Buscar

NOVO CPC 2015 2016

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Primeiras	páginas
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Sobre	o	autor
SOBRE	O	AUTOR
JOSÉ	MIGUEL	GARCIA	MEDINA	Membro	da	Comissão	de	Juristas	nomeada	pelo	Senado	Federal
para	a	elaboração	do	Anteprojeto	de	Novo	Código	de	Processo	Civil.	Visiting	Scholar	na	Columbia
Law	School.	Estancia	docente	y	investigadora	na	Faculdad	de	Derecho	da	Universidad	de	Sevilla.
Doutor	e	Mestre	em	Direito	Processual	Civil	pela	PUC-SP.	Professor	Titular	na	Universidade
Paranaense.	Professor	Associado	na	Universidade	Estadual	de	Maringá.	Foi	Presidente	da	Comissão
Nacional	de	Acesso	à	Justiça	da	Ordem	dos	Advogados	do	Brasil.	Membro	do	Comitê	Científico
Consultivo	do	Instituto	Autismo	e	Vida.	Secretário-Geral	Adjunto	do	Instituto	Brasileiro	de	Direito
Processual	–	IBDP.	Membro	do	Instituto	Brasileiro	de	Ciências	Jurídicas	–	IBCJ,	da	Academia
Brasileira	de	Direito	Processual	Civil	–	ABDPC,	do	Instituto	Panamericano	de	Derecho	Procesal	–	IPDP
e	do	Instituto	IberoAmericano	de	Direito	Processual.	Membro	do	conselho	de	redação	da	Revista	de
Processo	–	RePro	e	do	conselho	editorial	da	Revista	Brasileira	de	Direito	Processual	–	RBDPro.
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Agradecimentos
AGRADECIMENTOS
Ninguém	escreve	um	livro	sozinho.	Mesmo	que	isso	não	fique	consignado	expressamente,	ao	longo	do
texto	acabam	ficando	registradas	as	experiências	que	o	autor	teve,	ao	longo	de	sua	vida	e,	de	algum
modo,	a	marca	das	pessoas	com	quem	conviveu.
Tenho	que	agradecer,	de	modo	especial,	a	participação	mais	que	fundamental,	verdadeira	sustentação,	de
minha	mulher,	Janaina,	e	de	meus	filhos,	José	Gabriel	e	João	Pedro.	A	eles,	toda	minha	gratidão,	meu
carinho	e	meu	amor.
Agradeço,	também,	a	todos	os	meus	colegas	de	escritório	que	me	apoiaram,	concretamente,	na	realização
de	mais	este	trabalho.	Minha	gratidão	aos	professores	e	sócios	de	escritório	Rafael	de	Oliveira
Guimarães,	Vinicius	Secafen	Mingatti,	Renata	Paccola	Mesquita	e	Henrique	Cavalheiro	Ricci.	Em	nome
deles	agradeço	a	todos	os	meus	colegas	de	escritório.
Também	agradeço	aos	professores	Fábio	Caldas	de	Araújo	e	Alexandre	Freire,	com	quem	tenho	o
privilégio	de	conversar,	quase	que	cotidianamente,	sobre	os	assuntos	versados	no	presente	trabalho.
À	Janaina	de	Castro	Marchi	Medina,	minha	mulher,	que,	além	de	compartilhar	tudo	comigo	em	meu	dia	a
dia,	revisou	as	partes	mais	relevantes	deste	trabalho,	e	fez	importantes	apontamentos.
Registro,	aqui,	meu	agradecimento	especial	à	equipe	de	pesquisa	que	me	acompanhou	ao	longo	de	todos
esses	anos,	de	que	participaram	Carlos	Eduardo	Pitelli	Zanutto,	Italo	Santos	Alves,	Juliana	Kaway	Van
Linschoten,	Luiza	Haruko	Ishie	Macedo,	Marcos	Thadeu	Piffer	Filho,	Mariana	Barsaglia	Pimentel,	Pedro
Ramos,	Rafael	Veríssimo	Siquerolo,	Samuel	Hubler,	Victória	Maria	Américo	de	Oliveira	e	Vitória	de
Oliveira.
Minha	gratidão,	também,	por	ter	recebido,	mais	uma	vez,	o	apoio	profissional	da	equipe	da	Editora
Revista	dos	Tribunais
–	Thomson	Reuters,	sob	direção	de	Marisa	Harms	e	colaboração	da	editora	Cristiane	Faria	e	seu	grupo
de	trabalho,	e	a	equipe	de	revisores,	coordenada	por	Juliana	De	Cicco	Bianco,	de	que	participam:
Damares	Regina	Felício,	Danielle	Rondon	Castro	de	Morais,	Flávia	Campos	Marcelino	Martines,
Gabriele	Lais	Sant’Anna	dos	Santos,	George	Silva	Melo,	Luara	Coentro	dos	Santos,	Luciano	Mazzolenis
J.	Cavalheiro,	Maurício	Zednik	Cassim,	Rodrigo	Domiciano	de	Oliveira,	Sue	Ellen	dos	Santos	Gelli	e
Thiago	César	Gonçalves	de	Souza.
Agradeço,	por	fim,	a	todos	os	queridos	amigos	professores,	advogados,	juízes,	promotores	de	justiça,
estudantes	e	alunos	que	tive	ao	longo	desses	anos,	que	enviaram	sugestões	às	edições	anteriores	do
presente	trabalho,	todas	levadas	em	consideração	na	obra	que	agora	vem	a	público.
A	todos,	minha	sincera	gratidão.
JOSÉ	MIGUEL	GARCIA	MEDINA
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Nota	do	autor	à	3.ª	edição	NOTA	DO	AUTOR	À	3.ª	EDIÇÃO
Neste	domingo,	pela	manhã,	enquanto	enviava	os	últimos	arquivos	revisados,	referentes	à	comparação
entre	os	artigos	finais	do	CPC/2015	e	do	CPC/1973,	à	editora,	eu	pensava	no	significado	deste	livro	para
mim,	e	do	que	esperava	que	ele	viesse	a	significar	para	as	pessoas	que	o	lessem,	que	o	utilizassem	em
seu	trabalho	diário.
Especialmente	neste	dia	vêm	à	nossa	mente	pensamentos	relacionados	ao	recomeço,	à	renovação,	a	como
podemos	proceder,	para	tentar,	desta	vez,	fazer	melhor	do	que	fizemos	antes.	Enfim,	é	um	começar	de
novo.	.
Na	presente	edição	mantém-se	a	ideia	original,	apresentada	quando	da	publicação	da	1.ª	edição:	a	de
apresentar	ao	leitor	as	novidades	e	diferenças	mais	significativas	existentes	entre	o	CPC/1973	e	o
CPC/2015,	em	notas	comparativas	inseridas	ao	longo	dos	comentários.	Mas,	tendo	em	vista	a	aprovação
recente	do	Novo	Código	de	Processo	Civil,	alterou-se	a	perspectiva:	se,	nas	edições	anteriores,
analisavam-se	as	mudanças	à	luz	do	CPC	então	em	vigor,	a	partir	da	presente	edição	a	obra	examina
essas	mesmas	alterações	sob	o	ponto	de	vista	da	Lei	13.105/2015,	que	instituiu	o	Novo	Código	de
Processo	Civil,	que	chamamos,	simplesmente,	de	CPC/2015.
O	leitor	de	edições	anteriores	logo	se	identificará	com	o	formato	do	presente	trabalho:	os	temas	então
versados	continuam	sendo	examinados,	mas,	agora,	de	modo	atualizado	e	mais	profundo.	Desde	a	edição
anterior,	passamos	a	preparar	a	presente	versão,	pensando	em	publicá-la	como	comentário	ao	Projeto	de
Novo	CPC	ou,	como	a	que	vem	a	público,	como	comentário	ao	Novo	CPC.	Esse	tempo	permitiu-nos
meditar,	com	mais	cuidado,	sobre	muitos	dos	temas	antes	versados.
Sempre	entendemos	que	livro	de	Direito	Processual	Civil	deve	ser	útil,	servir	ao	labor	diário	daqueles
que	lidam	com	esse	tema.	Este	trabalho	tem,	desde	sua	1.ª	edição,	a	preocupação	de	examinar	todos	os
assuntos	com	contornos	eminentemente	práticos.	Mas	não	se	trata,	aqui,	da	“prática”	como	a	realização,
destituída	de	significado,	de	um	amontoado	de	atos	processuais,	mas	de	praxis,	no	sentido	de	prática
reflexiva.
Cada	um	dos	artigos	comentados	é	acompanhado	de	remissão	ao	dispositivo	correspondente,	no
CPC/1973
(disponibilizamos,	para	download,	quadro	comparativo	entre	o	CPC/1973	e	o	CPC/2015	no	site
http://professormedina.com/).
Em	seguida,	quando	consideramos	oportuno,	inserimos	enunciados	de	súmula	e	julgamentos	de	casos
repetitivos	pelos	tribunais	superiores,	bem	como	enunciados	oriundos	do	Fórum	Permanente	de
Processualistas	Civis	(indicados	como	FPPC).
Apresentamos,	assim,	os	presentes	comentários	à	comunidade	jurídica,	e	o	sujeitamos,	humildemente,	à
consideração	e	crítica	de	professores,	advogados,	juízes,	promotores	de	justiça	e	estudantes,	esperando	a
opinião	dos	doutos.
Mas	este	tempo,	como	eu	disse	antes,	é	de	renovação.	Reexaminei	tudo	o	que	antes	escrevi	e	publiquei
sobre	assuntos	relacionados	ao	Direito	Processual	Civil.	Atualizei	pontos	de	vista,	ajustando-os	à	nova
realidade	jurídica,	abandonando	ideias	que	restaram	obsoletas,	em	face	da	nova	lei.	O	leitor	notará,	ao
longo	do	texto,	as	hipóteses	em	que	isso	ocorreu,	pois	tomei	o	cuidado	de	registrá-las.	Levei	em
consideração	as	críticas	que	recebi,	sobretudo	para	deixar	mais	claras	e	para	aprimorar	minhas	opiniões
sobre	os	mais	variados	assuntos	relacionados	ao	processo	civil.
Como	sempre,	sugestões	e	críticas	serão	muito	bem-vindas,	e	poderão	ser	enviadas	para	o	e-mail
novocpc@medina.adv.br.
Os	anos	que	se	passaram,	entre	a	edição	anterior	e	a	presente	edição,	não	foram	nada	fáceis.	Tive,
sempre,	ao	meu	lado,	minha	família	e	o	apoio	de	bons	amigos.
Entre	nós,	sempre	senti	a	presença
marcante	de	Deus.	Quando	caí,	Deus	me	deu	sustentação,	me	apoiou	e	levantou.	Devo	dar	a	Ele	toda	a
glória.	Graças	a	Ele	este	trabalho	chega,	agora,	à	3.ª	edição.
A	todos	os	que	se	dispuserem	a	ler	o	presente	trabalho,	o	meu	abraço	afetuoso.	Espero,	sinceramente,	que
este	livro	lhes	seja	útil.
JOSÉ	MIGUEL	GARCIA	MEDINA	Páscoa	de	2015
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Lei	13.105,	de	16	de	março	de	2015
Lei	13.105,	de	16	de	março	de	2015
Código	de	Processo	Civil.
A	Presidenta	da	República:	Faço	saber	que	o	Congresso	Nacional	decreta	e	eu	sanciono	a	seguinte	Lei:
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Lei	13.105,	de	16	de	março	de	2015
Parte	Geral.
Parte	Geral
©	desta	edição	[2015]
2015	-	09	-	01
Novo	Código	de	Processo	Civil	comentado:	com	remissões	e	notas	comparativas	ao	CPC/1973
Lei	13.105,	de	16	de	março	de	2015
Parte	Geral.
Parte	Geral
Livro	I
DAS	NORMAS	PROCESSUAIS	CIVIS
TÍTULO	ÚNICO
DAS	NORMAS	FUNDAMENTAIS	E	DA	APLICAÇÃO	DAS	NORMAS	PROCESSUAIS
Capítulo	I
DAS	NORMAS	FUNDAMENTAIS	DO	PROCESSO	CIVIL
Art.	1º.	O	processo	civil	será	ordenado,	disciplinado	e	interpretado	conforme	os	valores	e	as	normas
fundamentais	estabelecidos	na	Constituição	da	República	Federativa	do	Brasil,	observando-se	as
disposições	deste	Código.
CPC/1973:	Sem	correspondente;	arts.	1.º	e	1.211	(relacionados).
SUMÁRIO:	I.	Métodos	para	a	solução	de	controvérsias.	O	processo	judicial	–	II.	Fins	do	processo	e
problemas	sociais	de	nosso	tempo	–	III.	Realização	dos	direitos	subjetivos	através	do	processo	–	IV.
Estrutura	peculiar	do	processo	e	suas	fontes.
Particularmente	a	importância	da	Constituição	Federal	–	V.	Criação	da	solução	jurídica.	Papel	da
jurisprudência.	Importância	da	doutrina.
I.	Métodos	para	a	solução	de	controvérsias.	O	processo	judicial.	O	processo	judicial	é	um	dos
métodos	de	resolução	de	controvérsias,	tendo	sido	considerado,	durante	muito	tempo,	com	exclusividade,
como	o	método	institucional	de	solução	de	controvérsias	(desse	modo	foi	considerado,	p.	ex.,	na
exposição	de	motivos	do	CPC/1973,	que,	em	seu	item	5,	designava	o	processo	como	o	“instrumento	que
o	Estado	põe	à	disposição	dos	litigantes,	a	fim	de	administrar	justiça”).	Essa	ordem	de	ideias	tende	a	ser
alterada,	na	medida	em	que	incorporam-se	outros	métodos	de	solução	de	conflitos	ao	cenário	judicial:
por	acesso	à	justiça	tende-se,	gradativamente,	a	compreender	não	apenas	o	acesso	a	uma	solução
decisional	(através	do	processo),	mas,	também,	a	meios	consensuais,	como	a	conciliação	e	a	mediação.
O	CPC/2015	adota	esse	modo	de	pensar,	trazendo	para	o	ambiente	da	administração	estatal	da	justiça
esses	meios	consensuais	de	solução	de	controvérsias,	antes	chamados	de	“alternativos”,	agora,
estimulados	(cf.	comentário	ao	art.	3.º).	A	mudança	da	cultura	da	sentença	para	a	cultura	da	pacificação,
a	que	se	refere	Kazuo	Watanabe	(Política	pública.	.,	RePro	195/381),	tende	a	ser	lenta	e	gradual,	ainda
que	o	CPC/2015	dê	passos	importantes,	nesse	sentido.	A	finalidade	do	processo	civil,	de	todo	modo,	é	a
solução	de	controvérsias.	De	acordo	com	concepção	bastante	difundida	entre	nós,	lide	é	o	conflito	de
interesses	qualificado	por	uma	pretensão	resistida	ou	insatisfeita	(cf.	conhecida	concepção	de	Francesco
Carnelutti,	Instituições	do	processo	civil,	vol.	1,	p.	78).	Esse	conceito	não	perdeu	sua	atualidade,	embora
devam	ser	atualizados	os	elementos	que	o	compõem.	Afinal,	os	bens	jurídicos	em	torno	dos	quais
controvertem	as	pessoas	evoluem	(de	abundantes,	tornam-se	escassos;	antes	irrelevantes,	passam	a	ser
considerados	importantes),	já	que	alteram-se	as	aspirações	das	pessoas,	da	sociedade	como	um	todo	e,
sob	esse	influxo,	altera-se	o	próprio	direito	substantivo	(cf.	o	que	se	diz	infra).	De	todo	modo,	o
processo	“quer	a	paz	jurídica,	quer	a	realização	e	verificação	do	direito	objectivo,	da	ordem	jurídica”
(Othmar	Jauernig,	Direito	processual	civil,	p.	36),	vale	dizer,	a	proclamação	e	a	realização	do	direito,	e
espera-se,	com	isso,	sejam	alcançados	os	fins	a	que	se	refere	Cândido	Dinamarco.	Segundo	esse	autor,	o
processo	tem	escopos	social	(pacificar	com	justiça,	conscientizar	os	membros	da	sociedade	para	que
estes	deem	cumprimento	aos	seus	deveres	etc.),	político	(afirmação	do	poder	estatal	de	administrar	a
justiça,	respeitando	a	liberdade	dos	cidadãos)	e	jurídico	(isto	é,	deve	conter	técnicas	processuais
adequadas	à	realização	do	direito	material)	(cf.	Cândido	Rangel	Dinamarco,	A	instrumentalidade	do
processo,	13.	ed.,	passim).	No	processo	civil,	a	solução	para	a	controvérsia	decorre	da	atuação	de	um
terceiro,	mas,	diversamente	do	que	sucede	com	o	processo	arbitral	(em	que	o	terceiro	é	escolhido	pelas
partes	envolvidas),	no	processo	o	conflito	é	resolvido	por	um	órgão	instituído	pelo	Estado	para	o
exercício	da	função	jurisdicional	(cf.	Luigi	Paolo	Comoglio,	Corrado	Ferri	e	Michele	Taruffo,	Lezioni
sul	processo	civile,	I,	p.	17).	Sobre	arbitragem	e	meios	consensuais	de	solução	de	conflitos,	cf.
comentário	ao	art.	3.º.	Tratamos	do	processo	judicial,	no	presente	estudo;	mas	processo	é	tema	que
interessa	à	teoria	geral	do	direito	(sobre	os	processos	administrativo	e	legislativo,	cf.	o	que	escrevemos
em	Constituição	Federal	comentada,	3.	ed.,	2014,	comentário	ao	art.	5.º,	LIV	e	LV	da	Constituição,
dentre	outros;	sobre	o	processo	obrigacional,	cf.	o	que	escrevemos	em	coautoria	com	Fábio	Caldas	de
Araújo,	em	Código	Civil	comentado,	2013,	comentário	aos	arts.	113,	421	e	427,	bem	como	ao	Título	I	do
Livro	I,	do	Código	Civil).
II.	Fins	do	processo	e	problemas	sociais	de	nosso	tempo.	Segundo	pensamos,	as	normas	processuais
relativas	à	realização	concreta	dos	direitos	incidem	de	modo	rente	à	realidade	social	e	econômica	de
um	povo.	A	controvérsia,	a	ser
solucionada	à	luz	do	ordenamento	jurídico,	emerge	da	sociedade,	motivo	pelo	qual	o	processo	deve	ter
aptidão	para	realizar	materialmente	os	direitos	subjetivos	amoldando-se	às	variações	sociais.	O	ponto
de	partida	do	estudo	do	processo	civil	consiste	na	compreensão	da	controvérsia	social	que	haverá	de
ser	solucionada.	Cf.,	também,	o	que	escrevemos	em	Parte	geral	e	processo	de	conhecimento,	4.	ed.,	cit.,
em	coautoria	com	Teresa	Arruda	Alvim	Wambier,	em	que	também	sustentamos	esse	modo	de	pensar.
Como	temos	afirmado	em	outros	trabalhos	(cf.,	p.	ex.,	o	que	escrevemos	em	Constituição	Federal
comentada,	3.	ed.,	p.	15-16),	o	desafio,	hoje,	está	em	como	formular	soluções	ajustadas	ao	nosso	modelo
de	Constituição	e	ao	tempo	em	que	vivemos.	Segundo	Zigmunt	Bauman,	“no	momento,	nós	estamos	em	um
interregno.	Um	interregno	que	significa,	simplesmente,	que	a	antiga	maneira	de	agir	não	funciona	mais,	e
novos	modos	de	agir	ainda	não	foram	inventados.	Esse	é	o	interregno”	(Sociedade	do	consumo	e	do
crédito	não	funciona	mais).	Não	se	pode,	porém,	aguardar	o	término	desse	interregno	para	encontrar
fórmulas	que	permitam	resolver	bem	(e	não	apenas	razoavelmente)	os	problemas	relativos	à
interpretação	e	aplicação	do	direito,	exigindo-se,	hoje,	um	novo	modo	de	pensar	o	direito,	em	diálogo
com	outras	“ciências”
(p.	ex.,	política,	econômica.	.)	e	também	com	outros	conhecimentos	oriundos	da	dinâmica	da	vida.	O
direito	não	deve	ser	estudado	apenas	em	si	mesmo,	mas	a	partir	do	déficit	identificado	na	vida	das
pessoas,	que	reclamou	a	sua	criação.	O	direito	não	pode	pertencer	apenas	ao	imaginário	dos	juristas,
sendo	alheio	à	realidade.	Se	assim	o	for,	será,	então,	um	direito	não	apenas	alheio	à	realidade,	mas	que
oculta	os	problemas	que,	de	fato,	ocorrem.
III.	Realização	dos	direitos	subjetivos	através	do	processo.	Através	do	processo	realizam-se	os
direitos	subjetivos	–
embora,	evidentemente,	não	tenha	o	processo	apenas	a	finalidade	de	realizar	o	direito	subjetivo
das
partes,	já	que,	evidentemente,	atua	a	jurisdição	de	modo	a	realizar	a	ordem	jurídica,	ainda	que	isso
contrarie	o	interesse	das	partes	(cf.
comentário	supra).	Não	tem	o	processo,	pois,	função	meramente	acessória	em	relação	ao	direito
material.	Como	afirma	Ada	Pelegrini	Grinover,	“vãs	seriam	as	liberdades	do	indivíduo,	se	não	pudessem
ser	reivindicadas	e	defendidas	em	juízo”	(	As	garantias	constitucionais	do	direito	de	ação,	n.	7,	p.	15).
Entendemos	que	a	previsão	de	um	direito	subjetivo	pelo	ordenamento	sem	que	haja	procedimento
adequado	(	due	process)	à	concretização	material	de	tal	direito	significaria,	quando	muito,	a	previsão
apenas	de	um	direito	“em	potencial”	ou	abstrato,	irrealizável	concretamente,	e,	em	última	análise,	um
direito	inexistente,	ou	existente	apenas	teoricamente.	“O	aspecto	processual	dos	direitos	fundamentais	faz
efetivos	seus	componentes	substanciais	‘de	modo	básico’,	não	como	uma	garantia	conexa	ou
complementar:	uma	garantia	só	substancial	dos	direitos	fundamentais	seria	em	parte	inútil”	(Peter
Häberle,	La	libertad	fundamental	en	el	estado	constitucional,	p.	292).
IV.	Estrutura	peculiar	do	processo	e	suas	fontes.	Particularmente	a	importância	da	Constituição
Federal.	O
processo	é	sistema	interacional,	isso	é,	dá-se	através	da	interação	entre	partes	e	órgão	jurisdicional.
Essa	noção	de	processo	envolve	e	supera	aquela,	tradicional,	que	vê	o	processo	apenas	como	mera
relação	jurídica	(cf.	comentário	ao	art.	2.º).	No	contexto	democrático,	o	modo	como	se	manifestam	e
relacionam	os	sujeitos	do	processo	deve	observar	as	garantias	mínimas	decorrentes	do	due	process	of
law.	Assim,	interessam,	evidentemente,	as	regras	dispostas	no	Código	de	Processo	Civil	e	em	outras	leis,
mas,	sobretudo,	a	norma	constitucional.	Entendemos	que	os	princípios	e	valores	dispostos	na
Constituição	Federal	constituem	o	ponto	de	partida	do	trabalho	do	processualista.	A	atuação	das
partes	e	a	função	jurisdicional	devem	ser	estudadas	a	partir	da	compreensão	de	que	o	processo	é	um
espaço	em	que	devem	se	materializar	os	princípios	inerentes	a	um	Estado	que	se	intitula	“Democrático	de
Direito”	(cf.	art.	1.º	da	Constituição).	O	CPC/2015	reproduz	e	esmiúça	uma	série	de	princípios
constitucionais,	fazendo-o,	principalmente	(mas	não	exclusivamente),	no	começo	da	Parte	Geral,	em
tópico	dedicado	às	normas	fundamentais	do	processo	civil.	Deixa	claro,	com	isso,	que	o	processo	civil	é
ordenado,	disciplinado	e	interpretado	em	conformidade	com	a	Constituição.	Longe	de	ser	mera
redundância,	a	referência	a	princípios	constitucionais	ao	longo	do	texto	do	Código	tem	importante	papel
pedagógico.	Sobre	fontes,	cf.	também	comentário	ao	art.	13	ss.	do	CPC/2015.	Sobre	as	garantias
fundamentais	do	processo,	cf.	comentário	aos	artigos	seguintes.
V.	Criação	da	solução	jurídica.	Papel	da	jurisprudência.	Importância	da	doutrina.	O	sentido	do	direito
não	se	encontra	apenas	no	texto	da	lei,	ou	na	descrição	de	um	princípio.	O	texto	é	o	ponto	de	partida	para
se	chegar	à	norma	jurídica,	mas	esta	é	fruto	da	interpretação	realizada	para	resolver	problemas.	É
importante	que	isso	fique	claro,	e	que	se	entenda	o	papel	da	interpretação	para	a	compreensão	da	norma
jurídica.	Isso	sucede	até	mesmo	com	as	afirmações	que	nós	mesmos	fazemos	–	ainda	que	fora	do	âmbito
acadêmico	ou	jurídico.	Se	me	recordo	de	uma	afirmação	que	fiz	há	vários	anos,	ao	recordá-la	a
interpreto,	à	luz	do	que	hoje	sou,	do	que	se	passou	ao	longo	de	minha	história,	e	do	que	vi	nas	histórias
daqueles	que	conviveram	comigo.	Explica	Miguel	Nicolélis	que	nosso	cérebro	“‘vê’	antes	de	‘enxergar’,
para	impor	a	cada	um	de	nós	seu	próprio	ponto	de	vista	sobre	o	mundo	que	nos	circunda”.	Segundo
afirma,	“são	os	encontros	e	desencontros	entre	esses	dois	sinais	espaçotemporais,	um	gerado	dentro	do
cérebro	e	o	outro	proveniente	da	transdução	de	estímulos	do	mundo	exterior,	que	definem	o	que
percebemos	como	realidade.	Isso	implica	que	a	tão	procurada	verdade	absoluta	não	existe,	porque	o
cérebro	não	é	um	mero	escravo	daquilo	que,	por	exemplo,	nossas	retinas	dizem	ver.	Essa	colisão
neurofisiológica	sintetiza	o	princípio	da	contextualização”,	isso	é,	“a	forma	como	o	cérebro	responde
como	um	todo,	seja	em	resposta	a	um	estímulo	sensorial,	seja	para	produzir	um	comportamento	motor
particular,	depende	de	seu	estado	global	interno	a	cada	instante”	(	Muito	além	de	nosso	eu,	p.	417).
Assim	também	é	com	o	direito.	O	sujeito	que	interpreta	o	direito	visualiza-o,	considerando	algo	a	ser
resolvido	(o	que	denomino,	usando	termo	de	Josef	Esser	na	obra	Principio	y	norma.	.	,	p.	9	ss.,	de
“problemática	concreta”),	mas	o	próprio	sujeito	que	interpreta	faz	parte	do	processo	de	interpretação
(ou,	dito	de	outra	forma,	o	aplicador	do	direito	não	é	alguém	que	observa	“de	fora”	o	fenômeno.	.).	Daí	a
importância	que	damos	ao	modo	de	construção	da	solução	jurídica	pelos	tribunais	e	ao	modo	como	eles
interagem	com	a	comunidade	jurídica	e	a	sociedade.
Como	temos	afirmado,	em	nosso	dia	a	dia	não	laboramos	sobre	teses	jurídicas:	antes,	as	formulamos	para
resolver	problemas	e	aplicar	a	casos	(cf.	o	que	escrevemos	em	Constituição	Federal	comentada,	3.	ed.,
p.	16-17).	Afirma	Hans-Georg
Gadamer	que	é	“um	processo	unitário	não	somente	a	compreensão	e	interpretação,	mas	também	a
aplicação”,	ressaltando	que	“a	aplicação	é	um	momento	do	processo	hermenêutico,	tão	essencial	e
integrante	como	a	compreensão	e	a	interpretação”
(	Verdade	e	método,	p.	379).	A	experiência	dos	tribunais	na	resolução	de	casos	e	o	amadurecimento	que
se	espera	obter,	com	essa	experiência,	ao	longo	do	tempo	(com	erros	e	acertos,	mas,	sobretudo,	com	a
reiteração	de	uma	orientação	verificada	como	certeira)	acaba	funcionando	como	importante	ingrediente,
na	interpretação	das	regras	relacionadas	ao	processo.	É
importante,	no	entanto,	para	que	sirva	a	esse	propósito,	que	a	jurisprudência	seja	dotada	de	integridade.
Para	servir	como	guia,	a	jurisprudência	deve	ser	íntegra;	caso	contrário,	não	passará	de	um	amontoado	de
julgados.	De	todo	modo,	os	casos	levados	pelas	pessoas	ao	Judiciário	representam	a	problemática
concreta,	sendo	importante	examinar	o	método	(ou	arte)	de	resolver	tais	problemas,	já	que	com	tal
técnica	devemos	lidar,	no	processo.	Essa	assertiva	vale	para	a	atividade	jurisdicional,	mas	também	deve
ser	considerada	pela	doutrina,	que	deve	se	envolver	com	o	que	se	passa	na	jurisprudência.	Entendemos
que,	se	é	certo	que	os	juízes	não	estão	sozinhos	no	mundo,	não	menos	correto	é	dizer	que	não	estão
sozinhos	no	“mundo	jurídico”.	Ninguém	duvida,	por	exemplo,	que	o	STF	tem	a	“última	palavra”,	ao
menos	em	determinado	momento,	em	relação	à	interpretação/aplicação	da	norma	constitucional.	Mas
mesmo	as	afirmações	desse	Tribunal	sobre	o	significado	da	Constituição	devem	sujeitar-se	ao	exame
crítico	da	doutrina,	que	deve	reafirmar	os	acertos	e	apontar	os	erros	interpretativos	para	que	estes	sejam
corrigidos	e	o	STF	volte	ao	rumo	correto	(essa	atitude	doutrinária	–	que,	de	resto,	é	não	apenas	da
doutrina,	mas	de	toda	a	comunidade	–	nos	remete	àquilo	que	alguns	chamam	de	“sentimento
constitucional”,	a	que	se	refere	Pablo	Lucas	Verdú,	em	O	sentimento	constitucional:	aproximação	ao
estudo	do	sentir	constitucional	como	de	integração	política).	Como	afirmou	Celso	Furtado,	“que	é	a
utopia	senão	o	fruto	da	percepção	de	dimensões	secretas	da	realidade,	um	afloramento	das	energias
contidas	que	antecipa	a	ampliação	do	horizonte	de	potencialidades	aberto	ao	homem?	Esta	ação	de
vanguarda	constitui	uma	das	ações	mais	nobres	a	serem	cumpridas	pelos	intelectuais	nas	épocas	de	crise.
Cabe-lhes	aprofundar	a	percepção	da	realidade	social	para	evitar	que	se	alastrem	as	manchas	de
irracionalidade	que	alimentam	o	aventureirismo	político;	cabe-lhes	projetar	luz	sobre	os	desvãos	da
história,	onde	se	ocultam	os	crimes	cometidos	pelos	que	abusam	do	poder;	cabe-lhes	auscultar	e	traduzir
as	ansiedades	e	aspirações	das	forças	sociais	ainda	sem	meios	próprios	de	expressão”	(	Ensaios
sobre
cultura.	.	,	p.	174).	Entendemos	que	“o	jurista	tem	a	grave	tarefa	de	promover	a	melhor	aplicação	do
direito,	aumentando,	com	sua	atividade,	o	grau	de	certeza	da	ciência	do	direito”	e	“não	pode	interpretar	o
direito	contra	os	preceitos	éticos,	morais	e,	principalmente,	democráticos”	(Nelson	Nery	Jr.	e	Rosa
Maria	de	Andrade	Nery,	CPC	comentado,	9.
ed.,	p.	604).	Tem	o	processualista	o	dever	de	observar	os	princípios	democráticos,	no	exame	crítico
daquilo	que	doutrina	e	jurisprudência	apresentam	como	solução	para	os	problemas	que	afetam	a	vida	das
pessoas	(a	respeito,	cf.	Otavio	Luiz	Rodrigues	Jr.,	Dogmática	e	crítica	da	jurisprudência,	RT	891/65).	“A
tarefa	do	processualista”,	assim,	é,	fundamentalmente,	a	de	“objetivar	a	simplificação	desse
instrumento”,	que	é	o	processo	(Arruda	Alvim,	Manual	de	direito	processual	civil,	vol.	1,	n.
26,	p.	99),	em	atenção	aos	princípios	e	valores	democráticos	dispostos	na	Constituição.	É	verdade	que
isso	não	é	tarefa	fácil	(como	disse	George	Sand,	“simplicity	is	the	most	difficult	thing	to	secure	in	this
world.	It	is	the	last	limit	of	experience	and	the	last	effort	of	genius”,	Letters.	.	,	p.	355),	mas	não	podemos
nos	curvar	diante	desse	desafio.	Devemos	nos	empenhar	em	alcançar	esse	desiderato,	pois	o	processo
pode	ser	tão	complexo	exatamente	porque	não	tentamos	simplificá-lo.	Se,	como	disse	Wittgentein,	o	que
se	pode	dizer,	pode	ser	dito	claramente	(“What	can	be	said	at	all	can	be	said	clearly”,	Tractatus.	.	,
Preface,	p.	3),	temos	que	tornar	simples	o	processo.	Mas	dizer	que	nossa	tarefa,	enquanto	estudiosos	do
direito	processual	civil,	é	a	de	simplificá-lo,	não	equivale	a	dizer	que	devemos	ser	simplistas,
desprezando	dados	ou	informações	necessárias	à	análise	dos	problemas,	ou	mesmo	simplórios,
analisando	as	questões	jurídicas	como	se	estas	fossem	meramente	abstratas,	não	emergissem	de	uma
sociedade	extremamente	complexa,	a	serem	resolvidas	num	ambiente	também	permeado	de	problemas
(basta	lembrar,	por	exemplo,	a	quantidade	muito	grande	de	processos	que	aguardam	julgamento,	frente	o
número	pequeno	de	magistrados	para	dar	conta	de	tal	trabalho).
Art.	2º.	O	processo	começa	por	iniciativa	da	parte	e	se	desenvolve	por	impulso	oficial,	salvo	as
exceções	previstas	em	lei.
CPC/1973:	Art.	262	(correspondente);	art.	2º	(relacionado).
SUMÁRIO:	I.	Direito	de	ação	–	II.	Direito	de	petição	e	direito	de	ação.	Distinção	–	III.	Direito	de	ação
e	tutela	jurisdicional	adequada	ao	direito	material	–	IV.	Teorias	sobre	a	natureza	do	direito	de	ação	–	V.
Direito	de	ação	e	teoria	da	relação	de	status	–	VI.	Processo	como	sistema	interacional	–	VII.	Princípios
da	demanda	e	da	inércia	da	jurisdição	–	VIII.	Princípio	do	impulso	oficial	–	IX.	Exercício	da	demanda	e
desistência	da	ação	–	X.	Requisitos	processuais.	Requisitos	de	formação	do	processo	e	dos	atos
realizados	ao	longo	do	procedimento.	Pressupostos	processuais	e	condições	da	ação,	no	CPC/1973	e	no
CPC/2015	–	XI.	Devido	processo	legal	(	Due	process	of	law,	processo	“justo”	ou	“equitativo”).
Garantias	mínimas.
I.	Direito	de	ação.	O	direito	de	ação	não	se	manifesta	apenas	com	a	apresentação	de	pedido	de	tutela
jurisdicional	pelo	demandante.	Esse	ponto	de	vista,	bastante	restrito	(sob	essa	perspectiva	se	estuda	o
direito	de	ação	e	suas	“condições”,	ou	requisitos,	p.ex.;	cf.	o	que	escrevemos	a	respeito	em	Possibilidade
jurídica	do	pedido	e	mérito,	RePro	93/371,	jan./1999),	não	contempla	outras	relações	que	surgem	ao
longo	do	processo	e,	além	disso,	visualiza	o	fenômeno	apenas	sob	o	ponto	de	vista	do	autor	(ou
exequente).	O	direito	de	ação	envolve	um	conjunto	de	situações	subjetivas	em	que	se	encontram	as	partes
frente	ao	Estado:	de	um	lado,	condiciona	o	início	da	atividade	jurisdicional,	mas,	por	outro,	representa	o
direito	que	tem	a	parte	à	proteção	e	realização	do	direito,	através	da	prestação	praticada	pela	jurisdição.
O	direito	de	ação,	assim,	manifesta-se	não	apenas	através	da	demanda	(cf.	comentário	infra),	mas
também	ao	longo	do	desenvolvimento	de	todo	o	procedimento,	do	qual	deve	poder	a	parte	participar
ativamente	(cf.	Luigi	Paolo	Comoglio	et	al.	,	Lezioni.	.	,	cit.,	p.	224),	exaurindo-se	com	a
obtenção	de	tutela	jurisdicional	adequada	ao	direito	(cf.	art.	5.º,	XXXV,	da	CF/1988;	no	mesmo	sentido,
cf.	Giovanni	Arieta	et	al.	,	Corso.	.	,	3.	ed.,	cit.,	n.	60,	p.	144;	sob	a	perspectiva	constitucional,	cf.	o	que
escrevemos	em	Constituição	Federal	comentada	cit.,	comentário	ao	art.	5.º,	XXXV	da	CF/1988;	opinião
que	reproduzimos	também	na	obra	Processo	civil	moderno,	v.	1,	Parte	geral	e	processo	de
conhecimento,	4.	ed.,	em	coautoria	com	Teresa	Arruda	Alvim	Wambier;	semelhantemente,	na	doutrina
recente,	afirma-se	que	o	direito	de	ação	“tem	conteúdo	múltiplo”,	é	um	“direito	compósito”,	um
“complexo	de	situações	jurídicas”,	ou,	ainda,	um	“complexo	de	poderes	ou	faculdades”,	cf.	Fredie
Didier	Jr.,	O	direito	de	ação	como	complexo	de	situações	jurídicas,	RePro	210/41).	Em	síntese,	pode-se
dizer	que	o	direito	de	ação	é	o	direito	ao	processo	adequado,	que	observe	as	garantias	mínimas,
decorrentes	do	devido	processo	legal.	É	correto,	sob	esse	prisma,	afirmar-se	que	também	o	réu	tem
direito	de	ação	(cf.	o	que	escrevemos	em	Chamamento	ao	processo,	RePro	95/39,	jul./1999;	nesse
sentido,	reconhece-o	expressamente	o	art.	30	do	CPC	francês	ao	dispor	que	“l’action	est	le	droit,	pour
l’auteur	d’une	prétention,	d’être	entendu	sur	le	fond	de	celle-ci	afin	que	le	juge	la	dise	bien	ou	mal
fondée”,	mas,	“pour	l’adversaire,	l’action	est	le	droit	de	discuter	le	bien-fondé	de	cette	prétention”).
II.	Direito	de	petição	e	direito	de	ação.	Distinção.	A	Constituição	assegura	o	direito	de	petição,	isto	é,
o	direito	de	manifestar-se	perante	os	órgãos	que	exercem	o	poder,	contra	ilegalidades	ou	abusos
(CF/1988,	art.	5.º,	XXXIV,	a).	O	exercício	do	direito	de	petição,	diz	a	Constituição,	independe	do
pagamento	de	taxas.	Corretamente,	dispõe	a	Súmula	Vinculante	21	do	STF	que	“é	inconstitucional	a
exigência	de	depósito	ou	arrolamento	prévios	de	dinheiro	ou	bens	para	admissibilidade	de	recurso
administrativo”	(no	mesmo	sentido,	cf.	Súmula	373	do	STJ	e	Súmula	424	do	TST).	O	direito	de	petição,
pois,	é	mais	amplo	que	o	direito	de	ação,	já	que	aquele	é	incondicionado,	e	pode	ser	exercido	perante
qualquer	dos	órgãos	que	desempenham	o	poder	estatal.	A	respeito,	cf.	o	que	escrevemos	em
Constituição	Federal	comentada	cit.,	no	comentário	ao	referido	dispositivo	constitucional.
III.	Direito	de	ação	e	tutela	jurisdicional	adequada	ao	direito	material.	De	acordo	com	o	art.	5.º,
XXXV,	da	CF/1988,	“a	lei	não	excluirá	da	apreciação	do	Poder	Judiciário	lesão	ou	ameaça	a	direito”.
Não	se	limita	a	norma	constitucional	a	obstar	que	alguma	lei	impeça	o	acesso	à	jurisdição,	mas	vai	além,
para	assegurar	o	direito	de	exigir	do	Estado	a	tutela	jurisdicional.
Modernamente,	tem-se	pensado	em	tutela	jurisdicional	não	apenas	como	resultado,	mas	também	para
designar	os	meios	tendentes	à	sua	consecução	(Flávio	Luiz	Yarshell,	Tutela	jurisdicional,	p.	30	ss.;
Cândido	Rangel	Dinamarco,	Execução	civil,	n.
60,	p.	112;	Vicente	Greco	Filho,	Tutela	jurisdicional	das	liberdades,	p.	70).	O	direito	de	ação
corresponde,	portanto,	ao	direito	à	prestação	jurisdicional	adequada	ao	direito	substancial	(cf.	Andrea
Proto	Pisani,	op.	cit.,	p.	54-55).	Assim,	também	a	configuração	processual	do	direito	de	ação	deve
ajustar-se	ao	direito	material.	P.	ex.,	em	se	tratando	de	tutela	de	direitos	difusos,	deve-se	amoldar	a	ação
a	este	direito	(o	que	se	reflete	na	questão	consistente	em	se	saber,	por	exemplo,	quem	pode	agir	em	juízo,
em	busca	de	tutela	protetiva	de	direito	supraindividual,	p.	ex.,	art.	5.º,	LXXIII	da	CF/1988,	quanto	à
legitimidade	para	o	ajuizamento	de	ação	popular,	e	art.	82	da	Lei	8.078/1990).	A	inexistência,	no	plano
processual,	de	tutela	correspondente	à	reclamada	pelo	direito	material,	significaria	tornar	inexistente	o
próprio	direito	substantivo.	O	direito	de	ação,	assim,	compreende
não	apenas	o	direito	à	tutela
jurisdicional	adequada,	mas	também	a	um	processo	adequado.
IV.	Teorias	sobre	a	natureza	do	direito	de	ação.	Ao	longo	do	tempo,	surgiram	várias	concepções
acerca	da	natureza	da	ação,	nem	sempre	excludentes,	muitas	vezes	formuladas	à	luz	dos	dados	existentes
em	um	determinado	ordenamento	jurídico.	Quando	não	se	concebia	o	processo	como	relação	distinta	da
do	direito	material,	pensava-se	na	ação	como	mera	manifestação	ou	extensão	do	direito	material,	e	não
como	direito	da	parte	contra	o	Estado	(teoria	imanentista	ou	civilista).	A	partir	da	célebre	polêmica
havida	entre	Windscheid	e	Müther,	chamou-se	a	atenção	para	o	fato	de	que	a	ação	processual	consistia
em	direito	a	uma	prestação	jurisdicional,	distinto,	portanto,	do	direito	a	prestação	oriunda	do	direito
material.
Seguiu-se,	no	entanto,	a	teoria	segundo	a	qual,	embora	distinto	do	direito	material,	o	direito	de	ação
somente	existiria	quando	existente	o	direito	material	(teoria	da	ação	como	direito	concreto,	de	que	foi
partidário	Wach).	Para	Chiovenda,	embora	autônomo	em	relação	ao	direito	material,	o	direito	processual
de	ação	não	seria	direito	a	ser	exercido	contra	o	Estado,	mas	um	direito	potestativo	a	ser	exercido	em
relação	ao	adversário	(teoria	da	ação	como	direito	potestativo).	Outros,	ainda,	viram	a	ação	como	direito
autônomo	e	abstrato,	totalmente	desvinculado	do	direito	material	(Degenkolb	e	Plòsz,	que	formularam	a
teoria	da	ação	como	direito	abstrato).	Liebman,	por	sua	vez,	sustentava	que	a	ação	seria	direito	autônomo
e	abstrato,	mas	condicionável	(teoria	eclética).	A	respeito	do	tema,	cf.,	amplamente,	Gabriel	de	Rezende
Filho,	Direito	processual	civil,	vol.	1,	n.	150	e	ss.,	p.	151	e	ss.;	Leonardo	Greco,	A	teoria	da	ação	no
processo	civil;	Fábio	Gomes,	Carência	de	ação;	Rodrigo	da	Cunha	Lima	Freire,	Condições	da	ação;
José	Ignacio	Botelho	de	Mesquita,	Da	ação	civil.	Tais	teorias,	a	nosso	ver,	explicam	a	evolução
doutrinária	do	conceito	de	ação	na	ciência	processual,	mas	não	revelam	satisfatoriamente	como	deve	ser
compreendido	o	direito	de	ação	no	Estado	Constitucional	Democrático	de	Direito.	Segundo	nosso	modo
de	pensar,	não	é	possível	reduzir	o	conceito	de	ação	ou	formular	uma	definição	unitária.	Como	afirmamos
acima,	entendemos	que	o	direito	de	ação	é	o	direito	ao	processo	adequado,	que	observe	as	garantias
mínimas	decorrentes	do	devido	processo	legal.
Essa	é,	a	nosso	ver,	a	natureza	do	direito	de	ação.
V.	Direito	de	ação	e	teoria	da	relação	de	status	.	Temos	estudado	o	direito	de	ação	sob	a	perspectiva
da	teoria	das	relações	de	status	(como	posição	das	pessoas	frente	ao	Estado),	a	partir	das	lições	de
Jellinek	e	dos	desenvolvimentos	de	Häberle	(sobre	essa	teoria,	cf.,	mais	amplamente,	comentário	ao	art.
5.º	do	CPC/2015).	Afirma	Ada	Pellegrini	Grinover	(O
direito	de	ação	cit.),	que	também	Alfredo	Rocco	teria	se	inspirado	na	doutrina	de	Jellinek.	Segundo	esse
autor,	o	direito	de	ação	é	um	direito	subjetivo	“que	corresponde	a	cada	ciudadano	como	tal”,	“un	derecho
subjetivo	público	del	ciudadano	con	el	Estado,	y	sólo	con	el	Estado”	(	La	sentencia	civil	cit.,	n.	33,	p.
128,	e	n.	39,	p.	153),	e	que	compreende	em	si	“todas	las	facultades
que	corresponden	a	las	partes	en	el	procedimiento	y	el	ejercicio	de	aquel	derecho	como	compreendiendo
todos	los	actos	procesales	de	las	partes”	(ob.cit.,	n.	41,	p.	165).	Fazendo	referência	a	“una	cantidad	de
facultades,	reconocidas	y	disciplinadas	por	el	derecho	procesal	objetivo”,	faz	Alfredo	Rocco
desenvolvimento	semelhante,	embora	sem	se	referir	às	categorias	de	status	acima	mencionadas	(ob.cit.,
n.	41	e	42,	p.	165	ss.).	Como	temos	sustentado	(cf.	comentário	I	ao	presente	dispositivo	legal,	supra),	o
direito	de	ação	envolve	um	conjunto	de	situações	subjetivas	em	que	se	encontram	as	partes	frente	ao
Estado.
Assim,	o	direito	de	ação	compreende	o	dever	do	Estado	de	prestar	a	tutela	jurisdicional	(	status
positivo).	Paralelamente	a	esse	direito	da	parte,	há,	ainda,	o	de	participar	efetivamente	do	procedimento
destinado	à	entrega	da	prestação	jurisdicional.	Este
“direito	de	participação	no	processo”	corresponde	ao	status	activus	processualis.	Sobressaem,	quanto	a
este	status	ativo,	aspectos	que	dizem	respeito	à	interação	dos	sujeitos	no	processo.	O	direito	de	ação
pode	ser	considerado,	também,	sob	outro	prisma,	que	é	o	de	condicionante	do	início	da	atividade
jurisdicional	(art.	2.º	do	CPC/2015).	Sob	esta	perspectiva,	o	direito	de	ação	encerra	também	uma
faculdade	que	é	manifestação	da	esfera	de	liberdade	individual	frente	ao	Estado	(	status	libertatis;	cf.,	a
respeito	desta	manifestação	de	status,	Georg	Jellinek,	op.	cit.,	p.	87;	Robert	Alexy,	op.	cit.,	p.	258),	já
que	este	último	somente	pode	atuar	após	a	livre	manifestação	de	vontade	do	indivíduo	(sobre	a	liberdade
de	agir	em	juízo	como	uma	projeção	do	status	libertatis,	cf.	Luigi	Paolo	Comoglio	et	al,	op.	cit.,	p.	66).
VI.	Processo	como	sistema	interacional.	Há,	no	processo,	relação	júridica	entre	as	partes	e	o	órgão
jurisdicional.	Embora	consideremos	acertado	esse	ponto	de	vista,	com	isso	não	se	quer	dizer	que	há,	em
tal	relação,	apenas	um	simples	“esquema	de	interdependência	das	posições	ativa	e	passiva”	que
sintetizaria	os	“poderes	e	atividades	que	as	partes	desenvolvem	no	processo”	(essa	é	a	crítica	de
Giovanni	Arieta	et	al,	Corso	base	di	diritto	processuale	civile,	3.	ed.,	p.	90,	ao	tratarem	da	“crisi	del
concetto	di	rapporto	processuale”;	na	doutrina	brasileira,	semelhantemente,	cf.	Aroldo	Plínio	Gonçalves,
Técnica	processual	e	teoria	do	processo,	p.	97).	As	críticas	que	podem	ser	desferidas	a	esse	ponto	de
vista	–	de	processo	é	uma	relação	jurídica	–
depende	de	que	se	adote	uma	concepção	bastante	restrita	de	relação	jurídica,	algo	que	não	nos	parece
acertado	(desenvolvemos	esse	ponto	de	vista	também	ao	analisarmos	as	relações	jurídicas
obrigacionais,	cf.	o	que	escrevemos	em	Código	Civil	comentado	cit.,	em	coautoria	com	Fábio	Caldas	de
Araújo,	especialmente	p.	128,	278	e	391).	Se,	com	efeito,	há	relações	jurídicas	simples	e	estáticas,	tal
não	é	o	que	sucede	com	o	processo.	Isso	não	impede	que	o	processo	seja	visualizado	como	um	esquema
angular	(isto	é,	autor	–	juiz	–	réu)	ou	triangular	(em	que	cada	um	dos	sujeitos	ocupa	um	dos	vértices),
desde	que	haja	a	ciência	de	que	essa	perspectiva	não	esgota	o	fenômeno.	O	processo	não	é	uma	relação
jurídica	simples,	simétrica	e	unidirecional,	em	que	os	sujeitos	podem	ser	alocados	em	compartimentos
capazes	de	representar,	geometricamente,	os	papéis	que	desempenham.	Entendemos	que	o	processo	é
relação	jurídica	complexa,	dinâmica,	bidirecional	e	circular,	em	que	o	comportamento	de	cada	um	dos
sujeitos	afeta	e	é	afetado	pelo	comportamento	dos	outros	etc.	O	status	das	partes,	no	processo,	manifesta-
se	com	diferentes	conteúdos	e	estruturas.	Para	a	definição	de	processo	interessa	notar	não	apenas	a
relação	existente	entre	os	sujeitos,	mas,	também,	a	relação	existente	entre	os	atributos	de	tais	sujeitos,	e
o	modo	como	os	sujeitos	os	exercem,	no	processo.	Estas	relações	(entre	os	sujeitos	e	entre	os	atributos)
dão	coesão	a	este	sistema,	que	é	o	processo.	O	processo	é	um	sistema	interacional,	já	que	se	desenvolve
através	da	influência	mútua	entre	partes	e	órgão	jurisdicional,	devendo	ser	definido,	portanto,	como	uma
estrutura	dialética	(Elio	Fazzalari,	Istituzioni	di	diritto	processuale,	7.	ed.,	p.	83;	sobre	a	ideia	de
sistema	interacional,	cf.	Paul	Watzlawick	et	al.	,	Pragmática	da	comunicação	humana,	p.	109;	cf.
também	o	que	escrevemos,	com	base	nessa	noção	de	sistema,	em	Execução	civil	cit.,	2.ed.,	2004,	n.	8.1.,
p.
70	ss.,	e,	mais	recentemente,	desenvolvendo-a	para	tratar	da	natureza	de	processo,	em	Processo	civil
moderno,	v.	1.,	Parte	geral	e	processo	de	conhecimento,	4.ed.,	em	coautoria	com	Teresa	Arruda	Alvim
Wambier,	n.	1.5.1,	p.	52	ss.).	O	processo,	assim,	é	um	sistema	integrado	pelos	sujeitos	processuais	e	por
seus	atributos,	em	que	interagem	as	partes	(no	exercício
de	seu	status	positivo,	ativo	etc.)	e	o	órgão
jurisdicional.	O	processo	só	pode	ser	compreendido,	assim,	como	globalidade:	não	se	trata	apenas	de
acumulação	(ou	soma)	de	elementos	abstratos.	A	interação	que	há	entre	os	sujeitos	do	processo	e	seus
atributos	não	pode	ser	explicada	apenas	pelos	elementos	separadamente	considerados	(não	somatividade;
a	respeito,	cf.	uma	vez,	mais,	o	que	escrevemos	em	Execução	civil	cit.,	e,	mais	aprofundadamente,
Watzlavick	et	al.,	passim).	Embora	não	consideremos	errônea	a	afirmação	de	que	o	processo	é	uma
relação	jurídica	–	desde	que	consideradas	as	ressalvas	que	fizemos	ao	próprio	conceito	de	relação
jurídica	–,	parecemos	mais	adequada	a	concepção	de	processo	como	sistema	interacional,	pois	esta	tem	a
aptidão	de	destacar	características	dos	sujeitos	processuais	e	do	envolvimento	que	estes	têm	no	e	ao
longo	do	processo,	em	que	sucedem	variadas	“micror-relações”.	Ademais,	compreender	o	processo
como	sistema	interacional	implica	reconhecer	a	importância	da	comunicação	que	deve	haver	entre	as
partes	e	no	modo	como	deve	ser	as	manifestações	destas.	Assim,	p.ex.,	deve	haver	um	esforço,	por	parte
do	órgão	jurisdicional,	em	compreender	as	manifestações	das	partes	e	manifestar-se	de	modo	a	ser
entendido	(cf.	comentário	ao	art.	8.º	do	CPC/2015).	A	exigência	de	sensibilidade	para	o	que	vai
veiculado	no	conteúdo	da	manifestação	das	partes	impõe	ao	intérprete,	também,	dar	novo	sentido	ao
modo	como	devem	ser	entendidas	as	formas	dos	atos	processuais	(e,	também,	à	forma	do	próprio
processo,	cf.
comentário	aos	arts.	188	ss.	do	CPC/2015).
VII.	Princípios	da	demanda	e	da	inércia	da	jurisdição.	O	início	do	processo	é	condicionado	à	demanda
da	parte	(	nemo	iudex	sine	actore).	A	demanda	é	a	primeira	manifestação	processual	do	exercício	do
direito	de	ação	(cf.	comentário	supra).	A	jurisdição	movimenta-se	em	decorrência	da	demanda	(	nemo
iudex	sine	actore),	ficando,	antes	disso,	inerte	(	ne	procedat	iudex	ex	officio).	O	princípio	da	inércia	da
jurisdição,	assim,	é	a	outra	face	do	princípio	da	demanda,	encontrando-se	ambos	nos	princípios
positivados	nos	arts.	2.º	do	CPC/2015.
VIII.	Princípio	do	impulso	oficial.	Tendo-se	iniciado	por	provocação	das	partes,	o	processo	desenvolve-
se	“por	impulso	oficial”	(art.	2.º	do	CPC/2015).	Doravante,	põe-se	a	jurisdição	a	atuar,	com	o	intuito	de
dar	fim	à	lide,	realizando	os	princípios	e
garantias	decorrentes	do	due	process	of	law	(cf.	comentário	ao	art.	3.º	do	CPC/2015).
IX.	Exercício	da	demanda	e	desistência	da	ação.	Exercido	o	direito	de	ação	através	da	demanda,	a	sua
desistência	condiciona-se	à	observação	do	disposto	no	art.	485,	§§	4.º	e	5.º,	do	CPC/2015.	À	luz	do	art.
267,	§	4.º	do	CPC/1973	(segundo	o	qual	“depois	de	decorrido	o	prazo	para	a	resposta,	o	autor	não
poderá,	sem	o	consentimento	do	réu,	desistir	da	ação”)	assim	já	se	decidia,	a	fortiori,	que	não	poderia
ser	admitida	a	desistência	da	ação	após	a	prolação	de	sentença,	pelo	juiz:	“A	desistência	da	ação	é
faculdade	processual	conferida	à	parte	que	abdica,	momentaneamente,	do	monopólio	da	jurisdição,
exonerando	o	Judiciário	de	pronunciarse	sobre	o	mérito	da	causa,	por	isso	que	não	pode	se	dar,	após	a
sentença	de	mérito”
(STJ,	REsp	1.115.161/RS,	j.	04.03.2010,	rel.	Min.	Luiz	Fux).
X.	Requisitos	processuais.	Requisitos	de	formação	do	processo	e	dos	atos	realizados	ao	longo	do
procedimento.
Pressupostos	processuais	e	condições	da	ação,	no	CPC/1973	e	no	CPC/2015.	São	requisitos	para	que
o	processo	exista	(chamados,	comumente,	de	pressupostos	processuais	de	existência):	demanda,
jurisdição	e,	também,	citação	(sobre	a	existência	do	processo	sem	citação,	cf.	comentário	infra).	Para
que	o	processo	exista,	deve	haver	o	exercício	de	demanda	perante	a	jurisdição.	A	atividade
jurisdicional	é	condicionada	pela	demanda	(art.	2.º	do	CPC/2015;	a	capacidade	postulatória	não	é
pressuposto	de	existência	do	processo;	o	CPC/2015	considera	ineficaz	em	relação	àquele	em	cujo	nome
foi	praticado	o	ato	sem	procuração,	caso	não	haja	ratificação,	cf.	art.	104,	§	2.º	do	CPC/2015,	mas	o	ato,
em	si,	não	será	considerado,	se	não	houver	ratificação,	cf.	art.	76	do	CPC/2015;	o	Código	revogado
considerava	juridicamente	inexistente	o	ato,	se	ausente	a	capacidade	postulatória,	em	caso	de	não
ratificação,	cf.	art.	37,	parágrafo	único,	do	CPC/1973).	É	inadmissível	a	demanda,	por	outro	lado,	se
ausentes	aquilo	que	o	Código	revogado	(art.	267,	VI	do	CPC/1973)	denominava	de	condições	da	ação
(legitimidade	ad	causam	e	interesse	processual).	O	CPC/2015	não	mais	se	refere	ao	termo	(cf.
comentário	ao	art.	485	do	CPC/2015).	Deve	a	demanda	ser	exercida	perante	órgão	dotado	de	jurisdição.
Mas	quem	pede	tutela	jurisdicional,	o	faz	para	que	esta	produza	efeitos	sobre	a	esfera	jurídica	de	outrem
(o	réu,	em	ação	de	conhecimento;	o	executado,	em	ação	de	execução	etc.).	Para	que	este	passe	a	integrar
a	relação	jurídico-processual,	deve-se	realizar	a	citação.	Sem	citação,	portanto,	inexiste	processo	com	o
réu	(nesse	sentido,	cf.	STJ,	REsp	1009246/RN,	3.ª	T.,	j.	26.06.2008,	rel.	Min.	Nancy	Andrighi,	em	que	se
decidiu	que	“a	ausência	de	citação	–	que	é	pressuposto	de	existência	da	relação	processual	–,	impede	a
abertura	do	debate	a	respeito	da	decretação	dos	efeitos	da	revelia”;	a	respeito,	cf.	comentário	ao	art.	312
do	CPC/2015,	sobre	a	distinção	entre	inexistência	e	ineficácia	do	processo	em	relação	a	quem	não	foi
citado).	Ao	lado	desses	pressupostos	de	existência,	há	também	o	que	se	convencionou	chamar	de
pressupostos	de	validade	do	processo.	Assim,	p.ex.,	afirma-se	que	não	basta	haver	jurisdição,	mas	esta
deve	ser	exercida	por	juiz	imparcial,	sob	pena	de	nulidade;	diz-se,	ainda,	que	além	de	existir	citação,
deve	esta	ser	válida.	.	Em	muitos	destes	casos,	contudo,	não	se	estará	diante	de	vício	que	gera	mera
nulidade.	Pensamos	nós,	p.	ex.,	que	não	se	pode	dizer	ter	havido	autêntica	jurisdição	quando	o	processo
tiver	sido	dirigido	por	um	juiz	condenado	por	crime	de	corrupção.	Apesar	de,	nesse	caso,	prever	a	norma
a	possibilidade	de	ajuizamento	de	ação	rescisória	(art.	966,	I	do	CPC/2015,	correspondente	ao	art.	485,	I
do	CPC/1973),	para	haver	jurisdição,	não	basta	que	a	sentença	seja	proferida	por	um	agente	constituído
pelo	Estado:	faz-se	necessário	também	o	animus	judicandi.	Algo	similar	se	dá	com	a	citação.	Se	esta	se
considera	realizada	com	a	informação	ao	réu/executado,	não	se	poderá	dizer	que	há	processo	em	relação
a	este,	se	a	citação	não	tiver	observado	seus	requisitos	intrínsecos	de	validade	e,	por	isso,	não	tiver
alcançado	sua	finalidade.	Citação,	assim,	ou	há,	ou	não	há:	“Considerando	que	a	citação	é	ato	de
comunicação,	deve	a	informação	de	que	há	ação	judicial	em	trâmite	chegar	ao	seu	destinatário.	A
expedição	da	carta,	mandado	ou	edital	de	citação,	assim,	é	apenas	parte	da	citação,	que	somente	se
perfaz	quando	o	demandado	recebe	a	informação.	Por	isso	que,	tão	ou	mais	importante	que	a	emissão	da
informação	e	sua	validade,	em	si	mesma	considerada,	é	o	conhecimento	por	parte	daquele	que	ocupa	o
polo	passivo	da	relação	jurídico-processual”	(Teresa	Arruda	Alvim	Wambier,	Nulidades.	.	,	6.	ed.,	cit.,
n.	3.3.2,	p.	354).	O	processo,	assim,	não	é	inválido,	se	inválida	a	citação.	Inválida	a	citação,	e	não	tendo
sido	sua	falta	suprida,	não	há	mera	nulidade,	já	que	o	processo	ainda	não	chegou	a	se	formar	com	o
réu/executado,	mas	apenas	entre	demandante	e	órgão	jurisdicional.	Sob	outra	perspectiva,	é	possível
dizer	que,	não	citado	o	réu,	há,	em	relação	a	ele,	ineficácia	do	processo	(e	dos	atos	processuais
realizados)	e,	se	o	réu	comparece	sem	arguir	a	falta	de	citação	e	passa	a	postular	em	juízo,	a	falta	de
citação	fica	suprida	(cf.
comentário	ao	art.	239	do	CPC/2015).	Sobre	a	distinção	entre	inexistência	e	ineficácia	do	processo,
quando	não	citado	o	réu	ou	executado,	cf.	comentário	ao	art.	312	do	CPC/2015.
XI.	Devido	processo	legal	(	Due	process	of	law	,	processo	“justo”	ou	“equitativo”	).	Garantias
mínimas.	Afirma-se,	tradicionalmente,
que	o	devido	processo	legal,	“no	processo	civil,	subsume-se	na
garantia	da	ação	e	da	defesa,	em	juízo”	(Ada	Pellegrini	Grinover,	As	garantias	constitucionais	do
direito	de	ação,	cit.,	n.	20,	p.	40).	Este	princípio	tem	raízes	no	due	process	of	law	do	direito	norte-
americano,	sendo	estudado	pela	doutrina	mais	recente	sob	o	título	de	“garantias	de	um	processo	justo”
ou	“equitativo”	(cf.	doutrina	citada	em	Parte	geral	e	processo	de	conhecimento,	Processo	civil
moderno,	v.	1,	item	1.7,	que	escrevemos	em	coautoria	com	Teresa	Arruda	Alvim	Wambier).	Entre	as
garantias	fundamentais,	a	CF/1988	estabelece	o	direito	à	inafastabilidade	da	tutela	jurisdicional	(art.	5.º,
XXXV),	à	ampla	defesa	e	ao	contraditório	(art.	5.º,	LV),	à	duração	razoável	do	processo	(art.	5.º,
LXXVIII)	e,	em	outras	disposições,	refere-se	a	mais	princípios,	como	o	da	motivação	das	decisões
judiciais	(art.	93,	IX).	Há	ainda	princípios	que,	embora	não	digam	respeito	exclusivamente	ao	processo,
mostram-se,	nesta	seara,	fecundos	de	consequências,	tal	como	ocorre	com	o	princípio	da	isonomia	(art.
5.º,	caput,	I,	da	CF/1988;	v.
comentário	a	seguir).	Estes	princípios	e	garantias	decorrem	da	cláusula	do	devido	processo	legal,
também	textualmente	referida	no	art.	5.º,	LIV	da	CF/1988.	O	CPC/2015	reproduz	muitas	dessas
disposições,	em	seus	primeiros	artigos	(cf.
comentários	seguintes).	As	garantias	que	decorrem	do	princípio	do	devido	processo	legal	são
consideradas	mínimas,	operando	em	todos	os	momentos	ou	fases	do	procedimento	(cf.	Luigi	Paolo
Comoglio	et	al,	Lezioni.	.	cit.,	p.	59	e	63).	A	respeito,
cf.	o	que	escrevemos	em	Constituição	Federal	comentada,	no	comentário	aos	incisos	do	art.	5.º	da
CF/1988	acima	referidos.
Art.	3º.	Não	se	excluirá	da	apreciação	jurisdicional	ameaça	ou	lesão	a	direito.
§	1º	É	permitida	a	arbitragem,	na	forma	da	lei.
§	2º	O	Estado	promoverá,	sempre	que	possível,	a	solução	consensual	dos	conflitos.
§	3º	A	conciliação,	a	mediação	e	outros	métodos	de	solução	consensual	de	conflitos	deverão	ser
estimulados	por	juízes,	advogados,	defensores	públicos	e	membros	do	Ministério	Público,	inclusive	no
curso	do	processo	judicial.
CPC/1973:	Sem	correspondente.
V.	arts.	5.º,	XXXV,	e	92,	CF/1988;	Lei	9.307/1996	(Arbitragem);	Res.	125/2010	do	CNJ	(Política
Judiciária	Nacional	de	tratamento	adequado	dos	conflitos	de	interesses	no	âmbito	do	Poder	Judiciário).
•	STF,	Súmula	Vinculante	28:	É	inconstitucional	a	exigência	de	depósito	prévio	como	requisito	de
admissibilidade	de	ação	judicial	na	qual	se	pretenda	discutir	a	exigibilidade	de	crédito	tributário.
•	STF,	Súmula	667:	Viola	a	garantia	constitucional	de	acesso	à	jurisdição	a	taxa	judiciária	calculada
sem	limite	sobre	o	valor	da	causa.
•	STJ,	Súmula	485:	A	Lei	de	Arbitragem	aplica-se	aos	contratos	que	contenham	cláusula	arbitral,
ainda	que	celebrados	antes	da	sua	edição.
•	STJ,	REsp	(repetitivo)	962.838/BA:	A	propositura	de	ação	anulatória	de	débito	fiscal	não	está
condicionada	à	realização	do	depósito	prévio	previsto	no	art.	38	da	Lei	de	Execuções	Fiscais,	posto
não	ter	sido	o	referido	dispositivo	legal	recepcionado	pela	Constituição	Federal	de	1988,	em	virtude
de	incompatibilidade	material	com	o	art.	5º,	inc.	XXXV	(STJ,	REsp	962.838/BA,	1.ª	S.,	j.
25.11.2009,	rel.	Min.	Luiz	Fux).
SUMÁRIO:	I.	Acesso	à	ordem	jurídica	justa	e	variados	meios	de	solução	de	conflitos.	Sistema	de
Justiça	multiportas	(	multidoor	courthouse)	–	II.	Inafastabilidade	da	jurisdição	–	III.	Ameaça	ou	lesão	a
direito	e	tutelas	preventiva	e	repressiva.
Variações	–	IV.	Acesso	à	justiça	e	formalismo	processual.	O	formalismo	constitucional	–	V.	Acesso	à
justiça	e	prévio	requerimento	ou	esgotamento	da	via	administrativa	–	VI.	Métodos	de	solução	consensual
de	conflitos.	Conciliação	e	mediação.	Crítica	–	VII.	Arbitragem	–	VIII.	Convenção	de	arbitragem:
cláusula	compromissória	e	compromisso	arbitral	–	IX.
Cláusula	arbitral	cheia	ou	vazia.
I.	Acesso	à	ordem	jurídica	justa	e	variados	meios	de	solução	de	conflitos.	Sistema	de	Justiça
multiportas	(	multi-
door	courthouse	).	De	acordo	com	a	Res.	CNJ	125/2010,	“o	direito	de	acesso	à	Justiça,	previsto	no	art.
5.º,	XXXV,	da	CF/1988
além	da	vertente	formal	perante	os	órgãos	judiciários,	implica	acesso	à	ordem	jurídica	justa”,	e,	“por
isso,	cabe	ao	Judiciário	estabelecer	política	pública	de	tratamento	adequado	dos	problemas	jurídicos	e
dos	conflitos	de	interesses,	que	ocorrem	em	larga	e	crescente	escala	na	sociedade,	de	forma	a	organizar,
em	âmbito	nacional,	não	somente	os	serviços	prestados	nos	processos	judiciais,	como	também	os	que
possam	sê-lo	mediante	outros	mecanismos	de	solução	de	conflitos,	em	especial	dos	consensuais,	como	a
mediação	e	a	conciliação”.	Há	franca	tendência	a	que	se	incremente,	gradativamente,	entre	nós,	o	sistema
de	Justiça	conhecido	como	“multiportas”,	decorrente	das	ideias	de	Frank	Sander	(cf.	Varieties	of	dispute
processing,	cit.,	p.	65-87).	A	partir	das	ideias	do	referido	autor,	a	expressão	“multidoor	courthouse”	foi
concebida	posteriormente.	Frank	Sander	considera	melhor,	contudo,	falar	em	“centro	de	justiça
abrangente”	(“comprehensive	justice	center”).	Defendeu	o	autor	que	se	estabelecesse	“a	flexible	and
diverse	panoply	of	dispute	resolution	processes,	with	particular	types	of	cases	being	assigned	to	differing
processes	(or	combination	of	processes)”	(op.	cit.,	p.	83).	Faz-se	necessário,	antes,	classificar	os
variados	litígios	a	fim	de	identificar	qual	o	meio	(ou	os	meios)	mais	adequado(s)	para	solucioná-los.
Como	afirmou	Frank	Sander,	“the	idea	is	to	look	at	different	forms	of	dispute	resolution-mediation,
arbitration,	negotiation,	and	med-arb	(a	blend	of	mediation	and	arbitration).	I	tried	to	look	at	each	of	the
different	processes	and	see	whether	we	could	work	out	some	kind	of	taxonomy	of	which	disputes	ought	to
go	where,	and	which	doors	are	appropriate	for	which	disputes”.	Adverte	Frank	Sander,	contudo,	que	“the
thing	about	the	multidoor	courthouse	is	that	it	is	a	simple	idea,	but	not	simple	to	execute	because	to	decide
which	cases	ought	to	go	to	what	door	is	not	a	simple	task”	(cf.	Mariana	Hernandez-Crespo,	A	dialogue.	.,
cit.,	p.	670).	Não	basta,	pois,	conceber	meios	alternativos	à	jurisdição	ordinária	para	a	solução	de
conflitos	ou,	pior	ainda,	simplesmente	impô-los	aos	litigantes.	Faz-se	necessário	compreender	a	natureza
do	conflito	para	verificar	qual	o	meio	mais	adequado	para	solucioná-lo.
II.	Inafastabilidade	da	jurisdição.	Tendo	em	vista	que,	de	acordo	com	Constituição,	a	lei	não	excluirá	da
apreciação	do	Poder	Judiciário	lesão	ou	ameaça	a	direito	(art.	5.º,	XXXV,	da	CF/1988),	a	jurisdição
deve	realizar	o	Direito,	restaurando	a	ordem	jurídica	violada	ou	evitando	que	tal	violação	ocorra,
através	de	procedimento	ordenado	para	este	fim.	Este	princípio	constitucional	revela	que	não	se	concebe
que	a	atividade	jurisdicional	seja	entendida	como	“agir	orientado	pelo	passado”,	mas,	“orientada	por
normas	fundamentais”,	deve	a	jurisdição	voltar-se	a	“problemas	do	presente	e	do	futuro”	(Jürgen
Habermas,	Direito	e	democracia:	entre	faticidade	e	validade,	vol.	1,	p.	305-306).	Sobre	a	natureza	da
função	jurisdicional,	cf.
comentário	ao	art.	16	do	CPC/2015;	sobre	as	espécies	de	ação,	cf.	comentário	ao	art.	19	do	CPC/2015;
sobre	tutelas	preventiva	e	repressiva,	cf.	comentário	a	seguir.
III.	Ameaça	ou	lesão	a	direito	e	tutelas	preventiva	e	repressiva.	Variações.	A	atividade	jurisdicional
realiza	o	direito	não	apenas	restaurando	a	ordem	jurídica	violada,	mas,	também,	evitando	que	tal
violação	ocorra	(CF/1988,	art.	5.º,	XXXV).
Sob	este	prisma,	afirma-se	que	a	tutela	jurisdicional	pode	ser	repressiva	ou	preventiva.	A	tutela
repressiva	é,	evidentemente,	sancionatória,	mas	optamos	por	não	usar	tais	expressões	como	sinônimas,
pois	adotamos	conceito	mais	amplo	de	sanção,	que	abrange	mecanismos	voltados	à	prevenção	(cf.
comentário	ao	art.	771	do	CPC/2015;	sobre	os	usos	desses	termos,	cf.	José	Carlos	Barbosa	Moreira,
Tutela	sancionatória	e	tutela	preventiva,	Revista	da	Faculdade	de	Direito	da	UFPR,	v.	19,	1979,	p.	117
ss.;	Ada	Pellegrini	Grinover,	A	tutela	preventiva	das	liberdades.	.,	RePro	v.	22,	1981,	p.	26	ss.).
Costuma-se	aludir,	dentre	as	variações	dessas	formas	de	tutela,	à	modalidades	inibitória,	ressarcitória,
pelo	equivalente,	em	forma	específica	(tutela	reintegratória	e	de	reparação	em	forma	específica).	A
respeito,	cf.	comentário	ao	art.	497	do	CPC/2015.
IV.	Acesso	à	justiça	e	formalismo	processual.	O	formalismo	constitucional.	Devem	ser	rejeitadas	tanto
a	figura	do	formalismo	excessivo	quanto	a	do	formalismo	arbitrário.	Decidiu	o	STF,	com	acerto,	que	o
formalismo	processual	exacerbado	impede	a	realização	do	princípio	consagrado	no	art.	5.º,	XXXV	da
CF/1988:	“A	doutrina	moderna	ressalta	o	advento	da	fase	instrumentalista	do	Direito	Processual,	ante	a
necessidade	de	interpretar	os	seus	institutos	sempre	do	modo	mais	favorável	ao	acesso	à	justiça	(art.	5.º,
XXXV,	CF/1988)	e	à	efetividade	dos	direitos	materiais	(Carlos	Alberto	Alvaro	de	Oliveira,	O
formalismo-valorativo	no	confronto	com	o	formalismo	excessivo.	Revista	de	Processo,	São	Paulo:	RT,	n.
137,	p.	7-31,	2006;	Cândido	Rangel	Dinamarco.	A	instrumentalidade	do	processo.	14.	ed.	São	Paulo:
Malheiros,	2009;	José	Roberto	dos	Santos	Bedaque.	Efetividade	do	Processo	e	Técnica	Processual.	3.
ed.	São	Paulo:	Malheiros,	2010).	‘A	forma,	se	imposta	rigidamente,	sem	dúvidas	conduz	ao	perigo	do
arbítrio	das	leis,	nos	moldes	do	velho	brocardo	dura	lex,	sed	lex’	(Bruno	Vinícius	Da	Rós	Bodart.
Simplificação	e	adaptabilidade	no	anteprojeto	do	novo	CPC	brasileiro.	In:	O	Novo	Processo	Civil
Brasileiro	–	Direito	em	Expectativa.	Org.	Luiz	Fux.	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2011.	p.	76).	As	preclusões
se	destinam	a	permitir	o	regular	e	célere	desenvolvimento	do	feito,	por	isso	que	não	é	possível	penalizar
a	parte	que	age	de	boa-fé	e	contribui	para	o	progresso	da	marcha	processual	com	o	não	conhecimento	do
recurso,	arriscando	conferir	o	direito	à	parte	que	não	faz	jus	em	razão	de	um	purismo	formal
injustificado.	O	formalismo	desmesurado	ignora	a	boa-fé	processual	que	se	exige	de	todos	os	sujeitos	do
processo,	inclusive,	e	com	maior	razão,	do	Estado-Juiz,	bem	como	se	afasta	da	visão
neoconstitucionalista	do	direito,	cuja	teoria	proscreve	o	legicentrismo	e	o	formalismo	interpretativo	na
análise	do	sistema	jurídico,	desenvolvendo	mecanismos	para	a	efetividade	dos	princípios	constitucionais
que	abarcam	os	valores	mais	caros	à	nossa	sociedade	(Paolo	Comanducci.	Formas	de
(neo)constitucionalismo:	un	análisis	metateórico.	Trad.	Miguel	Carbonell.	In:	‘Isonomía.	Revista	de
Teoría	y	Filosofía	del	Derecho’,	n.	16,	2002).	O	Supremo	Tribunal	Federal,	recentemente,	sob	o	influxo
do	instrumentalismo,	modificou	a	sua	jurisprudência	para	permitir	a	comprovação	posterior	de
tempestividade	do	Recurso	Extraordinário,	quando	reconhecida	a	sua	extemporaneidade	em	virtude	de
feriados	locais	ou	de	suspensão	de	expediente	forense	no	Tribunal	a	quo	(STF,	RE	626.358-AgR/MG,
Pleno,	j.	22.03.2012,	rel.	Min.	Cezar	Peluso).	(.	.).	O	recurso	merece	conhecimento,	na	medida	em	que	a
parte,	diligente,	opôs	os	embargos	de	declaração	mesmo	antes	da	publicação	do	acórdão,	contribuindo
para	a	celeridade	processual”	(STF,	HC	101.132	ED,	1.ª	T.,	j.	24.04.2012,	rel.	Min.	Luiz	Fux).	Sobre
nossa	concepção	de	formalismo	constitucional,	cf.	comentário	ao	art.	188	do	CPC/2015.
V.	Acesso	à	justiça	e	prévio	requerimento	ou	esgotamento	da	via	administrativa.	“O	direito
constitucional	de	petição	e	o	princípio	da	legalidade	não	implicam	a	necessidade	de	esgotamento	da	via
administrativa	para	discussão	judicial	da	validade	de	crédito	inscrito	em	dívida	ativa	da	Fazenda
Pública”	(STF,	RE	233.582,	Plenário,	rel.	p/	o	acórdão	Min.	Joaquim	Barbosa,	j.	16.08.2007).	Decidiu	o
STJ	que,	“em	regra,	não	se	materializa	a	resistência	do	INSS	à	pretensão	de	concessão	de	benefício
previdenciário	não	requerido	previamente	na	esfera	administrativa”,	mas	“o	interesse	processual	do
segurado	e	a	utilidade	da	prestação	jurisdicional	concretizam-se	nas	hipóteses	de	a)	recusa	de
recebimento	do	requerimento	ou	b)	negativa	de	concessão	do	benefício	previdenciário,	seja	pelo
concreto	indeferimento	do	pedido,	seja	pela	notória	resistência	da	autarquia	à	tese	jurídica	esposada”
(STJ,	REsp	1.310.042/PR,	2.ª	T.,	j.	15.05.2012,	rel.	Min.	Herman	Benjamin).	Note-se,	contudo,	que	“a
propositura,	pelo	contribuinte,	de	mandado	de	segurança,	ação	de	repetição	do	indébito,	ação	anulatória
ou	declaratória	da	nulidade	do	crédito	da	Fazenda	Nacional	importa	em	renúncia	ao	direito	de	recorrer
na	esfera	administrativa	e	desistência	do	recurso	interposto	(art.	1.º,	§	2.º,	do	Dec.-lei	1.737/1959	e
parágrafo	único	do	art.	38	da	Lei	6.830/1980)”	(STJ,	REsp	1294946/MG,	2.ª	T.,	j.	28.08.2012,	rel.	Min.
Mauro	Campbell	Marques).
VI.	Métodos	de	solução	consensual	de	conflitos.	Conciliação	e	mediação.	Crítica.	Tem	o	juiz,	à	luz	do
CPC/2015,	também	a	incumbência	de	promover	a	autocomposição	e,	nesse	caso,	“preferencialmente	com
auxílio	de	conciliadores	e	mediadores	judiciais”	(cf.	art.	139,	V	do	CPC/2015).	Estabelece	o	art.	3.º,	§
3.º	do	CPC/2015,	também,	que	“a	conciliação,	a	mediação	e	outros	métodos	de	solução	consensual	de
conflitos	deverão	ser	estimulados	por	magistrados,	advogados,	defensores	públicos	e	membros	do
Ministério	Público,	inclusive	no	curso	do	processo	judicial”.	O	uso	de	técnicas	que	favoreçam	a
autocomposição,	assim,	pode	ser	feito	incidentalmente,	no	curso	do	processo,	devendo	ser	estimulados.
O
CPC/2015	optou,	de	todo	modo,	pelo	uso	facultativo	de	tais	mecanismos,	e	não	obrigatório	(seja
incidentalmente,	seja	previamente,	como	requisito	para	o	ajuizamento	da	ação;	cf.	também	comentário
aos	arts.	166	e	176	do	CPC/2015).	Podem	as	partes	chegar	por	si	mesmas	a	uma	composição,	ou	serem
conduzidas	a	isso	por	mediadores	ou	conciliadores.	Na	mediação	há	um	plus	em	relação	à	conciliação,
já	que	na	mediação	o	terceiro	(mediador)	tenta	criar	condições	favoráveis	a	que	as	partes	possam	chegar,
por	si	mesmas,	à	composição	(sobre	a	diferença	entre	mediação	e	conciliação,	cf.	comentário	ao	art.
166	do	CPC/2015).	A	composição	pode	ser	obtida	quando	já	instaurado	o	processo,	e,	homologada	pelo
juiz,	valerá	como	título	executivo	judicial	(CPC/2015,	art.	515,	II);	podem	as	partes,	também,	realizar	a
autocomposição	extraprocessualmente,	levando	tal	acordo	à	homologação	judicial,	obtendo,	também
neste	caso,	um	título	executivo	judicial	(cf.	art.	515,	III	do
CPC/2015,	correspondente	ao	art.	475-N,	V	do	CPC/1973).	As	partes	podem,	ainda,	buscar	a	solução	do
conflito	através	do	processo	arbitral	(cf.	comentário	a	seguir).	Refere-se	o	CPC/2015	a	outros	métodos
de	solução	consensual	de	conflitos	(a	avaliação	neutra	por	terceiro,	p.ex.,	foi	alternativa	aventada	durante
a	tramitação	do	projeto	de	CPC/2015	no	Congresso	Nacional,	mas	acabou	não	sendo	aprovada;	no	caso,
ocorre	algo	parecido	com	o	que	sucede	na	mediação	avaliativa,	com	a	diferença	de	que,	naquele	caso,	o
terceiro	não	se	limitar	a	apresentar	consequências	possíveis,	mas	opina	sobre	o	caso,	indicando	qual,	a
seu	ver,	seria	a	melhor	alternativa;	sobre	o	tema,	cf.,	dentre	outros,	Lilia	Maia	de	Morais	Sales,
Mediação	facilitativa	e	“mediação”	avaliativa.	.,	Novos	estudos	jurídicos,	v.	16,	p.	20	ss.).
Manifestamo-nos	favoravelmente	ao	estímulo	ao	uso	de	meios	consensuais	de	solução	de	conflitos,	desde
que	não	sejam	utilizados	critérios	discriminatórios	de	“seleção”
dos	casos	dirigidos	a	tais	alternativas	(por	exemplo,	causas	em	que	litiguem	classes	sociais	menos
favorecidas),	tendentes	a	reservar	o	processo	judicial	tradicional	a	causas	supostamente	mais
importantes,	de	interesse	de	determinados	grupos.	Há	que	se	considerar,	além	disso,	que	a	solução
consensual	pode	por	fim,	ao	menos	formalmente,	à	lide,	mas	acaba	impedindo	o	Judiciário	de	se
manifestar	a	respeito	do	problema	jurídico,	fazendo	perpetuar,	assim,	o
estado	de	incerteza	do	direito	(o
que	poderá	levar	ao	surgimento	de	novas	lides,	em	torno	do	mesmo	tema).	Há	que	se	ter	em	conta,	por
fim,	sob	o	ponto	de	vista	da	administração	estatal	da	justiça,	que	o	investimento	na	criação	e	manutenção
de	centros	de	conciliação	e	mediação	também	gerará	despesas	públicas,	ainda	que	em	menor	grau	que	as
decorrentes	da	justiça	ordinária.	O	estímulo	ao	uso	de	métodos	de	solução	consensual	de	controvérsias	e
de	processo	arbitral	não	deve	levar	à	sobreposição	de	tais	caminhos	à	atuação	jurisdicional	realizada
através	do	processo,	devendo-se	evitar	o	risco	de	ocorrer	o	alheamento	do	Estado-Juiz	quanto	aos
problemas	sociais	(com	amplo	levantamento	das	críticas	que	tem	sido	feitas	a	respeito,	na	doutrina	norte-
americana,	cf.
Eugênio	Facchini	Neto,	ADR	(	alternative	dispute	resolution).	.	cit.,	p.	118	ss.).	Sobre	a	conciliação	e	a
mediação,	cf.	comentário	aos	arts.	166	ss.	do	CPC/2015.
VII.	Arbitragem.	No	processo	arbitral	a	resolução	do	conflito	não	se	dá	por	proposição	dos	próprios
litigantes,	já	que,	por	este	método,	obtém-se	a	sentença	arbitral	(que,	consoante	dispõe	o	art.	515,	VII	do
CPC/2015,	correspondente	ao	art.	475-N,	IV
do	CPC/1973,	é	título	executivo	judicial),	proferida	por	um	terceiro	(órgão	ou	juízo	arbitral)	escolhido
pelas	partes.	Sobre	a	natureza	jurisdicional	da	arbitragem,	cf.	comentário	ao	art.	16	do	CPC/2015.
VIII.	Convenção	de	arbitragem:	cláusula	compromissória	e	compromisso	arbitral.	A	convenção	de
arbitragem	é	o	acordo	de	vontades	das	partes	em	submeter	um	determinado	conflito	potencial	ou	real	ao
juízo	arbitral,	podendo	dar-se	por	cláusula	compromissória	(arts.	4.º	a	8.º	da	Lei	9.307/1996)	ou
compromisso	arbitral	(arts.	9.º	a	12	da	mesma	Lei).	Na	última	hipótese,	convenciona-se	a	arbitragem
após	o	surgimento	da	controvérsia.	A	cláusula	arbitral,	por	sua	vez,	diz	respeito	a
“litígios	que	possam	vir	a	surgir”	(art.	4.º,	caput,	da	referida	Lei).	A	respeito,	cf.	o	que	escrevemos	em
Processo	civil	moderno,	v.	IV,	Procedimentos	cautelares	e	especiais,	5.	ed.,	item	22,	p.	360	ss.,	item
escrito	em	coautoria	com	Fábio	Caldas	de	Araújo.
Tem-se	decidido	que	a	previsão	contratual	de	cláusula	de	arbitragem,	quando	anteriormente	ajustada
pelas	partes,	gera	a	obrigatoriedade	de	solução	de	conflitos	por	essa	via	(STJ,	REsp	791.260/RS,	3.ª	T.,
j.	22.06.2010,	rel.	Min.	Paulo	Furtado).	É
importante	notar	que,	“com	a	promulgação	da	Lei	de	Arbitragem,	passaram	a	conviver,	em	harmonia,	três
regramentos	de	diferentes	graus	de	especificidade:	(i)	a	regra	geral,	que	obriga	a	observância	da
arbitragem	quando	pactuada	pelas	partes,	com	derrogação	da	jurisdição	estatal;	(ii)	a	regra	específica,
contida	no	art.	4.º,	§	2.º,	da	Lei	9.307/1996	e	aplicável	a	contratos	de	adesão	genéricos,	que	restringe	a
eficácia	da	cláusula	compromissória;	e	(iii)	a	regra	ainda	mais	específica,	contida	no	art.
51,	VII,	do	CDC,	incidente	sobre	contratos	derivados	de	relação	de	consumo,	sejam	eles	de	adesão	ou
não,	impondo	a	nulidade	de	cláusula	que	determine	a	utilização	compulsória	da	arbitragem,	ainda	que
satisfeitos	os	requisitos	do	art.	4.º,	§
2.º,	da	Lei	9.307/1996.	O	art.	51,	VII,	do	CDC	se	limita	a	vedar	a	adoção	prévia	e	compulsória	da
arbitragem,	no	momento	da	celebração	do	contrato,	mas	não	impede	que,	posteriormente,	diante	de
eventual	litígio,	havendo	consenso	entre	as	partes	(em	especial	a	aquiescência	do	consumidor),	seja
instaurado	o	procedimento	arbitral”	(STJ,	REsp	1.169.841/RJ,	3.ª	T.,	j.
06.11.2012,	rel.	Min.	Nancy	Andrighi).	Já	se	decidiu	que	é	válido	o	procedimento	arbitral	aceito	sem
oposição	pelas	partes,	ainda	que	inexista	prévia	cláusula	compromissória	(STJ,	Sentença	Estrangeira
Contestada	856/EX,	Corte	Especial,	j.
18.05.2005,	rel.	Min.	Menezes	Direito;	no	mesmo	sentido,	TJPR,	EIC	428067-1/10,	17.ª	Câm.,	j.
07.12.2011,	rel.	Des.	Stewalt	Camargo	Filho).	De	acordo	com	a	Súmula	485	do	STJ,	“a	Lei	de
Arbitragem	aplica-se	aos	contratos	que	contenham	cláusula	arbitral,	ainda	que	celebrados	antes	da	sua
edição”.
IX.	Cláusula	arbitral	cheia	ou	vazia.	A	lei	não	estabeleceu	um	procedimento	próprio	para	a	arbitragem.
As	partes	são	livres	para	estabelecer	o	procedimento,	desde	que	obedeçam	aos	princípios	do
contraditório	e	da	igualdade,	imparcialidade	e	convencimento	motivado	do	árbitro	(art.	21,	§	2.º,	da	Lei
9.307/1996).	A	respeito,	cf.	o	que	escrevemos	em	Processo	civil	moderno,	v.	IV,	Procedimentos
cautelares	e	especiais,	5.	ed.,	item	22,	p.	360	ss.,	item	escrito	em	coautoria	com	Fábio	Caldas	de	Araújo.
A	cláusula	arbitral	pode	ser	cheia	ou	vazia,	caso	preveja	ou	não	todos	os	elementos	necessários	à
instituição	da	arbitragem,	considerando-se	cheia	a	cláusula	compromissória	também	quando	“as	partes,
valendo-se	da	faculdade	instituída	no	art.	5.º,	da	Lei	9.307/1996,	reportam-se	às	regras	de	um	órgão
arbitral”	(TJSP,	Ap.c/Rev	1117830-0/7,	25.ª	Câm.,	j.	26.02.2008,	rel.	Des.	Antonio	Benedito	Ribeiro
Pinto).	Decidiu-se	que,	“uma	vez	acionado	para	proceder	à	execução	específica	da	cláusula
compromissória,	deve	o	Juízo	prolatar	sentença	contendo	os	elementos	necessários	à	instalação	da
arbitragem”	(STJ,	REsp	1082498/MT,	4.ª	T.,	j.	20.11.2012,	rel.	Min.	Luis	Felipe	Salomão).	Decidiu-se
que	a	validade	de	cláusula	arbitral	cheia	somente	pode	ser	examinada	pelo	Poder	Judiciário	após	a
prolação	de	sentença	arbitral:	“A	cláusula	compromissória	‘cheia’,	ou	seja,	aquela	que	contém,	como
elemento	mínimo	a	eleição	do	órgão	convencional	de	solução	de	conflitos,	tem	o	condão	de	afastar	a
competência	estatal	para	apreciar	a	questão	relativa	à	validade	da	cláusula	arbitral	na	fase	inicial	do
procedimento	(parágrafo	único	do	art.	8.º,	c/c	o	art.	20	da	LArb).	De	fato,	é	certa	a	coexistência	das
competências	dos	juízos	arbitral	e	togado
relativamente	às	questões	inerentes	à	existência,	validade,	extensão	e	eficácia	da	convenção	de
arbitragem.	Em	verdade	–
excluindo-se	a	hipótese	de	cláusula	compromissória	patológica	(‘em	branco’)	–,	o	que	se	nota	é	uma
alternância	de	competência	entre	os	referidos	órgãos,	porquanto	a	ostentam	em	momentos	procedimentais
distintos,	ou	seja,	a	possibilidade	de	atuação	do	Poder	Judiciário	é	possível	tão	somente	após	a	prolação
da	sentença	arbitral,	nos	termos	dos	arts.
32,	I	e	33	da	Lei	de	Arbitragem”	(STJ,	REsp	1.278.852/MG,	4.ª	T.,	j.	21.05.2013,	rel.	Min.	Luis	Felipe
Salomão).
Art.	4º.	As	partes	têm	o	direito	de	obter	em	prazo	razoável	a	solução	integral	do	mérito,	incluída	a
atividade	satisfativa.
CPC/1973:	Sem	correspondente.
V.	arts.	5.º,	XXXV	e	92	da	CF/1988;	Lei	9.307/1996	(Arbitragem);	Res.	CNJ	125/2010	(Política
Judiciária	Nacional	de	tratamento	adequado	dos	conflitos	de	interesses	no	âmbito	do	Poder	Judiciário).
Direito	à	solução	do	mérito	em	prazo	razoável.	O	art.	4.º	do	CPC/2015	reproduz,	no	Código,	o	que
prevê	a	Constituição	no	art.	5.º,	LXXVIII,	que	assegura	o	direito	à	razoável	duração	do	processo,	bem
como	aos	meios	que	garantam	que	sua	tramitação	se	dê	celeremente.	É	também	assegurada,	sob	esse
prisma,	a	prestação	jurisdicional	sem	dilações	indevidas	(expressão	empregada	na	Constituição
espanhola,	art.	24,	2:	todos	têm	direito	“a	un	proceso	público	sin	dilaciones	indebidas	y	con	todas	las
garantias”).	Segundo	nosso	entendimento,	a	garantia	de	razoável	duração	do	processo	constitui
desdobramento	do	princípio	estabelecido	no	art.	5.º,	XXXV	da	CF/1988,	já	que	a	tutela	a	ser	realizada
pelo	Poder	Judiciário	deve	ser	capaz	de	realizar,	eficientemente,	aquilo	que	o	ordenamento	jurídico
material	reserva	à	parte	(nesse	sentido,	com	análise	do	direito	comparado,	cf.	José	Rogério	Cruz	e	Tucci,
Garantia	da	prestação	jurisdicional	sem	dilações	indevidas.	.,	RePro	66/72).	É	evidente	que	só	poderá
ser	considerada	eficiente	a	tutela	jurisdicional	prestada	tempestivamente,	e	não	tardiamente.	Em
consonância	com	o	texto	constitucional	–	e,	de	sua	vez,	com	o	art.	4.º	do	CPC/2015	–	o	art.	1.048,	I,	do
CPC/2015,	correspondente	ao	art.
1.211-A	do	CPC/1973	(inserido	no	Código	de	1973	pela	Lei
12.008/2009),	prevê	a	prioridade	de	tramitação	de	processos	em	que	figure	como	parte	ou	interessado
pessoa	com	idade	igual	ou	superior	a	60	(sessenta)	anos	ou	portadora	de	doença	grave	(a	respeito,	cf.
STJ,	REsp	1.052.244/MG,	3.ª	T.,	j.	26.08.2008,	rel.	Min.	Nancy	Andrighi).	A	redação	do	1.211-A	do
CPC/1973	anterior	à	Lei	12.008/2009	não	se	referia	a	pessoas	portadoras	de	doença	grave,	mas	a
jurisprudência	já	vinha	estendendo-lhes	o	benefício,	com	fundamento	no	princípio	do	respeito	à
dignidade	da	pessoa	humana	(STJ,	REsp	1026899/DF,	3.ª	T.,	j.	17.04.2008,	rel.	Min.	Nancy	Andrighi),
orientação	que	nos	parece	acertada.	A	Lei	12.955/2014	acrescentou	o	§	9.º	ao	art.	47	da	Lei	8.069/1990
(ECA),	para	estabelecer	prioridade	de	tramitação	aos	processos	de	adoção	em	que	o	adotando	for
criança	ou	adolescente	com	deficiência	ou	com	doença	crônica,	e	no	mesmo	sentido	é	a	redação	do	art.
1.048,	I	do	CPC/2015.	Cf.	também	o	que	escrevemos	em	Constituição	Federal	comentada,	cit.,
comentário	ao	art.	5.º,	LXXVIII.
Art.	5º.	Aquele	que	de	qualquer	forma	participa	do	processo	deve	comportar-se	de	acordo	com	a	boa-fé.
CPC/1973:	Sem	correspondente.
•	FPPC,	Enunciado	6:	O	negócio	jurídico	processual	não	pode	afastar	os	deveres	inerentes	à	boa-fé	e
à	cooperação.
SUMÁRIO:	I.	Ordem	processual	democrática	e	direito	das	partes	à	participação	procedimental	–	II.
Proteção	da	legítima	confiança	–	III.	Boa-fé	objetiva.	Lealdade	processual	–	IV.	Vedação	ao	exercício
abusivo	de	direito	–	V.	Proibição	de	venire	contra	factum	proprium	–	VI.	Má-fé	e	má	técnica.
I.	Ordem	processual	democrática	e	direito	das	partes	à	participação	procedimental.	Temos	defendido
que	do	processo	devem	participar,	ativa	e	racionalmente,	as	partes	e	o	órgão	jurisdicional.	Deve	o
processo	oferecer	instrumentos	de	proteção	e	realização	dos	direitos	dos	indivíduos,	e	ser,	também,
espaço	em	que	se	permita	exercitar	democraticamente	tais	direitos.	Trata-se	de	concepção	que	se
impõe	como	a	única	correta,	em	um	Estado	Democrático	de	Direito	(CF,	art.	1.º).	Pode-se	dizer,	seguindo
a	teoria	das	relações	de	status,	que	o	direito	de	exigir	do	Estado	a	prestação	jurisdicional	através	da
demanda	corresponde	ao	denominado	status	positivo	(ou	status	civitatis).	Mas	o	status	positivo	não
esgota	o	papel	das	partes,	no	processo.	No	status	passivo	(ou	status	subiectionis)	leva-se	em	conta	a
sujeição	do	indivíduo	ao	Estado;	no	negativo	(	status	libertatis),	a	liberdade	frente	ao	Estado.	Assim,	o
status	libertatis	tem	a	ver	com	a	faculdade	de	agir	em	juízo,	que	condiciona	o	início	da	atividade
jurisdicional;	sob	outra	face,	ao	exercer	a	demanda	a	parte	reclama	do	órgão	a	prestação	jurisdicional
que	lhe	deve	ser	conferida	pelo	Estado	(	status	positivo);	mas	o	pedido	apresentado	pelo	autor	pode	ser
ou	não	julgado	procedente,	e	a	este	resultado	se	submeterão	as	partes,	o	que	é	manifestação	do	status
subiectionis	(cf.	também	comentário	ao	art.	3.º	do	CPC/2015;	sobre	a	teoria	das	relações	de	status,	cf.
Georg	Jellinek,	System	der	subjektiven	Öffentliche	Rechte,	Ed.
Elibron,	2006	[reimpressão	da	ed.	de	1892],	p.	87;	Robert	Alexy,	Teoria	dos	direitos	fundamentais,	p.
254	e	ss.).	Além	destas	formas	de	status,	reconhece-se	que	as	partes	têm	status	activus	processualis,	isto
é,	o	direito	de	participar	“no	procedimento	da	decisão	da	competência	dos	poderes	públicos”	(José
Joaquim	Gomes	Canotilho,	Estudos	sobre	direitos	fundamentais,	p.	73).
Tal	participação	não	se	limita	ao	direito	de	se	manifestar	e	de	ser	ouvido,	mas,	mais	que	isso,	consiste
em	poder	influir	decisivamente	nos	destinos	do	processo	(a	respeito	do	status	activus	processualis,	cf.
Peter	Häberle,	Grundrechte	im	Leistungsstaat,	in	Veröffentlichungen	der	Vereinigung	Deutscher
Staatsrechtslehrer,	vol.	30,	Berlim,	Ed.	Walter	de	Gruyter,	1972,	p.	43-131,	especialmente	p.	86	e	ss.;
Willis	Santiago	Guerra	Filho,	A	dimensão	processual	dos	direitos	fundamentais,	RePro,	v.	87,	p.	166	e
ss.,	e	doutrina	citada	acima).	Como	já	se	decidiu	na	jurisprudência,	“o	direito	de	acesso	à	justiça
compreende,	entre	outros,	o	direito	daquele	que	está	em	juízo	poder	influir	no	convencimento	do
magistrado,	participando
adequadamente	do	processo”	(STJ,	REsp	1027797/MG,	3.ª	T.,	j.	17.02.2011),	rel.	Min.	Nancy	Andrighi.
O	status	activus	processualis	tem	importante	papel,	no	Estado	Democrático	de	Direito,	já	que	através
deste	se	assegura	a	plenitude	das	outras	formas	de	status.
II.	Proteção	da	legítima	confiança.	Fundamentalmente,	a	proteção	à	confiança,	como	um	dos	elementos
constitutivos	do	Estado	de	direito,	“se	reconduz	à	exigência	de	certeza	e	calculabilidade,	por	parte	dos
cidadãos”	(José	Joaquim	Gomes	Canotilho,	Manual	de	direito	constitucional,	6.	ed.,	p.	264).	Sendo	o
processo	um	sistema	interacional	(cf.	comentário	ao	art.
2.º),	a	conduta	dos	órgãos	judiciários	influencia	significativamente	o	comportamento	das	partes:	estas
correspondem	às	determinações	judiciais	na	medida	em	que	os	órgãos	do	Poder	Judiciário	despertam,
objetivamente,	a	confiança	dos	litigantes.	Decidiu-se	que	“os	postulados	da	segurança	jurídica,	da	boa-fé
objetiva	e	da	proteção	da	confiança,	enquanto	expressões	do	Estado	Democrático	de	Direito,	mostram-se
impregnados	de	elevado	conteúdo	ético,	social	e	jurídico”,	e	incidem	estes	princípios	“sobre
comportamentos	de	qualquer	dos	Poderes	ou	órgãos	do	Estado”	(STF,	MS	25.805/DF,	j.
07.02.2006,	rel.	Min.	Celso	de	Mello,	decisão	monocrática).	A	proteção	à	legítima	confiança	é
considerada	desdobramento	do	princípio	da	segurança	jurídica	(ou,	ainda,	dimensão	subjetiva	deste
princípio;	cf.	STJ,	REsp	799.965/RN,	3.ª	T.,	j.	07.10.2008,	rel.	Min.	Sidnei	Beneti,	em	que	se	decidiu
que	“o	direito	processual	deve	trazer	segurança	às	partes”).	Assim,	caso	ausentes	a	segurança,	a
estabilidade	e	a	previsibilidade,	o	Direito	“se	constituiria,	de	certa	forma	mesmo,	até	em	fator	de
insegurança”
(Arruda	Alvim.	Tratado	de	direito	processual	civil,	vol.	1,	p.	19).	A	atividade	jurisdicional	deve
orientar-se	de	acordo	com	o	princípio	da	proteção	da	confiança	do	cidadão.	Ex.:	Decidiu-se	que	a
circunstância	de	regimento	interno	de	tribunal	local	prever	prazo	maior	que	o	estabelecido	na	lei
processual	para	complementação	do	preparo	não	favorece	o	recorrente	(STJ,	EREsp	488.304/MA,	Corte
Especial,	j.	19.11.2008,	m.v.,	rel.	Min.	Luiz	Fux,	RePro	177/256;	no	mesmo	sentido,	STJ,	REsp
883.911/RS,	4.ª	T.,	j.	02.06.2011,	rel.	Min.	Luis	Felipe	Salomão),	orientação	com	a	qual	não
concordamos,	pois,	a	nosso	ver,	viola	o	princípio	da	proteção	da	legítima	confiança,	já	que	o	equívoco
criado	pela	estrutura	jurisdicional	não	pode	causar	prejuízos	à	parte.	Corretamente,	por	outro	lado,	assim
se	decidiu:	“Na	hipótese	em	que,	por	equívoco	do	escrivão,	fica	consignado	de	maneira	expressa	na
correspondência	do	art.	229/CPC	[de	1973],	que	o	prazo	para	a	contestação	será	contado	a	partir	da
juntada	do	respectivo	AR,	a	parte	foi	induzida	a	erro	por	ato	emanado	do	próprio	Poder	Judiciário.	Essa
peculiaridade	justifica	que	se	excepcione	a	regra	geral,	admitindo	a	contestação	e	afastando	a	revelia”
(STJ,	REsp	746.524/SC,	3.ª	T.,	j.	18.10.2011,	v.u.,	rel.	Min.	Nancy	Andrighi,	RT	884/170).	A	construção
de	um	sistema	jurídico-processual	racional	requer	não	apenas	instrumentos	que	possibilitem	a	realização
imediata,	mas,	também,	segura	dos	direitos,	sem	instabilidade	dos	entendimentos	jurisprudenciais:	“A
fase	histórica	do	Poder	Judiciário	nacional,	visando	à	tranquilidade	da	sociedade	brasileira,	exige	o
desenvolvimento	de	uma	doutrina	brasileira	de	stare	decisis	et	non	quieta	movere”,	isto	é,	“ficar	como
foi	decidido	e	não	mover	o	que	está	em	repouso”	(STJ,	REsp	1.088.045/RJ,	3.ª	T.,	j.	22.09.2009,	rel.	p/
Acórdão	Min.	Sidnei	Beneti).
No	CPC/2015,	a	preocupação	com	a	uniformidade	e	estabilidade	da	jurisprudência	é	objeto	de	destaque
(cf.	arts.	489,	§	1.º,	V	e	VI,	926	e	927	do	CPC/2015).
III.	Boa-fé	objetiva.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais