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Aula 10 Linguística II

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Linguística II
Marilda Franco de Moura
Aula 10
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O Sol gira ao redor da Terra. É o que vemos, mas não é o que acontece. 
Sírio Possenti 
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Dizia-se que falar bem português era usar um vocabulário culto, talvez até recorrer ao dicionário. 
Falar bem é saber usar palavras contextualizadas e saber adequá-las a cada situação de comunicação, sejam elas formais ou informais.
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Sarmento (2005) define língua da seguinte maneira: A língua é um instrumento de comunicação, ou seja, é um sistema de sinais vocais e, muitas vezes, gráficos, pertencentes a uma comunidade ou a um grupo social. A língua, portanto, pode sofrer modificações apenas pela ação da comunidade e não de um único indivíduo. (SARMENTO, 2005, p. 12)
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O falante deve conhecer as leis, regras de combinação das unidades da língua, um bom vocabulário para que haja compreensão com o interlocutor no ato de comunicação. 
Depreende-se que a gramática normativa, ou gramática da norma padrão recupera os pressupostos estruturalistas.
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É perceptível no ensino de língua materna ainda, centrado em propostas de “decorar normas gramaticais, ou conceitos, sem considerar o nível textual do uso da língua. 
Não se pode ensinar o significado de uma palavra apenas por meio de um conceito. 
O conceito de mundo é mediado por meio da palavra e seu significado.
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Um professor que adota o método de decorar normas “não obtém qualquer resultado, exceto um verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança, semelhante à de um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade oculta um vácuo.” Vygotsky (1987, p.72) 
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Ensino de gramática
Abordagens, Problemas e Propostas 
A gramática tradicional (GT) tem o objetivo de estabelecer regras de uma língua e por meio delas, ensinar a língua àqueles que já dominam muito dos aspectos linguísticos. 
O ideal seria aprimorar esse conhecimento quando o aprendiz inicia seu percurso escolar, e não ignorar e já introduzir a GT, como se ele não tivesse os conhecimentos básicos para falar e ser entendido. 
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Segundo Possenti (2006, p. 35), nenhuma criança entre os 3 e 4 anos diria: “Uma meninos chegou aqui amanhã”; portanto nessa idade toda criança já tem um conhecimento gramatical.
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Considerar o ensino da língua somente como um conjunto de regras prescritas (como uma receita de bolo, uma receita médica) é desconsiderar o caráter flexível, variável das línguas e seu funcionamento. 
Possenti (2006, p. 73), “as regras de uma gramática normativa se assemelham às regras de etiqueta, expressando uma obrigação e uma avaliação do certo e do errado.” As regras são normas que orientam determinada atividade. 
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Regra “é aquilo que regula, dirige, rege ou governa” (FERREIRA, 2009, p. 1724). 
Regras gramaticais seriam as normas que ditam os usos da língua, mencionando como dever ser a constituição de suas unidades (fonológico, morfossintático, semântico...). 
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As concepções relacionadas à Educação linguística, Ensino de Gramática e Ensino de Língua materna, nos remete questionar as próprias características da capacidade comunicativa do homem no transcorrer de seu desenvolvimento com determinados grupos que se propunha à criação de códigos específicos para o estabelecimento de entendimento entre si, em especial, a língua. TRAVAGLIA, Luís Carlos (2003, p. 22-55).
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A educação linguística é necessária e fundamental para as pessoas viverem bem em uma sociedade e na cultura que se veicula por uma língua e configura essa língua por meio de um trabalho sócio-histórico-ideológico que estabelece tanto recursos da língua como regularidades a serem usadas para comunicar quanto os significados/sentidos que cada recurso é capaz de por em jogo em uma interação comunicativa (2003, p. 23)
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Cabe à escola (professor) enfrentar os preconceitos linguísticos, ensinando o respeito à diferença e libertando-se de mitos quanto a língua (como o da existência de uma única forma certa de se falar, por exemplo) a fim de conscientizar os alunos sobre a necessidade de adequação da linguagem utilizada ao contexto de comunicação.
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Faraco e Castro (2000, p. 180): 
A crítica básica e fundamental dos linguistas ao ensino tradicional recai sobre o caráter excessivamente normativo do trabalho com a linguagem nas escolas brasileiras. 
As nossas escolas, além de desconhecerem a realidade multifacetada da língua, colocou de forma desproporcional a transmissão das regras e conceitos presentes nas gramáticas tradicionais, como o objeto nuclear de estudos, confundindo, em consequência, ensino de língua com o ensino de gramática. 
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Considerando que o ensino de Língua Portuguesa tem sido desenvolvido nas instituições de ensino com base no trabalho proposto por essa importante ferramenta de trabalho, é relevante analisar qual é o tratamento direcionado à língua nas obras distribuídas pelo PNLD. 
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Análise linguística
uma nova abordagem para o ensino da língua
A língua como um sistema de práticas cognitivas, suscetível de mudanças, por ser flexível, dinâmica, heterogênea.
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa trazem como proposta para o Ensino Básico (2008), a formação de sujeitos competentes na oralidade, escrita, leitura e na prática de análise linguística, exercitando, assim, a linguagem de maneira flexível. 
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A prática de análise linguística constitui um trabalho de reflexão sobre a organização do texto escrito e/ou falado, um trabalho no qual o aluno percebe o texto como resultado de opções temáticas e estruturais feita pelo autor, tendo em vista o seu interlocutor. Sob essa ótica, o texto deixa de ser pretexto para se estudar a nomenclatura gramatical e a sua construção passa a ser o objeto de ensino. Assim, o trabalho com a gramática deixa de ser visto a partir de exercícios tradicionais, e passa a implicar que o aluno compreenda o que seja um bom texto, 
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como é organizado, como os elementos gramaticais ligam palavras, frases, parágrafos, retomando ou avançando ideias defendidas pelo autor, além disso, o aluno refletirá e analisará a adequação do discurso considerando o destinatário e o contexto de produção e os efeitos de sentidos provocados pelos recursos linguísticos utilizados no texto. (p. 61).
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O trabalho com a gramática deixa de ser um exercício mecânico, de classificação e identificação de termos em orações e períodos, memorização das nomenclaturas gramaticais.
Deve-se favorecer a reflexão com base em atividades que envolvam o aluno, de forma que ele aprenda a função dos aspectos linguísticos no ato discursivo. Assim, passa-se a trabalhar com o funcionamento da língua. 
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De acordo com os PCN (1998, p. 52), na prática de análise linguística, espera-se que o aluno “constitua um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da linguagem e sobre o sistema linguístico [...]”.
Uma nova perspectiva para o ensino, centrada nas atividades de oralidade, leitura, escrita e prática de análise linguística. 
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Sírio Possenti (1996: 96) 
“Saber falar significa saber uma língua. Saber uma língua significa saber uma gramática. Saber uma gramática não significa saber de cor algumas regras que se aprendem na escola ou saber fazer algumas análises morfológicas e sintáticas”.
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Tipos de gramática
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Tipos de gramática
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Gramática - Objetivos
Aprimorar o desempenho linguístico dos falantes;
Levar o aluno a uma postura de reflexão sobre a língua e a linguagem. 
Conhecer a estrutura gramatical que organiza os textos, as regras que permitem diferentes possibilidades de combinar palavras para construir frases, para atingir o que realmente interessa: transformar as frases em enunciados produzidos em situação de diálogo, num dado momento, numa dada situação, com uma determinada intenção.
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Referências bibliográficas
FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática? In: LOPES, Harry Vieira et alii [orgs.] Língua portuguesa: o currículo e a compreensão da realidade. São Paulo: Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, 1991. 
JAKOBSON, ROMAN (In Linguística e Comunicação, p.. 3, Trad. de IZIDORO BLIKSTEIN e JOSÉ PAULO PAES, Editora Cultrix, SP. 2007.
NEVES, Maria Helena de Moura (2000). Gramática de usos do Português. São Paulo, Ed. da Unesp, 2002.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
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Referências bibliográficas
PERINI, Mário. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997. 
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, ALB. Mercado de Letras, 1996, 96 p., Coleção Leituras do Brasil.
TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.
______________Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
VIGOTISKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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Linguística II
Marilda Franco de Moura
Atividade 10
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Atividades
1-Assinale a alternativa incorreta:
a) Segundo a definição tradicional da gramática, a morfologia estuda a estrutura, classificação, formação e flexões das palavras.
b) No campo dos estudos linguísticos, a conceituação da noção de palavra é cercada por inúmeras controvérsias, não havendo um entendimento pacífico acerca do assunto.
c) A discussão acerca da noção de palavra vem demonstrar que a Gramática e a Linguística partilham de uma mesmo entendimento sobre a questão da Morfologia.
d) Existem diversos critérios para a conceituação da noção de palavra, dentre os quais podemos citar o fonológico, o semântico e o sintático, por exemplo.
e) Em termos simples, podemos afirmar que a palavra é a unidade básica da Morfologia.
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Resposta: C
Comentário: Enquanto a Gramática toma a Morfologia como sistema taxionômico de classificação das palavras em classes, a Linguística aprofunda a discussão sobre os conceitos e procede uma reflexão mais aprofundada. Como exemplo, podemos analisar os apontamentos dos estudos linguísticos acerca da noção de palavra.
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2- A Linguística, por seu caráter descritivo, tem problematizado as classificações prescritivas de classes de palavras. Dito isto, assinale a alternativa incorreta:
a) A Linguística preconiza que os substantivos são funções e não deveriam pertencer, portanto, à categoria de classes de palavras.
b) A ideia segundo a qual o adjetivo traduz qualidades deve ser deixada de lado na medida em que podem designar, também, condições, estados, qualidades, etc.
c) A definição para advérbio que o considera “palavra que indica circunstância” esbarra no fato de que nem sempre as circunstâncias são traduzidas por meio de advérbios, expondo a fragilidade do antecitado conceito.
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d) As interjeições são consideradas palavras pela gramática normativa, mas tal visão não é bem aceita por linguistas, que os consideram “frases de situação”.
e) A Linguística partilha da ideia que se deve restringir a classificação dos vocábulos apenas à Morfologia, pois esta daria conta de critérios de forma, função e conteúdo, evitando avizinhamentos com outras áreas de estudos estruturais da linguagem.
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Resposta: E
Comentário: todas as alternativas estão corretas, à exceção da “E”. Não se pode restringir a classificação de classes de palavras somente à Morfologia, pois as palavras e vocábulos são dotados de forma, função e conteúdo, respectivamente, aspectos mórficos, sintáticos e semânticos. 
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