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Linguística II – 2018.2 Guia de estudos para AP1 – questões e exercícios Questões comentadas – AULA 1 – 1) Em que medida a linguagem pode ser caracterizada como um fenômeno cognitivo? O termo cognição diz respeito a tudo que se relacione a aquisição, estocagem, recuperação e uso de conhecimento. A linguagem – junto com outros fenômenos tais como percepção, atenção, memória, conceitos, crenças, raciocínio, emoções, etc. – faz parte da nossa cognição. Podemos caracterizar a linguagem como um fenômeno cognitivo na medida que ela é um tipo de conhecimento específico (tácito, implícito e inconsciente) a ser adquirido e, ao mesmo, permite que novo conhecimento possa ser construído e transmitido. Denominamos esse conhecimento da língua conhecimento linguístico ou competência linguística. 2) Como podemos definir o que é chamado de faculdade da linguagem? Chamamos de faculdade da linguagem a disposição biológica que todos seres humanos com sua capacidade linguística intacta possuem para adquirir, produzir e compreender palavras, frases e discursos. 3) O que seriam as ciências cognitivas e porque Linguística pode ser considerada como tal? O conjunto de disciplinas que têm como objetivo geral compreender a natureza e funcionamento da mente humana, são chamadas de Ciências Cognitivas. Disciplinas tais como a neurociência e a filosofia da mente, dentre outras, fazem parte desse conjunto. Podemos dizer que a Linguística forma parte desse mesmo conjunto na medida que ela se ocupa de um fenômeno cognitivo: a linguagem. A Linguística concebida como uma ciência cognitiva tem como objetivos descrever e explicar a natureza, origem e uso da linguagem humana. 4) O que é a Teoria Gerativa ou Gerativismo? O Gerativismo – também chamado de linguística gerativa, gramática gerativa, teoria gerativa, ou, num termo mais antigo, gramática gerativo-transformacional – pode ser considerado o modelo linguístico mais influente nas ciências cognitivas. Essa teoria surgiu no final dos anos cinquenta nos Estados Unidos, a partir das ideias revolucionárias formuladas por Noam Chomsky. De acordo com essa perspectiva teórica, o papel fundamental da linguística é descrever o conhecimento linguístico dos falantes. A proposta de Chomsky foi revolucionária já que, até então, o foco da linguística estava quase exclusivamente na dimensão social e histórica da linguagem humana. – AULA 2 – 1) Como podemos definir os conceitos de Língua-E e Língua-I? O termo Língua-I (internalizada, intensional) foi proposto por Chomsky para fazer referência à língua em sua acepção cognitiva. Já Língua-E (externalizada, extensional) é o termo proposto para fazer referência à língua como fenômeno sociocultural. A Língua-E diz respeito ao conjunto de sentenças geradas por uma gramática ou os enunciados efetivamente produzidos. A Língua-I, por sua vez, é a gramática interna, ou internalizada na mente do falante. 2) O que se entende por modularidade da mente e como podemos relacionar essa noção com a ideia de modularidade da linguagem? O conceito de modularidade da mente – cunhado pelo filósofo e psicolinguista Jerry Fodor – faz referência à ideia segundo a qual a mente humana seria constituída por diversos compartimentos ou módulos especializados para a execução de tarefas específicas. Nessa perspectiva, o que chamamos de inteligência seria, de fato, um conjunto de inteligências especializadas e autônomas (envolvendo aspectos tais como a linguagem, a visão, a memória, a percepção espacial, as relações lógico-matemáticas etc.). A ideia de modularidade se opõe à perspectiva generalista ou da uniformidade da mente (também chamada de mente holista ou inteligência única), que concebe nossa inteligência como um todo indivisível. O sistema linguístico pode ser caracterizado como um módulo cognitivo autônomo na medida que desempenha uma tarefa cognitiva específica. Módulos mentais podem ser organizados em outros módulos menores (módulos internos ou submódulos). No que diz respeito ao módulo da linguagem, essa última ideia é bastante útil para explicarmos o fato de que o nosso conhecimento linguístico é, na verdade, um conjunto de conhecimentos especializados e relativamente independentes entre si. Os submódulos linguísticos são: o módulo fonológico, o módulo morfológico, o módulo lexical, o módulo sintático, o módulo semântico e o módulo pragmático. 3) Casos de pessoas que apresentam dissociações no desenvolvimento de aspectos cognitivos diversos (linguísticos ou não) fornecem evidência que permite rejeitar uma hipótese generalista da inteligencia. Especificamente no que diz respeito ao desenvolvimento linguístico, o comprometimento de um aspecto com preservação dos restantes, constitui evidência favorável para a hipótese da existência de submódulos nos sistema cognitivo da língua. Como podemos explicar as ideias anteriores? Além de ser um módulo mental, a linguagem é constituída por módulos internos, os submódulos. Casos atípicos de aquisição da linguagem que mostram dissociações entre diferentes aspectos linguísticos (bom domínio de um aspecto juntamente com o comprometimento de outro) podem ser tomados como evidência da existência de módulos específicos e relativamente independentes. Casos como os de Chelsea e Genie (que mostram um bom desenvolvimento lexical, semântico e pragmático combinado com um comprometimento da sintaxe) e de Antony (que apresenta sintaxe, morfologia e fonologia bem preservadas a despeito de problemas pragmáticos e semânticos) sugerem que o conhecimento linguístico estaria organizado em frações que podem ser individualmente afetadas. Obs: A seguinte informação NÃO está no material didático, mas é um exemplo adicional que pode ajudar a compreender melhor a questão. O caso de Laura (descrito por Yamada 1990) dá suporte à hipótese de uma dissociação entre domínios cognitivos, particularmente entre o domínio da linguagem e outros domínios associados a uma inteligência mais geral. Tal dissociação questiona a hipótese de Piaget segundo a qual o desenvolvimento a linguagem depende do desenvolvimento cognitivo mais geral. No caso de Laura, um déficit mental coexiste com uma linguagem preservada. Embora ela seja incapaz de levar uma vida independente, com QI 55 (em teste em que a média costuma ser 100), Laura utiliza estruturas verbais ricas quanto à sintaxe e à morfologia. Entretanto, nem todas as áreas da linguagem estão igualmente preservadas em Laura. As habilidades semânticas e pragmáticas aparecem prejudicadas: sua fala é repetitiva, pouco informativa e muitas vezes não adequada ao contexto. Da mesma forma, em tarefas não linguísticas envolvendo classificação, construção hierárquica e criação de regras (habilidades muitas vezes associadas à linguagem), o desempenho de Laura é muito fraco. Casos como o de Laura parecem sustentar a hipótese da modularidade da linguagem e indicar que a linguagem não seria um subproduto (um reflexo) do desenvolvimento da cognição mais geral, mas um sistema cognitivo específico. – AULA 3 – 1) Porque a criatividade é considerada uma propriedade crucial das línguas naturais? A criatividade – ou seja, a capacidade de criar e compreender novas frases diferentes daqueles que já produzimos ou já ouvimos – é o que distingue as línguas humanas dos sistemas de comunicação animal. Diferentemente dos animais treinados para utilizar uma linguagem natural, cada frase que proferimos ou ouvimos é sempre uma criação inédita e única, e não uma repetição de algo guardado em nossa memória de maneira passiva. A produtividade – ou seja possibilidade de sempre falar “coisas novas” (o ineditismo do uso da linguagem) – está garantida em boa medida, pelo uso infinito de meios finitos. Isto é, temos um número finito de palavras ou itens no nosso léxico e um número finito de regras para combinar esses elementos, mas a aplicação dessas regras não tem limites a priori (é recursiva). Nesse sentido, podemos dizer que termos como “recursividade”, “produtividade”, “ineditismo”, “infinitude discreta” e “uso infinito de recursos finitos” são termos quase-sinônimos de criatividade. 2) O que significa competência e desempenho no contexto da teoria gerativa e como se relacionam essas noções com os conceitos de língua-I e língua-E? A competência linguística é nossa língua-I, ou seja, a capacidade de produzir e compreender expressões linguísticas compostas pelos códigos da língua-E de nosso ambiente. Essa capacidade é usada quando falamos, ouvimos, escrevemos ou lemos textos, mas também está armazenada em nossa mente quando estamos em silêncio, sem fazer uso da a linguagem. O uso concreto, em tempo real, de nossa competência linguística é o que denominamos desempenho ou performance, sendo que, esse mesmo uso o conforma a língua-E. 3) Em que consiste o chamado problema de Platão e de que forma está relacionado com o problema lógico da linguagem e com o argumento da pobreza de estímulos? O chamado problema de Platão diz respeito à origem do conhecimento. Ele pode ser sintetizado na seguinte forma: como é que a partir de experiências tão passageiras e fragmentárias os seres humanos são capazes de construir vários tipos de conhecimentos sofisticados e complexos? Aplicado à questão da aquisição da linguagem (lembrando que a linguagem é um tipo específico de conhecimento) esse problema pode ser formulado como segue: como é possível que uma criança, após pouco tempo de contato com a língua de seu ambiente, sem passar por treinamento explícito e nem possuir um sistema neurológico completamente desenvolvido, seja capaz de adquirir um conhecimento linguístico tão completo e complexo? Algumas possíveis respostas à questão acima seriam: (i) as crianças aprendem a linguagem através da imitação da fala dos adultos ou por tentativa e erro; (ii) os adultos ensinam explicitamente a lógica do uso da linguagem às crianças (ou seja, os adultos “treinam” as crianças); (iii) as crianças são muito inteligentes e conseguem encontrar todas as informações necessárias para adquirir uma língua nos estímulos do ambiente (veja que estamos considerando que tudo o que é suficiente e necessário para a construção do conhecimento linguístico está nos estímulos do ambiente). Chomsky formulou dois importantes argumentos para rejeitar todas essas ideias: o problema lógico da aquisição da linguagem e o argumento da pobreza de estímulo. Com essas duas ideias, Chomsky salienta que o simples contato com os estímulos linguísticos, não pode explicar como chegamos a desenvolver um conhecimento linguístico tão específico sobre a fonologia, a morfologia, o léxico, a sintaxe, a semântica e pragmática de uma língua natural. O argumento da pobreza de estímulos diz que os estímulos linguísticos do ambiente não contêm todas as informações necessárias para a aquisição de todos os detalhes de uma língua. Consequentemente, a criança precisa possuir, em sua mente, algum equipamento especial para conseguir extrair dos estímulos todas as informações necessárias para a construção do conhecimento linguístico. 4) O que é Competência e Desempenho para a Teoria Gerativa? A capacidade linguística humana é denominada competência, enquanto o uso concreto dessa capacidade, em tempo real e numa situação comunicativa específica, é denominado desempenho ou performance.A competência linguística não é sempre redutível ao desempenho em razão dos deslizes da linguagem. Competência é saber (modular), não passível de erro, e desempenho é fazer (não modular ou intermodular), passível de erro. Deslizes da linguagem ocorrem quando uma forma produzida durante a performance não corresponde à maneira pela qual tal forma está representada no conhecimento linguístico de uma pessoa. Tais deslizes podem ocorrer em qualquer um dos módulos da linguagem. – AULA 4 – 1) O que seria a hipótese inatista para a aquisição da linguagem? A hipótese inatista é a resposta que a linguística gerativa apresenta ao problema de Platão. Segundo essa hipótese, os seres humanos são capazes de adquirir uma (ou mais) línguas naturais porque estão geneticamente pré-programados para isso. De acordo com essa hipótese, o ser humano é capaz extrair dos dados da sua experiência a informação necessária para construir uma competência linguística porque essa é uma dotação genética de nossa espécie. O inatismo linguístico sustenta a tese de que a predisposição para a linguagem é inata, ou seja, uma característica biológica da espécie. No contexto da linguística gerativa, utiliza-se o termo faculdade da linguagem para fazer referência à dotação biológica que a espécie humana possui para a aquisição e o uso de pelo menos uma língua natural. Essa faculdade inata possibilitará à criança analisar os estímulos da língua do ambiente (a língua-E) de forma a construir uma competência linguística (a língua-I). A hipótese inatista apresenta duas versões, uma fraca e uma forte. A versão fraca da hipótese, rejeita a ideia de que todas as informações linguísticas que tornam a aquisição da linguagem possível estejam pré-detalhadas e assume que os princípios linguísticos emergem durante o processo de aquisição da língua do ambiente. – AULA 5 – 1) Como é definida a gramática universal (GU)? No contexto da teoria gerativa, a GU é concebida como o estágio inicial da aquisição da linguagem. Esse estágio inicial corresponde ao estado natural da cognição linguística humana antes do contato da criança com a língua-E de seu ambiente. A GU é definida como uma propriedade do cérebro humano. Essa propriedade é a concretização biológica de nossa faculdade da linguagem. É importante lembrar que a GU não é o conhecimento de nenhuma língua específica, mas uma disposição biológica, uma potencialidade. 2) Em que consiste a Teoria de Princípios e Parâmetros? A Teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) foi formulada na década de 1980 no contexto da linguística gerativa e, basicamente, visa a explicar como é a GU. De acordo com essa teoria, a GU está composta por dois conjuntos de informações, os Princípios e os Parâmetros. Os princípios são responsáveis pelas semelhanças que as línguas compartilham entre si; já os Parâmetros estão vinculados às possíveis diferenças entre as línguas naturais. Assim, a GU deve ser compreendida essencialmente como um conjunto de regularidades gramaticais universais (Princípios) e um conjunto limitado de variações linguísticas possíveis (Parâmetros). A teoria de P&P estabelece que uma língua-I qualquer é o resultado da articulação entre um conjunto de Princípios universais e um conjunto de Parâmetros formatados pela experiência de um indivíduo. Há um grande número de Princípios da GU tais como: o Princípio da Subordinação, o Princípio da Dependência de Estrutura e o Princípio da Correferência. No que diz respeito aos Parâmetros, temos o Parâmetro do Sujeito Nulo, o Parâmetro do Núcleo, o Parâmetro QU-, dentre outros. Cada um desses Parâmetros determina propriedades sintáticas específicas de uma língua. – AULA 6 – 1) A que refere o termo “arquitetura da linguagem”? O termo “arquitetura da linguagem” refere à forma na qual as línguas naturais estão organizadas no conjunto das faculdades cognitivas humanas. Estudar a arquitetura da linguagem é compreender como a linguagem se estrutura e funciona no interior da mente humana. 2) A linguagem é um sistema cognitivo que interage com outros sistemas no interior da mente. Explique como essa ideia se relaciona com a noção de interface e com o Princípio de Interpretabilidade plena. Na perspectiva da arquitetura da linguagem proposta pela teoria gerativa, a linguagem é apenas um dos componentes da inteligência humana. Podemos dizer que ela é um um sistema cognitivo que interage com outros sistemas, passando-lhes informações relativas a som e significado. Essa interação é posssível graças às chamadas interfaces. As interfaces da linguagem são duas: o sistema de pensamento e o sistema sensório-motor. Essas ideias se relacionam com o chamado Princípio da Interpretabilidade Plena na medida que, as informações transmitidas pelo sistema cognitivo da língua devem poder ser interpretadas pelos sistemas de interface. Assim, o Princípio da Interpretação Plena deve ser entendido como o conjunto das restrições cognitivas que os sistemas de interfaces impõem ao funcionamento da linguagem humana. 3) Quais são os componentes da linguagem? Os componentes da linguagem são quatro: o Léxico, Sistema Computacional, Forma Fonética (FF) e Forma Lógica (FL). O Léxico é o componente em que todas as informações sobre som e significado dos itens lexicais isolados estão depositadas. O Sistema Computacional ou Sintaxe é o encarregadode compor expressões complexas (sintagmas e frases) a partir da combinação recursiva de itens retirados do Léxico. A Forma Fonética (FF) converte as representações geradas pela Sintaxe em informações articulatórias e acústicas que podem ser enviadas para a interface sensório- motora. Por último, Forma Lógica transforma as representações geradas na Sintaxe em informações lógicas prontas para ser enviadas para a interface conceitual-intencional. – AULA 7 – 1) A que refere o termo traço na caracterização do léxico e quais são os tipos de traços que compõem os itens lexicais? As informações conceituais e linguísticas armazenadas no léxico de uma língua encontram-se organizadas na mente de maneira sistemática e coerente. Cada item do léxico é, na verdade, um conjunto de traços, ou seja, um conjunto de informações relativas a esse item. Os traços lexicais podem ser de três tipos: traços semânticos, traços fonológicos e traços formais ou sintáticos. Os traços semânticos presentes num item são aqueles que estabelecem relações entre a língua e o sistema conceitual- intencional, já os traços fonológicos estabelecem relações entre a língua e o sistema articulatório-perceptual. Traços formais codificam informações a serem acessadas e usadas pelo Sistema Computacional. 2) Porque os traços formais – e em particular os traços categoriais – são relevantes para o Sistema Computacional? Traços formais carregam a informação necessária para que o Sistema Computacional possa construir estruturas linguísticas, isto é, informam a respeito das relações sintáticas que um dado item lexical deve estabelecer com outros itens no interior da sentença em que venha a ser inserido. Um tipo específico de traço formal é a informação relativa à categoria de um item. Os itens do léxico apresentam informações sobre a classe de palavras à qual pertencem (verbo, nome, pronome, etc.). Esse tipo de traço é uma informação relevante para o Sistema Computacional porque o traço categorial de um item determina, por exemplo, a sua posição distribucional na frase. 3) Em que consiste o traço de seleção de um item e como essa noção se relaciona com os conceitos de predicador e argumento? Outro tipo de traço formal diz respeito às propriedades de seleção de determinado item. Certos itens apresentam a possibilidade de selecionar outro(s) item(ns) com os quais vão obrigatoriamente compor a estrutura de uma frase. Quando um item possui traços de seleção, dizemos que ele é um predicador (ele pode selecionar outros itens para compor uma estrutura). Já os elementos que são selecionados por um predicador são chamados argumentos. Um verbo (V) como comprar, na frase João comprou uma casa, é um predicador com dois argumentos (João e a casa), já um verbo como colocar em Marcelo colocou o dinheiro na poupança, seleciona três argumentos (Marcelo, o dinheiro e na poupança). 4) O que seria a estrutura argumental de um item? Chamamos estrutura argumental ao conjunto de informações associadas a um item do léxico que dizem respeito a: o número de argumentos que um predicador possui (um, dois, três argumentos?), o status do(s) argumento(s) com respeito ao seu predicador (o argumento é complemento ou especificador?), as restrições semânticas e formais a que os argumentos devem ser submetidos no momento da seleção. 5) Porque dividimos os argumentos em internos e externos? Os predicadores das línguas humanas possuem limitações quanto ao número de argumentos que podem selecionar. O número mínimo de argumentos que um predicador seleciona é um e o máximo é três. Seja qual for a quantidade de argumentos selecionados (um, dois ou três), há somente duas maneiras por meio das quais o sistema computacional pode estabelecer uma relação sintática entre um predicador e seu(s) argumento(s): [predicador → complemento] e [especificador ← predicador]. Ou seja, um argumento SEMPRE assume um status em relação a seu predicador: complemento ou especificador. O complemento de um predicador é também chamado argumento interno, enquanto seu especificador pode ser denominado argumento externo. Esses nomes refletem a maior imediaticidade (relação interna) da relação entre predicador e complemento, por contraste à menor imediaticidade (relação externa) estabelecida entre especificador e predicador. 6) Qual é a diferença entre argumentos e adjuntos? Argumentos são elementos cuja ocorrência na sentença se encontra prevista nos traços formais que fazem de certo item lexical um predicador. Uma sentença que deixe de realizar um ou mais argumentos selecionados por um predicador ou que realize mais argumentos dos selecionados redundará em agramaticalidade. Diferentemente dos argumentos, os adjuntos não são previsíveis a partir dos traços formais de um dado predicador, mas são selecionados de acordo com o planejamento de fala dos indivíduos. Os adjuntos não tem a ver com a gramaticalidade da sentença. – AULA 8 – 1) Qual é a diferença entre s-seleção e c-seleção? Não é qualquer tipo de palavra ou expressão que pode funcionar como argumento de um predicador. Além de selecionar argumentos e determiná-los como complementos ou especificadores, os predicadores também lhes impõem restrições semânticas e categoriais. As restrições semânticas que os predicadores impõem a seus argumentos são denominadas traços de seleção semântica ou s-seleção; já a c-seleção (seleção categorial) diz respeito à categoria sintática do argumento: especifica se o argumento que deve ser selecionado é um sintagma nominal (SN), um sintagma adjetivo (SA), um sintagma preposicionado (SP), etc. 2) Que são os papeis temáticos e qual é sua relação com a grade temática de um predicador? Uma propriedade dos predicadores é a sua capacidade de atribuir valores semânticos a seus argumentos. Os significados atribuídos aos argumentos são denominados papéis temáticos (papéis-θ, com a letra grega “theta”). A grade temática diz respeito aos traços que determinam que interpretações semânticas (ou papéis temáticos) devem ser associadas a cada um dos argumentos de um predicador (agente, paciente, tema, alvo, instrumento, são alguns dos papeis temáticos que podem ser atribuídos pelos predicadores – lembrando que nem todo predicador atribui todos os papeis possíveis). 3) Quais são as subcategorias dos predicadores verbais? Uma subcategoria é uma categoria dentro de outra categoria. Lembrando que V é uma categoria gramatical, as subcategorias de V dizem respeito às diferentes subclasses de verbos lexicais que existem nas línguas naturais. Predicadores verbais podem ser agrupados em três subcategorias: verbos transitivos, verbos inergativos e verbos inacusativos. Os transitivos incluem os predicadores verbais que selecionam argumento externo e um ou dois argumentos internos. Os inergativos são a subcategoria de verbos que selecionam apenas argumento externo e os inacusativos selecionam apenas argumento interno. - AULA 9- 1) Faça a representação em árvore sintática ou em colchetes das sentenças abaixo. a) João ama festas de aniversário. [SN João [SV ama [SN festas [SP de [SN aniversário]]]]]] SV SN V N V SN João ama N SP festas P' P N de aniversário b) Maria teve muitos filhos. [SN Maria[SV teve [SN muitos livros]]]] SV SN V N V SN Maria teve N D N muitos filhos -AULA 10- 1) Qual é a instância que se localiza entre o léxico e o sistema computacional? Explique-a. A numeração. Ela é uma entidade psicológica que corresponde aproximadamente ao nosso planejamento de fala. É a compilação dos conjuntos de instruções que serão retirados para uma derivação. 2) Chomsky afirma uma independência entre a sintaxe e a semântica. Que argumentos ele utiliza? Em seu texto inaugural da linguística gerativa (1957), Chomsky apresentou a frase “ideias verdes incolores dormem furiosamente” como uma argumentação em favor da relativa independência entre a sintaxe e a semântica. A frase, como vemos, é perfeita do ponto de vista sintático, mas anômala semanticamente – afinal, “ideias” não têm cores e “verdes” não podem ser incolor, além disso “ideias” não dormem e não se pode “dormir furiosamente”. A única maneira de conferir algum significado a essa estrutura sintática é imaginar conotações metafóricas ou contextos imaginativos livres, que, portanto, ultrapassarão o valor semântico básico de cada palavra.
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