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Economia da Saúde (1)

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1 
 
Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
Pedro Cezar Johnson Rodrigues de Britto 
Economia da Saúde 
 A ECONOMIA DA SAÚDE aplica os métodos e conhecimentos das CIÊNCIAS 
ECONÔMICAS como instrumentos auxiliares na resolução de questões de saúde. Estuda 
a OFERTA e DEMANDA de bens e serviços de saúde, e o impacto econômico do uso dos 
recursos disponíveis dos indivíduos e nas populações. Portanto, a economia da saúde é 
um ramo da economia aplicada. 
 Pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), temos o seguinte conceito de 
SAÚDE: saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente 
a ausência de doença. 
 Já pela legislação brasileira, a saúde é vista como direito dos cidadãos e dever do 
Estado, conforme consta na CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988 em seu artigo 196: “A 
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. 
 A ética econômica considera, preferencialmente custos e benefícios em 
agregados populacionais. Prioriza o bem comum, ou social, ainda que esse seja atendido 
para ações individuais e descentralizados (mercado) e que surjam eventuais 
desigualdades. O sistema que é essencial de alocação e de distribuição de recursos e 
bem-estar nas economias capitalistas é o sistema de preços. 
 Pela ética da saúde, é considerado que cada indivíduo é infinitamente 
importante, ou seja, uma vida não tem preço. 
 A economia da saúde origina-se de preocupações médicas, sociais e filantrópicas 
modernamente. Na economia neoclássica, admite-se como texto seminal o trabalho de 
KENNETH ARROW “UNCERTALTY AND THE WELFARE ECONOMICS OF MEDICAL CARE”, 
publicado no THE AMERICAN ECONOMIC REVIEW, VOL LIII nº 5, 941-973, 1963. 
 Como QUESTÕES BÁSICAS QUE A ECONOMIA DA SAÚDE deve ajudar a resolver, 
temos: 
I. Como definir e medir o bem final e os bens intermediários em saúde, e quais 
seriam as variáveis observáveis capazes de representa-las satisfatoriamente. 
Observamos que o bem final é aquele não destinado a destruição (transformação) 
durante a fabricação de outros bens. Hospitais, medicamentos, leitos hospitalares 
seriam bens intermediários na produção de saúde. Por outro lado, taxas de mortalidade, 
esperança de vida ao nascer, auto avaliação, índice de massa corporal são bens finais 
(OUTCOMES). 
II. Qual a repartição entre os bens de saúde e os demais bens da economia, e qual 
deveria ser a composição entre o PIB da saúde e o PIB não saúde. No Brasil a saúde 
corresponde a aproximadamente a 9,5% do PIB. Esse é um percentual parecido com os 
dos países de nível de desenvolvimento similar do Brasil e mesmo dos países da OCDE. 
2 
 
Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
O país desenvolvido com maior percentual é os EUA, com aproximadamente 16% do 
PIB. Nos países muito pobres essa porcentagem é muito menor. 
III. Quem e em que quantidade deveria se apropriar dos bens e serviços de saúde. 
Em países com altos níveis de disparidades socioeconômicas, a questão da apropriação 
dos bens é problemática em desfavor dos mais pobres e menos educados e de grupos 
sociais específicos da população. 
IV. Quem deveria pagar e quanto pela produção e consumo dos bens de saúde, e 
como o sistema de saúde deve ser financiado. Uma alternativa clara é o financiamento 
privado onde cada indivíduo ou família financia o próprio tratamento. A alternativa 
oposta seria o sistema público onde os contribuintes de impostos financiam o sistema. 
Nesse caso, entretanto, dependendo da estrutura e da incidência dos impostos, taxas e 
contribuições, alguns indivíduos pagarão mais do que outros independentemente da 
intensidade do uso dos serviços de saúde. No Brasil, onde constitucionalmente o acesso 
e o financiamento são públicos, aproximadamente 55% do financiamento é privado, e 
45% é público, contrariando claramente o texto Constitucional. 
Importância da saúde para o desenvolvimento econômico. 
Em termos econômicos, SAÚDE e EDUCAÇÃO são os pilares do CAPITAL 
HUMANO e contribuem para explicar o crescimento e o desenvolvimento das 
economias e países. Grandes saltos econômicos foram impulsionados pela melhoria da 
saúde pública, controle de doenças e a melhoria das condições nutricionais. Como 
exemplos, temos a Inglaterra na Revolução Industrial, o Japão e o sul dos EUA no início 
do século XX; sul da Europa e Ásia Oriental nos anos de 1950 e 1960. Há evidências de 
que países com piores condições de educação e saúde têm dificuldades obter 
crescimento econômico. Estimativas da OMS apontam que a cada 10% de aumento da 
esperança de vida ao nascer está associado com o aumento do crescimento econômico 
de pelo menos 0,3 a 0,4 pontos percentuais por ano, ceteris paribus. Ainda de acordo 
com a OMS, a alta prevalência da malária estaria associada com a redução de 
crescimento de 1% ou mais por ano. 
Existem diversos modos pelos quais as doenças atrapalham o desenvolvimento 
do bem-estar econômico: 
a. Doenças evitáveis diminuem a esperança de vida e a propensão de longo prazo 
a poupar e a investir. 
b. Na presença de altas taxas de mortalidade infantil (até um ano de idade) ou de 
crianças até cinco anos, os pais tendem a ter muitos filhos, o que reduz as possibilidades 
de investimentos em saúde e educação das crianças. É o QUALITY-QUANTITY TRADEOFF 
(GARY BECKER). 
c. As doenças diminuem as frequências e os rendimentos escolares. 
d. As doenças reduzem os retornos esperados dos investimentos públicos e 
privados por causa das perdas de produtividade e enfraquecimento da demanda. 
e. As doenças reduzem a produtividade dos trabalhadores e seus salários. 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
f. As doenças diminuem a coesão social podendo até mesmo contribuir para a 
segregação e a ruptura sociais e para enfraquecer a democracia. Por outro lado, a falta 
de democracia afeta negativamente a saúde pública. 
Uma discussão importante corre sobre a decisão “saúde em primeiro lugar” 
versus “crescimento em primeiro lugar”. As implicações da relação entre saúde e renda 
para a política econômica são críticas – assim, entra a questão de qual opção de política 
os governos deveriam seguir para atingir as metas de saúde e outras metas sociais. Há 
argumentos a favor de aumentar massivamente os investimentos sociais. Também há 
argumentos a favor de uma abordagem multisetorial enfatizando sinergia entre setores, 
investimentos gerais em infraestrutura e melhoria da governança. Outros, argumentam 
que metas setoriais são supérfluas e que o crescimento econômico é o principal motor 
dos resultados sociais. Nessa linha, o Banco Mundial preconiza que privatização, 
desregulação e liberalização comerciais são as palavras chaves. 
A transição da microeconomia para macroeconomia. 
A microeconomia propõe que melhores condições de saúde estão associadas 
com melhores resultados econômicos. Entretanto, seria incorreto transpor diretamente 
os resultados microeconômicos para o nível macroeconômico. Entre as razões mais 
discutidas para essa incorreção se encontram as chamadas FALHAS DE MERCADO: 
I. Existe grande presença de bens públicos (não rivalidade e não exclusão) fazendo 
o setor privado incapaz de fornecer as quantidades ótimas desses bens. 
II. Presença de externalidades positivas e negativas. 
III. MORAL HAZARD (dano moral): o indivíduona presença de plano de saúde ou de 
seguridade social passa a se arriscar mais, em uma primeira hipótese, ou, em uma 
segunda hipótese passa a utilizar demais o serviço sem utilidade. 
IV. Agenciamento (AGENCY): os prestadores de serviço induzem o uso excessivo dos 
serviços que ele oferece. O Brasil é campeão mundial de cesarianas também por conta 
disso. 
V. Seleção adversa aqui ocorre quando o plano de saúde seleciona o indivíduo mais 
arriscado do que o previsto. 
VI. Informação assimétrica: dado que os médicos e os profissionais de saúde 
entendem melhor as doenças do que os pacientes, e os pacientes, por sua vez, podem 
esconder dos profissionais determinados problemas que têm. 
VII. Problemas de monitoramento de qualidade, pois os pacientes não conhecem 
exatamente a qualidade de todos os componentes de seu tratamento, por exemplo, 
transfusão de sangue, qualidade de medicamentos genéricos, etc. 
VIII. Incertezas, pois os indivíduos não sabem quando vão ficar doentes e nem os 
custos da doença. Além disso, os diagnósticos, as prescrições e os resultados dos 
tratamentos são incertos. 
IX. Concentração dos mercados em grau elevado é muito comum em saúde, devido 
a presença de mercados não concorrenciais, além de diversas barreiras à entrada de 
ofertantes como a exigência de certificação (por exemplo, exigência de registro de 
médico para trabalhar), escala operacional elevada, etc. 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
Outro ponto importante é que as estimativas microeconômicas não consideram 
adequadamente as diferenças epidemiológicas (padrões de adoecimento nas 
populações) na determinação das diferenças de renda, entre os países, pois não utilizam 
modelo de equilíbrio geral. 
Adicionalmente, a melhoria das condições de saúde pode levar ao crescimento 
populacional com efeitos consideráveis sobre a renda per capita. Além disso, alguns 
fatores de produção importantes (terra, por exemplo) podem ser inelástica. Como 
consequência, os modelos microeconômicos podem superestimar os efeitos da 
melhoria da saúde sobre a renda. 
Macroeconomia, saúde e desenvolvimento econômico. 
As diretrizes macroeconômicas gerais (gastos públicos, controle da inflação, 
política fiscal, taxas de câmbio, entre outras) afetam a provisão de serviços de saúde e 
as condições de saúde da população. 
GASTOS PÚBLICOS: como uma grande parcela dos gastos em saúde vem do 
governo, restrições fiscais costumam afetar os gastos públicos em saúde. Ademais, os 
gastos em saúde são uma grande parcela dos gastos governamentais. No Brasil, o 
orçamento do Ministério da Saúde é o maior de todos, exceto pelo da Previdência. 
POLÍTICAS FISCAIS: as políticas relacionadas com fumo, álcool (bebidas) e arma 
de fogo, por exemplo, influenciam as demandas por tais produtos e afetam a saúde das 
pessoas. Por exemplo, no Brasil, a alta taxação de cigarros impulsiona a produção, o 
contrabando e o consumo de produtos de baixa qualidade e baixo preço, prejudicando 
os fumantes mais pobres que não podem comprar os produtos de “grife”. 
TAXA DE CÂMBIO: afeta a importação, o preço e as quantidades disponíveis de 
vacinas, drogas e de equipamentos. O Brasil é deficitário no setor. 
INFLAÇÃO: o setor saúde tem forte participação de serviços em sua composição. 
A inflação em serviços costuma ser mais difícil de controlar do que a inflação dos bens 
materiais, pois não existem estoque de serviços; e os serviços de saúde não concorrem 
muito pela via dos preços. Além disso, novas tecnologias em saúde costumam aumentar 
os preços dos tratamentos. 
Esperança de vida ao nascer e o crescimento econômico no Modelo 
Neoclássico. 
Esperança de Vida ao Nascer é um indicador clássico das condições saúde da 
população. O efeito de primeira ordem do aumento da esperança de vida é aumentar a 
população, o que, inicialmente, reduz as relações capital/mão-de-obra e terra/mão-de-
obra e reduz a renda per capita. Esse declínio inicial, posteriormente pode ser 
compensado por aumento do produto (PIB), pois ocorre afluxo de mão-de-obra para o 
mercado de trabalho. Esse segundo efeito pode até compensar o primeiro, 
principalmente se ocorrerem ganhos de produtividade. Entretanto, o efeito final é 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
incerto, na presença de inelasticidades de oferta de fatores de produção importantes, 
como a terra. 
Essa abordagem microeconômica é, basicamente, uma adaptação de uma 
função de produção do nível das firmas (microeconômica) para o nível nacional 
(macroeconômico), e que procura explicações para as variações na renda per capita. Os 
modelos de crescimento econômico têm sido extendidos para incorporar a saúde como 
capital humano dos modelos neoclássicos derivados do trabalho de Solow. 
Nos modelos neoclássicos de crescimento da teoria do capital humano, existem 
basicamente três fontes de crescimento: capital físico; capital humano; e a tecnologia. 
O capital humano (exemplo, saúde, educação, especialização, treinamento) é 
incorporado na função de produção agregada de Solow como fator exógeno ou como 
um determinante do progresso tecnológico. A teoria do crescimento endógeno difere 
da teoria de crescimento neoclássico ao enfatizar que o progresso tecnológico é um 
processo econômico, com determinantes econômicos de modo similar ao processo de 
acumulação de capital. 
Ao considerar o capital humano no processo de acumulação de capital, não há 
razão para que retornos marginais decrescentes levem a produtividade marginal do 
capital até zero, como nos modelos neoclássicos, dado que parte da acumulação de 
capital é o próprio progresso técnico necessário para neutralizar os retornos 
decrescentes. 
Essas teorias abriram espaços para a incorporação da educação e da saúde como 
importantes determinantes do crescimento econômico – tecnologia que era tratada 
como variável exógena, pode ser vista como endógena no modelo, em função da saúde 
e educação. 
Relação empírica entre saúde e desenvolvimento econômico. 
A abordagem empírica tradicional para estimar o impacto da saúde no 
crescimento econômico dos países utiliza dados de CROSS-SECTIONS (transversais) em 
modelos de regressão onde a taxa de crescimento da renda per capita é a variável 
dependente, e o regressor são dados de saúde medida por variáveis como: esperança 
de vida ao nascer, taxas de mortalidade, índice de massa corporal, etc., com a imposição 
de controles que são variáveis representantes: educação, grau de abertura comercial, 
qualidade das instituições, crescimento populacional, demografia, etc. Quase todos os 
estudos apontam evidências de uma relação positiva, significativa e considerável entre 
saúde e crescimento econômico. 
Os determinantes sociais da saúde – UM MODELO SISTÊMICO SIMPLIFICADO. 
A saúde dos indivíduos e das populações é determinada simultaneamente por 
vários fatores que podem, simultaneamente, ser agrupados em quatro conjuntos 
principais não hierarquizados. 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
1) AMBIENTE: explicita a dimensão física dos determinantes sociais da saúde, mas 
também engloba dimensões econômicas, sociais, culturais e psicológicas. Por exemplo, 
níveis e tipos de poluição, trânsito e transporte, estresse, violências, tratamentos dados 
aos grupos desfavorecidos, etc. Normalmente é exógeno aos indivíduos que pouco 
podem fazer isoladamente para minimizar os riscos. 
2) BIOLOIA HUMANA: é o corpo humano com suas característicasbiológicas e 
orgânicas. Por exemplo, herança genética, padrão de envelhecimento, suscetibilidade 
aos agentes patogênicos (causadores de doenças) – sejam eles biológicos 
(microrganismos), químicos (alergênicos, contaminantes, etc.) ou físicos (poeira, sol, 
calor, etc.). É exógeno, pois o indivíduo não escolhe o seu corpo herdado. 
3) ESTILO DE VIDA: são fatores endógenos resultados de escolhas que o indivíduo 
faz sobre trabalho (até certo ponto), lazer, exercícios e atividades físicas, consumo de 
drogas lícitas e ilícitas, automedicação, alimentação, etc. 
4) ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE CUIDADOS COM A SAÚDE (OFERTA DE 
SERVIÇOS): é a qualidade do sistema de saúde incluindo as condições de acesso, o grau 
de integralidade, a interação e as participações do sistema preventivo e curativo. É 
exógeno aos indivíduos. 
MICROECONOMIA E SAÚDE. 
No nível microeconômico a saúde tem um duplo papel: é um bem de consumo e 
um bem de investimento. 
Saúde como um bem de investimento: a saúde pode ser vista como um estoque 
de capital que produz hora de vida saudável. Essas horas de vida saudável produzem 
renda e bem-estar. A morte ocorre quando esse estoque cai abaixo de determinado 
nível. Então, somos investidores de saúde. Os indivíduos nascem com um estoque inicial 
de saúde que se deprecia com a idade, e com o estilo de vida inadequado. Entretanto, 
o estoque também pode ser incrementado por cuidadores na saúde e por estilo de vida 
adequado. 
Saúde como bem de consumo: como bem de consumo, a saúde afeta 
diretamente o nível de utilidade (bem-estar) dos indivíduos. Quanto mais saúde maior 
o nível de utilidade ou de bem-estar. 
A curva de indiferença entre saúde e demais bens: 
A saúde é insumo e restrição para o desenvolvimento e o bem-estar. O mapa de 
indiferença entre saúde e os demais bens da economia é limitado inferiormente pelo 
nível de saúde. 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
 
A taxa marginal de substituição entre saúde e os demais bens da economia: 
A TMS, no caso, da saúde, tem complexidades que vão além do que ocorre 
usualmente em economia. Veremos alguns componentes dessa complexidade. 
o A doença (no caso aqui, falando das graves) é um evento raro, por isso a utilidade 
marginal da renda no indivíduo doente seria menor e haveria relutância em transferir 
renda para cuidar de doenças. 
o A utilidade dos demais bens diminui na presença de doenças e a utilidade 
marginal da renda quando o indivíduo está doente diminui para os demais bens e 
aumenta para os bens de saúde. 
o Indivíduos com maior probabilidade de adoecer (que são normalmente os mais 
pobres) devem ser a favor de transferir renda pública para cuidar de doenças, e o oposto 
deve acontecer com os indivíduos de menor probabilidade (normalmente, os mais ricos). 
Então no caso agregado haverá um favorecimento aos gastos públicos em saúde 
dependentes da proporção de pobres e ricos na população. 
o A renda total dos indivíduos costuma diminuir quando há doença. Então, como 
a utilidade marginal é decrescente ela aumenta quando a renda diminui, e vice-versa. 
A demanda por saúde sob a ótica da teoria do capital humano. 
REFERÊNCIA: “ON THE CONCEPT OF HEALTH CAPITAL AND THE DEMAND FOR 
HEALTH” – MICHAEL GROSSMAN, JOURNAL OF POLITICAL ECONOMY, VOL 80, nº2, 1972: 
223-255. 
O estoque de saúde é um componente do capital humano dos indivíduos. 
OBSEVAÇÃO: conceituaremos capital humano da seguinte forma – é o 
investimento capaz de influenciar rendas monetárias e produtividades futuras por meio 
do incremento da qualificação dos indivíduos. É uma das fontes do crescimento e do 
desenvolvimento econômicos. Como PRINCIPAIS FORMAS, temos: educação, saúde, ON 
JOB TRAINING, migração e formação sobre preços e rendas. Como MOTIVAÇÃO, 
entendemos que isoladamente, o capital físico não explica crescimento da renda e do 
produto dos países. 
SAÚDE (S) 
C.I. 
SMÍNIMO 
8 
 
Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
 
CUSTO DO CAPITAL: refere-se aos preços dos bens de saúde (remédios, 
consultas, etc.). 
DEPRECIAÇÃO: refere-se ao desgaste natural causado pela idade, mas também 
pode incluir perdas causadas por maus hábitos e outros. 
EMC: capacidade de gerar saúde a partir dos insumos disponíveis. 
ESTÁTICA COMPARATIVA: 
Se 𝐶 + 𝐷 aumenta de 2 para 1, o estoque de saúde cai de 𝑆2 para 𝑆1, e vice-
versa. 
Se o retorno marginal do capital aumenta, a curva de EMC se desloca para a 
direita, de 𝐸𝑀𝐶𝐵𝐴𝐼𝑋𝑂 para 𝐸𝑀𝐶𝐴𝐿𝑇𝑂. 
Resumidamente, variações de custo, em geral, ocasionam movimentos ao longo 
da curva de EMC. Variações na eficiência marginal do capital deslocam a curva EMC. 
Uma observação importante é que nem sempre os movimentos de aumento e 
diminuição de 𝑆 serão simétricos ou possíveis. Pode ocorrer que perdas de saúde sejam 
irrecuperáveis (sequelas). 
A TAXA DE RETORNO E O VALOR DA SAÚDE. 
O valor da saúde pode ser medido indiretamente porque, quando saudáveis, os 
indivíduos geram renda. A perda dos rendimentos e do bem-estar causada pela doença 
são uma PROXY para o valor da saúde e para a taxa de retorno do investimento em 
saúde. 
EDUCAÇÃO E SAÚDE: indivíduos mais educados são mais saudáveis, e demandam 
mais saúde por, pelo menos, três motivos. (1). Combinam melhor os bens (insumos) que 
produzem saúde, ou seja, são mais eficientes na produção de saúde. (2). Como auferem 
maiores rendimentos no trabalho, perdem mais renda quando estão doentes (tem 
maior custo oportunidade) e procuram evitar a doença. Como vimos, a educação 
também é um investimento cuja taxa de retorno depende da saúde. (3). Indivíduos com 
maior renda (mais educados) podem comprar mais bens que produzem saúde. 
EMCBAIXO 
CUSTO DO CAPITAL (C) 
+ 
DEPRECIAÇÃO (D) 
(C + D)1 
(C + D)2 
S1 S2 
SAÚDE 
(ESTOQUE DE CAPITAL, K) 
EMCALTO 
Eficiência Marginal do Capital 
9 
 
Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO 
Podemos então concluir que indivíduos e sociedades mais educadas também 
tendem a ser mais saudáveis. 
DEMANDA POR SAÚDE VS NECESSIDADES EM SAÚDE. 
CONCEITO DE NECESSIDADE: é a quantidade de bens e serviços em saúde que a 
opinião do profissional de saúde (médicos, enfermeiros, etc.) acredita que deve ser 
consumida em determinado período de tempo, para que as pessoas, permaneçam tão 
saudáveis quanto possível, de acordo com o conhecimento existente. 
A DEMANDA POR SAÚDE: depende das preferências, preços e renda dos 
consumidores, sendo, portanto, endógena aos indivíduos. Por outro lado, as 
necessidades são exógenas, pois dependem da opinião de terceiros (os profissionais de 
saúde). 
CONCEITO DE UTILIZAÇÃO EM SAÚDE: refere-se aos bens e serviços 
efetivamente consumidos independentemente da demanda potencial ou das 
necessidades. Depende das condições gerais de acesso aos serviços e bens de saúde. 
Pode ser restrita por problemas na oferta efetiva, dos bens. Por exemplo, o indivíduo 
pode necessitar de uma internação (tem necessidade), demandar a internação 
(quer/deseja se internar e tem renda suficiente), mas não encontrar vaga em hospital 
lotado. 
AS ELASTICIDADES DA DEMANDA DE BENS DE SAÚDE. 
ELASTICIDADE PREÇO: os bens de saúde costumam ser essenciais, o que os torna 
normalmente inelásticos. As pessoas não podem abrir mão de tratamentos de saúde e 
tendem a tentar manter as quantidades consumidas quando os preços sobem. Por outro 
lado, elas não vão consumir quantidades maiores dos bensquando os preços caem se 
estiverem saudáveis. Um outro fator que tende a tornar a elasticidade preço da 
demanda baixa é que existem, em geral, poucos substitutos para os bens de saúde. Um 
exemplo, em que a concorrência pode ser significativa é o caso dos medicamentos onde 
a presença de genéricos e similares com o mesmo princípio ativo (substância) pode 
aumentar a concorrência. A forma de apresentação (diferentes doses ou vias de 
ingestão) também ampliam as opções para o consumidor. Outro fator que dificulta a 
variação das quantidades é a grande presença de serviços entre os bens de saúde. Como 
serviços (consultas, internações, etc.) não podem ser estocados, não é possível formar 
estoques reguladores e nem preventivos. A elasticidade preço da demanda com 
consultas médicas depende muito das circunstâncias, mas costuma variar entre -0,1 e -
0,2. No caso das internações costuma variar entre -0,03 e -0,5. No caso de 
medicamentos que tenham concorrência pode se situar em torno de -1. 
ELASTICIDADE RENDA DA DEMANDA POR BENS DE SAÚDE: os bens de saúde são 
bens normais e, portanto, apresentam elasticidade renda positiva, um exemplo atual é 
a queda na posse de planos de saúde no Brasil decorrentes da atual recessão econômica 
(2017) e da queda de renda da população. A despeito disso, os reajustes dos preços dos 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
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planos de saúde individuais, que são regulados pela ANS, têm sido acima da inflação 
oficial nos períodos recentes em função da baixa elasticidade preço setorial. 
ALGUMAS QUESTÕES QUE PODERÃO AGORA SER RESPONDIDAS, COM BASE 
NO MATERIAL ESCRITO ATÉ AQUI: 
1) Conceitue economia, saúde (de acordo com a OMS) e economia da saúde. 
2) Diga quais são as principais tarefas da economia da saúde. 
3) Cite dois fenômenos que levam a doença a atrapalhar os investimentos e o 
crescimento econômico. 
4) Disserte sobre o duplo papel da saúde sob a óptica microeconômica. 
5) Explique por que indivíduos mais educados demandam mais saúde. 
6) Explique a diferença entre demanda e necessidade de saúde. 
7) Explique os tipos de incertezas em saúde que você conhece. 
8) Comente: “O estilo de vida não é importante para a saúde dos indivíduos e da 
sociedade. Somente a genética é importante”. 
9) Explique como a eficiência marginal do capital afeta o estoque de saúde dos 
indivíduos. 
10) Explique os conceitos de MORAL HAZARD e SELEÇÃO ADVERSA em saúde. 
 
A OFERTA DE BENS E SEVIÇOS EM SAÚDE. 
Estudar a oferta de bens e serviços em saúde é uma tarefa bem complexa. As 
atividades do setor são múltiplas e diferenciadas. Como existe forte presença de bens 
públicos, externalidades e bens de mérito (bens socialmente desejados), os custos e os 
preços podem ter papel secundário na determinação das quantidades ofertadas. Além 
disso, os bens e serviços em saúde também são, em grande parte intangíveis. 
A intangibilidade implica na impossibilidade de formação de estoques e de 
revenda e dificultam a padronização e a experimentação. Adicionalmente, bens e 
serviços de saúde sofrem restrições e regulações referentes a propaganda, competição, 
preços cobrados, sigilo informacional (dados de pacientes) e a entrada, atuação e saída 
de produtos (por exemplo, medicamentos) e agentes (por exemplo, médicos) do 
mercado. 
Concluímos então, que a oferta de bens e serviços de saúde tem uma economia 
bastante diferente dos padrões usuais encontrados nos manuais e livros-texto de 
economia que costumam usar como paradigma o setor industrial e o setor agrícola. 
As dificuldades que relatamos afastam empresas maximizadoras de lucro no 
setor saúde com maior intensidade do que ocorre em outros setores. As firmas com fins 
lucrativos via de regra não seriam mesmo capazes de maximizar o bem-estar social, pois 
ofertariam níveis de produção abaixo do que seria socialmente desejável. 
 
 
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Notas de aula da disciplina ECONOMIA DA SAÚDE, ministrada pelo professor ALEXANDRE 
MARINHO – 2016.2 – UERJ por PEDRO BRITTO

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