriormente.
Como vemos, os dois alinhamentos do próton num campo
magnético não têm a mesma energia. Quando o próton está alinhado a
favor do campo (paralelamente) sua energia é mais baixa que a
energia quando está alinhado contra o campo magnético
(antiparalelamente). Sem campo magnético não há diferença de
energia entre os prótons, e a diferença de energia gerada pelo
campo externo aplicado depende da intensidade desse campo. É
necessária certa quantidade de energia para fazer o próton passar
do estado de energia mais baixa para o estado de maior energia. No
espectrômetro de RMN 1H esta energia é proporcionada pela radiação
eletromagnética utilizada (radiofrequência). Quando ocorre esta
absorção dizemos que os núcleos estão em ressonância com a
radiação.
A primeira característica a realçar no espectro de RMN 1H
é a relação entre o número de sinais no espectro e o número de
tipos diferentes de átomos de hidrogênio no composto (veremos mais
adiante as diferenças entre os átomos de hidrogênio). O que é
importante na análise de um sinal no espectro não é a sua altura,
mas a área subentendida pelo pico. Estas áreas, quando medidas com
exatidão, estão entre si na mesma razão que o número de átomos de
hidrogênio que provocam cada sinal. Os espectrômetros medem
automaticamente estas áreas e plotam curvas denominadas curvas
integrais, correspondentes a cada sinal. As alturas das curvas
236
integrais são proporcionais às áreas subentendidas pelos sinais. A
resolução e nitidez dos espectros de RMN dependem da intensidade do
campo magnético utilizado. Assim, nos aparelhos que utilizam um
campo magnético de 7,04 tesla, a diferença de energia corresponde à
radiação eletromagnética de 300 MHz. Há instrumentos mais modernos
que operam com frequências de 600 e até 800 MHz.
6.2) O deslocamento químico:
Se os hidrogênios de uma molécula perdessem todos os seus
elétrons e fossem isolados dos outros núcleos, todos os eles
(prótons) absorveriam energia num campo magnético de intensidade
bem determinada, para uma dada frequência de radiação
eletromagnética. No entanto, não é essa a situação real. Numa
molécula, alguns núcleos de hidrogênio estão em regiões de
densidade eletrônica maior do que em outros; por isso, os núcleos
(prótons) absorvem energia em campos magnéticos de intensidades
ligeiramente diferentes. Os sinais destes prótons, assim, aparecem
em diferentes posições no espectro de RMN. Têm-se, como se diz,
deslocamento químico diferente. A intensidade do campo em que a
absorção ocorre depende sensivelmente das vizinhanças magnéticas de
cada próton. Estas vizinhanças magnéticas, por sua vez, dependem de
dois fatores: dos campos magnéticos gerados pelos elétrons em
movimento e dos campos magnéticos que provêm de outros prótons
vizinhos (acoplamentos de spins entre os núcleos de 1H).
A circulação dos elétrons de uma ligação sob a influência
de um campo magnético externo gera diminuto campo magnético (campo
induzido) que blinda o próton em relação ao campo externo. No
próton, o campo induzido se opõe ao campo externo. Isto quer dizer
que o campo magnético real que atua sobre o próton é menor do que o
campo externo. Um próton que está fortemente blindado pelos
elétrons não pode absorver a mesma energia que um próton de baixa
blindagem, num mesmo campo magnético externo. Um próton blindado
absorverá energia num campo externo de maior intensidade (ou em
frequências mais elevadas). O campo externo deve ser mais intenso
para compensar o efeito do pequeno campo induzido.
O grau de blindagem do próton pelos elétrons circulantes
depende da densidade eletrônica relativa em torno desse próton. A
densidade eletrônica em torno do próton, por sua vez, depende, em
grande parte, da presença de grupos eletronegativos. Quanto mais
próximo destes grupos "retiradores de elétrons", menos blindado
237
estará o próton. A deslocalização de elétrons (ressonância) também
contribui para a desblindagem do próton. Assim, prótons aromáticos
de anéis benzênicos não são blindados, e absorvem energia num campo
magnético de baixa intensidade. Em contrapartida, prótons ligados a
carbonos de duplas e triplas ligações possuem blindagem
relativamente alta, devido à alta densidade eletrônica das ligações
pi, e absorvem energia num campo magnético mais alto.
Os deslocamentos químicos são medidos na escala
horizontal do espectro, em Hertz (Hz), e normalmente exprimidos em
partes por milhão (ppm), devido a estes deslocamentos serem muito
pequenos em comparação com a intensidade do campo magnético
externo. Quanto mais para esquerda se localiza o sinal, menor é o
campo magnético sobre o núcleo. Estas posições são medidas em
relação à absorção dos prótons de um composto de referência, pois
não seria prático medir o valor real do campo magnético no qual
ocorre a absorção de energia. O composto de referência normalmente
utilizado é o tetrametilsilano (TMS). À amostra cujo espectro
esteja sendo levantado adiciona-se pequena quantidade de TMS e
toma-se o sinal dos 12 prótons equivalentes do TMS como o ponto
zero da escala. Veja abaixo a estrutura do TMS:
Há várias razões para a escolha do TMS como composto de
referência:
• O TMS tem 12 átomos de hidrogênio, e por isso, pequena
quantidade do composto provoca um sinal relativamente
forte.
• Uma vez que todos os seus átomos de hidrogênio são
equivalentes, há um único sinal, bem nítido.
• Como o silício é menos eletronegativo que o carbono, os
prótons do TMS estão em regiões de grande densidade
eletrônica. Por isso estão muito blindados e o sinal
ocorre numa região do espectro onde poucos átomos de
hidrogênio absorvem energia.
Assim, o sinal do TMS raramente interfere nos sinais de
outros prótons. Depois de o espectro ter sido levantado, pode-se
eliminar o TMS facilmente por evaporação.
químico de alguns hidrogênios (a ordem de Veja abaixo uma
tabela com os valores mais comuns para o deslocamento blindagem
decresce de cima para baixo):
238
Tipo de próton Deslocamento químico
Alquila primário R-CH3 0,8 - 1,0
Alquila secundário R-CH2-R 1,2 - 1,4
Alquila terciário R3CH 1,4 - 1,7
Alílico R2C=CR-CH3 1,6 - 1,9
Cetona R-CO-CH3 2,1 - 2,6
Benzílico ArCH3 2,2 - 2.5
Acetilênico RC CH 2,5 - 3,1
Iodeto de alquila RCH2I 3,1 - 3,3
Éter R-O-CH2-R 3,3 - 3,9
Álcool R-CH2OH 3,3 - 4,0
Brometo de alquila R-CH2Br 3,4 - 3,6
Cloreto de alquila R-CH2Cl 3,6 - 3,8
Vinílico R2C=CH2 4,6 - 5,0
Vinílico R2C=CHR 5,2 - 5,7
Aromático Ar-H 6,0 - 9,5
Aldeído R-COH 9,5 - 9,6
Hidroxila de álcool R-OH 0,5 - 6,0 *
Amínico R-NH3 1,0 - 5,0 *
Fenólico ArOH 4,5 - 7,7 *
Carboxílico R-COOH 10,0 - 13,0 *
* O deslocamento químico destes prótons varia com o tipo de
solvente utilizado, com a temperatura e com a concentração.
6.3) Identificação dos tipos de hidrogênio:
Hidrogênios Homotópicos- Numa mesma molécula podem
existir vários átomos de hidrogênio equivalentes, isto é, com o
mesmo deslocamento químico. Portanto, o sinal destes hidrogênios
cai na mesma posição do espectro de RMN. Dizemos que estes
hidrogênios são quimicamente equivalentes e são chamados
hidrogênios homotópicos. Imagine, por exemplo, a molécula de etano
(C2H6). O espectro de RMN 1H desta molécula daria um único pico - um
singleto. Mas como é que 6 hidrogênios podem dar apenas um sinal? É
porque todos estes hidrogênios do etano têm as mesmas propriedades
químicas. Por exemplo, se substituirmos qualquer um dos hidrogênios
por um grupo Z qualquer, teremos a mesma molécula C2H5Z, idêntica
tanto na estrutura geométrica e espacial quanto nas propriedades
físico-químicas. Nós sabemos que no grupo metil (-CH3) todos os três
hidrogênios são equivalentes, pois existe a possibilidade de
rotação da ligação sigma. Assim, se substituirmos um hidrogênio
qualquer de cada um dos carbonos do etano por um grupo Z, teremos a
mesma molécula. Já na molécula de eteno (H2C=CH2) a ligação dupla
não permite o giro, e podemos formar dois compostos isômeros
239
diferentes (cis e trans) se substituirmos um hidrogênio de cada um
dos carbonos (veja mais detalhes em isomeria geométrica). Apesar
disso, a molécula é simétrica, isto é, existe um plano de simetria
em sua estrutura. Essa simetria faz com que existam hidrogênios
homotópicos, ou seja, que são interpretados como um único sinal.
Veja agora o seguinte exemplo:
Na molécula do 2-metilpropeno acima temos dois grupos de
hidrogênios homotópicos (em azul e em vermelho). Substituindo
qualquer um dos dois hidrogênios azuis por um bromo, temos a mesma
molécula: 1-bromo 2-metilpropeno. Também podemos substituir
qualquer um dos seis hidrogênios vermelhos por um bromo, e teremos
a mesma molécula: 3-bromo 2-metilpropeno. Assim, o 2-metilpropeno
dá dois sinais no espectro de RMN 1H: um correspondente aos
hidrogênios homotópicos azuis e outro correspondente aos
hidrogênios homotópicos vermelhos. Podemos dizer que os hidrogênios
são homotópicos porque possuem a mesma vizinhança, e o espectro de
RMN 1H não detecta diferenças químicas entre estes hidrogênios, já
que eles têm o mesmo grau de blindagem. A diferença entre os dois
sinais do 2-metilpropeno é o deslocamento químico dos dois grupos
de hidrogênios e o valor da curva integrais dos picos: a curva dos
hidrogênios azuis terá valor relativo 2 (dos dois prótons) e a
curva dos hidrogênios vermelhos terá valor relativo 6 (dos 6
prótons).
Hidrogênios Enantiotópicos e Diasterotópicos - Se a
substituição de cada um dos hidrogênios pelo mesmo grupo leva a
compostos que são enantiômeros, os dois átomos de hidrogênio são
enantiotópicos. Eles têm o mesmo deslocamento químico e dão apenas
um sinal no espectro. Veja o exemplo abaixo:
Os dois átomos de hidrogênio do brometo de etila são
enantiotópicos. O composto então dá dois sinais no espectro de RMN
1H: um correspondente aos três prótons do grupo metil (são
240
homotópicos) e outro correspondente aos dois prótons
enantiotópicos, que também são equivalentes.
Se a substituição de cada um dos hidrogênios pelo mesmo
grupo leva a compostos que são diasteroisômeros, os dois átomos de
hidrogênio são diasterotópicos (lembre-se que os diasteroisômeros
não formam par objeto-imagem). A identificação de hidrogênios
diasterotópicos em um composto é muito importante porque eles não
têm o mesmo deslocamento químico e dão sinais diferentes no
espectro, embora na maioria das vezes estes dois sinais estejam tão
próximos que torna-se difícil distinguí-los, a não ser que se
utilize um espectrômetro de alta frequência. Os hidrogênios
diasterotópicos, portanto, podem explicar o aparecimento de sinais
extras no espectro. Veja os exemplos abaixo:
6.4) O desdobramento do sinal:
Desdobramento do sinal é o fenômeno que ocorre graças às
influências magnéticas, sobre os átomos de hidrogênio responsáveis
pelo sinal, de outros átomos de hidrogênio adjacentes. Este efeito
é conhecido como acoplamento spin-spin. O acoplamento de um
hidrogênio com outro gera um pico duplo (dupleto), o acoplamento
entre três hidrogênios gera um pico triplo (tripleto) e assim por
diante. Sinais com múltiplos picos (mais de 7 ou 8) podem ser
chamados multipletos.
241
Os efeitos do acoplamento spin-spin são transferidos principalmente
pelos elétrons de ligação e não são usualmente observados se os
prótons acoplados estiverem separados por mais de três ligações
sigma.
Não se observa desdobramento de sinal de prótons
equivalentes (homotópicos) ou enantiotópicos, ou seja, não há
desdobramento de sinal entre prótons com mesmo deslocamento
químico. Assim, por exemplo, no espectro do etano (CH3CH3) há apenas
um pico (singleto), correspondente aos seis átomos de hidrogênio
homotópicos. Veja alguns exemplos de análise de espectros de RMN 1H:
1) PROPANOL
O grupo OH age como um grupo "retirador de elétrons", ou
seja, devido à sua alta eletronegatividade, a densidade eletrônica
da molécula está deslocada a favor desse grupo, e o efeito indutivo
na cadeia segue também esse sentido. Assim, da esquerda para a
direita, os hidrogênios têm a densidade eletrônica diminuída, o que
explica o deslocamento químico desses prótons no espectro ao lado
(lembre-se de que quanto maior a blindagem dos prótons, mais para a
direita do espectro será o seu deslocamento químico).
Os H vermelhos são homotópicos, portanto, têm o mesmo
deslocamento químico. Eles acoplam-se entre si e com os H azuis,
que estão separados dos hidrogênios em vermelho por menos de quatro
ligações. O sinal é desdobrado num tripleto, porém, esse
desdobramento é devido somente ao acoplamento com os H azuis); o
acoplamento entre os hidrogênios homotópicos gera apenas um aumento
da intensidade do pico (a curva integral tem valor 3). Pode-se
generalizar que o número de picos no sinal de um próton é igual ao
número de prótons adjacentes + 1.
Seguindo o mesmo raciocínio feito acima, temos que:
242
• Os H azuis são homotópicos. Eles acoplam com os H
vermelhos e com os H verdes, formando um sexteto de curva
integral 2.
• Os H verdes são homotópicos. Eles acoplam com os H azuis,
formando um tripleto de curva integral 2. Pela teoria, os
H verdes deveriam acoplar com o H da hidroxila, pois a
distância é de três ligações. No entanto, hidrogênios de
hidroxilas muitas vezes, mesmo estando separado de outro
hidrogênio por menos de quatro ligações sigma, não sofrem
acoplamentos com outros prótons, a não ser em presença de
solventes específicos, que diminuem a polaridade do meio.
A ausência desse acoplamento ocorre normalmente porque as
hidroxilas fazem ligações de hidrogênio intermoleculares,
que dificultam a interação com outros prótons.
2) BROMO-METANOATO DE ISOPROPILA
• Os H vermelhos são homotópicos, possuem a mesma
vizinhança química, e por isso dão apenas um sinal - um
dupleto (de curva integral 6), devido ao acoplamento com
o H verde.
• O H verde acopla com os seis H vermelhos e gera um
septeto, de curva integral 1.
• Os H azuis são homotópicos e, por isso, geram um único
sinal. Como não há hidrogênios adjacentes, o pico é único
- um singleto, de curva integral 2.
Os deslocamentos químicos observados são explicados
devido ao efeito da eletronegatividade dos grupos Br, oxigênio e
carbonila. O H verde é o menos blindado, pois está separado do
oxigênio por apenas duas ligações. O H vermelhos estãoseparados do
oxigênio por três ligações, e por isso, o efeito eletronegativo do
oxigênio é menos pronunciado sobre estes prótons, que então, ficam
mais protegidos. Finalmente, os H azuis estão ligados a um carbono
que se liga ao bromo, de pequena eletronegatividade, e a uma
carbonila, ou seja, não há perto destes hidrogênios um grupo tão
eletronegativo como o oxigênio. Por isso eles têm blindagem maior e
a o sinal cai numa posição de campo alto.
243
3) ÁCIDO PARA-TOLUIL-ACÉTICO
• O H da hidroxila não acopla com outros prótons. O sinal,
portanto, é um singleto, de curva integral 1.
• Os H vermelhos são homotópicos, possuem a mesma
vizinhança química, e por isso dão apenas um sinal - um
singleto (de curva integral 6), pois não não há
acoplamento com hidrogênios adjacentes.
• Cada H azul acopla com um H violeta adjacente e dá um
dupleto. Porém, como os H azuis são homotópicos, o sinal
tem curva integral 2.
• Os H violetas também são homotópicos e cada um deles
acopla com um H azul adjacente, gerando também um dupleto
de curva integral 2.
• Os H verdes são homotópicos e não possuem hidrogênios
adjacentes, e por isso dão um singleto, de curva integral
3.
Os deslocamentos químicos observados são explicados
devido ao efeito da eletronegatividade do grupo carboxila e do
efeito de deslocalização de elétrons gerado pela ressonância do
anel benzênico, que desblinda os hidrogênios aromáticos. O H da
carboxila é fortemente desblindado pela ação da eletronegatividade
dos oxigênios. Os H verdes têm blindagem relativamente alta, pois
estão muito distantes da carboxila.
7- Espectrometria de RMN do carbono 13
Embora o 13C corresponda a apenas 1,1% do carbono natural,
o fato do núcleo desse isótopo do carbono provocar um sinal de RMN
tem grande importância para a análise de compostos orgânicos. O
principal isótopo do carbono, o 12C, com abundância natural de cerca
de 89,9% não tem spin magnético, e por isso não gera sinais de RMN.
De certa maneira, os espectros de RMN 13C são, usualmente, menos
complicados que os espectros de RMN 1H e mais fáceis de interpretar.
Devido ao fato de o 13C existir naturalmente em porcentagem tão
baixa, os sinais de RMN gerados pelos seus núcleos não poderiam ser
visualizados no espectro. Porém, a técnica utilizada nos aparelhos
de RMN 13C consiste em irradiar um pulso curto e potente de
radiofrequência, que excita todos os núcleos de 13C existentes na
amostra. Os dados são digitalizados automaticamente e guardados em
244
computador e uma série de pulsos repetidos, que acumula os pulsos,
construindo os sinais.
Ao contrário do espectro de RMN 1H, que necessita apenas
algumas miligramas de amostra, na RMN de 13C é preciso de 10 a 200
mg em 0,4 ml de solvente deuterado. Essa grande diferença é
necessária para compensar a baixa porcentagem de 13C, e permitir o
acúmulo de sinais. Além disso, enquanto no espectro de RMN 1H a
faixa de absorção magnética dos prótons varia de 0 a 14 ppm, no
espectro de RMN 13C a faixa varia de 0 a 240 ppm.
7.1) Os sinais do espectro de RMN 13C:
Um aspecto que simplifica bastante a interpretação do
espectro de RMN 13C é o fato de cada tipo de átomo de carbono
produzir apenas um pico (singleto). Não há acoplamentos carbono-
carbono que provoque o desdobramento do sinal em picos múltiplos.
Por isso pode-se utilizar aparelhos de RMN mais simples, de 30 ou
60 MHz, já que não é necessária grande precisão para distinguir
sinais desdobrados. Nos espectros de RMN 1H, os prótons que estão
próximos uns dos outros (separados por um máximo de 3 ligações)
acoplam-se entre si e geram sinais desdobrados. Isso não ocorre com
carbonos adjacentes, pois apenas um em cada 100 átomos de carbono
tem o núcleo de 13C (cuja abundância é de aprox. 1,1%). Assim, a
probabilidade de dois átomos de carbono 13 estarem adjacentes é de
1 em 10.000 (isto é: 1,1% x 1,1%), o que elimina, em princípio, a
possibilidade de dois carbonos vizinhos desdobrarem mutuamente os
respectivos sinais.
Embora não ocorram interações carbono-carbono, os núcleos
dos hidrogênios ligados ao carbono podem interferir e desdobrar os
sinais de 13C em picos múltiplos. É possível, entretanto, eliminar
os acoplamentos H-C por uma técnica que irradiação seletiva
(técnica de desacoplamento). Eliminadas as interações próton-
carbono, num espectro de RMN 13C completamente desacoplado, cada
tipo de carbono produz apenas um pico.
7.2) O deslocamento químico do 13C:
Conforme vimos anteriormente, nos espectros de 1H, o
deslocamento químico de um certo núcleo depende da densidade
relativa de elétrons em torno do átomo. Baixas densidades
eletrônicas em torno de um átomo expõe o núcleo ao campo magnético
e provoca o aparecimento de sinais em campos baixos (ppm maiores,
para a esquerda da escala) no espectro de RMN. Densidades
eletrônicas relativamente altas em torno de um átomo blindam o
núcleo contra o campo magnético e provoca o aparecimento de sinais
em campos altos (ppm menores, para a direita da escala) no espectro
de RMN. Assim, carbonos que estão ligados exclusivamente a outros
átomos de carbono e de hidrogênio, têm blindagem elevada diante do
245
campo magnético. Por outro lado, carbonos ligados a grupos
eletronegativos, ou seja, grupos "retiradores de elétrons", estão
relativamente desblindados. Existem tabelas dos intervalos
aproximados do deslocamento químico de carbonos com diferentes
substituintes. O padrão de referência, com zero ppm nos espectros
de RMN 13C, é também o tetrametilsilano (TMS). Os carbonos do TMS
(equivalentes) absorvem energia em 60 ppm (o zero é somente para
servir de referência).
7.3) Cálculos teóricos de deslocamento químico do 13C:
Cada tipo de carbono dá um pico particular no espectro, e
por isso, cada um destes picos tem seu valor específico de
deslocamento químico. Os alcanos absorvem energia em campos mais
baixos do que o TMS, na faixa de até cerca de 60 ppm. Dentro dessa
faixa pode-se prever o deslocamento químico de 13C de
hidrocarbonetos lineares ou ramificados. É possível realizar
cálculos teóricos simples de absorção dos carbonos, que nos permite
comparar com os dados experimentais das tabelas e confirmar a
presença de cada carbono. Veja o procedimento abaixo, para o
seguinte hidrocarboneto:
Os valores de deslocamento químico observados
experimentalmente para estes carbonos são: C1 e C5 (11,3), C2 e C4
(29,3), C3 (36,7), C6 (18,6). Os carbonos C1 e C5 e também os
carbonos C2 e C4 têm mesmo deslocamento químico porque são
equivalentes na molécula, pois têm a mesma vizinhança e a molécula
é simétrica.
O cálculo teórico dos deslocamentos químicos (�) é feito
pela fórmula � = -2,5 + � nA, onde:
-2,5 - deslocamento químico do 13C do metano
n - número de átomos de carbono que causa determinado
efeito (carbonos �, �, �, �).
A - parâmetro de deslocamento aditivo, em ppm (veja na
tabela abaixo).
13C (A)
� + 9,1
� + 9,4
� - 2,5
� + 0,3
� + 0,1
246
1o (3o)* - 1,1
1o (4o)* - 3,4
2o (3o)* - 2,5
2o (4o)* - 7,2
3o (2o)* - 3,7
3o (3o)* - 9,5
4o (1o)* - 1,5
4o (2o)* - 8,4
* As notações 1o (3o) e 1o (4o) significam,
respectivamente, um carbono primário ligado a um terciário e um
carbono primário ligado a um quaternário. As notações 2o (3o) e 2o
(4o) significam, respectivamente, um carbono secundário ligado a um
terciário e um carbono secundário ligado a um quaternário, e assim
por diante. O primeiro número (fora dos parêntese) é o carbono que
se está analisando.Para cada carbono desses deve-se acrescentar ao
cálculo o valor dado na da tabela (A).
Devemos antes nos lembrar que carbonos � são aqueles
ligados diretamente ao carbono analisado, os carbonos � são aqueles
ligados ao carbono �, e assim por diante. Desta forma temos:
• Para C1 e C5: um carbono �, um carbono �, dois carbonos �
e um carbono �.
Cálculo de �: -2,5 + (9,1 x 1) + (9,4 x 1) + (-2,5 x 2)
+ (0,3 x 1) = 11,3
• Para C2 e C4: dois carbonos �, dois carbonos � e um
carbono �. Além disso, C2 é um carbono secundário ligado a
um terciário [2o(3o) = -2,5].
Cálculo de �: -2,5 + (9,1 x 2) + (9,4 x 2) + (-2,5 x 2)
+ (-2,5 x 1) = 29,5
• Para C3: três carbono � e dois carbonos �. Além disso, C3
é um carbono terciário ligado a dois carbonos terciários
[2o(3o) = -3,7].
Cálculo de �: -2,5 + (9,1 x 3) + (9,4 x 2) + (-3,7 x 2)
= 36,2
• Para o C6: um carbono �, dois carbonos � e dois carbonos
�. Além disso, C6 é um carbono primário ligado a um
terciário [1o(3o) = -1,1].
Cálculo de �: -2,5 + (9,1 x 1) + (9,4 x 2) + (-2,5 x 2)
+ (1,1 x 1) = 19,3
Compare agora os valores obtidos nos cálculos com os
valores observados (veja que são iguais ou muito próximos):
C1 e C5: 11,3 (observado), 11,3 (calculado)
C2 e C4: 29,3 (observado), 29,5 (calculado)
247
C3: 36,7 (observado), 36,2 (calculado)
C6: 18,6 (observado), 19,3 (calculado)
Ressonância Magnética Nuclear (RMN) de 1H e 13C
A RMN é a parte da espectroscopia que estuda a estrutura e as
interações moleculares através de medidas da interação de campo
eletromagnético oscilante (de RF) com os núcleos presentes num
campo magnético estático. Os núcleos são partes dos átomos, estes
são partes das moléculas. Assim, espectro de RMN mostra
informações, difíceis de serem obtidas por outros métodos
espectroscópicos, sobre a estrutura e dinâmica molecular. Embora o
método tenha sido o último a estar disponível para o químico, é o
que mais se desenvolveu nos últimos anos.
Para entender como funciona a experiência de RMN, discutimos
algumas propriedades magnéticas dos núcleos, o comportamento destes
em campo magnético estático, na ausência e presença de campo
eletromagnético oscilante (na faixa de RF).
8.1 Propriedades Magnéticas dos Núcleos
Um dos números quânticos do núcleo é o spin-nuclear, I cujo
valor ≥ 0. Quando a massa atômica (A) é par, porque Z e N são
pares, I = 0, e o núcleo não tem sinal na RMN (12C; 16O, 32S).
Quando I ≠ 0, o núcleo pode ser considerado com partícula carregada
que gira em torno de seu eixo, girando um momento magnético
nuclear, µ, ao longo deste eixo.
Década Descoberta / Avanço de RMN
1940s Primeira observação de RMN em sólidos e
líquidos (1945)
1950s Uso dos δ e J como ferramentas de determinação
estrutural
1960s Introdução da RMN de FT; uso do efeito NOE para
determinação estrutural
1970s Emprego de imãs supercondutores; controle total
do equipamento pelo computador
1980s Introdução de pulsos múltiplos, e
espectroscopia em 2-D
1990s Acoplamento da RMN com outras técnicas, ex: CL-
RMN
248
O movimento de rotação da carga do hidrogênio gera um campo
magnético.
8.2 Comportamento de Núcleos num Campo Magnético
Externo e Estático, Bo
Quando os núcleos são submetidos à Bo, eles se organizam em
(2I + 1) orientação, porque ∆E entre os estados de energia
envolvidos é quatizada.
Níveis de energia para o hidrogênio sob a ação de um
campo magnético Bo
Orientações de um núcleo com I = 1/2
(Nota: Bo é dado em Tesla, 1 Tesla = 10 k Guass. Os
equipamentos modernos de RMN operam entre 5 a 16 Tesla. O campo
magnético da terra = 0,6 G = 10-5 Tesla).
O efeito de Bo sobre os núcleos é explicado em termos de
mecânica clássica, onde o campo impõe uma torque sobre µ,
provocando um movimento circular deste em volta de Bo, com
freqüência característica, ν em Hz, chamada a freqüência de Larmor,
249
relacionada com Bo por: ν = γ Bo / pi, onde γ é a razão giromagnética
do núcleo.
Assim, para I = ½, na ausência de Bo, os dois estados de
spin tem energias iguais, na sua presença os dois estados tem
energias diferentes: ∆E = hν = h γ Bo / 2pi:
Energias relativas dos estados de spin de um núcleo com I = ½ num
campo magnético estático Bo
Para um Bo = 5.87 Tesla, ν de 1H = 250 MHz, e as frações de
núcleos nos dois estados de spin são : 0,49999 e 0,50001 para m = -
½ e + ½, respectivamente (excesso do último estado ≈ 20 ppm).
Assim, a aplicação de Bo favorece um dos estados do spin, embora o
sistema volte ao equilíbrio, uma vez que Bo é desligado. A volta,
ocorre por um processo exponencial de relaxação, longitudinal ou de
spin-rede, cujo tempo é T1.
250
8.3 Comportamento de Núcleos em Campos Perpendiculares:
Bo e Eletromagnético Oscilante B1
O que acontece se ligamos no eixo X-Y um campo eletromagnético
(RF, na faixa de MHz) e modulamos sua freqüência até que seja = a
freqüência de Larmor ? Os momentos magnéticos nucleares são
focalizados, ou seja, entram em fase. O torque resultante faz com
que a soma dos momentos nucleares M (que estava na direção Z antes
de ligar a RF) incline para o plano X-Y, com um ângulo α; MX-Y =
M seno α.
Movimentos de núcleos com I = ½ , provocadas por Bo
(a) e Bo e B1 (c).
Efeitos de aplicação e desligamento de Bo, sobre os spin nucleares
Distribuição
Exagerada de spim 5 +/ 5 - 6 +/ 4 - 5 +/ 5 -
Tempo (unidade de T1
Desligar o imã
251
O componente MX-Y gira o sinal de RMN, correspondente a este
grupo de núcleos. Além do mecanismo de relaxação T1, após o
desligamento de B1, os momentos nucleares individuais que estão em
fase, começam a sair desta “coerência de fase” por outro mecanismo
de relaxação (transversal ou de spin-spin) cujo tempo é T2.
(normalmente, T2 < T1). Na prática, T1 e T2 controlam a altura e
largura do pico de RMN, respectivamente.
8.4 A Experiência e o Espectrômetro de RMN
A Experiência:
Na experiência de RMN, fixa-se Bo, e modula-se B1 até que sua
freqüência seja igual a freqüência de Larmor do núcleo (átomo) em
questão. Neste momento, ocorre absorção de energia pela amostra
(condição de ressonância), esta absorção é registrada em forma de
pico. Os átomos, ex: os 1H, de uma molécula complexa tem ν
diferentes. Continua-se a modulação de B1, e a ocorrência da
condição de ressonância para cada núcleo (do mesmo átomo) da
molécula, produzindo uma série de picos, o espectro de RMN. ν
depende de γ, os valores de γ para os núcleos são bem diferentes,
até para os isótopos do mesmo átomo (γ = 267,51 e 41,06 x106 rad
Tesla-1 s-1, para 1H e 2H, respectivamente); modula-se B1 numa
faixa pequena. Assim, na mesma experiência detecta-se apenas um
núcleo (átomo), 1H; 2H; 13C, etc. A sensitividade relativa (altura
do pico) depende de abundância natural do isótopo.
252
Freqüências de ressonância e intensidades relativas dos isótopos
mais presentes nos compostos orgânicos, a Bo = 5,87 Tesla.
8.5 O Espectrômetro
Os aparelhos antigos tinham campos de 1,41; 1,87; 2,20 ou 2,35
Tesla, correspondentes a freqüências de 60, 80, 90 ou 100 MHz
respectivamente (1H). Usavam imã permanente ou elétrico
refrigerado. O espectro era obtido pelo método de CW (varredura
contínua), onde a amostra é irradiada, uma freqüência por vez. O
tempo para o registro de uma amostra variava entre 2-10 minutos.
Para melhorar o S/R, introduziu-se mais tarde a técnica CAT, onde
era possível acumular vários espectrosnum computador simples.
Assim, o acúmulo de 100 espectros (uma tarefa trivial hoje) levava
entre 3 a 16 horas! Os núcleos mais estudados eram 1H e 19F. O
estudo de outros núcleos era, na prática, fora do alcance de muitos
pesquisadores (?).
Diagrama de espectrômetro de CW, com imã permanente
Mais tarde, foram introduzidos dois avanços importantes: o uso
do modo pulsado, ou de FT para a aquisição do espectro, e de imãs
supercondutores. O uso de RMN de FT reduziu bastante o tempo da
experiência já que a amostra é irradiada pela faixa inteira de
freqüência do núcleo de interesse, durante alguns ms. Assim,
dependendo da resolução desejada, o acúmulo de 100 espectros
levaria entre 1-5 minutos. Na experiência de RMN, deseja-se obter o
campo magnético mais alto e mais homogêneo possível. A razão é que:
253
∆E = h γ Bo / 2pi, ou seja, quanto maior Bo, maior a diferença entre
os estados de spin nuclear, e mais forte o sinal (?). Construir
imãs elétricos de campo alto e homogêneo é problemático, e precisa
de refrigeração cada vez mais eficiente. A resistência de metais
diminui bastante com a diminuição da temperatura, motivo do emprego
de imãs supercondutores, refrigerados com nitrogênio/Hélio.
Corte num imã supercondutor
Base do detector
Bobina de ajuste do probe
Bobina de ajuste do campo
bobina transmissora/receptora
Tubo da amostra
turbina
rotor
supercondutor
He líquido
N2líquido
filtro
Transmissor
de RF
Controle
do consolo
Pré-amplificador Receptor
254
Diagrama de espectrômetro de FT, com imã supercondutor.
8.6 Manuseio das Amostras
As amostras são normalmente líquidos dissolvidos em solventes
apropriados. Para a maioria dos casos, usa-se solventes deuterados
(com %D > 99,5%) CDCl3, acetona-d6, CD3CN, DMSO-d6, D2O, etc. O
solvente é “transparente”, menos para RMN de 2H (?), o D presente
serve também para efetuar e manter a calibração de freqüência de
campo (lock ou trava). A solução (livre de material suspenso(?)) é
introduzida entre os pólos do imã num tubo de parede fina, de 5 ou
10 mm de diâmetro, e de alta qualidade. O tubo é rodado (por ar ou
N2) numa certa velocidade (alguns rps) para aumentar a
homogeneidade local e do campo.
As linhas de RMN de sólidos são bastante alargadas
(conseqüência sobre a informação?) devido a forte heterogeneidade
do meio. Este tem dependência angular sobre (3cos2 θ - 1), onde θ é
o ângulo entre Bo e o vetor inter-nuclear. Os espectros de RMN de
amostras sólidas podem ser examinados, usando-se porém, um porta-
amostra diferente, inclinado sobre Bo pelo ângulo mágico (θ = 54.7°,
3cos2 θ - 1 = -1,5 x 10-4) e rodando a velocidade bem alta (?).
255
8.7 Informações Estruturais a Partir dos Espectros de RMN:
Deslocamentos Químicos (δ) e Acoplamentos Spin-Spin (J)
Deslocamentos Químicos, δ
De acordo com a equação básica da RMN (∆E = hγBo/ 2pi), cada
composto deverá dar origem a um único pico, dependendo da
freqüência empregada, ou seja a técnica serve para análise
elementar! Felizmente, a situação é mais complexa, e o núcleo é
blindado pelos elétrons em volta. Como primeira aproximação, ex:
1H, a blindagem depende da densidade eletrônica em volta do núcleo.
Assim, os diferentes 1H da mesma molécula absorvem em ν diferentes.
O deslocamento químico, δ, é a diferença entre a freqüência
observada e aquela de uma referência (para qual δ = 0). Para 1H e
13C a referência é TMS = tetrametilsilano (CH3)3Si, um composto
inerte (?), de p.e. = 27 °C (?), e solúvel na maioria dos solventes.
Para soluções em D2O, usa-se o DSS (2,2-dimetil-2-silapentano-5-
sulfonato de Na: (CH3)3SiCH2 CH2CH2SO3Na), um composto parecido com
o TMS, porém aquo-solúvel.
Para tornar δ (em Hz) independente da freqüência do
equipamento, ƒ, usa-se a escala de ppm, sem unidades: δ (ppm) = δ
(Hz) x 106/ ƒ (MHz) x 106 . Assim, para 1H, um ppm = 250 Hz e 400
Hz, para equipamentos operando em ƒ = 250 MHz e 400 MHz,
respectivamente.
Para 1H, espera-se que quando maior a blindagem do núcleo,
menor é o valor de δ (pico mais perto do pico de TMS). Porém, a
relação entre δ e a densidade eletrônica não é universal devido à
proteção diamagnética do núcleo, como mostram os seguintes valores:
1;80; 9.97; 7,27 para HC≡CH; CH3-CH=O; e C6H6, respectivamente.
Blindagem dos hidrogênios do
acetileno
256
Desblindagem do hidrogênio do aldeído
Efeitos da corrente de anel do benzeno
257
Regiões habituais de deslocamento químico
8.8 Acoplamento Spin-Spin, J, e Análise de Primeira Ordem
Algumas substâncias, acetato de benzila, mostram espectros
simples, cada singlete corresponde (pela integração) a um tipo de
1H. Outras substâncias mostram espectros mais complexos, embora
ainda de 1a. ordem, onde cada pico desdobra em grupos de picos.
Espectro de RMN do acetato de benzila em tetracloreto de
carbono a 60 MHz
258
Cloreto de Etila em CDCl3 a 60 MHz
Espectro de éter etílico a 250 MHz
259
Desdobramento de CH3 pelo grupo CH2 vizinho
Desdobramento de CH2 pelo grupo CH3 vizinho
O valor de δ (em Hz) depende de ƒ do equipamento, o valor de J
é independente. Para situações simples, onde a molécula tem HA e
HB, δ HA- δ HB (Hz) > 10 JA-B, temos que cada pico desdobra em
(n+1) picos onde n é o numero das 1H vizinhos. As intensidades
260
relativas dos picos dependem das possibilidades de spin dos prótons
vizinhos, e é dada pelo triângulo de Pascal.
Triângulo de Pascal. Intensidades relativas dos multipletes de
primeira ordem originados pelo acoplamento com n núcleos de spin ½
(p.ex. prótons)
8.9 Sistemas Complexos
A seguir são exemplos de sistemas cujos espectros não podem
ser analisados pela regra de 1a. ordem:
(i) Sistemas onde a razão δ /J é pequena, devido ao
acoplamento forte entre os prótons: tanto o desdobramento, como as
intensidades relativas dos picos desviam de 1a. ordem
261
Acoplamento spin spin entre dois hidrogênios com
deslocamentos químicos muito diferentes
Modificações observadas em um sistema
de dois hidrogênios acoplados com a
diminuição da diferença entre os
deslocamentos químicos, para um valor
constante de J (10 Hz).
ii) Sistemas que têm prótons quimicamente, mas não
magneticamente equivalentes, por exemplo, o sistema AA’XX’de 4-
cloronitrobenzeno; AA’BB’ de o-diclorobenzeno; sistemas Z-CH2-CH2-Y
que se transformam de AA’XX´ para AA’BB’ devido a mudança das
estruturas de Z e Y.
(iii) Sistemas contendo centro quirálico
262
p-cloro-nitrobenzeno, 100 MHz em CCl4 o-Dicloro-benzeno,
100 MHz em CCl4
Distorções que ocorrem quando o sistema AA’XX’se transforma
progressivamente em AA’BB’ no caso de ZCH2CH2Y em 60 MHz
263
1,3-dicloro-propano em CDCl3 em 60 MHz, um sistema do tipo
XX’AA’XX’
iv) Sistemas com 1H ligado a heteroátomos
O OH de ROH acopla com os demais 1H somente na ausência de
traços de ácidos ou bases.
Espectros de RMN de álcoois (a) primários, (b) secundários e (c)
terciários típicos, obtidos em DMSO. A absorção em δ 2,6 é devida
ao solvente
264
Os prótons de N-H podem acoplar, ou não com os 1H vizinhos, e
são alargados porque o N tem número de spin = 1 (desdobrao 1H em
triplete) e momento quadrupolo elétrico (alarga o sinal de 1H).
N-metil-carbanato de etila CH3NHCOCH2CH3, a 60 Hz
O
Faixas de Deslocamentos Químicos dos Prótons
8.10 Ressonância Magnética Nuclear de 13C
O 12C não é magneticamente ativo, porque seu I = 0. Embora o
13C seja ativo, sua abundância natural é 1,1%, e sua sensibilidade
é apenas 1,6% de 1H, fazendo com que a sensibilidade total de 13C
comparada à de 1H seja de ca. 1/5700 (conseqüência?). O 13C acopla
265
com 1H (ambos tem I = ½) o que complica o espectro, devido aos
valores altos de J 13C-1H (110-320 Hz) e os valores apreciáveis
para 13C-C-1H e 13C-C-C-1H. Assim, os espectros onde há acoplamento
13C-1H são de difícil interpretação. Opta-se pelo desacoplamento
total, ou parcial de 1H, pela irradiação pela freqüência de 1H,
durante a aquisição do espectro de 13C. Assim, na maior parte, o
espectro de 13C é composto de singletes (?), cada um corresponde a
um, ou mais 13C. O uso de integração de espectro de 13C é bem menos
que para o 1H, porque o efeito Overhauser nuclear (NOE) causa
transferência de polarização entre 1H e 13C, o que aumenta a
intensidade do sinal do último núcleo, em até 200%.
Espectro de 13C-RMN do ftalato de dietila com os hidrogênios
completamente acoplados. O solvente usado foi CDCl3 a 25,2 MHz
266
Espectro de 13C-RMN do ftalato de dietila com os hidrogênios
completamente desacoplados por um desacoplador de banda larga. O
solvente usado foi CDCl3 a 25,2 MHz
Espectro de 13C-RMN do ftalato de dietila com os hidrogênios
completamente desacoplados e um intervalo de 10 s entre os pulsos.
O solvente usado foi CDCl3 a 25,2 MHz
267
Espectro de 13C-RMN do ftalato de dietila com os hidrogênios
completamente desacoplados fora de ressonância. O solvente usado
foi CDCl3 a 25,2 MHz
Faixas de Deslocamentos Químicos de 13C
268
Correlação entre δ de 1H versus δ do 13C correspondente
8.11 Espectros Bidimensionais de RMN
Diferentes formas de mostrar espectro de 2-D
8.12 Espectroscopia de Correlação (COSY) Homonuclear (HOMCOR)
e Heteronuclear (HETCOR)
269
Espectro HOMCOR de 2-clorobutano
270
Espectro HETCOR de 2-clorobutano
9. Espectrometria de IV e Raman
9.1 Infravermelho e Raman
Infravermelho
A radiação de IV corresponde à parte de espectro entre as
regiões de visível e de microondas. A parte entre λ = 2,5 – 20 µ
(mícron ou µm) é de maior interesse para a determinação estrutural
de compostos orgânicos. Para descrever a posição da banda, é mais
conveniente usar o número de onda, também chamado a freqüência, ν
em cm-1 (1 cm-1 = 104 / λ em µm). Assim, ∆E da vibração = E2 – E1,
correlaciona diretamente com ν, quando maior a energia maior a
freqüência de vibração.
As moléculas orgânicas podem ser representadas por um sistema de
bolas (os átomos) e molas (as ligações químicas). Para uma molécula
diatômica, m1-m2, a freqüência da vibração da ligação pode ser
representada pela lei de Hooke:
271
ν = (1/2pic√ F/µ).
Onde F e µ referem-se a constante de força da ligação, e a
massa reduzida (m1m2 / m1 + m2), respectivamente.
Tabela: Freqüências de Absorção, Massas Reduzidas, e
Constantes de Força
A regra de seleção determina que “absorção no IV ocorre se a
radiação provoca alteração rítmica no momento de dipolo da
molécula”. Absorção de IV de energia adequada pode causar
transições do estado fundamental para um ou mais estados excitados,
com intensidades decrescentes. Por exemplo, a absorbância da
vibração C-H de CHCl3, numa cela de 1 mm, é 17; 1,5; 0,055 e 0,002
do estado fundamental para os estados 1 a 4, respectivamente. A
seguir alguns modos de vibração de moléculas simples.
Moléculaν, cm-1 Massa
reduzida
F, 102
Nm-1
N2 2331 7,002 22,4
O2 1556 7,997 11,4
H2 4159 0,504 5,1
HCl 2886 0,980 4,8
F2 892 9,499 4,5
I2 213 63,45 1,7
Vibrações da água
272
Vibrações de CO2
VViibbrraaççõõeess ddee DDeeffoorrmmaaççããoo AAxxiiaall
273
No espectro de IV, o número de picos normalmente é diferente
do esperado devido a: (i) Freqüências fundamentais não observadas
porque são muito fracas, ou caem fora da faixa espectral examinada
(4000 a 400 cm-1), (ii) Diferenças entre os vários níveis de
energia (ou ν) que são pequenas para serem resolvidas pelo
espectrômetro, (iii) Presença no espectro de bandas de combinação e
de ressonância de Fermi. Ex: o CHCl3 tem uma banda fraca em 4217
cm-1, de combinação entre as bandas de estiramento e deformação da
ligação C-H, em 3019 cm-1 e 1216 cm-1, respectivamente. Observa-se
um “duplete” para a vibração de estiramento de C6H5-CH=O devido a
ressonância de Fermi com o overtone da deformação da mesma ligação,
em 1400 cm-1.
Espectroscopia Raman
Quando uma molécula é irradiada, a energia pode ser
transmitida, absorvida, ou espalhada. No espalhamento Rayleigh
(elástico), a interação da molécula com o fóton não provoca
mudanças nos níveis de energia vibracional e/ou rotacional da
molécula. Assim as freqüências da luz incidente e espalhada são as
mesmas.
VViibbrraaççõõeess ddee DDeeffoorrmmaaççããoo AAnngguullaarr
274
O efeito Raman pode ser explicado pela colisão não-elástica
entre o fóton incidente e a molécula. Isto muda os níveis das
energias vibracional e/ou rotacional da molécula por um incremento
(± ∆E). Pela lei de conservação de energia, isto significa que as
energias dos fótons incidente e espalhado serão diferentes, ou seja
νincidente ≠ νespalhada. Se a molécula absorve energia, ∆E é
positiva, νincidente > νespalhada., estas são as linhas Stokes do
espectro (regra de Stokes de fluorescência, νincidente >
νfluorescência). Se a molécula perde energia, ∆E é negativa,
νincidente < νespalhada, linhas anti Stokes do espectro.
Representação esquemática das energias envolvidas nas transições
de
IV, espalhamento Rayleigh e de Raman.
IV Rayleigh Raman-
Stokes
Antes da
Interação
Depois da
Interação
Transições
Raman-
Anti-Stokes
275
Na espectroscopia Raman comum, as vibrações são excitadas a um
estado meta-estável pela irradiada por luz visível monocromática
(laser He/Ne), cuja freqüência é > freqüência de vibração, porém <
freqüência das transições eletrônicas. Na espectroscopia Raman
ressonante, a freqüência do laser é maior ainda, o que excita as
vibrações para as de nível eletrônica. As linhas Stokes são
normalmente empregadas por serem mais intensas, pois correspondem a
uma transição (0 → 1) a partir de um estado com maior população de
moléculas. As vibrações ativas são aquelas que provocam mudanças na
polarizabilidade da molécula, assim as espectroscopias de IV e
Raman são complementares.
Espectros IV e Raman de clorofórmio
276
9.2 Instrumentação
Os espectrofotômetros consistem de fonte de radiação,
monocromador (para equipamentos de dispersão) comportamento de
amostra, detector e parte periférica (computador, impressora).
Sistema ótico de um espectrofotômetro de infravermelho de
feixe duplo
As fontes de IV são filamentos aquecidos (1000-1800 °C), por
exemplo, de Nernest (óxidos de terras raras, Zr, Y, Th) e Globar
(carbeto de silício). Na espectroscópiaRaman usa-se fontes de
laser.
Para os espectrofotômetros dispersivos, usa-se monocro-madores
para resolver a energia nas diferentes freqüências, estas passam na
amostra, uma por vez. Nos equipamentos mais modernos de IV, por
transformada de Fourier, IV de FT, a amostra é irradiada pela faixa
inteira de radiação. O interferograma é resolvido nas freqüências
componentes pela operação matemática de TF.
No IV, os detectores mais empregados são os térmicos. Exemplos
são os termopares (junção de dois metais, mudança na temperatura
causa mudança no potencial elétrico da junção); bolômetros
(resistência muda com o aquecimento) e cristais piro-elétricos
(DTGS = sulfato de triglicina deutrado, mudança na polarização
elétrica com a temperatura). No IV convencional, o sinal assim
obtido do detector é amplificado e usado para posicionar o
atenuador ótico, de modo que a radiação nos feixes de referência e
amostra mantém-se à mesma intensidade. O movimento do atenuador é
quem movimenta o registrador do equipamento. Os detectores na
espectroscopia de Raman são fotomultiplicadores, ou redes de diodo.
9.3 Espectrofotômetro IV de FT
A limitação principal do espectrofotômetro dispersivo de IV é
a (lenta) velocidade de varredura de ν, controlada pelo
monocromador. Torna-se difícil, por exemplo, analisar amostras cuja
composição varia-se rapidamente com o tempo (Ex: amostras eluídas
de uma coluna cromatográfica). Esta limitação é evitada pelo uso do
IV de FT.
277
Esquema de um Espectrofotômetro de IV de FT
Componentes de um Espectrofotômetro de IV de FT
O componente principal do espectrofotômetro IV de FT é o
interferômetro de Michelson. (Albert Michelson, prêmio Nobel,
1907). Este conta com dois espelhos, um deles (A) é móvel. O
movimento deste deve ser controlado com precisão (por uma fonte de
laser), pois controla a resolução dos picos. Por exemplo, para uma
resolução de 2 cm-1, (A) tem que se deslocar exatamente 0,5 cm da
sua posição inicial. O separador de feixe (tipo de “ventilador”
coberto por KBr e Ge) divide a radiação (na faixa inteira, 5000 a
400 cm-1, por exemplo) entre os dois espelhos.
Posteriormente, os feixes refletidos dos dois espelhos são
rejuntados, o que produz um espectro de interferência. Quando a
diferença entre os λ correspondentes é múltiplo inteiro do feixe
invariante, ocorre interferência construtiva (soma dos dois
feixes). Ocorre interferência destrutiva (diferença entre os dois
feixes) quando a diferença é um múltiplo impar de um quarto de λ.
O resultado é uma série de combinações destrutivas e construtivas,
o chamado interferograma.
Computador Computador Computador Computador
Conversor Conversor Conversor Conversor
A/A/A/A/D D D D
Amplificador Amplificador Amplificador Amplificador
Detector Amostra Amostra Amostra Amostra Interferômetro Interferômetro Interferômetro Interferômetro Fonte Fonte Fonte Fonte
278
Interferência construtiva (aumento de intensidade), dois espelhos
em fase (δ = n λ, n= 0, 1 2, 3, etc)
Posteriormente, os feixes refletidos dos dois espelhos são
rejuntados, o que produz um espectro de interferência. Quando a
diferença entre os λ correspondentes é múltiplo inteiro do feixe
invariante, ocorre interferência construtiva (soma dos dois
feixes). Ocorre interferência destrutiva (diferença entre os dois
feixes) quando a diferença é um múltiplo impar de um quarto de λ.
O resultado é uma série de combinações destrutivas e construtivas,
o chamado interferograma.
Espelho
Fixo
Espelho
Movel
279
Interferência construtiva (aumento de intensidade), dois
espelhos em fase (δ = n λ, n= 0, 1 2, 3, etc)
Interferência destrutiva, dois espelhos completamente fora de
fase (δ = (n + 0,5) λ, n = 0, 1, 2, 3).
Espelho
Fixo
Espelho
Movel
Espelho
Movel
Espelho
Fixo
280
Interferograma para fonte de IV. O ponto
central corresponde a interferência
construtiva com os dois espelhos na mesma
distância .
A operação matemática de TF resolve o interferograma (uma soma
de picos contendo as informações sobre o composto) e transforma a
relação resultante entre a intensidade versus tempo, numa entre
intensidade versus freqüência, ou seja em espectro. Normalmente
registra-se o interferograma de fundo (background), da amostra, e
obtém-se o espectro da amostra por subtração, como mostra o
seguinte exemplo de poliestireno.
281
Espectro de fundo
U
ni
d
a
d
es
ar
bi
tr
Número de onda, cm-1
re
sp
os
ta
Número onda, cm-1
282
9.4 Vantagens da Espectroscopia de IV por FT
1- Rapidez e Ganho na razão Sinal/Ruído, S/R
Como não se usa monocromador, a amostra é irradiada pela faixa
inteira de IV. Isto resulta numa sensível melhoria na S/R
(vantagem de Fellgett, ou multiplex). Exemplo: Usando a faixa
4000-400 cm-1 e uma resolução de 4 cm-1, temos que medir 900
pontos. Se é necessário 0,67 s para medir cada ponto, este espectro
leva 10 minutos no aparelho dispersivo, cada freqüência é medida
somente uma vez, durante 0,67 segundo. No aparelho IV por FT, cada
ponto é medido durante 600 segundos. Quando vários espectros são
somados, tanto os picos como o ruído aumentam. Como o sinal é
consistente e o ruído é aleatório, o sinal cresce pelo fator:
(número de espectros somados)0.5. Assim, a vantagem multiplex é
dada por:Vantagem S/R = [600 s / 0.67 s]0.5 ≈ 30
2- Há ganho na intensidade da radiação que chega ao detector
porque não se usa fendas para restringir a faixa de ν, o que reduz
a intensidade da radiação no equipamento dispersivo (vantagem de
Jacquinot, ou de rendimento).
9.5 Manuseio da Amostra
Podem-se obter espectros de IV de amostras gasosas, líquidas e
sólidas. As “janelas” das celas devem ser de material transparente
no IV.
Material
de
Janela
Faixa
útil de
ν, cm-1
Solibilidade
g/100 água
Material da
Janela
Faixa
útil de
ν, cm-1
Solibilidade
g/100 água
NaF 66667-714 4,2 CaF2
83333-
1111 0,001
NaCl 50000-625 36
KRS-5
(TlBr/TlI)
18180-
286 0,02
%
T
Número onda, cm-1
283
KBr
47620-
400 65 AgCl
23810-
417 0,0002
KI 4000-286 144 Sílica 50000-3333 Insol.
CsI 40000-200 160
Irtran e
Clear-Tran
(ZnSe)
25000-
1053 Insol.
9.6 Amostras gasosas
A celas para gases são de caminho óptico comprido (?), e são
apropriadas para serem evacuadas (?).
Cela para análise de gases
9.7 Amostras líquidas
Alguns líquidos podem ser analisados diretamente, como filme
entre duas placas, por exemplo, de NaCl. Outros são analisados em
solução num solvente adequado. Este deveria dissolver o composto;
não-interage, ou interage pouco com o soluto; absorve pouco no IV.
Exemplos são: CCl4, CHCl3 , Fluorolube (hidrocarboneto per-
fluorado) e Cl2C=CCl2.
284
Representação esquemática de cela selada para líquidos
Cela desmontável para líquidos
Entrada da
amostra Espaçador
Janela de KBr
285
Maneira correta de encher uma célula selada
286
Amostras Sólidas são normalmente analisadas como: (i) Filme;
(ii) Solução em solvente adequado; (iii) Suspensão em óleo mineral
ou Fluorolube; (iv) solução (sólido/sólido) em KBr.
(i)- É a técnica usada para polímeros. O filme é formado
sobre uma placa de material adequado, ex: NaCl, por aquecimento,ou
por evaporação do solvente da solução. O filme é analisado entre
duas placas.
(ii)- Procedimento geral, ν pode depender do solvente e da
concentração do soluto.
(iii)- Usa-se gral liso de ágata para obter suspensão fina
do material, ca. 5 mg, em 1-2 gotas do agente de suspensão. Este é
espalhado numa placa de material adequado, ex: NaCl, e analisado
entre duas placas. Além de concentração adequada da substância, e
287
uma espessura adequada da suspensão entre as placas, o tamanho de
partícula do sólido é muito importante para evitar espalhamento de
energia, este é forte em ν maior, pois depende de 1/λ4. O espectro
da amostra é obtido pela subtração do espectro do agente de
suspensão.
Esquema para líquido puro (viscoso), ou suspensão
Espectro de benzoate de potássio em Nujol (óleo mineral)
Feixe de IV
Janela de KBr
Amostra
288
Espectro de benzoate de potássio após subtração do
espectro do Nujol
(iv)- Técnica universal. A substância, ca. 1 mg, e moída
com KBr seco, ca. 100 mg, em gral liso de ágata. A mistura é
prensada sob pressão hidráulica, 700-1500 Kg/cm2, e pressão
reduzida, até formar disco transparente, usado para obter o
espectro. Os problemas são moagem incompleta, umidade no KBr
(conseqüências?).
9.8 Acoplamento de IV a Outras Técnicas
Microscopia por IV:
Junção de IV de FT com microscópio óptico. Permite examinar a
parte de interessa da amostra pela microscopia, e um IV de FT.
Equipamentos Cromatográficos-IV de FT
Embora a CG e HPLC são técnicas poderosas de análise quantitativa
de amostras, seu poder na identificação dos componentes analisados
depende da disponibilidade de padrões (método de padrão interno). A
junção das técnicas com IV (após da separação dos componentes)
aumenta bastante seu poder analítico.
289
Representação esquemática de um instrumento CG-IV de FT
Evaporação do Solvente na Saida da Coluna de HPLCl Acessório de
IV de FT usado em conjunto com HPLC
Cromatógrafo
Forno
Colun
Linas aquecidas de
transferência
Entrada de
Amostra Interface CG-IV de
Feixe
de IV
IV de FT
Detector
Bom
ba
Colu
na
Detector
de HPLC
Injetor
Eluente
Evaporador
de solvente IV de FT
Eluente
N2quente
Amostra Evaporada
Espelho
Rotativo
Espelhos
Para
detector
Espelho
Rotativo
290
HPLC/IV de FT de co-polímero de estireno com metacrilato de metila.
9.9 Aplicações
Análise Quantitativa
As leis de absorções de IV são as mesmas da Uv-vis. Para
análise quantitativa emprega-se a lei de Bouguer-Lambert-Beer para
posterior determinação da concentração desconhecida.
Curva de calibração para um analito
A análise de misturas segue o mesmo procedimento mostrado para Uv-
vis.
Determinação Estrutural
Freqüências dos Grupos Orgânicos
Ab
so
rb
ân
ci
a
ν cm-1
te
m
po
,
mi
nu
to
s
291
Esta é uma técnica poderosa na determinação da estrutura
(total) do composto, em particular os grupos funcionais presentes,
como mostramos a seguir:
1- Num espectro de IV, as duas regiões mais importantes são
de 4000 a 1300 cm-1, e 900 a 650 cm-1. Na primeira (região dos
grupos funcionais) aparecem as freqüências de estiramento dos
grupos funcionais mais importantes, OH, NH, C=O. A ausência da
absorção característica de um grupo funcional é usada como
evidência da sua ausência na estrutura. Por exemplo, a ausência de
absorção entre 1850 e 1540 cm-1 excluí estruturas contendo C=O. Por
outro lado, a presença de um grupo deve ser confirmada por outra
banda. Ex: A banda de C=O de RCH=O é confirmada pela presença da
banda de CH=O .
2- A ausência de bandas fortes na região 900-600 cm-1 indica
ausência de anéis aromáticos. Estes produzem bandas intensas de
deformação (C-H e do anel) que pode ser usados na determinação do
padrão da substituição no anel (confirmação de C-H Ar em ca. 3030
cm-1).
Bandas de deformação fora de plano de benzenos substituídos
3- A região intermediária, 1300-900 cm-1 é conhecida como
região de “impressão digital” do composto. É uma região complexa
(diversas deformações),característica do composto, e é muito
importante na determinação da sua estrutura. Ex: é possível
identificar um álcool ou um fenol por duas bandas OH em ca. 3500-
3300 cm-1 e C-C-O em 1260-1000 cm-1?
4- Para cada ligação ou grupo funcional, é reportada uma faixa
de freqüências devido aos efeitos dos seguintes fatores sobre a
vibração: Fatores estruturais, incluindo efeitos indutivo, de
ressonância, de massa (do resto da molécula), e estéricos; Estado
físico da amostra (gasoso, líquido puro, solução, sólido como
Substituinte
292
filme, ou como pastilha de KBr); Concentração (interações dipolo-
dipolo e ligações de H); Interações soluto-solvente (CCl4, CS2,
CHCl3).
Assim, dois espectros podem ser comparados se foram feitos sob
as mesmas condições (estado físico, concentração, solvente, etc.).
É uma boa prática fixar as condições experimentais de análise, para
posterior comparação. A seguir alguns exemplos dos efeitos das
condições experimentais sobre o valor de ν:
O grupo OH de 4-hidróxi-acetofenona tem bandas em 3600 cm-1 (OH
livre) e 3100 cm-1 (OH associado) em CCl4, e líquido puro,
respectivamente. νC=O de RCO-G são: 1869, 1815, 1760, 1695-1650 e
1720-1690 cm-1, para G = F, Cl, OH (indutivo), NH2 e SR
(ressonância), respectivamente. Em CS2, as duas formas de
benzalacetona (Ph-CH=CHCOCH3) tem νC=O = 1699 e 1674 cm-1. As γ (5)
e δ (6) lactonas tem νC=O = 1795-1760 e 1750-1735 cm-1,
respectivamente.
10. Bibliografia
ANDREI, C. C. et al. Da Química Medicinal à Química
Combinatória e Modelagem Molecular: um curso prático. São Paulo:
Manole, 2003.
LIDE, D. R. Handbook of Chemistry and Physics. 75. ed.
Florida: CRC Press,
1994.
SOARES, B. G. et alli. Química Orgânica: Teorias e Técnicas de
Preparação, Purificação e Identificação de Compostos Orgânicos. Rio
de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
THE MERCK INDEX: AN ENCYCLOPEDIA OF CHEMICALS AND DRUGS. 9.
ed. USA: Merck & Co., Inc., 1976.
VOGEL, A. I. Química Orgânica: análise orgânica qualitativa.
2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1988. 3v.
TABELAS E TEORIA BÁSICA DE ESPECTROMETRIA
A ESPECTROMETRIA
1- Definição e conceitos importantes
A espectrometria é um conjunto de recursos que nos
permite identificar a estrutura das partículas que constituem as
substâncias. Atualmente existem tecnologias tão avançadas que se
torna possível descrever com precisão a estrutura exata de uma
molécula. Os equipamentos modernos permitem detectar os tipos de
elementos presentes no composto, a quantidade de cada um deles, a
posição tridimensional de cada átomo e muito mais. Esses aparelhos
funcionam basicamente a partir de feixes de onda eletromagnética
incidentes sobre uma amostra do composto, que então, absorve
energia em determinados comprimentos de onda. Os valores da energia
e dos comprimentos de onda absorvidos são detectados no aparelho e
transformados em um gráfico no computador. É então pela análise
desse gráfico que se determina a estrutura da molécula.
Alguns termos básicos devem ser conhecidos:
Comprimento de onda (l) - Distância medida ao longo
a linha de propagação entre dois pontos equivalentes que estão em
fases adjacentes da onda.
293
Frequência (u) - Número de ciclos por unidade de
tempo.
Transmitância (T) - Razão entre a energia radiante
transmitida por uma substância e a energia radianteincidente nessa
substância: T = Et/Ei
Absorbância ou Absorvância (A) - log (1/T)
Absortividade molar (a) - Relação descrita pela
absorbância dividida pelo produto da concentração C da substância
(amostra) e o comprimento óptico (c) percorrido pela radiação: a =
A/(C . c )
2- A absorção de energia
Radiação Comprimento de
onda
Energia
(kcal/mol)
Efeito causado nas
partículas
Raio Gama < 120 nm > 286 -----
UV no vácuo 100 - 200 nm 286 - 83 Transição
eletrônica
UV próximo 200 - 380 nm 83 - 36 Transição
eletrônica
Luz visível 380 - 800 nm 83 - 36 Transição
eletrônica
Infravermelho 8 - 300 mm 36 - 01 Vibração e deformação
Microondas 1 cm 10-4 Rotação
Radiofrequência metros 10-6 Acoplamentos de
spins
4- Espectrometria no Ultravioleta
Quando a radiação eletromagnética da região do UV passa
através de um composto que tem ligações múltiplas (duplas e
triplas), uma parcela da radiação é, usualmente absorvida pelo
composto. A quantidade de radiação absorvida depende do comprimento
de onda da radiação e da estrutura do composto. A absorção ocorre
pela subtração de energia do feixe de radiação provocada pela
excitação dos elétrons de orbitais de baixa energia para orbitais
de energia mais elevada. A espectrometria no UV, portanto, provocam
transições eletrônicas. Logo, para que um composto possa ser
detectado com radiações na região do UV, é necessário que esse
composto possua elétrons capazes de serem excitados, ou seja,
elétrons pi ou elétrons livres (não-ligantes). Os elétrons sigma
não podem ser excitados, porque a transição de elétrons de uma
ligação sigma acarretaria a quebra da ligação e, consequentemente,
a perda da estrutura característica do composto.
4.1) O gráfico de absorção:
A energia absorvida por uma substância é quantizada e
característica dessa substância, ou seja, ocorre em certos valores
específicos. Assim, espera-se, num gráfico de comprimento de onda
(x) em função da absorvância (y), picos lineares de maior
intensidade de absorção. Entretanto, devido a outras absorções
simultâneas, surgem bandas espectrais no gráfico. Na ilustração
abaixo vemos os picos de maior absorção (em vermelho), que são
294
aqueles pontos nos quais ocorreram as transições eletrônicas.
Porém, as energias absorvidas nas rotações, vibrações e deformações
das partículas também aparecem no gráfico, e por isso surgem
bandas, em linhas contínuas geradas por integração da função.
Quanto menor for a diferença entre o estado fundamental e o
excitado, menor será a energia necessária para a transição
eletrônica e maior será o comprimento de onda. Veja um exemplo de
espectro no UV obtido a partir do 2,5-dimetil-hexadieno-2,4:
A posição da absorção corresponde ao comprimento de onda
da radiação necessário para a transição eletrônica e a intensidade
da absorção depende da probabilidade de interação entre a radiação
e o sistema eletrônico. Depende também da diferença entre o estado
fundamental e o estado excitado da partícula. A probabilidade da
transição ocorrer é diretamente proporcional ao quadrado do momento
de transição (equivale ao momento de dipolo). O momento de
transição é proporcional à variação da distribuição de carga
durante a excitação. Absorções fortes (E > 104) são acompanhadas de
grande variação no momento de transição, o que não ocorre nas
absorções fracas (E < 103). As transições de baixa probabilidade são
chamadas transições proibidas, e são aquelas que não criam um
momento de dipolo considerável entre o estado fundamental e o
estado excitado. No entanto, elas podem ocorrer, gerando pequenos
ombros no gráfico, ou picos de intensidade muito baixa.
Para se medir a quantidade de energia luminosa absorvida
em cada comprimento de onda, na região do UV, usam-se instrumentos
denominados espectrômetros. Nestes instrumentos, um feixe de luz é
dividido em dois: uma das metades do feixe passa através de uma
célula transparente que contém a solução do composto que será
analisado e a outra metade do feixe passa através de outra célula,
contendo apenas o solvente que está sendo utilizado. O instrumento
opera de modo a fazer uma comparação entre as intensidades dos dois
feixes em cada comprimento de onda da região. O instrumento dá a
resposta na forma de um gráfico no computador, relacionando
comprimento de onda e absorvância: o espectro de absorção.
Os espectros de absorção no UV mostram bandas de absorção
geralmente largas, pois cada nível de energia eletrônica está
associado a subníveis de rotação e vibração. Assim, as transições
dos elétrons podem ocorrer a partir de um entre vários estados de
vibração e de rotação de um nível de energia eletrônica para um
entre diversos estados de vibração e de rotação do nível energético
mais elevado.
295
OBS: Na região do vísivel também ocorrem transições
eletrônicas, porém, essa parte da espectrometria está melhor
detalhada no capítulo de complexos, que são, em sua maioria,
compostos coloridos, pois as transições que ocorrem nestes
compostos absorvem comprimentos de onda nessa região do espectro.
4.2) Cálculos teóricos de absorção
A partir da estrutura molecular da substância é possível
prever, com pequena margem de erro, o seu máximo de absorção (l
max), ou seja, o comprimento de onda máximo absorvido pelo composto.
Antes de prosseguir, porém, devemos conhecer alguns conceitos
fundamentais:
• Grupo Cromóforo - Grupo insaturado covalente, responsável
pela absorção.
• Grupo Auxócromo - Grupo saturado que, quando ligado ao
cromóforo, altera o valor do comprimento de onda e/ou a
intensidade da absorção necessárias para a transição
eletrônica. Essas alterações podem constituir um:
1- Deslocamento Batocrômico - deslocamento da absorção para um l
maior;
2- Deslocamento Hipsocrômico - deslocamento da absorção para um l
menor;
3- Efeito Hipercrômico - aumento da intensidade da absorção;
4- Efeito Hipocrômico - diminuição da intensidade da absorção.
Na estrutura de uma molécula a ser analisada no UV,
consideramos diversas partes especiais, às quais se atribuem
valores aproximados de l max. Para efetuar um cálculo de l max,
primeiramente identifica-se o cromóforo principal da molécula, isto
é, aquela parte da cadeia que possui o maior número de duplas
conjugadas e/ou grupamentos funcionais. Tudo aquilo que estiver
ligado ao cromóforo principal será tratado como "incremento".
Assim, temos tabelas de valores de l max para alguns cromóforos mais
comuns. Esses valores são chamados "valores base". Os alcenos e
dienos não-conjugados têm, em geral, máximo de absorção abaixo de
200 nm, enquanto as moléculas que possuem ligações múltiplas
conjugadas têm máximo de absorção geralmente acima de 200 nm. Isso
significa que em compostos de duplas conjugadas a absorção de
energia é menos intensa, já que o comprimento de onda é maior
(lembre-se que e e l são grandezas inversamente proporcionais).
Cromóforo principal Valor base (nm)
Benzeno (Ar) 255
Ar - COR 246
Ar - CHO 250
Ar - COOH 253
Ar - COOR 253
*dieno homoanular 253
*dieno heteroanular 214
* Dienos homoanular é um dieno conjugado dentro de um
mesmo anel e dieno heteroanular é um dieno conjugado com cada dupla
em um anel diferente.
296
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos no Ar-
COG (G é um grupamento qualquer ligado ao oxigênio):
Incremento l max
-OH, -OR o- m- +07
p- +25
-O- (oxiânion) o- +11
m- +20
p- +78
-Cl o- m- 0p- +10
-Br o- m- +02
p- +15
-NH2 o- m- +13
p- +58
-NHCOR o- m- +20
p- +45
-NHR p- +73
-NR3 o- m- +20
p- +85
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos de um dieno
conjugado:
Incremento l max
grupo alquila / resíduo de anel* +05
ligação dupla em extensão de conjugação** +30
dupla ligação exocíclica*** +05
dieno conjugado homoanular +39
-OR +06
-SR +30
-Cl, -Br +05
-NR2 +60
* Qualquer cadeia carbônica saturada (grupamento alquila)
ligada ao cromóforo principal, não importando o tamanho desse
grupamento, tem o mesmo valor de incremento (+5 nm). No caso de
anéis, esses grupamentos são chamados de resíduos de anel, e também
têm o mesmo valor de incremento (+5 nm).
** Qualquer dupla ligação ligada ao cromóforo principal,
sendo conjugada com este, é considera uma extensão da conjugação
desse cromóforo e tem valor de incremento +30 nm.
297
*** Dupla ligação exocíclica é uma dupla que utiliza um
carbono do cromóforo principal mas não está dentro do anel do
cromóforo. Imagine a molécula de ciclo-hexanona. A dupla =O é
exocíclica ao anel, pois utiliza um carbono desse anel, mas está
dentro dele.
Quando o espectro no UV é feito utilizando a amostra
em determinados solventes, é preciso acrescentar um valor no
cálculo de l max (correção do solvente):
Solvente Correção (nm)
Etanol 0
Metanol 0
Dioxano +05
Clorofórmio +01
Éter +07
Água -08
Hexano +11
Ciclo-hexano +11
Vejamos dois exemplos para cálculos teóricos de absorção (confira
com os valores nas tabelas dadas):
Outro grupo cromóforo importante é a carbonila,
especialmente quando se encontra conjugada com uma dupla ligação.
Esse sistema é chamado a,b-insaturado.
Cromóforo principal Valor base (nm)
Cetonas acíclicas a,b-insaturadas 215
Cetonas cíclicas a,b-insaturadas (em anéis de 6
átomos) 215
Cetonas cíclicas a,b-insaturadas (em anéis de 5
átomos) 202
Aldeídos a,b-insaturadas 210
Ácidos carboxílicos e ésteres a,b-insaturadas 195
298
Veja abaixo uma tabela de valores para incrementos de uma
carbonila em sistema conjugado:
Incremento l max
ligação dupla em extensão de conjugação +30
grupo alquila / resíduo de anel a +10
b +12
g e maior +18
dupla ligação exocíclica +05
dieno conjugado homoanular +39
-OH a +35
b +30
d +50
-NR2 b +95
-Cl a +15
b +12
-Br a +25
-SR b +85
-OAc a,b,d +06
Veja um exemplo de cálculo de absorção envolvendo o
cromóforo carbonila:
4- Espectrometria no Infravermelho
Os compostos orgânicos também absorvem radiações na
região do infravermelho (IV) do espectro . A radiação infravermelha
não tem energia suficiente para excitar os elétrons e provocar
transições eletrônicas, mas ela faz com que os átomos ou grupos de
átomos vibrem com maior rapidez e com maior amplitude em torno das
299
ligações covalentes que os unem. Estas vibrações são quantizadas e,
quando ocorrem, os compostos absorvem energia IV em certas regiões
do espectro. Nas vibrações, as ligações covalentes comportam-se
como se fossem pequenas molas unindo os átomos. Quando os átomos
vibram, só podem oscilar com certas frequências, e as ligações
sofrem várias deformações. Quando a ligação absorve energia, ela
sofre alterações e, ao retornar ao estado original, libera essa
energia, que então é detectada pelo espectrômetro.
As moléculas podem vibrar de muitos modos. Dois átomos
unidos por uma ligação covalente podem efetuar vibrações de
estiramento dessa ligação, como se fosse uma mola que estica e
retorna ao tamanho original. Três átomos também podem efetuar
diferentes vibrações de estiramento e alteração dos ângulos de
ligação, em vários planos do espaço. No entanto, as vibrações de
estiramento são as mais importantes.
4.1) Os picos de absorção no infravermelho:
A frequência de uma vibração de estiramento no espectro
de IV pode se relacionar com dois fatores: as massas dos átomos
ligados (átomos mais leves vibram com frequências maiores) e a
rigidez relativa da ligação. As ligações triplas vibram com
freqüências mais altas que as duplas e estas, com frequências mais
altas que as simples. Isto porque, enquanto uma ligação simples,
sendo mais maleável, permite um estiramento mais longo, as duplas e
têm menor capacidade de alongar-se. Logo, enquanto uma ligação
simples sofre um estiramento máximo, as duplas e triplas sofrem
estiramentos menores, porém, mais vezes, num mesmo intervalo de
tempo.
Nem todas as vibrações moleculares provocam absorção de
energia no IV. Para que uma vibração ocorra com absorção de energia
no IV o momento de dipolo da molécula deve se alterar quando a
vibração se efetua. Assim, quando os quatro átomos de hidrogênio do
metano vibram simetricamente, o metano não absorve energia no IV.
As vibrações simétricas das ligações carbono-carbono duplas ou
triplas do eteno e do etino não provocam, também, absorção de
radiação no IV. As absorções vibracionais podem estar fora da
região de medida de um espectrômetro particular e também podem
estar tão próximas que os picos se acumulam uns sobre os outros.
Nesses casos é muito difícil interpretar esses sinais, já que eles
se aglomeram, formando o que chamamos de harmônicos. É possível
observar nos espectros de IV os harmônicos das bandas de absorção
fundamentais, embora estes harmônicos apareçam com intensidades
300
muito reduzidas. Também aparecem no espectro bandas de combinação e
bandas de diferença. Como o espectro de IV têm muitos picos de
absorção, a possibilidade de dois compostos terem o mesmo espectro
é praticamente inexistente. Por isso, o espectro de IV é a
"impressão digital" da molécula.
Veja, no exemplo abaixo, o espectro da molécula de
butirolactona (um éster cíclico). No gráfico podemos ver alguns
picos, correspondentes às diversas deformações das ligações C-H, C-
O e C=O (as deformações das ligações C-C não aprecem porque
absorvem energia fora da faixa do IV). Também podemos notar alguns
harmônicos, localizados entre 1.000 e 900 cm-1.
O espectro acima foi interpretado com base numa tabela de
valores de absorção no infravermelho.
Não é possível desenvolver-se uma técnica de
interpretação completa dos espectros de IV, mas podemos reconhecer
a presença de picos de absorção provenientes de vibrações de grupos
funcionais característicos. Saiba, no entanto, que, somente com um
espectro de infravermelho não se pode determinar a estrutura
molecular de um composto. O IV nos fornece apenas parte das
informações, indicando quais os principais grupos funcionais
presentes.
4.2) Identificação de bandas características:
Algumas vibrações geram bandas e picos característicos no
espectro de IV, sendo facilmente identificados com um pouco de
prática. Veja abaixo as formações características de algumas dessas
vibrações no espectro de IV:
301
A hidroxila associada, isto é, que efetua ligação de
hidrogênio, aparece como uma banda forte e larga, muito
arredondada, numa região por volta de 3.500 cm-1. O composto pode
ser um álcool, um fenol ou um ácido carboxílico, por exemplo.
Quando a hidroxila está na forma livre, isto é, sem efetuar ligação
de hidrogênio,aparece como uma banda mais estreita e não muito
arredondada. O composto nesse caso encontra-se na fase gasosa ou
bastante diluído, pois isso não permite que se formem ligações de
hidrogênio.
As carbonilas dão picos muito intensos e geralmente
estreitos, na região entre por volta de 1.800 - 1.700 cm-1. Os
compostos alifáticos possuem muitas ligações C-H, que geram bandas
com picos múltiplos, na região por volta de 2.900 cm-1. Já nos
aromáticos, as ligações C-H existem em menor quantidade (devido às
insaturações), e geram bandas, também com picos múltiplos, porém,
de menor intensidade, numa região próxima, por volta 3.000 cm-1. As
ligações C=C de anéis aromáticos absorvem radiação numa região por
volta de 1.600 - 1450 cm-1. Nos compostos aromáticos podemos também
identificar uma banda de picos múltiplos por volta de 690 - 800 cm-
1
, correspondente a deformações angulares de átomos de hidrogênio
adjacentes no anel aromático.
5- Espectrometria de Massa
Simplificadamente, o espectro de massa funciona da
seguinte maneira: Um feixe de elétrons de alta energia bombardeia a
amostra, em fase gasosa, e o aparelho detecta e registra os
fragmentos gerados pelo impacto dos elétrons. Daí, a partir do
valor da massa molecular de cada um dos fragmentos, montamos a
molécula, como um quebra-cabeça. Os fragmentos gerados podem ser
íons, radicais ou moléculas neutras. No aparelho são detectados
302
apenas os fragmentos catiônicos (íons positivos), chamados íons
moleculares, de carga unitária. Estes íons possuem alta energia e
são capazes de romper ligações covalentes, fragmentando-se em
pedaços menores. A partir de um fragmento, portanto, podem surgir
vários outros fragmentos menores.
Num gráfico de espectro de massa aparecem picos de
intensidades variáveis, cada pico correspondendo a íons com uma
razão m/z. A intensidade do pico sugere a abundância relativa de
cada íon molecular. É importante deixar claro uma coisa:
Frequentemente aparecem no gráfico vários picos, de intensidade
muito baixa. A grande maioria deles não deve ser considerada na
análise do espectro, pois correspondem a fragmentos que não
conseguimos identificar. Só devemos considerar picos de intensidade
relativamente alta. O pico de maior massa molecular frequentemente
corresponde à própria molécula, porém, sem um elétron - esse pico é
chamado pico base. A intensidade do pico depende da estabilidade do
íon molecular. São mais estáveis aqueles íons que apresentarem um
sistema de ressonância em sua estrutura.
Veja abaixo o espectro de massa da benzamida. Para
justificar os fragmentos obtidos temos que propor diversas quebras
na molécula, de modo que resultem íons cuja massa corresponda
àqueles picos.
TABELA DE VALORES DE ABSORÇÃO NO INFRAVERMELHO PARA COMPOSTOS
ORGÂNICOS
303
1) 3.600 - 2.700 cm-1
A absorção nesta região é associada às vibrações de
deformação axial nos átomos de hidrogênio ligados a carbono,
oxigênio e nitrog6enio (C-H, O-H e N-H). Cuidados devem ser tomados
quanto à interpretação de bandas de fraca intensidade, uma vez que
estas podem ser harmônicas (2 vezes a frequência de bandas fortes
na região de 1.900 - 1550 cm-1).
Número de
onda
(cm-
1)
Grupo
funcional Comentários
3.640 -
3.610 O-H (livre)
Banda fina, mais forte quando
medida em solução diluída.
3.600 -
3.200
O-H
(associado)
3.600 - 3.500: Banda fina
resultante de ligações
diméricas.
3.400 - 3.200: Banda forte,
larga, resultante da
associação polimérica. A
intensidade da banda depende
da concentração.
3.200 -
2.500 O-H (quelato)
Ligação de hidrogênio
intramolecular com C=O, NO2:
Banda larga, de intensidade
normalmente fraca e a
frequência é inversamente
proporcional à força da ligação.
3.500 -
3.070 N-H
a) NH2 livre em aminas primárias
- aminas primárias
alifáticas: ~ 3.500
- aminas aromáticas: ~ 3.400
b) NH2 livre em amidas: 3.500 -
3.400
c) NH2 associado em aminas
primárias
- aminas alifáticas e
aromáticas: 3.400 - 3.100
d) NH2 associado em amidas: 3.350
- 3.100
e) NH livre em aminas
secundárias:
- aminas primárias
alifáticas: 3.350 - 3.300
- aminas aromáticas: ~ 3.450
- pirróis, indóis: ~ 3.490
f) NH livre em amidas: 3.460 -
3.420
g) NH associado em aminas
secundárias: 3.400 - 3.100
h) NH associado em amidas: 3.320
- 3.070
304
~ 3.300 C-H de
alcinos
Confirmado pela presença de uma
banda de
2.260 - 2.100 (C C).
3.080 -
3.020
C-H de
alcenos
~ 3.030 C-H de
aromáticos Muitas vezes obscurecida.
2.960 -
2.850
C-H
alifáticos
CH3, CH2 (carbonos prim. e sec.):
2.960 - 2.850
CH (carbono terc.): 2.890 - 2.880
2.820 e
2.720
C-H de
aldeídos
2) 2.300 - 1.900 cm-1
A absorção nesta região é associada às vibrações de
deformação axial de triplas ligações e duplas acumuladas.
Número de
onda
(cm-
1)
Grupo funcional Comentários
2.275 -
2.250
N=C=O
(isocianatos) Banda de forte intensidade.
2.260 -
2.200 C N (nitrilas)
a) Nitrilas conjugadas:
2.235 - 2.210
b) Nitrilas não conjugadas:
2.260 - 2.240
2.260 -
2.100 C C
Pode estar ausente em
acetilenos simétricos.
~ 2.260 N N (sais de diazônio)
2.175 -
2.140
SC N
(tiocianatos)
2.160 -
2.120 -N=N=N (azidas)
~ 2.150 C=C=O (cetenas)
2.140 -
1.990
N=C=S
(isotiocianatos) Banda larga e intensa.
~ 1950 C=C=C (alenos)
Duas bandas para alenos
terminais ou ligados
a grupos de efeito -I.
3) 2.300 - 1.900 cm-1
A absorção nesta região é associada às vibrações de
deformação axial de duplas ligações (não acumuladas) e deformações
angulares de N-H e -NH2. Na maioria dos casos, a posição da banda
pode ser alterada por efeitos de conjugação ou efeito indutivo dos
grupos substituintes.
305
Número de
onda
(cm-
1)
Grupo
funcional Comentários
1.820 e
1.760 C=O de anidridos
Aparecem duas bandas,
correspondentes aos dois
grupos C=O.
1.815 -
1.790
C=O de cloreto
de acila
Conjugação desloca a banda
cerca de 20 cm-1 para
frequência mais baixa.
1.760 e
1.710
C=O de ác.
carboxílicos
O monômero tem banda de ~ 1.760
e o dímero, ~ 1.710.
Às vezes não se observa essa
banda em solventes
polares.
1.750 -
1.740 C=O de ésteres
Absorção sujeita a efeitos de
conjugação e de
efeito indutivo.
1.740 -
1.720 C=O de aldeídos
Absorção sujeita a efeitos de
conjugação e de
efeito indutivo.
1.720 -
1.700 C=O de cetonas
Somente para cetonas acíclicas
(dialquil-cetonas).
1.700 -
1.630 C=O de amidas
a) Amidas não substituídas
- livres: ~ 1.690
- associadas: ~ 1.650
Efeito de conjugação ou efeitos
indutivos causam
deslocamento de cerca de 15 cm-1
para frequência
mais alta. Em amidas cíclicas a
frequência é aumentada
de cerca de 40 cm-1 por unidade de
decréscimo do
tamanho do anel.
b) Amidas N-substituídas: 1.700
- 1.630
c) Amidas N,N-substituídas:
1.670 - 1.630
Apresentam uma única banda.
1.675 -
1.645 C=C
Intensidade usualmente de fraca
a média. As bandas
estão ausentes em alcenos
simétricos. A presença de
uma ou duas bandas adicionais de
1.650 - 1.600 ocorre
em alcenos conjugados.
1.600,
1.580,
1.500 e
1.450
C=C dearomáticos
Vibrações de núcleos
aromáticos. A banda de 1.580
é intensa quando o grupo fenila é
conjugado com
306
insaturações ou mesmo ligado a
átomos com pares de
elétrons livres. A banda de 1.450
geralmente é
obscurecida e a banda de 1.500 é
normalmente mais
forte.
1.590 -
1.550 NH2
Banda média a forte,
correspondente à deformação
angular simétrica no plano.
1.560 e
1.350 NO2
Bandas fortes de deformação
axial assimétrica e
simétrica, respectivamente. Ambas
estão sujeitas a
efeitos de conjugação. (a banda
cai -30cm-1).
1.580 - 1495 N-H
Banda fraca de deformação
angular, muitas vezes
obscurecida pela banda de 1.560
de aromáticos. Esta
banda também é usada para
caracterizar aminas e
amidas secundárias.
4) 1.500 - 600 cm-1
A absorção nesta região é associada a diversos tipos de
vibração: deformações axiais e angulares de ligações C-O, C-N, C-C
e C-X.
Número de
onda
(cm-
1)
Grupo
funcional Comentários
1.470 -
1.430 CH2
Deformação angular de -(CH2)n-
sendo que para
n > 3 a banda aparece na região
por volta de 720
(deformação angular de cadeia).
~ 1.420 CH2 adjacente a
carbonila Deformação angular.
1.390 -
1.370 CH3
Deformação angular. Em caso de
dimetil geminal,
a banda aparecerá como um
duplete.
1.400 - 500 C-X (X = halogênio)
a) C-F: 1.400-1.000
b) C-Cl: 800-600
c) C-Br: 750-500
d) C-I: ~ 500
1.350 -
1.310 e
1.140 -
SO2 (sulfona)
Bandas intensas de deformação
axial assimétrica
e simétrica, respectivamente.
307
1.200
1.420 e
1.300 -
1.200
C-O de ác.
carboxílicos
Aparecem duas bandas de
deformação axial,
devido ao acoplamento da
deformação angular
no plano da ligação O-H e a
deformação axial
de C-O.
1.300 -
1.050 C-O de ésteres
a) Ésteres saturados: 1.300 -
1.050
b) Ésteres insaturados e
aromáticos: 2 bandas
(1.300 - 1.250 e 1.200 - 1.050)
1.275 -
1.020 C-O de éteres
a) Éteres alifáticos: 1.070 -
1.150
b) Éteres aromáticos e
vinílicos: 2 bandas
(1.200 - 1.275 e 1.020 - 1.075)
1.200 -
1.050
C-O de álcoois e
fenóis
a) Álcool prim: ~ 1.050
b) Álcool sec: ~ 1.100
a) Álcool terc: ~ 1.150
a) Fenóis: ~ 1.200
1.340 - 1250 C-N de
aromáticos
1.280 -
1.180
C-N de
alifáticos
1.060 -
1.040 S=O (sulfóxido)
Esta banda é deslocada de 10 a
20 cm-1 para
frequência mais baixa por efeito
de conjugação.
Grupos metileno na posição alfa
dão origem a uma
banda de ~ 1.415.
990 e 910 RCH=CH2
Deformação angular fora do
plano.
970 - 960 -CH=CH-
~ 920 O-H
Banda larga (deformação
angular) de média
intensidade, devido à deformação
angular fora
do plano da C=O de ác.
carboxílicos.
895 - 885 R2C=CH2
840 - 790 R2C=CHR C-H fora do plano.
730 - 675 -CH=CH- C-H fora do plano.
770 - 730 e
710 - 690 Anel aromático
Deformação angular de 5 H
adjacentes
(anéis monossubstituídos).
770 - 735 Anel aromático Deformação angular de 4 H
308
adjacentes
(anéis orto-substituídos). Outros
exemplos:
piridina orto-substituída ,
naftalenos não
substituídos em um dos anéis.
810 - 750 e
710 - 690 Anel aromático
Deformação angular de 3 H
adjacentes
(anéis meta-substituídos e 1,2,3-
trissubstituídos).
Outros exemplos: naftalenos
monossubstituídos na
posição alfa.
860 - 800 Anel aromático
2 H adjacentes (anéis para-
substituídos e
1,2,3,4-tetrassubstituídos).
900 - 860 Anel aromático
H isolado: pode estar presente
no benzeno
meta-dissubstituído, além de
outros aromáticos.
A banda tem intensidade fraca.
790 - 730 Grupos etila e propila
Deformação angular ("rocking").
a) Etila: 790 - 720
b) Propila: 745 - 730
~ 720 -(CH2)n- (para
n > 3)
Deformação angular de cadeia
("rocking").
6- Espectrometria de Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
O núcleo de certos elementos e isótopos comportam-se como
se fossem ímãs girando em torno de um eixo. Têm esta propriedade
alguns núcleos como o do hidrogênio comum e o do carbono 13. Quando
se coloca um composto contendo átomos de 1H ou de 13C num campo
magnético muito forte e simultaneamente se irradia o composto com
energia eletromagnética, os núcleos podem absorver energia num
processo denominado ressonância magnética. A radiação utilizada no
espectrômetro de RMN é a radiofrequência (rf), de comprimento de
onda altíssimo (da ordem de metros) e baixa energia (da ordem de 10-
6
kcal/mol). A absorção desta radiação pelos núcleos desses
elementos é quantizada e produz um espectro característico. Esta
absorção não ocorre a menos que a frequência da radiação e a
intensidade do campo magnético tenham valores bem definidos. Os
espectrômetros permitem aos químicos medir a absorção de energia
pelos núcleos de 1H e de 13C, além do núcleo de outros elementos que
discutiremos mais adiante. Estes instrumentos trabalham com um
campo magnético muito forte, capaz de provocar até a morte de uma
pessoa que tenha uma ponte de safena e trabalhe muito perto do
aparelho de RMN. Vamos nos ater inicialmente à espectrometria de
ressonância magnética de prótons (RMN 1H).
Os aparelhos de RMN 1H em geral utilizam ímãs
supercondutores com campos magnéticos muito intensos e pulsos
curtos de radiação de radiofrequência, que provocam a absorção de
energia pelos núcleos de 1H, todos ao mesmo tempo, e ocorre
ressonância. A excitação dos núcleos provoca um fluxo de pequena
309
corrente elétrica numa bobina receptora que envolve a amostra. O
instrumento então amplifica a corrente exibe o sinal (um pico ou
uma série de picos) no computador, que então efetua a promediação
dos sinais e depois um cálculo matemático (transformada de
Fourier), exibindo um espectro legível.
6.1) A origem do sinal:
Assim como os elétrons possuem o número quântico spin
(S), os núcleos de 1H e de alguns isótopos também possuem spin. O
núcleo do hidrogênio comum é como o elétron: seu spin é 1/2 e pode
assumir dois estados: +1/2 e -1/2. Isto significa que o núcleo do
hidrogênio possui dois momentos magnéticos. Outros núcleos com
número quântico spin igual a 1/2 (veja mais sobre momento magnético
spin em Termos de Russel-Saunders), são os dos isótopos 13C, 19F e
31P. Elementos como 12C, 16O e 32S não têm spin (DS = 0) e por isso
não dão espectros de RMN. Há ainda núcleos com spin maior que 1/2.
Porém, vamos estudar apenas os espectros de 1H e de 13C, ambos com
DS = 1/2.
Como o próton tem carga elétrica, a rotação a rotação do
próton gera um pequeno momento magnético - momento cuja direção
coincide com a do eixo do spin. Este pequeno momento magnético
confere ao próton em rotação as propriedades de uma pequena barra
magnetizada. Na ausência de campo magnético externo, os momentos
magnéticos dos prótons de uma amostra estão orientados ao acaso.
Quando um composto contendo hidrogênios (portanto, prótons) é
colocado num campo magnético externo, os prótons só podem assumir
uma de duas orientações possíveis em relação ao campo magnético
externo. O momento magnético do próton pode estar alinhado
"paralelamente" ao campo externo, ou "antiparalelamente" ao campo.
estes dois alinhamentos correspondem aos dois estados de spin
mencionados anteriormente.
Como vemos, os dois alinhamentos do próton num campo
magnético não têm a mesma energia. Quando o próton está alinhado a
favor do campo (paralelamente) sua energia é mais baixa que a
energia quando está alinhadocontra o campo magnético
(antiparalelamente). Sem campo magnético não há diferença de
energia entre os prótons, e a diferença de energia gerada pelo
campo externo aplicado depende da intensidade desse campo. É
necessária certa quantidade de energia para fazer o próton passar
do estado de energia mais baixa para o estado de maior energia. No
espectrômetro de RMN 1H esta energia é proporcionada pela radiação
eletromagnética utilizada (radiofrequência). Quando ocorre esta
absorção dizemos que os núcleos estão em ressonância com a
radiação.
A primeira característica a realçar no espectro de RMN 1H
é a relação entre o número de sinais no espectro e o número de
tipos diferentes de átomos de hidrogênio no composto (veremos mais
adiante as diferenças entre os átomos de hidrogênio). O que é
importante na análise de um sinal no espectro não é a sua altura,
mas a área subentendida pelo pico. Estas áreas, quando medidas com
exatidão, estão entre si na mesma razão que o número de átomos de
hidrogênio que provocam cada sinal. Os espectrômetros medem
automaticamente estas áreas e plotam curvas denominadas curvas
integrais, correspondentes a cada sinal. As alturas das curvas
310
integrais são proporcionais às áreas subentendidas pelos sinais. A
resolução e nitidez dos espectros de RMN dependem da intensidade do
campo magnético utilizado. Assim, nos aparelhos que utilizam um
campo magnético de 7,04 tesla, a diferença de energia corresponde à
radiação eletromagnética de 300 MHz. Há instrumentos mais modernos
que operam com frequências de 600 e até 800 MHz.
6.2) O deslocamento químico:
Se os hidrogênios de uma molécula perdessem todos os seus
elétrons e fossem isolados dos outros núcleos, todos os eles
(prótons) absorveriam energia num campo magnético de intensidade
bem determinada, para uma dada frequência de radiação
eletromagnética. No entanto, não é essa a situação real. Numa
molécula, alguns núcleos de hidrogênio estão em regiões de
densidade eletrônica maior do que em outros; por isso, os núcleos
(prótons) absorvem energia em campos magnéticos de intensidades
ligeiramente diferentes. Os sinais destes prótons, assim, aparecem
em diferentes posições no espectro de RMN. Têm-se, como se diz,
deslocamento químico diferente. A intensidade do campo em que a
absorção ocorre depende sensivelmente das vizinhanças magnéticas de
cada próton. Estas vizinhanças magnéticas, por sua vez, dependem de
dois fatores: dos campos magnéticos gerados pelos elétrons em
movimento e dos campos magnéticos que provêm de outros prótons
vizinhos (acoplamentos de spins entre os núcleos de 1H).
A circulação dos elétrons de uma ligação sob a influência
de um campo magnético externo gera diminuto campo magnético (campo
induzido) que blinda o próton em relação ao campo externo. No
próton, o campo induzido se opõe ao campo externo. Isto quer dizer
que o campo magnético real que atua sobre o próton é menor do que o
campo externo. Um próton que está fortemente blindado pelos
elétrons não pode absorver a mesma energia que um próton de baixa
blindagem, num mesmo campo magnético externo. Um próton blindado
absorverá energia num campo externo de maior intensidade (ou em
frequências mais elevadas). O campo externo deve ser mais intenso
para compensar o efeito do pequeno campo induzido.
O grau de blindagem do próton pelos elétrons circulantes
depende da densidade eletrônica relativa em torno desse próton. A
densidade eletrônica em torno do próton, por sua vez, depende, em
grande parte, da presença de grupos eletronegativos. Quanto mais
próximo destes grupos "retiradores de elétrons", menos blindado
estará o próton. A deslocalização de elétrons (ressonância) também
contribui para a desblindagem do próton. Assim, prótons aromáticos
de anéis benzênicos não são blindados, e absorvem energia num campo
magnético de baixa intensidade. Em contrapartida, prótons ligados a
carbonos de duplas e triplas ligações possuem blindagem
relativamente alta, devido à alta densidade eletrônica das ligações
pi, e absorvem energia num campo magnético mais alto.
311
Os deslocamentos químicos são medidos na escala
horizontal do espectro, em Hertz (Hz), e normalmente exprimidos em
partes por milhão (ppm), devido a estes deslocamentos serem muito
pequenos em comparação com a intensidade do campo magnético
externo. Quanto mais para esquerda se localiza o sinal, menor é o
campo magnético sobre o núcleo. Estas posições são medidas em
relação à absorção dos prótons de um composto de referência, pois
não seria prático medir o valor real do campo magnético no qual
ocorre a absorção de energia. O composto de referência normalmente
utilizado é o tetrametilsilano (TMS). À amostra cujo espectro
esteja sendo levantado adiciona-se pequena quantidade de TMS e
toma-se o sinal dos 12 prótons equivalentes do TMS como o ponto
zero da escala. Veja abaixo a estrutura do TMS:
Há várias razões para a escolha do TMS como composto de
referência:
• O TMS tem 12 átomos de hidrogênio, e por isso, pequena
quantidade do composto provoca um sinal relativamente
forte.
• Uma vez que todos os seus átomos de hidrogênio são
equivalentes, há um único sinal, bem nítido.
• Como o silício é menos eletronegativo que o carbono, os
prótons do TMS estão em regiões de grande densidade
eletrônica. Por isso estão muito blindados e o sinal
ocorre numa região do espectro onde poucos átomos de
hidrogênio absorvem energia.
Assim, o sinal do TMS raramente interfere nos sinais de
outros prótons. Depois de o espectro ter sido levantado, pode-se
eliminar o TMS facilmente por evaporação.
químico de alguns hidrogênios (a ordem de Veja abaixo uma
tabela com os valores mais comuns para o deslocamento blindagem
decresce de cima para baixo):
Tipo de próton Deslocamento químico
Alquila primário R-CH3 0,8 - 1,0
Alquila secundário R-CH2-R 1,2 - 1,4
Alquila terciário R3CH 1,4 - 1,7
Alílico R2C=CR-CH3 1,6 - 1,9
Cetona R-CO-CH3 2,1 - 2,6
Benzílico ArCH3 2,2 - 2.5
Acetilênico RC CH 2,5 - 3,1
Iodeto de alquila RCH2I 3,1 - 3,3
Éter R-O-CH2-R 3,3 - 3,9
312
Álcool R-CH2OH 3,3 - 4,0
Brometo de alquila R-CH2Br 3,4 - 3,6
Cloreto de alquila R-CH2Cl 3,6 - 3,8
Vinílico R2C=CH2 4,6 - 5,0
Vinílico R2C=CHR 5,2 - 5,7
Aromático Ar-H 6,0 - 9,5
Aldeído R-COH 9,5 - 9,6
Hidroxila de álcool R-OH 0,5 - 6,0 *
Amínico R-NH3 1,0 - 5,0 *
Fenólico ArOH 4,5 - 7,7 *
Carboxílico R-COOH 10,0 - 13,0 *
• O deslocamento químico destes prótons varia com o tipo de
solvente utilizado, com a temperatura e com a concentração.
6.3) Identificação dos tipos de hidrogênio:
Hidrogênios Homotópicos - Numa mesma molécula podem
existir vários átomos de hidrogênio equivalentes, isto é, com o
mesmo deslocamento químico. Portanto, o sinal destes hidrogênios
cai na mesma posição do espectro de RMN. Dizemos que estes
hidrogênios são quimicamente equivalentes e são chamados
hidrogênios homotópicos. Imagine, por exemplo, a molécula de etano
(C2H6). O espectro de RMN 1H desta molécula daria um único pico - um
singleto. Mas como é que 6 hidrogênios podem dar apenas um sinal? É
porque todos estes hidrogênios do etano têm as mesmas propriedades
químicas. Por exemplo, se substituirmos qualquer um dos hidrogênios
por um grupo Z qualquer, teremos a mesma molécula C2H5Z, idêntica
tanto na estrutura geométrica e espacial quanto nas propriedadesfísico-químicas. Nós sabemos que no grupo metil (-CH3) todos os três
hidrogênios são equivalentes, pois existe a possibilidade de
rotação da ligação sigma. Assim, se substituirmos um hidrogênio
qualquer de cada um dos carbonos do etano por um grupo Z, teremos a
mesma molécula. Já na molécula de eteno (H2C=CH2) a ligação dupla
não permite o giro, e podemos formar dois compostos isômeros
diferentes (cis e trans) se substituirmos um hidrogênio de cada um
dos carbonos (veja mais detalhes em isomeria geométrica). Apesar
disso, a molécula é simétrica, isto é, existe um plano de simetria
em sua estrutura. Essa simetria faz com que existam hidrogênios
homotópicos, ou seja, que são interpretados como um único sinal.
Veja agora o seguinte exemplo:
Na molécula do 2-metilpropeno acima temos dois grupos de
hidrogênios homotópicos (em azul e em vermelho). Substituindo
313
qualquer um dos dois hidrogênios azuis por um bromo, temos a mesma
molécula: 1-bromo 2-metilpropeno. Também podemos substituir
qualquer um dos seis hidrogênios vermelhos por um bromo, e teremos
a mesma molécula: 3-bromo 2-metilpropeno. Assim, o 2-metilpropeno
dá dois sinais no espectro de RMN 1H: um correspondente aos
hidrogênios homotópicos azuis e outro correspondente aos
hidrogênios homotópicos vermelhos. Podemos dizer que os hidrogênios
são homotópicos porque possuem a mesma vizinhança, e o espectro de
RMN 1H não detecta diferenças químicas entre estes hidrogênios, já
que eles têm o mesmo grau de blindagem. A diferença entre os dois
sinais do 2-metilpropeno é o deslocamento químico dos dois grupos
de hidrogênios e o valor da curva integrais dos picos: a curva dos
hidrogênios azuis terá valor relativo 2 (dos dois prótons) e a
curva dos hidrogênios vermelhos terá valor relativo 6 (dos 6
prótons).
Hidrogênios Enantiotópicos e Diasterotópicos - Se a
substituição de cada um dos hidrogênios pelo mesmo grupo leva a
compostos que são enantiômeros, os dois átomos de hidrogênio são
enantiotópicos. Eles têm o mesmo deslocamento químico e dão apenas
um sinal no espectro. Veja o exemplo abaixo:
Os dois átomos de hidrogênio do brometo de etila são
enantiotópicos. O composto então dá dois sinais no espectro de RMN
1H: um correspondente aos três prótons do grupo metil (são
homotópicos) e outro correspondente aos dois prótons
enantiotópicos, que também são equivalentes.
Se a substituição de cada um dos hidrogênios pelo mesmo
grupo leva a compostos que são diasteroisômeros, os dois átomos de
hidrogênio são diasterotópicos (lembre-se que os diasteroisômeros
não formam par objeto-imagem). A identificação de hidrogênios
diasterotópicos em um composto é muito importante porque eles não
têm o mesmo deslocamento químico e dão sinais diferentes no
espectro, embora na maioria das vezes estes dois sinais estejam tão
próximos que torna-se difícil distinguí-los, a não ser que se
utilize um espectrômetro de alta frequência. Os hidrogênios
diasterotópicos, portanto, podem explicar o aparecimento de sinais
extras no espectro. Veja os exemplos abaixo:
314
6.4) O desdobramento do sinal:
Desdobramento do sinal é o fenômeno que ocorre graças às
influências magnéticas, sobre os átomos de hidrogênio responsáveis
pelo sinal, de outros átomos de hidrogênio adjacentes. Este efeito
é conhecido como acoplamento spin-spin. O acoplamento de um
hidrogênio com outro gera um pico duplo (dupleto), o acoplamento
entre três hidrogênios gera um pico triplo (tripleto) e assim por
diante. Sinais com múltiplos picos (mais de 7 ou 8) podem ser
chamados multipletos.
Os efeitos do acoplamento spin-spin são transferidos principalmente
pelos elétrons de ligação e não são usualmente observados se os
prótons acoplados estiverem separados por mais de três ligações
sigma.
Não se observa desdobramento de sinal de prótons
equivalentes (homotópicos) ou enantiotópicos, ou seja, não há
desdobramento de sinal entre prótons com mesmo deslocamento
químico. Assim, por exemplo, no espectro do etano (CH3CH3) há apenas
um pico (singleto), correspondente aos seis átomos de hidrogênio
homotópicos. Veja alguns exemplos de análise de espectros de RMN 1H:
1) PROPANOL
315
O grupo OH age como um grupo "retirador de elétrons", ou
seja, devido à sua alta eletronegatividade, a densidade eletrônica
da molécula está deslocada a favor desse grupo, e o efeito indutivo
na cadeia segue também esse sentido. Assim, da esquerda para a
direita, os hidrogênios têm a densidade eletrônica diminuída, o que
explica o deslocamento químico desses prótons no espectro ao lado
(lembre-se de que quanto maior a blindagem dos prótons, mais para a
direita do espectro será o seu deslocamento químico).
Os H vermelhos são homotópicos, portanto, têm o mesmo
deslocamento químico. Eles acoplam-se entre si e com os H azuis,
que estão separados dos hidrogênios em vermelho por menos de quatro
ligações. O sinal é desdobrado num tripleto, porém, esse
desdobramento é devido somente ao acoplamento com os H azuis); o
acoplamento entre os hidrogênios homotópicos gera apenas um aumento
da intensidade do pico (a curva integral tem valor 3). Pode-se
generalizar que o número de picos no sinal de um próton é igual ao
número de prótons adjacentes + 1.
Seguindo o mesmo raciocínio feito acima, temos que:
• Os H azuis são homotópicos. Eles acoplam com os H
vermelhos e com os H verdes, formando um sexteto de curva
integral 2.
• Os H verdes são homotópicos. Eles acoplam com os H azuis,
formando um tripleto de curva integral 2. Pela teoria, os
H verdes deveriam acoplar com o H da hidroxila, pois a
distância é de três ligações. No entanto, hidrogênios de
hidroxilas muitas vezes, mesmo estando separado de outro
hidrogênio por menos de quatro ligações sigma, não sofrem
acoplamentos com outros prótons, a não ser em presença de
solventes específicos, que diminuem a polaridade do meio.
A ausência desse acoplamento ocorre normalmente porque as
hidroxilas fazem ligações de hidrogênio intermoleculares,
que dificultam a interação com outros prótons.
2) BROMO-METANOATO DE ISOPROPILA
• Os H vermelhos são homotópicos, possuem a mesma
vizinhança química, e por isso dão apenas um sinal - um
dupleto (de curva integral 6), devido ao acoplamento com
o H verde.
• O H verde acopla com os seis H vermelhos e gera um
septeto, de curva integral 1.
316
• Os H azuis são homotópicos e, por isso, geram um único
sinal. Como não há hidrogênios adjacentes, o pico é único
- um singleto, de curva integral 2.
Os deslocamentos químicos observados são explicados
devido ao efeito da eletronegatividade dos grupos Br, oxigênio e
carbonila. O H verde é o menos blindado, pois está separado do
oxigênio por apenas duas ligações. O H vermelhos estão separados do
oxigênio por três ligações, e por isso, o efeito eletronegativo do
oxigênio é menos pronunciado sobre estes prótons, que então, ficam
mais protegidos. Finalmente, os H azuis estão ligados a um carbono
que se liga ao bromo, de pequena eletronegatividade, e a uma
carbonila, ou seja, não há perto destes hidrogênios um grupo tão
eletronegativo como o oxigênio. Por isso eles têm blindagem maior e
a o sinal cai numa posição de campo alto.
3) ÁCIDO PARA-TOLUIL-ACÉTICO
• O H da hidroxila não acopla com outros prótons. O sinal,
portanto, é um singleto, de curva integral 1.
• Os H vermelhos são homotópicos, possuem a mesma
vizinhança química, e por isso dão apenas um sinal - um
singleto (de curva integral 6), pois não não há
acoplamento com hidrogêniosadjacentes.
• Cada H azul acopla com um H violeta adjacente e dá um
dupleto. Porém, como os H azuis são homotópicos, o sinal
tem curva integral 2.
• Os H violetas também são homotópicos e cada um deles
acopla com um H azul adjacente, gerando também um dupleto
de curva integral 2.
• Os H verdes são homotópicos e não possuem hidrogênios
adjacentes, e por isso dão um singleto, de curva integral
3.
Os deslocamentos químicos observados são explicados
devido ao efeito da eletronegatividade do grupo carboxila e do
efeito de deslocalização de elétrons gerado pela ressonância do
anel benzênico, que desblinda os hidrogênios aromáticos. O H da
carboxila é fortemente desblindado pela ação da eletronegatividade
dos oxigênios. Os H verdes têm blindagem relativamente alta, pois
estão muito distantes da carboxila.
7- Espectrometria de RMN do carbono 13
Embora o 13C corresponda a apenas 1,1% do carbono natural,
o fato do núcleo desse isótopo do carbono provocar um sinal de RMN
tem grande importância para a análise de compostos orgânicos. O
principal isótopo do carbono, o 12C, com abundância natural de cerca
de 89,9% não tem spin magnético, e por isso não gera sinais de RMN.
De certa maneira, os espectros de RMN 13C são, usualmente, menos
317
complicados que os espectros de RMN 1H e mais fáceis de interpretar.
Devido ao fato de o 13C existir naturalmente em porcentagem tão
baixa, os sinais de RMN gerados pelos seus núcleos não poderiam ser
visualizados no espectro. Porém, a técnica utilizada nos aparelhos
de RMN 13C consiste em irradiar um pulso curto e potente de
radiofrequência, que excita todos os núcleos de 13C existentes na
amostra. Os dados são digitalizados automaticamente e guardados em
computador e uma série de pulsos repetidos, que acumula os pulsos,
construindo os sinais.
Ao contrário do espectro de RMN 1H, que necessita apenas
algumas miligramas de amostra, na RMN de 13C é preciso de 10 a 200
mg em 0,4 ml de solvente deuterado. Essa grande diferença é
necessária para compensar a baixa porcentagem de 13C, e permitir o
acúmulo de sinais. Além disso, enquanto no espectro de RMN 1H a
faixa de absorção magnética dos prótons varia de 0 a 14 ppm, no
espectro de RMN 13C a faixa varia de 0 a 240 ppm.
7.1) Os sinais do espectro de RMN 13C:
Um aspecto que simplifica bastante a interpretação do
espectro de RMN 13C é o fato de cada tipo de átomo de carbono
produzir apenas um pico (singleto). Não há acoplamentos carbono-
carbono que provoque o desdobramento do sinal em picos múltiplos.
Por isso pode-se utilizar aparelhos de RMN mais simples, de 30 ou
60 MHz, já que não é necessária grande precisão para distinguir
sinais desdobrados. Nos espectros de RMN 1H, os prótons que estão
próximos uns dos outros (separados por um máximo de 3 ligações)
acoplam-se entre si e geram sinais desdobrados. Isso não ocorre com
carbonos adjacentes, pois apenas um em cada 100 átomos de carbono
tem o núcleo de 13C (cuja abundância é de aprox. 1,1%). Assim, a
probabilidade de dois átomos de carbono 13 estarem adjacentes é de
1 em 10.000 (isto é: 1,1% x 1,1%), o que elimina, em princípio, a
possibilidade de dois carbonos vizinhos desdobrarem mutuamente os
respectivos sinais.
Embora não ocorram interações carbono-carbono, os núcleos
dos hidrogênios ligados ao carbono podem interferir e desdobrar os
sinais de 13C em picos múltiplos. É possível, entretanto, eliminar
os acoplamentos H-C por uma técnica que irradiação seletiva
(técnica de desacoplamento). Eliminadas as interações próton-
carbono, num espectro de RMN 13C completamente desacoplado, cada
tipo de carbono produz apenas um pico.
7.2) O deslocamento químico do 13C:
Conforme vimos anteriormente, nos espectros de 1H, o
deslocamento químico de um certo núcleo depende da densidade
relativa de elétrons em torno do átomo. Baixas densidades
eletrônicas em torno de um átomo expõe o núcleo ao campo magnético
e provoca o aparecimento de sinais em campos baixos (ppm maiores,
para a esquerda da escala) no espectro de RMN. Densidades
eletrônicas relativamente altas em torno de um átomo blindam o
núcleo contra o campo magnético e provoca o aparecimento de sinais
em campos altos (ppm menores, para a direita da escala) no espectro
de RMN. Assim, carbonos que estão ligados exclusivamente a outros
átomos de carbono e de hidrogênio, têm blindagem elevada diante do
campo magnético. Por outro lado, carbonos ligados a grupos
318
eletronegativos, ou seja, grupos "retiradores de elétrons", estão
relativamente desblindados. Existem tabelas dos intervalos
aproximados do deslocamento químico de carbonos com diferentes
substituintes. O padrão de referência, com zero ppm nos espectros
de RMN 13C, é também o tetrametilsilano (TMS). Os carbonos do TMS
(equivalentes) absorvem energia em 60 ppm (o zero é somente para
servir de referência).
7.3) Cálculos teóricos de deslocamento químico do 13C:
Cada tipo de carbono dá um pico particular no espectro, e
por isso, cada um destes picos tem seu valor específico de
deslocamento químico. Os alcanos absorvem energia em campos mais
baixos do que o TMS, na faixa de até cerca de 60 ppm. Dentro dessa
faixa pode-se prever o deslocamento químico de 13C de
hidrocarbonetos lineares ou ramificados. É possível realizar
cálculos teóricos simples de absorção dos carbonos, que nos permite
comparar com os dados experimentais das tabelas e confirmar a
presença de cada carbono. Veja o procedimento abaixo, para o
seguinte hidrocarboneto:
Os valores de deslocamento químico observados
experimentalmente para estes carbonos são: C1 e C5 (11,3), C2 e C4
(29,3), C3 (36,7), C6 (18,6). Os carbonos C1 e C5 e também os
carbonos C2 e C4 têm mesmo deslocamento químico porque são
equivalentes na molécula, pois têm a mesma vizinhança e a molécula
é simétrica.
O cálculo teórico dos deslocamentos químicos (d) é feito
pela fórmula d = -2,5 + S nA, onde:
-2,5 - deslocamento químico do 13C do metano
n - número de átomos de carbono que causa determinado
efeito (carbonos a, b, g, d).
A - parâmetro de deslocamento aditivo, em ppm (veja na
tabela abaixo).
13C (A)
a + 9,1
b + 9,4
g - 2,5
d + 0,3
e + 0,1
1o (3o)* - 1,1
1o (4o)* - 3,4
2o (3o)* - 2,5
2o (4o)* - 7,2
3o (2o)* - 3,7
3o (3o)* - 9,5
4o (1o)* - 1,5
319
4o (2o)* - 8,4
* As notações 1o (3o) e 1o (4o) significam,
respectivamente, um carbono primário ligado a um terciário e um
carbono primário ligado a um quaternário. As notações 2o (3o) e 2o
(4o) significam, respectivamente, um carbono secundário ligado a um
terciário e um carbono secundário ligado a um quaternário, e assim
por diante. O primeiro número (fora dos parêntese) é o carbono que
se está analisando. Para cada carbono desses deve-se acrescentar ao
cálculo o valor dado na da tabela (A).
Devemos antes nos lembrar que carbonos a são aqueles
ligados diretamente ao carbono analisado, os carbonos b são aqueles
ligados ao carbono a, e assim por diante. Desta forma temos:
• Para C1 e C5: um carbono a, um carbono b, dois carbonos g
e um carbono d.
Cálculo de d: -2,5 + (9,1 x 1) + (9,4 x 1) + (-2,5 x 2)
+ (0,3 x 1) = 11,3
• Para C2 e C4: dois carbonos a, dois carbonos b e um
carbono g. Além disso, C2 é um carbono secundário ligado a
um terciário [2o(3o) = -2,5].
Cálculo de d: -2,5 + (9,1 x 2) + (9,4 x 2) + (-2,5 x 2)
+ (-2,5 x 1) = 29,5
• Para C3: três carbono a e dois carbonos b. Além disso, C3
é um carbono terciário ligado a dois carbonos terciários
[2o(3o) = -3,7].
Cálculo