Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Universidade Candido Mendes PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO OSCAR FELIZZOLA SOUZA GUIA ORIENTATIVO PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO RURAL NO BRASIL Rio de Janeiro 2016 2 OSCAR FELIZZOLA SOUZA GUIA ORIENTATIVO PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO RURAL NO BRASIL Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Nome do Orientador : Luiz Roberto Pires Domingues Junior Rio de Janeiro 2016 3 Resumo Este trabalho tem como finalidade ser um guia orientativo para a gestão da segurança e saúde no trabalho rural no Brasil. Seu objetivo principal é o de ajudar os produtores e trabalhadores rurais Brasileiros a identificarem os riscos à segurança e à saúde dos trabalhadores do agronegócio do Brasil, devido à execução das atividades laborais rurais. Com isto espera-se que seja útil no sentido de auxiliar na tomada de ações para eliminar ou pelo menos mitigar esses riscos. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica.O presente trabalho divulga a importância do conhecimento e do cumprimento dos requisitos da Norma Regulamentadora NR-31 ( Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura), assim como a prevenção de acidentes com agrotóxicos no setor agropecuário Brasileiro. Ele também apresenta os cuidados a serem adotados no trabalho rural para que sejam preservadas a saúde, a integridade física e a própria vida do trabalhador do campo em nosso país. Além disso pretende contribuir para a conscientização dos produtores rurais e dos trabalhadores da agropecuária do Brasil para o papel fundamental do treinamento nos assuntos relativos à Segurança e Saúde no Trabalho Rural. Tem-se a plena convicção que este trabalho alcança o que é proposto como sendo seu objetivo principal. Palavras-chave :Gestão, Segurança , Saúde, Trabalho Rural, Guia, Agrotóxico, NR-31, Agronegócio. 4 Sumário 1. INTRODUÇÃO 6 2. TEMA 7 3. PROBLEMA 7 4. OBJETIVOS 8 4.1 Objetivo Geral 8 4.2 Objetivos Específicos 8 5. JUSTIFICATIVA 9 6. REVISÃO DA LITERATURA 9 6.1 O Agronegócio Brasileiro 9 6.2 A situação da Segurança e da Saúde no Trabalho Rural no Brasil 11 6.3 A Norma Regulamentadora NR-31 ( Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária , Silvicultura ,Exploração Florestal e Aquicultura) e assuntos correlatos 12 6.3.1 Objetivos e Aplicação da NR-31 12 6.3.2 Noções sobre legislação trabalhista e previdência relativa à saúde e segurança no trabalho rural 15 6.3.3 Preceitos da Gestão de Segurança Ocupacional 21 6.3.4 Fatores formadores da Higiene do Trabalho 23 6.3.5 Conhecimento dos Riscos Laborais 25 6.3.6 Identificação das fontes geradoras de riscos à segurança e à saúde 27 6.3.7 Realização das condições de Trabalho Rural 33 6.3.8 Hierarquia das implementações das ações de Segurança e Saúde 39 6.3.9 Identificação dos Atestados de Saúde Ocupacional ( ASO) 42 6.3.10 Caracterização e estudos de acidentes e doenças do trabalho 45 6.3.11 A Importância do Registro dos Acidentes e Incidentes 48 6.3.12 Mapas de Risco 51 6.3.13 Elaborando um Mapa de Risco 54 6.3.14 Promoção da melhoria nos ambientes e condições de trabalho 59 6.3.15 Resumo sobre a NR-31 63 6.4 Prevenção de Acidentes com Agrotóxicos no setor Agropecuário Brasileiro 65 6.4.1 Conceitos Fundamentais 66 6.4.2 A Origem Histórica dos Agrotóxicos 66 6.4.3 Noções sobre Classificação dos Produtos Fitossanitários 71 6.4.4 Legislação vigente no Brasil relativa ao trabalho com Produtos Fitossanitários 74 6.4.5 O item 31.8 da NR-31 e a segurança no trabalho com agrotóxicos 76 6.4.6 As formas de exposição aos Agrotóxicos 83 6.4.7 Identificação de Sintomas e Procedimentos em Caso de Intoxicação com Agrotóxicos 87 6.4.8 Estudo da Rotulagem e da Sinalização de Segurança : conhecendo-se os pictogramas 90 5 6.4.9 Estudo da Rotulagem e da Sinalização de Segurança : informações de segurança contidas em rótulos e bulas 94 6.4.10 Medidas Higiênicas no Trabalho com Produtos Fitossanitários ou Agrotóxicos ou Defensivos Agrícolas 96 6.4.11 Vestimentas e Equipamentos de Proteção Individual para Trabalho com Produtos Fitossanitários ou Agrotóxicos ou Defensivos Agrícolas 99 6.4.12 Os Problemas causados pelos Defensivos Agrícolas ou Agrotóxicosou Produtos Fitossanitários justificam o seu uso ? 104 6.5 Prevenção de Acidentes com Tratores e Máquinas Agrícolas 104 6.6 Prevenção de Acidentes com Eletricidade no meio Rural 111 6.7 Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos no meio Rural 113 6.8 Manejo de Animais 114 6.9 Treinamentos em Segurança e Saúde no Trabalho Rural 116 7. METODOLOGIA 116 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 117 9. BIBLIOGRAFIA 118 10. LISTA DE FIGURAS 120 11. LISTA DE QUADROS 126 6 1. INTRODUÇÃO A OIT ( Organização Internacional do Trabalho) aponta que a agropecuária é uma das atividades profissionais que tem o maior risco de provocar acidentes , equiparando-se à construção civil e à exploração do petróleo. Não importa se o trabalhador é jovem ou experiente , todos estão sujeitos a riscos de acidentes de trabalho e a riscos que ameaçam a sua saúde. Estes riscos aumentam quando não se têm informações relativas ao cuidado e à prevenção. Os trabalhadores rurais no Brasil ,no desempenho das suas atividades laborais, estão expostos a diversas fontes de risco pelo uso de ferramentas diversas e manuseio de máquinas, tratores, serras elétricas, foices, facões, entre outros, agentes de natureza física como a radiação solar, descargas elétricas; temperaturas extremas, frio e calor e o ruído; agentes químicos para correção e adubação do solo, agrotóxicos, medicamentos para uso veterinário, e biológicos, como a picada por animais peçonhentos, vírus e bactérias no cuidado de animais e fatores próprios da organização do trabalho, com longas jornadas, ciclos de trabalho intensivo, relacionados às distintas fases de produção, relações subalternas que se perpetuam desde os tempos da escravatura, entre outras. Por exemplo no risco referente à falta de treinamento na aplicação e manuseio de agrotóxicos e afins, muitas vezes as sequelas só vão aparecer muitos anos depois. Segundo Martins (p25,2012) o trabalho rural está em processo permanente de transformação e aprimoramento. Enquanto algumas fazendas realizam investimentos e melhorias constantes em saúde e segurança do trabalho, outras desrespeitam os princípios mínimos de segurança ao trabalhador e à vida humana e se colocam em situação permanente de fazendas problema. Mas na maioria dos casos existe um profundo desconhecimento dos trabalhadores rurais brasileiros e também de seus empregadores sobre ações preventivas que devem ser implementadas no sentido da proteção da saúde, da integridade física e da vida dos trabalhadores do campo. Por isto entende-se que a elaboração de um guia ,que oriente empregadores e empregados rurais quanto aos riscos laborais rurais e mitigação dos mesmos, será muito útil no sentido de ajudar e estimular a adoção de medidas preventivas na gestão da segurança e saúde dos trabalhadores que atuam no setor agropecuário brasileiro. 7 Figura 1 – Trabalhador Rural Brasileiro aplicando agrotóxico . Fonte : Apostila M1 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015) 2. TEMA O Tema da Monografia é a Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho Rural no Brasil. Figura 2 – Exemplo de Trabalho Rural no Brasil. Fonte : Apostila M1 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015) 3. PROBLEMA O problema começa com a seguinte pergunta : Os Produtores Rurais , os Sindicatos, tanto os Patronais como os dos Trabalhadores Rurais , assim como também os próprios Trabalhadores Rurais Brasileiros têm pleno conhecimento sobre como deve ser realizada a Gestão da Segurança e a Saúde do Trabalho Rural de maneira que sejam eliminados ou atenuados os riscos à Segurança e a Saúde dos trabalhadores do campo, oriundos das atividades laborais no setor agropecuário ? Para responder esta pergunta se tem as seguintes informações : Se, no geral, o Brasil registra 8 marcas preocupantes com relação aos acidentes do trabalho em geral , no setor rural a situação é muito pior. Enquanto na área urbana um índice de 1,29% dos acidentes terminam com morte, no campo esse percentual aumenta para 2,57%, além do que, é na área agrícola que o número de acidentes não registrados é muitíssimo maior do que nos centros urbanos, porque, naturalmente, lá o índice de trabalhadores sem registro em carteira é consideravelmente maior, a ponto de a OIT ( Organização Internacional do Trabalho) afirmar que os trabalhadores agrícolas correm, pelo menos, o dobro de riscos de morrer no local de trabalho do que os empregados dos demais setores ("O Globo", pág. 25, de 17.2.98). Afirma, ainda, aquela organização, que a situação é mais grave nos países em desenvolvimento, devido aos baixos índices educacionais. Lamentavelmente, no meio rural brasileiro, em especial, temos os maiores índices de analfabetismo, falta de instrução e alto índice de miséria, que contribuem para a manutenção das precárias condições de trabalho desses irmãos brasileiros que produzem o feijão , arroz , carne e outros alimentos para a mesa de milhões de brasileiros. Entre as principais causas de acidentes no campo estão a falta de treinamento para lidar com maquinário, com agrotóxicos e, ainda, inexistência, em muitos casos, de equipamentos adequados de proteção individual e coletiva. Figuras 3 e 4 – Exemplos de Acidentes do Trabalho no meio rural brasileiro. Fontes : Websites : http://www.tecnologiaetreinamento.com.br/administracao-rural/acidente-trabalho- acidente-rural-condicoes-inseguras-ato-inseguro-fator-pessoal-inseguro/ 2016; http://www.rondoniaovivo.com/interior/cerejeiras/noticia/trator-tomba-e-operador-fica-preso-as- ferragens-na-area-rural/131170 2016. 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Elaborar um Guia para auxiliar os Produtores e Trabalhadores Rurais do Brasil a identificarem os riscos à Segurança e a Saúde dos trabalhadores provenientes das atividades laborais rurais, de maneira a poderem tomar iniciativas no sentido de eliminar ou mitigar estes riscos. 4.2 Objetivos Específicos Divulgar a importância do cumprimento da Norma Regulamentadora NR -31 ( Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura ) pelo Agronegócio Brasileiro ; Ajudar a prevenir acidentes com agrotóxicos no setor agropecuário do 9 Brasil ; Auxiliar no levantamento dos riscos laborais rurais ; Divulgar os cuidados no trabalho rural de maneira que sejam preservadas a saúde , a integridade físicae a vida do trabalhador rural ; Conscientizar Produtores e Trabalhadores Rurais da importância do treinamento em assuntos relativos à Segurança e a Saúde no Trabalho Rural. 5. JUSTIFICATIVA Os trabalhadores rurais no Brasil ,no desempenho das suas atividades laborais, estão expostos a diversas fontes de risco pelo uso de ferramentas diversas e manuseio de máquinas, tratores, serras elétricas, foices, facões, entre outros, agentes de natureza física como a radiação solar, descargas elétricas; temperaturas extremas, frio e calor e o ruído; agentes químicos para correção e adubação do solo, agrotóxicos, medicamentos para uso veterinário, e biológicos, como a picada por animais peçonhentos, vírus e bactérias no cuidado de animais e fatores próprios da organização do trabalho, com longas jornadas, ciclos de trabalho intensivo, relacionados às distintas fases de produção, relações subalternas que se perpetuam desde os tempos da escravatura, entre outras. Existe um profundo desconhecimento destes trabalhadores e também de seus empregadores sobre ações preventivas que devem ser implementadas no sentido da proteção da saúde, da integridade física e da vida dos trabalhadores do campo. Por isto entendemos que a elaboração de um guia ,que oriente empregadores e empregados rurais quanto aos riscos laborais rurais e mitigação dos mesmos, será muito útil no sentido de ajudar e estimular a adoção de medidas preventivas na gestão da segurança e saúde dos trabalhadores que atuam no setor agropecuário. Figuras 5, 6 e 7 – Exemplos de fontes ou agentes de risco a que estão expostos os trabalhadores rurais brasileiros : radiação solar; animais peçonhentos; manuseio de serras elétricas. Fontes : http://www.focorural.com/detalhes/n/n/2753/5/O_trabalho_a_ceu_aberto_e_o_stress_termico.html 2016 ; http://www.sestr.com.br/2012/02/como-prevenir-acidentes-com-cobras.html 2016 ; http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2013/02/motosserra-depende-de-licenca-do-ibama- para-poder-ser-utilizada.html 2016. 6. REVISÃO DA LITERATURA 6.1 O Agronegócio Brasileiro O Agronegócio no Brasil tem uma expressiva participação na economia do país e representou aproximadamente 22,15% do PIB em 2012. Atualmente o país ocupa notável posição mundial na produção agroindustrial. De acordo com o website http://www.ecoagro.agr.br/agronegocio- brasil/ a agropecuária brasileira é um bem gigantesco, um campo cheio de oportunidades de investimento e desenvolvimento. 10 Figura 8 – Dados sobre a posição do Brasil no ranking mundial na produção de diferentes produtos agropecuários. Fonte : Website http://www.ecoagro.agr.br/agronegocio-brasil/ 2016 A produção agropecuária brasileira é produzida nos diferentes tipos de propriedade rural , portanto podendo ser nas grandes fazendas , ou nas médias propriedades rurais ou nas pequenas propriedades rurais. O Brasil, desde 2010, quando ultrapassou o Canadá, é o terceiro maior produtor e exportador agrícola do mundo, atrás somente das duas grandes potências agrícolas mundiais: os Estados Unidos e a União Europeia. No entanto, diferentemente desses dois territórios, a capacidade de crescimento e a perspectiva nacional em relação a um futuro de médio prazo são grandes, de modo que o país poderá apresentar maiores crescimentos nos próximos anos. Isto é devido principalmente as características e diversidades do Brasil , principalmente encontradas no clima favorável, no solo, na água, no relevo e na luminosidade. Figuras 9 e 10 – Produções agrícolas brasileiras : café; cana de açúcar. Fontes : http://blogmarcosfrahm.com/regioes-produtoras-de-cafe-devem-ter-chuva-e-frio/ 2016 ; http://www.canaoeste.com.br/conteudo/o-brasil-e-hoje-o-principal-produtor-de-cana-de-acucar-do- mundo 2016. 11 Figuras 11 e 12 – Produções agrícolas brasileiras : laranja; soja. Fontes : http://dinheirorural.com.br/noticia/agroeconomia/com-mais-da-metade-da-producao-mundial-de- suco-de-laranja-frutas-citricas-no-brasil-potencializam-o-pib-nacional 2016 ; https://pt.wikipedia.org/wiki/Produ%C3%A7%C3%A3o_de_soja_no_Brasil 2016 Figuras 13 e 14 – Produções agrícolas no Sul do Brasil : arroz ; milho. Fontes : http://www.bms.org.br/noticia.php?noticia=69 2016; http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/agricultores-intensificam-plantio-do-milho-no-rio-grande-do- sul-59957 2016 Figuras 15 e 16 – Produções pecuárias no Sul do Brasil : gado bovino ; gado ovino. Fonte : O Autor , 2016. 6.2 A situação da Segurança e da Saúde no Trabalho Rural no Brasil Em tempos de safras recorde, abundância de produção e altos ganhos nas principais culturas brasileiras, um aspecto é praticamente desconhecido do público e pouco tratado mesmo dentro do agronegócio , a segurança do trabalho no campo. Não há sequer estatísticas atualizadas e comprovadas, mas projeções extra oficiais estimam que cerca de 150 mil trabalhadores são expostos anualmente a agroquímicos, e destes, três mil pessoas acabam morrendo. De acordo com o Website 12 http://www.agrolink.com.br/noticias/-o-campo-esta-exposto----seguranca-do-trabalho-e-deficiente-- diz-especialista_174369.html o engenheiro agrônomo e de segurança do trabalho Lino Hamann, diretor da Elo Engenharia declarou “Se a segurança do trabalho e a saúde ocupacional dos trabalhadores brasileiros é deficiente de uma forma geral, imaginem no campo. A fiscalização não chega e os responsáveis, seja por desinformação ou por negligência, não a praticam”, apontou Hamann. Segundo ele, 270 milhões de pessoas são vítimas de acidentes e contraem doenças ocupacionais no mundo, e nada menos que 2,2 milhões vão a óbito. No Brasil o número atinge a casa dos 1,3 milhão de afetados pela falta de observância das normas. Morrem em torno de duas mil, perdendo apenas para a China, com 14 mil, Estados Unidos (cinco mil) e Rússia (três mil). “No campo, onde as estatísticas são precárias ou inexistentes, os números são baixos porque simplesmente não é feita a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), que é obrigatória, segundo as Normas do Ministério e Emprego”, salienta o engenheiro. “Os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) são ainda da década de 90, mas projetam que as intoxicações por agrotóxicos equivalem a 1% da população exposta, com 1 óbito para cada 50 casos”. “Todas as atividades rurais são suscetíveis a riscos diários. A exposição a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais não acontecem apenas com quem lida com químicos. Há máquinas, equipamentos, energia elétrica, armazenagem, trabalho em altura, condições ambientais, convivência com animais (muitas vezes doentes), exposição a insetos e micro-organismos, pois se está em contato com água contaminada e matéria em decomposição. Mas um dos grandes problemas é a armazenagem de produtos tóxicos, são guardados junto a alimentos, água, animais e até na própria residência da família”, explicou Hamann. “O campo está a descoberto. Carece de maior atenção das autoridades. As grandes empresas estão atualizadas, porque a fiscalização é constante, e os empresários são mais conscientes. Mas olhando para a massa de trabalhadores rurais, a situação descamba. O campo precisa de mais atenção à segurança do trabalho”, concluiu Lino Hamann. 6.3 A Norma Regulamentadora NR-31 ( Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura ,Exploração Florestal e Aquicultura) e assuntos correlatos 6.3.1 Objetivos e Aplicação da NR-31O cenário de deficiência com relação à segurança e a saúde do trabalho no meio rural brasileiro levou à o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil a editar em 2005 , a Norma Regulamentadora 31 , a NR-31, que lista regras e recomendações de segurança e saúde no trabalho para agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. O principal objetivo da NR-31 é estabelecer as regras a serem observadas na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura com segurança e saúde no meio ambiente de trabalho. A norma NR-31 define os seguintes : • as documentações de saúde e segurança exigidas para a atividade rural; • que atestados de saúde ocupacional são necessários; • que avaliações de segurança são obrigatórias; • que treinamentos e capacitações são obrigatórios para a função agrícola; e • outras indicações, como qual é a distância mínima que deve existir entre um galpão de armazenamento de produtos fitossanitários e uma moradia. 13 Outro objetivo da NR-31 está relacionado com suprir as necessidades básicas do ser humano. Segundo o psicólogo especialista em motivação humana Abraham H. Maslow, as necessidades humanas estão dispostas em uma hierarquia de importância e influência. Essa hierarquia pode ser percebida na Pirâmide das Hierarquias das Necessidades, ou Pirâmide de Maslow, que é famosa em alguns ambientes acadêmicos. Esta pirâmide coloca as necessidades mais básicas do ser humano (como as fisiológicas) na base da pirâmide, ou seja, elas têm maior importância, enquanto no topo estão as necessidades mais elevadas (as de autorrealização). Figura 17 – Pirâmide de Maslow. Fonte : http://enfermagem24hr.blogspot.com.br/2011/11/piramide-de-maslow.html 2016. Uma análise rápida dessa pirâmide aponta que, segundo Maslow, as questões relacionadas à segurança , como por exemplo segurança no trabalho, vêm logo depois das necessidades fisiológicas. As necessidades sociais, de estima e associação, ainda que também sejam importantes para o ser humano, são menos relevantes do que as que estão na base da pirâmide. Em outras palavras podemos dizer que as necessidades relativas à segurança são as mais importantes que existem, logo 14 depois das necessidades básicas como alimentação, moradia, lazer etc. Ressalta-se portanto a importância da necessidade de segurança no ambiente de trabalho. A NR-31 pode ser aplicada a quaisquer atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura, desde que verificadas as formas de relação de trabalho e emprego e o local das atividades. Ou seja , se a atividade for no meio rural e existir a relação de emprego, a NR-31 terá aplicação. Para exemplificar citamos o caso descrito na Apostila M1 Gestão de Riscos em Saúde e Segurança no Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). Imagine-se duas situações distintas de atividade leiteira. Na primeira, a atividade econômica é desenvolvida apenas pelos donos da propriedade e seus filhos. Neste caso, não existe a relação de emprego, porque a mão de obra é informal, e provavelmente a NR-31 não terá aplicação legal. Sem a relação de emprego, a Justiça não pode punir um empresário, ou empregador, porque a referida relação não existe. Agora, pensa-se na mesma atividade leiteira, porém nesta nova situação o dono da fazenda tem condições de contratar um ajudante, e este ajudante não é pertencente à família. Existe a relação de emprego? Sim, existe, mesmo sem haver contrato ou Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinados. Nesse caso, mesmo sendo um emprego informal, a NR-31 vale e será aplicada. Figuras 18 e 19 – Propriedade Leiteira Familiar ; Ajudante de Fazenda Leiteira realizando o serviço de ordenha. Fontes : http://www.bj.coop.br/single-post/2016/05/25/Leite- Sucess%C3%A3o-familiar-%C3%A9-exemplo-da-atividade-leiteira-1 2016 ; http://www.gazetadonoroestemt.com.br/noticias-ver.php?&id=135 2016. Neste exemplo da propriedade leiteira familiar, onde as atividades são desempenhadas exclusivamente pela família, é importante frisar que é apenas do ponto de vista legal que a NR-31 não se aplica, ou seja, no sentido de controle e punição do empregador no caso de acidentes de trabalho. Os requisitos de segurança previstas na NR-31 são educativos, e servem indiscriminadamente para todas as atividades rurais em absoluto. Deve ser ter sempre isto em mente! Vale ressaltar que a NR-31 também se aplica às atividades de exploração industrial desenvolvidas em estabelecimentos agrários. É o caso, por exemplo, das usinas de álcool e açúcar, que são empresas com características urbanas (indústria), mas estabelecidas no meio rural. De forma semelhante podem se 15 enquadrar as propriedades de criação de gado, suínos e aves que abastecem as grandes fábricas de carne industrializada. Figura 20 – Usina de álcool e açúcar estabelecida no meio rural. Fonte : http://www.clealco.com.br/clealco/Portugues/institucional/index.php?acao=unidades 2016 6.3.2 Noções sobre legislação trabalhista e previdência relativa à saúde e segurança no trabalho rural Qual é a diferença entre incidente, acidente ou doença de trabalho ? As definições dos próprios conceitos legais utilizados pelo Ministério do Trabalho, pela OIT e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ( ABNT) são as seguintes : Incidente : Ocorrência que ,sem causar danos à saúde ou a integridade física das pessoas , tinha potencial para causar tais agravos. A Definição Técnica é que é um acontecimento perigoso resultante do trabalho ou ocorrido durante ele , sem que tenha causado danos pessoais. A Definição Legal é que é uma ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho que provoca lesão pessoal ou de que decorre risco próximo ou remoto dessa lesão. Trata- se de um Acidente sem Lesão, ou seja, aquele que não causa lesão pessoal. 16 Figuras 21 e 22 – Exemplos de Incidentes : João estava cortando uma árvore e no momento de queda, ela bateu em outra árvore e foi desviada para cima dele, que precisou correr para não ser atingido ; Luiz, trabalhador de pouca experiência, precisou arrastar uns troncos de madeira e, para tanto utilizou um cabo de aço. No momento em que acelerou, o trator empinou e quase tombou por ser um local inadequado. Quando começou a empinar, Luiz acionou a embreagem e parou de acelerar, assim, o trator voltou a tocar o chão. Luiz levou um tremendo susto. Fonte : Apostila M1 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). Acidente ou Doença de Trabalho : Ocorrência, geralmente não planejada, que resulta em danos à saúde ou à integridade física de trabalhadores ou indivíduos do público. A Definição Técnica é a ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho que resulte ou possa resultar em lesão pessoal. A Definição Previdenciária diz que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa com o segurado empregado, trabalhador avulso, bem como com o segurado empregado, trabalhador avulso, enquanto no exercício de suas atividades, provocando lesão corporalou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução, temporária ou permanente , da capacidade para o trabalho. . 17 Figuras 23 e 24 – Exemplos de Acidentes de Trabalho : Roberto foi cortar uma árvore, mas calculou mal o corte e a árvore caiu fora da rota programada destruindo parte de um galpão ; Carlos é operador de trator e decidiu puxar um caminhão que está atolado por um cabo de aço. De repente, o cabo se parte e atinge o caminhão quebrando o seu para-brisas. Fonte : Apostila M1 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). Nos episódios das Figuras 21 e 22 tanto João como Luiz conseguiram reverter a situação e evitar que algo mais grave ocorresse , portanto é Incidente. Já nos episódios das Figuras 23 e 24 tanto Roberto como Carlos não conseguiram reverter a situação e evitar que algo mais grave ocorresse , por isto é Acidente de Trabalho. Para prevenir incidentes e acidentes de trabalho, é importante que todos os envolvidos, seja empregador ou empregado, conheçam e estejam cientes de suas responsabilidades. A seguir apresenta-se tópicos da legislação e as principais responsabilidades tanto do empregador quanto do empregado. Sugere-se ações para os tópicos apresentados. Cabe ao Empregador Rural ou equiparado: Tópico 1 Garantir adequadas condições de trabalho, higiene e conforto, definidas na Norma Regulamentadora NR-31 para todos os trabalhadores, segundo as especificidades de cada atividade. Ação sugerida : Produzir Ordens de Serviço. Estes documentos indicam quais medidas de segurança devem ser tomadas para o desenvolvimento seguro da tarefa. Tópico 2 Realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores e, com base nos resultados , adotar medidas de prevenção e proteção para garantir que todas as atividades, lugares de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e estejam em conformidade com as normas de segurança e saúde. Ação sugerida : Produzir Ordens de Serviço. Estes documentos indicam quais medidas de segurança devem ser tomadas para o desenvolvimento seguro da tarefa. Tópico 3 Promover melhorias nos ambientes e nas condições de trabalho, de forma a preservar o nível de segurança e saúde dos trabalhadores. 18 Ação sugerida : O programa do Tópico 2 referente à realização de avaliação dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, deve ser revisado anualmente, promovendo-se, assim, as melhorias. Tópico 4 Cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho. Ação sugerida : Além do empregador cumprir a legislação, faz-se necessário treinar e orientar os empregados para que todos cumpram as normas de segurança. É importante frisar que sem orientação e treinamento não há compreensão, e a tendência humana é a de seguir trabalhando da mesma maneira em que se trabalhava antes da s no r mas serem exigidas. Figuras 25 e 26 – Treinamentos em Segurança no Trabalho Rural para Trabalhadores Rurais. Fontes : http://sindicatoruraldesorriso.com.br/noticia/seguranca-no-trabalho-e-a-area-que- mais-demanda-treinamento-junto-ao-senar-mt 2016 ; http://www.senar.org.br/noticia/seguranca-e- destaque-em-curso-de-tratorista-em-paula-candido 2016. Tópico 5 Analisar, com a participação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural (CIPATR), as causas dos acidentes e das doenças decorrentes do trabalho, buscando prevenir e eliminar as possibilidades de novas ocorrências. Ação sugerida : Empregadores com mais de 20 empregados contratados por prazo indeterminado devem montar sua CIPATR. 19 Figuras 27 e 28 – Reuniões de CIPATR . Fontes : http://www.remasa.com.br/noticia.php?id=15 2016 ; http://www.damata.ind.br/noticias.php?IDP=169 2016 Tópico 6 Assegurar a divulgação de direitos, deveres e obrigações que os trabalhadores devam conhecer, em matéria de S egurança e Saúde no T rabalho. Ação sugerida : Elaborar um manual de instruções da P ropriedade Rural . Tópico 7 Adotar os procedimentos necessários quando ocorrerem acidentes e doenças do trabalho. Ação sugerida : Prestar a assistência e emitir uma CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), se necessário. Tópico 8 Assegurar que se forneçam aos trabalhadores instruções compreensíveis em matéria de S egurança e Saúde, bem como toda orientação e supervisão necessárias ao T rabalho Seguro. Ação sugerida : Elaborar um Manual, por exemplo, para que os trabalhadores tenham acesso às instruções. Tópico 9 Garantir que os trabalhadores, por meio da CIPATR, participem das discussões sobre o controle dos riscos presentes nos ambientes de trabalho. Ação sugerida : A CIPATR é obrigatória para o Empregador rural ou equiparado que mantenha 20 ou mais empregados contratados por prazo indeterminado. Cabe a ele delegar poderes e mantê-la ativa com o propósito de promover a Segurança. Tópico 10 Informar aos trabalhadores os riscos decorrentes do trabalho e das medidas de proteção implantadas, inclusive em relação a novas tecnologias adotadas pelo empregador. 20 Ação sugerida : Esse tópico cobra a informação dos riscos, então elaborar Ordens de Serviço e o Mapa de Risco contemplam essa exigência. Tópico 11 Informar aos trabalhadores os resultados dos exames médicos e complementares a que foram submetidos, quando realizados por serviço médico contratado pelo Empregador. Ação sugerida : Esse tópico cobra a o b r i g a t o r i e d a d e d a e n t r e g a d a s e g u n d a v i a d o A S O ( A t e s t a d o d e S a úd e O c u p a c i o n a l ) a o T r a b a l h a d o r . Tópico 12 Informar aos trabalhadores os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. Ação sugerida : Elaborar um Mapa de R isco dos locais de trabalho . Tópico 13 Permitir que um representante dos trabalhadores, legalmente constituído, acompanhe a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre Segurança e Saúde no T rabalho. Ação sugerida : Este tópico prevê adotar medidas de avaliação e gestão dos riscos com a seguinte ordem de prioridade: eliminação dos riscos; controle de riscos na fonte; redução do risco por meio de medidas técnicas e de práticas seguras; adoção de medidas de proteção pessoal, sem ônus para o trabalhador. Quanto aos Deveres e Direitos do Trabalha dor : a) Deveres • Cumprir as determinações sobre as formas seguras de desenvolver suas atividades, especialmente quanto às Ordens de Serviço para esse fim; • Adotar as medidas de proteção determinadas pelo Empregador, em conformidade com a Norma Regulamentadora NR-31 , sob pena de constituir ato faltoso a recusa injustificada; • Submeter-se aos exames médicos previstos na Norma Regulamentadora NR-31; • Colaborar com o Empregador na aplicação da Norma Regulamentadora NR-31. b) Direitos • O trabalhador tem direito a ambientes de trabalho seguros e saudáveis, em conformidade com o disposto na Norma Regulamentadora NR-31; • De ser consultado, por meio de seus representantes na CIPATR, sobre as medidas de prevenção que serão adotadas pelo Empregador; • De escolher sua representação em matéria de S egurança e Saúde no T rabalho; 21 • Quando houver motivos para considerar que exista grave e iminente risco para sua segurança e saúde, ou de terceiros, o Trabalhador tem direito de informar imediatamente sobre os riscos envolvidos ao seu superior hierárquico, ao membro da CIPATR, ou diretamente ao Empregador, para que sejam tomadas as medidas de correção adequadas, interrompendo o trabalho, se necessário; • A receber instruções em matéria de segurança e saúde, bem como orientação para atuar no processo de implementação das medidas de prevenção que serão adotadas pelo Empregador. 6.3.3 Preceitos da Gestão de Segurança Ocupacional Sabe-se que um acidente de trabalho ou afastamento nunca afeta apenas o Trabalhador: a Empresa ou a Propriedade Rural e a Sociedade também saem prejudicadas. As Empresas se conscientizaram acerca disso com o passar do tempo e, considerando também as exigências legais, passaram a buscar o controle dos riscos ocupacionais. Segundo a Apostila M2 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural (p 41,2015) todo esse entendimento resultou na padronização do Sistema de Gestão da S e g u r a n ç a e S a ú d e n o T r a b a l h o ( SST), uma metodologia criada em cada propriedade , com base nos seus objetivos e metas. O sistema faz, de forma contínua e gradual, as mudanças e adequações necessárias para o atendimento das exigências legais. Com essa metodologia, é possível decidir o que é necessário fazer, como fazer melhor, acompanhar o progresso dos objetivos estabelecidos, avaliar a forma como é feito e identificar áreas a serem aperfeiçoadas. A prevenção de riscos começa com uma avaliação a partir de cinco etapas: ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA 5 Identificar os riscos Determina r quem pode ser afetado e como. Avaliar os riscos e decidir que atitude adotar. Registrar os resultados e implementá -los. Rever a avaliação e atualizá-la se necessário. Quadro 1 – 5 etapas da avaliação de riscos. Fonte : Apostila M2 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). Um processo de avaliação pode ser facilmente adaptado a qualquer propriedade ou atividade, dependendo dos recursos disponíveis. Quanto maior o risco da atividade, maior a quantidade de recursos necessários para avaliação desses riscos. 22 Um outro conceito muito utilizado nos S istemas de G estão é o que se baseia no famoso ciclo de Deming ou ciclo PDCA, muito utilizado no desempenho e controle da qualidade de empresas. PDCA vem do Inglês Plan,Do, Check e Action e significa Planejamento, Desenvolvimento, Verificação e Ajuste. Quando falamos em Segurança e Saúde no Trabalho (SST), devemos entender essas quatro palavras com significados bem específicos. Estes significados são os seguintes : Planejamento - Estabelecimento de uma política de SST, capacitação de recursos, identificação e avaliação dos riscos, treinamentos, aquisição de máquinas e equipamentos adequados, e organização do ambiente de trabalho. Desenvolvimento – Refere-se à implementação e a operacionalidade do Programa de Gestão de SST. Verificação – Responsável por medir o antes e o depois do Programa. Ajuste – Fecha o primeiro ciclo, analisando o que foi realizado, propondo melhorias contínuas e aperfeiçoamento do sistema para o ciclo seguinte. Ao planejar a G estão Segurança e S aúde no T rabalho, inevitavelmente precisa se fazer o planejamento das atividades da propriedade e, consequentemente, organizar ainda mais administração do local. Outra vantagem de um Sistema de Gestão em SST é o de organizar os treinamentos obrigatórios para a propriedade, dependendo de suas atividades. Um exemplo é o certificado de capacitação de prevenção de acidentes com agrotóxicos, exigido pela legislação para todos os trabalhadores expostos diretamente aos agrotóxicos, ou seja, quem faz a manipulação dos defensivos agrícolas. O certificado de capacitação de prevenção de acidentes com agrotóxicos é exigido no item 31.8.8 da NR-31. Pode-se dizer que há uma obrigatoriedade da implementação do Sistema de Gestão. No setor rural exige-se os documentos PGSST – Programa de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Rural ou PGSSMT – Programa de Gestão, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural. Essa cobrança legal está alicerçada nos itens 31.3.3 alínea b e em subitens do item 31.5.1 da Norma Regulamentadora NR-31. Abaixo estão estes itens e subitens relacionados da NR-31 : 31.3.3 Cabe ao empregador rural ou equiparado: b) realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores e, com base nos resultados, adotar medidas de prevenção e proteção para garantir que todas as atividades, lugares de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e em conformidade com as normas de segurança e saúde; 31.5.1 Os empregadores rurais ou equiparados devem implementar ações de segurança e saúde que visem a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na unidade de produção rural, atendendo a seguinte ordem de prioridade: 23 a) eliminação de riscos através da substituição ou adequação dos processos produtivos, máquinas e equipamentos; b) adoção de medidas de proteção coletiva para controle dos riscos na fonte; c) adoção de medidas de proteção pessoal. 31.5.1.1 As ações de segurança e saúde devem contemplar os seguintes aspectos: a) melhoria das condições e do meio ambiente de trabalho; b) promoção da saúde e da integridade física dos trabalhadores rurais; c) campanhaseducativas de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. 31.5.1.3.2 Os exames médicos compreendem a avaliação clínica e exames complementares, quando necessários em função dos riscos a que o trabalhador estiver exposto. 31.5.1.3.6 Todo estabelecimento rural, deverá estar equipado com material necessário à prestação de primeiros socorros, considerando-se as características da atividade desenvolvida. 31.5.1.3.7 Sempre que no estabelecimento rural houver dez ou mais trabalhadores o material referido no subitem anterior ficará sob cuidado da pessoa treinada para esse fim. 31.5.1.3.10 Em casos de acidentes com animais peçonhentos, após os procedimentos de primeiros socorros, o trabalhador acidentado deve ser encaminhado imediatamente à unidade de saúde mais próxima do local. Ou seja, dentro daquele contexto de combate aos acidentes de trabalho, a lei atual prevê que o Empregador realize avaliações de risco (como o ciclo PDCA) e, assim, cumpra requisitos quanto à prevenção de acidentes e à implementação de ações de segurança e saúde no ambiente de produção rural, incluindo aí realização de exames médicos e disponibilização de materiais de primeiros socorros. 6.3.4 Fatores formadores da Higiene do Trabalho A H igiene do Trabalho , ou H igiene Ocupacional, pode ser definida como a ciência que se dedica aos estudos dos ambientes de trabalho e à erradicação das doenças causadas por eles. Na definição do American Industrial Hygiene Association, é “ a ciência que trata da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos originados nos locais de trabalho e que podem prejudicar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, tendo em vista também o possível impacto nas comunidades vizinhas e no meio ambiente.” Os fatores ou agentes de riscos que envolvem a H igiene do Trabalho podem ser classificados pela sua natureza ou por suas características básicas. Eles são divididos em Fatores ou Agentes de Riscos Físicos, Químicos, Biológicos e de Acidentes, também chamados de Riscos Ambientais. Estes riscos estão ligados ao ambiente físico do trabalhador, mas devemos considerar também os fatores ligados ao ambiente 24 psicológico, aos princípios ergonômicos e à saúde ocupacional. Abaixo são apresentados alguns fatores e agentes de risco: Ambiente Físico – Todo ambiente envolvido nas atividades diárias. Ambiente Psicológico - Diz respeito aos ambientes humanos, que devem ser cordiais e agradáveis, promovendo atividades motivadoras, gerenciamento democrático e participativo e diminuição do estresse. Princípios Ergonômicos - Relacionados à adequação de máquinas e equipamentos para as características humanas, à diminuição do esforço físico, à adequação da jornada de trabalho e à utilização de ferramentas adequadas. Saúde Ocupacional - Trata-se da ausência de doenças por meio da prevenção e da profilaxia. Chama-se de Profilaxia ao conjunto de providências que se tomam para prevenir uma doença ou um contágio. Figuras 29, 30 e 31 – Ambientes Físicos de diferentes atividades rurais. Fontes : https://aldoadv.wordpress.com/2010/01/08/agricultor-prova-da-atividade-rural-port-mpas- n%C2%BA-4-273-de-12-12-1997/ 2016; http://www.mundodastribos.com/cursos-gratuitos-para- produtores-rurais.html2016; http://alfonsin.com.br/danilo-ucha-alerta-sobre-compra-e-venda-de- gado/2016. É importante lembrar que o perigo é a fonte ou situação com potencial para provocar danos; e que risco é a exposição de pessoas a perigos. O risco pode ser dimensionado em função da probabilidade e da gravidade do dano possível, da seguinte forma: Antecipação - Essa fase é caracterizada pela identificação de perigos e avaliação de riscos à saúde, possíveis de ocorrerem nos locais de trabalho. Reconhecimento - Nessa fase são realizadas as análises e observações dos ambientes de trabalho, para identificação dos potenciais de riscos associados aos agentes existentes e para definir o nível de prioridade de controle de riscos. Avaliação - Nessa fase serão feitas as medições qualitativas e quantitativas apropriadas às necessidades da propriedade rural. Controle - Nessa fase enumeram-se as medidas de controle que podem ser adotadas para minimizar ou eliminar os riscos que foram antecipados, reconhecidos e avaliados no ambiente de trabalho. A partir dessa fase, começa o desenvolvimento do plano de ação . 25 6.3.5 Conhecimento dos Riscos Laborais De acordo com a Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural (p 52 ,2015) , todos os dias, o trabalhador rural fica exposto a diversas situações de risco à saúde durante o desempenho de suas atividades no campo. São acidentes com veículos motorizados, ferramentas e objetos cortantes, nível de ruído excessivo, exposição a raios ultravioleta, risco de desenvolver doenças respiratórias, picadas de animais peçonhentos, choques elétricos, exposição a substâncias químicas, entre tantos outros. Figuras 32 e 33 – Trabalhador rural exposto a riscos. Fontes : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015) ; http://br.monografias.com/trabalhos3/atuacao-enfermeiro-uso-indiscriminado-insecticida/atuacao- enfermeiro-uso-indiscriminado-insecticida2.shtml 2016. Quando o assunto é legislação trabalhista, os riscos laborais ou riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos do ambiente de trabalho capazes de causar danos à saúde do trabalhador em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição. Por fim, no setor rural, é preciso considerar ainda os riscos ergonômicos e os de acidentes. Abaixo as características de cada um deles : Agentes Físicos - São considerados agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes e radiações não ionizantes. Agentes Químicos - Substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. Agentes Biológicos - São considerados agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. 26 Riscos Ergonômicos - São considerados riscos ergonômicos àqueles ligados às condições de trabalho, que incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. O controle desses riscos permitirá a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar condições de conforto, segurança e desempenho. Riscos de Acidentes - Situações e condições de insegurança nos ambientes de trabalho que possibilitam a ocorrência de acidentes. Reconhecer o risco significa identificar, no ambiente de trabalho, fatores ou situações com potencial de dano. Avaliar o risco significa estimar a probabilidade e a gravidade de que o dano ocorra. No Quadro abaixo são mostrados alguns exemplos de riscos e suas cores correspondentes: GRUPO I GRUPO II GRUPO III GRUPO IV GRUPO V RISCO FÍSICO RISCO QUÍMICO RISCOBIOLÓGICO RISCO ERGONÔMICO RISCO DE ACIDENTE Ruídos Poeiras Vírus Esforço físico intenso. Arranjo físico inadequado Calor Fumos Bactérias Levantamento e transporte manual de peso. Máquina e equipamento s. Vibrações Neblinas Fungos Controle rígido de produtividade. Animais peçonhento s. Frio Gases Parasitas Imposição de ritmos excessivos. Eletricidade 27 Umidade Vapores Bacilos Trabalho em turnos alternados (diurno e noturno). Probabilidad e de incêndio ou explosão. Radiações não ionizantes (micro- -ondas, raios laser e ultravioleta, radiofrequência, rede elétrica, luz visível). Substância s, compostas ou produtos químicos em geral. Jornadas de trabalho prolongadas. Outras situações de risco que po- derão contribuir para a ocorrência de acidentes. Pressõe s anormai Monotonia e repetitividad e. Armazenament o inadequado. Outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico. Quadro 2 – Exemplos de riscos e suas cores correspondentes. Fonte : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). 6.3.6 Identificação das fontes geradoras de riscos à segurança e à saúde Reconhecer os riscos à s e g u r a n ç a e à saúde e as fontes geradoras de cada risco é essencial para prevenção de acidentes ou doenças. Nos quadros abaixo, são apresentados alguns exemplos de fontes geradoras muito comuns no campo e suas consequências. Os riscos estão divididos por cor . São eles: RISCO FÍSICO Ruído 28 Riscos: um dos principais riscos físicos é o ruído. Ele pode causar uma surdez parcial, total ou até mesmo temporária que, com o passar do tempo, pode se tornar crônica. Atuando diretamente sobre o sistema nervoso, ele pode ocasionar ainda a fadiga nervosa, perda de memória, dificuldade no pensamento e em coordenar ideias, hipertensão, irritabilidade, alteração do ritmo cardíaco, distúrbios e perturbações gastrointestinais, diminuição da visão noturna e dificuldade na percepção de cores. Fontes geradoras: as principais fontes encontradas no trabalho para esse tipo de risco são máquinas e equipamentos, ferramentas como esmerilhadeira, furadeira, compressores entre outros. Umidade Riscos: a exposição do trabalhador à umidade excessiva pode causar doenças no aparelho respiratório e circulatório, doenças de pele e quedas. Fontes geradoras: atividades realizadas em locais alagados ou encharcados, com umida- de excessiva. Calor Riscos: o calor pode causar muitas reações no organismo, entre elas, distúrbios fisiológicos, desidratação, câimbras, prostração, dor de cabeça, tonturas, mal- estar, fraqueza, vertigens e diminuição da produtividade. Fontes geradoras: atividades desenvolvidas junto a fornos e caldeiras, ou em máquinas que transmitam muito calor do motor para os operadores. Radiação Ionizante 29 Riscos: capazes de produzir queimaduras, lesões nos olhos, na pele e em outros órgãos. Fontes Geradoras: trabalhos com radiação infravermelha proveniente de operação em fornos, ou radiação ultravioleta gerada por operações em solda elétrica e até mesmo exposição ao sol. Vibrações Riscos: as vibrações podem ser localizadas ou de corpo inteiro. A primeira pode ocasionar alterações neurovasculares nas mãos, desenvolvimento de distúrbios nas articulações de mãos e braços e perda de substância óssea (osteoporose). Já as de corpo inteiro podem causar lesões na coluna, cansaço, irritação, dor nos membros, artrite, problema digestivo, lesões do tecido mole e lesões circulatórias. Fontes Geradoras: atividades desenvolvidas com máquinas pneumáticas, com motosserras e o trabalho de tratores. Quadro 3 – Fontes Geradoras de Risco Físico. Fonte : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). RISCO QUÍMICO Poeira mineral Riscos: um dos riscos causados pela poeira mineral é uma doença pulmonar chamada silicose. Fontes Geradoras: qualquer tipo de exposição ao pó de sílica pode causar a silicose. Ela afeta, geralmente, pessoas em que o trabalho envolve exposição à sílica, como mineiros e os que lidam com alvenaria. Poeira vegetal 30 Riscos: este tipo de poeira pode causar dois tipos de doenças pulmonares, a bissinose e a bagaçose. Fontes Geradoras: as principais fontes geradoras são as fibras de algodão e da cana de açúcar. Poeira incômoda Riscos: podem agir separadamente, ou com outros agentes presentes no trabalho, aumentando sua nocividade. Fontes Geradoras: locais onde há movimentação de máquinas e outros veículos, os almoxarifados e os barracões de armazenamento de grãos e de adubos. Fumos metálicos Riscos: os fumos metálicos podem causar sérias doenças pulmonares obstrutivas. Fontes Geradoras: um exemplo de fonte geradora são os trabalhos com soldas. Névoas, gases, vapores Riscos: podem causar dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões e até mesmo a morte. Fontes Geradoras: a névoa resultante da aplicação de defensivos agrícolas, assim como os gases dióxido de carbono e monóxido de carbono, resultantes da queima de combustíveis em motores de combustão interna. Quadro 4 – Fontes Geradoras de Risco Químico. Fonte : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). 31 RISCO BIOLÓGICO Micro-organismos Riscos: leptospirose, verminoses, diarreias, brucelose, malária, febre amarela,dengue e outras. Fontes Geradoras: esse risco ocorre por meio de micro-organismos que entram em contato com o ser humano provocando inúmeras doenças. Podem ser provenientes de esgotos, água parada, poços; de condições sanitárias inadequadas em estábulos, pocilgas e barracões de criação de aves; e do trabalho com excreções e secreções de animais. Quadro 5 – Fontes Geradoras de Risco Biológico. Fonte : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). RISCO ERGONÔMICO Trabalho físico pesado, posturas incorretas e posições incomodas Riscos: podem causar cansaço, dores musculares, fraqueza, hipertensão arterial, úlcera duodenal, doenças no sistema nervoso, problemas na coluna e acidentes. Fontes Geradoras : Postos de trabalho mal projetados, ou com funções repetitivas. Ritmo excessivo Riscos: monotonia, trabalho em turnos, jornada prolongada, conflitos, ansiedade e irresponsabilidade. Fontes Geradoras: os trabalhos realizados em pé por longos períodos, como separação de produtos em esteiras (frutas); a repetição da mesma atividade por longos períodos; a má postura em máquinas, equipamentos e implementos; e o carregamento e descarregamento de cargas. Quadro 6 – Fontes Geradoras de Risco Ergonômico . Fonte : Apostila M3Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). RISCO DE ACIDENTE 32 Arranjo físico deficiente Riscos: um arranjo físico deficiente pode contribuir para que ocorram acidentes e desgastes físicos excessivos. Fonte geradora: má iluminação e rampa com inclinação excessiva. Máquinas sem proteção Riscos: possibilidade de produzir acidentes graves. Fonte Geradora: um eixo cardã sem proteção é um excelente exemplo de fonte geradora para essa condição. Instalações elétricas inadequadas Riscos: possibilidade de ocorrência de choques e curtos-circuitos. Fonte Geradora: fios desencapados e fiação exposta são exemplos de fontes geradoras. Ferramentas defeituosas ou inadequadas Riscos: ocorrência de acidentes, principalmente nos membros superiores. Fonte Geradora: cabos inadequados para ferramentas de corte. Armazenamento e manipulação inadequada de inflamáveis e gases,curtos- circuitos e sobrecargas da rede elétrica 33 Riscos: é capaz de produzir incêndios e explosões. Fonte Geradora: fiação elétrica antiga, mal dimensionada, desencapada e exposta a calor intenso são exemplos. Edificações com defeitos de construção Riscos: um dos principais riscos são os de quedas. Fontes Geradoras: os pisos danificados ou com desníveis, escadas sem corrimãos e fora das especificações, plataformas sem guarda-corpo. Quadro 7 – Fontes Geradoras de Risco de Acidente . Fonte : Apostila M3 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). 6.3.7 Realização das condições de Trabalho Rural Fazer o levantamento dos riscos laborais é uma etapa muito importante no programa de gestão de riscos. A avaliação pode ser de dois tipos: Avaliação Qualitativa e Avaliação Quantitativa. Figura 34 – Trabalhador Rural executando o seu trabalho, sendo submetido a riscos laborais. Fonte : Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). 34 Avaliação Qualitativa : É a forma mais simples de avaliação, em que apenas a percepção do avaliador será necessária para identificar o risco existente no local de trabalho. É o tipo de avaliação que dispensa o uso de equipamentos para medir os riscos ambientais. Avaliação Quantitativa : Na avaliação quantitativa é necessária a utilização de instrumentos e equipamentos destinados à quantificação do risco, além do uso de metodologia cientifica. Figura 35 – Avaliação Quantitativa de Ruído Ocupacional. Fonte : http://www.multee.com.br/servicos-de-engenharia/laudo-de-ruido/ 2016 Etapas da Avaliação Ambiental A etapa de avaliação é uma fase de levantamento de pontos importantes para a realização eficiente do programa. De acordo com a Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural (p 68 ,2015) nessa fase, é preciso determinar um responsável pelo programa, os objetivos e as metas, um responsável pelo levantamento de riscos, fazer um inventário de máquinas, equipamentos e implementos, realizar um levantamento do número de empregados com suas funções e locais de trabalho, além da elaboração de um cronograma. Escolha dos Responsáveis pelo Programa e pelo Levantamento O responsável pelo programa deve pertencer à gerência da propriedade ou ter um cargo de confiança, pois a sua atuação será fundamental para a eficiência do programa. Essa pessoa será responsável pela liberação dos recursos necessários para o desenvolvimento do programa. A escolha do responsável pelo levantamento dos riscos segue um critério mais técnico, pois a pessoa escolhida deverá ser capaz de identificar os riscos e suas fontes geradoras. Normalmente, contrata- se uma empresa especializada ou de um profissional da área de segurança (Técnico de Segurança do Trabalho ou Engenheiro de Segurança do Trabalho) para que eles façam o levantamento, pois muitas vezes, esse levantamento exige experiência na percepção dos riscos, e demanda aparelhos para as medições dos níveis de exposição. 35 Figuras 36 e 37 – Levantamento de Dados dos Riscos Laborais em Propriedade Rural. Fonte : Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). Objetivos Cada propriedade terá seus objetivos e suas metas próprias, mas de maneira geral, os objetivos serão os de cumprir as normas de segurança do trabalho, e tornar os ambientes de trabalho mais seguros, prevenindo a ocorrência de doenças ocupacionais, aumento da produtividade, melhoria da saúde e da qualidade de vida. Metas As metas serão traçadas de acordo com os objetivos estipulados pela gerência da propriedade rural . Basicamente , as metas serão as definições do que será realizado em cada etapa do programa. Ou seja, as ações. As etapas para a realização das avaliações de risco são : antecipação , reconhecimento e avaliação. Para cada etapa serão traçadas metas específicas.Estas metas devem ter um responsável e ser sempre acompanhadas de datas. Figuras 38 e 39 – Propriedade Rural ; Metas da Propriedade Rural. Fontes : O Autor, 2016 ; Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). 36 Inventário O inventário é um documento que relaciona os itens encontrados na propriedade rural para fins de identificação, classificação e análise. Essas informações devem subsidiar as ações de gestão, afinal só é possível realizar um controle do que é conhecido. Assim, essa etapa ajuda a controlar melhor os registros e as avaliações, e será fundamental na etapa de definição das medidas de controle. No inventário de máquinas é necessário colocar as seguintes informações: tipo, fabricante, modelo e ano de fabricação. Se for uma máquina estacionária , é necessário adicionar a sua localização na propriedade. Máquina estacionária é a máquina que se mantém fixa em um posto de trabalho, ou seja, transportável para uso em bancada ou em outra superfície estável em que possa ser fixada. Figuras 40, 41 e 42 – Inventário Patrimonial Rural; Máquina da Propriedade : Trator ; Máquina estacionária da Propriedade : Gerador Elétrico. Fontes : http://promo.brazsoft.com.br/e-book-inventario-patrimonial-rural 2016 ; Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015) ; http://www.nardinieletrica.com.br/instalacao-de-geradores-de-energia.php 2016. Número de Trabalhadores, funções e locais de trabalho Estas informações são necessárias para se avaliar os riscos e a exposição dos trabalhadores nos ambientes de trabalho. Ajudam a determinar as prioridades de ação, pois quanto mais pessoas envolvidas em um mesmo risco, maior a necessidade de intervenção e controle. Cronograma Consiste no estabelecimento de prazos de execução do programa, com base na antecipação e/ou reconhecimento dos riscos ambientais avaliados, A primeira etapa do cronograma deverá ser a avaliação dos riscos qualitativos e quantitativos. Na sequência, o cronograma trará as demais ações determinadas pelos objetivos e metas. Duas etapas necessariamente deverão estar no cronograma, as etapas de implementação das medidas de controle e o monitoramento. 37 Figuras 43 e 44 – Risco identificado em levantamento de riscos laborais em uma Propriedade Rural : animais peçonhentos ; Cronograma para execução do Programa de Gestão de Riscos Laborais de uma Propriedade Rural. Fontes : http://segurancasaude.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html2016; Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural ( SENAR-GO, 2015). De acordo com o website http://www.sestr.com.br/2013/07/principais-riscos-relacionados-ao.html os riscos mais comuns relacionados ao trabalho rural são os seguintes : FÍSICO Exposição às radiações solares por longos períodos, sem observar pausas e as reposições calóricas e hídricas necessárias, desencadeia uma série de problemas de saúde, tais como cãibras, síncopes, exaustão por calor, envelhecimento precoce e câncer de pele. Exposição a ruído e à vibração que estão presentes pelo uso das motosserras, colhedeiras, tratores etc. O ruído provoca perda lenta e progressiva da audição, fatiga, irritabilidade, aumento da pressão arterial, distúrbios do sono etc. Já a exposição à vibração ocasiona desconforto geral, dor lombar, degeneração dos discos intervertebrais, a "doença dos dedos brancos" etc. BIOLÓGICO Acidentes com animais peçonhentos cuja relação com o trabalho quase nunca é estabelecida, embora sejam bastante comuns. Ofidismo, aracneísmo, escorpionismo, são os mais comuns. Acontecem ainda com taturanas, abelhas, vespas, marimbondos etc. Exposição a agentes infecciosos e parasitários endêmicos que provocam doenças como a esquistossomose, a malária etc. Exposição a partículas de grãos armazenados, ácaros, pólen, detritos de origem animal, componentes de células de bactérias e fungos provocam um problema de saúde muito comum em trabalhadores rurais, e pouco reconhecido e registrado como tal. São as doenças respiratórias, com destaque para a asma ocupacional e as pneumonites por hipersensibilização. ACIDENTES ( MECÂNICO) 38 Acidentes com ferramentas manuais, com máquinas e implementos agrícolas ou provocados por animais, ocasionando lesões traumáticas de diferentes graus de intensidade. Entre os agricultores estes são os acidentes mais comumente notificados, seja por meio dos sistemas oficiais de informação em saúde, seja pela empresa. ERGONÔMICO ( ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO) A divisão e o ritmo intenso de trabalho com cobrança de produtividade, jornada de trabalho prolongada, ausência de pausas, entre outros aspectos da organização do trabalho, condição particularmente observada em trabalhadores rurais assalariados (como, por exemplo, colheita de cana, flores, café etc.) tem ocasionado o surgimento de uma patologia típica dos trabalhadores urbanos assalariados: as LER/ DORT - Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho. QUÍMICO Exposição a fertilizantes, que podem causar intoxicações graves. As intoxicações registradas têm sido consideradas acidentais, envolvendo produtos do grupo dos fosfatos, sais de potássio e nitratos. As intoxicações por fosfatos se caracterizam por hipocalcemia, enquanto as causadas por sais de potássio provocam ulceração da mucosa gástrica, hemorragia, perfuração intestinal etc. Os nitratos, uma vez no organismo, se transformam - por meio de uma série de reações metabólicas em nitrosaminas, que são substâncias cancerígenas. A exposição a agrotóxicos inclui não só problemas de intoxicações agudas, determinadas pelo contato direto com produtos altamente tóxicos e de conseqüências imediatas (podendo levar o indivíduo à morte), mas também e principalmente problemas crônicos determinados pelo contato tanto direto como indireto a produtos muitas vezes de baixa toxicidade aguda e por tempo prolongado. Os efeitos nocivos dos agrotóxicos na saúde humana variam de acordo com princípio ativo ou do grupo químico destes produtos. Mas de maneira geral, entre os efeitos agudos estão: fraqueza, cólicas abdominal, vômitos, espasmos musculares, convulsões, náuseas, irritações das conjuntivas, tonteira, dor de cabeça, dificuldade respiratória, perda de apetite, sangramento nasal, fasciculação muscular, desmaios, entre outros. Já os efeitos crônicos variam entre: efeitos neurotóxicos, carcinogênicos, teratogênicos, mutagênicos, dermatites de contato, lesões hepáticas e renais, arritmia cardíaca, alergia, asma brônquica, fibrose pulmonar, irritações nas mucosas, disrupção endócrina, danos ao sistema reprodutivo, e outros. É importante lembrar que a avaliação dos riscos servirá de base para a implementação de outro programa, o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Esse programa é posto em andamento pelo profissional médico, familiarizado com os princípios das patologias ocupacionais e suas causas, bem como com o ambiente, as condições de trabalho e os riscos a que está ou será exposto cada trabalhador. O PCMSO deve incluir, entre outros, a realização obrigatória dos exames médicos. 39 Figuras 45, 46 e 47 – Ilustrações representativas de Riscos mais comuns relacionados ao Trabalho Rural : Físico ; Biológico; Acidentes ( Mecânico). Fonte : http://www.sestr.com.br/2013/07/principais-riscos-relacionados-ao.html 2016. Figuras 48 e 49 – Ilustrações representativas de Riscos mais comuns relacionados ao Trabalho Rural : Ergonômico ( Organização do Trabalho) ; Químico. Fonte : http://www.sestr.com.br/2013/07/principais-riscos-relacionados-ao.html 2016. 6.3.8 Hierarquia das implementações das ações de Segurança e Saúde As ações de segurança devem seguir uma hierarquia, com ordem de prioridade e medidas a serem adotadas para evitar acidentes. A NR-31 diz o seguinte : Os Empregadores Rurais ou equiparados devem implementar ações de segurança e saúde que visem à prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na unidade de produção rural, atendendo à seguinte ordem de prioridade: a) eliminação de riscos através da substituição ou adequação dos processos produtivos, máquinas e equipamentos; b) adoção de medidas de proteção coletiva para controle dos riscos na fonte; c) adoção de medidas de proteção pessoal. De acordo com a Apostila M4 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural (p 73 ,2015) cada uma dessas etapas acontece das seguintes maneiras : Eliminação de Risco 40 Assim que o risco é identificado, a primeira atitude a se tomar é eliminá-lo. A eliminação pode ocorrer de várias formas, com a substituição de um processo, de um material ou mesmo utilizando uma medida de engenharia. Um bom exemplo é quando se utiliza uma pessoa para verificar os carrinhos da plantadeira, e esse funcionário permanece na plataforma da plantadeira enquanto ela se desloca na realização do serviço. Nesse caso, a utilização de sensores no processo de plantio seria uma forma de eliminar o risco através da substituição. Outra alternativa seria a adoção de medidas administrativas complementares como, por exemplo, treinamentos, adoção de boas práticas, alteração de procedimentos e redução da exposição aos agentes químicos. Por exemplo: o trabalhador realiza a tarefa de aplicação de produtos fitossanitários apenas pela manhã , no restante do dia executa outras tarefas. Adoção de Medidas de Proteção Coletiva Algumas medidas de engenharia são suficientes para obter modificações nas construções e instalações físicas da propriedade e também alterações no arranjo físico. Nesse último caso, se considera como a posição dos recursos utilizados dentro de um ambiente, ou seja, a relação entre as edificações e as máquinas e equipamentos, os materiais e as pessoas que trabalham naquele local. Um bom arranjo físico proporciona maior conforto para os trabalhadores, permite que os ambientes sejam melhor utilizados, e influencia na melhoria dos ambientes quanto à iluminação, à ventilação, à limpeza e à manutenção.
Compartilhar