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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES INSTITUTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA RESENHA BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS JÉSSICA DA SILVA BRITO Rio de Janeiro 2015 RESENHA BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia do Século XX a Contemporaneidade, ministrada pela professora Renata Valentim, para obtenção de nota parcial no curso de graduação em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro 2015 O filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), dirigido por Michel Gondry e escrito por Charlie Kaufman, conta a história de Joel Barish, um homem comum, introvertido, com uma vida pouco interessante e que tinha problemas de se relacionar com mulheres. Tudo começa em um Dia dos Namorados em que ele decide faltar ao trabalho, sem entender muito bem o porquê visto que ele nunca fora uma pessoa impulsiva e o feriado em si para ele não era agradável. Ele passa o dia em Montauk aonde conhece Clementine, uma mulher extrovertida e impulsiva que gosta de aproveitar a vida ao máximo, e que sem motivo parece se interessar por ele e ambos ficam com uma impressão de que se conhecem. Revela-se então Clementine era ex-namorada de Joel e que algum tempo antes, ao descobrir que ela decidiu passar por um processo que o apagaria de suas memórias, Joel decide fazer o mesmo tentando deixar para trás para sempre todo resquício dos momentos vividos com seu antigo amor. O procedimento realizado pela empresa Lacuna Inc apaga as memórias enquanto o paciente as revive, oferecendo uma solução que soa quase mágica para acabar com sofrimentos e possibilitar um recomeço. A história vai sendo contada de forma que a cronologia não é o mais importante e sim o impacto dos acontecimentos explorando questões sobre a natureza da memória e do amor, o que é preenchido pelos personagens coadjuvantes, como Patrick, que se apaixonou por Clementine enquanto estava trabalhando na remoção de suas memórias e se aproveitou do que sabia de Joel para tentar recriar as condições que fizeram ela se apaixonar por ele, porém sem sucesso. Temos também a secretária Mary, que teve suas memórias apagadas para se esquecer do romance que teve com seu chefe, líder da Lacuna Inc mas que acaba nutrindo desejo por ele ainda assim. Durante o processo de “esquecimento” Joel toma consciência dentro de sua própria mente e se arrepende, não querendo perde-la para sempre e começa uma aventura contra suas próprias escolhas para tentar manter alguma memória dela a salvo. E no fim, mesmo depois de todas as memórias supostamente apagadas Joel acaba sendo levado a Montauk, que foi onde o casal se conheceu, e que mesmo sem ter mais esse significado conscientemente as impressões residuais ainda estão lá. Esse filme nos faz refletir sobre a questão da perda e do esquecimento. Podemos ver essa história como uma metáfora para uma pulsão que insiste em se realizar mesmo depois de todo um processo de repressão, não querendo abrir mão do objeto de desejo. As questões que não foram elaboradas acabam levando a repetição, o que no caso do filme não foi de todo ruim, visto que sem as memórias o casal teve a oportunidade de recomeçar e tentar serem melhores do que tinham sido antes. Como disse Freud (2001, p. 513) sobre o recalque em relação ao conteúdo dos sonhos, “O suprimido continua a existir tanto nas pessoas normais quanto nas anormais e permanece capaz de funcionamento psíquico”, afirmando que mesmo não se tendo acesso consciente a determinado conteúdo, ele continua agindo inconscientemente. Isso pode ser observado no caso de Mary também, que mesmo tendo passado pelo mesmo processo de esquecimento que Joel e Clementine apresentou resquícios de comportamento relacionados à paixão que fora em teoria apagada. As terapias cognitivo-comportamentais acabam tendo por vezes discursos similares ao da Lacuna Inc promovendo mais um efeito imediato do que um tratamento que busque elaborar as questões do paciente de fato. Interessante comentar que o nome Lacuna, indica um espaço vazio em que deveria haver algo. Dependendo do caso pode acabar sendo o mais necessário a princípio, porém não se pode ignorar que por vezes o inconsciente se faz valer sem nosso controle, seja através de atos falhos ou de forma mais sutil, e não cabe a nós acreditar que possamos moldar algo tão complexo como a mente de forma permanente. Bibliografia Freud, S. (2001). A Interpretação dos Sonhos - Edição Comemorativa 100 Anos. Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1900) Gondry, M. (Diretor). (2004). Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças [Filme Cinematográfico].
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