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1 AGACHAMENTO PROFUNDO NO FORTALECIMENTO DAS ESTRUTURAS DO JOELHO EM PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO Gladston Afonso da Silva* Moisés Simão Santa Rosa de Sousa ** RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar o uso do agachamento profundo para o fortalecimento de estruturas articulares e ligamentares que compõe o joelho. Para tanto, realizou-se uma revisão da literatura com uma abordagem qualitativa e exploratória através de um levantamento e seleção de produções através da busca por palavras chaves: agachamento profundo, fortalecimento de joelho e joelho em acervos referente ao tema nos principias artigos, livros e revistas especializadas. Na análise desse conteúdo constatou-se que entre a produção cientifica existem fortes controvérsias na teoria apresentada pelos autores a cerca da aplicação do agachamento profundo, não havendo subsídios científicos suficientes que contra indique a utilização deste exercício no fortalecimento do joelho. Concluímos entretanto, que para esta finalidade, se for considerada experiência anterior com o treinamento e da saúde musculoesquelética do individuo, a utilização do agachamento profundo pode ser extremamente benéfica para a estrutura do joelho. Palavras-chave: Agachamento profundo; Fortalecimento do joelho; joelho. INTRODUÇÃO A busca por um estilo de vida mais saudável, longe das mazelas oriundas do sedentarismo, nos mostra um novo conceito em nossa sociedade, a prática da atividade física. Devido ao avanço das pesquisas e uma maior informação, os benefícios que a atividade física trás atinge um número elevado de pessoas por todo o mundo, levando-as a procurar instituições onde esta prática seja possível. O treinamento resistido é uma modalidade de atividade física que está se tornando muito praticado e conhecido por pessoas de diferentes faixas etárias devido aos benefícios que esse tipo de exercício físico pode proporcionar (BRANDON et al., 2004; DE VITO et al., 2003). O Colégio Americano de Medicina do Esporte (2000) indica que a manutenção e o aprimoramento da força muscular podem trazer benefícios fisiológicos durante toda a vida do praticante. O treinamento resistido tem sido recomendado visto que pode ser utilizado tanto na reabilitação como na prevenção de lesões, além de auxiliar no tratamento de algumas doenças * Graduando do Curso de Licenciatura em Educação Física - UEPA * * Docente do Curso de Educação Física na UEPA; Mestre em Motricidade Humana 2 como artrite, pressão alta, doenças cardiovasculares, osteoporoses e obesidade (KAMEL, 2004). Fleck e Figueira (2003) salientam a importância da musculação com fins de oferecer benefícios à aptidão física e à saúde. Percebemos assim, que são conhecidos os benefícios decorrentes da pratica do treinamento resistido desde que sua prescrição respeite a individualidade de cada pessoa, ou seja, respeitar o nível de treinamento, estrutura corporal. Segundo Frontera et al ( 1998) o treinamento resistido é uma atividade voltada para o desenvolvimento e melhora das funções musculares, articulares e ligamentares através da aplicação de sobrecargas. Dentro do treinamento resistido e em especial no fortalecimento das estruturas que compõe o joelho em indivíduos saudáveis, não podemos deixar de enfatizar a utilização do “agachamento” devido sua importância e funcionalidade, por este ser um movimento comum nas atividades diárias (sentar/levantar). Mesmo assim, ainda é comum no meio profissional aqueles que sejam contra a aplicação deste exercício. Nesta pesquisa iremos utilizar uma variação do agachamento, na qual chamaremos de “agachamento profundo” devido a grande divergência encontrada sobre a utilização deste tipo de exercício. Não é de hoje que se discute o agachamento profundo, os primeiros estudos apontaram para uma inviabilidade em sua aplicação, pois este supostamente afetaria de forma perigosa as estruturas do joelho devido à sobrecarga utilizada (RASCH, 1989). Durante muito tempo, profissionais das diversas áreas (médicos, fisioterapeutas e educadores físicos) recomendavam a execução deste exercício a uma variação angular que não fosse maior que 90º, por considerarem que o ato de agachar em amplitudes maiores seria extremamente prejudicial às estruturas de joelho, por aumentar consideravelmente a tensão exercida sobre a patela como consequência aumentando o risco de aparecimento de lesões (MAIOR, 2008). Entretanto, há quem defenda fielmente a idéia de que ele possa ser tranquilamente aplicado desde que respeitando a especificidade de cada um e ainda sugerem que este exercício seria mais seguro do que a caminhada, considerando a tensão produzida no joelho (ESCAMILLA, 2001). Foi também verificado em outros estudos que a aplicação agachamentos profundos e paralelos não afetaria a estabilidade do joelho devido a ação dos músculos posteriores da coxa (MEYERS, 1971; CHANDLER, 1989). A atual pesquisa teve como problema central entender “Quais as implicações 3 do uso do agachamento profundo sobre as estruturas componentes do joelho?”. A escolha desse tema se deu a partir da vivência nas salas de musculação e a partir da percepção da grande controvérsia dos profissionais de educação física a cerca da aplicação do agachamento profundo no fortalecimento das estruturas do joelho. Parte dessa discussão resume-se em destacar a importância de um maior entendimento sobre o que tem sido discutido no meio cientifico, seus prós e contras em relação ao fortalecimento do joelho com o uso do “agachamento profundo”, Com isso torna-se necessário que o profissional de educação física tenha acesso a estas informações, para que o mesmo posso afirmar com comprovações cientificas sobre a aplicação ou não deste exercício, e não apenas se basear em velhas afirmações do tipo: “Alguém me disse” ou “Ouviu dizer”. 1. MARCO TEÓRICO 1.1 ESTUDO ANATÔMICO DO JOELHO O joelho é considerado uma importante articulação do ser humano, aparentemente simples mais muito complexa devido às estruturas que a compõe e sua funcionalidade. Sem essa articulação teríamos grandes dificuldades em se locomover, devido ser esta estrutura a grande responsável por realizar a marcha (CARPENTER, 2005). Está articulação considerando sua mecânica é considera fraca, devido à forma como se organizam suas faces articulares, sendo está dependente dos ligamentos que unem o fêmur a tíbia (MOORE; AGUR, 1996). Muitos autores consideram em seus conceitos o joelho como a maior articulação sinovial1 do corpo humano é também considerada uma dobradiça. Conclui-se ainda que para ser sinovial uma articulação deva apresentar sete estruturas básicas: liquido sinovial, cartilagem articular, capsula articular, membrana sinovial fina, ligamentos capsulares, vasos sanguíneos e nervos sensitivos. (NEUMANN, 2006). Basicamente o joelho é dividido em duas articulações: uma entre o fêmur e a 1 Entende-se por sinovial qualquer estrutura que são formados por ligamentos e cápsulas que juntas formam um compartimento fechado, no qual é encontrado o liquido sinovial (TORTORA, 2007; MIRANDA, 2008). 4 patela chamada de Patelofemural e outra entre o fêmur e tíbia chamada de tibiofemural (CARPENTER, 2005). Estas articulações envolvem três ossos: O Fêmur, patela e a tíbia. O fêmur é o maior e mais pesado osso do corpo humano, se insere na articulação do joelho em sua parte distal, onde estão localizados os grandes côndilos lateral e medial de onde se projetam os epicôndilos lateral e medial servindo assim como locais defixação aos ligamentos colaterais, formando um corredor por onde se entrelaçam os ligamentos cruzados. Esses côndilos se fundem e forma a fossa intercondilar essa por sua vez se articula com a face posterior da patela, formando assim a articulação “Patelofemural” (NEUMANN, 2006). A patela tem como função aumentar cerca de 50% da vantagem mecânica dos músculos do quadríceps, no sentido de produzir a extensão do joelho, ela amplia a área de contato entre o tendão patelar e o fêmur, dessa forma passa a reduzir o estresse de contato. (THOMEÉ, 1999). Da mesma forma que o fêmur, a tíbia também é um osso longo, e em sua epífise proximal estão os côndilos. Oliveira et al. (2007, p. 56) assim descreve sobre esta estrutura: Os côndilos repousam no platô tibial, uma superfície medial e lateral separada por uma saliência óssea denominada eminência intercondilar que serve como local de inserção para ligamentos centraliza a articulação e estabiliza os ossos durante a sustentação do peso corporal. Esta estrutura durante os últimos graus de extensão é responsável por produzir o “travamento” do joelho. A articulação tibiofemural é formada entre o côndilo medial e lateral da tíbia e do fêmur (NORKING; LEVANGIE, 2001). Os principais movimentos presentes nesta articulação são os de flexão e extensão, são considerados movimentos livres. A flexão do joelho é interrompida quando a panturrilha faz contato com a coxa e na extensão do joelho é travada devido à rotação medial do fêmur sobre a tíbia (CARPENTER, 2005; MOORE; AGUR, 1996). A cápsula articular é definida como uma bainha fibrosa que contorna a extremidade inferior do fêmur e a extremidade superior da tíbia, fazendo com que as mesmas mantenham contato, formando “paredes” (KAPANDJI, 2000). Está cápsula é reforçada por cinco ligamentos – ligamento patelar, ligamento colateral fibular, ligamento colateral tibial, ligamento poplíteo obliquo e ligamento poplíteo arqueado 5 (MOORE; AGUR, 1996). Os ligamentos2 cruzados são responsáveis pela união da tíbia com o fêmur, é responsabilidade destes ligamentos a maior parte da estabilidade articular do joelho. Eles se estendem da fossa intercondilar do fêmur à tíbia, anterior e posterior à eminência intercondilar, são chamados de cruzados por se entrecruzarem em sentido obliquo, como um “X” (CARPENTER, 2005; MOORE, 1996). Estes ligamentos possuem grande força, localizam-se entre os côndilos medial e lateral, separados da cavidade articular pela membrana sinovial. O ligamento cruzado anterior (LCA) impede que a tíbia deslize anteriormente ao fêmur (gaveta anterior). Quando o joelho está em flexão este ligamento torna-se “frouxo” e “tenso” quando está em completa extensão. É responsável por cerca de 85% da restrição do movimento anteriormente citado. Quando a articulação é flexionada em ângulo reto, a tíbia não pode ser tracionada para frente porque é contida por este ligamento. (MOORE; AGUR, 1996; NEUMANN, 2006). O ligamento cruzado posterior (LCP) impede que a tíbia deslize para trás em relação ao fêmur (gaveta posterior), sendo este responsável por 95% da restrição do movimento, na posição flexionada sustenta o peso corporal, sendo assim considerado principal estabilizador do fêmur. (CARPENTER, 2005). Os meniscos têm papel fundamental na articulação do joelho, estes servem como absorventes de choques e a distribuição do peso exercido sobre a articulação. São classificados basicamente em medial e lateral, estes são tecidos cartilaginosos que dão integridade estrutural ao joelho localizam-se entre as superfícies articulares opostas e estão ligados entre si e a cápsula articular. São formados predominantemente de colágeno tipo I. Os meniscos tem o formato circunfêrencial, padrão este ideal para a absorção de cargas compressivas (KAEMPF, 2008). 1.2 O TREINAMENTO RESISTIDO E SUAS FUNÇÕES NO FORTALECIMENTO DAS ESTRUTURAS MUSCULOESQUELÉTICO Os ossos, as articulações e os músculos que compõe o corpo humano são conhecidos coletivamente como sistema musculoesquelético, é esse sistema o 2 Ligamentos são faixas de tecido que possuem bastante resistência, conectam as extremidades ósseas. Possuem uma grande gama de receptores nervosos sensitivos que perceberem a velocidade, o movimento, a posição da articulação e eventuais estiramentos ou dores (KAEMPF, 2008). 6 responsável por fornecer o suporte a todo o corpo, vale ressaltar que tais estruturas se completam mesmo sendo independentes uma da outra. A utilização do exercício com pesos é considerada essencial para o desenvolvimento e na manutenção de um esqueleto sadio (SANTARÉM, 1998). As cartilagens articulares, discos intervertebrais, ligamentos e tendões são estruturas cujas integridades são importantes para a boa função musculoesquelética, que através do exercício resistido consegue ser estimulada de maneira eficiente e segura (GRAVES, 2001; POLLOCK, 1996). Bompa (2000) indica que antes de se estimular a força em praticantes de musculação deveria ser realizado por parte do profissional o desenvolvimento da flexibilidade articular, a fim de promover o fortalecimento das estruturas que posteriormente serão utilizadas. Colaborando com esta afirmação, Fleck e Kraemer (1999) ressaltam que se deve estimular toda amplitude do movimento a fim de se conseguir um maior ganho de força articular. Os exercícios resistidos, quando desempenhados adequadamente são extremamente seguros, com taxas muito baixas de lesão, se comparados com a maioria dos outros esportes e atividades recreativas (REEVES et al., 1988 apud SIMÃO, 2004, p. 28). Em idosos que praticam exercício com pesos, os benefícios decorrentes já são amplamente discutidos e comprovados pela literatura cientifica tais como a diminuição da sarcopenia (perda da massa muscular), melhora das funções vitais como andar e sentar (GRAVES, 2001; JACOB FILHO, 1998; HURLEY, 2000). Em indivíduos que apresentam algum tipo de cardiopatia em geral, os benefícios do exercício físico se baseiam no aumento da massa muscular. Com esse aumento a musculatura tende a realizar a atividade com menos fibras musculares, diminuindo o reflexo dos ergoceptores que aumentam a pressão arterial e a frequência cardíaca (FEATHERSTONE, 1993). Com o aumento da massa muscular, aumenta-se também a força diminuindo o estresse cardiorespiratorio. Em estudos realizados Graves (2001) e Carpenter (1996), comprovaram que as dores articulares de origem degenerativa ou inflamatória com a prática do exercício resistido eram bastante beneficiadas, explica-se ainda que com o aumento da força muscular as articulações tendem a se estabilizar, devido a maior quantidade do tecido conjuntivo, aumentando consideravelmente a capacidade do músculo em suportar e absorver as forças internas, diminuindo a tensão sobre as articulações. 7 Por essas razões, comprovamos a eficiência do exercício resistido tanto para indivíduos saudáveis, quanto para pessoas debilitadas, visto que pode ser controlado em todas as suas variáveis como pesos, series, repetições (GRAVES, 2001). 1.3 O AGACHAMENTO O agachamento é considerado um dos principais exercícios para a estimulação dos membros inferiores (GUIMARÃES NETO, 1999; RODRIGUES; COSTA, 1999) é comumente encontrado no treinamento de força. Sua importância se dá principalmente por ser um exercício que envolve o estimulo de articulações importantes da movimentação humana, destacando-se o quadril e os joelhos (EBBEN et al., 2000). A posição inicial deste exercício é em pé, com a barra apoiada nas costas (não se deve colocarem cima da vértebra cervical), as mãos devem estar colocadas de maneira confortável. A partir da posição inicial, realizar a flexão e posteriormente a extensão de joelho e quadril (CAMPOS, 2002). Em seu estudo Hirata (2006) fez uma análise da carga mecânica do joelho durante o agachamento e chegou à conclusão que não passar o joelho da linha imaginaria dos pés, diminuiria significativamente as forças de compreensão patelofemural, que segundo Escamilla (2001) é um fator decisivo ao aparecimento de uma lesão de joelho devido à magnitude das forças impostas a esta articulação. Existem algumas variações de acordo com a posição dos pés e angulações, mas neste estudo iremos focar preferencialmente na utilização do agachamento profundo, ou seja, com ângulos maiores que 90º. O agachamento profundo realiza- se quando a parte posterior da coxa toca as panturrilhas. Em vários estudos é proposto que o agachamento seria mais seguro em um ângulo de 90º (FLECK; FIGUEIRA JUNIOR, 2003; MARCHETTI et al., 2007; LIMA; PINTO 2006; UCHIDA et al., 2003). Durante muitos anos se discute a aplicabilidade deste exercício, com afirmação que sua prática poderia pré-dispor o individuo a lesões articulares. Segundo Chandler (1989) qualquer exercício executado sem o devido aprimoramento da técnica é passível de lesão, ainda segundo o autor estudos realizados colaboraram que agachamentos utilizados em até 90º de flexão ou em mais de 90º de flexão não 8 afetaria negativamente a estabilidade do joelho. 2 MATERIAL E METÓDOS A presente pesquisa vincula-se a abordagem qualitativa, de acordo Gil (1999) é considerado de caráter qualitativo, pois este estudo tenta aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que se quer estudar – ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente e contexto social – Analisando-os sem a preocupação com números, estatísticas. Esse tipo de método além de permitir desvendar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação (MINAYO, 2008). Quanto ao tipo de estudo podemos considerar este de caráter exploratório, pois no seu decorrer busca um maior entendimento sobre o problema de pesquisa apresentado (GIL, 1999). Este tipo de estudo tem como objetivo aprimorar ideias constituídas e/ou a descoberta de novas idéias, no caso buscaremos entender de que forma a utilização do agachamento profundo pode influenciar no fortalecimento das estruturas componentes do joelho. O Tipo de pesquisa que orientou este estudo foi a pesquisa bibliográfica, que segundo Lakatos e Marconi (1987) trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto que está sendo pesquisado em livros, enciclopédias, revistas, jornais, folhetos, boletins, monografias, teses, dissertações e material cartográfico, fazendo com que o pesquisador esteja a par do que é mais importante sobre o que se quer pesquisar. Ainda de acordo com Gil (1999) a principal vantagem do levantamento bibliográfico para este estudo reside no fato de permitir ao investigador um maior contato com o que foi publicado, ou seja, possibilita a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Como auxílio na pesquisa foi realizado um levantamento do acervo referente ao tema estudado realizado no mês de fevereiro a setembro de 2011, em artigos livros e revistas especializadas e sua seleção foi feita através da busca por palavras chaves: agachamento profundo, fortalecimento de joelho e joelho além de uma leitura inicial de seus resumos. 9 Foi realizada neste estudo uma análise de conteúdo, este tipo de análise é utilizado no tratamento de dados que visa identificar o que vem sendo dito acerca de determinado tema, Moraes (1999, p. 32) assim o descreve: A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. Minayo (1992, p. 68) nos atenta para uma análise de dados eficiente deve o investigador ultrapassar obstáculos, dos quais vale destacar: Quanto maior for o entendimento do pesquisador sobre o que se deseja pesquisar, maior também pode ser a crença de que os resultados seriam identificados facilmente à primeira vista, podendo levar o pesquisador a descrever conclusões superficiais ou equivocadas. Diante do que foi exposto, a escolha por este tipo de analise de dados solicitou ao investigador um maior critério na leitura dos artigos selecionados, buscando sempre a imparcialidade, para uma conclusão ética e segura. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Percebemos que há hoje uma grande controvérsia na produção cientifica acerca da prescrição do agachamento profundo, principalmente quando se refere à amplitude a que se deve agachar. Constatamos também que a proibição para utilizar maiores gruas de flexão, não é algo recente. Klein (1961 apud RASCH, 1984, p. 16) observou em sua pesquisa que em levantadores olímpicos que costumeiramente utilizavam flexões mais profundas de agachamento, a incidência de frouxidões nos ligamentos foi aparente. O que levou o autor a concluir que quanto maiores os gruas de flexão de joelho, maior seria o efeito lesivo nestas estruturas. Outro grande debate que nos foi apresentado se dá sobre a pressão exercida sobre a patela e o fêmur, a tíbia e o fêmur e subsequente aos ligamentos posterior e anterior durante o agachamento com maiores graus de flexão (ANDERSON, 1998; MAIOR; 2008; ESCAMILLA; 2001). Por outro lado Carpenter (2005) afirma que nenhum estudo razoável e 10 publicado em revista científica confirmou que, executar agachamentos com amplitudes maiores a 90º de joelho, seja de fato prejudicial à articulação envolvida. Ainda segundo o autor a “proibição” da utilização do agachamento profundo se deu exclusivamente por interpretações tendenciosas de seus idealizadores. Concordando com o conceito de que o “agachamento profundo” pode ser usado com segurança, Oliveira e Gentil (2012) indicam que a execução com amplitudes máximas de agachamento são muito importantes para a segurança e eficiência do exercício, ainda segundo os autores quanto maior for à flexão dos joelhos, maior também será o trabalho muscular, consequentemente menor seriam as pressões exercidas nas estruturas articulares e ligamentares. Colaborando com essas afirmações, temos também Sakane et al. (1997) e Li et al. (1999), que concluíram através de seus respectivos estudos que as forças de compressão para o ligamento cruzado anterior (LCA) tem seu pico em 15º e 30º de flexão, sendo que o mesmo diminuía até 60º de flexão, tornando-se estável em flexão maiores. Nissell e Ekholm (1986) por sua vez afirmaram que a tensão produzida neste ligamento não chega nem a ¼ da capacidade do mesmo a resistir a tal (aproximadamente de 2000N), mesmo com cargas elevadas. A tensão no ligamento cruzado posterior tende aumentar conforme se aumenta o grau de flexão (ESCAMILLA et al., 2001). Para indivíduos jovens saudáveis e ativos a tensão máxima seria de 4000N, ou seja, o estimulo produzido pelo agachamento profundo não chegaria a 50% da capacidade deste ligamento em suportar tensão (RACE; AMIS, 1994). Em relação à tensão exercida no tendão patelar, Maior (2008, p.155) assim o descreve: Durantea realização do agachamento profundo, é observada maior inclinação do tronco à frente. Dessa maneira, ocorre o deslocamento da massa corporal horizontalmente para uma posição mais próxima da articulação do joelho, afastando-se, assim, da articulação coxofemoral. Partindo desta posição a um maior recrutamento dos músculos do glúteo e posterior da coxa, em contrapartida aumentando a tensão exercida nesse tendão (MAIOR, 2008; ESCAMILLA et al., 2001). Buscando um maior entendimento sobre a força e o torque exercido no tendão patelar durante o agachamento, Hirata e Duarte (2007) investigaram indivíduos com pelo menos três anos de pratica de agachamentos e sem histórico de lesões, o objetivo do estudo foi verificar a posição 11 do joelho em relação à linha dos pés, com o joelho passando a linha dos pés foi verificado um aumento considerável na articulação patelofemural, sugerindo um possível aparecimento de lesões com a adoção de tal procedimento. Com base nesse conceito, muitos autores acreditam estar ai a não utilização do agachamento profundo, a tensão produzida tanto nos ligamentos quanto nas articulações, em contradição com este achado, Escamilla (2001), conceitua que não existem estudos esclarecedores que comprovem o quanto de tensão estas estruturas podem suportar. Muitos pesquisadores discutem o “agachamento profundo” como fator de influência direta na estabilidade do joelho, supostamente sua utilização afetaria negativamente as estruturas do joelho (RASCH, 1989). Contrapondo tal opinião Chandler (1989) realizou um estudo de oito semanas com cem estudantes universitários de ambos os sexos utilizando meio-agachamento e agachamentos profundos, para medição da estabilidade foi utilizado um artrômetro durante nove testes de estabilidade. Como conclusão do estudo o autor cita que não foram encontrados indícios de instabilidade no joelho em nenhum dos dois grupos que realizaram os agachamentos em comparação aos que não utilizavam nenhum dos tipos de agachamento. Ainda verificaram-se os efeitos do agachamento em longo prazo como parte integrante no treinamento de levantadores olímpicos, para isso foram estudados vinte e sete atletas de levantamento e conclui que a utilização do agachamento profundo não causavam efeitos negativos na estabilidade do joelho. Um estudo mais recente, realizado por Stanica (2006) confirmou as informações obtidas por Chandler em 1989, foram estudados 20 atletas da seleção brasileira e do Rio de janeiro de levantamento de pesos, no qual frequentemente utilizavam o agachamento profundo e concluiu não haver incidência de graves lesões no tendão patelar. CONCLUSÃO Considerando as ideias desenvolvidas ao longo do texto podemos concluir que não há evidencias suficientes para não viabilizar o uso do agachamento profundo no fortalecimento das estruturas componentes de joelho em indivíduos saudáveis e que sua prescrição depende de uma análise cuidadosa sobre a individualidade do praticante. 12 Percebemos que não há subsídios necessários na literatura cientifica nas teorias construídas contra a utilização do agachamento profundo para sua confirmação, existindo autores que demonstram haver um aumento da tensão produzida na articulação patelofemural, tornando-se esta tensão como fator de risco ao aparecimento de lesões; e outros que por sua vez levam em consideração que o corpo é uma estrutura que se adapta as sobrecargas impostas, desde que obedecidas as leis adaptativas, já que a sobrecarga é o aumento da função e é necessária para gerar estímulos adaptativos nas diversas estruturas que compõe o joelho. Em relação aos maiores graus de flexão e o risco da aplicação do agachamento profundo, verificou-se que muitos autores defendem a utilização dos exercícios com a maior amplitude articular possível, neste caso o agachamento profundo seria extremamente útil, pois em sua realização aumenta-se a amplitude do movimento em detrimento ao aumento da sobrecarga, consequentemente solicitando novas adaptações a estrutura do joelho. Conclui-se ainda que o aumento do grau de flexão esteja amplamente dentro dos limites aceitáveis do corpo humano, respeitando-se também na prescrição deste exercício, itens importantes como nível de treinamento, saúde e aptidão física. Seguindo esta lógica, identificamos como essencial a atuação do professor de educação física neste processo, sendo necessário para isso que este profissional use fundamentações científicas consistentes. Em relação a sua funcionalidade, podemos considerar o agachamento profundo fundamental para o fortalecimento das estruturas do joelho, pois este copia quase que fielmente movimentos básicos do dia-a-dia de qualquer individuo (sentar/ levantar/ pegar algo ao chão). Partindo daí a conclusão deste trabalho, na qual viabilizamos o uso do agachamento profundo, desde que seja prescrito e realizado com inteligência, respeitando os limites do corpo. Consideramos o presente estudo como inicial, servindo de base para pesquisas mais complexas, por possuir um caráter bibliográfico não foi possível a comprovação dos resultados in loco, abrindo assim possibilidades para pesquisas experimentais futuras acerca da temática apresentada. Tornam-se necessárias pesquisas que envolvam maiores períodos de treinamento a cerca da execução do agachamento, pois assim o autor acredita que 13 as evidencias que comprovam a utilização do agachamento profundo seriam muito mais eficazes. SQUAT DEEP IN STRENGTHENING OF THE KNEE JOINT IN PRACTITIONERS OF STRENGTH ABSTRACT The aim of this study was to critically analyze the scientific production on the prescription of the squat for strengthening of structures that make up the knee. To this end, we carried out a review of the literature with a qualitative and exploratory approach through a survey and selection of products by searching for keywords: deep squat, knee and knee strengthening of the acquis concerning the issue at major banks and theses dissertations. In this content analysis found that there is strong controversy between the authors' idea about the application of deep squat, without sufficient scientific support to indicate against the use of this exercise to strengthen the knee. It is however that for this purpose, in addition to previous experience and training musculoskeletal health, their use may be beneficial if the observed biological limits. Keywords: Squat deep. Strengthening the knee. Knee. 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