Buscar

apostila filosofia 1 ano

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA
APOSTILA 1
1ª SÉRIE
1
UNIDADE 1
FILOSOFIA: O QUE É ISSO?
“Tudo é um”
TALES DE MILETO
1 - A FILOSOFIA E OS MITOS
 Provavelmente, esta é a primeira aula de Filosofia da sua vida. Quando chegar 
em casa, você poderá dar a notícia a seus familiares que, agora, você também é 
um praticante de Filosofia. Eles certamente irão perguntar a você o que é 
Filosofia? Para quê serve isso? E estas são perguntas que, agora mesmo, você 
pode estar se fazendo.
 Talvez, nos ajudaria verificar o que significa a palavra Filosofia. É aqui que 
começa nossa aventura pela história do pensamento ocidental, já que esta palavra 
é grega e, assim, temos de ir para o ano de 600 a.C., quando algumas pessoas 
denominaram a si mesmas como filósofas. E mais: na verdade, a palavra filosofia 
é a composição de dois termos gregos: filo + Sofia, vejamos o que sai daí:
FILO SOFIA
Filo decorre de philía e o significado 
deste termo é amizade, amor. Na língua 
grega, há o verbo philéo, que significa 
sentir amizade por alguém, tratar como 
amigo, procurar, buscar, perseguir para 
encontrar.
A palavra Sophia significava, em um 
primeiro momento, uma espécie de 
habilidade manual. Em seguida, também 
era aplicada à idéia de sabedoria moral, 
sensatez, prudência. Por fim, significou 
um conhecimento teórico. O verbo 
sophízo significava tornar hábil, 
prudente, sábio1.
 Assim, faça a composição, você mesmo, do que, em poucas palavras, significa 
Philosophía:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
 Isto é, em algum momento da Antigüidade, nas colônias gregas da Ásia Menor, 
algumas pessoas passaram a amar a sabedoria, a filosofar. Nada disso significa 
que, antes, as pessoas não tinham vontade de conhecer as coisas; ao seu modo, 
elas davam respostas às questões que se impunham, mas não filosoficamente, 
1 CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2° edição, 2002, pp. 509-511.
2
elas recorriam aos mitos. Vejamos alguns exemplos nos mitos de Aracne e de 
Perseu.
O mito de Perseu
 O rei Acrísio consultou um oráculo quando seu neto nasceu, ouvindo a 
previsão de que seria morto e destronado pelo próprio neto, resolveu colocá-lo 
junto com a mãe em uma caixa, dentro de uma embarcação, para que esta 
levasse os dois para bem longe. Protegida por Zeus, pai da criança, de nome 
Perseu, a embarcação chegou na ilha de Serifo, onde foi encontrada pelo príncipe 
da cidade, que casou-se com a mãe de Perseu, Dânae.
 
 Crescido, Perseu teve autorização de seu padrasto para aventurar-se pelo 
mundo, em gratidão, Perseu prometeu-lhe trazer a cabeça de uma das três 
górgonas como presente. Conduzido pelos deuses, Perseu passou pela morada 
das grisalhas, seres de um só olho e uma só dente e que conseguiam usá-los, 
apenas, alternadamente. Perseu roubou-lhes os olhos e dentes, dizendo que só 
devolveria se elas dissessem onde moravam as ninfas. A chantagem deu certo e 
foi para lá que Perseu se dirigiu.
 Com as ninfas, criaturas conhecidas por ajudar pretendes a heróis, Perseu 
conseguiu sapatos alados, uma bolsa e um capacete que o tornava invisível; 
ademais, Hermes o presenteou com uma foice de bronze e, armado, viajou pelo 
Oceano até a morada das górgonas. Lá, ajudado pela deusa Atena, escolheu a 
górgona imortal, conhecida como Medusa, para golpear. Arrancou-lhe a cabeça e 
colocou-a na bolsa sem olhá-la nos olhos para que ele não fosse transformado em 
pedra.
3
 Fugindo das irmãs da Medusa, Perseu voou sobre o deserto da Líbia, as gostas 
de sangue que caiam da cabeça da Medusa transformaram-se em serpentes ao 
tocarem o chão e, até hoje, esta região tem muitas cobras. Cansado, pediu abrigo 
ao rei Atlas para descansar, mas foi mal recebido e desrespeitado, além disso, o 
rei expulsou Perseu. Este, enfurecido, transformou seu reino em pedra ao apontar 
a cabeça da Medusa em todas as direções.
 Continuando a viagem, Perseu avistou uma mortal acorrentada em uma pedra à 
beira da praia. Conversando com ela, Perseu ouviu que ela estava ali porque os 
deuses puniram sua família e que o reino de Cefeu só não seria inundado se a 
princesa fosse colocada em sacrifício a um monstro marinho. Perseu aguardou, 
então, que a maré subisse e derrotou o monstro, salvando a princesa Andrômeda 
e a pedindo em casamento.
 A família de Andrômeda ficou maravilhada com o feito de Perseu, que se casou 
com Andrômeda após derrotar um antigo pretendente dela. Morando agora nas 
terras de um rei estrangeiro, Perseu participou de uma competição esportiva e, na 
prova de arremesso de discos, fazendo um lançamento desastroso, acertou seu 
avô sem saber que ele estava ali. Assim, cumpriu-se a previsão oracular. 
O mito de Aracne
 Aracne era a melhor tecelã da região da Lídia e sua arte era tal que as pessoas 
diziam que sua mestra havia sido Palas Atena, a deusa da sabedoria. Mas Aracne 
não gostava desta história e, certa vez, disse a todos:
- Não aprendi minha arte com a deusa e como prova disso convido-a a 
competir comigo, caso ela vença, aceitarei qualquer punição.
 A deusa não gostou e disfarçou-se de uma velhinha para aproximar-se de 
Aracne, puxou conversa e disse que a mortal deveria demonstrar humildade com 
os deuses e pedir perdão a Atena. Aracne chamou a velhinha de louca e disse-lhe 
que se Atena quisesse dizer-lhe algo, o convite já havia sido feito. Furiosa, a 
deusa da sabedoria teve sua paciência esgotada, retirou o disfarce e disse a 
Aracne que a competição para ver quem tecia o tapete mais belo deveria começar 
imediatamente. Ambas colocaram-se a tecer.
 Atena teceu no seu tapete a imagem do penhasco da acrópole de Atenas, lugar 
que ela conquistou após uma luta com Posídon, deus dos mares, teceu também a 
luta entre ela, armada de escudo e lança, que quando tocou a terra, deu origem à 
oliveira na terra infértil, com Posídon, retratado empunhando seu tridente. Além de 
desenhar sua vitória, Atena colocou em cada um dos quatro cantos do tapete, 
imagens que simbolizavam a arrogância humana: Hemo e Ródope que 
chamavam-se de Zeus e Hera e foram transformados em montanhas; a mãe dos 
pigmeus transformada em garça; Antígona com serpentes na cabeça que não 
paravam de mordê-la, já que ela comparara-se a Hera, e depois transformada em 
cegonha; Cíniras chorando por suas orgulhosas filhas.
 Já Aracne, desonrara Zeus no seu tapete: desenhou-o transformado em touro, 
águia, cisne, sátiro, fogo e chuva de ouro. Quando Atena viu o tapete de Aracne, 
golpeou-a com um ódio terrível e a perfurou três vezes na testa com a agulha de 
tecer; além disso, Atena fez os cabelos, o nariz e os ouvidos de Aracne 
desaparecerem, fez seu corpo diminuir bastante de tamanho e condenou-a a 
4
praticar sua antiga arte eternamente, tecendo fios como uma aranha. Segundo do 
mito, eis Aracne: origem dos aracnídeos. 
MÝTHOS: Mito, palavra proferida, discurso, narrativa; rumor; notícia que se 
espalha, mensagem; conselho, prescrição. O verbo mythéomai significa: dizer, 
conversar, contar, narrar, anunciar (um oráculo), designar, nomear, dizer a si 
mesmo, deliberar em si mesmo. O historiador Heródoto emprega a palavra 
mýthos para referir-se a relatos confirmados por testemunhas, tradição. Platão e 
Aristóteles, porém, empregam mýthos para referir-se a narrativas ou relatos 
fabulosos, portanto, com o sentido de fábula, lenda. Pouco a pouco, mýthos passa 
asignificar o lendário e irreal, mentira, relato não histórico. Nessa acepção, 
mýthos opõe-se a lógos2. 
VAMOS FILOSOFAR...
1 – O que significa a palavra Filosofia?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________
2 – O significado da palavra Filosofia, que você encontra no seu dicionário, é 
parecido com o significado de quando a palavra foi formada? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
3 – Como as pessoas explicavam o mundo antes da formação pela Filosofia pelos 
gregos? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
2 CHAUI, Marilena. Op. cit., p. 506.
5
4 – Explique como surgiram as serpentes, segundo o mito de Perseu.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
5 – Explique como surgiram as aranhas, segundo o mito de Aracne.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_______________________________________________________________
6 – O que há em comum entre os mitos de Perseu e de Aracne? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
7 – Você pensa que é possível explicar a origem do mundo sem recorrer a 
nenhum mito? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
8 – Pesquise um mito e demonstre o que ele tenta explicar.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
6
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____
2 – PROXIMIDADE E DISTÂNCIA ENTRE FILOSOFIA E MITO
COSMOGONIA
 Os mitos de Perseu e Aracne são exemplos de um saber que já existia antes 
da Filosofia. A questão que temos de resolver, então, é saber o porquê da 
fundação, pelos gregos daquela época, de uma outra maneira de explicar o 
mundo. Antes dela, porém, vejamos em quê a Filosofia distancia-se em relação 
aos mitos, mas também em quê se aproxima. 
 
Habituados às cosmogonias dos mitos, que 
explicavam a origem dos seres a partir da 
personificação dos elementos e da relação 
entre eles, os gregos dispunham de ótimo 
material para explicar seu mundo, tal como a 
Teogonia de Hesíodo. Note como há uma 
narração da genealogia dos deuses (théos e 
gonía) pelo poeta grego:
 
“Sim bem primeiro nasceu Caos, depois 
também
Terra de amplo seio, de todos sede 
irresvalável sempre,
dos imortais que têm a cabeça do Olimpo 
nevado,
.e Tártaro nevoento no fundo do chão de 
amplas vias,
e Eros: o mais belo entre Deuses imortais,
solta-membros, dos Deukses todos e dos homens todos
ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.”
HESÍODO. Teogonia, 116-122.
 Assim, de um modo geral, os mitos narram acontecimentos passados partindo 
de um estado indeterminado, o Caos, do qual surgem mais seres que se 
7
relacionam. Com efeito, os mitos ofereceram um conteúdo enorme de questões 
que, hoje, chamamos de filosóficas: de onde veio o mundo, para aonde ele vai?
COSMOLOGIA
 As questões que foram colocadas pelos mitos foram pensadas, também, pelos 
filósofos. Eles tentaram, e tentam, respondê-las, mas de modo diferenciado: os 
filósofos evitaram explicar o mundo pelos seres míticos como Urano, Gaia e 
Oceano e partiram do que aparecia para eles como substancial, a saber, o céu, a 
terra, o mar; não se trata de geração a partir de deuses, mas de elementos da 
natureza. Isto é, com a Filosofia, o que os gregos fizeram foi uma cosmologia: a 
ordem (cosmos) do mundo passou a ser explicada por um princípio racional que 
funciona como causa das coisas subseqüentes e que substitui a genealogia a 
partir dos deuses por um encadeamento racionalizado do princípio. Como 
cosmologia, então, a Filosofia nasceu como uma explicação racionalizada da 
ordem do mundo.
 Assim, cosmogonias são narrações de forças divinas e concretas que oferecem 
genealogias sobre o mundo. A Filosofia também quer estabelecer explicações 
sobre o mundo e sua ordem, mas de forma cosmológica: pesquisa-se um princípio 
do mundo e, a partir dele, procura-se um encadeamento sobre aorigem e a morte 
das outras coisas, e não uma genealogia. Por isso, temos de ter muito cuidado 
para conseguir verificar a relação entre Filosofia e mito nesta época: “(...) O 
surgimento dessa nova filosofia-saber não significou imediato e completo 
abandono da atitude religiosa diante de coisas e fenômenos. Durante muito 
tempo, esse foi o esquema adotado para reduzir num conflito único o nascimento 
da filosofia: a filosofia teria nascido da dissolução do mito e do pensamento de tipo 
religioso. De fato, tal divórcio não foi tão pontual nem tão definitivo: se já não se 
reverenciava cegamente os astros e as forças de interferência divina na vida dos 
homens, durante muito tempo cabeças já filosóficas adoraram ainda entidades 
como o próprio triângulo ou a tetráctis (sendo esta o número 10 na escola 
pitagórica), figuras da perfeição absoluta, do equilíbrio e da constância de suas 
medidas”3. Ao mesmo tempo, temos de tomar cuidado, também, para não 
identificarmos a Filosofia aos mitos: compreender algo em uma cosmogonia era 
encontrar seu pai e sua mãe, fazer uma genealogia; compreender algo em uma 
cosmologia é definir a sua própria constituição, o seu próprio ser, o seu princípio4.
Cosmogonia Cosmologia
3 WATANABE, Lygia Araújo. “Filosofia antiga” in Primeira Filosofia: aspectos da História da Filosofia. 
São Paulo: Editora Brasiliense, p. 19. 
4 VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de Psicologia Histórica. Tradução de 
Haiganuch Sarian, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2° edição, 1990, p. 450.
8
Narrativa da origem do kósmos através 
das relações sexuais entre os deuses 
ou os elementos naturais enquanto 
forças vitais que engendram ou 
procriam todos os seres.
Explicação racional sobre a origem e 
ordem do mundo natural ou natureza, 
sobre as causas das transformações, 
geração e perecimento de todos os 
seres5.
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Como uma cosmogonia explica a origem do mundo?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
2 – Como uma cosmologia explica a origem do mundo?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
3 – Os mitos são cosmogônicos ou cosmológicos? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
4 – Qual é a proximidade entre a Filosofia e os mitos? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
5 CHAUÍ, Marilena. Op. Cit., p. 503.
9
__________________________________________________________________
_________________________________________________
5 – Qual é a distância entre a Filosofia e os mitos? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
3 – CAUSAS DA ORIGEM DA FILOSOFIA
 
 Comentávamos, no tópico anterior, que tínhamos de explicar porque os gregos 
começaram a explicar o mundo de uma forma diferente da explicação mitológica. 
Em outros termos, o que tornou possível a passagem da cosmogonia à 
cosmologia?
 Há causas para a origem da Filosofia e, agora, vamos analisar algumas delas. 
Perceba como cada uma delas operou uma mudança significativa no modo de 
pensar do homem na Antigüidade grega, permitindo a formação de coisas novas 
como a Filosofia, segundo Jean-Pierre Vernant.
1) Navegações: uma parte considerável da vida dos gregos relacionava-se 
com o mar, era de onde, por exemplo, conseguiam obter parte significativa 
de sua alimentação. Vivendo muito no mar, os gregos não encontraram 
muitos dos monstros marinhos narrados pela história oral e nem 
vivenciaram seres e histórias narradas por poetas. Assim, as navegações 
contribuíram para o que Max Weber chamou mais tarde de 
“desencantamento do mundo”. Fazia-se necessário um saber que 
explicasse os fatos ocorridos na natureza que não recorresse a histórias 
sobrenaturais.
2) Calendário e moeda. Viver podendo pensar o tempo abstratamente e 
quantificando valores para realizar trocas não é algo que sempre ocorreu 
na história da humanidade. Quando os gregos passaram utilizar 
 o calendário e a moeda, 
introduzida pelos fenícios, 
conseguiram abstrair valores 
como símbolo para as coisas, 
fazendo avançar a 
capacidade de matematizar e 
de representação. Tudo isso 
favoreceu um 
10
1/6 de Stater de prata do rei Croesus, cunhado em 
561/546 a.C., em Sardes, na Lídia
desenvolvimento mental muito significativo e com grande capacidade de 
abstração. 
3) Escrita. Outro fator que potencializou em grande medida o poder de 
abstração do homem grego foi transcrever a palavra e o pensamento com 
símbolos: eis o alfabeto. A escrita permite o pensamento mais aguçado 
sobre algo quando ficamos lendo e analisando alguma coisa, como, por 
exemplo, uma lei. Ao ser fixada, a lei fica exposta como um bem comum de 
toda a cidade, um saber que não é secreto como um saber vinculado ao 
exercício de um sacerdote, mas propriamente público, além de estabelecer 
uma nova noção na atividade jurídica, a saber, uma verdade objetiva. 
Alfabeto Grego 
 
11
Política. Esta é a principal causa para a origem da Filosofia, já que, até agora, 
vimos somente a contribuição das técnicas para isso; porém, havia mais 
recursos técnicos no Oriente que na Grécia, e a Filosofia é uma invenção 
genuinamente grega, além do Oriente não ter se libertado dos mitos. Note que 
a palavra política é formada pelo termo grego polis (pi ο λ ι ζ ), cujo 
significado é cidade, cidade-estado, conjunto de cidadãos que vivem em um 
mesmo lugar e uma mesma lei. E o mais importante: são os cidadãos que 
faziam suas própriasleis mediante uma assembléia. Esta prática teve início 
com os guerreiros que, juntos, discutiam o melhor modo de vencer ao inimigo, 
cada um dos guerreiros tinha o direito de falar, bastando para isso ir ao centro 
do círculo formado na assembléia; ao final da guerra, outras assembléias 
eram feitas para dividir o que foi ganho. Isto é, ocorre a prática do diálogo para 
a decisão, dando a todos o direito de falar e a condição de serem iguais uns 
aos outros e à lei partilhada entre eles. Aquele que conseguir convencer a 
maioria de que sua proposta é a que aproxima-se mais da verdade de como 
vencer aos inimigos, receberá maior número de votos. Ora, é esta a prática 
que o filósofo
adotou mais tarde: escrevendo 
ou discursando, tornava pública 
suas idéias por considerá-las 
verdadeiras, por pretender 
encontrar a harmonia perdida 
do debate entre opiniões 
divergentes. Debater, trocar 
opiniões, argumentar, eis a 
prática democrática, eis a 
prática filosófica. A Filosofia 
nasce como uma filha da polis, 
como uma filha da democracia.
 Eis o que Jean Pierre Vernant 
chamou de um “universo espiritual da polis”6: trata-se de um lugar com 
proeminência da palavra - a palavra aberta a todos e com igualdade no seu uso 
era o modo de fazer política; com publicidade - separação entre questões privadas 
e questões públicas, estabelecendo práticas abertas e democráticas em oposição 
aos processos secretos; com isonomia (ι σ ο ν ο µ ι α ) – todos eram iguais no 
exercício do poder e diante das leis que criaram. Além disso, este novo universo 
espiritual esteve acompanhado e propiciou uma “mutação mental”7 nos homens: 
agora era possível explicar o mundo abstratamente excluindo o sobrenatural.
6 VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca, Rio de 
Janeiro, 11° edição, 2000, p. 41.
7 ______. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de Psicologia Histórica, p. 453.
12
 Este novo “universo espiritual da polis” foi determinante para a origem da 
Filosofia. O que falta sabermos, agora, é porque só algumas pessoas tornaram-se 
filósofos, e não todas.
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Como as navegações contribuíram com uma mudança no modo de pensar dos 
homens da Antigüidade Grega?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
2 – Como a moeda e o calendário contribuíram com uma mudança no modo de 
pensar dos homens da Antigüidade Grega?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
3 – Como a escrita contribuiu para aumentar a capacidade de abstração dos 
homens na Antigüidade Grega?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
4 – Por que a política é a principal causa para a origem da Filosofia na 
Antigüidade Grega? Responda citando também a importância dos guerreiros e sua 
prática democrática.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
13
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
5 – O que Jean-Pierre Vernant entende por um novo “universo espiritual da polis”?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
6 – As navegações, o calendário e a moeda, a escrita e a política contribuíram 
com a mudança no modo de pensar dos homens na Antigüidade Grega. Você 
considera que, hoje, a informática, com a virtualidade, pode está mudando o 
nosso modo de pensar? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________ 
4 – CAUSA DO FILOSOFAR
 O contexto social e histórico que permitiu às pessoas a invenção da Filosofia 
nós já analisamos. Mas o que falta verificar é o que motivava alguns a filosofarem. 
Já na Antigüidade, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) pensara a respeito:
“A admiração sempre foi, antes como agora, a causa 
pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, 
surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; 
depois, avançando passo a passo, tentavam explicar 
fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, 
o curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do 
universo. Procurar uma explicação e admirar-se é 
reconhecer-se ignorante”.
ARISTÓTELES. Metafísica, 982 b13.
14
 Para filosofar, segundo Aristóteles, é preciso estar admirado com algo. Basta 
isso, não há Filosofia sem curiosidade, sem admiração; do contrário, se estamos 
acostumados com algo e não pensamos sobre ele, não há Filosofia. Olhe para sua 
própria vida e perceba que quando você tinha menos idade, mais você se 
admirava com as coisas e mais queria saber porque eram daquela forma, como 
funcionavam. Porém, na medida que você cresceu e acostumou-se com as coisas, 
deixando de se admirar com elas, deixou também de lado a atitude filosófica. 
Filósofos são aqueles que jamais perdem a admiração sobre os grandes ou 
pequenos segredos do mundo, que passam a vida toda sem deixar se acostumar 
com as coisas. E mais: veja como termina a citação acima – quando procuramos 
uma explicação sobre algo encontramo-nos “ignorantes”, descobrimos que não 
sabemos e que sempre há algo a descobrir. A Filosofia é, sem dúvida nenhuma,uma aventura.
Aristóteles
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Segundo Aristóteles, qual é a causa do filosofar? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________________________________________________________
15
2 – O que leva à morte do filosofar? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
3 – Como nos reconhecemos quando procuramos a explicação sobre alguma 
coisa? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________
4 – Escolha algo que você admira e:
a) desenhe-o.
b) explique-o (escreva como ele é, pense no porquê de sua existência, se 
precisa de mudanças, como funciona, qual a sua causa... Enfim, filosofe). 
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
16
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
5 – OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
 
 Sabemos como a Filosofia nasceu, sabemos também o que motiva uma pessoa 
a filosofar. Mas quais foram os primeiros filósofos? O que fizeram?
 O primeiro deles foi Tales de Mileto (cerca de 625/4-558/6 a.C.) e, infelizmente, 
o tempo não conservou nenhum de seus fragmentos, aliás, segundo John Burnet, 
Tales jamais escreveu; porém, alguns pensadores antigos escreveram o que 
pensavam outros: veja, por exemplo, o que Aristóteles escreveu sobre Tales:
“A maior parte dos primeiros filósofos considerava como 
os únicos princípios de todas as coisas os que são de 
natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são 
constituídos, e de que primeiro são gerados e em que 
por fim se dissolvem, enquanto a substância subsiste 
mudando-se apenas as afecções, tal é, para eles, o 
elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam 
que nada se gera nem se destrói, como se tal natureza 
subsistisse sempre... Pois deve haver uma natureza 
qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas 
se engendram, mas continuando ela mesma. Quanto ao 
número e à natureza destes princípios, nem todos dizem 
o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser água [o 
princípio] (é por este motivo também que ele declarou 
que a terra está sobre água), levando sem dúvida a esta 
concepção por ver que o alimento de todas as coisas é o 
úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive 
(ora aquilo de que as coisas vem e, para todos, o seu 
princípio. Por tal observar adotou esta concepção, e pelo 
fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza 
úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas 
úmidas (...).”
ARISTÓTELES. Metafísica, I, 3.983 b6 .
17
 Note a força das palavras atribuídas a Tales: a água, ou o úmido, é o princípio 
de todas as coisas. Você já parou para pensar qual é o princípio (α ρ χ η ) das 
coisas? Tal era a ambição de Tales: desvendar o segredo do mundo, o seu 
princípio. Há alguns motivos que levaram Tales a pensar que o princípio de todas 
as coisas fosse a água: a) na própria mitologia grega, há a idéia de que o rio 
Oceano estava envolta do mundo e o formou; b) a passagem da água de um 
estado a outro pôde fazer Tales pensar que ela está por trás de todas as coisas; c) 
segundo Simplício, Tales teria observado que os seres vivos são úmidos e, ao 
morrerem, secam; d) na sua viagem pelo Egito, Tales observou que, após a cheia, 
as plantas apareciam; e) restos de animais marinhos encontrados em regiões 
montanhosas da época, reforçaram a idéia em Tales de que, um dia, tudo era 
água.
 Certas ou erradas, as idéias de Tales expressavam um novo modo de explicar o 
mundo: a água como princípio de tudo funciona como um deus (θ ε ο ζ - a 
palavra deus, na época de Tales, podia ser usada com um sentido não-religioso, 
significando uma espécie de princípio ativo presentes nas coisas8), um princípio 
vital e que se movimenta, provocando mudança (kínesis) nas coisas. Assim, ao 
surgirem da água, as coisas não podem surgir do nada e nem retornar a ele, mas 
apenas da e para a água. A grande questão é resolver como que, a partir da água, 
todo o resto foi formado?
 Por isso, lembre-se, o pensamento de Tales é uma cosmologia, explicando o 
mundo racionalmente a partir das observações sobre ele. Outros filósofos da 
mesma época explicavam o mundo da mesma forma, mas com outros elementos 
como princípio: Anaximandro de Mileto apostou no ilimitado, Anaxímenes de 
Mileto no ar, Pitágoras de Samos o número... Enfim, seria interessante você fazer 
uma pesquisa e verificar como os primeiros filósofos, também chamados de pré-
socráticos e de filósofos da natureza, explicavam o mundo. Além dos nomes já 
citados, procure por Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, 
Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazómena, Demócrito.
VAMOS FILOSOFAR....
1 – Qual foi o primeiro filósofo da história?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
8 BURNET, John. O despertar da Filosofia grega. Tradução de Mauro Gama, São Paulo: Editora Siciliano, 
1994, p. 24.
18
2 – Qual é a razão para o princípio de todas as coisas ser a água, segundo Tales 
de Mileto?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
3 – Por que as idéias de Tales de Mileto enquadram-se no que chamamos de 
cosmologia?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4 – Tales de Mileto considerava que as coisas estão “cheias de deuses”. O que 
isso pode significar?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________ 
5 – Quais são as questões que Tales e os primeiros filósofos quiseram resolver?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
6 – Os primeiros filósofos queriam desvendar qual era o princípio do mundo? Você 
considera que esta questão já foi resolvida? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
19
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
7 – Buscar o princípio das coisas é filosofar. Você considera que isso é feito nos 
meios de comunicação de hoje? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
8- Encontre o nome dos primeiros filósofos citados no final do texto sobre Os 
primeiros filósofos.
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
P Z Z T R A J I A S X A G L P
O A L E S M H G A J N O A L B
X E R V N M C R L A U P E H E
V O A M M A O T X K W G X Y N
Q U K X E G O A J H A Y O W F
F X R B A N G D U Z G E T N E
Q G P T O O I W H K H M I L P
N A I M R T E D B D J P R D L
C P E A P R I V E Y T E C D A
B R S Q Z B F L T S T D O M A
T A L E S M H B C C Y O M X H
I P E C K L X Q Y A P C E H S
W I R E E X A L P X R L D D T
A N A X I M A N D R O E Z C W
D S E N E M I X A N A S H N W
6 – SUGESTÃO DE ATIVIDADES
A) TEXTO COMPLEMENTAR
 “(...) Ora, não é difícil ver como as considerações meteorológicas podem ter 
levado Tales a adotar a sua concepção. De tudo o que conhecemos, a água 
parece tomar as mais variadas formas. Ela nos é familiar em uma aparência 
sólida, líquida ou vaporosa, bem podendo Tales, assim, ter pensado que via o 
processo do mundo a partir da água e de novo de volta à água ocorrendo diante 
de seus olhos. O fenômeno da evaporação naturalmente sugere que o fogo dos 
corpos celestes é mantido pela umidade que eles extraem do mar. Mesmo nos 
dias presentes as pessoas falam do ‘sol extraindo água’. A água cai de novo com 
a chuva e, finalmente, assim pensavam os primeiros cosmólogos, ela volta para a 
terra. Isso possivelmente parecia bastante natural aos homens familiarizados com 
20
o rio do Egito, que havia formado o delta e, com as torrentes da Ásia Menor, que 
traziam rio abaixo grandes sedimentos aluviais. Hoje, o golfo de Atmo, no qual 
Mileto se esguia antigamente, encheu-se por completo. Finalmente, eles 
pensavam, a terra volta uma vez mais à água – idéia proveniente da observação 
do orvalho, dos nevoeiros noturnos, dos mananciais subterrâneos. Pois, na 
Antigüidade, não se supunha que estes últimos tivessem alguma coisa a ver com 
a chuva. As ‘águas debaixo da terra’ eram consideradas uma fonte de umidade 
independente”.
BURNET, John. O despertar da Filosofia Grega. Tradução de Mauro Gama, São 
Paulo: Editora Siciliano, 1994, p. 52. 
B) DINÂMICA DE GRUPO
 Que tal filosofar no pátio da escola ? Com a sala dividida em dois grupos, deixe 
uma bola no centro do pátio e cada um dos grupos nas linhas que demarcam o 
fundo da mesma, quando o professor fizer uma das perguntas abaixo e gritar “já”, 
corra até a bola e tente tocá-la com o pé antes de seu colega e responda “falso” 
ou “verdadeiro” à pergunta feita. Acertando, sua equipe pontua; errando, a outra 
equipe pontua.
( ) A palavra Filosofia significa amor à sabedoria.
( ) A Filosofia teve origem no ano 600 d.C.
( ) Foi na Grécia que a Filosofia nasceu.
( ) Filosofia e mito são as mesmas coisas.
( ) Perseu é um mito que narra a tentativa do homem em mudar o seu destino.
( ) O mito de Perseu não aponta porque existem muitas serpentes na Líbia.
( ) Aracne conseguiu escapar da deusa Atena e não foi punida.
( ) Cosmogonia e cosmologia são as mesmas coisas.
( ) Explicação sobre a origem do mundo pela relação ente os deuses significa 
cosmogonia.
( ) Explicação racional sobre a origem do mundo significa cosmologia.
( ) As navegações em nada contribuíram para a origem da Filosofia.
( ) A moeda não contribuiu para a origem da Filosofia, apenas o calendário.
( ) A escrita contribuiu para aumentar a capacidade de abstração do homem 
antigo.
( ) A política é a principal causa para a origem da Filosofia na Grécia.
( ) A Filosofia nasce no campo e não da polis.
( ) Um universo espiritual novo na polis foi fundamental para a origem da Filosofia.
( ) Para Aristóteles, o que leva uma pessoa a filosofar é a admiração.
( ) Para Aristóteles, quem está acostumado demais com o mundo também 
filosofa.
( ) Para Aristóteles, filosofar não é reconhecer-se um ignorante.
21
( ) O primeiro filósofo da história foi Tales de Mileto.
( ) Buscar o princípio de todas as coisas é filosofar.
( ) Para Tales, o princípio de todas as coisas é o ar.
( ) Uma das coisas que ajudaram Tales a pensar que a água era a origem de 
todas as coisas foram as cheias do rio Nilo.
( ) O pensamento de Tales é uma cosmologia. 
( ) Fragmentos da obra de Tales resistiram ao tempo e, até hoje, podemos lê-los.
C) FILMES
 - PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS. Filme de John August 
com direção de Tim Burton (EUA, 2003) que problematiza a relação entre mito e 
razão: nem toda narrativa é ficção, nem toda racionalidade é correta.
- HÉRCULES. Animação feita pela Disney 
que ilustra os famosos trabalhos de 
Hércules e a intervenção dos deuses na 
vida dos homens a partirda mitologia 
grega.
D) ATIVIDADE EM GRUPO
 Que tal cada um dos grupos da sala 
pesquisar o princípio de todas as coisas nos 
filósofos citados no final do texto e preparar 
uma encenação para a sala? Todos perceberiam como os princípios de todas as 
coisas mudam de acordo com os filósofos da natureza.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro, Porto Alegre: Editora 
Globo, 1969.
BURNET, John. O despertar da Filosofia Grega. Tradução de Mauro Gama, São 
Paulo: Editora Siciliano, 1994.
CHÂTELET, François. História da Filosofia – idéias, doutrinas: a Filosofia Pagã. 
Tradução de Maria José de Almeida, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
22
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a 
Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2° edição, 20002.
HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano, São Paulo: Editora Iluminuras, 
1995.
NIETZSCHE, Friedrich. “O nascimento da tragédia no espírito da música” e “A 
Filosofia na época trágica dos gregos” in Os Pensadores. Tradução de Rubens 
Rodrigues Torres Filho, São Paulo: Abril Cultural, 1 edição, 1974.
SCHWAB, Gustav. As mais belas histórias da Antigüidade Clássica: os mitos da 
Grécia e de Roma. Tradução de Luís Krausz, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 6° 
edição, 1994.
PRÉ-SOCRÁTICOS. Os Pensadores. Traduções de José Cavalcante de Souza, 
Anna Lia Amaral de Almeida Prado, Ísis Lana Borges, Maria Conceição Martins 
Cavalcante, Remberto Francisco Kuhnen, Rubens Rodrigues Torres Filho, Carlos 
Alberto Ribeiro de Moura, Ernildo Stein, Hélio Leite de Barros, Arnildo Devigili, 
Mary Amazonas Leite de Barros, Paulo Frederico Flor, Wilson Regis, São Paulo: 
Abril Cultural, 1° edição, 1973.
SPINELLI, Miguel. “A noção de arché no contexto da Filosofia dos Pré-Socráticos” 
in Revista Hypnos n° 8, São Paulo: Editora da PUC-SP, Edições Loyola, Editora 
Triom, 2002.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Ísis 
Borges B. da Fonseca, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 11° edição, 2000.
______. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de Psicologia Histórica. 
Tradução de Haiganuch Sarian, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
VLASTOS, Gregory. “Equality and justice in early Greek Cosmologies” in Studies 
in Greek Philosophy. Princeton/New Jersey: Princeton University Press.
WATANABE, Lygia Araújo. “Filosofia antiga” in (vários autores) Primeira Filosofia: 
aspectos da História da Filosofia. São Paulo: Editora Brasiliense, 9° edição, 1991. 
23
UNIDADE 2
I – A LIBERDADE ENTRE A RAZÃO E OS INSTINTOS
1 – LIBERDADE E RAZÃO: SÓCRATES
“Conheça-te a ti mesmo” (Sócrates)
1.1 – Das trevas à luz: Platão e a alegoria da caverna
 Platão (427-347 a.C.) formulou uma história conhecida como alegoria da 
caverna. Nela, há algumas pessoas que estão lá desde crianças, amarradas pelas 
pernas e pelo pescoço, de costas para a entrada da caverna, impedidas de saírem 
dali. Da luz que vem de fora e que se projeta no fundo da caverna, estas pessoas 
vêem as sombras de outras pessoas que passavam carregando toda espécie de 
objetos fora da caverna, estes prisioneiros ainda ouvem o eco dos barulhos que 
vêm lá de fora, já que lá alguns caminham conversando com outros – os 
prisioneiros pensam, portanto, que a realidade é a sombra que vêem e o eco que 
ouvem.
 Estes prisioneiros faziam até concursos e concediam prêmios aos que 
distinguiam da melhor forma as sombras que eram observadas, aos que 
conseguiam primeiramente notar quais delas passavam e quais delas passavam 
acompanhadas de outras e, por fim, até de prever as próximas sombras que 
passariam.
24
 Se fossem libertados, os prisioneiros continuariam a pensar que as sombras 
eram, de fato, o que havia de real no mundo; porém, caminhariam para fora da 
caverna e teriam a vista ofuscada, pouco a pouco acostumariam-se com a luz e 
conseguiriam ver as imagens deles mesmos projetadas na água, veriam os 
próprios objetos, veriam a lua e as estrelas. Já acostumados, conseguiriam voltar 
os olhos ao sol e o veriam, compreendendo enfim que ele seria o autor das 
projeções que haviam no fundo da caverna.
 Ocorreu que um destes prisioneiros soltou-se e caminhou até a entrada da 
caverna, ele notou, então, que aquelas imagens vistas lá embaixo não passavam 
das sombras das coisas que estavam fora da caverna e que estas eram a 
realidade. Encantado com o que viu, ele retornou à caverna, já que sentiu enorme 
piedade dos seus companheiros de cárcere, contando tudo o que havia visto. Ele 
sentiu as trevas em seus olhos, já que havia se acostumado a olhar para a 
verdadeira luz, e tinha muita dificuldade em distinguir as sombras (seria preciso 
mais tempo para ele se acostumar com as trevas novamente). Os outros 
prisioneiros, então, consideraram que não valia à pena sair da caverna, 
defenderam-se daquele que tentou tirar-lhes de lá e até o mataram.
 Para Platão, Sócrates (470-399 a.C.), seu grande mestre, foi quem viu a luz, 
quem retirou a alma da escuridão e a iluminou para, em seguida, retornar à 
caverna e dizer que tudo que ali havia não era real, mas sombra, ilusão. Viu o que 
cada sombra representava melhor que ninguém porque viu, também, a sua 
verdadeira forma fora da caverna e voltou para dizer aos prisioneiros qual era a 
essência daquilo que eles viam. O que fez Sócrates foi iluminar seu espírito com 
uma sabedoria que o retirou das trevas, vejamos como é possível alcançar a luz!
1.2 – “Conheça-te a ti mesmo:” Sócrates e o poder da razão.
 “Conheça-te a ti mesmo”: na entrada do templo de Apolo era esta a mensagem 
que estava escrita. Era esta a mensagem também que Sócrates aconselhava às 
pessoas: ele gostaria que elas saíssem da caverna, da escuridão que havia em 
seus espíritos. Para alcançarem a luz, seria necessário, segundo ele, buscá-la. 
Porém, aonde buscá-la? A resposta era imediata: dentro de nós mesmos – 
“conheça-te a ti mesmo”.
 Para que as pessoas conhecessem a si mesmas, Sócrates fazia perguntas: era 
um perguntador incansável, e até irritante. Dialogava com todos sobre os mais 
variados assuntos e faziam-nos perceber que o que elas sabiam sobre esses 
assuntos não passavam de sombras, aparências do que elas, de fato, eram. Com 
a continuidade do diálogo, Sócrates ajudava as pessoas a lembrar do que já 
sabiam, já que ele pensava que a sabedoria estava dentro de nós9, não fora; por 
isso, aconselhava: “conheça-te a ti mesmo”. 
 Conhecendo a nós mesmos, tomaríamos ciência que a nossa alma racional 
seria um fator decisivo para a nossa felicidade: agindo de acordo com a razão, 
agiríamos de acordo com nosso ser – agiríamos como homens, não como 
9 A mãe de Sócrates era parteira e Sócrates também considerava-se um parteiro, mas de idéias: como ele 
acreditava que elas estavam nas próprias pessoas, sua atividade consistia em interrogá-las até que as idéias 
nascessem em suas mentes. Esta atividade genuinamente socrática ficou conhecida como maiêutica.. 
25
animais. Não seríamos dominados pelos mesmos impulsos irracionais que 
dominam os animais, não seríamos dominados pelas paixões e pelos sentidos, 
seríamos senhores de nós mesmos e não agiríamos de modo desregrado. Para 
agirmos como homens, temos de saber o que somos: se somos racionais, nossa 
conduta também precisa ser. “Conheça-te a ti mesmo”.
 Em suma, como procuramos o bem, tentamos nos afastar do mal: viver 
escravo dos prazeres é, para Sócrates, viver sem se saber o que se quer, é não-
saber, é não usar a razão, é não agir como homem. Viver feliz e livre é viver 
senhor de nós mesmos, é saber o que se quer, é agir racionalmente,é procurar o 
bem para si mesmo. Eis o caminho para a liberdade na Filosofia socrática:
Conheça-te a ti mesmo:
- Quem sabe (usa a razão) o que é o bem, pratica-o;
- quem pratica o bem, é, realmente, um ser humano;
- a liberdade reside na ação racional: é a razão que nos livra do vício e nos 
conduz à felicidade.
 Sócrates (470-399 a.C.)
 Um exemplo: supondo que esteja muito calor e você foi a uma sorveteria, 
racionalmente se refresca com um sorvete e sabe que ele faz bem para você 
justamente porque lhe refresca. O que você fez foi um bem a si mesmo ao tomar 
um sorvete. E mais: libertou-se da sensação de calor. Porém, caso você aja 
desregradamente, tomando muitos sorvetes, o prazer transforma-se em um 
problema para o seu estômago. O que você fez foi um mal para si mesmo: ao 
deixar de usar a razão, deixou de agir como homem e tornou-se um escravo dos 
prazeres. 
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Resuma a alegoria da caverna, narrada por Platão, em uma história em 
quadrinhos.
26
2 – Reflita sobre a alegoria da caverna e escreva:
a) a caverna é o mundo em que vivemos? Explique.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
b) o prisioneiro que se liberta e sai da caverna é o filósofo? Explique.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
3 – Qual era a mensagem que estava inscrita no templo de Apolo e que era dita 
por Sócrates aos cidadãos de Atenas? Por que ela é importante para sermos 
livres?
27
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4 – Para Sócrates, o que é preciso para fazermos o bem para nós mesmos? 
Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
5 – Dê dois exemplos de ações livres, de acordo com a filosofia de Sócrates.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
2 – LIBERDADE E INSTINTOS: NIETZSCHE
“Esse mundo é a vontade de potência – e nada além disso! E também vós 
próprios sois essa vontade de potência – e nada além disso!” (NIETZSCHE, 
Fragmento póstumo, 1885, 38 [12])
2.1 – Saber e fazer: uma diferença
 Sabemos que, para Sócrates, ao sabermos o que é o bem, o faremos. Porém, 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) acreditava que este foi um grande erro de 
Sócrates e de Platão: quantas vezes agimos em sentido contrário a uma ação 
considerada correta? As pessoas sabem que não devem mentir, mas mentem. 
Sabem que não devem “furar fila”, mas furam. Sabem que devem ser polidas, mas 
não o são. O que Nietzsche apontou é que há uma diferença entre saber e 
fazer: podemos conhecer muito bem uma obrigação e, mesmo assim, 
desrespeitá-la. Por que agimos assim? Parece que há algo a mais em nós do que 
pretendia Sócrates, parece que a razão não é o suficiente para explicar a 
liberdade.
 Além da razão, há o corpo: nossos impulsos vitais, nossos instintos foram 
deixados de lado pela moral socrática. O “conheça-te a ti mesmo” de Sócrates foi 
28
um projeto falido, segundo Nietzsche, por não levar o corpo em conta, aquele que 
quis conhecer, não conheceu a si mesmo. Para Nietzsche, nossos impulsos são 
constituídos de forças que duelam em nós mesmos para prevalecerem uma às 
outras. Somos um conflito de forças que lutam entre si para sobreporem-se às 
outras.
 Sócrates errou, segundo Nietzsche, ao pensar que nossas ações são o 
resultado de uma empresa exclusivamente espiritual, cada ação movida por nós é 
o resultado de forças instintivas que lutam entre si e impulsionam o corpo. E não 
se trata apenas do corpo do homem, mas de algo que acontece em toda a 
natureza: em cada célula de cada ser vivo há esta luta, nem os seres 
microscópicos escapam destas forças. São forças que não param de duelar em 
um só momento e cada uma delas procura ser a mais potente – essa é a teoria 
nietzschiana da vontade de potência. Por isso, o filósofo pensou que não era 
possível explicar nossa conduta e nossa liberdade apenas por nossa razão, como 
desejou Sócrates. É preciso respeitar nossa natureza instintiva: “Esse mundo é a 
vontade de potência – e nada além disso! E também vós próprios sois essa 
vontade de potência – e nada além disso!”10 
 Friedrich Nietzsche (1844-1900) 
2.2 – Liberdade e impulsos: crítica da liberdade como dominação. Ou “como 
tornar-se o que se é”.
10 NIETZSCHE, Friedrich. “Fragmento póstumo (1885, 38 [12])” in Os Pensadores. Tradução de Rubens 
Rodrigues Torres Filho, 1° edição, 1974, p. 405.
29
 Para Nietzsche, somos forças que buscam vontade de potência. Imagine agora 
que por muitas vezes reprimimos estas forças, que agimos contra nosso próprio 
ser. Foi isto que aconteceu na história da humanidade, segundo o filósofo, 
vejamos como. 
 Para Nietzsche, há dois tipos de pessoas: as que são fortes como aves de 
rapina e as que são fracas como ovelhas. As aves de rapina também são 
chamadas de fortes, senhores, nobres e as ovelhas são chamadas de fracas, 
escravas, ressentidas. As aves de rapina têm força para realizarem aquilo que 
querem e, se tiverem o desejo de capturar ovelhas, elas conseguirão se impor, 
afinal são mais fortes. Já as ovelhas, para se defenderem, farão com que a força 
das aves de rapina não se manifeste, darão um “golpe de mestre”11 e enganarão 
as aves de rapina com uma “fábrica de mentiras”12: a impotência passa a ser 
considerada virtude e bondade, a fraqueza passa a ser considerada mérito. As 
ovelhas fazem as aves de rapina acreditarem em um reino de Deus, onde seriam 
punidas caso efetivassem sua força.
 Como há dois tipos de pessoas, há dois tipos de moral: como os fortes dizem 
sim a si mesmos, vêem-se como bons, como fortes, e desprezam as ovelhas, já 
que são seres fracos, ruins. Já as ovelhas, dizem não a um outro, consideram-no 
mau e desejam vingança. Isto é, as ovelhas inverteram os valores e dominaram 
as aves de rapina com a moral socrática e com o cristianismo. Criaram o reino de 
Deus para punirem e vingarem-se dos que insistirem em efetivar suas forças, 
usaram a moral como forma de dominar as aves de rapina. 
 As ovelhas dizem: “Você é uma ave de rapina, mas é livre para não usar sua 
força, é livre para não cometer o erro de agir de acordo com sua natureza, é livre 
para não ser uma ave de rapina. Caso nos devore, será punida no reino de Deus”!Isto é, pecamos, mas somos livres para expiar e pagar nossa culpa; 
desrespeitamos as normas, mas somos livres para pagarmos a dívida. A liberdade 
aparece como meio de submissão das aves de rapina às ovelhas, estas 
sustentam a crença de que “o forte é livre para ser fraco, e ave de rapina livre para 
ser ovelha”13. 
AVES DE RAPINA OVELHAS
Fortes, senhores, nobres. Fracas, escravas, ressentidas.
Como são muito fortes, dizem sim a si 
mesmas.
Como são fracas, dizem não a um outro, 
a alguém que não são elas mesmas.
Consideram a si mesmos como boas e 
as outras como ruins. Inventaram o 
desprezo.
Consideram a si mesmas como boas e 
as outras como maus. Inventaram a 
vingança.
Acreditaram na fábrica de mentiras 
(moral) das ovelhas e foram dominadas 
Inverteram a moral inventaram o reino 
de Deus para dominarem as aves de 
11 NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza, São 
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 39.
12 Op. Cit., p. 38.
13 Op.cit, pp. 36-37.
30
por elas. rapina.
 Como os fortes acreditaram, a conseqüência para a sua liberdade foi trágica: 
foram dominados por quem era mais fraco que eles e dominados por uma 
liberdade servil, isto é, uma liberdade de se aceitar o que não se é – os fortes 
escolhem não exercer sua força para não serem punidos no reino de Deus. Ao 
invés de agirem de acordo com seus instintos, os reprimem com a razão. O 
caminho que Nietzsche trilha para que as aves de rapina voltem a ser livres é 
somente um:
“Como tornar-se o que se é”14
- Dizer não à moral, instrumento dos fracos para dominar os fortes;
- que a ave de rapina seja ave de rapina;
- a liberdade reside em não se deixar escravizar pela razão que os fracos 
impuseram aos fortes. A liberdade está nos impulsos vitais não reprimidos 
pela moral.
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Sócrates pensava que para fazer o bem, bastaria sabê-lo. Nietzsche 
concordou com ele? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
2 – Nietzsche considerava o “conheça-te a ti mesmo”, de Sócrates, um projeto que 
atingiu seu objetivo? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
3 – Para Nietzsche, como funciona nossa natureza instintiva?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
14 Este é o subtítulo do livro Ecce Homo, de Nietzsche.
31
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4 – Quem são e como se caracterizam os dois tipos de pessoas que houve em 
nossa história, segundo Nietzsche?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
5 – O que fizeram as ovelhas para que as aves de rapina não exercessem sua 
força sobre elas?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
6 – Explique a origem do desprezo e da vingança a partir do pensamento de 
Nietzsche.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_
7 – Como é a liberdade que as ovelhas oferecem às aves de rapina? Nietzsche 
concorda com ela? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________
8 – Para Nietzsche, o que as aves de rapina devem fazer para voltarem a ser 
livres? 
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
32
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________
3 – À GUISA DE CONCLUSÃO: UM CONTO PARA NOSSA REFLEXÃO.
 Oscar Wilde (1856-1900), no conto O jovem rei, narra a história de um príncipe 
raptado com apenas oito dias de vida e que cresceu sob os cuidados de uma 
humilde família de camponeses. Como ele era o único filho que a filha do rei teve, 
era necessário encontrá-lo para que alguém sucedesse ao rei no dia em que este 
morresse. 
 Enfim, este dia chegou e, um dia antes de sua coroação, o jovem rei teve um 
sonho:
 “Pensou que estava numa água-furtada, comprida e baixa, entre o ronrom e o 
barulho de um grande número de teares.
 A frouxa luz coava-se, furtivamente, pelas janelas fechadas com grades e 
deixava-lhes ver as silhuetas grosseiras dos tecelões, debruçados sobre os seus 
teares.
 Crianças pálidas e de aspecto doentio estavam acocoradas ao pé das enormes 
travessas.
 Quando as lançadeiras passavam como um relâmpago através da urdidura, 
levantavam pesados batentes e quando elas atingiam o final de seu movimento, 
deixavam recair os braços, que apertavam o fios, enlaçando-os juntos.
 As suas faces estavam minguadas pela fome.
 As suas mãos delgadas estavam agitadas e trêmulas.
 Mulheres de feições duras e olhos esgazeados estavam sentadas a uma mesa 
e cosiam.
 Um cheiro horrível enchia o local, O ambiente era impuro e pesado; as paredes 
estavam sulcadas de filetes úmidos. O jovem rei abeirou-se de um dos tecelões, 
parou um instante a olhar para ele.
 O tecelão lançou-lhe um olhar irritado e disse:
- Por que me estás olhando? És um espião que nosso patrão enviou para 
junto de nós?
- Quem é teu patrão? Perguntou o jovem monarca.
33
 Nosso patrão! Exclamou o tecelão com amargura. É um homem como eu. Para 
dizer a verdade, não existe a menor diferença entre nós, a não ser que ele usa 
bonitas roupas, enquanto eu visto trapos.
- O país é livre, disse o jovem rei, e tu não és escravo de ninguém.
- Na guerra, disse o tecelão, os fortes reduzem os fracos à escravidão e, em 
tempos de paz, é a mesma coisa. Temos de trabalhar para viver com 
salários tão miseráveis que morremos quase de fome. Os nossos filhos 
emagrecem prematuramente e as feições daqueles que amamos tornam-se 
duras e más. Esmagamos as uvas, mas são os outros que bebem o vinho. 
Semeamos o trigo, e a nossa arca está vazia, Arrastamos cadeias, emboraos olhos as não vejam e somos escravos, se bem que nos chamem 
homens livres.
- E isso dá-se com todos? Perguntou o jovem rei.
- Assim é para todos, respondeu o tecelão, pra os novos como para os 
velhos, para as mulheres como para os homens, para as crianças assim 
como para aqueles que sucumbem todos os anos. Os comerciantes 
apertam-nos e temos de obedecer às suas ordens. Através das vielas sem 
sol, em que moramos, a Pobreza de olhos esfomeados e o Pecado de 
faces devastadas os seguem. A Miséria desperta-nos pela manhã até à 
noite, a Vergonha nos espreita. Mas que te importam essas coisas? Não és 
um de nós. No teu rosto, lê-se a felicidade.
E afastou-se com ar truculento; colocou a sua lançadeira entre os fios, e o 
jovem rei observou que a lançadeira estava guarnecida com fios de ouro.
 Um grande terror apoderou-se dele e disse ao tecelão:
- Que vem a ser essa roupa que estás tecendo?
- É a roupa destinada à coroação do jovem rei, replicou ele. Que te importa 
isso?
 E o rei moço soltou um grande grito, acordou e...
 Estava no seu aposento, e, através da janela, contemplou a vasta lua cor de 
mel, suspensa numa atmosfera cheia de brumas...”15
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Supondo que você fosse o jovem rei, como usaria sua liberdade a partir da 
concepção de Sócrates? Isto é, pela razão, o que faria para resolver os problemas 
expostos no texto e conquistar o bem para o seu país?
15 WILDE, Oscar. O jovem rei. Tradução de José Maria Machado, São Paulo: Clube do livro, 1963, páginas 
14, 15 e 16.
34
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________
2 – Supondo que você fosse o jovem rei, como usaria sua liberdade a partir da 
concepção de Nietzsche? Lembre-se de que os seus instintos vitais precisariam 
ser valorizados.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_____________________________ 
3 – Relacione a filosofia de Nietzsche à seguinte passagem do texto de Oscar 
Wilde: “Na guerra, disse o tecelão, os fortes reduzem os fracos à escravidão e, em 
tempos de paz, é a mesma coisa”16. Nietzsche considera que os fortes 
escravizaram os fracos? Explique.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________
4 – Faça uma redação de seus atos no primeiro dia de sua coroação como o 
jovem rei. Escolha se agiria de acordo com sua razão ou de acordo com seus 
instintos.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
16 _____. Op. cit., p. 15.
35
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
A) TEXTO COMPLEMENTAR
O problema de Sócrates
 “Dei a entender com o que Sócrates fascinava: ele parecia ser um médico, um 
salvador. É necessário indicar ainda o erro que havia em sua crença na 
‘racionalidade a todo preço’? – é um auto-engano dos filósofos e moralistas 
pensar que já saem da décadence ao fazerem guerra contra ela. O sair está fora 
de sua força: mesmo aquilo que escolhem como remédio, como salvação, é 
apenas, outra vez, uma expressão de décadence – eles alteram sua expressão, 
não a eliminam propriamente. Sócrates foi um mal-entendido; a inteira moral-da-
melhoria, também a cristã, foi um mal-entendido... A luz do dia mais crua, a 
racionalidade a todo preço, a vida clara, fria, cautelosa, consciente, sem instinto, 
oferecendo resistência aos instintos era, ela mesma, apenas uma doença, uma 
outra doença – e de modo nenhum um caminho de retorno à ‘virtude’, à ‘saúde’, à 
felicidade... Ter de combater os instintos – eis a fórmula para a décadence: 
enquanto a vida se intensifica, felicidade é igual a instinto”. 
NIETZSCHE, Friedrich. “Crepúsculo dos ídolos (§ 11)” in Os Pensadores. 
Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho, São Paulo: Abril Cultural, 1° edição, 
1974, p. 338.
B) TRABALHO EM GRUPO
36
 Recolha imagens sobre pessoas usando sua razão e seus instintos vitais; em 
seguida, monte um painel expondo, de um lado, o conceito de liberdade de 
Sócrates com imagens que correspondam a este conceito. De outro, o conceito de 
liberdade de Nietzsche com imagens que correspondam a este conceito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRENECHEA, Miguel Ângelo. Nietzsche e a liberdade. Rio de Janeiro: Viveiros 
de Castro Editora, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a 
Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2° edição, 2002.
MARTON, Scarlett. Nietzsche: a transvaloração dos valores. São Paulo: Editora 
Moderna, 4° edição, 1996.
MÜLLER-LAUTER, Wolfgang. Nietzsche. Berlim: Walter de Gruyter, 1971.
NIETZSCHE. Friedrich. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do 
Futuro. Tradução de Paulo César de Souza, São Paulo: Companhia das Letras, 2° 
edição, 2000.
_____. Genealogia da Moral: Uma Polêmica. Tradução de Paulo César de Souza, 
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
_____. Os Pensadores. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho, São Paulo: 
Abril Cultural, 1° edição, 1974.
PLATÃO. A República. Tradução de Leonel Vallandro, Porto Alegre: Editora 
Globo, 1964.
UNIDADE 3
I – LIBERDADE: ELA EXISTE?
Liberdade - essa palavra 
Que o sonho humano alimenta 
Que não há ninguém que explique, 
E ninguém

Continue navegando

Outros materiais