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CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 1 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Aula Quatro – Parte 1 Prezados (as) Alunos (as), Neste quarto encontro optei em dar continuidade à abordagem relativa ao setor público. Digo isso porque na aula três abordamos diversos temas inerentes à intervenção do Estado no processo econômico, a exemplo da reforma tributária, previdência e o Federalismo Fiscal. O tema relativo à Lei de Responsabilidade Fiscal é de especial importância, haja vista que esta lei teve um grande impacto positivo sobre a condução das finanças públicas no país. Adicionalmente, e conforme será verificado ao longo da aula, a concessão de crédito a empresas públicas e a governos, realizada frequentemente pelo BNDES, passa pelo cumprimento de uma série de requisitos, entre os quais a necessidade de cumprimento de uma série de metas fiscais (nível de dívida pública) por parte dos entes governamentais e das próprias empresas públicas para obter o direito de recebimento de crédito. Ademais, segundo a própria norma legal, existe obrigatoriedade imposta pela LRF às concedentes de crédito (instituições financeiras), a exemplo do BNDES, de verificar o atendimento por parte de entes públicos dos requisitos impostos pela lei. Considerando a série de pontos que podem ser cobrados em prova pela CESGRANRIO, optei, por sensatez e prudência, em dividir a aula em duas partes, sendo a primeira disponibilizada hoje, dia 4 de novembro, e a segunda disponibilizada na próxima sexta-feira, dia 11 de novembro. Não adianta simplesmente disponibilizar a vocês uma aula com mais de 100 páginas e fazer com que vocês tenham que deglutir o assunto tudo de uma vez. Como o tema envolve uma norma legal, muitas vezes será necessária a conceituação jurídica, o que não é uma coisa tão comum em nosso dia a dia. Uma aula organizada, e que permita o adequado entendimento do assunto, com certeza CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 2 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br permitirá a vocês conhecer um pouco mais deste tão importante instrumento de condução das finanças públicas do país. Nosso propósito nesta aula não é pormenorizar a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas sim permitir a vocês uma leitura objetiva e dinâmica, direcionada à resolução das questões elaboradas tanto pela CESGRANRIO quanto por outras bancas. Numa análise das provas elaboradas pela CESGRANRIO para concursos do BNDES, verificamos que quando cobrado o tema por meio de questões, este fica restrito a apenas uma única questão. Isto naturalmente se deve a grande quantidade de pontos presentes no conteúdo programático. Por fim, informo desde já o link referente à lei objeto de debate da aula de hoje. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm Em frente! Um abraço, Mariotti CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 3 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 1. Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – Considerações Iniciais Partindo do pressuposto de que podemos ter colegas que já tenham estudado um pouco mais a respeito da Lei de Responsabilidade Fiscal, gostaria de fazer algumas considerações importantes: A Lei Complementar n° 101 de 2000 - LRF não revoga a Lei nº 4.320/64. Os objetivos das duas normas são distintos. A Lei nº 4320/64 estabelece as normas gerais para a elaboração e o controle dos orçamentos e balanços, a LRF estabelece normas de finanças públicas voltadas para a gestão fiscal. Por outro lado, a Constituição Federal deu à Lei nº 4.320/64 o status de Lei Complementar. Não obstante, existindo algum dispositivo conflitante entre as duas normas jurídicas, prevalece a vontade da Lei mais recente. A LRF atribui à contabilidade pública novas funções no controle orçamentário e financeiro, garantindo-lhe um caráter mais gerencial. Com a LRF, as informações contábeis passarão a interessar não apenas à administração pública e aos seus gestores. A sociedade passa a tornar-se participante do processo de acompanhamento e fiscalização das contas públicas, mediante os instrumentos que a LRF incorpora para esta finalidade. 1.1 Introdução Aos governos, divididos entre os três entes da Federação, União, Estados (assim como o Distrito Federal) e Municípios, cabe zelar pela manutenção do equilíbrio das suas contas. Esta preocupação, que se caracteriza na responsabilidade do poder público pelo controle das contas públicas, já era exarada a 2065 anos atrás (55 a. c.), nas palavras do Imperador Marcus Tullius de Roma: “O orçamento deve ser equilibrado. As Dívidas Públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 4 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública.” Passados mais de 1944 anos, o ilustre Rui Barbosa, quando da Proclamação da República no Brasil, disse: “O lema do novo regime, deve ser, pois, fugir dos empréstimos e organizar a amortização, não contrair novas dívidas e reservar, ainda que com sacrifício nos seus orçamentos, quinhão sério ao resgate (...), o desequilíbrio entre a receita e a despesa é a enfermidade crônica da nossa existência nacional". Nos países e, em especial no Brasil, o controle da despesa pública tomou grande dimensão na última década, capitaneada pela crescente pressão popular diante do regime democrático de direito e pela preocupação dos novos agentes políticos com o excesso de gastos públicos. Com o fim do processo inflacionário, em que os próprios governos nacionais e subnacionais auferiam receitas provenientes do chamado imposto inflacionário, cresceu a necessidade de controle efetivo sobre os gastos públicos, uma vez que a própria geração de receita advinda do poder de império do Estado, e que antes funcionava como principal tampão para os consecutivos déficits das contas públicas, passou a ser alvo de críticas e manifestações populares de uma sociedade livre e participativa. Em nosso país o controle dos gastos públicos tomou grande vulto com a publicação da chamada Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que estabeleceu rígido regramento para a gestão e o controle das contas públicas de todos os entes da Federação. O controle das contas passa pela adequada estimação das receitas e da fixação dos gastos, especialmente os relacionados às despesas de caráter continuado (despesas de pessoal) e as relacionadas com a dívida pública . CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 5 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 1.2 Histórico, propósitos e pressupostos da LRF A LRF foi estruturada tendo como base uma série de normas internacionais vinculadas às melhoras práticas de gestão fiscal. A chamada Fiscal Transparency, editada pelo Fundo Monetário Internacional– FMI, foi uma destas normas. No seu corpo foram estabelecidas as seguintes orientações: a) As funções de política e gestão devem ser bem definidas, informando ao público as atividades ocorridas, em ocorrência e a ocorrer; b) O orçamento deve especificar objetivos da política fiscal, estrutura macroeconômica, políticas orçamentárias e o risco fiscal; c) As informações orçamentárias devem ser de fácil análise, sendo apresentadas regularmente ao legislativo e ao público em geral. Nos itens “a”, “b” e “c” temos subjacente a própria noção do que definimos como o planejamento da administração pública, a partir da elaboração, discussão, votação e publicação dos instrumentos que norteiam as contas públicas, estes capitaneados pelo Planu PluriAnual - PPA, que caracteriza-se como o Planejamento Estratégico dos entes da Federação, a Lei de Diretrizes orçamentárias – LDO, responsável por orientar e subsidiar a elaboração do instrumento de planejamento operacional, qual seja a Lei Orçamentária Anual - LOA, que é o terceiro instrumento de planejamento da Administração Pública. Quando se fala em objetivos da política fiscal, deve ficar claro para a sociedade que o governo deve buscar objetivos específicos com os gastos que este realiza, de forma a minimizar as distorções existentes no país (distribuição da renda, pobreza, etc). Os riscos fiscais devem ser tratados de forma pormenorizada, conforme preconiza a própria LDO, evitando “surpresas” na condução e administração do orçamento. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 6 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Finalmente, se formos específicos em relação à letra “c” acima destacada, que afirma que as informações orçamentárias devem ser de fácil análise, com apresentação regular ao legislativo e ao público em geral, nos voltaremos à etapa final do chamado ciclo orçamentário, referente ao controle e avaliação dos resultados da execução orçamentária ano a ano. Aliás, ao se destacar a apresentação do resultado da efetivação do orçamento, não poderemos deixar de chamar atenção para uma nova “possível” e possível cobrança de questão de prova a respeito da LRF. Trata-se da Lei Complementar 137, de 27 de maio de 2009. Esta assim dispõe: “Acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.” (negrito nosso). As alterações referem-se à inclusão dos artigos 48-A, 73-A, 73-B e 73-C. Apenas para fins de elucidação, pois voltaremos a tratar deste assunto quando da abordagem dos instrumentos de transparência na última aula, destacamos o conteúdo do artigo 48-A: “Art 48-A: Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a: I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado; CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 7 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários.” Como se pode ver, tem se adotado, ao menos em tese, as orientações que visam facilitar o controle por parte da sociedade dos atos praticados pelos governantes, de forma a tornar efetiva a aplicação dos recursos escassos de nossa sociedade. Em complemento a esta abordagem inicial, destacamos algumas outras normas e diretrizes de gestão fiscal que conduziram a elaboração da LRF, em especial o chamado Tratado de Maastricht, no âmbito da antiga Comunidade Econômica Européia, hoje União Européia, e a Fiscal Responsability Act, da Nova Zelândia, que propugnaram em seu teor a redução da dívida fiscal em nível sustentado pelo crescimento econômico dos respectivos países envolvidos. 1.3 Definições, princípios, objetivos e o planejamento a partir da LRF A responsabilidade preconiza a adoção por parte dos governos e dos seus executores, os governantes, do fiel cumprimento de suas funções administrativas. A chamada Responsabilidade Fiscal associa-se a este contexto ao relacionar a função do gestor público à efetiva administração recursos públicos arrecadados. A LRF insere-se nesse contexto ao definir-se como um marco legal que define regras claras e objetivas que devem ser seguidas por todos os gestores dos recursos públicos. O planejamento é a base de toda a elaboração da LRF. Um planejamento adequado da melhores condições de cumprir os demais dispositivos definidos na lei. A LRF estabelece regras, limites e diversos mecanismos de correção de CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 8 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br desvios, com trajetórias, prazos, formas de adequação e, por último, sanções institucionais, em caso de descumprimento da lei. A Lei Complementar 101/2000 estabeleceu limites máximos, por Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), para as despesas de pessoal, em percentual da Receita Corrente Líquida (RCL). No que tange ao endividamento, determina a relação máxima que os estados e os municípios podem apresentar da Dívida Consolidada Líquida (DCL) sobre a RCL. Não menos importante, destaca-se que a LRF proibiu o financiamento dos municípios e dos estados junto ao Banco Central, e os empréstimos da União e dos estados aos municípios. Os governos também ficam impedidos de levantar recursos por intermédio das entidades por eles controladas e de antecipar receitas em relação a fato gerador não ocorrido. A LRF ainda estabeleceu a necessidade de transparência na gestão fiscal, devendo ser apresentada ao beneficiário final das ações públicas, a sociedade, os resultados das políticas adotadas e executadas por meio dos orçamentos dos entes da federação. A elaboração da LRF foi baseada e fundamentada no art. 163 da CF, que assim dispõe: Art. 163. Lei complementar disporá sobre: I - finanças públicas; II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; III - concessão de garantias pelas entidades públicas; IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública; V - fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 9 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br VII - compatibilização das funções das instituiçõesoficiais de crédito da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. Não pretendemos adentrar as nuanças deste dispositivo constitucional, dando apenas fundamentação para trabalharmos os princípios implícitos na LRF. 1.4 Transparência Trata-se da principal novidade da LRF e que deveria sempre ter sido a principal preocupação dos governantes. A Lei destaca no seu corpo uma série de pontos que estão diretamente associados à transparência, dentre os quais destacamos: • A elaboração dos orçamentos de forma clara e condizente com os instrumentos utilizados para tal (Plano PluriAnual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual); • Relatórios de execução dos orçamentos aprovados ano a ano, com o objetivo de verificação e efetividade do que foi planejado; • Relatório de Gestão Fiscal, em que são categorizados as metas fiscais (gastos e receitas) e os riscos provenientes dos orçamentos e da dívida pública; e • Prestação de Contas ao poder legislativo a e própria sociedade, conforme destacamos no início da aula (Art. 48 da LRF). CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 10 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 1.5 Equilíbrio A noção trazida pela LRF é aquela referente ao equilíbrio das contas públicas, e não somente o relativo ao equilíbrio orçamentário. Trata-se do equilíbrio das chamadas “contas primárias”, traduzida em um resultado primário positivo. Significa, em outras palavras, que o equilíbrio a ser buscado é o equilíbrio auto-sustentável, ou seja, aquele que prescinde da constituição de dívidas por meio de operações de crédito para fechamento das contas públicas. 1.6 Responsabilidade A responsabilidade está diretamente associada à noção de obediência, uma vez que a LRF determina o cumprimento de metas de resultado das contas públicas, a obediência a uma série de limites, dentre os quais destacamos: • Realização de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita orçamentária – ARO; • Limites de dívida consolidada, inclusive de dívida mobiliária; • Limites de despesa de pessoal e cumprimento para geração de despesa de pessoal, além das despesas de seguridade social; • Cumprimento de condições para renúncia de receitas; Na segunda parte da aula teceremos comentários específicos sobre cada um dos pontos que compõem o princípio da responsabilidade na administração das contas públicas. 1.7 Objetivos da LRF São diversos os objetivos da LRF, conforme se pode depreender da pequena análise feita até agora. De todo modo, se pontuarmos o seu CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 11 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br principal objetivo, nos voltaremos ao caput do art. 1o da norma que assim consiste em: “estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal”. Já o parágrafo 1 o estabelece a noção de responsabilidade na gestão fiscal: “1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar.” Conforme verificamos, a responsabilidade é a própria noção dos objetivos da LRF. Assim, pode-se afirmar que diversos pontos da LRF enfatizam a ação planejada e transparente na administração pública. A ação planejada nada é aquela baseada em planos previamente traçados que, no serviço público, são representados pelos instrumentos de planejamento (PPA, LDO e a LOA), estes sujeitos à apreciação e aprovação legislativa, o que garante o controle efetivo e a aprovação por parte da própria população, ao menos em tese, pela votação do poder legislativo. 1.8 Abrangência da LRF A LRF tem abrangência sobre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme dispõe o parágrafo 2o do artigo 1o, uma vez que as suas CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 12 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br disposições são orientadas na melhoria e na eficiência da gestão fiscal de todos os entes da federação. “§ 2o As disposições desta Lei Complementar obrigam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. § 3o Nas referências: I - à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estão compreendidos: a) o Poder Executivo, o Poder Legislativo, neste abrangidos os Tribunais de Contas, o Poder Judiciário e o Ministério Público; b) as respectivas administrações diretas, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes; II - a Estados entende-se considerado o Distrito Federal; III - a Tribunais de Contas estão incluídos: Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado e, quando houver, Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de Contas do Município.” Destacamos agora uma questão recentíssima retirada da prova de Economista da Defensoria Pública da União – DPU, aplicada pelo CESPE: (ECONOMISTA/DPU – CESPE/2010) O conceito de responsabilidade fiscal diz respeito a diversos órgãos e entidades públicas. Assinale a opção que apresenta órgão ou entidade excluído desse conceito. a) Supremo Tribunal Federal b) Banco Central do Brasil c) Tribunal de Contas da União d) Senado Federal e) PETROBRAS CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 13 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Comentários: Pela leitura do parágrafo 2o do artigo 1o da LRF, verifica-se que a única alternativa incorreta é a letra “e”, uma vez que a PETROBRAS é considerada uma SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA, sendo ainda uma empresa enquadrada como empresa estatal controlada não dependente, não estando assim abrangida pelas regras da impostas pela LRF. As empresas controladas são as sociedades cuja maioria do capital social com direito a voto pertença, direta ou indiretamente, a ente da Federação. (Ex: INFRAERO). Já uma empresa estatal dependente é aquela que, além de ser controlada, recebe do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária. (Ex: EMBRAPA). Após a leitura da definição, surge a necessidade de atentar que este tipo de questão tenta na verdade confundir o concursando, uma vez que mistura o conceito de empresa controlada com estatal dependente. A PETROBRAS é uma empresa controlada pela União, mas não dependente, uma vez o pagamento de suas despesas com pessoal ou de custeio em geral não estão dispostas no orçamento fiscal. 1.9 Efeitos no planejamento e (novo) processo orçamentárioA LRF teve importante papel modificativo no processo orçamentário dos entes da federação. Os três Poderes, o Ministério Público e os Tribunais de Contas passaram a publicar, com periodicidade quadrimestral e anual, demonstrativos fiscais indicando o volume de gastos com pessoal (em cada Poder ou órgão), além das despesas inscritas em restos a pagar. Essas informações eram desconhecidas das finanças públicas nacionais até então. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 14 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br A Constituição Federal de 1988 promoveu o aumento da participação do poder legislativo no processo orçamentário, através da inclusão do Plano PluriAnual – PPA e da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO. A LRF veio melhorar a noção trazida pela CF, uma vez que passou a conferir aos três instrumentos de planejamento da administração pública, PPA, LDO e Orçamento – LOA, um caráter integrado nos três níveis de governo. Nesse sentido, foi institucionalizado o regime de metas fiscais, fazendo com que o orçamento seja elaborado para cumprir as metas físicas do PPA e as metas fiscais da LDO. 1.10 O PPA e a LRF O PPA é o instrumento de ação pública que deve orientar a política orçamentária por um período de quatro anos. O PPA estabelecerá, de forma regionalizada, diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras dela decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Grande parte dos autores afirma que a LRF praticamente silenciou-se em relação ao PPA, fazendo apenas a ressalva que o orçamento anual, representado pela LOA, deve ser elaborada de forma compatível com o PPA, com a LDO e com a própria LRF. Não obstante, entendemos que a LRF de fato deu menor importância ao PPA do que a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, conforme veremos adiante. De todo modo, na subseção I, art 17, ao tratar das despesas obrigatórias de caráter continuado, a LRF criou a efetiva relação desta com o PPA. Diz o artigo que a despesa de caráter continuado é aquela despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 15 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Conforme se pode entender, uma despesa de caráter continuado encontra-se dentro do período de vigência PPA, motivo pelo qual devem ser seguidas regras rígidas impostas na LRF a respeito do tema. Na segunda parte da aula detalharemos as despesas de caráter continuado, de forma a entendermos quais são os requisitos impostos na responsabilidade fiscal para geração de despesas prolongadas. 1.11 A LRF e a LDO Para a Lei de Diretrizes Orçamentárias coube uma série de funções imputadas pela Lei Responsabilidade Fiscal. O seu art. 4o estabelece que a lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2o do art. 165 da Constituição e: I - disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no art. 9o e no inciso II do § 1o do art. 31; c) (VETADO) d) (VETADO) e) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; f) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; A noção de equilíbrio entre receitas e despesas presente na LDO segue a mesma definição debatida dentro da análise dos princípios da LRF, qual seja a de que se trata do equilíbrio das chamadas “contas primárias”, traduzida em um resultado primário positivo. Significa, em outras palavras, que o equilíbrio a ser buscado é o equilíbrio auto-sustentável, ou seja, aquele que prescinde da CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 16 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br constituição de dívidas por meio de operações de crédito para fechamento das contas públicas. Os critérios de limitação de empenho (deixar de empenhar para que não seja necessário pagar), decorrem da necessidade em que a receita seja inferior a esperada, de modo a não comprometer as metas de resultado primário e nominal previstas para o exercício. Segundo a art. 9o da LRF, o qual trata de execução do orçamento, se verificado que, ao final de um bimestre, a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. Vejamos mais uma questão retirada da prova de Economista do DPU aplicada pelo CESPE, mas que está formatada em múltipla escolha, de forma a se adequar ao tipo de questão cobrada pela CESGRANRIO: (ECONOMISTA/DPU – CESPE/2010) De acordo com a LRF, é correto afirmar que, se administração pública verificar, ao final de determinado bimestre, que a receita foi significativamente inferior à esperada, de modo que a sua realização poderá não comportar o cumprimento de metas de resultado primário ou nominal estabelecidas em anexo de metas fiscais daquele ano, os Poderes e o Ministério Público devem promover a) limitação de desembolsos financeiros, segundo critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. b) limitação de empenho e movimentação financeira, segundo critérios fixados pela lei orçamentária. c) limitação de empenho e movimentação financeira, segundo critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 17 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br d) o reajuste da previsão da receita, para ajustá-la à nova perspectiva de arrecadação. e) limitação de desembolsos financeiros, segundo critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. Comentários: Conforme descrito anteriormente, ressaltado o art. 9o da LRF, se verificado que, ao final de um bimestre, a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. Gabarito: letra “c”. O controle de custos de administração pública está intimamente relacionado ao equilíbrio das contas públicas, uma vez que os resultados primário e nominal são diretamente dependentes da geração de despesas. Quanto às normas relativas à avaliação dos programas financiados pelo orçamento, é importante destacar que se tratam de normas que possibilitem à administração pública aferir os resultados tanto dos programas que resultem em bens e serviços ofertados à sociedadediretamente (Programa de Aceleração do Crescimento – PAC), que, a princípio, são de mais fácil mensuração, já que possuem uma limitação no tempo, como também os programas que resultem em serviços típicos de Estado, aí incluídos o planejamento, a formulação de políticas setoriais, a coordenação, a avaliação ou o controle dos programas que gerem bens e serviços a mesma sociedade. A possibilidade explícita de serem desvirtuados os fins da transferência de recursos às entidades públicas e privadas, fez com que a LRF estabelecesse CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 18 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br regras rígidas a serem seguidas nestas situações, conforme previsto nos artigos 25 e 26 da própria Lei de Responsabilidade Fiscal. Vejamos assim mais uma questão cobrada em prova referente à LRF, fazendo esta menção direta ao que acabamos de debater e que procura simplesmente fazer uma pegadinha com o candidato: (ANALISTA CONTÁBIL/SEFAZ-CE – ESAF/2007) Nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal, a lei de diretrizes orçamentárias não disporá sobre o(a) a) promoção do equilíbrio entre receitas e despesas; b) estabelecimento de normas e critérios para a limitação de empenho pelos entes constantes do orçamento; c) definição das demais condições e exigências para transferência de recursos constitucionais e legais de recursos; d) definição de normas relativas ao controle de custos da administração pública; e) fixação de normas para a avaliação de resultados dos programas previstos no orçamento. Comentários: Numa análise rápida e objetivo das assertivas da questão, entendemos que todas estão corretas, pois de fato estão representadas diretamente pelo disposto no art. 4o da LRF. De todo modo, importa ressaltar que o termo “entes” previsto na assertiva “b” da questão, extrapola a noção dos critérios de limitação de empenho narrados no próprio artigo 9o da LRF. Diz o mesmo artigo: “...se verificado que, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 19 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.” Perceba que se trata da limitação de empenho por parte dos poderes e do Ministério Público de um único ente, qual seja o da União, e não da limitação de empenho pelos demais entes da federação (Estados, DF e Municípios). 1.12 A LRF e o Anexo de Metas Fiscais da LDO Conforme já destacado, a LRF promoveu o fortalecimento da LDO. Segundo a Lei que trata da responsabilidade fiscal, em seu parágrafo 1o do artigo 4o, deve integrar a própria LDO enviada ao Congresso Nacional, o chamado anexo de metas fiscais. “§ 1o Integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias, Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes.” Por meio de uma leitura rápida, verifica-se que no Anexo de Metas Fiscais - AMF serão estabelecidas metas anuais em valores correntes (referentes ao mesmo ano) e constantes (desconsiderando a variação do índice inflacionário) para um período de três anos. Essas metas correspondem às previsões para receitas e despesas, resultado nominal e resultado primário, além do montante da dívida pública, também para os três anos subsequentes, isto é, o exercício a que se referir a LDO e os dois seguintes. Verifica-se assim que a LDO tem um caráter muito maior do que meramente ser norteadora da elaboração do orçamento anual para o ano vindouro, uma vez que procura dimensionar o resultado das contas públicas para um período superior ao CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 20 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br exercício financeiro seguinte, de tal forma que o administrador das contas públicas terá como responsabilidade o cumprimento das metas ali estipuladas, utilizando-se para tal, inclusive, os atributos e recomendações exarados no art. 9o da LRF, qual seja o relacionado à limitação de empenho das despesas. O AMF conterá ainda, conforme dispõe o parágrafo 2o do artigo 4o, o seguinte: I - avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior; II - demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e metodologia de cálculo que justifiquem os resultados pretendidos, comparando-as com as fixadas nos três exercícios anteriores, e evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica nacional; III - evolução do patrimônio líquido, também nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos; IV - avaliação da situação financeira e atuarial: a) dos regimes geral de previdência social e próprio dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador; b) dos demais fundos públicos e programas estatais de natureza atuarial; V - demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. A avaliação do cumprimento das metas de exercícios anteriores, ou seja, que se referem aos resultados pretéritos, deverão influenciar a elaboração das novas metas a serem alcançadas, ainda segundo a lei, “evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica nacional”. Entenda-se neste caso como objetivos atuais da política econômica nacional, o equilíbrio fiscal e o controle do endividamento em todos os níveis CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 21 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br de Governo, que pode, inclusive, ser alterado, desde que cumpridos todos os requisitos impostos pela própria LRF. O AMF deve apresentar a evolução do patrimônio líquido dos entes públicos, com especial cuidado quanto à destinação dos recursos originários das privatizações e alienações de ativos, uma vez que estes não devem integrar a chamada Receita Corrente líquida, objeto de abordagem posterior, dado que estas receitas são receitas de capital e como tal não integram também o resultado primário das contas públicas. O Anexo de Metas Fiscais incluirá, ainda, a avaliação da situação dos fundos de caráter previdenciário, utilizados em geral na complementação de aposentadorias, ou simplesmente no pagamento de pensões e serviços médicos utilizados pelos servidores e seus dependentes. No passado, recursos desses fundos eram utilizados com freqüência para finalidades diversas daquelas previstas em seus estatutos. Busca a LRF, desta forma, proteger os regimes próprios de previdência, assegurando a utilização dos seus recursos na finalidade específica e garantindo a sua viabilidadeeconômico-financeira. Finalmente, mas não menos importante, destaca-se que o AMF deverá apresentar as estimativas dos efeitos de incentivos fiscais ou qualquer tipo de renúncia que importe na perda de receitas próprias da União, dos Estados ou dos Municípios. A apresentação da margem de expansão das despesas de caráter continuado, definidas nos artigos 16 e 17, torna transparente os objetivos de longo prazo do administrador público, além da herança que uma administração poderá deixar para a sucessora. Certamente que a renúncia fiscal e as despesas de caráter continuado trarão impacto sobre a Receita Corrente Líquida e sobre o Resultado Primário. Na segunda parte aula, ao abordarmos o artigo 14 da LRF, referente à Renúncia de Receita, destacaremos os critérios que devem ser seguidos pelos administradores públicos. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 22 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Vamos à análise de mais uma questão elaborada por outra banca, meramente para fixarmos o conteúdo ora desenvolvido: (APO/MPOG – ESAF/2008) A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) atribuiu novas e importantes funções ao orçamento e à Lei de Diretrizes Orçamentárias. Nos termos da LRF, a Lei de Diretrizes Orçamentárias recebeu novas e importantes funções entre as quais não se inclui: a) mostrar as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual e respectivas receitas, sendo o financiamento da dívida demonstrado de forma separada nas leis de créditos adicionais. b) estabelecer critérios e formas de limitação de empenho, na ocorrência de arrecadação da receita inferior ao esperado, de modo a comprometer as metas de resultado primário e nominal previstas para o exercício. c) quantificar o resultado primário obtido com vistas à redução do montante da dívida e despesas com juros. d) dispor sobre o controle de custos e avaliação dos resultados dos programas financiados pelo orçamento. e) disciplinar as transferências de recursos a entidades públicas e privadas. Comentários: Conforme já comentado, a LRF atribui uma série de responsabilidades à LDO, em que além do disposto no art. 165 da CF, esta deve dispor sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no art. 9o e no inciso II do § 1o do art. 31; c) (VETADO) d) (VETADO) CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 23 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br e) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; f) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; O parágrafo 1o do próprio artigo 4o estabelece que: § 1o Integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias, Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. Perceba que o parágrafo não é explicito, nos moldes das demais assertivas, quanto à redução do montante da dívida e despesas com juros. Não obstante, importa mencionar que este é a própria intenção do parágrafo, uma vez que a ocorrência de conseqüentes resultados primários positivos (superávits), tende a gerar caixa extra ao governo com fins de realizar o pagamento dos juros da dívida pública além de, com sua sobra, caso exista, abater montante da dívida. Essa política, sistematizada por meio da LRF, surgiu do espectro de mudanças realizadas pelo país no controle do déficit primário, seguindo recomendação do Fundo Monetária Internacional quando da crise ocorrido no fim dos anos de 1990. Como se sabe, um dos principais motivos causadores da crise ocorrida foi a desconfiança por parte dos investidores internacionais, credores da dívida brasileira, quanto à capacidade de pagamento pelo país de sua dívida externa. Mudanças institucionalizadas em lei, nos moldes da realizada pela LRF, tende a melhorar a imagem do país no exterior, tornando a própria obtenção de recursos mais barata em termos da taxa de juros pagas pelos empréstimos tomados, haja vista o próprio risco associado ao não pagamento por conta da incapacidade do país de geração de caixa. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 24 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Diante da leitura da letra fria da Lei bem como da análise referente à assertiva “b”, fica clara que a opção incorreta é a letra “a”, uma vez que a LRF não atribui à LDO a função de demonstrar a discriminação das despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual, função esta atribuída pela LRF à LOA. Como lembrança, vale lembrar que o Anexo de Metas Fiscais – AMF estabelece metas fiscais. 1.13 A LRF e o Anexo de Riscos Fiscais da LDO O anexo de riscos fiscais, presente no § 3º do art. 4º da LRF, estabelece o dimensionamento dos riscos que venham a impactar as contas do governo, sejam os referentes ao próprio orçamento, sejam aqueles relativos às dívidas. “§ 3o A lei de diretrizes orçamentárias conterá Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem.” Verifica-se que os riscos fiscais estão associados a todos os compromissos assumidos pela administração pública que podem ter o seu valor alterado durante o período de vigência do próprio orçamento. O Anexo de Riscos Fiscais, presente na LDO, apresenta uma subdivisão entre os tipos de risco fiscal existentes. Trata-se da subdivisão tratada pela Portaria STN número 470, de 31 de agosto de 2004. Segundo a mesma Portaria, os Riscos Fiscais são subdivididos em Riscos Orçamentários e Riscos da Dívida. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 25 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Os Riscos Orçamentários são derivados da possibilidade de frustração de receita pública ou de geração de despesa se confirmar em montante superior ao estimado. No parágrafo 4o do artigo 4o da LRF consta a necessidade da União apresentar em anexo específico da LDO os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus principais agregados e variáveis, e ainda as metas de inflação, para o exercício subseqüente. “4o A mensagem que encaminhar o projeto da União apresentará, em anexo específico, os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus principais agregados e variáveis, e ainda as metas de inflação, para o exercício subseqüente.” Verifica-se assim que em anexo específico da LDO é previsto, por exemplo, o crescimento do PIB para o ano vindouro. Esse crescimento traz a si associado uma previsão de arrecadação de receita tributária. Caso esse próprio crescimento não se configure, égrande a possibilidade de frustração de receita. Entende-se então que essa possibilidade de receita a menor deverá estar contida no Anexo de Riscos Fiscais – ARF por representar um risco orçamentário. Os Riscos da Dívida são os riscos derivados da Dívida Pública da União. Praticamente toda a dívida pública é associada ao pagamento de juros sobre a própria dívida constituída. Dessa maneira, em situações em que é grande a probabilidade de no ano vindouro ocorrerem alterações positivas nas taxas de juros, conforme previsão do próprio parágrafo 4o do artigo 4o da LRF destacado acima, este aumento de despesa deverá estar previsto no Anexo de Riscos Fiscais – ARF. Apenas para fins de complementação relativa aos Riscos Fiscais, destaca- se que nestes também devem estar incluídos os riscos relativos à concretização de nova dívida derivada do julgamento de processos judiciais em CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 26 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br curso, nos moldes dos planos econômicos ocorridos no Brasil ao longo dos anos de 1980. De todo modo, as ações transitadas em julgado não devem estar representadas no ARF, uma vez que já se tratam de despesas a serem previstas na LOA para o ano seguinte na qual a LDO orienta. 1.14 A Lei Orçamentária Anual - LOA e a LRF A Lei Orçamentária Operacional é chamada de instrumento de planejamento operacional da administração pública. Esta recebeu importantes alterações promovidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A LOA deverá ser elaborada em compatibilidade com o PPA, com a LDO e com a própria LRF, contendo ainda o seguinte: a) anexo com o demonstrativo da compatibilidade da programação do orçamento com as metas da LDO previstas no respectivo Anexo de Metas Fiscais; Pegadinha! Muito importante destacar que a LOA conterá anexo com demonstrativo da compatibilidade do orçamento com as metas da LDO, previstas no AMF. Não se trata assim do mesmo Anexo de Metas Fiscais que deverá compor a própria LDO. Esse ponto pode ser sujeito à cobrança em prova, com o objetivo principal de confundir o concursando! b) demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia; Olha aí uma questão a respeito! CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 27 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br (Planejamento e Execução Orçamentária/Min. da Saúde – CESPE/2008) A LDO somente deve demonstrar, de forma regionalizada, o efeito decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. Comentários: A LOA é quem demonstrará de forma regionalizada o efeito de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. ERRADO Verifica-se assim que a LOA deverá conter demonstrativo de renúncia de receita e as medidas de compensação necessárias. Ao abordarmos ponto específico da LRF sobre este tema, tecermos maiores comentários a respeito. c) previsão da reserva de contingência, em percentual da Receita Corrente Líquida, destinada ao pagamento de restos a pagar e passivos contingentes, além de outros imprevistos fiscais; Os passivos contingentes constituem, entre outros pontos, ao pagamento de despesas relativas às sentenças judiciais transitadas em julgado. Refere-se pois aos passivos não destacados no anexo de riscos fiscais da LDO, em que neste são previstos os resultados derivados de ações em trânsito de julgamento. d) A LOA deverá apresentar as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual e respectivas receitas, sendo o refinanciamento da dívida (e suas receitas) demonstrado de forma separada, tanto na LOA como nas leis de créditos adicionais; CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 28 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Para que não haja dúvidas, este ponto já foi abordado em questão anterior, a qual dispunha sobre as atribuições e os componentes da LDO. Para fins de consolidação de entendimento, reapresentamos a mesma questão, cobrada no concurso de APO do MPOG de 2008: (APO/MPOG – ESAF/2008) A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) atribuiu novas e importantes funções ao orçamento e à Lei de Diretrizes Orçamentárias. Nos termos da LRF, a Lei de Diretrizes Orçamentárias recebeu novas e importantes funções entre as quais não se inclui: a) mostrar as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual e respectivas receitas, sendo o financiamento da dívida demonstrado de forma separada nas leis de créditos adicionais. b) estabelecer critérios e formas de limitação de empenho, na ocorrência de arrecadação da receita inferior ao esperado, de modo a comprometer as metas de resultado primário e nominal previstas para o exercício. c) quantificar o resultado primário obtido com vistas à redução do montante da dívida e despesas com juros. d) dispor sobre o controle de custos e avaliação dos resultados dos programas financiados pelo orçamento. e) disciplinar as transferências de recursos a entidades públicas e privadas. Comentários: Conforme disposto, a assertiva “a” está relacionada à LOA. e) É vedada a consignação na LOA de crédito com finalidade imprecisa ou mesmo com dotação ilimitada. Essa exigência reforça o previsto na própria Constituição Federal de 1988. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 29 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Esse regramento visa coibir a manipulação orçamentária, desvirtuando a própria noção de elaboração do orçamento baseado em programas, definido e estruturado segundo orientação estratégica do PPA e parametrizado pela LDO. f) Ainda segundo a LRF, em referência à LOA, não poderá existir nesta, dotação de investimento com duração superior a um exercício financeiro que não esteja previsto no plano plurianual ou em lei que autorize a sua inclusão, conforme disposto no § 1o do art. 167 da Constituição. O PPA é um instrumento de planejamento estratégico e como tal deve orientar a alocação das despesas que visam ampliar a capacidade de oferecimento de bens e serviços pelo governo. A restrição imposta pela LRF à LOA é relativa, e devido ao seguinte: O próprio PPA não é uma peça rígida, sendo sujeito a revisões anuais, nos moldes do que é definido pela literatura de PPA rolante ou flexível. Sendo assim, ao longo de sua vigência, podem ser consignados a estes novos investimentos, com prazo superior a um exercício financeiro, sendo assim necessário a sua operacionalização por meio da sua inclusão na LOA do ano vindouro. Outro ponto é que, estando a LOA em vigência, poderá ser incluída nesta dotação específica, por meio de lei de crédito adicional, crédito especial, uma vez que se tratam de recursos sem rubrica específica já criada no orçamento. Diante desta explanação, nota-se que objetivo da LRF com o parágrafo 5o foi o de evitar a desestruturação e possível desvinculação dos instrumentos de planejamentoda administração pública, amarrando a geração de despesas que possam se estender por um período superior a um exercício financeiro. Finalmente, mas não menos importante, destacamos que a LRF atribui à LOA importante papel de monitoramento das atividades financeiras do Banco Central. Dispõe a LRF a respeito: CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 30 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br “§ 6o Integrarão as despesas da União, e serão incluídas na lei orçamentária, as do Banco Central do Brasil relativas a pessoal e encargos sociais, custeio administrativo, inclusive os destinados a benefícios e assistência aos servidores, e a investimentos.” Após a edição da Lei 9.650 de 1998, os servidores do BACEN tornaram- se estatutários, de tal forma que as despesas com pessoal, encargos sociais e os investimentos no âmbito da Autarquia de caráter especial, passaram a ser custeadas pela União e previstas no orçamento anual. Em adição à regulação efetiva das atividades financeiras realizadas pelo Bacen, o artigo 7o da LRF dispôs sobre parte da sua relação com o Tesouro Nacional: “Art. 7o O resultado do Banco Central do Brasil, apurado após a constituição ou reversão de reservas, constitui receita do Tesouro Nacional, e será transferido até o décimo dia útil subseqüente à aprovação dos balanços semestrais. § 1o O resultado negativo constituirá obrigação do Tesouro para com o Banco Central do Brasil e será consignado em dotação específica no orçamento. § 2o O impacto e o custo fiscal das operações realizadas pelo Banco Central do Brasil serão demonstrados trimestralmente, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias da União. § 3o Os balanços trimestrais do Banco Central do Brasil conterão notas explicativas sobre os custos da remuneração das disponibilidades do Tesouro Nacional e da manutenção das reservas cambiais e a rentabilidade de sua carteira de títulos, destacando os de emissão da União.” O Banco Central faz parte da estrutura administrativa da União, tendo a responsabilidade de zelar pelo poder de compra da moeda e a supervisão do CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 31 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br sistema financeiro. Devido a estas atribuições, no âmbito de suas atividades, o BACEN necessita captar fundos junto ao Tesouro Nacional no sentido de dar curso as suas operações de política monetária. O resultado das negociações feitas entre a autoridade monetária e o mercado financeiro pode ser deficitária ou superavitária, tendo o Tesouro (a União) o dever de cobrir os déficits porventura existentes nas operações do próprio Bacen, e o direito de receber o resultado positivo decorrente destas mesmas atividades. Importa mencionar que, conforme dispõe o artigo 34 da LRF, não é permitido ao BACEN, desde 2002, realizar mais a emissão de títulos públicos, cabendo a este somente o direito de utilizar os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. Adiciona-se que, conforme dispõe exaustivamente o artigo 39 da mesma norma, o BACEN não pode refinanciar o Tesouro, a exceção da dívida mobiliária federal vincenda em sua carteira. Em conclusão à análise, destaca-se que o custo fiscal das operações do BACEN devem ser demonstradas trimestralmente, em acordo com o que dispor a LDO. Estes balanços conterão notas explicativas sobre os custos da remuneração das disponibilidades do Tesouro, uma vez que a conta única deste está no BACEN, e da manutenção das reservas internacionais e da rentabilidade da carteira de títulos que este possui, destacando de forma especial os referentes ao que a União faz contrapartida passiva. 1.15 Regra de Ouro O artigo 12 da LRF está disposto do capítulo III, referente à receita pública, o qual trata da previsão e da arrecadação da receita. Neste mesmo artigo, no seu parágrafo 2o consta o seguinte destaque: “§ 2o O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária.” CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 32 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Este parágrafo trata do que denominamos de Regra de Ouro das Finanças Públicas, a qual afirma nas suas entrelinhas que o governo não deve utilizar recursos captados na forma de constituição de dívida para pagamento de despesas correntes, ou seja, despesas que não gerem contrapartida positiva no ativo do ente público. A Regra de Ouro ratifica em parte justamente o entendimento do Equilíbrio Auto-Sustentável debatido no início desta aula, no qual as receitas primárias (ou não financeiras) devem ser suficientes para fazer frente inicialmente às despesas primárias e, no melhor dos mundos, ao total de despesas previstas na LOA. Não obstante, destaca-se que a Constituição Federal já abordava tal tema, destacado no seu artigo 167, inciso III: “É vedada a realização de operações de crédito que excedam as despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta." (negrito nosso) Destaca-se que o cumprimento do limite a que se refere o inciso III, do artigo 167 da Constituição, deve ser feito por meio da apuração das operações de crédito e das despesas de capital, conforme definição dada pelo artigo 32, parágrafo 3º, da própria LRF: “§ 3º Para fins do disposto no inciso V do § 1º, considerar-se-á, em cada exercício financeiro, o total dos recursos de operações de crédito nele ingressados e o das despesas de capital executadas, observado o seguinte: I - não serão computadas nas despesas de capital as realizadas sob a forma de empréstimo ou financiamento a contribuinte, com o intuito de CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 33 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br promover incentivo fiscal, tendo por base tributo de competência do ente da Federação, se resultar a diminuição, direta ou indireta, do ônus deste; II - se o empréstimo ou financiamento a que se refere o inciso I for concedido por instituição financeira controlada pelo ente da Federação, o valor da operação será deduzido das despesas de capital”; Com fins de verificação do cumprimento para o que determina o artigo 167, inciso III da CF, e mediante determinação da LRF, artigo 32, inciso III, a Resolução 43 de 2001 do Senado Federal, republicada nos termos da Resolução no 3 de 2002, dispõe que as receitas de operações de crédito e as despesas de capital serão computadas: I - no exercício anterior, as receitas de operações de crédito nele realizadas e as despesas de capital nele executadas; e II - no exercício corrente, as receitas de operações de crédito e as despesas de capital constantes da lei orçamentária. Não serão computadas como despesas de capital para esta finalidade: I - o montante referente às despesas realizadas, ou constantes da lei orçamentária, conforme o caso, em cumprimento da devolução a que se refere o artigo 33 da Lei Complementar n° 101, de 2000, transcrito a seguir:“Art. 33. A instituição financeira que contratar operação de crédito com ente da Federação, exceto quando relativa à dívida mobiliária ou à externa, deverá exigir comprovação de que a operação atende às condições e limites estabelecidos. § 1º A operação realizada com infração do disposto nesta Lei Complementar será considerada nula, procedendo-se ao seu cancelamento, mediante a devolução do principal, vedados o pagamento de juros e demais encargos financeiros. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 34 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br § 2º Se a devolução não for efetuada no exercício de ingresso dos recursos, será consignada reserva específica na lei orçamentária para o exercício seguinte. § 3º Enquanto não efetuado o cancelamento, a amortização, ou constituída a reserva, aplicam-se as sanções previstas nos incisos do § 3º do art. 23. § 4º Também se constituirá reserva, no montante equivalente ao excesso, se não atendido o disposto no inciso III do art. 167 da Constituição, consideradas as disposições do § 3º do art. 32”. II - as despesas realizadas e as previstas que representem empréstimo ou financiamento a contribuinte, com o intuito de promover incentivo fiscal, tendo por base tributo de competência do ente da Federação, se resultar na diminuição, direta ou indireta, do ônus deste; e III - as despesas realizadas e as previstas que representem inversões financeiras na forma de participação acionária em empresas que não sejam controladas, direta ou indiretamente pela União ou pelos demais entes da Federação, excetuando-se aquelas decorrentes da participação em organismos financeiros internacionais. Importante destacar, com fins de esclarecimento, que as receitas das operações de crédito efetuadas no contexto da gestão da dívida pública mobiliária federal somente serão consideradas no exercício financeiro em que for realizada a respectiva despesa. As operações de antecipação de receitas orçamentárias não serão computadas para os fins de cumprimento da Regra de Ouro, desde que liquidadas no mesmo exercício em que forem contratadas. Atenção! Muito cuidado, porque é no âmbito deste artigo que o BNDES se envolve diretamente. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 35 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 1.16 A Regra de Ouro - Constituição Federal X Lei de Responsabilidade Fiscal Em medida acauteladora o STF suspendeu a eficácia do § 2º do art. 12 da LRF. Isto se deveu a falta de ressalva prevista em norma de maior hierarquia, a qual diz que as operações de crédito poderão exceder os montantes de despesas de capital, desde que autorizadas mediante créditos suplementares1 ou especiais, com finalidade específica, e autorizadas por maioria absoluta, o que por si só já é uma restrição, dado o tratamento de maioria relativa para as leis de créditos adicionais “normais”. De todo modo, e com fins de consolidação de entendimento para as questões de concurso, ainda persiste a necessidade de atendimento da Regra de Ouro, conforme disposto no mesmo artigo 167, inciso III da Constituição Federal. Adicionando comentário final, destacamos que as empresas estatais não dependentes, ou seja, aquelas empresas controladas que não receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, não estão sujeitas às regras impostas pela Constituição Federal. 1.17 A Receita Corrente Líquida A Lei de Responsabilidade Fiscal atribui à Receita Corrente Líquida - RCL o papel de ser um dos principais parâmetros na formação e estipulação dos vários limites imputados pela própria LRF, especialmente o relacionado às 1 Os crédito suplementares estão associados aos créditos destinados ao reforço de caixa de rubricas já existentes no orçamento. Já os créditos especiais estão associados à rubrica contábil não existente no orçamento. Finalmente, o credito extraordinário, está associado ao atendimento de despesas com caráter de urgência, a exemplo de casos de calamidade pública e guerras. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 36 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br despesas de pessoal, eterna algoz do enfermo das contas públicas do nosso país. A RCL já era utilizada como parâmetro para os limites de gastos com pessoal, conforme dispunha as leis Complementares 82 de 1995 e 96 de 1999, mais conhecidas como leis Camata I e II, em homenagem à Rita Camata, Deputada Federal responsável por suas proposições. No âmbito da LRF, a apuração da Receita Corrente Líquida encontra-se disposta no artigo 2o, juntamente com outros importantes conceitos a serem narrados a posteriori. Segundo o inciso IV do artigo 2o, a RCL é composta pelos seguintes itens de receita somados: • Tributárias; • de Contribuições; • Patrimoniais; • Industriais; • Agropecuárias; • Serviços; • Transferências Correntes; e • outras Receitas Correntes. Considerando que o parâmetro de análise é a Receita Corrente Líquida, desta deve ser feitas algumas deduções, dispostas em função do Ente da federação responsável pela apuração: Na União: 1. Os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal, nos moldes do Fundo de Participação dos Estados – FPE e do Fundo de Participação dos Municípios – FPM; CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 37 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 2. Contribuições do empregador e do trabalhador e demais segurados para a seguridade social (alínea a do inciso I e inciso II do art. 195, e no art. 239 da Constituição); 3. Contribuições para o programa de integração social – PIS e para o Programa de Formação de Patrimônio do Servidor Público – PASEP (artigo 239 da Constituição); 4. Contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social; 5. Receitas provenientes da compensação financeira entre os diversos regimes de previdência social (artigo 201, parágrafo 9o da Constituição Federal). Nos Estados: 1. Parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional (Fundo de Participação dos Municípios dentro da receita administrada pelo Estado); 2. Contribuição dos servidores para custeio do seu sistema de previdência e assistência social; 3. Receitas provenientes da compensação financeira entre os diversos regimes de previdência social (artigo 201, parágrafo 9o da Constituição Federal). Nos Municípios: 1. Contribuição dos servidores para custeio do seu sistema de previdência e assistência social; 2. Receitas provenientes da compensação financeira entre os diversos regimes de previdência social (artigo 201, parágrafo 9o da Constituição Federal). Abra o olho!!! CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 38 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Destaca-se que os municípios, diferentemente dos demais entes(União e Estados), não necessitam deduzir o item “parcelas entregues por for força de determinação constitucional”. Na verdade, como estas parcelas referem-se tão somente as receitas arrecadas pela União e pelos Estados, destinadas aos Fundos de Participação de Municípios – FPM, não há que se falar mesmo de dedução destas, simplesmente porque não existe ente abaixo dos municípios. Outro ponto é que, somente no caso da União, devem ser deduzidas da receita corrente as parcelas devidas por determinação legal. Distrito Federal e os Estados do Amapá e de Roraima: 1. Recursos transferidos pela União na forma dos incisos XIII e XIV, do artigo 21, da CF e do artigo 31 da Emenda Constitucional 19, para custear as despesas de pessoal. Ainda na apuração da Receita Corrente Líquida, devem ser deduzidos por todos os entes da federação os valores pagos e recebidos em decorrência da chamada Lei Kandir (Lei Complementar 87, de 13 de setembro de 1996), assim como aqueles relativos ao FUNDEF (artigo 60, ADCT, CF). Vejamos assim um quadro resumo do cálculo da receita corrente líquida: CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 39 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Tabela Demonstrativa Pegadinhas!!! A RCL deve ser apurada considerando-se o somatório das receitas arrecadas no mês em referência e os onze anteriores, excluídas as duplicidades. Para fins de consolidação, o mês de referência é o mês imediatamente anterior àquele em que a RCL estiver sendo apurada. Este entendimento é derivado da Portaria STN número 589/2001, em seu artigo 6o, parágrafo único. Outro ponto diz respeito ao período de apuração. Não se trata de esta apuração ser necessariamente igual ao ano civil (de janeiro a dezembro), sendo apurado em janeiro do ano seguinte. Exemplo: se desejarmos verificar a RCL em dezembro de um determinado exercício financeiro, devemos contar as receitas arrecadadas desde dezembro do exercício anterior até o mês de novembro (mês da referência). Vou usar mais uma questão para fixar o conteúdo: (ANALISTA CONTÁBIL/SEFAZ-CE – ESAF/2007) Com base na Lei Complementar n. 101/2000, a receita corrente líquida compreende o somatório de todas as naturezas de receitas correntes, deduzida(s): CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 40 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br a) as transferências a Estados, Distrito Federal e Municípios destinadas ao custeio do Sistema Único de Saúde. b) as parcelas entregues por Municípios aos Estados e Distrito Federal por determinação constitucional. c) a contribuição dos trabalhadores e empregadores para o custeio do regime geral da previdência social. d) as receitas correntes próprias arrecadadas pelas autarquias e fundações públicas. e) as contribuições dos entes públicos para os fundos de pensão das empresas estatais. Comentários: Pela análise das assertivas dispostas entre as letras “a” e “e”, verifica-se que somente a letra “c” representa uma das deduções que devem ser feitas pelos entes da federação com fins de apuração da Receita Corrente Líquida, conforme disposição do artigo 2o da LRF. As compensações financeiras da previdência referem-se às situações que em um servidor público ingressou em um cargo estadual e lá permaneceu por 5 anos. No sexto ano este mesmo servidor prestou concurso e entrou em exercício no serviço público federal, optando em se aposentar por este serviço devido à remuneração financeira. Se aposentando em nível federal, o estado deverá repassar à União o equivalente a contribuição feita pelo servidor durante os 5 anos em que esteve trabalhando no Estado. Gabarito: letra “c”. 1.18 Renúncia de Receita Conforme verificamos, a Receita Corrente Líquida constitui um importante parâmetro estabelecido pela LRF para que a Gestão das Contas Públicas seja eficiente. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 41 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê no seu artigo 11, referente à previsão e à arrecadação das receitas públicas, que constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Assim, numa conclusão prévia, pode-se interpretar que a não instituição e arrecadação de tributos consubstanciam-se na irresponsabilidade da gestão fiscal. Mas como se aferir se o administrador público está sendo irresponsável na gestão das Finanças Públicas? Para isso existe uma série de parametrizações de genéricas a específicas impostas pela própria LRF, como o destacado no artigo 12 da Lei. Art. 12. As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas. Pela leitura deste artigo conclui-se que o legislador impôs regras rígidas para previsão de receitas, de tal modo que ficam limitadas as possibilidades de superestimação destas ou mesmo de subterfúgio para renunciar receitas devido à subestimação dos parâmetros orientadores estabelecidos pela LRF. Destaca-se, no entanto, que podem ocorrer variações significativas na previsão dos parâmetros do artigo 12, como no caso de crescimento econômico inferior à previsão feita. Este resultado impacta diretamente a arrecadação das receitas, uma vez que a carga tributária do país é essencialmente progressiva, ou seja, na medida em que a renda cresce, a arrecadação de tributos cresce mais que a própria renda. De forma contrária, quando a renda cai, a arrecadação cai proporcionalmente mais do que a própria renda. Em situações de frustração de receita, a própria LRF já atribui responsabilidade ao administrador público, uma vez que veda, a partir do CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 42 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br parágrafo único do artigo 11, a realização de transferências voluntárias aos demais entes da federação que não atendam ao disposto no caput do mesmo artigo, quando referentes aos impostos. “Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.” Alguns outros pontos da LRF ainda abordam o aspecto da previsão de receitas, a começar pela menção feita no parágrafo 2o do artigo 12, que afirma que a reestimativa de receitas por parte do poder legislativo só será admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal. Afora o aspecto de discussão do orçamento, dentro da idéia do ciclo orçamentário, em que
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