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HIGIENE, SEGURANÇA E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO HIGIENE, SEGURANÇA E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Copyright © UVA 2019 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. AUTORIA DO CONTEÚDO Clarice Melo REVISÃO Theo Cavalcanti Clarissa Penna Janaina Senna Lydianna Lima PROJETO GRÁFICO UVA DIAGRAMAÇÃO UVA M528 Melo, Clarice Higiene, segurança e qualidade de vida no trabalho [livro eletrônico] / Clarice Melo. – Rio de Janeiro: UVA, 2019. 2,2 MB : PDF. ISBN 978-85-5459-086-4 1. Higiene do trabalho. 2. Segurança do trabalho. 3. Acidentes de trabalho. 4. Segurança do trabalho. 5. Sistemas de segurança. 6. Administração de risco. 7. Qualidade de vida no trabalho. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 363.11 Bibliotecária Katia Cavalheiro CRB 7 - 4826. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA. SUMÁRIO Apresentação Autor 6 7 Analisando os riscos em higiene e segurança do trabalho 26 • Riscos físicos • Riscos químicos • Riscos biológicos e ergonômicos UNIDADE 2 8 • Conceitos básicos da higiene ocupacional e segurança do trabalho • História da higiene e segurança do trabalho • Conceitos de insalubridade e periculosidade Conceitos e histórico da higiene e segurança do trabalho UNIDADE 1 SUMÁRIO Qualidade de vida no trabalho 64 • Conceitos, benefícios e ações que garantem a QVT • O papel do RH • Consequências da falta de QVT UNIDADE 4 45 • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) • Programa de Proteção Respiratória (PPR) • Programa de Conservação Auditiva (PCA) Os Programas de Higiene e Segurança no Trabalho UNIDADE 3 6 A segurança no trabalho foi durante muito tempo relacionada ao uso de equipamentos de proteção individual. Com o passar das décadas, novas profissões foram surgindo e, com isso, a necessidade de aprofundar-se sobre os riscos a elas associados. A relação do trabalhador com a tecnologia repercutiu de forma positiva para a sociedade, porém trouxe como consequência um enorme índice de acidentes relacionados a doenças ocu- pacionais e a lesões propriamente ditas. A qualidade de vida no trabalho é hoje também considerada uma área relacionada dire- tamente com a segurança no trabalho, pois um bom ambiente organizacional influencia diretamente a produtividade do trabalhador, e isso é conseguido, entre outras coisas, garantindo um ambiente livre de riscos de acidentes e doenças ocupacionais. A higiene ocupacional é a área da segurança no trabalho que tem como objetivo identi- ficar os riscos presentes em todo e qualquer tipo de ambiente laboral e criar estratégias prevencionistas, contribuindo para a manutenção da saúde, segurança e qualidade de vida do trabalhador. APRESENTAÇÃO 7 CLARICE MELO Bióloga, mestre em Meio Ambiente e especialista em Ciências da Educação e Educação Profissional. Atua como professora na área de saúde e segurança e higiene ocupacional desde 2009, na Faculdade de Ciências e Tecnologias e Centro Universitário Jorge Ama- do – Unijorge, e coordenadora do curso de Graduação Tecnológica em Segurança no Trabalho da Unijorge desde 2013. AUTOR C. Lattes http://lattes.cnpq.br/4872246255796702 Conceitos e histórico da higiene e segurança do trabalho UNIDADE 1 9 A Higiene do Trabalho é fundamental para garantir a qualidade de vida do trabalhador. Considerada um dos ramos da segurança no trabalho, está diretamente relacionada a um conjunto de procedimentos que visam proteger a saúde dos trabalhadores de qualquer organização, independentemente do tipo de atividade laboral. O objetivo central da Higiene do Trabalho é garantir a integridade física e mental dos trabalhadores, para tanto analisa todas as etapas e especificidades de uma atividade laboral e quais os riscos aos quais os trabalhadores estão expostos ao longo do tempo de serviço. O objeto norteador da higiene é a Norma Regulamentadora – NR 15 do Ministério do Trabalho, além das normas de higiene ocupacional da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – Fundacentro, que também devem ser utilizadas como apoio em procedimentos e ensaios realizados pelos higienistas. Entender a dinâmica da atividade laboral é papel de todo gestor de segurança, reconhecendo os tipos e níveis de riscos aos quais o trabalhador pode estar exposto para que as devidas providências prevencionistas sejam realizadas, garantindo, dessa forma, a manutenção da saúde do trabalhador. Um dos aspectos que garantem a qualidade de vida do trabalhador é a segurança no ambiente de trabalho. Executar suas atividades com a tranquilidade de que o empregador se preocupa em afastar os riscos ocupacionais melhora, e muito, a produtividade do trabalhador. INTRODUÇÃO Nesta unidade, você será capaz de: • Descrever conceitos e aplicabilidade da higiene ocupacional na identificação, caracterização e prevenção de doenças devido à exposição do trabalhador a agentes de risco. OBJETIVO 10 Conceitos básicos da higiene ocupacional e segurança do trabalho A higiene ocupacional é estruturada como uma ciência prevencionista, que tem como objetivo principal atuar detectando agentes que possam prejudicar a saúde e segurança de trabalhadores, quantificando sua intensidade e/ou concentração, além de definir as medi- das de controle necessárias para garantir a saúde e o conforto dos trabalhadores durante sua atividade ocupacional, passando constantemente por atualizações (BERTOZZI, 2006). Podemos definir a higiene do trabalho como a ciência que visa garantir a integridade física e mental dos trabalhadores. É considerada um dos ramos mais importantes da segurança no trabalho. O profissional de higiene ocupacional utiliza as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e também as normas de higiene ocupacional da Fundacentro. As empresas, em geral, visam muito mais ao lado produtivo e, muitas vezes, negligenciam o investimento em segurança no trabalho, não sabendo que esse investimento previne uma série de complicações futuras, como multas e custos altíssimos de reparação e danos cau- sados aos trabalhadores. Curiosidade “A origem da palavra higiene vem do grego hygeinos, que significa aquilo que é saudável e é derivada do nome da deusa grega Higia que era a deusa da saúde, limpeza e sanidade, exercia uma importante parte do culto de seu pai Esculápio ‘Deus da cura’, sendo ela considerada como a deusa da prevenção e da con- tinuidade da boa saúde. A sua origem na mitologia grega é conhecida desde o século VII a.C.”(ROCHA; BASTOS, 2016) Na literatura, você pode encontrar diversas formas de definir a higiene ocupacional. Veja, a seguir, alguns exemplos. Segundo a American Industrial Hygiene Association – AIHA, a higiene ocupacional é a ciên- cia que se antecipa, reconhece, avalia e controla os riscos originados nos locais de trabalho e que podem prejudicar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, tendo em vista também o possível impacto nas unidades vizinhas e no meio ambiental (BERTOZZI, 2006). 11 A National Safety Council – NSC/USA (Conselho Nacional de Segurança, 2012) traz o conceito de higiene ocupacional como sendo a ciência e arte devotadas à antecipação, ao reconhecimento, à avaliação e ao controle dos fatores ou sobrecargasambientais que surgem nos ambientes ocupacionais e que podem causar doenças, eventualmente prejudicando a saúde e o bem-estar do trabalhador, originando desconforto e ineficiência entre trabalhadores ou cidadãos da comunidade (PEIXOTO; FERREIRA, 2012). Já a Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais – ABHO conceitua a higiene ocupacional como a arte dedicada ao estudo e ao gerenciamento das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos, por meio de ações de antecipação, reconhecimento, avaliação e controle das condições e dos locais de trabalho, visando à preservação da saúde e bem-estar dos trabalhadores, considerando ainda o meio ambiente e a comunidade (http://www.abho.org.br/abho/). Segundo a British Occupational Hygiene Society – BOHS (Sociedade Britânica de Higiene Ocupacional, 2012), a higiene do trabalho é a prevenção de problemas de saúde do trabalho, por meio de reconhecimento, avaliação e controle dos riscos (PEIXOTO; FERREIRA, 2012). Segundo a American Conference of Governmental Industrial Hygienists – ACGIH (c2018), a higiene ocupacional é definida como: [...] ciência e arte do reconhecimento, avaliação e controle de atores ou tensões ambientais originadas do ou no local de trabalho e que podem causar doenças, prejuízos para a saúde e bem-estar, desconforto e ineficiência significativos entre os trabalhadores ou entre os cidadãos da comunidade. Segundo a Occupational Safety and Health Administration – OSHA (Segurança Ocupacional e Administração de Saúde, 2012), a higiene do trabalho é a ciência da antecipação, do reconhecimento, da avaliação e do controle das condições de trabalho que podem causar lesão nos trabalhadores ou doença. Os higienistas que atuam nas indústrias utilizam o monitoramento ambiental e métodos analíticos para identificar e definir o grau de exposição dos trabalhadores e empregam engenharia, controles de prática profissional e outros métodos para conter riscos potenciais à saúde (PEIXOTO; FERREIRA, 2012). https://www.acgih.org/ 12 Alguns fatores levam a acreditar que os altos índices de acidentes eram oca- sionados em função de ritmos excessivos de produtividade, falta de treinamen- to para a realização das tarefas, ferramentas de produção desapropriadas ou utilizadas de forma incorreta, extensa jornada de trabalho, postos de trabalho inadequados ou ineficientes. Desses fatores, surgiu a necessidade de criar leis para proteger a saúde e o bem-estar do trabalhador, pois, apesar de não dispor- mos de documentos que comprovem tais aspectos, acredita-se que o número de acidentes e de casos de doenças era bastante significativo durante o perío- do em que se deram as mudanças na forma de atender ao limite de 12 horas de trabalho por dia, à proibição do trabalho noturno, à obrigação das unidades in- dustriais de manter ambientes ventilados e à lavagem das paredes pelo menos duas vezes ao ano, além de atribuir a higiene como fator primordial para a man- ifestação de ambientes saudáveis. Porém, essas medidas não foram tão efica- zes para a redução dos acidentes de trabalho, além da inexistência da idade mínima exigida para o trabalho (ROSSETE, 2014). Saiba mais Analisando os conceitos vistos, chegamos à conclusão de que as definições de higiene ocupacional podem conter algumas variações, porém é comum em todas o objetivo de proteger e promover a saúde, o bem-estar dos trabalhadores como também do meio ambiente em geral, a partir de ações prevencionistas no ambiente laboral. Importante A higiene ocupacional insere seu discurso em um espaço constituído por um sistema de eixos, sendo o lado vertical representado pelo processo cronológico do desenvolvimento humano, com suas características particulares, ou seja, o indivíduo em movimento na dinâmica dos seus caracteres psicológicos e biológi- cos. Já no eixo horizontal é representado o conjunto de atividades desenvolvidas pelo indivíduo como uma totalidade que trabalha, alimenta, reproduz e diverte-se em um determinado ambiente. Para cada ponto desse gráfico caracteriza-se um indivíduo no conjunto de sua vida. A higiene do trabalho possui normas, recomendações e medidas que, se aplicadas, fariam com que esse indivíduo se mantivesse em estado de saúde até a morte natural (LAROCCA; MARQUE, 2005). 13 MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre conceito de higiene ocupacional. 14 História da higiene e segurança do trabalho Há muitos anos, os trabalhadores, na sua maioria homens, mas também mulheres e crian- ças, sofriam mutilações constantes em virtude da precariedade das condições de traba- lho e das máquinas, que eram extremamente rústicas. Além disso, existia a presença de violência do empregador para com o empregado, ou seja, uma total desorganização, em virtude da inexistência de uma legislação que amparasse essa nova classe dos operários. Curiosidade Segundo Piza (1997 apud PANDOJA et al., 2012), a informação mais antiga sobre a preocupação com a segurança do trabalho foi encontrada em registros egípcios que datam de 2000 a.C. Consta em arquivos que nessa época houve uma revolta em minas de cobre, por meio da qual o faraó concluiu a necessi- dade de melhorar as condições de trabalho dos escravos. O desenvolvimento industrial desenca- deou uma série de transformações tec- nológicas, sociais, econômicas e também das relações de trabalho. Muitas mortes e adoecimentos relacionados à má condi- ção de trabalho precisaram acontecer até que os trabalhadores se manifestassem contra a carga horária excessiva, chegan- do até a 16 horas diárias, trabalho infantil, condições insalubres ao extremo etc. Foi a partir daí que surgiram os sindicatos e, após muitas décadas, as leis trabalhistas que garantiam a integridade dos trabalhadores. A história da evolução da segurança no trabalho e das relações trabalhistas começa a ganhar força a partir da Revolução Industrial, que teve início no século XVIII na Inglaterra. Essa foi a revolução que modificou profundamente as relações sociais e econômicas no ambiente urbano e as condições de vida e trabalho dos proletariados, começando pelo êxodo rural causado a partir do desenvolvimento das manufaturas (CABRAL, 2013). Criança trabalhando em uma fábrica de tecidos nos Estados Unidos, em 1909. 15 Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes garantiu a criação da Organização In- ternacional do Trabalho – OIT em 1919, o que trouxe frutos para o estudo e o desenvolvimen- to de acordos internacionais na área de higiene do trabalho. Como consequência, a partir da década de 1930, na Inglaterra e nos Estados Unidos, houve rápido progresso na identificação de diversas doenças relacionadas às atividades industriais (FUNDACENTRO, 2004). Agora que você já conheceu o contexto geral da história da higiene e se- gurança do trabalho, vamos estudar como essas questões foram tratadas no Brasil. Veja que: A revolução industrial no Brasil iniciou por volta 1930 mesmo com a experiência de outros países na questão de prevenção de acidente co- meçou atrasado, tanto que ficou conhecido como campeão mundial de acidente do trabalho. A sistematização dos procedimentos preventivos ocorreu primeiro nos Estados Unidos, no início do século XX. Na África, Ásia, Austrália e América Latina os comitês de segurança e higiene nas- ceram logo após a fundação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. (PANDOJA et al., 2012) Assim como aconteceu em outros países, o Brasil utilizou-se da mão de obra escrava na mineração e na agricultura, entre outras atividades, até final do século 19. Por mais de 350 anos praticamente, não existiam outras formas de trabalho que não fossem executadas por mão de obra escrava, o que explica, em parte, a quantidade escassa de publicações disponíveis acerca das doenças relacionadas ao trabalho, até bem próximo ao fim da es- cravidão do Brasil (FUNDACENTRO, 2004). Curiosidade As primeiras máquinasnas fábricas eram rudimentares e experimentais, o que deu origem na época a uma enorme incidência de acidentes de trabalho. Os trabalhadores e patrões dessa época não tinham conhecimento ainda sobre os equipamentos de proteção individual e coletiva; com isso, as mutilações e explosões eram frequentes. Não havia nenhum tipo de assistência médica ou seguro social. O trabalho infantil também era bastante comum, e bem requisit- ado, por ser mais em conta (CABRAL, 2013). 16 Durante o período inicial de industrialização no Brasil, a higiene ocupacional já era prati- cada em países desenvolvidos como Estados Unidos e Inglaterra. As primeiras preocu- pações tiveram início a partir de denúncias de proletariados, de reportagens de grandes jornais e pesquisas de universidades. O movimento social, sob influência direta também de imigrantes que já chegaram ao Brasil com consciência sindical europeia, a de denún- cias às lideranças, consegue mobilizar a classe operária para essa grande questão social (FUNDACENTRO, 2004). No Brasil, no dia 1º de maio de 1943, por intermédio do Decreto-Lei nº 5.542, Getúlio Var- gas criou a CLT, composta por oito capítulos que abrangem e especificam direitos dos trabalhadores brasileiros. Nos seus mais de 900 artigos, podem ser encontradas, entre outras, informações referentes: • À identificação profissional. • À duração da jornada de trabalho, • Ao salário mínimo. • Ao direito a férias anuais. • Aos direitos e deveres dos trabalhadores referentes à saúde e à segurança. • À proteção ao trabalho da mulher. • À previdência social. O objetivo foi garantir a proteção dos direitos dos trabalhadores. Os assuntos referentes à saúde e à segurança no trabalho ganham mais ênfase a partir da década de 1960, com a criação da Fundacentro (ROCHA; BASTOS, 2016). No Brasil, o trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão no Brasil em 1888 e com a vinda dos imi- grantes europeus para o País. As primeiras normas trabalhistas surgiram no País com o Decreto nº 1.313, de 1891, que regula- mentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. A política traba- lhista brasileira só toma forma após a Revolução de 30, quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de Direito do Tra- balho no Brasil, assegurando a liberdade sindical, salário mínimo, jornada de oito horas, repouso semanal, férias anuais remunera- das, proteção do trabalho feminino e infantil e isonomia salarial. (CABRAL, 2013) 17 A partir de sua criação, o Ministério do Trabalho exerceu influência na formação de profis- sionais por meio da realização de cursos de Enfermagem, Medicina, Engenharia e Segu- rança no Trabalho. Ele gerou vários trabalhos práticos e atuou na regulamentação e fisca- lização da legislação. Após algumas alterações de nome por inúmeros decretos, o Ministério do Trabalho e Em- prego é quem regulamenta, fiscaliza e implementa, por meio da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho e das Delegacias Regionais do Trabalho, os instrumentos importantes para a regulamentação do trabalho e suas condições de segurança, como exemplo temos as normas regulamentadoras (CABRAL, 2013). A Fundacentro foi criada a exemplo de outros institutos de pesquisa existentes na área de saúde ocupacional, tais como o Helsinque, na Finlândia, e o Niosh, nos Estados Unidos. Seu objetivo, entre outros, tem sido o de responder às inúmeras demandas sobre riscos ambientais, esforços repetitivos, agrotóxicos, educação na área de segurança no trabalho, entre outros (FUNDACENTRO, 2004). A partir da Constituição de 1988, ampliaram-se no Brasil as atribuições e responsabilidades dos estados frente à saúde e à segurança do trabalhador, à medida que os Centros de Referência de Saúde do Trabalhador estaduais e as vigilâncias sanitárias passaram a ter competência para atuar no Sistema Único de Saúde – SUS. Em decorrência de vários movimentos da sociedade brasileira, ocorreram e ocorrem cons- tantes mudanças e atualizações na legislação na área de saúde e segurança dos trabalha- dores. Para tanto, as normas regulamentadoras e preconizados programas de prevenção passam por constantes revisões, visando à preservação da saúde e integridade física dos trabalhadores. Surgem também, no âmbito do Ministério do Trabalho, o Programa de Pre- venção de Riscos Ambientais – PPRA, o Programa de Controle Médico em Saúde Ocupa- cional – PCMSO, o Programa de Prevenção Ocupacional ao Benzeno – PPEOB, Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT, o Pro- grama de Conservação Auditiva – PCA e o Programa de Proteção Respiratória – PPR. A necessidade de reunir as normas trabalhistas em um único có- digo abriu espaço para Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada em 1943, e que após várias alterações, no seu título II – das Normas Gerais de Tutela do Trabalho, já dedica diretamente o seu Capítulo V à Segurança e Medicina do Trabalho, de acordo com a redação dada pela Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. (MACHADO et al., 2009 apud CABRAL, 2013) 18 MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre meio ambiente de trabalho. 19 Conceitos de insalubridade e periculosidade Considerando o tema higiene, segurança e qualidade de vida no trabalho, você irá estudar dois conceitos importantes: • Insalubridade. • Periculosidade. A preocupação com a segurança e saúde do trabalhador deve suplantar qualquer tipo de interesse econômico produtivo. As consequências geradas pelo impacto de agentes insalubres podem ser altíssimas, o que gera um custo ainda mais alto que o investimento inicial e até mesmo a morte do trabalhador. A NR 15 do Ministério do Trabalho especifica, de forma minuciosa, os procedimentos que devem ser realizados para prevenir o risco de acidente de diversas atividades ocupacio- nais insalubres. Acompanhe a explicação a seguir. Insalubridade A insalubridade é conceituada como a atividade que, devido à sua natureza, condições ou méto- dos, expõe o trabalhador a agentes causadores de doença acima de um limite de tolerância relacio- nado à intensidade do agente e/ou ao tempo de exposição, estabelecido pelo Ministério do Traba- lho na NR 15. Art. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. (BRASIL, 1943) Saiba mais Sergio Shumoff / Shutterstock.com 20 Importante Para fins de controle ou neutralização do agente de risco, têm-se os EPCs e os EPIs. O gestor de segurança no trabalho tem função primordial na definição dos tipos de equipamentos para cada atividade laboral. Tão importantes quan- to o empregador investir nos EPCs e EPIs são a preparação, o treinamento e a conscientização dos trabalhadores quanto à forma de utilizá-los. Assim sendo, ainda segundo Marinelli (2016), a caracterização em atividade insalubre acar- retará somente em casos em que os pré-requisitos acima apontados sejam extrapolados; de maneira oposta, o trabalhador deixa de adquirir o direito ao adicional. Conforme orienta o artigo 191 da CLT: Art. 191 - A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalha- dor, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tole- rância. (BRASIL, 1943) Segundo Marinelli (2016), a utilização de medidas alternativas para conservação do am- biente de trabalho em limites aceitáveis pode contribuir para o enquadramento em dife- rentes graduações, sendo que, além da eventualidade do uso do equipamento de proteção coletiva – EPC, pode-se somar a utilização de EPI para maximizaras chances de redução da nocividade dos agentes, visando propiciar melhor condição no ambiente de trabalho. Seguindo com esse pensamento, a possibilidade de enquadramento em diferentes gradua- ções se dá conforme estabelece o artigo 192 constante na CLT: Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, asse- gura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e míni- mo. (BRASIL, 1943) 21 Ainda sobre o adicional de insalubridade, o artigo 194 da CLT prevê que, em caso de neu- tralização absoluta da condição causadora de insalubridade, o direito ao adicional de insa- lubridade é descontinuado. Art. 194 - O direito do empregado ao adicional de insalubridade ou de peri- culosidade cessará com a eliminação do risco à sua saúde ou integridade física, nos termos desta Seção e das normas expedidas pelo Ministério do Trabalho. (BRASIL, 1943) São atividades que podem causar riscos à saúde do trabalhador, caso o limite de tolerân- cia estabelecido na NR 15 não seja cumprido: ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto, exposição ao calor, radiações ionizantes, trabalho sob condições hiperbáricas, radiações não ionizantes, vibrações, frio, umidade, agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância, inspeção no local de trabalho, poeiras minerais, agen- tes químicos, benzeno e agentes biológicos em geral. Periculosidade Periculosidade é a qualidade daquilo que é perigoso ou arriscado para a vida. Normalmen- te, esse termo costuma ser aplicado no âmbito da segurança e saúde do trabalho, indican- do quando determinada atividade ou função é considerada uma ameaça à vida e à saúde do trabalhador (https://www.significados.com.br/periculosidade/). Importante São consideradas atividades ou operações perigosas, segundo o art. 193 da CLT, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Em- prego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a: I - Inflamáveis, explosivos ou energia elétrica. II - Roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. 22 São consideradas atividades ou operações perigosas as executadas com explosivos sujeitos a: a) degradação química ou autocatalítica; b) ação de agentes exteriores, tais como, calor, umidade, faíscas, fogo, fenômenos sísmicos, choque e atritos. (BRASIL, 1978, NR 16) O exercício de trabalho em condições de periculosidade assegura ao trabalhador a percepção de adicional de 30% (trinta por cento), incidente sobre o salário, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participação nos lucros da empresa. O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido (BRASIL, 1978, NR 16). É responsabilidade do empregador a caracterização ou a descaracterização da periculosidade, mediante laudo técnico elaborado por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho (BRASIL, 1943, art. 195). NA PRÁTICA O Brasil registrou cerca de 4,2 milhões de acidentes de trabalho de 2012 até o primeiro semestre de 2018, sendo que 15.768 resultaram em mortes. Os dados são do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho. Já em 2017, foi registrado um total de 895.770 acidentes no Brasil. Segundo a NR 16 do Ministério do Trabalho, são periculosas as atividades ou operações em que a natureza ou os seus métodos de trabalhos confi- gurem um contato com substâncias inflamáveis ou explosivos, substâncias radioativas ou radia- ção ionizante, ou energia elétrica, em condição de risco acentuado. 23 Cortes, lacerações, feridas contusas e puncturas (furos ou picadas) responde- ram por cerca de 92 mil casos. Ainda contabilizam nos dados 78.499 fraturas e 67.371 contusões/esmagamentos. Segundo estimativas do Observatório, cer- ca de 28,7 bilhões de reais foram gastos de 2012 até agora com benefícios acidentários, que incluem auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente. Foram quase 334 milhões de dias de trabalho per- didos por causa dos acidentes de trabalho. Os dados acima demonstram que infelizmente ainda há muito que fazer nas empresas e indústrias brasileiras, em se tratando de higiene ocupacional. So- mente a partir do momento que a gestão empresarial for atrelada em todos os sentidos à prevenção da segurança e saúde do trabalhador esse cenário poderá ser modificado. 24 Resumo da Unidade 1 A Higiene Ocupacional é uma subárea da segurança no trabalho, sendo conhecida por seu caráter prevencionista, tendo como objetivo primordial a identificação, caracteriza- ção e qualificação dos tipos de riscos presentes em um ambiente laboral, para que ações prevencionistas sejam realizadas conforme as especificidades do trabalho. A preocu- pação com a segurança e a saúde do trabalhador tem início a partir da Revolução In- dustrial, porém a consolidação das leis do trabalho no Brasil ocorre somente em 1943 com Getúlio Vargas. Para atividades laborais com exposição do trabalhador a agentes insalubres e perigosos, é garantido por lei um adicional a seus proventos, a depender da especificidade do agente. A higiene ocupacional é considerada como a arte dedicada ao estudo e ao gerenciamento das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos, por meio de ações de antecipação, reconhecimento, avaliação e controle das condições e dos locais de trabalho, visando à preservação da saú- de e do bem-estar dos trabalhadores, considerando ainda o meio ambiente e a comunidade. CONCEITO 25 Referências AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS. Cincinnati, c2018. Disponível em: https://www.acgih.org/. Acesso em: 10 dez. 2018. BASTOS, M.; ROCHA, R. Higiene ocupacional ao alcance de todos. São Paulo: RTX Am- biental, 2016. BERTOZZI, A. D. Princípios básicos de higiene ocupacional. Minas Gerais: Faculdade Pitágoras, 2006. Disponível em: http://www.bertozi.com/adb/PITAGORAS/Engenharias/ Eng_Civil/apostila%20higiene%20ocupacional.pdf. Acesso em: 28 dez. 2018. BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 9 ago. 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm. Acesso em: 20 dez. 2018. . Portaria n° 3.214, de 8 de junho de 1978. Aprova as normas regulamentadoras que consolidam as leis do trabalho, relativas à segurança e medicina do trabalho. Nor- ma Regulamentadora nº 16 (NR 16): atividades e operações perigosas. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 6 set. 1978. Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documen- tos/SST/NR/NR16.pdf. Acesso em: 28 dez. 2018. CABRAL, F. M. Análise da demanda ergonômica, medição de iluminância e tempe- ratura em um supermercado. 2013. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especiali- zação em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bits- tream/1/1534/1/CT_CEEST_XXV_2013_11.pdf. Acesso em: 28 dez. 2018. FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Introdução à higiene ocupacional. São Paulo, 2004. Disponível em: http://www.funda- centro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2011/8/introducao-a-higie- ne-ocupacional. Acesso em: 28 dez. 2018. GOELZER, B. I. F. Higiene ocupacional: importância, reconhecimento e desenvolvimento. Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. São Paulo, 25 nov. 2014. Disponí- vel em: http://www.abho.org.br/wp-content/uploads/2014/02/higieneocupacional_bere- nice.pdf. 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M.; MARQUE, V. R. B. Quando a higiene se torna pública: saúde e Estado. Cogitare Enfermagem. Curitiba, v. 10, n. 1, p. 75-80, jan./abr. 2005. Disponível em: https:// revistas.ufpr.br/cogitare/article/viewFile/4682/3629. Acesso em: 28 dez. 2018. MARINELLI, J. P. G. Insalubridade: conceito, evolução e aplicação. 2016. 45 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Univer- sidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Disponível em: http://repositorio. roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/7574/1/LD_CEEST_IV_2017_14.pdf. Acesso em: 28 dez. 2018. PANDOJA, J. et al. Prevenção e medicina do trabalho. 2012. Trabalho apresentado à dis- ciplina de Gestão de Pessoas, do curso de Administração, turma 4º ADN, como requisito de avaliação para nota parcial. Orientação: Patrícia Assunção dos Santos Barreto. Cen- tro de Ensino Superior do Amapá, Macapá, 2012. 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Para tanto, utilizam-se princípios administrativos de engenharia e medicina ocupacional. Tem como foco principal de atuação identificar os agentes nocivos, quantificando e qualificando-os para, de forma preventiva, propor medidas de controle, conforme as normas regulamen- tadoras do Ministério do Trabalho, que assegurarão um ambiente saudável de trabalho. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de: • Definir os tipos de riscos ocupacionais e suas principais características. 29 Riscos físicos Os riscos físicos são definidos como formas diversas de energia que fazem parte do dia a dia laboral, em quantidade considerada superior àquela que o organismo é capaz de suportar, podendo ser consideradas agentes causadores de doença profissional. Podem ser representados por algum tipo de energia a que possam estar expostos os trabalhado- res, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas e radiações ionizantes e não ionizantes. Vamos conhecer com mais detalhes os tipos de riscos físicos? Ruído O conforto auditivo é uma das necessidades do ser humano. O ruído é definido como um som indesejável, produto das atividades diárias da comunidade. O som representa as vibrações mecânicas da matéria. Por meio dele ocorre o fluxo de energia na forma de ondas sonoras (PEIXOTO; FERREIRA, 2012). Os ambientes com ruído causam incômodos que podem interferir na concentração e comu- nicação, aumentando a possibilidade de erros e de acidentes durante a execução de atividades. O profissional, quando em condições de ruído, precisa se esforçar constantemente para ter uma maior concentração e isso gera estresse. Uma exposição a um ruído intenso e repetitivo pode provocar perda auditiva tempo- rária, levando a um dano permanente conhecido como perda auditiva induzida por ruído – PAIR. Saiba mais Existem legislações específicas que regulamentam e determinam os limites permissíveis em unidades de decibéis. A NBR n° 10.152/ABNT, por exemplo, estabelece um limite de 60 dB para uma condição adequada de trabalho (HIRATA, 2002). 30 Temperaturas extremas - calor O desconforto térmico existente em um ambien- te de trabalho pode ser prejudicial à saúde dos trabalhadores. Para temperaturas acima de 25 °C, o corpo humano busca a sudorese como mecanismo de compensação. Realizar traba- lhos que necessitem de um esforço grande, bem como a exposição a uma fonte de calor por um período de tempo prolongado, pode causar grande desconforto e alguns sintomas comuns, como a desidratação pelo excesso de suor, fadiga, cansaço, sonolência e redução de desempenho físico e mental. Temperaturas extremas - frio Da mesma maneira como em condições de calor, o desconforto térmico existente em um ambiente de trabalho muito frio pode ser prejudicial à saúde dos trabalhadores. Os vasos sanguíneos das extremidades do corpo se contraem para diminuir a perda de calor no am- biente, enviando, assim, mais sangue para os órgãos vitais, como o coração e o cérebro. Como consequência disso, ocorre uma queda brusca da temperatura da pele (PEIXOTO; FERREIRA, 2012). O primeiro sinal de dano por frio é uma sen- sação de adormecimento e anestesia dos te- cidos atingidos. As lesões mais graves cau- sadas por essa sensação térmica decorrem da perda excessiva de calor do corpo e de uma diminuição da temperatura, o que cha- mamos de hipotermia. Em casos mais extre- mos, também pode ocorrer o congelamento dos tecidos, alterando a estrutura celular, causando necrose. Estão sujeitos a esse tipo de risco profissionais que trabalham em câmaras frigoríficas, em locais abertos com serviços de refrigeração e os que utilizam nitrogênio líquido e gelo-seco. 31 Material radioativo O uso de fontes radioativas de vários tipos estáamplamente difundido em alguns setores. O con- trole dessas fontes nem sempre é feito da manei- ra adequada e a exposição acidental das pessoas pode provocar muitos danos à saúde, dependendo da sua duração, da atividade, do material radioati- vo em questão e da região do corpo afetada (SAN- TOS, 2006). A maioria dos acidentes com materiais radioativos foi causada por falha humana. Isso aumenta a responsabilidade de todos os envolvidos de forma direta ou indireta nesse processo, com o intuito de garantir a segurança de todos. Há sempre atenção especial voltada ao possível desvio de materiais radioativos para fins obscuros, como, por exem- plo, atentados terroristas. Para prevenir tais situações, é necessário um maior controle por parte dos usuários e órgãos reguladores (SANTOS, 2006). Radiação ionizante São emissões de energia em diversos níveis, como raios X, raios gama e partículas alfa e beta, capazes de provocar a ionização dos átomos (retirada de elétrons), quando em contato com eles, e de causar alterações dos tecidos. As precauções em relação ao tem- po de exposição do operador devem ser rigorosas, levando-se em conta o menor tempo possível. O efeito das radiações sobre um organismo depende do tipo de célula irradiada, assim como do estágio do desenvolvimento celular. Esses efeitos nocivos podem ser so- máticos (câncer induzido por radiações, leucemias, câncer dos ossos, dos pulmões e da pele, lesões cutâneas e gastrointestinais, perda de cabelo, deficiências sanguíneas e ca- taratas) ou hereditários (sintomas observados em descendentes de indivíduos expostos). Radiação não ionizante Refere-se às radiações a que somos expostos diariamente nos vários ambientes de tra- balho, como a luz natural, radiação infravermelha e ultravioleta (HIRATA, 2002). Ao con- trário da radiação ionizante, a radiação não ionizante possui relativamente baixa energia, não tem poder de ionização, mas é absorvida por várias partes celulares, causando da- nos à saúde. Os olhos e a pele são os mais vulneráveis, podendo ocorrer queimaduras agudas da pele, lesões de córnea, íris, retina e cristalino do olho. 32 Importante Segundo Garcia Junior (2014), os agentes físicos são caracterizados pela sua capacidade de causar doenças àqueles que entram em contato direto com a fonte, podendo originar lesões crônicas. O controle da fonte e a manutenção da saúde do trabalhador são obtidos a partir de medidas de proteção coletivas e individuais, treinamento, elaboração de ordens de serviço sobre saúde e segurança, com o intuito de orientar os trabalhadores sobre os riscos existentes no ambiente laboral. MIDIATECA Acesse a Midiateca da unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre exposição ocupacional ao ruído e acidentes do trabalho. 33 Riscos químicos A utilização de substâncias químicas no processo produtivo aumentou consideravelmente com a industrialização, quando teve início, por exemplo, o processo produtivo de diversos tipos de substâncias sintéticas derivadas do petróleo. Essa evolução trouxe avanços importantes e decisivos, mas também causou impactos marcantes no meio ambiente e na saúde das populações, em virtude da poluição e da contaminação dela decorrentes. A indústria química é considerada, segundo Brasil (2006), o terceiro maior setor industrial no mundo, empregando milhões de pessoas, sendo também um dos segmentos mais diversificados, que produz uma grande variedade de substâncias químicas, subprodutos e produtos, desde as mais básicas, para produção de pesticidas, solventes, aditivos e produtos farmacêuticos, até matérias-primas ou produtos fundamentais nas etapas dos processos produtivos de praticamente todas as cadeias produtivas existentes. Vamos entender o que é o risco químico e como ele é caracterizado? Acompanhe a explicação. O risco químico é caracterizado pela exposição de trabalhadores a substâncias, compostos químicos e/ou produtos que podem penetrar no organismo por três vias: respiratória, cutânea ou digestiva, provocando doenças ocupacionais (SILVA, 2012). Contaminação pela via respiratória Segundo Freitas e Arcuri (2000), no trabalho, a forma mais frequente de contaminação química ocorre a partir da via aérea. A substância penetra no corpo pela respiração. Durante a inspiração, o ar entra pelo nariz e traz consigo substâncias químicas que podem estar presentes no ambiente. Quais são os danos que esse tipo de contaminação pode causar? Em geral, os danos dependem do tipo de substância. Por exemplo, a contaminação pode causar desde irritações na mucosa nasal e na garganta até dores no peito ao respirar, podendo atingir até mesmo os pulmões. 34 Vamos ver alguns exemplos mais específicos: • A sílica e o amianto, quando inalados, podem prejudicar os pulmões e causar doen- ças como a silicose e a asbestose. • O benzeno, quando aspirado, pode chegar aos pulmões, passando para a corrente sanguínea e chegando até mesmo a medula óssea. Importante O reconhecimento e a análise dos riscos químicos relacionados a agentes quími- cos são atividades prioritárias para qualificar a intervenção na defesa da saúde do trabalhador: quem não reconhece não pode avaliar e prevenir o risco. Quem melhor conhece o ambiente e os riscos a que está submetido é o trabalhador, e sua participação é fundamental em todas as ações que envolvam sua saúde. Por ser uma das situações de exposição a agentes químicos mais acompanha- das no Brasil, com um histórico de experiências determinantes na construção do movimento de defesa da saúde dos trabalhadores, faremos a discussão de risco químico desse protocolo a partir do benzeno (BRASIL, 2006, p. 8). Contaminação pela via cutânea Freitas e Arcuri (2000) afirmam que as substâncias químicas também podem penetrar no organismo por meio da pele. Esses produtos podem agir de duas formas: • Pelo contato direto com a pele. • Pela penetração pela pele. As substâncias que agem pelo contato direto na pele podem provocar: • Queimadura, se a substância for corrosiva. • Reação alérgica, o que pode ocasionar ferimento ou inchaço. As substâncias que penetram na pele agem da seguinte forma: entram na corrente sanguí- nea e o sangue as leva para outras partes do corpo, da mesma forma que na respiração. Qual é a consequência disso? Essa contaminação pode provocar problemas nos rins, no fígado, no coração ou outra parte do corpo. Por exemplo, o benzeno provoca dano na pro- dução do sangue. Resumindo, o dano vai depender do tipo de produto químico. 35 É importante que você saiba que, como nossa pele é razoavelmente resistente, a quanti- dade de substância que penetra pela pele, em geral, é menor do que a que penetra pela respiração. Contaminação pela via digestiva Ainda segundo Freitas e Arcuri (2000), a substância química pode penetrar no nosso cor- po pela via digestiva, normalmente de forma acidental. Essa contaminação pode ocorrer quando o trabalhador come, bebe ou fuma no ambiente de trabalho. Como consequên- cia, a substância química pode provocar queimadura ou irritação já na boca, ou no cami- nho entre a boca e o estômago. Algumas não provocam esses tipos de problema nesses locais, mas vão ser levadas, pelo sangue, para outras partes do corpo. Por isso que, quando tomamos alguma bebida alcoólica, depois de algum tempo, ela é absorvida, o sangue carrega o álcool até o nosso sistema nervoso e ficamos com os sintomas de bebedeira: tontura, euforia, mudança de personalidade e, muitas vezes, uma grande dor de cabeça (FREITAS; ARCURI, 2000). Prevenir é uma das formas de evitar os problemas de saúde ocupacional que podem ser desencadeados por essa exposição. Para a efetividade dessa prevenção, é necessário que os trabalhadores tenham conhe- cimento sobre os riscos oferecidos pelas substâncias químicas. O reconhecimento e a análise dos riscos relacionados a agentes químicos são atividades prioritárias para qua- lificar a intervenção na defesa da saúde do trabalhador: quem não reconhecenão pode avaliar e prevenir o risco (SILVA, 2012). MIDIATECA Acesse a Midiateca da unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre os riscos do benzeno para a saúde do trabalhador. 36 Riscos biológicos e ergonômicos Os agentes biológicos são classificados em quatro tipos diferentes de risco biológico, de acordo com o tipo de infecção que podem apresentar. A progressão na classificação desses riscos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, utiliza como critérios a patogenicidade para o homem, o modo de transmissão, a endemia e a existência ou não de profilaxia e de tratamento eficazes. Formas de transmissão dos agentes biológicos Segundo Peixoto e Ferreira (2012), a transmissão de um agente biológico pode se dar das seguintes maneiras: Vias de penetração dos agentes biológicos Segundo a NR 32, os microrganismos patogênicos podem entrar no corpo humano a partir da permeação de uma pele danificada, por picadas acidentais, mordidas ou por fixação em mucosas. Podem também ser inalados ou ingeridos, levando às infecções do trato respiratório superior ou do sistema digestivo. Direta Indireta A transmissão se dá sem a intermedia- ção de veículos ou vetores, como a que ocorre na transmissão aérea por bioae- rossóis, na transmissão por gotículas e contato com a mucosa dos olhos. A transmissão se dá por meio de veícu- los ou vetores, como a que acontece na transmissão por meio de mãos, instru- mentos perfurocortantes, luvas, roupas, vetores, água, alimentos, superfícies etc. 37 Classificação dos agentes biológicos A NR 32, em seu Anexo I, classifica os agentes biológicos em: a) Classe de risco 1. b) Classe de risco 2. c) Classe de risco 3. d) Classe de risco 4. Exposição por via cutânea: a pele é uma importante porta de entrada de uma substância biológica. Algumas substâncias químicas liberadas por seres vivos podem afetar localmente a pele, provocando irritações. As principais formas de contaminação ocorrem por meio da pele danificada ou membranas mucosas (boca, olhos), lesões por materiais perfurocortantes contaminados e arranhões ou mordidas. Exposição por via respiratória: os agentes biológicos invadem o organismo humano preferencialmente por meio das vias respiratórias, penetrando pelo nariz, garganta, traqueia e brônquios. Ingestão: os agentes biológicos são introduzidos no sistema gastrointestinal pela boca, com trânsito pelo esôfago, antes de atingirem o estômago. Como exemplo de uma contaminação por ingestão, podemos citar a contaminação por Salmonella ssp., no consumo de alimentos conservados em condições não adequadas, e a hepatite A, que é transmitida por meio de alimentos e água contaminados com o vírus. Saiba mais Veja o que estabelece o Anexo I da NR 17: “Os agentes biológicos são classificados em: Classe de risco 1: Baixo risco individual para o trabalhador e para a coletividade, com baixa probabilidade de causar doença ao ser humano. 38 Movimentos repetitivos Os movimentos repetitivos são aqueles que acontecem quando a contração contínua de alguns músculos ocorre para se manter uma determinada posição. Os trabalhos que dependem desse tipo de movimento geram constantemente problemas de saúde que, muitas vezes, necessitam ser corrigidos por intervenção cirúrgica. Os trabalhos que ge- ram esse tipo de movimentos devem e podem ser evitados, utilizando-se estudos er- gonômicos para se impedirem lesões decorrentes, além da diversificação de trabalho e mudanças de postura. O termo criado para esse tipo de risco é lesão por esforços repetitivos – LER, que atualmente se denomina doenças osteomusculares relacionadas com o trabalho – Dort. Riscos ergonômicos Considera-se risco ergonômico qualquer fator que possa interferir nas características psicológicas e fisiológicas do trabalhador, a partir da realização de atividades laborais em condição de desconforto que possa afetar sua saúde. São exemplos de risco ergo- nômico o levantamento e transporte manual de peso, o ritmo excessivo de trabalho, a monotonia, a repetição, a responsabilidade excessiva, a postura inadequada de trabalho e o trabalho em turnos (HIRATA, 2002). Classe de risco 2: Risco individual moderado para o trabalhador e com baixa probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças ao ser humano, para as quais existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. Classe de risco 3: Risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças e infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. Classe de risco 4: Risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.” Fonte: Anexo I da NR 32 (BRASIL, 2005). 39 Vamos conhecer algumas dessas lesões? Bursites: Inflamação acompanhada de dores de uma bolsa que contém líquido sinovial. Esse líquido envolve as articulações, o que facilita o movimento e evita o atrito entre duas estruturas, por exemplo, tendão e osso. Um dos locais mais afetados são os ombros. Síndrome do desfiladeiro torácico: Devido à posição incorreta adquirida nos trabalhos manuais, como apoiar o telefone sobre o ombro e pressioná-lo com a orelha, ou trabalhar em bancos altos em laboratórios com balcões baixos, ocorre uma compressão dos nervos, artérias e veias, causando dores e desconforto. Tendinite: Inflamação acompanhada de dores de um tendão. Ela pode surgir pelo excesso de repetições de um mesmo movimento e de sobrecarga. Saiba mais Veja o que estabelece a NR 17: “17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. 40 17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.” Fonte: NR 17 (BRASIL, 1978). MIDIATECA Acesse a Midiateca da unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre biossegurança. 41 NA PRÁTICA “‘O Ministério do Trabalho autuou 19.870 empresas devido ao descumprimento às normas de proteção à saúde do trabalhador em 2017. No total, foram 72.294 autuações por infrações cometidas – média de 3,6 por empresa. Nos primeiros quatro meses deste ano, já foram 2.678 empresas com autos lavrados pela mesma razão. [...] A segurança começa pelo reconhecimento e avaliação dos riscos. É preciso conhecer detalhadamente cada tarefa a ser realizada, os riscos envolvidos e os meios para prevenir os possíveis acidentes ou doenças relacionados a cada risco identificado. Feita a avaliação e estabelecidos os meios de controle, os trabalhadores devem ser adequadamente informados sobre os riscos e treinados sobre as formas de prevenção’, afirma o auditor- fiscal Jeferson Seidler, assistente técnico do Departamento de Saúde e Segurança no Trabalho, do Ministério do Trabalho. [...] Segundo o auditor, as empresas estão sujeitas a multa e até embargos e interdições das atividades, a depender da gravidade e risco no local de trabalho. No caso de descumprimento das Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde, independentemente de ocorrer acidente ou não, o empregador é multado. Os valores variam a depender de váriosfatores.” Fonte: http://www.protecao.com.br. A reportagem comprova a importância da atuação do gestor de segurança no trabalho. Negligenciar a presença dos riscos ocupacionais descumprindo as normas de proteção à saúde e segurança é expor de forma irresponsável a vida do trabalhador. Os índices demonstram que ainda há muito trabalho de prevenção a ser realizado. http://www.protecao.com.br/noticiasdetalhe/Jyy5J9jjJ9/pagina=2 42 Resumo da Unidade 2 Nesta unidade você estudou que o Ministério do Trabalho, de acordo com as normas regulamentadoras, classifica os riscos nos ambientes de trabalho segundo a sua na- tureza, que pode ser química, física, biológica, ergonômica ou de acidente. É papel do gestor em segurança no trabalho conhecer a higiene ocupacional, para que, dessa ma- neira, consiga tanto reconhecer, mensurar e caracterizar esses riscos como contribuir para a manutenção da saúde, segurança e qualidade de vida no ambiente de trabalho, garantindo também a produtividade organizacional. CONCEITO Os riscos ocupacionais influenciam diretamente o dia a dia e a produtividade da organização, interferindo nos resultados e na saúde e segurança do trabalhador. A higiene ocupacional é capaz de identificar e reduzir o grau de exposição aos riscos presentes no ambiente de trabalho, propondo medidas de prevenção que dependem da atuação do gestor e da equipe de pessoas para serem implementadas. 43 Referências ALONSO, I. R. Apostila de higiene ocupacional. Scridb. [S. l.], 2009. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/338362006/apostiladehigieneocupacional-profiolanda- 121030093827-phpapp02-pdf. Acesso em: 27 dez. 2018. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho e gestão ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2010. BERTOZZI, A. D. Princípios básicos de higiene ocupacional. Betim: Faculdade Pitágoras, 2006. Disponível em: http://www.bertozi.com/adb/PITAGORAS/Engenharias/Eng_Civil/ apostila%20higiene%20ocupacional.pdf. Acesso em: 27 dez. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Introdução à higiene ocupacional. São Paulo, 2004. Disponível em: http://www. fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2011/8/introducao- a-higiene-ocupacional. Acesso em: 28 dez. 2018. GARCIA JUNIOR, A. C. (org.). Manual técnico da NR 29: segurança e saúde no trabalho portuário. São Paulo: Fundacentro, 2014. Disponível em: http://www.fiesp.com.br/indices- pesquisas-epublicacoes/manual-de-seguranca-e-saude-no-trabalho-industria-grafica/. Acesso em: 27 dez. 2018. GOELZER, B. I. F. Higiene ocupacional: importância, reconhecimento e desenvolvimento. Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. São Paulo, 25 nov. 2014. Disponível em: http://www.abho.org.br/wp-content/uploads/2014/02/higieneocupacional_berenice. pdf. Acesso em: 28 dez. 2018. HIRATA, M. H. Manual de biossegurança. Barueri: Manole, 2002. MIRANDA, C. R.; DIAS, C. R. PPRA/PCMSO: auditoria, inspeção do trabalho e controle social. 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S. Riscos químicos hospitalares e gerenciamento dos agravos à saúde do tra- balhador de enfermagem. Revista de Pesquisa: cuidado é fundamental online. Rio de Ja- neiro, p. 21-24, jan/mar. 2012. Edição Suplementar. Disponível em: http://www.seer.unirio. br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1662/pdf_503. Acesso em: 28 dez. 2018. http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1662/pdf_503 http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1662/pdf_503 Os Programas de Higiene e Segurança no Trabalho UNIDADE 3 47 A Higiene Ocupacional, para atingir seus objetivos prevencionistas, lança mão de uma série de programas que devem ser implementados nas organizações como forma de facilitar a gestão do profissional de Saúde e Segurança no Trabalho na manutenção da saúde do trabalhador e da qualidade de vida organizacional. Nesta unidade, você estudará os programas de: • Prevenção aos riscos ambientais. • Prevenção respiratória. • Conservação auditiva. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de: • Estudar alguns dos principais tipos de programas que auxiliam o gestor em segurança a promover a saúde e a segurança no ambiente de trabalho. 48 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, ou PPRA, é um programa estabelecido pela Norma Regulamentadora 9, da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, do Ministério do Trabalho. Qual é o objetivo desse programa? Esse programa tem por objetivo definir um planejamento de um conjunto de ações que garantam a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores frente aos riscos existentes nos ambientes organizacionais. O Ministério do Trabalho considera como riscos ambientais todos os agentes físicos, químicos e biológicos. Ainda existem os riscos ergonômicos e de acidentes. Para serem considerados agentes de risco ambiental, eles devem ser identificados a partir de perícias técnicas realizadas por profissionais da área de saúde e segurança, em concentrações ou intensidades definidas em normas regulamentadoras (SAPUCAIA, 2011). A figura mostra a má e a boa postura quando se está sentado em frente a um computador. A má postura é considerada um dos riscos ergonômicos. A NR 9 descreve, detalhadamente, todas as fases de implementação das etapas que devem ser cumpridas no desenvolvimento do programa, além dos itens que compõem o reconhecimento dos riscos, os limites de tolerância adotados na etapa de avaliação e os parâmetros que definem as medidas de controle. Essa norma estabelece, ainda, a obrigatoriedade da existência de um cronograma que direcione as fases a serem cumpridas e os prazos. 49 Segundo Miranda e Dias (2003), um aspecto importante desse programa é que ele pode ser elaborado dentro dos conceitos mais modernos de gerenciamento e gestão, em que o empregador tem autonomia suficiente para, com responsabilidade, adotar um conjunto de medidas e ações que considere necessárias para garantir a saúde e a integridade física de seus trabalhadores. A elaboração, a implementação e a avaliação do PPRA podem ser feitas por qualquer pessoa ou equipe de pessoas que, a critério do empregador, sejam capazes de desenvolver o disposto na norma. Além disso, cabe à própria empresa estabelecer as estratégias e as metodologias que serão utilizadas para o desenvolvimento das ações, bem como as formas de registro, manutenção e divulgação dos dados gerados no desenvolvimento do programa. As ações do PPRA devem ser desenvolvidas no âmbito de cada estabelecimento da empresa, sendo que sua abrangência e profundidade dependem das características dos riscos existentes no local de trabalho e das respectivas necessidades de controle. Saiba mais A NR 9 estabelece todas as diretrizes e os parâmetros a serem periciados na execução do PPRA. Para a efetiva adesão das empresas ao programa, a norma estabelece que a organização deve adotar técnicas de avaliação que verifiquem continuamente o cumprimento das etapas, das ações e das metas previstas. Essa norma também prevê o controle social, garantindo aos trabalhadores o direito à informação e à participação no planejamento e no acompanhamento da execução do programa (MIRANDA; DIAS, 2003). EPI/EPC O uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) encontra-se previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e regulamentado pela Norma Regulamentadora 6 do Ministério do Trabalho, sendo, segundo a legislação vigente, obrigatório. É importante que você saiba que a entrega desses equipamentos deve ser fornecida pelo empregador, que também tem a obrigação de fiscalizar o uso por parte de seus empregados e de promover ações que conscientizem seus trabalhadores da importância da utilização dos EPIs quando eles se recusarem a usar. 50 Observe a figura a seguir que mostra alguns equipamentos de segurança. Como podemos definir o EPI? Vejamos! • Segundo a Portaria nº 3.214/1978, com última alteração pela Portaria nº 292/2011, EPI é “todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”. A NR 6 traz a mesma definição. Certificado de aprovação dos EPIs Conforme a NR 6, o equipamento de proteção individual de fabricação nacional ou importado só poderá ser posto à venda para ser utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (CA), que é um certificado que atesta a qualidade e a eficácia do equipamento para aquele determinado uso. O CA dos EPIs deve ser regulamentado pelo Ministério do Trabalho e deverá ser expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério, uma vez que este atestará a conformidade dos EPIs com as especificações no âmbito do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro) para um determinado uso, e assim, com essa certificação, o material é considerado apto para ser comercializado como EPI. 51 Como previsto na NR 6, para fins de comercialização, o CA concedido aos EPIs terá vali- dade de cinco anos para aqueles equipamentos com laudos de ensaio que não tenham sua conformidade avaliada no âmbito do Sinmetro e um prazo vinculado à avaliação da conformidade no âmbito do Sinmetro, quando for o caso, e ainda, quando necessário e mediante justificativa, o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho poderá estabelecer novos prazos (CISZ, 2015). Veja o que Cisz (2015, p. 27) afirma sobre esse assunto: Todos os EPIs deverão apresentar em caracteres indeléveis e bem visí- veis o nome comercial da empresa fabricante, o lote de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador, o lote de fabricação e o número do CA. A NR-6 destaca, ainda, que quando não for possível cumprir o determinado acima o órgão nacional com- petente em matéria de segurança e saúde no trabalho poderá autorizar uma forma alternativa de gravação, a ser proposta pelo fabricante ou importador, devendo esta constar do C.A. O CA é indispensável para os EPIs Você sabe por que esse certificado é tão importante? Veja a seguir! Esse documento contém o conjunto de informações indispensáveis para garantir que um determinado EPI apresente as especificações necessárias para cumprir sua finalidade de proteger o empregado contra o risco que a atividade que ele estiver realizando possa lhe oferecer. Vale destacar que os EPIs, para receber esse certificado, passam por todas as análises e testes que comprovam sua qualidade (CISZ, 2015). A implantação de medidas de proteçãocoletiva deverá obedecer à seguinte hierarquia: 52 Medidas que reduzam os níveis ou a concentração desses agentes no ambiente de trabalho. Medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de trabalho. Medidas que eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde. A implantação de medidas de caráter coletivo deverá ser acompanhada de treinamento dos empregados quanto aos procedimentos que assegurem sua eficiência e de informação sobre as eventuais limitações de proteção que ofereçam. A partir do momento em que se comprova a inviabilidade técnica da adoção de medidas de proteção coletiva, ou quando essas medidas não forem suficientes ou se encontrarem em fase de estudo, planejamento ou implantação, ou ainda em caráter complementar ou emergencial, serão adotadas outras providências, obedecendo-se à seguinte hierarquia: Utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs). Medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho. 53 Importante A utilização de EPI no âmbito do programa deverá considerar as normas legais e administrativas em vigor e envolverá: • Seleção do EPI adequado tecnicamente ao risco a que o empregado está exposto e à atividade exercida, considerando-se a eficiência necessária para o controle da exposição ao risco e o conforto oferecido segundo avaliação do trabalhador usuário. • Programa de treinamento dos trabalhadores quanto à sua correta utilização e orientação sobre as limitações de proteção que o EPI oferece. • Estabelecimento de normas ou procedimentos para promover o fornecimento, o uso, a guarda, a higienização, a conservação, a manutenção e a reposição do EPI, visando garantir as condições de proteção originalmente estabelecidas. • Caracterização das funções ou atividades dos empregados, com a respectiva identificação dos EPIs utilizados para os riscos ambientais. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 3 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre os riscos da asbestose. 54 Programa de Proteção Respiratória (PPR) O Programa de Proteção Respiratória foi lançado em 1994 pela Fundacentro e já se encontra em sua quarta edição, lançada em 2016. A Fundacentro apresenta os requisitos — procedimentos operacionais desde a implementação até a administração do programa — com a descrição das atribuições do empregador e do empregado. O grau de eficácia do Programa de Proteção Respiratória pode ser mensurado a partir de avaliações quantitativas dos agentes de risco presentes no ambiente ocupacional. É a partir dos resultados obtidos que se definem os equipamentos de proteção individual a serem utilizados e sua periodicidade de substituição. O uso de EPR [Equipamento de Proteção Respiratória] tem como objetivo principal prevenir a exposição por inalação de substâncias perigosas e/ou ar com deficiência de oxigênio. Quando não for possível prevenir a exposição ocupacional, o controle da exposição adequada deve ser alcançado, tanto quanto possível, pela adoção de outras medidas de controle que não o uso de EPR. Medidas de controle de engenharia, tais como substituição de substâncias por outras menos tóxicas, enclausuramento ou confinamento da operação e sistema de ventilação local ou geral e medidas de controles administrativos, como a redução do tempo de exposição, devem ser consideradas. O uso de EPR é considerado o último recurso na hierarquia das medidas de controle e deve ser adotado somente após cuidadosa avaliação dos riscos. (TORLONI, 2016, p. 16) O Programa de Proteção Respiratória (PPR) tem como objetivo promover a proteção efetiva da saúde do trabalhador prevenindo a exposição a agentes de risco. Para tanto, selecionam-se o tipo de respirador adequado e os critérios de uso e manutenção. Observe a figura a seguir que mostra diferentes máscaras de proteção (respiradores). 55 Antes de se utilizar um respirador, é essencial que seja estabelecido um PPR, por escrito, com os procedimentos específicos para o local de trabalho. O programa deve ser implantado, avaliado e atualizado sempre que necessário, de modo a refletir as mudanças de condições do ambiente de trabalho que possam afetar o uso de respirador. O PPR deve ser compreendido por todos os níveis hierárquicos da empresa (TORLONI, 2016). Segundo Torloni (2002), para que a saúde do usuário seja preservada, o empregador deverá: a) Fornecer o respirador, quando identificada a necessidade a fim de promover a proteção da saúde do trabalhador. b) Fornecer o respirador apropriado e respeitando as características anatômicas do empregado. c) Responsabilizar-se pelo estabelecimento e pela manutenção do programa de uso de respiradores para proteção respiratória. d) Autorizar o funcionário que deverá usar o equipamento a evacuar da área de risco por qualquer motivo relacionado a seu uso. Ainda segundo Torloni (2002), o trabalhador terá autorização de evacuar a área de trabalho diante de algumas situações. Veja, a seguir, quais são elas! • Falha do equipamento respirador, comprometendo a proteção por ele proporcionada. • Mau funcionamento do equipamento. • Identificação de permeação de ar contaminado dentro do respirador. • Aumento da resistência à respiração. • Mal-estar, como náusea, fraqueza, tosse, espirro, dificuldade para respirar, calafrio, tontura, vômito, febre. 56 Saiba mais Ainda sobre o Programa de Proteção Respiratória, são consideradas obrigações por parte do funcionário que atua na área de risco: a) Usar o equipamento de proteção respiratória fornecido de acordo com as instruções de treinamento recebidas. b) Devolver para o local de preservação após utilização, de modo conveniente e sem danificá-lo. c) Sinalizar ao responsável caso identifique o mau funcionamento do equipamento de proteção respiratória. d) Comunicar-se com o setor responsável caso sinta qualquer tipo de alteração ou incômodo em seu estado de saúde que possa influir na capacidade de uso do respirador de modo seguro. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 3 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre riscos ocupacionais. 57 Programa de Conservação Auditiva (PCA) Para iniciar a explicação, vamos entender o que é Programa de Conservação Auditiva? O PCA é um conjunto de ações a serem desenvolvidas no ambiente ocupacional para prevenir a perda auditiva de empregados que trabalhem expostos a ruídos, sendo esse o principal objetivo do PCA. Além disso, o programa também visa adaptar a organização às exigências normativas do Ministério do Trabalho, identificar trabalhadores que já possuam perda auditiva, reduzir o índice de insalubridade e de afastamentos e, por fim, garantir a qualidade de vida do trabalhador. O PCA, também denominado Programa de Prevenção de Perdas Auditivas – PPPA, é constituído por uma série de atividades que têm como objetivos: • Estabilizar as perdas auditivas ocupacionais a partir da condução de atividades que visem à melhoria contínua, o que requer conhecimento multidisciplinar e desenvolvimento de forma planejada e coordenada entre diversas áreas da empresa (FUNDACENTRO, 2018). • Estabelecer o atendimento aos trabalhadores que estiveram expostos a níveis de ruído considerados insalubres, ou seja, que necessitam de monitoramento para prevenção de doenças ocupacionais. Tanto trabalhador como empregador devem valorizar o PCA. Vamos conhecer, então, alguns dos benefícios desse programa? 58 É importante frisar que o Programa de Conservação Auditiva deve estar em sintonia com outros programas de saúde implementados na empresa. Você verá isso melhor quando estudar o Sistema de Gestão Integrada (SGI). Observe a figura a seguir que mostra diferentes protetores auriculares fundamentais para a prevenção de doenças ocupacionais. Os componentes necessários para a implementação do Programa de Controle Auditivo são de caráter multidisciplinar e envolvem diversas áreas, como Medicina,
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