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O PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO CRIMINAL TCC Deivis Korb

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZÔNIA REUNIDA 
 
CURSO BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
DEIVIS KORB 
 
 
 
 
 
 
O PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO 
CRIMINAL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Redenção – PA 
 2017 
 
 
DEIVIS KORB 
 
 
 
 
 
 
 
O PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO 
CRIMINAL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Bacharel 
em Direito da Faculdade de Ensino Superior 
da Amazônia Reunida - FESAR, como pré-
requisito, para obtenção parcial de nota da 
disciplina TCC II, sob a orientação da 
professora Dr.ª Valdirene Cássia da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Redenção - PA 
2017 
 
DEIVIS KORB 
 
 
O PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO 
CRIMINAL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Grau 
de Bacharel em Direito do curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior 
Amazônia Reunida e aprovado em sua forma final em: ___/___/_____. 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Prof. Me. Altino Freire Filho 
Coordenador do Curso 
 
 
 
Apresentado à banca examinadora composta pelos professores: 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Prof. Esp. Jefter Pessoa Marques (Avaliador) 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª. Drª. Valdirene Cássia da Silva (Orientadora) 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço aos meus professores da Graduação, pelo 
importantíssimo papel na minha formação acadêmica. 
Agradeço ao Advogado Marcelo Farias Mendanha e ao 
Procurador da República Igor da Silva Spindola, que 
gentilmente se dispuseram em me conceder as entrevistas, 
que formaram parte importante desse trabalho. E, 
principalmente, agradeço à Professora Drª. Valdirene Cássia 
da Silva, pela sua orientação com tanta atenção, dedicação e 
apoio, que do contrário, este trabalho não teria se finalizado. 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho se desenvolve pautado na importância de o Ministério Público 
poder investigar criminalmente. O objetivo é identificar que consequências 
positivas e que consequências negativas a prerrogativa de o Ministério Público 
investigar criminalmente traz a persecução da Justiça Penal. A pesquisa foi 
realizada com a revisão da literatura específica, com a consulta do entendimento 
do Supremo Tribunal Federal – STF (a mais alta instância do poder judiciário 
brasileiro) a respeito da matéria pesquisada e com a entrevista semi-estruturada 
aplicada a um advogado e a um Procurador da República. Com isso, descobriu-
se que é uma tendência mundial o Ministério Público poder investigar 
criminalmente, que a maioria dos autores que doutrinam sobre o tema são 
favoráveis a prerrogativa de o Ministério Público poder investigar 
criminalmente, que o Supremo Tribunal Federal reconheceu que investigação 
criminal conduzida diretamente pelo Ministério Público é constitucional e que 
na prática existem diversas formas de controle dessa investigação conduzida 
pelo Ministério Público. 
 
Palavras-chave: Investigação criminal. Ministério Público. Parquet, 
Procedimento Investigatório Criminal – PIC. 
 
 
ABSTRACT 
 
This work is based on the importance of Public Ministry can investigate 
criminally. The objective is to identify what positive consequences and what 
negative consequences the prerogative of the Prosecutor's Office to investigate 
criminally brings the prosecution of Criminal Justice. The research was carried 
out with the review of the specific literature, with the consultation of the Federal 
Supreme Court (STF) (the highest instance of the Brazilian judiciary) regarding 
the subject searched and the semi-structured interview applied to a lawyer and a 
Prosecutor of the Republic. With this, it was discovered that it is a worldwide 
tendency for the Public Ministry to investigate criminally, that most of the 
authors who teach on the subject are favorable to the prerogative of the Public 
Ministry to investigate criminally, that the Federal Supreme Court recognized 
that criminal investigation conducted directly by the Public Ministry is 
constitutional and that in practice there are several forms of control of this 
investigation conducted by the Public Prosecution Service. 
 
Keywords: Criminal investigation. Public Ministry. Parquet, Criminal 
Investigation Procedure - PIC 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. Introdução e Justificativa ................................................................ 08 
2. Evolução Histórica do Ministério Público ..................................... 11 
3. Conceituação e Variação da Investigação Criminal ..................... 16 
3.1. Da Dispensabilidade do Inquérito Policial ................................. 19 
3.2. A possibilidade da investigação criminal conduzida pelo 
Ministério Público ........................................................................ 20 
4. A Capacidade Investigatória Criminal do Ministério 
Público no Direito Comparado ....................................................... 26 
4.1. Ministério Público Francês ........................................................ 26 
4.2. Ministério Público Italiano ........................................................ 27 
4.3. Ministério Público Lusitano ....................................................... 28 
5. O Ministério Público Brasileiro e o Poder de Investigar 
no Âmbito Criminal ........................................................................ 30 
5.1. Metodologia ................................................................................ 30 
5.2. Procedimento Investigatório Criminal (PIC) ............................. 31 
5.3. Resultados e Discussões – Uma Perspectiva Prática ................... 32 
6. Considerações Finais ........................................................................ 36 
7. REFERÊNCIAS ............................................................................... 39 
 
8 
 
1 Introdução e Justificativa 
O Processo Penal operado no Brasil consiste, basicamente, em denúncia, defesa 
prévia, produção probatória, alegações finais e sentença. Mas, para que haja a 
denúncia de um crime, que é o que dá início ao processo penal, faz-se necessário 
antes obter elementos básicos para que se possa construir uma denúncia, quais 
sejam, a autoria do crime, a materialidade do crime e a motivação que levou ao 
cometimento do crime. 
A obtenção de tais elementos nomeia-se como investigação criminal e é 
conduzida, tipicamente, pelo delegado de polícia, em um procedimento 
nomeado de inquérito policial, conforme prevê o artigo primeiro da Lei 12.830 
de 2013 e o artigo 5º do Código de Processo Penal Brasileiro. 
Após a conclusão da investigação criminal, também chamada de inquérito, esta 
é encaminhada ao Ministério Público, que é o titular da Ação Penal Pública, 
para que proceda com a denúncia, se for o caso. 
A temática deste trabalho se desenvolve pautado na importância de o Ministério 
Público poder atuar desde a investigação criminal na persecução da Justiça 
Penal. Considerando que o Brasil adota o sistema acusatório, tal poder 
investigatório insinua-se como implícito àquele que detém o poder de denunciar. 
Assim afirma Alex Sandro Teixeira da Cruz. 
[...] Ao conferir ao Ministério Públicoa função institucional de promover, 
privativamente, a ação penal pública (Constituição, artigo 129, inciso I), o 
constituinte conferiu-lhe, de forma acessória e implícita, a busca de todos os meios – 
de modo legal e moralmente admissíveis – para subsidiar a oferta da denúncia. Não 
se pode, ao mais singelo raciocínio lógico, afastar a idéia de que o titular de algo não 
possa se valer de instrumentos próprios para viabilizar o pleno exercício dessa 
titularidade [...] (CRUZ 2003, p. 23). 
 
9 
 
Porém, existem autores que defendem uma posição contrária, alegando que a 
investigação realizada pelo Parquet1 seria inconstitucional, senão vejamos: 
[...] pelo art. 144 da Constituição Federal a apuração das infrações penais e o 
exercício da Polícia Judiciária são exclusivos da Polícia Civil e da Polícia Federal 
(com exceção das infrações penais militares), sendo certo que dever-se-á respeitar a 
vontade constitucional quanto ao controle nobilíssimo que deverá reinar entre nossas 
instituições [...] (BASTOS, 2004) 
Contudo, vislumbra-se tratar de uma questão que influencia sobremaneira a 
persecução da Justiça Penal no Brasil, assim, faz-se necessário uma análise mais 
aprofundada a respeito do assunto, quanto à opinião dos principais autores que 
versam sobre o tema e, principalmente, o posicionamento do Supremo Tribunal 
Federal, para evidenciar como está o cenário jurídico-brasileiro frente ao 
importante tema. Nesse contexto, a problemática dessa pesquisa se assenta na 
seguinte discussão: o Ministério Público, de acordo com a Constituição Federal 
de 1988, é órgão autônomo e permanente, essencial à função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe, dentre muitas funções, promover, privativamente, a 
ação penal pública. 
Considerando que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
atribuiu ao Ministério Público a titularidade da ação penal, traz implicitamente 
outro poder: 
Teoria dos poderes implícitos: segundo essa teoria, nascida na Suprema 
Corte dos EUA, no precedente Mc CulloCh vs. Maryland 
(1819), a Constituição, ao conceder uma atividade-fim a determinado órgão 
ou instituição, culmina por, implicitamente e simultaneamente, 
a ele também conceder todos os meios necessários para a consecução 
daquele objetivo. Segundo o Juiz Black “tudo o que for necessário 
para fazer efetiva alguma disposição constitucional, envolvendo proibição ou 
restrição ou a garantia a um poder, deve ser julgado 
implícito e entendido na própria disposição”. 
Portanto, se a última palavra acerca de um fato criminoso cabe ao Ministério 
Público, porquanto é ele o titular da ação penal pública 
(CF, art. 129, inc. I), deve-se outorgar a ele todos os meios para firmar seu 
 
1
 Termo jurídico empregado como sinônimo de Ministério Público 
10 
 
convencimento, aí incluída a possibilidade de realizar 
investigações criminais, sob pena de não se lhe garantir o meio idôneo para 
realizar a persecução criminal, ao menos em relação a certos 
tipos de delito (LIMA, 2016, p. 130). 
Assim, para resguardar a eficácia deste importante interesse público, parece 
salutar que o titular da ação penal pública possa, quando necessário, produzir, 
autonomamente, elementos que elucidem com mais celeridade a ação penal. 
Diante desse contexto surge o problema de pesquisa: que consequências o poder 
investigatório criminal do Ministério Público traz à persecução da Justiça Penal? 
Assim, o objetivo geral é: identificar e discutir os pontos positivos e negativos 
decorrentes do poder de investigação criminal do Ministério Público. Os 
objetivos específicos são: a) Construir a conceituação e um estudo da evolução 
histórica do Ministério Público; b) Apresentar um breve conceito de 
investigação criminal; c) Realizar um estudo analítico da investigação criminal 
conduzida pelo Ministério Público; d) Demonstrar as posições doutrinárias 
contrárias e favoráveis à investigação criminal realizada diretamente pelo 
Ministério Público; e) Fazer uma análise com o Direito estrangeiro comparado. 
 
 
 
11 
 
CAPÍTULO II 
 
Evolução Histórica do Ministério Público 
 
Antes de quaisquer considerações mais profundas no tema deste trabalho, é 
essencial conhecer a respeito desse Órgão Ministerial, que é vital para o Estado 
Democrático de Direito. A gênese do Ministério Público é de longa data, 
remonta-se a séculos antes de Cristo. Há indícios razoáveis de que, no Egito 
Antigo, havia entre os egípcios certos funcionários governamentais que 
possuíam algumas das funções desempenhadas atualmente pelos membros do 
Ministério Público. 
Segundo textos descobertos em escavações no Egito, tal funcionário era a língua e 
os olhos do Rei; castigava os rebeldes, reprimia os violentos, protegia os cidadãos 
pacíficos; acolhia os pedidos do homem justo e verdadeiro, perseguindo o malvado 
mentiroso; era o marido da viúva e o pai do órfão; fazia ouvir as palavras da 
acusação, indicando as disposições legais que se aplicavam ao caso; tomava parte 
das instruções para descobrir a verdade. (VELLANI apud MAZZILLI, 1991, p. 1 e 
2). 
Na Roma Antiga também há indícios de precursores do Ministério Público. 
São cinco as instituições do direito romano em que a generalidade dos autores vê 
traços de identidade com o Ministério Público: os censore, vigilantes gerais da 
moralidade romana; os defensores das cidades, criados para denunciar ao imperador 
a conduta dos funcionários; os irenarcas, oficiais de polícia; os presidentes das 
questões perpétuas; e os procuradores dos cesares, instituídos pelo imperador para 
gerir os bens dominiais. (grifo nosso) (SAUWEN FILHO, 1999, p. 25e26) 
Frisa-se aqui que os precursores do órgão não se destinavam exatamente à 
defesa incontestável dos hipossuficientes, dos oprimidos e dos direitos difusos. 
Eram em instituições que defendiam os interesses do Rei e do império que 
encontrava-se apenas traços do que hoje é o Ministério Público. Nas palavras de 
João Francisco Sauwen Filho, na França se deu a origem do Ministério Público 
como instituição una: 
12 
 
A Ordenança de 25 de março de 1302, de Filipe, O Belo, é considerado o primeiro 
texto legal a fazer referência à instituição. Ele representa o momento em que o rei 
"reuniu tanto seus procuradores, encarregados da administração de seus bens 
pessoais, quanto seus advogados, que lhe defendiam os interesses privados em Juízo 
e que, em conjunto, eram conhecidos pelo nome genérico de les gens du roi, numa 
única instituição. (SAUWEN FILHO,1999, p. 38) 
Porém, apenas após a Revolução Francesa, num processo evolutivo ao longo de 
anos, pautado no temor de ver o Estado julgar arbitrariamente, corroborado com 
os ideais franceses (liberdade, igualdade e fraternidade), que a instituição 
aperfeiçoou-se, direcionando o Ministério Público às atividades da prestação 
jurisdicional. 
[...] O mais comum é indicar-se que o Ministério Público moderno tem origem nos 
procuradores do Rei da França, ou, mais especificamente, na Ordenança de 1302, de 
Felipe IV. Entretanto, verdade seja dita, contemporaneamente na Itália e em 
Portugal (Ordenações do Reino), existiram Procuradores do Rei, com atribuições 
semelhantes. [...] (grifo nosso) (MAZZILLI, 2003, p. 17). 
Os ideais iluministas, norteadores do Estado de Direito, refletiram na evolução 
do Ministério Público francês e influenciaram instituições de diversos países 
latinos, dentre os quais, a instituição dos Procuradores do Rei do Direito 
lusitano. Conforme afirma Sauwen Filho, com as Ordenações Afonsinas, o 
Ministério Público português tomou características bem mais modernas: 
[…] tendo se evidenciado no reino a necessidade de se estabelecer uma instituição 
que apoiasse os vassalos quereclamassem justiça e ainda que defendessem o 
interesse geral, surgiu a figura do Procurador da Justiça, regulada no Título VII do 
Livro I das Ordenações Afonsinas, onde constavam os deveres do ofício nestes 
termos: “E veja e procure bem todos os feitos da justiça e das Viúvas e dos Órfãos e 
Miseráveis Pessoas, que a nossa Corte vierem”. (SAUWEN FILHO, 1999. p. 103) 
Alguns séculos mais tarde, nas Ordenações Filipinas, afirma Macedo Júnior que 
o Promotor de Justiça passou a possuir atribuições que perduram até os dias de 
hoje: 
As Ordenações Manuelinas de 1521 já mencionavam o Promotor de Justiça e suas 
obrigações perante as Casas da Suplicação e nos juízos das terras. Nelas estavam 
13 
 
presentes as influências dos direitos francês e canônico. Segundo estas, o Promotor 
deveria ser alguém "letrado e bem entendido para saber espertar e alegar as causas e 
razões, que para lume e clareza da justiça e para inteira conservação dela convém." 
O Promotor de Justiça atuava como um fiscal da lei e sua execução. Nas Ordenações 
Filipinas de 1603 são definidas as atribuições do Promotor de Justiça junto às Casas 
de Suplicação. Mais uma vez são confirmadas as suas atribuições na fiscalização da 
lei e da Justiça e no direito de promover a acusação criminal. (MACEDO JÚNIOR, 
2017) 
O primeiro texto legislativo brasileiro a prever a figura do Promotor de Justiça 
teria sido publicado em 1609, cargo que atuava junto ao Tribunal da Relação da 
Bahía, porém, nessa época, a instituição ainda estava em fase embrionária. 
Sauwen Filho comenta a fase do período colonial: 
[...] O Ministério Público não estava completamente instituído. Mesmo após a 
Constituição de 1824 o cenário era similar, sem centro, sem ligação, sem unidade, 
inspeção e harmonia. Sofria de mais a mais lacunas graves nas atribuições 
conferidas a seus agentes. Lacunas que muito prejudicavam a administração da 
justiça. Referida precariedade duraria até a década de 30 do século XIX, quando se 
assinala que não havia “uma organização eficiente, nem mesmo uma unidade do 
Parquet que funcionava de forma desarticulada, sem unidade ou mesmo sem 
qualquer controle central. Até as atribuições de seus membros eram incertas, não 
havendo normas claras quanto aos seus limites. [...] O recrutamento do seu pessoal 
era mais rudimentar possível. Em face da carência de bacharéis diplomados entre 
nós, naquela época, as fileiras do Ministério Público abrigavam pessoas leigas, sem 
as mínimas condições técnicas para o exercício dos cargos, o que contribuía para sua 
ineficiência [...] (SAUWEN FILHO, 1999, p. 111,117, 118 e 120). 
Na fase republicana, o Ministério Público brasileiro consolidava-se como o 
órgão estatal da acusação, mas tão somente. Ficou evidenciado que, até a vinda 
da Constituição de 1946, o ministério Público estava longe de ser uma 
instituição republicana, figurando mais como um órgão do executivo, de cunho 
repressivo. 
Resta evidenciado que, no Brasil, pelo menos até a promulgação da Carta de 1946, o 
Ministério Público seria considerado, tratado e utilizado pelos governantes como 
instrumento de sua política e, muito embora houvesse na doutrina algumas vozes 
discordantes desse entendimento, o fato é que a maioria dos autores, sem sufragar 
esse modo de agir do Estado, aceitavam-no como fato consumado, negando os 
processualistas da época maior importância ao Ministério Público. (SAUWEN 
FILHO, 1999, p. 142). 
14 
 
O perfil republicano foi inaugurado pela Constituição de 1946 e trouxe um 
destaque ao Ministério Público até então desconhecido. Sauwen Filho afirma 
que este perfil duraria até o retrocesso da Constituição de 1967, imposta por 
meio de um golpe militar: 
[...] durante esse período (ditadura militar), o Ministério Público deixou de existir 
como instituição encarregada da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e 
dos interesses sociais e individuais indisponíveis. [...] o que lhe foi acrescido em 
funções, com o conseqüente aumento de sua força, refletiu-se precipuamente no seu 
aspecto de órgão de atuação da vontade política do Poder Executivo, enquanto suas 
funções relativas à defesa da sociedade, guardião da lei e defensor dos interesses 
sociais individuais indisponíveis, sempre à mercê do arbítrio dos governantes, e que 
se constituem na marca característica dos Parquets nas modernas sociedades 
democráticas, foram, se não anuladas, pelo menos relegadas a segundo plano, por 
incompatíveis com o que do Ministério Público esperava o Governo da Revolução. 
(SAUWEN FILHO, 1999, p. 163-164) 
Superado o regime militar, com o advento da Constituição Federal de 1988, a 
Constituição Cidadã, implantou-se um Estado Democrático de Direito, trazendo 
vida nova ao Ministério Público, como afirma Jatahy: 
[...] a partir de tal diploma legal, foi criado um canal para o tratamento judicial das 
grandes questões do direito de massas, dos novos conflitos sociais coletivos de 
caráter urbano, conferindo-se ao Ministério Público o poder de instaurar e presidir 
inquéritos civis sempre que houvesse dano a interesse ambiental, paisagístico ou do 
consumidor. Nessa nova fase, o membro do Ministério Público passa a atuar como 
verdadeiro advogado da sociedade, na proteção dos interesses transindividuais e na 
qualidade de indutor da transformação social. (JATAHY, 2007, p. 23.) 
Hoje, o Ministério Público está previsto na seção I do capítulo IV da 
Constituição Federal, bem como na Lei 8.625 de 1993 e na Lei Complementar 
Federal 75/1993. O artigo 127 da Constituição Federal de 1988 caracteriza o 
Ministério Público como instituição permanente, com as funções de defesa da 
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais 
indisponíveis. Em seu parágrafo primeiro, traz os princípios institucionais: a 
unidade: seus membros integram um só órgão; a indivisibilidade: os membros 
do MP não se vinculam à sua área de atuação; e a independência funcional: o 
15 
 
Ministério Público é órgão autônomo, independente no exercício de sua função 
estatal. 
O atual e moderno Ministério Público exerce suas funções tanto no campo civil, 
como no penal. O artigo 129 da Constituição Federal de 1988, elenca algumas 
das funções do Ministério Público: promover a ação penal pública; zelar pelo 
respeito aos Poderes Públicos e dos serviços relevantes aos direitos 
constitucionais; promover o inquérito civil e a ação civil pública; promover a 
ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da 
União e Estados; defender judicialmente os direitos e interesses da população 
indígena. 
Já a estrutura do Ministério Público está esculpida na Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 128: 
O Ministério Público abrange: I. O Ministério Público da União, que compreende: a 
o Ministério Público Federal; b. o Ministério Público do Trabalho; c.o Ministério 
Público Militar; d. o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II. Os 
Ministérios Públicos dos Estados. 
O Ministério Público da União é chefiado pelo Procurador-Geral da República, 
nomeado pelo Presidente da República. Já os Ministérios Públicos dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes de 
carreira, para a escolha do Procurador-Geral. 
Por fim, conforme tudo o que foi exposto a respeito da história do Ministério 
Público, fica evidente que não foi da noite para o dia o seu surgimento, sua 
evolução foi lenta, paralelo a evolução do Estado como um todo. Hoje, o 
Ministério Público está muito bem constituído em uma instituição madura, séria 
e totalmente comprometida com a população brasileira, figurando como 
verdadeiro Advogado da Sociedade. 
16 
 
CAPÍTULO III 
 
3 Conceituação e Variação da InvestigaçãoCriminal 
O sistema processual penal que vigora no Brasil é o Sistema Acusatório, com 
três figuras distintas atuando de forma independente: a acusação e a defesa em 
paridade de condições e, se sobrepondo à ambas, o julgador, imparcial e 
eqüidistante. É o que ensina Renato Brasileiro: 
[...] com o advento da Constituição Federal de 1988, que prevê de maneira expressa 
a separação das funções de acusar, defender e julgar, estando assegurado o 
contraditório e a ampla defesa, além do princípio da presunção de não culpabilidade, 
estamos diante de um sistema acusatório. [...] (grifo nosso) (LIMA, 2016, p. 15) 
Não por acaso, a acusação é citada primeiro, pois é a acusação que primeiro age 
para que se inicie o processo no âmbito penal. Porém, como já dito, para que 
possa existir uma peça acusatória a ser apresentada ao Estado-Juiz, é necessário 
estar reunidos elementos de informação que evidenciem a ocorrência de crime e 
indícios da autoria de tal crime, ou seja, em regra, a acusação está baseada em 
uma investigação criminal realizada previamente, de forma inquisitorial, sem as 
garantias do processo. 
Existem diversas formas de investigação criminal, que tem por objetivo colher 
elementos de informação para sustentar a possível Denúncia a ser feita pelo 
Ministério Público. Assim ensina Guilherme de Souza Nucci: 
[...] existem variadas formas de investigação destinadas a possibilitar a formação de 
um quadro probatório prévio, justificador da ação penal, em nome da segurança 
mínima exigida para a atividade estatal persecutória contra alguém no campo 
criminal. [...] 
O Estado pode e deve punir o autor da infração penal, garantindo com isso a 
estabilidade e a segurança coletiva, tal como idealizado no próprio texto 
constitucional (art. 5.º, caput, CF), embora seja natural e lógico exigir-se uma 
atividade controlada pela mais absoluta legalidade e transparência. Nesse contexto, 
variadas normas permitem que órgãos estatais investiguem e procurem encontrar 
ilícitos penais ou extrapenais. 
17 
 
O principal instrumento investigatório no campo penal, cuja finalidade precípua é 
estruturar, fundamentar e dar justa causa à ação penal, é o inquérito policial. Aliás, 
constitucionalmente, está prevista a atividade investigatória da polícia judiciária – 
federal e estadual (art. 144, § 1.º, IV, e § 4.º, CF). Por isso, o Código de Processo 
Penal dedica um capítulo específico a essa forma de investigação, ainda que não seja 
a única possível a dar alicerce à ação penal.[...] (grifo nosso) (NUCCI, 2016, p. 94). 
A Lei 12.830 de 2013 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo 
delegado de polícia e logo no art. 2.º, § 1.º dispõem que a autoridade policial 
conduzirá a investigação criminal “por meio de inquérito policial, que tem como 
objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das 
infrações penais”. Também, importante esclarecer que como é realizado antes do 
processo, possuí caráter administrativo. 
Outro ponto importante que o legislador pensou, ao dar essa ferramenta à 
autoridade policial, é a urgência na colheita de provas que podem esvanecer 
após o cometimento do crime, isso é depreendido do artigo 6º, inciso I do 
Código de Processo Penal Brasileiro: 
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade 
policial deverá: 
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e 
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. [...] 
Assim, observa-se que o inquérito policial é a principal forma de obtenção dos 
elementos de informação que irão fundamentar e dar justa causa à ação penal, 
porém não é a única forma. Existem outras formas de investigações criminais, 
que se dá conforme dispõem a lei. Por exemplo, no caso quando um magistrado 
é suspeito do cometimento de um crime, conforme dispõe o art. 33, parágrafo 
único, da Lei Complementar nº 35, de 1979: 
Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: 
[...] 
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de 
crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os 
18 
 
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim 
de que prossiga na investigação. [...] 
Dessa forma, quando houver suspeita do cometimento de crime por um 
magistrado, será o Tribunal que irá julgar que também conduzirá a investigação 
criminal. Outro tipo de investigação criminal são as realizadas por Comissões 
Parlamentares de Inquérito - CPI, previstas no artigo 58, § 3º, da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988: 
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e 
temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo 
regimento ou no ato de que resultar sua criação. 
[...] 
§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação 
próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das 
respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, 
em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus 
membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas 
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a 
responsabilidade civil ou criminal dos infratores. (grifo nosso) 
Assim, são várias as investigações criminais que não são conduzidas por uma 
autoridade policial, como o inquérito realizado pelas autoridades militares para a 
apuração de infrações de competência da justiça militar - IPM, as investigações 
realizadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI e, ainda, há a 
possibilidade de investigação criminal pelo Supremo Tribunal Federal, pela 
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal em caso de crime cometido nas 
suas dependências. Fernando Capez faz um apanhado geral: 
O art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal deixa claro que o inquérito 
realizado pela polícia judiciária não é a única forma de investigação criminal. 
Há outras, como, por exemplo, o inquérito realizado pelas autoridades militares para 
a apuração de infrações de competência da justiça militar (IPM); as investigações 
efetuadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), as quais terão poderes 
de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos 
regimentos das respectivas Casas, e serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo 
Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de 1/3 de 
seus membros, para a apuração de fato determinado, com duração limitada no tempo 
(CF, art. 58, § 3º); o inquérito civil público, instaurado pelo Ministério Público para 
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses 
19 
 
difusos e coletivos (CF, art. 129, III), e que, eventualmente, poderá apurar também a 
existência de crime conexo ao objeto da investigação; o inquérito em caso de 
infração penal cometida na sede ou dependência do Supremo Tribunal Federal 
(RISTF, art. 43); o inquérito instaurado pela Câmara dos Deputados ou Senado 
Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, hipótese em que, de 
acordo com o que dispuser o respectivo regimento interno, caberão à Casa a prisão 
em flagrante e a realização do inquérito (Súmula 397 do STF); a lavratura de auto de 
prisão em flagrante presidida pela autoridade judiciária, quando o crime for 
praticado na sua presença ou contra ela (CPP, art. 307) (grifo nosso) (2016, p. 126). 
Por fim, resta evidenciado que a investigação criminal tem por objetivo colher 
elementos de informação com relação a algum crime, principalmente, no tocante 
aos indícios de materialidade e autoria. Nesse campo, o principalinstrumento da 
investigação criminal é o inquérito policial, conduzido pela autoridade policial, 
porém, como visto, não é a única forma de se realizar a investigação criminal. 
 
3.1 Da Dispensabilidade do Inquérito Policial 
O Inquérito Policial é o meio de investigação criminal mais utilizado, afinal, a 
autoridade policial é quem tem o propício treinamento e possui melhores 
condições para colher elementos de informação quanto à materialidade e à 
autoria do crime. Renato Brasileiro conceitua o IPL: 
Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade 
policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela 
polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova1 e a colheita de 
elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim 
de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 
Trata-se de um procedimento de natureza instrumental, porquanto se destina a 
esclarecer os fatos delituosos relatados na notícia de crime, fornecendo subsídios 
para o prosseguimento ou o arquivamento da persecução penal. 
De seu caráter instrumental sobressai sua dupla função: a) preservadora: a existência 
prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal infundado, 
temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários 
para o Estado; b) preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da 
ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam 
desaparecer com o decurso do tempo. 
Porém, como o IPL é um procedimento de natureza administrativa, não se 
tratando de processo administrativo, nem tampouco de processo judicial, trata-se 
20 
 
de um procedimento dispensável. Renato Brasileiro melhor versa sobre o 
assunto: 
Se a finalidade do inquérito policial é a colheita de elementos de informação quanto 
à infração penal e sua autoria, é forçoso concluir que, desde que o titular da ação 
penal (Ministério Público ou ofendido) disponha desse substrato mínimo necessário 
para o oferecimento da peça acusatória, o inquérito policial será perfeitamente 
dispensável. 
O próprio Código de Processo Penal, em diversos dispositivos, deixa claro o caráter 
dispensável do inquérito policial. De acordo com o art. 12 do CPP, “o inquérito 
policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou 
outra”. A contrario sensu, se o inquérito policial não servir de base à denúncia ou 
queixa, não há necessidade de a peça acusatória ser acompanhada dos autos do 
procedimento investigatório. 
Por sua vez, o art. 27 do CPP dispõe que qualquer pessoa do povo poderá provocar a 
iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-
lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e 
os elementos de convicção. 
Ora, se qualquer pessoa do povo for capaz de trazer ao órgão do Ministério Público 
os elementos necessários para o oferecimento da denúncia, não haverá necessidade 
de se requisitar a instauração de inquérito policial. 
De seu turno, o art. 39, § 5º, do CPP, estabelece que o órgão do Ministério Público 
dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o 
habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 
15 (quinze) dias. 
Por fim, o art. 46, § 1º, do CPP, acentua que quando o Ministério Público dispensar 
o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em 
que tiver recebido as peças de informações ou a representação (LIMA, 2016, p. 78). 
Assim, se nos casos em que caiba a ação pública, qualquer pessoa do povo pode 
levar, por conta própria, elementos de informação ao Ministério Público e, com 
isto, a Denúncia já poderá ser oferecida, é totalmente ilógico não se admitir que 
o Ministério Público possa, por conta própria, colher elementos de informação 
que irá subsidiar a ação da qual ele é o titular. 
 
3.2 A Possibilidade da Investigação Criminal Conduzida pelo Ministério 
Público 
Por muito tempo pensou-se que o crime emanava-se das periferias da sociedade 
e os holofotes dos inquéritos policiais mantiveram-se em pobres e negros, 
acreditando-se que o papel da polícia era reprimir as classes mais baixas da 
sociedade, como se lá fosse a raiz do problema. Mas com o passar do tempo e o 
21 
 
agravamento da desigualdade social e um pouco mais de acesso à informação, 
percebeu-se que a onda do crime era inversa, emanava da alta cúpula do poder, 
com a raiz da corrupção cravada bem funda entre as classes sociais mais altas. 
Isso foi diagnosticado graças ao Ministério Público que, como o advento da 
Constituição Federal de 1988, libertou-se das amarras do Poder Executivo e 
pode investigar muitos dos protegidos do poder, como elucida José Reinaldo 
Guimarães Carneiro: 
A polêmica sobre as investigações independentes do Ministério Público, que trouxe 
debate extraordinariamente acalorado na comunidade jurídica, teve crescimento 
considerável a partir de grandes investigações por promotores e procuradores da 
república. Em sua maioria, as investigações acabaram por elucidar fraudes no seio 
da comunidade política, com destaque contínuo para a compreensão dos 
mecanismos de desvio de dinheiro público para contas privadas, algumas sediadas 
em paraísos fiscais no exterior. 
Não só, as investigações atingiram pessoas que, pertencentes à classe sócio-
econômica brasileira privilegiada, eram ao longo de muitas décadas completamente 
intocáveis no direito penal, em história de centenária impunidade. 
Funcionários públicos, agentes políticos, ocupantes de cargos públicos, particulares 
em cooperação com a administração pública, enfim, uma enorme gama de pessoas 
normalmente referidas como de colarinho-branco têm enfrentado o direito penal 
justamente em decorrência da iniciativa do Ministério Público na busca da verdade 
sobre suas participações em graves investigações nacionais. 
Inverteu-se a segurança para punição das elites. Elas que, normalmente, passavam 
ao largo do alcance do inquérito policial, até então o maior instrumento de 
investigação disponibilizado pelo processo penal brasileiro, se desnudaram em 
investigações seguidas pelo Parquet (2007, p. 79). 
Nestes casos, as investigações conduzidas pelo Ministério Público culminaram 
com a prisão de muita gente famosa e de grande poder financeiro ou político. 
Não mais que convenientemente começou a se questionar esse papel de 
investigador que o Ministério Público vinha desempenhando, dando voz àqueles 
que sustentavam não ser viável a investigação criminal pelo Ministério Público, 
argumentando que, dessa forma, faltaria controle externo para a atividade. É o 
que defende Guilherme de Souza Nucci: 
[...] cremos inviável que o promotor de justiça (ou procurador da República), titular 
da ação penal, assuma, sozinho, sem prestar contas a ninguém e sem qualquer 
fiscalização, em qualquer caso, a postura de órgão investigatório, substituindo a 
polícia judiciária e produzindo inquéritos ou procedimentos próprios [...] (2016, p. 
96). 
22 
 
Nesse caso, o doutrinador pontua a questão considerando que, se o Ministério 
Público colher elementos de informação por conta própria, ele estaria 
“substituindo a polícia judiciária”. Porém, na mesma linha e concordando com 
Fernando Capez, Nestor Távora explica que a possibilidade do Ministério 
Público poder colher elementos de informação, não configura, exatamente, uma 
substituição da polícia judiciária, senão, vejamos: 
É perfeitamente possível ao Ministério Público a realização de investigações no 
âmbito criminal. Perceba que não se deseja a presidência do inquérito policial pelo 
Ministério Público, pois isto, porreclamo constitucional (art. 144, § 4º, da CF), é 
atribuição da autoridade policial. 
O que se pretende, sendo plenamente possível por decorrência do texto 
constitucional e com base na teoria dos poderes implícitos (implied powers theory), 
é a possibilidade do órgão ministerial promover, por força própria, a colheita de 
material probatório para viabilizar o futuro processo. 
Poderia assim o promotor de justiça instaurar procedimento administrativo 
investigatório (inquérito ministerial), e colher os elementos que repute 
indispensáveis, dentro das suas atribuições, para viabilizar a propositura da ação 
penal. Eventuais temores pelos excessos possíveis não devem objetar a posição aqui 
assumida, pois não se ilide a responsabilidade administrativa, civil e criminal do 
membro do Ministério Público incauto na presidência da investigação preliminar. 
Nesse sentido manifesta-se o Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual a polícia 
judiciária não possui o monopólio da investigação criminal. 
Corroborando o entendimento, a súmula de nº 234 dispõe que “a participação de 
membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu 
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia” (grifo nosso) 
(TÁVORa, 2016, p. 98). 
Muito próximo ao que se discute, está a possibilidade de eventual 
impossibilidade ou desinteresse por parte da polícia judiciária em investigar 
algum crime, com relação a isto há o posicionamento de Mazzili (2007, p. 386), 
“[...] nesses casos a iniciativa investigatória do Ministério Público é de todo 
necessária, sobretudo nas hipóteses em que a polícia tenha dificuldade ou 
desinteresse em conduzir as investigações”. 
Como visto anteriormente, a investigação criminal não é atribuição exclusiva da 
autoridade de policia judiciária. Existem outras formas autorizadas em Lei, 
como por exemplo, o inquérito realizado pelas autoridades militares para a 
apuração de infrações de competência da justiça militar - IPM, as investigações 
23 
 
realizadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI e, ainda, há a 
possibilidade de investigação criminal pelo Supremo Tribunal Federal, pela 
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal em caso de crime cometido nas 
suas dependências. Então, por que razão deixar logo o Ministério público fora 
deste rol? Fernando Capez é enfático quanto a esse assunto: 
Analisando o CPP, mesmo considerando que sua elaboração data de um período 
autoritário, o qual, nem de longe, se assemelha aos tempos atuais, observamos nos 
arts. 12; 27; 39, § 5º; e 46, § 1º, que o inquérito policial não é indispensável à 
propositura da ação penal, podendo ser substituído por outros elementos de prova. 
Assim, se a ação penal pode estar lastreada em outras provas, por que não naquelas 
colhidas pelo próprio Ministério Público, com base em seu poder constitucional de 
requisição e notificação para a tomada de depoimentos? 
O art. 47 do CPP é ainda mais enfático, ao permitir a requisição direta de 
documentos complementares ao inquérito policial ou peças de informação, bem 
como quaisquer outros elementos de convicção. 
O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741/2003, em seu art. 74, IV, b, confere ao MP o 
poder de requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades 
municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como 
promover inspeções e diligências investigatórias. Encontra-se aí mais um explícito 
argumento nesse sentido (grifo nosso) (2016, p. 162-163). 
Importante ressaltar a constitucionalidade da investigação criminal conduzida 
pelo Ministério Público, ao lhe atribuir o poder de requisitar informações e 
documentos para instruir procedimentos administrativos, que não limitou-se 
somente a esfera cível, como ensina Hugo Mazzilli: 
No inciso VI do art. 129, da Constituição Federal de 1988, cuida-se de 
procedimentos administrativos de atribuição do Ministério Público – e aqui também 
se incluem investigações destinadas à coleta direta de elementos de convicção para a 
opinio delicti: se os procedimentos administrativos de que cuida este inciso fossem 
apenas em matéria cível, teria bastado o inquérito civil de que cuida o inc. III (...) 
Mas o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na esfera cível, 
atingindo também a área destinada a investigações criminais. 
Dá-se o constituinte ao trabalho de conferir ao Ministério Público o poder de expedir 
notificações e requisitar informações e documentos nos procedimentos 
administrativos de sua competência, pelo que deixa em aberto a existência de 
procedimentos administrativos da esfera do Parquet. É claro, data maxima venia, 
que não se trata apenas do inquérito civil público, que é contemplado, 
nominadamente, em outro inciso, e se fosse este aquele aventado no inciso em 
questão, necessidade alguma haveria de fazer referência a procedimentos 
administrativos no plural. 
Não cuida, também, apenas dos procedimentos administrativos no âmbito do 
Parquet para investigar as autoridades que tenham foro por prerrogativa de função. 
Aqui se prevê a possibilidade de o Ministério Público instaurar procedimentos 
administrativos. As peças de informação nas quais realiza as investigações diretas 
24 
 
não possuem outra natureza jurídica senão a de procedimento administrativo (1995, 
p. 233). 
A questão, como era de se esperar, esteve no STF, por meio do Recurso 
Extraordinário (RE) nº 593727, com repercussão geral reconhecida e, no dia 14 
de maio de 2015, o Plenário da Corte Superior reconheceu a legitimidade do 
Ministério Público, de forma que, os ministros Gilmar Mendes (redator do 
acórdão), Celso de Mello, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Rosa 
Weber e Cármen Lúcia negaram provimento ao recurso, reconhecendo base 
constitucional para os poderes de investigação do Ministério Público. Com 
destaque para o voto do ministro Celso de Mello, que teve a tese fixada pelo 
Plenário acerca do tema: 
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, 
e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os 
direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob 
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de 
reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que 
se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, 
notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade 
– sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle 
jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), 
praticados pelos membros dessa instituição. (Notícias STF: 
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=291563> 
Acesso em 23/05/2017) 
A decisão do Supremo Tribunal Federal foi histórica, formalizando, finalmente, 
a prerrogativa de o Ministério Público poder investigar criminalmente como 
constitucional. Renato Brasileiro pontua os limites a ser observados pelo 
Parquet: 
Em julgamento histórico ocorrido em data de 14 de maio de 2015, o Plenário do 
Supremo reconheceu, enfim, que o Ministério Público dispõe de competência para 
promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza 
penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer 
indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por 
seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as 
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os 
advogados, sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático 
de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente 
25 
 
documentados(Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros do 
Parquet. 
Nesse caso, é imperioso observar: a) ritos claros quanto à pertinência do sujeito 
investigado; b) formalização do ato investigativo; c) comunicação imediata ao 
Procurador-Chefe ou ao Procurador-Geral; d) autuação, numeração, controle, 
distribuição e publicidade dos atos; e) pleno conhecimento da atividade de 
investigação à parte; f) princípios e regras que orientariam o inquérito e os 
procedimentos administrativos sancionatórios; g) ampla defesa, contraditório, prazo 
para a conclusão e controle judicial. 
A função investigatória do Ministério Público não se converteria em atividade 
ordinária, mas excepcional a legitimar a sua atuação em casos de abuso de 
autoridade, prática de delito por policiais, crimes contra a Administração Pública, 
inércia dos organismos policiais, ou procrastinação indevida no desempenho de 
investigação penal, situações que exemplificativamente justificariam a intervenção 
subsidiária do órgão ministerial (LIMA, 2016, p. 132). 
Assim, pela decisão dada, tem-se que o Pretório Excelso reconheceu a 
constitucionalidade da atribuição do Ministério Público em conduzir 
autonomamente a investigação criminal, como verdadeiro poder implícito no 
texto constitucional, porém, em menor extensão, com considerações e em 
situações que se justifique a intervenção do Ministério Público. 
26 
 
CAPÍTULO IV 
 
4 A Capacidade Investigatória Criminal do Ministério Público no Direito 
Comparado 
A instituição do Ministério Público em outros países varia de acordo com o 
ordenamento jurídico de cada país. Essa variação atinge, também, a relação que 
a instituição detém com a investigação criminal. Assim, muito importante se 
valer do posicionamento de outros países com relação ao tema, para se 
compreender qual é a tendência mundial das atribuições conferidas a esse 
importante Órgão Ministerial. Nesse contexto, esclarece Denilson Feitoza 
Pacheco: 
[...] no mundo, há apenas alguns países inexpressivos (Uganda, Quênia e Indonésia) 
em que a polícia tem exclusividade de apuração da infração penal. A tendência 
mundial é a de fortalecimento do poder investigatório do Ministério Público, como 
ocorreu, por exemplo, na França, Itália e Portugal. (2009, s/p) 
Dada a gama de países que seguem esse molde, serão citados como exemplo 
apenas a postura adotada pelo Parquet da França, da Itália e de Portugal em 
relação à capacidade investigativa criminal. 
 
 
4.1 Ministério Público Francês 
Igualmente ao Ministério Público brasileiro, o Parquet francês é o fiscal da lei e 
da ordem pública, é o titular da ação penal pública e parte essencialmente 
necessária no processo penal. Especificamente sobre a investigação criminal 
conduzida pelo Ministério Público, o atual Código de Processo Penal francês, 
em seu art. 41, estabelece que “o Procurador da República procede ou faz 
proceder a todos os atos necessários à investigação e ao processamento das 
infrações da lei penal. Para esse fim, ele dirige as atividades dos oficiais e 
27 
 
agentes da Polícia Judiciária dentro das atribuições do seu tribunal”. De acordo 
com Paulo Rangel, a Polícia Judiciária francesa é totalmente subordinada ao 
Ministério Público: 
[...] e se encontra sob a direção do Procurador-Geral que, inclusive, pode determinar 
aplicação de sanção disciplinar por falta de seus agentes. [...] A Polícia mantém o 
Ministério Público informado de tudo que acontece, inclusive quanto às diligências 
que serão realizadas para colheita de informações necessárias à elucidação dos fatos 
cometidos (2009, p. 149). 
Conforme se depreende da lei de processo penal francesa, ao Ministério Público 
é conferido o papel de titular da ação penal e a capacidade de investigar 
criminalmente, sem suprimir a atuação da polícia judiciária, que, inclusive, neste 
país, está subordinada ao próprio Ministério Público. 
 
 
4.2 Ministério Público Italiano 
Na Itália, o sistema processual penal é o Acusatório, com as funções de acusar, 
defender e julgar divididas, de forma que, a Constituição, em seu art. 112 
determina: “El Ministerio Público tiene la obligación de ejercer La acción 
penal”. Já nos artigos 326 e 327 do seu Codice di Procedura Penale está 
previsto que o Ministério Público e a Polícia Judiciária realizarão, no âmbito de 
suas respectivas atribuições, a investigação necessária para o termo inerente ao 
exercício da ação penal, de forma que, o Ministério Público dirige a 
investigação criminal e dispõe diretamente da Polícia Judiciária. Paulo Rangel 
detalha como o Ministério Público se posiciona em relação à investigação 
criminal: 
O Ministério Público Italiano tem a função imparcial de produzir toda a atividade 
necessária com o fim de concluir a investigação preliminar, delimitando a autoria, 
bem como circunstanciando os fatos delituosos praticados. Entretanto, agindo 
nitidamente como fiscal da lei, o Ministério Público na Itália deve, inclusive, colher 
informações que sejam, também, favoráveis ao investigado, o que corrobora nosso 
28 
 
entendimento de que antes de ser autor da ação penal, como no sistema acusatório 
adotado no Brasil, é ele defensor da ordem jurídica (2009, p. 145). 
Notadamente, a lei italiana confere ao Ministério Público poderes para 
comandar as investigações criminais, mas vai além, ao lhe impor que deve, 
também, atentar-se às provas que possam absolver, ou seja, mesmo com a 
atribuição de investigar criminalmente, a lei eleva o status do Parquet italiano a 
um Órgão, verdadeiramente, promovedor de Justiça. 
 
 
4.3 Ministério Público Lusitano 
A Constituição de Portugal, em seu artigo 219, prevê que “ao Ministério 
Público compete representar o Estado e defender os interesses que a lei 
determinar, bem como, nos termos da lei, participar na execução da política 
criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a ação penal orientada pelo 
princípio da legalidade e defender a legalidade democrática”. 
A lei processual penal lusitana, no artigo 267, ao tratar do inquérito, estabelece 
que O Ministério Público pratica os atos e assegura os meios de prova 
necessários à realização de tudo o que compreenda a finalidade e o âmbito do 
inquérito. Mas, o que deixa literal que o Ministério Público dirige a investigação 
criminal é a Lei Orgânica do Ministério Público, que no seu art. 3º, diz: 
Artigo 3.º Competência 
1 - Compete, especialmente, ao Ministério Público: 
[...] 
h) Dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras entidades; 
i) Promover e realizar acções de prevenção criminal; 
[...] 
3 - No exercício das suas funções, o Ministério Público é coadjuvado por 
funcionários de justiça e por órgãos de polícia criminal e dispõe de serviços de 
assessoria e de consultadoria. 
(<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=6&tabela=leis&so_m
iolo=> Acessado em 23/05/2017) 
29 
 
Paulo Rangel demonstra que, mesmo com os poderes do Ministério Público 
investigar criminalmente, a fase de investigar é tipicamente garantista, ao 
demonstrar o papel que o “juiz instrutor” assume nessa fase de investigação: 
A função desempenhada pelo juiz de instrução, na fase do inquérito policial no 
processo penal português, é tipicamente garantista, o que significa dizer: todas as 
medidas adotadas no inquérito policial de restrição aos direitos e garantias 
fundamentais previstas na Constituição da República Portuguesa somente poderão 
ser determinadas, exclusivamente, pelo juiz de instrução sendo o detido 
primeiramente interrogado pelo juiz instrutor. Assim, reserva-se ao magistrado a 
competência para determinar as medidas cautelares preparatórias da ação penal, 
colocando-o distante dessa fase, pois nãopoderá decretá-las de ofício, mas somente 
a requerimento do Ministério Público, da autoridade de polícia criminal em caso de 
urgência ou perigo na demora, do arguido ou do assistente (RANGEL, 2009, p. 
154). 
Nitidamente, trata-se de um sistema processual penal acusatório, com o 
Ministério Público figurando na acusação do processo penal, mas, antes disso, 
contando com a assistência da polícia judiciária, dirige todos os procedimentos 
da investigação criminal. 
Diante dos exemplos das legislações alienígenas apresentadas, nota-se que, de 
fato, a tendência mundial é um Órgão Ministerial atuante na investigação 
criminal. Para o Brasil foi um grande ganho a instituição poder contar com mais 
essa atribuição, dessa forma, o Ministério Público possui mais uma arma em 
defesa dos interesses da sociedade. 
 
30 
 
CAPÍTULO V 
 
5 O Ministério Público Brasileiro e o Poder de Investigar no Âmbito 
Criminal 
 
5.1 Metodologia 
Uma pesquisa científica é uma busca por uma verdade desconhecida. Para que o 
resultado dessa busca seja satisfatório, tem de ser claro e organizado, para que 
isso aconteça muito importante é o método a ser utilizado, pois este irá 
sistematizar com lógica e coerência tal busca. 
O método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior 
segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e 
verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as 
decisões do cientista. (LAKATOS e MARCONI, 2003, p 83) 
Nesta pesquisa foi utilizado o método descritivo, na tentativa de compreender o 
fenômeno a partir das características, a ele inerentes, que forem descobertas. 
Esse tipo de método busca descrever os fatos e fenômenos de determinada 
realidade, exigindo muita informação a respeito do que está sendo pesquisado. 
(TRIVIÑOS, 1987). Assim sendo, a abordagem foi a qualitativa, que 
proporcionou ao pesquisador formar uma opinião significativa e concreta quanto 
ao objeto pesquisado. 
[...] A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica 
entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, 
um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito [...] o 
sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os 
fenômenos, atribuindo-lhes um significado. (CHIZZOTTI, 1991, p 79) 
Os instrumentos de coleta de dados foram a revisão da literatura específica, a 
consulta do entendimento do Supremo Tribunal Federal – STF (a mais alta 
instância do poder judiciário brasileiro) a respeito da matéria pesquisada e a 
31 
 
entrevista semi-estruturada aplicada a um advogado e a um Procurador da 
República. 
 
5.2 Procedimento Investigatório Criminal (PIC) 
A acusação, via de regra, é feita pelo Ministério Público, por meio da Ação Penal 
Pública, da qual ele é o titular. Nessa fase, os elementos que consubstanciam a 
denúncia podem ter sido colhidos pela autoridade policial, via Inquérito Policial 
(IPL), mas, também, podem ter sido angariados pelo próprio Ministério Público, 
por meio do Procedimento Investigatório Criminal (PIC). Renato Brasileiro detalha 
a respeito desse instrumento a ser utilizado para a realização das investigações pelo 
órgão ministerial: 
O meio a ser usado pelo Parquet para a realização das investigações é o 
Procedimento Investigatório Criminal (P IC), o qual não exclui a possibilidade de 
formalização de investigação por outros órgãos legitimados da Administração 
Pública. Consiste o procedimento investigatório criminal no instrumento de natureza 
administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido por um membro do MP, com 
atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais, 
de natureza pública, fornecendo elementos para o oferecimento ou não da denúncia, 
estando regulamentado pela Resolução nº 13 do Conselho Nacional do Ministério 
Público. Esse procedimento poderá ser instaurado de ofício, por membro do 
Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento 
de infração penal, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação. 
Também poderá ser instaurado por grupo de atuação especial composto por 
membros do Ministério Público. Essa instauração deve se dar por portaria 
fundamentada, devidamente registrada e autuada, com a indicação dos fatos a serem 
investigados e deverá conter, sempre que possível, o nome e a qualificação do autor 
da representação e a determinação das diligências iniciais (LIMA, 2016, p. 133). 
Assim, pode-se afirmar que o PIC é mais uma garantia para a Justiça Penal, 
afinal, os membros do Ministério Público possuem independência funcional, que 
lhes é concedida pelo texto constitucional (art. 127, §1º, CF/88), já os delegados 
de polícia não dispõem dessa prerrogativa, estando sujeitos ao Poder Executivo, 
a quem são subordinados. 
 
32 
 
5.3 Resultados e Discussões – Uma Perspectiva Prática 
Saindo da esfera doutrinária e entrando em uma dimensão mais prática, foram 
entrevistadas duas personalidades que atuam no universo jurídico, um membro 
do Ministério Público Federal2 e um advogado3 militante da área penal. 
Quando indagado sobre quais as contribuições positivas que a prerrogativa de o 
Ministério Público investigar criminalmente traz a persecução da Justiça Penal, 
o advogado Marcelo Mendanha deixa logo claro sua posição: “Não concordo 
com o MP ter atribuição para investigar criminalmente e, por óbvio, não vejo 
como positiva a condução da investigação pelo Ministério Público.” Logo em 
seguida, aponta as conseqüências, que assim entende como negativas: 
O instituto do arquivamento do inquérito, na prática, não se aplicará à investigação 
conduzida pelo Ministério Público. O MP, via de regra, não irá pedir para arquivar 
sua própria investigação. Isso resulta no abuso da investigação, pois, a extrapolação 
dos prazos para conclusão da investigação não terão um controle, ao contrário do 
que ocorre com a autoridade policial, que sempre tem que pedir prorrogação de 
prazo para o IPL. Notadamente, a investigação conduzida pelo MP não está sujeita a 
controle. Além disso, o acesso aos autos pela defesa fica muito ao alvedrio do MP, 
por exemplo, como é o controle de vistas dos autos aos advogados? 
Essa dissensão quanto à prerrogativa do MP investigar criminalmente é, 
também, nutrida por alguns doutrinadores que, normalmente, representam as 
opiniões daqueles que atuam na defesa, na esfera penal, como Guilherme de 
Souza Nucci. 
O sistema processual penal foi elaborado para apresentar-se equilibrado e 
harmônico, não devendo existir qualquer instituição super poderosa. Note-se que, 
quando a polícia judiciária elabora e conduz a investigação criminal, é 
supervisionada pelo Ministério Público e pelo Juiz de Direito. Este, ao conduzir a 
 
2
 Igor da Silva Spindola – Membro do Ministério Público Federal e Chefe da Procuradoria da República em 
Redenção - PA 
igorspindola@mpf.mp.br 
 
3
 Marcelo Farias Mendanha – OAB/PA Nº 13.168A e OAB/GO 23.036 
Mestre em Ambiental pela Universidade Federal do Pará – UFPA, Especialista em Direito Processual Penal pela 
Universidade Federal de Goiás – UFG 
marcelo@ttmadvogados.com.br 
33 
 
instrução criminal, tem a fiscalização das partes – Ministério Público e advogados. 
Logo, a permitir-se que o Ministério Público, por mais bem intencionado que esteja, 
produza de per si investigação criminal, isolado de qualquer fiscalização, sem a 
participação do indiciado, que nem ouvido precisaria ser, significaria quebrar a 
harmônica e garantista investigação de uma infração penal (2016, p. 97). 
O membro doMinistério Público Federal, Igor da Silva Spindola, inquirido 
sobre o poder do Ministério Público investigar criminalmente, aponta 
contribuições positivas que esta prerrogativa traz a persecução da Justiça Penal: 
Um cuidado maior na produção dos elementos de materialidade delitiva, inclusive, 
objetivando essa produção, já que como titular da ação penal, é o membro do MP 
que faz o juízo acerca do valor daquela prova pra desencadear a ação penal, alem do 
mais, existem situações específicas em que não há como deixar a investigação com a 
polícia, como no caso de envolvimento de integrantes da própria polícia. Além do 
que, existem investigações simples, que se feitas diretamente pelo membro do MP, 
desafogam o trabalho do delegado, que pode focar em investigações mais 
complexas, de forma que, é melhor que o MP se mantenha como órgão de controle e 
a polícia investigue, afinal, a polícia tem mais expertise para tal. Mas, não 
reconhecer que o MP tem o poder para investigar, que é uma tarefa menor do que a 
maior, que é a de ajuizar a ação, é contraproducente quando se demonstra 
necessário. 
Na contramão da tendência mundial, há uma parcela de juristas que são 
contrários ao poder do Ministério Público investigar criminalmente, elencando 
algumas conseqüências negativas, das quais, a principal é o argumento da falta 
de controle dessa investigação conduzida pelo Ministério Público. O Procurador 
da República, Igor da Silva Spindola, argumenta quanto a essas, supostas, 
consequências negativas: 
Não há consequências negativas, tendo em vista que, ao fim, vai caber ao membro 
do MP dizer qual elemento da investigação é pertinente para eventual ação penal e 
qual não. É uma falsa ideia a de que não existe controle quando o MP investiga. O 
membro de primeiro grau está sempre subordinado a um órgão de revisão, no caso 
do MPF são as Câmaras, que fazem o controle interno. Externamente, há o controle 
judicial, afinal, o juiz terá acesso a tudo o que foi produzido durante a investigação 
quando esta se tornar processo. E, ainda, não podemos esquecer o advogado do réu, 
que pode ter vista dos autos durante a investigação e, depois, na fase processual 
poderá arguir qualquer eventual nulidade cometida anteriormente na investigação. 
Além do mais, existe jurisprudência farta do Supremo Tribunal Federal permitindo, 
em situações excepcionais, mas permitindo, o trancamento de investigações via 
habeas corpus, assim, há possibilidade de haver controle até mesmo social, tendo 
em vista que tal remédio constitucional pode ser impetrado sem quaisquer 
formalidades e por qualquer pessoa, reafirmando a força do poder judiciário no 
controle, quando necessário, do ministério público. Por fim, importante frisar que o 
CNMP, imbuído de seu poder normativo, tem regulamentado a gestão de 
34 
 
procedimentos, como os Procedimentos Investigatórios Criminais, realizada 
recentemente e que permitem a coibição de excessos, pelo próprio CNMP, via poder 
disciplinar, no caso de abuso ou desobediências a esses preceitos. 
Conforme preceitua o artigo 130A, § 2º, da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, "Compete ao Conselho Nacional do Ministério 
Público – CNMP – o controle da atuação administrativa e financeira do 
Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros". 
No dia 07 de Agosto de 2017, o CNMP expediu a Resolução nº 181, com 24 
artigos, e logo no seu artigo primeiro, define que tem por finalidade normatizar 
o PIC: 
Art. 1º O Procedimento Investigatório Criminal – PIC – é instrumento sumário e 
desburocratizado de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido 
pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como finalidade 
apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, servindo como 
preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação 
penal. 
§ 1º O membro do Ministério Público deverá promover a investigação de modo 
efetivo e expedito, evitando a realização de diligências impertinentes, desnecessárias 
e protelatórias e priorizando, sempre que possível, as apurações sobre violações a 
bens jurídicos de alta magnitude, relevância ou com alcance de número elevado de 
ofendidos. 
§ 2º O procedimento investigatório criminal não é condição de procedibilidade ou 
pressuposto processual para o ajuizamento de ação penal e não exclui a 
possibilidade de formalização de investigação por outros órgãos legitimados da 
Administração Pública. (grifo nosso) 
O parágrafo primeiro, do artigo primeiro, da resolução nº 181, do CNMP, deixa 
claro que existe uma preocupação por parte do Ministério Público em se evitar 
diligências impertinentes, desnecessárias e protelatórias, de forma que, o 
membro que se exceder ao manejar o Procedimento Investigatório Criminal, 
certamente, irá responder disciplinarmente por esses atos. 
Como supracitado, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do 
Supremo Tribunal Federal e a corrente majoritária da doutrina são favoráveis 
quanto à prerrogativa do Ministério Público investigar criminalmente. 
35 
 
Concordando com a fala do Procurador da República, Renato Brasileiro 
esclarece a respeito do controle da investigação e do acesso aos autos pelo 
advogado. 
Quanto à conclusão do PIC, são 3 (três) as providências que poderão ser adotadas 
pelo órgão ministerial, a saber: a) oferecimento de denúncia; b) declinação das 
atribuições para atuar em favor de outro órgão do Ministério Público; c) 
arquivamento dos autos, caso o membro do Ministério Público se convença da 
inexistência de fundamento para o oferecimento de denúncia, devendo essa 
promoção ser apresentada ao juízo competente, nos moldes do art. 28 do CPP, ou ao 
órgão superior interno responsável por sua apreciação (Procurador-Geral de Justiça, 
no âmbito do Ministério Público dos Estados ou Câmara de Coordenação e Revisão, 
no âmbito do Ministério Público Federal). [...] 
[...] da mesma forma que se assegura ao advogado acesso aos autos do inquérito 
policial, também se deve a ele assegurar o acesso aos autos desse procedimento, sob 
pena de violação ao preceito do art. 5º, LXIII, da Constituição Federal (LIMA, 2016, 
p. 133). 
Os posicionamentos do advogado Marcelo Mendanha e do Procurador da 
República Igor da Silva Spindola, que militam em trincheiras antagônicas, são 
de salutar importância, principalmente, ao proporcionar uma análise interna de 
como é tratado esse instituto, demonstrando que o membro que manejar esse 
recurso investigatório estará sujeito a mais de uma forma de controle, não 
violando nenhuma garantia do investigado, deixando claro que, a consequência 
mais provável é que esse instituto pode e sempre poderá fazer uma enorme 
diferença na persecução da Justiça Penal com eficiência. 
 
36 
 
CAPÍTULO VI 
 
Considerações Finais 
Conferir o poder de investigar criminalmente ao Ministério Público é totalmente 
compatível com o sistema de persecução penal acusatório elegido pela 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que se caracteriza pela 
pluralidade de sujeitos, com a acusação e a defesa em paridade de condições e, 
se sobrepondo à ambas, o julgador, imparcial e eqüidistante. 
A exclusividade da polícia investigar criminalmente é visivelmente rechaçada 
no Código de Processo Penal, principalmente no artigo 39, § 5º, ao explicitar 
que se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a 
promover a ação penal, o Ministério Público poderá dispensar o inquérito. 
Porém, o Ministério Público não pretende substituir-se no papel da polícia 
investigativa, afinal quem detém equipamento, efetivo e treinamento voltado 
para a investigação é a polícia. Assim, é melhor que a polícia investigue e o 
Ministério públicose mantenha como Órgão de controle, mas, negar que o MP 
tem o poder para investigar, que é uma tarefa menor do que a maior, que é a de 
ajuizar a ação, é ilógico. 
A prerrogativa de o Ministério Público investigar criminalmente é um poder 
implícito na Constituição, pois, quando o texto constitucional concedeu ao 
Ministério Público uma atividade-fim, qual seja, a titularidade da ação penal 
pública, culminou por, implicitamente e simultaneamente, a ele também 
conceder todos os meios necessários para a consecução daquele objetivo. 
A investigação conduzida pelo Ministério Público, não visa, necessariamente, a 
condenação do investigado, pois, mesmo após o oferecimento da denúncia, o 
Ministério Público pode pugnar pela absolvição do réu. Assim, a investigação 
37 
 
deve visar a obtenção de um lastro probatório o mais fiel possível, buscando 
suprimir uma eventual falência da investigação conduzida pela autoridade 
policial e a se evitar denúncias temerárias, quando houver, por exemplo, 
eventuais suspeitas de parte da polícia judiciária de uma localidade. 
A possibilidade de o Ministério Público eventualmente investigar, não fere o 
princípio da paridade de armas, uma vez que a prova colhida pelo Ministério 
Público terá o mesmo peso daquela realizada pela defesa ou pela autoridade 
policial e será, ao final, valorada pelo Juiz. 
Somente alguns países inexpressivos, no quesito contribuição para a ciência 
penal, em que a polícia tem exclusividade de apuração da infração penal. É uma 
tendência mundial conferir ao Ministério Público a prerrogativa de investigar 
criminalmente. 
A investigação conduzida por um membro do Ministério Público será controlada 
internamente pelo Procurador-Geral de Justiça, no âmbito do Ministério Público 
dos Estados ou pelas Câmaras de Coordenação e Revisão, no âmbito do 
Ministério Público Federal. Será controlada externamente pelo advogado do 
investigado, que poderá ter vista dos autos e posteriormente pelo juiz, ao valorar 
as provas colhidas. 
Contudo, pode-se afirmar que o poder do Ministério Público investigar 
criminalmente é salutar para a persecução da Justiça Penal, uma vez que, com 
toda a pesquisa realizada, angariou-se várias consequências positivas, como 
possibilitar que outro Órgão possa investigar quando houver suspeitas do 
envolvimento de integrantes da própria polícia, o desafogamento do trabalho do 
delegado, ao possibilitar que o Ministério Público proceda com investigações 
simples, deixando o delegado focar em investigações mais complexas e, talvez a 
mais importante de todas, a maior liberdade que o membro do Ministério 
38 
 
Público possui ao investigar autoridades públicas, em decorrência da 
independência funcional, conferida pela Constituição Federal, prerrogativa esta 
que o delegado de polícia não possuí. 
Em contrapartida, as supostas conseqüências negativas, que resumiram-se como 
“falta de controle do Procedimento Investigatório Criminal” e em” possíveis 
excessos por parte do membro do Ministério Público”, foram amplamente 
rechaçadas, uma vez que demonstrou-se que o Procedimento Investigatório 
Criminal é regulamentado pelo CNMP, por meio da Resolução nº 181 de 2017, 
que garante o acesso ao advogado, que poderá impetrar Habeas Corpus4 para 
trancar eventual investigação abusiva, sem falar que, ao final da investigação, 
com a Denúncia, tudo irá para as mãos do Juiz, que também exercerá uma forma 
de controle. 
Por fim, pode-se afirmar com clareza e certeza que o Ministério Público é uma 
instituição que possuí as características necessárias e suficientes para manejar 
um instrumento investigatório no âmbito criminal, garantindo a persecução 
penal e ainda manter-se na vanguarda da Justiça em prol da sociedade. 
 
 
4
 "Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação 
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder" - Artigo 5°, inciso LXVIII, da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988. 
39 
 
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