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FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA Saúde Suplementar no Brasil Rua Senador Dantas, 74 | Térreo, 2ª Sobreloja, 3°, 4° e 14° andares Centro | Rio de Janeiro | CEP: 20031-205 Telefone: (21) 3380.1000 | Fax: (21) 3380.1546 www.funenseg.org.br | faleconosco@funenseg.org.br Sandro Leal Alves FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA Saúde Suplementar no Brasil FU N D A M E N TO S , R E G U LA Ç Ã O E D E S A FIO S D A S A Ú D E S U P LE M E N TA R N O B R A S IL | S A N D R O LE A L A LV E S A ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS A Escola Nacional de Seguros foi fundada em 1971, com a missão de desenvolver o mercado de seguros através da geração e difusão de conhecimento e da capacitação de profissionais. A princípio com um ensino voltado para a parte técnica, a Escola elaborou o curso para formação e habilitação de corretores de seguros – o mais requisitado entre os oferecidos pela instituição – e outros programas educacionais, como palestras, workshops, seminários e apoio a pesquisa, atividade que hoje se dá sob a competência do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES). Com a crescente demanda por qualificação de nível superior, em 2005, a Escola foi autorizada pelo Ministério da Educação (MEC) a ministrar, no Rio de Janeiro, a graduação em Administração de Empresas com ênfase em Seguros e Previdência, a primeira do Brasil com tais características. Desde 2009, o curso também é dado em São Paulo. Em menos de uma década, a Escola tornou-se a terceira melhor faculdade de Administração das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, considerando o ranking do Índice Geral de Cursos (IGC), medido pelo Inep/MEC. Por sua excelência na área de administração, seguros e previdência, a instituição fundou, em 2014, o Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), com o objetivo de analisar os caminhos da indústria de seguros nacional, provendo-a de novos conhecimentos e tecnologias sobre os principais temas que afetam esse mercado: mudanças climáticas, mortalidade no trânsito e aspectos da demografia brasileira. A Escola Nacional de Seguros tem sede no Rio de Janeiro, conta com outras doze unidades regionais e está presente em cerca de 80 cidades de todo o país, através de parcerias, atendendo a mais de 10 mil alunos por ano, por meio de aulas e eventos presenciais e também à distância. Consegue, assim, manter e expandir o elevado padrão de qualidade que é sua marca, bem como ratificar sua condição de maior e melhor escola de seguros do Brasil. Escola Nacional de Seguros www.funenseg.org.br 9 788570 525789 ISBN 978-85-7052-578-9 Sandro Leal Alves Gerente-geral da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Sandro Leal Alves é bacharel e mestre em Economia pela Universidade Santa Úrsula, do Rio de Janeiro, com extensão em Regulação e Concorrência pelo Instituto de Economia (IE) da UFRJ e formação complementar em Economia da Saúde na Universidade de York, no Reino Unido. Sandro Leal Alves atua no setor de Saúde Suplementar desde o ano 2000, lecionando sobre saúde suplementar em cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Seguros e outras instituições como FGV e IBMEC. É membro do Conselho Editorial da revista Cadernos de Seguro e da Revista Brasileira de Risco e Seguro. É membro do Conselho de Administração da Organização Nacional de Acreditação e, por duas vezes (2007 e 2009), venceu o prêmio de melhor trabalho em Regulação Econômica da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, com estudos sobre impactos da regulação no setor de Saúde Suplementar. Atuou como economista na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de 2000 a 2005, época em que foram editadas as primeiras regras de garantias financeiras do setor. Antes, foi chefe de divisão na área de Defesa da Concorrência da SEAE/MF e pesquisador no Centro de Estudos de Reforma do Estado na EPGE/FGV. Artigos de sua autoria já foram publicados em diferentes revistas especializadas e jornais. É coautor do livro ‘Planos Odontológicos: Uma Abordagem Econômica no Contexto Regulatório’, publicado pela ANS em 2003, e teve a dissertação de Mestrado ‘Análise Econômica da Regulamentação e do Setor de Planos e Seguros de Saúde no Brasil’ incluída em livro da Funenseg, em 2004. Sandro Leal Alves FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA Saúde Suplementar no Brasil © Funenseg. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros, sem autorização por escrito da Fundação Escola Nacional de Seguros – Funenseg. 1ª edição: Novembro, 2015 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS – FUNENSEG Rua Senador Dantas, 74 – Térreo, 2º, 3º, 4º e 14º andares CEP 20031-205 – Rio de Janeiro/RJ – Brasil Tels.: (21) 3380-1000 / Fax: (21) 3380-1546 Internet: www.funenseg.org.br E-mail: faleconosco@funenseg.org.br Coordenação editorial | Centro de Pesquisa e Economia do Seguro / Coordenadoria de Publicações Edição | Vera de Souza e Mariana Santiago Produção gráfica | Hercules Rabello Projeto gráfico, capa e diagramação | Grifo Design Revisão | Monica Teixeira Dantas Savini Virginia Thomé – CRB-7/3242 Responsável pela elaboração da ficha catalográfica A482f Alves, Sandro Leal Fundamentos, regulação e desafios da saúde suplementar no Brasil / Sandro Leal Alves. -- Rio de Janeiro : Funenseg, 2015. 192 p. ; 26 cm ISBN nº 978-85-7052-578-9. 1. Saúde suplementar – Brasil. 2. Plano de saúde – Brasil. I. Título. 0015-1570 CDU 368.4(81) Agradecimentos A ideia de escrever um livro sobre os fundamentos, a regulação e os desafios da saúde suplementar surgiu já faz algum tempo. Felizmente o projeto tomou forma e deco-lou graças ao incentivo da diretora executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes, a quem agradeço imensamente, e que viu a construção do trabalho desde suas primeiras linhas. Meus sinceros agradecimentos ao presidente da FenaSaúde Marcio Serôa de Araujo Corio- lano e ao diretor-executivo José Cechin com quem tive a honra de compartilhar os enten- dimentos e enfrentar os desafios deste complexo e apaixonante setor econômico, muitos deles desenvolvidos ao longo deste livro. A convivência em um setor tão intenso, e a esti- mulante troca de experiências, ao longo dos anos, sem dúvida foram fundamentais para a construção deste trabalho. Escrever um livro é um exercício que se inicia na monografia, ainda no curso de graduação e se aprimora na dissertação de mestrado. A organização das ideias e o gosto pela escrita devem se unir ao rigor das proposições, das hipóteses até se chegar à conclusão. Tive a honra de ser orientado pelo Prof. José L. Carvalho que mesmo estando momentaneamente fora do país enviou críticas, comentários e sugestões que ajudaram a tornar o texto mais leve, sem perder de vista os fundamentos econômicos. Também agradeço ao professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da EAESP/FGV Gesner Oliveira e ao professor e chefe do departamento de economia da PUC-SP Roland Saldanha pela leitura atenta e pelo debate promovido com o grupo de eco- nomia e regulação da FGV/SP que muito acrescentaram, em especial nas questões de regu- lação e defesa da concorrência que muito interessam ao setor. Ao Prof. Claudio R. Contador, diretor do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro da Escola Nacional de Seguros e colega no conselho editorial da Revista Cadernos de Seguro e da Revista Brasileira de Risco e Seguro, meus agradecimentos por acreditar no projeto desde o primeiro dia. E também por ampliar o debate na forma de seminário de pesquisa. Agradeço às contribuições recebidas de diversos colegas de diferentes formações aca- dêmicas e profissionais, em especial a Lauro Faria, Natália Oliveira, César Serra, Leandro Fonseca, William Moreira Neto, César Neves, Eduardo Fraga, Angélica Carlini, Maria Tere- za Pasinato, Thompson Santos e Maria StellaGregori. Agradeço os comentários de Vera Sampaio, Juliana Portella, Mônica Costa, Álvaro Almeida e Ana Bertani, dedicada equipe de especialistas da FenaSaúde, em especial a Sandro Diniz pela valiosa ajuda na organização dos dados, e a Marlene Almeida e Cássia Mello. E aos colegas da Escola Nacional de Segu- ros pelo ótimo trabalho de produção. Contando com o apoio de profissionais de primeiríssima linha, acredito que o trabalho pos- sa ser útil para esclarecer questões que mais afligem os operadores da saúde suplementar bem como estudantes que almejam conhecer melhor o funcionamento deste setor. O conhe- cimento da técnica e dos fundamentos ajuda a desmistificar dogmas ainda reinantes. Erros e omissões são de responsabilidade exclusiva do autor. Agradeço e dedico este livro a Beth, Lucas, João e Rafael Covre Alves. PREFÁCIO ............................................................................................................................. 15 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 17 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 19 CAPÍTULO 1 – COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR ............................................ 21 1.1 A Dimensão Econômica e Social da Saúde Suplementar ..................................... 21 1.1.1 Melhoria do capital humano – saúde e produtividade da população ............ 22 1.1.2 Estímulo à geração de renda ao longo da cadeia produtiva ........................ 25 1.1.3 Estímulo à formação de poupança ................................................................ 28 1.1.4 Melhoria da eficiência econômica ................................................................. 29 1.2 Histórico e Surgimento dos Planos de Saúde ........................................................ 30 1.3 Saúde Pública e Saúde Privada ............................................................................... 31 1.3.1 A divisão entre Estado e Mercado na saúde ................................................ 31 1.4 Fundamentos Técnicos – Mutualismo, Faixas Etárias e Precificação ..................... 42 1.4.1 Plano de Saúde é Seguro .............................................................................. 42 1.4.2 Formação dos Preços e Precificação ............................................................ 47 1.4.3 Custos e Faixas Etárias .................................................................................. 49 1.4.4 Fatores que Influenciam o Preço ................................................................... 54 1.5 Instituições Setoriais ................................................................................................ 55 1.6 Categorias de Produtos e Operadoras ................................................................... 59 1.6.1 Tipo de Contratação: Planos Individuais, Coletivos Empresariais e Coletivos por Adesão .................................................................................. 59 1.6.2 Segmentação Assistencial – Médico-Hospitalar e Odontológico .................. 61 Sumário 1.6.3 Modalidades de Operadoras ......................................................................... 63 1.6.4 Estrutura do Setor ........................................................................................... 65 CAPÍTULO 2 – REGULAÇÃO SETORIAL: TEORIA E PRÁTICA ............................................ 67 2.1 Falhas de Mercado e Falhas de Governo ................................................................ 68 2.2 Regulação Prudencial .............................................................................................. 72 2.3 Regulação Assistencial – Coberturas, Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde e Qualidade ........................................................................... 76 2.3.1 Revisão do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde ............................... 77 2.3.2 Avaliação da Qualidade de Operadoras ........................................................ 78 2.3.3 Avaliação da Qualidade de Prestadores ........................................................ 78 2.4 Regulação Econômica de Preços e Reajustes ........................................................ 80 2.5 Histórico e Marco Legal ........................................................................................... 82 2.5.1 Primeira Fase – As normas do CONSU (1999) e o início da ANS ................. 88 2.5.2 Segunda Fase – de 2004 a 2010 ................................................................... 91 2.5.3 Terceira Fase – De 2010 a 2012 .................................................................... 96 2.5.4 Quarta Fase – de 2012 a 2015 ..................................................................... 100 2.5.5 Quinta Fase – de 2015 em diante ................................................................ 102 CAPÍTULO 3 – QUESTÕES ATUAIS .................................................................................... 109 3.1 Outras Tendências e Movimentos do Mercado ..................................................... 109 3.1.1 Regulação, Economias de Escala e Concentração .................................... 109 3.1.2 Verticalização e abertura ao capital estrangeiro ........................................... 113 3.2 Distorções e Falhas Competitivas no Mercado de Prestadores e Insumos ......... 118 3.2.1 A questão das Órteses e Próteses e Materiais Especiais (OPME) e os Dispositivos Médicos Implantáveis ...................................................... 118 3.2.2 Judicialização: o encontro da economia e do direito .................................. 129 3.2.3 Práticas Anticoncorrenciais de Cooperativas de Especialidades Médicas ......................................................................... 134 3.2.4 O Impacto na Inflação Médica (ou Variação dos Custos Médico-Hospitalares) ........................................... 137 3.2.5 Um retrato da situação financeira do setor .................................................. 143 3.2.6 Eficiência e a Relação Risco x Retorno ........................................................ 153 CAPÍTULO 4 – DESAFIOS DEMOGRÁFICOS E EPIDEMIOLÓGICOS ............................... 159 CAPÍTULO 5 – COMBINANDO REGULAÇÃO COM INCENTIVOS .................................... 169 5.1 Franquias e Coparticipações fortalecendo o Consumidor e preservando o Sistema ................................................................................................................ 169 5.2 Transparência de preços, custos e resultados assistenciais ................................ 172 5.3 ATS – Avaliação de Tecnologias da Saúde e sua correta indicação ..................... 172 5.4 Análise de Impacto Regulatório – Por que a regulação gera custos .................... 177 5.5 Reforma nos modelos de pagamento – O objetivo é a saúde .............................. 179 5.6 Saúde, Previdência e Assistência ao Idoso – De olho no futuro sem descuidar do presente ........................................................................................... 182 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 185 Figuras Figura 1. Quadro Institucional da Saúde no Brasil ...................................................... 41 Figura 2. Modelo de Seguro Saúde Tradicional .......................................................... 43 Figura 3. Modelo de Planos de Saúde ........................................................................ 44 Figura 4. Regulação da Saúde Suplementar .............................................................. 57 Figura 5. Eixos da Regulação ...................................................................................... 85 Figura 6. Cronologiadas mudanças nas regras de reajuste dos planos individuais antigos (2004) ............................................................................. 92 Figura 7. Ações judiciais para obtenção de medicamentos e dispositivos médicos (2013) ........................................................................................... 133 Figura 8. Dinâmica da VCMH na saúde .................................................................... 138 Figura 9. Desenho do estudo .................................................................................... 144 Figura 10. Como as tecnologias devem ser incorporadas? ....................................... 175 Figura 11. Análise de Impacto Regulatório – políticas regulatórias baseadas em evidências ............................................................................................ 179 Gráficos Gráfico 1. Saúde (Expectativa de Vida) e Renda Per Capita em Países Selecionados .............................................................................. 23 Gráfico 2. Despesa em saúde no Brasil – Público, Privado e PIB (%) ......................... 39 Gráfico 3. Gasto total com saúde no Brasil: público e privado (% e R$ bilhões) – 2014 ................................................................................ 40 Gráfico 4. Custo e idade – Curva quase U (Distribuição dos gastos médios por pessoa, 2009) ................................... 48 Gráfico 5. Taxa % de internações hospitalares SUS 2014 ............................................ 49 Gráfico 6. Custo assistencial médio por beneficiário segundo a faixa etária (7 faixas etárias) ............................................................................................ 50 Listas Gráfico 7. Custo assistencial médio por beneficiário segundo a faixa etária (10 faixas etárias) .......................................................................................... 51 Gráfico 8. Evolução de beneficiários nos últimos dez anos por tipo de contratação .............................................................................................. 60 Gráfico 9. Evolução de beneficiários nos últimos dez anos por modalidade .............. 65 Gráfico 10. Margens sobre OPME ................................................................................ 122 Gráfico 11. Variação da despesa assistencial per capita na saúde suplementar e IPCA – Brasil (2001-2014) ........................................................................ 139 Gráfico 12. Despesa assistencial, beneficiários e IPCA (taxa acumulada – Jun/07-Jun/14) ............................................................. 140 Gráfico 13. Variação do gasto em saúde per capita e CPI (Consumer Price Index) – EUA (1960-2014) .................................... 141 Gráfico 14. Evolução das aplicações financeiras (CDI) vs. ROE Saúde Suplementar ...................................................................... 148 Gráfico 15. Risco X Retorno (Sinistralidade – MH) ....................................................... 157 Gráfico 16. Projeção da população Brasileira .............................................................. 162 Gráfico 17. Projeção da população Brasileira .............................................................. 164 Gráfico 18. Brasil: razão de dependência populacional – 2000/2060 .......................... 165 Gráfico 19. Principais causas de mortes no Brasil (2010) ............................................ 166 Gráfico 20. Pirâmide etária do percentual de beneficiários de planos de assistência médico-hospitalar por tipo de contratação do plano e sexo (Brasil – Março/2015) ...................................................................... 168 Gráfico 21. Renda e consumo privado, Brasil 2008 ..................................................... 183 Gráfico 22. Evolução da taxa de desemprego e rendimento médio real (Mar/2002 – Mai/2015) ................................................................................ 184 Quadro Quadro 1. Principais diferenças entre Odontologia e Medicina ................................... 63 Tabelas Tabela 1. Produção assistencial e taxa Per Capita 2013 (Saúde Suplementar e SUS) ........................................................................ 24 Tabela 2. Operadoras de planos de saúde (Dez/2014) .............................................. 25 Tabela 3. Típica estrutura da demonstração de resultados de uma operadora de planos de saúde ...................................................................................... 26 Tabela 4. Receitas, despesas assistenciais e sinistralidade (2014) ............................ 27 Tabela 5. Estabelecimentos de saúde por atendimento a planos privados de saúde (Brasil – Março/2015) ................................................................... 28 Tabela 6. Receita e despesa da saúde suplementar e outros ramos de seguro – 2014 .......................................................................................... 29 Tabela 7. Relação público/privado nos gastos com saúde em países selecionados ............................................................................... 37 Tabela 8. Estrutura do mercado de saúde suplementar em 2014 .............................. 66 Tabela 9. Produção normativa ao longo do tempo ..................................................... 86 Tabela 10. Liquidações extrajudiciais decretadas ......................................................... 86 Tabela 11. Histórico dos reajustes do plano individual, IPCA e variação da despesa assistencial Per Capita ............................................................. 87 Tabela 12. Liquidações extrajudiciais decretadas ......................................................... 90 Tabela 13. Operadoras que sofreram intervenções da ANS por segmento ............... 109 Tabela 14. Composição de receitas e despesas hospitalares .................................... 122 Tabela 15. Tendências de Crescimento de Custos em Diversos Países – 2014 ......... 142 Tabela 16. Descrição da amostra por operadoras, beneficiários e dados econômicos .................................................................................. 145 Tabela 17. Indicadores operacionais ........................................................................... 146 Tabela 18. Indicadores de rentabilidade ...................................................................... 147 Tabela 19. Índice de liquidez ........................................................................................ 149 Tabela 20. Indicadores de estrutura de capital ............................................................ 150 Tabela 21. Amostra por modalidade ............................................................................ 151 Tabela 22. Sinistralidade das operadoras solventes e insolventes ............................. 151 Tabela 23. Patrimônio líquido – Receita e despesa assistencial (Insolventes) ........... 152 Tabela 24. Estudos sobre impacto da tecnologia nos custos da saúde .................... 173 Tabela 25. Taxa de ressonância nuclear magnética, tomografia computadorizada e consultas médicas – Brasil e países selecionados OCDE ..................... 174 15 Prefácio Para enfrentar os desafios que se enfileiram diante do cenário de maior longevidade, conquista social da maior importância, e dos custos assistenciais e da regulação cres-centes, a saúde suplementar precisa, sobretudo, ser conhecida. Mas não bastam os noticiários, artigos e reportagens sempre presentes nos principais veículos de comunicação. A saúde suplementar precisa ser conhecida em seus fundamentos, seus conceitos, sua dinâmica própria e arcabouço regulatório peculiar. Essa não é tarefa fácil, mas crucial para que a sociedade possa avaliar em profundidade um setor com grande contribuição para a geração de riqueza no país, para a inovação tecnológica nacadeia de prestação de serviços médicos, e, que, definitivamente, consolidou contribuição para a proteção e bem-estar de milhões de beneficiários, garantindo-lhes o acesso de qualidade a tratamentos e serviços de saúde, e, atualmente, produzindo mais de um bilhão de procedimentos médicos anuais. Não é por outra razão senão a intenção de dar visibilidade a essa contribuição do setor, que a comunicação e a produção científica sistemáticas vêm ocupando lugar de destaque, e devem ser mais estimuladas ainda. A obra de Sandro Leal Alves vem suprir uma lacuna existente na literatura sobre a saúde suplementar, ao percorrer todas as dimensões do setor, com rigor científico alicerçado nos fundamentos securitários, mas sem excessos de economês. Contribui também, decisiva- mente, para desconstruir mitos midiáticos de forma didática. O livro aborda de forma am- pla as restrições – normativas e concorrenciais – que desafiam as Operadoras Privadas de Saúde para o exercício da adequada gestão do acesso e dos custos, da urgente redução de desperdícios e más-condutas, e aponta claramente para a necessidade de que sejam debatidos os problemas estruturais do setor. Problemas que vão desde falhas do próprio ar- cabouço regulatório, passando por desequilíbrios presentes na organização e dinâmica da cadeia produtiva e de distribuição de insumos, até o imperativo evidente de que a demanda por novas incorporações ao Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde seja compatibilizada à disposição e capacidade de pagamento da sociedade. O livro teve êxito na sua concepção, portanto, ao abordar os principais aspectos da atividade de forma compreensiva, lançando luz sobre cada um deles e acenando seriamente com os desafios que devem ser enfrentados para a sustentabilidade do setor. Enfim, um remédio indispensável contra a ideologia, o preconceito e o desconhecimento. Passa a ser leitura recomendada tanto para aqueles que operam no dia a dia do setor de saúde privada, quanto para jornalistas, estudiosos, acadêmicos, reguladores e magistrados. Marcio Serôa de Araujo Coriolano Presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar 17 Apresentação E m 2004 a Escola publicou a dissertação de mestrado de Sandro Leal Alves sob o título “Análise Econômica da Regulamentação e do Setor de Planos e Seguros de Saúde no Brasil”, trabalho que quantificava os efeitos da assimetria de informação do setor de saúde suplementar e que tive o prazer de participar da banca. Este seria o embrião de uma pesquisa que conquistou o primeiro lugar no Prêmio Seae de Regulação Econômica do Ministério da Fazenda em 2007. De lá pra cá, o setor cresceu, e muito. E Sandro continuou conciliando sua atividade profissional com intensa produção acadêmica na área da saúde suplementar divulgando diversos estudos e artigos nas publicações da casa, tanto na Revista Brasileira de Risco e Seguro (RBRS) quanto na revista Cadernos de Seguro, de cujo conselho editorial o autor também é integrante. Este livro vem de certa forma organizar e consolidar cerca de 15 anos de estudos dedicados ao setor de saúde suplementar e que, com qualidade acadêmica aliada à experiência de profissional atuante no setor, muito acrescenta ao acervo técnico-científico da Escola. Ele trata de aspectos econômicos importantes do setor de saúde suplementar e mostra como a estrutura de incentivos pode produzir distorções e falhas no comportamento dos agentes econômicos. Também aborda a regulação setorial, tanto sob o aspecto evolutivo e histórico como técnico, chamando a atenção para as tensões existentes entre falhas de mercado e falhas de governo. O texto convida o leitor a refletir sobre os desafios de uma mudança demográfica acelerada e seus impactos sobre a saúde. Algumas soluções também são abordadas como meios de compatibilizar os desejos e necessidades da população com sua capacidade de pagamen- to. A avaliação criteriosa da incorporação das tecnologias na saúde e a análise de impacto regulatório certamente continuarão presentes na agenda de pesquisas e debates do setor. Após anos de intenso crescimento e regulação do setor, a profissionalização dos ope- radores é indiscutível e o processo contínuo de formação e aperfeiçoamento será muito beneficiado com essa obra. É com prazer que a Escola Nacional de Seguros lança este livro destinado a servir como referência de leitura e incentivo a novas pesquisas na saúde suplementar. É um livro destinado também a se tornar um clássico na literatura técnica do setor de saúde no Brasil. Prof. Claudio R. Contador, PhD. Escola Nacional de Seguros 19 Introdução O objetivo de escrever um livro trazendo os fundamentos, regulação e os desafios da saúde suplementar é essencialmente estimular o debate de ideias e a reflexão sobre este importante segmento da economia e da sociedade. O debate ainda é concen- trado em poucos pesquisadores. É importante estimular o debate em outras áreas de pes- quisa, como a economia, além das demais. Por tratar-se de um setor complexo, dinâmico, com muitos conflitos de interesse e assimetrias informacionais e com amplo alcance social, muitas áreas do conhecimento são convidadas a se debruçar sobre as questões essenciais do setor, os desafios, a regulação e as propostas que possam garantir a sustentabilidade econômica do sistema preservando a qualidade da prestação dos serviços. Primeiramente, no capítulo 1, buscou-se, correndo o risco da obviedade, ressaltar a im- portância da atividade em termos econômicos e sociais, muitas vezes esquecida ou in- compreendida. Abordamos a melhoria do capital humano, a geração de renda ao longo da cadeia produtiva, a formação de poupança e a melhoria da eficiência econômica como sendo os insumos oferecidos pelo setor para o desenvolvimento econômico e social. Em seguida, como não poderia deixar de ser, é importante situar o desenvolvimento do setor historicamente, assim como a divisão entre o setor público e o setor privado. Procuramos mostrar que o plano ou seguro de saúde funciona sob os mesmos fundamentos do seguro, em termos atuariais e econômicos. A regulação, por sua vez, trouxe restrições que deman- daram modificações no sistema para adaptação a uma realidade de ampla repercussão social. A formação dos custos e preços do setor é analisada à luz dos fundamentos téc- nicos, mostrando os desvios da saúde suplementar em relação aos conceitos tradicionais de funcionamento do mercado de seguros. Antes de adentrar no campo da regulação pro- priamente dita, buscou-se situar o setor em relação às modalidades de operadoras, tipo de contratação e segmentação assistencial, além das instituições setoriais. O segundo capítulo é dedicado à regulação, tanto teoricamente, abordando as situações de falhas de mercado em que a intervenção do Estado na economia e na saúde suplementar é recomendada, quanto na prática, abordando a evolução histórica da regulação. O ditado popular que diz que “A teoria, na prática, é outra”, se mostra de profunda convergência com a realidade do setor. Nesta seção também são abordadas as falhas de governo, a regula- ção prudencial, assistencial e a regulação econômica de preços e reajustes. Em seguida à abordagem teórica, é apresentada a evolução da regulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), segmentada de acordo com as mudanças na gestão da agência. Esta abordagem metodológica mostrou-se consistente com o objetivo de ressaltar as mudanças na regulação. Não foi objetivo analisar pormenorizadamente cada regulação, mas apenas situá-las dentro do contexto histórico. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL20 O terceiro capítulo se dedica às questões atuais, ao menos aquelas que o autor julgou mais relevantes. A verticalização, a concentração de mercado e a concorrência são temas abor- dados. No mercado de insumos, são aprofundadas as falhas competitivas no mercado de insumos, as práticas anticoncorrenciais de cooperativas de especialidades, a judicialização crescenteno setor e, ao final, o impacto na variação dos custos médico-hospitalares. Este capítulo mostra como as operadoras estão absorvendo os desafios a partir de avaliação econômico-financeira e também pelo enfoque da eficiência e da relação risco/retorno. O quarto capítulo serve para dar certo sentido de urgência na busca pelo equacionamento das distorções diante do processo de envelhecimento populacional e de transição epide- miológica. O quinto capítulo resume algumas das possíveis soluções que podem ser imple- mentadas para corrigir incentivos inadequados que atuam nas diversas formas no setor de saúde suplementar. Neste sentido, a transparência de custos e preços, aliada a um compor- tamento mais “empoderado” dos consumidores são abordados, assim como a necessidade de revisão dos processos de incorporação de tecnologias na saúde suplementar, a necessi- dade de mecanismos para implementação regular da Análise de Impacto Regulatório, refor- ma dos modelos de pagamentos e a criação de novos produtos. Por fim, este não é um trabalho eminentemente acadêmico, preocupado com demonstrações matemáticas e provas de axiomas. Tampouco é uma análise meramente descritiva da regula- mentação setorial, pois aborda com ênfase os aspectos relevantes sempre que necessário. O trabalho fica, portanto, no meio termo, tal como programado, e pretende contribuir tanto para os acadêmicos interessados no setor de saúde suplementar, quanto para os operado- res da saúde suplementar além dos operadores do direito, do poder judiciário, do legislativo ou dos meios de comunicação que desejem aprofundar-se em alguns dos fundamentos que regem o setor, sua regulação ou seus desafios. 21 CAPÍTULO 1 1.1 A Dimensão Econômica e Social da Saúde Suplementar S egundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar 1, no ano de 2014 o setor de saúde suplementar respondeu pela cobertura de 50,7 milhões de brasileiros be- neficiários de planos médico-hospitalares e 21,2 milhões de beneficiários de planos exclusivamente odontológicos, totalizando 71,9 milhões de beneficiários. Isto significa que 25,8%2 da população brasileira é atualmente coberta pelo setor. Em 2000, essa taxa de cobertura era de 18,2%.² Pesquisas oficiais como a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013 do IBGE mostram que 72,1% das pessoas que possuem plano de saúde o avaliam como bom ou muito bom. Já pesquisas de opinião como IBOPE confirmam que trata-se de um setor altamente valorizado pela sociedade brasileira. Os planos de saúde foram apontados como o terceiro maior de- sejo dos brasileiros, perdendo apenas para os itens educação e casa própria.3 Quanto à avaliação dos serviços prestados, de 1.600 beneficiários entrevistados, 1.200 (75%) disseram estar “satisfeitos ou muito satisfeitos” com os serviços, enquanto 288 (18%) afirmaram estar “mais ou menos satisfeitos” e 112 (7%) disseram se sentir “pouco ou nada satisfeitos” quanto a seus planos ou seguro de saúde. E 86% das pessoas ouvidas preten- dem “com certeza” ou “provavelmente” permanecer com o plano já contratado.4 Diversas outras pesquisas confirmam esta avaliação, o que não quer dizer que não há problemas e distorções neste segmento. Muitas vezes a incompreensão5 aliada às motivações ideológi- cas contrárias ao setor privado na área da saúde produzem grande impacto na mídia exigin- do um esforço extraordinário por parte do setor para mostrar suas qualidades. 1 ANS (Sistema Tabnet). Consulta realizada em 11 de maio de 2015. www.ans.gov.br. 2 Taxa de cobertura dos planos de assistência médica. 3 Como exemplo, o Ibope Inteligência ouviu, entre abril e maio de 2015, 3,2 mil pessoas entre beneficiários e não beneficiários em oito regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre, Brasília e Manaus). Em uma escala de 0 a 5, a nota média dada aos planos de saúde foi de 3,9. 4 http://documents.scribd.com.s3.amazonaws.com/docs/120sv90xds4jnlz2.pdf. 5 Veja por exemplo Alves, Sandro Leal (2014). Como funciona a Saúde Suplementar FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL22 Trata-se, como veremos ao longo do livro, de um setor de grande relevância para as famílias e empresas que contratam os planos, para a ampla cadeia produtiva, formada, à montante, pela indústria de fármacos, materiais, equipamentos, P&D, e, à jusante, financiada pelas operadoras e que participam os médicos, dentistas, hospitais, laboratórios, e outros setores que se vinculam naturalmente a esses planos. A discussão sobre saúde suplementar no Brasil costuma chamar a atenção pela importância e a relevância econômica do setor, mas as impressionantes marcas de geração de renda, emprego e desenvolvimento tecnológico não podem ofuscar a relevância social do setor. A rigor, é tarefa difícil estabelecer fronteiras entre o campo econômico e o campo social da saúde na medida em que as relações são dinâmicas e interconectadas. Há de fato efeito multiplicador na economia da saúde que merece ser vista tanto como sistema de proteção social e prestação de melhorias na qualidade de vida das pessoas como também setor econômico que contribui para a geração de emprego, renda e inovação ao longo de extensa cadeia produtiva. Desta forma, o setor de saúde suplementar contribui de forma decisiva para a economia, e para o bem-estar da sociedade, de pelo menos quatro maneiras: 1.1.1 MELHORIA DO CAPITAL HUMANO – SAÚDE E PRODUTIVIDADE DA POPULAÇÃO A relação entre saúde e desenvolvimento pode ser entendida como de natureza recípro- ca e inter-relacionada. Inicialmente, saúde e desenvolvimento atuam reciprocamente com efeitos em ambas as direções, se retroalimentando, como demonstram alguns estudos. Por exemplo: Bloom, D, Canning, D, and Sevilla, J (2001)6 chegam à conclusão de que um ano a mais na expectativa de vida gera, mantidos os outros efeitos constantes, quatro pon- tos percentuais adicionais no crescimento do produto interno bruto. Sob este enfoque, o capital-saúde é compreendido como parte integrante do que é conhe- cido como capital humano, assim como a educação.7 Maiores investimentos em capital hu- mano, como saúde e educação, produzem efeitos positivos sobre o produto e sobre a renda pelo vaso comunicante da produtividade. Quando esses investimentos são feitos de forma mais eficiente, há ganhos de produtividade que repercutem por outros setores da economia (spill over effects). Pessoas saudáveis produzem mais e melhor e este efeito se estende ao desenvolvimento do país. Este seria um primeiro efeito, ainda que indireto, da saúde suplementar sobre a economia em geral. Parece plausível, considerando que mais de 70 milhões de brasileiros recorrem ao sistema suplementar para buscar proteção à saúde (2015), apesar de indiretos, os efeitos positivos são significativos. 6 Bloom, D, Canning, D and Sevilla, J (2001). 7 Versão resumida do modelo de Grossman de demanda por saúde pode ser encontrata em Alves, Sandro Leal (2004). CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 23 A associação positiva entre a expectativa de vida, uma proxy geralmente utilizada para qualidade da saúde, e a renda per capita fica clara observando o Gráfico 1 apresentado a seguir. Por outro lado, na medida em que as sociedades evoluem e a renda aumenta, a demanda por serviços de saúde cresce ainda mais, revelando o interesse e a dispo- sição dos indivíduos em melhorar a qualidade e a expectativa de vida. Para cada 1% de aumento na renda, as despesas com saúde aumentam em 1,6%, mantidas inalteradas as demais variáveis. GRÁFICO 1 – SAÚDE (EXPECTATIVA DE VIDA) E RENDA PER CAPITA EM PAÍSES SELECIONADOS Renda per capita, PPP vs Expectativa de vida ao nascer (anos) para países do G20 Re nd a pe r c ap ita , P PP (p ar id ad e de p od er d e co m pr a em d ól ar es ) Expectativa de vida ao nascer (anos) Japão BrasilÁfrica do Sul Índia Estados Unidos 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 – 50 55 60 65 70 75 80 85 90Fontes: WHO, World Bank. GDP é o Gross Domestic Product (equivalente no Brasil ao Produto Nacional Bruto), medido em Paridade de Poder de Compra (PPP). Obs.: G20 com exceção da Argentina e UE. Em contrapartida ao recebimento das mensalidades, a produção assistencial do setor foi de mais de um bilhão de procedimentos em 2013, para usar o dado mais recente. Interessante notar que o item mais frequente são os exames complementares e o menos frequente são as internações.8 8 Há razões claras para este comportamento. As pessoas adquirem o plano de saúde para se protegerem essencialmente do grande risco, que são eventos raros, porém de alto impacto financeiro, como as internações. Nos demais procedimentos, parte é fruto da ação do próprio indivíduo e parte de influência de terceiros. Este assunto será abordado com profundidade adiante. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL24 TABELA 1 – PRODUÇÃO ASSISTENCIAL E TAXA PER CAPITA 2013 (SAÚDE SUPLEMENTAR E SUS) Item assistencial Saúde Suplementar SUS Quantidade (milhões) Per capita1 Quantidade (milhões) Per capita 1 Total2 1.110 22,8 3.809 18,9 Consultas médicas3 262 5,6 537 3,5 Outros atendimentos ambulatoriais 122 2,5 n.d n.d Exames complementares4 667 13,7 813 5,3 Terapias 51 1,0 n.d n.d Internações5 8 16,5 11 7,6 Fontes: Sistema de Informações Assistenciais do SUS – Datasus – Extraído em 15/8/15. Mapa Assistencial da Saúde Suplementar – 2014. IBGE – Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 2000-2060. Sistema de informação de beneficiários – SIB/ANS/MS – Tabnet – Extraído em 15/8/15. Nota: 1Beneficiários de planos de assistência médica com ou sem odontologia. Média anual dos beneficiários de planos de assistência médica. Para o Cálculo do per capita total do SUS foi considerada toda a população, pois existem procedimentos que não são cobertos pelos planos. SUS: Não inclui a população beneficiária da saúde suplementar. ²O valor total do SUS considera o total de procedimentos ambulatoriais e o total de procedimentos hospitalares. ³Dado do SUS: 2012. 4Exames complementares do SUS – Grupo de procedimento “02 Procedimentos com finalidade diagnóstica”. 5Número de internações hospitalares para cada 100 beneficiários/população. Observando os números absolutos resta claro que o volume de atendimentos realizados, mas é importante relativizar estes indicadores para se ter a real dimensão. Em 2012, foram realizadas 537 milhões de consultas no SUS para atender um universo muito maior de pes- soas (2/3 da população não possui plano de saúde). Em 2013, foram realizadas 11 milhões de internações neste mesmo período. A análise destes dados revela um aspecto funda- mental deste segmento que é o acesso aos serviços de saúde contratados, principalmente quando se comparam dados de produção assistencial da saúde suplementar e do SUS. Nota-se que a frequência de utilização no setor de saúde suplementar supera em muito o setor público nestes itens analisados. Os beneficiários de planos de saúde tiveram, em média, 5,5 consultas neste ano enquanto os usuários do SUS tiveram uma taxa de 3,4. En- quanto o setor de saúde suplementar fez 16,5 internações por 100 beneficiários, o SUS fez 7,6 por 100 habitantes, revelando a assimetria no acesso aos serviços públicos e privados.9 9 A taxa de internação mede o número de internações por qualquer causa em relação ao total de beneficiários. Cálculo: (número de interna- ções no ano/número médio de beneficiários de planos hospitalares no ano) x 100. No cálculo do SUS, o número de beneficiários de planos foi subtraído da população brasileira considerando que muitas vezes o beneficiário usa o SUS por conveniência própria, por ausência de cobertura contratada para determinados serviços e por situações de urgência. O principal procedimento do SUS utilizado por beneficiários de planos no ano de 2013 foram partos normais, um milhão em um total de 11.197.160 procedimentos (9,43%). Fonte: Tabnet – Extraído em 15/8/15. Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Na realidade, toda a população tem direito de usar o SUS, mesmo os beneficiários de planos de saúde. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 25 1.1.2 ESTÍMULO À GERAÇÃO DE RENDA AO LONGO DA CADEIA PRODUTIVA O setor de saúde suplementar é formado por um grande número de operadoras. Em dezem- bro de 2014 eram 1.425 registros sendo 1.219 registros de operadoras com beneficiários. A grande maioria (72%) é de operadoras médico-hospitalares.10 O número de empresas atuantes no setor impressiona quando comparado a outros setores econômicos importantes como telefonia, bancos, seguradoras, energia etc. TABELA 2 – OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE (DEZ/2014) Registros Total Operadoras médico-hospitalares Operadoras exclusivamente odontológicas Registros novos1 43 31 12 Registros cancelados1 84 64 20 Operadoras em atividade 1.425 1.041 384 Operadoras com beneficiários 1.219 873 346 Fontes: CADOP/ANS/MS – 12/2014 e SIB/ANS/MS – 12/2014 – Caderno de Informação da Saúde Suplementar – março/2015. Nota: ¹Registros novos e cancelados no ano. Importante ressaltar que grande parte dos recursos auferidos em mensalidades retorna à sociedade sob a forma de pagamentos dos serviços de saúde contratados. Este percentual, a taxa de sinistralidade, é mais elevado na saúde suplementar, especialmente no segmento médico-hospitalar, quando comparado com outros segmentos do seguro. A Tabela 3 apre- sentada a seguir mostra uma estrutura de uma demonstração típica de resultados de uma operadora de planos de saúde.11 10 Distribuição próxima dos beneficiários de planos médico-hospitalares (70%) no total de beneficiários. 11 Para conceitos mais aprofundados sobre análise econômico-financeira de seguradoras veja Galiza, Francisco (2007) “Economia e Seguro; Uma Introdução” Escola Nacional de Seguros. 2 edição revisada e atualizada. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL26 TABELA 3 – TÍPICA ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DE UMA OPERADORA DE PLANOS DE SAÚDE Conta Contraprestações efetivas (1) Eventos inden. líquidos (2) Result. oper. c/ planos (3) = (1)-(2) Resultado bruto (4) Despesas administrativas (5) Desp. de comercialização (6) Result. financ. líquido (7) Result. patrimonial (8) Result. antes imp./part (9)= (4)-(5)-(6)-(7)-(8) Imp. renda / imp. diferidos (10) Contribuição social (11) Partic. no resultado (12) RESULTADO LÍQUIDO (13)= (9)-(10)-(11)-(12) Considerando todas as operadoras atuantes na saúde suplementar, a taxa de sinistralidade em 2014 foi de 82,1%, ou seja, este é o percentual da receita (R$ 130,4 bilhões) comprome- tido com o pagamento da despesa assistencial (R$ 107,1 bilhões), sem considerar a des- pesa administrativa, a despesa de comercialização, a despesa com impostos e a margem de lucro. No entanto, é importante separar a análise entre os segmentos médico-hospitalar e odontológico. No segmento médico-hospitalar a sinistralidade foi de 83,9% enquanto no segmento exclusivamente odontológico, formado pelas odontologias de grupo e as coo- perativas odontológicas, a sinistralidade foi de 46,4%. As razões para tal diferença serão exploradas mais adiante. Por ora, a Tabela 4 apresentada a seguir é útil para apresentar os volumes financeiros destinados à prestação de serviços de saúde, que ajudam a movimen- tar toda a cadeia produtiva da saúde. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 27 TABELA 4 – RECEITAS, DESPESAS ASSISTENCIAIS E SINISTRALIDADE (2014) Modalidade Receita (R$ bilhões)¹ Desp. Assistencial (R$ bilhões)² Sinistralidade (%)3 Mercado de saúde suplementar4 130,4 107,1 82,1 Autogestão 14,3 13,3 92,8 Cooperativa médica 44,7 36,8 82,3 Filantropia 2,2 1,8 79,3 Medicina de grupo 36,3 29,4 81,0 Seguradora especializada em saúde 28,7 24,6 85,6 Odontologia de grupo 2,2 0,9 40,1 Cooperativa odontológica 0,6 0,4 58,2 Fonte: Documento de informações periódicas das operadorasde planos de assistência à saúde – DIOPS/ANS – Extraído em 30/4/15. Notas: 1Considera as operadoras que divulgara o resultado de receita de contraprestações. 2Considera as operadoras que divulgaram os resultados de despesas assistencial, administrativa, com comercialização e impostos. 3Razão entre despesa assistencial e receita de contraprestações. 4Considera 1.219 operadoras em atividades e com beneficiários em dez/14. Considera os resultados das administradoras de benefícios. A Tabela 5 apresentada a seguir dá a dimensão dos estabelecimentos de saúde que pos- suem vínculos e relações comerciais no setor privado. Ao todo, 57,4% de todos os estabe- lecimentos de saúde prestam serviços à saúde suplementar, ultrapassando o percentual de cobertura da população (25,8%).12 12 O leitor deve ter percebido que o único segmento cujo percentual se situa aquém da taxa de cobertura setorial é o de prontos-socorros. Algumas razões podem ajudar a compreender essa tendência. Como a utilização dos serviços de prontos-socorros são fundamentalmente aleatórios e precisam de economias de escala significativas, o setor público atende essa demanda a um custo mais baixo, socialmente falan- do. Não seria economicamente viável a construção de prontos-socorros concorrentes pelas operadoras de plano, ainda que seja obrigação destas oferecerem estes serviços de forma contratada. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL28 TABELA 5 – ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE POR ATENDIMENTO A PLANOS PRIVADOS DE SAÚDE (BRASIL – MARÇO/2015) Tipo de estabelecimento Total Atendimento a planos privados % Clínica ou ambulatório especializado 37.323 19.615 52,6 Consultório isolado 136.993 85.046 62,1 Hospital especializado 1.034 432 41,8 Hospital geral 5.101 1.664 32,6 Policlínica 6.244 2.828 45,3 Pronto socorro especializado 102 41 40,2 Pronto socorro geral 388 55 14,2 Unidade de serviço de apoio à diagnose e terapia 20.564 9.522 46,3 Total 207.749 119.203 57,4 Fonte: CNES/MS – 03/2015. O atendimento a beneficiários de planos de saúde é o principal componente de receita dos hospitais privados. Pesquisa realizada por entidade do setor mostra que os planos respon- deram por 88,0% da receita global dos hospitais em 2013.13 A contribuição do setor também passa pelo efeito multiplicador da criação de empregos e pela tributação. Os planos de saúde suplementar assumem custo direto e indireto dos tributos. Em 2013, a carga tributária direta e indireta atingiu 26,68% do faturamento das empresas.14 1.1.3 ESTÍMULO À FORMAÇÃO DE POUPANÇA A constituição de reservas e garantias financeiras é uma importante característica do setor segurador em todo mundo. Veja por exemplo a discussão que a crise econômica de 2008 deflagrou nas autoridades reguladoras europeias.15 Trata-se de um setor que lida fundamen- talmente com o risco e deve garantir o cumprimento dos contratos quando demandados. Na saúde suplementar não é diferente. Na realidade era até a criação da ANS e a edição 13 Observatório da Anahp n. 6 2014 (Associação Nacional dos Hospitais Privados). 14 A carga tributária direta utilizada no estudo é a incidente sobre o faturamento, folha de pagamento, patrimônio e lucro, enquanto a indireta é formada pelos tributos embutidos nas despesas assistenciais, acrescidos dos tributos gerados pelos funcionários e terceirizados. Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. Pode haver dupla contagem considerando a folha de pagamento e os funcionários. 15 Mendes, Solange (2009) lembra que na Europa, fonte de referência para propostas de alterações de legislação no setor de seguros no Brasil, a crise de 2008 deflagrou um movimento de elevação dos níveis de prudência por parte dos órgãos reguladores. A reação das empresas concentrou-se, principalmente, no conservadorismo do Solvência II, que propõe uma regra única de cálculo de capital para os membros da comunidade europeia. No Brasil, as regras prudenciais em relação ao setor de seguros e os planos desenvolvidos no mercado financeiro nas últimas décadas vacinaram a área econômica brasileira contra a crise de 2008. Por outro lado, prudência em excesso também pode levar a insolvências. Tal fenômeno ficou conhecido no mercado bancário como Risco Herstatt. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 29 das primeiras regras prudenciais. Até então, apenas as seguradoras estavam sujeitas a esse tipo de regulação. De 2000 até os dias atuais, as demais modalidades de operadoras vêm paulatinamente reforçando as suas reservas. Como colateral para este passivo, as operadoras devem constituir ativos garantidores que são distribuídos segundo regras específicas que serão tratadas mais adiante. Esses recur- sos são parte importante para o financiamento da atividade produtiva nacional e tendem a ganhar maior expressão na medida em que a totalidade das obrigações for cumprida. Desta forma, a saúde suplementar contribui para o aumento da taxa de poupança interna que, por ser bastante baixa no Brasil, em comparação a referenciais internacionais, cons- titui reconhecida limitante do aproveitamento do potencial de crescimento econômico. Em 2014, o total de provisões técnicas constituídas pelo setor de saúde suplementar era de R$ 27,9 bilhões e os ativos garantidores acumulavam R$ 19,8 bilhões.16 1.1.4 MELHORIA DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA A saúde suplementar, assim como o setor de seguros em geral, serve para diluir os riscos inerentes à vida humana. A Tabela 6 abaixo apresenta as principais estatísticas dos ramos de seguro regulados pela SUSEP e acrescenta o setor de saúde suplementar, entendendo saúde como parte integrante do macro segmento de seguros, previdência e capitalização. TABELA 6 – RECEITA E DESPESA DA SAÚDE SUPLEMENTAR E OUTROS RAMOS DE SEGURO – 2014 Tipo de seguro Receita (R$ bilhões) Despesa (R$ bilhões) Capitalização 21,9 16,3 Saúde Suplementar¹ 130,4 107,1 Cobertura de pessoas² 111,3 9,6 Ramos elementares 65,3 34,1 Total 328,9 167,1 Fonte: Fontes: Estatísticas do Mercado Segurador – CNSeg – Dados até Junho de 2015. Documento de informações periódicas das operadoras de planos de assistência à saúde – DIOPS/ANS – Extraído em 30/4/15. Notas: ¹Os valores referentes a cobertura de pessoas incluí os planos tradicionais, de acumulação (VGBL, PGBL e EAPP) e risco (Vida, Prestamista, acidentes pessoais e outros seguros de pessoas). ²Dados obtidos no DIOPS/ANS, conforme metodologia da FenaSaúde. 16 O total de provisões do setor segurador em 2014 foi de R$ 476,4 bilhões. Fonte: CNseg com base nos dados da SUSEP e ANS. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL30 Sem esses setores, os riscos não seriam diluídos entre as pessoas e cada indivíduo teria que incorrer individualmente na sua proteção. Com o surgimento dos mercados securitá- rios, a atividade econômica pôde se concentrar em suas tarefas específicas na indústria, no comércio, no setor de serviços etc, deixando para agentes mais especializados, os servi- ços de administração de riscos. Fundamentais para o melhor exercício das potencialidades econômicas, os benefícios decorrentes da especialização e divisão do trabalho, bem como do aproveitamento dos ganhos de escala, justificam e suportam a existência do setor de seguros na sociedade moderna. As tarefas básicas das operadoras e seguradoras envolvem comprar riscos daqueles agen- tes que desejam vendê-los, reuni-los em uma carteira suficientemente grande, a fim de diluí-los, e exercer a gestão atuarial e administrativa necessária para o pagamento das in- denizações. Na ausência desse setor econômico as pessoas teriam grandes dificuldades na viabilização do compartilhamento e diluição de riscos, o que possivelmente elevaria os custos de diversas atividades, por vezes tornando-as inviáveis. Embora seja de difícil men- suração, a existência da saúde suplementar agrega valor à sociedade pela criação de meios factíveis para a assunção dos riscos que as pessoas (e as empresas) desejam se desven-cilhar ou se proteger. Os montantes devolvidos à sociedade na forma de indenizações e pagamento das despesas assistenciais revela apenas parte desse valor, na eventualidade do uso. Outra parte decorre da própria existência dos mecanismos de seguros, cujo valor é aquilatável pelos desconfortos e custos esperados caso não existissem os serviços de segu- ros. Seria muito mais difícil a vida se cada pessoa tivesse que administrar seu próprio risco. 1.2 Histórico e Surgimento dos Planos de Saúde O surgimento do mercado de saúde suplementar, não raro é referido à década de 50, na região do ABC paulista, a partir da instalação das montadoras e o surgimento da indústria automobilística. A primeira empresa de medicina de grupo brasileira surge em 1957, para prestar serviços a Volkswagen que inaugurava a sua fábrica em São Bernardo do Campo.17 No entanto, uma explicação alternativa remonta ao ano de 1923, data da edição da Lei Eloy Chaves, considerada como o marco do início da Previdência Social no Brasil. A denominada lei criava Caixas de Aposentadorias e Pensões que eram fundos geridos e financiados por patrões e empregados. Tais fundos, além de garantirem aposentadorias e pensões também financiavam serviços médico-hospitalares aos trabalhadores e seus dependentes.18 Nesta época mais remota, a Caixa de Aposentadoria e Pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a CASSI, teria sido, mais propriamente, o primeiro plano de saúde do país, criado em 1944 e em atividade até os dias atuais. No final da década de 1960, a medicina assistencial no Brasil atravessava um momento de transformações estruturais da Previdência Social com a unificação dos Institutos de 17 Juljan Czapski é conhecido como o fundador dos planos de saúde no Brasil. Foi médico do Hospital das Clínicas, fundador e diretor da Po- liclínica Central e dirigiu o Hospital São Jorge, em São Paulo. Formulou e desenvolveu o conceito dos Planos de Saúde e Medicina de Grupo. Implantou a nova ideia em sua própria empresa, a Policlínica Central. Seu primeiro cliente foi a Volkswagen do Brasil. Nasceu daí a primeira franquia de planos de saúde, a Policlínica Central de Porto Alegre, que existe até hoje. Faleceu em 2012. Fonte: www.Hospitalar.com.br. 18 www.ans.gov.br. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 31 Aposentadorias e Pensões (IAPs) no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que mais tarde viria a se transformar no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdên- cia Social (INAMPS), extinto em 1990 para dar lugar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Para dar lugar ao Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), depois reno- meado de Sistema Único de Saúde (SUS). A primeira cooperativa de trabalho na área de medicina do país – e também das Américas: a União dos Médicos – Unimed foi fundada na cidade de Santos (SP), em 1967.19 Em 1977, a seguradora COMIND iniciou as suas operações neste ramo. Logo em seguida a Itaúseg também iniciou suas atividades e em meados da década de 80, as seguradoras Bradesco e Sul América iniciaram suas atividades no segmento.20 Vale a pena lembrar a origem histórica das Santas Casas de Misericórdia no Brasil, que atualmente também oferecem planos de saúde na modalidade filantropia. As misericórdias brasileiras, por se regerem pelos estatutos das instituições portuguesas congêneres, não fugiam à regra e, até o final do século XIX, desempenharam tais funções. Cabe destacar que, na maioria dos continentes e países onde foram fundadas, as misericórdias se anteciparam às atividades estatais de assistência social e à saúde. No Brasil, e em alguns outros países, também foram as criadoras dos cursos de Medicina e Enfermagem, como é o caso daque- las fundadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Porto Alegre. Foram, ainda, anteriores, ao próprio Estado Brasileiro, criado através da Constituição Imperial de 25 de março de 1824. Aí, já haviam sido fundadas as Santas Casas de Olinda (1539); Santos (1543); Salvador (1549); Rio de Janeiro (1582); Vitória (1551); São Paulo (1599); João Pessoa (1602); Belém (1619); São Luís (1657), e Campos (1792). A atuação destas institui- ções apresentou duas fases: a primeira compreendeu o período de meados do século XVIII até 1837, de natureza caritativa; a segunda, o período de 1838 a 1940, com preocupações de natureza filantrópica. Em que pese aparecer a Santa Casa de Misericórdia de Olinda como a mais antiga do Brasil, não existe documentação oficial que comprove ter sido esta a data da sua fundação. Portanto, oficialmente a de Santos é considerada a primeira do Brasil.21 1.3 Saúde Pública e Saúde Privada 1.3.1 A DIVISÃO ENTRE ESTADO E MERCADO NA SAÚDE Não só no Brasil, mas em todo mundo, a divisão entre financiamento e provisão de serviços e produtos de saúde entre os setores público e privado é motivo de grandes debates. Mes- mo em países onde o setor público é majoritário, como os europeus, o tema é sempre polê- mico. Nos EUA com a reforma do sistema de saúde que ficou conhecido como Obamacare, a divisão público/privada foi o grande centro das atenções polarizadas entre os dois princi- pais partidos políticos. No Brasil não é diferente e a discussão ganha contornos político-i- deológicos entre os defensores de posições antagônicas, com ampla repercussão na mídia. 19 www.unimed.coop.br. 20 Guerra, L. (1998). 21 www.cmb.org.br. FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL32 BOX 1 – OBAMACARE O Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA ou Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente) também conhecido como Affordable Care Act (ACA) ou "Obamacare" é uma lei federal dos Estados Unidos sancionada pelo presidente Barack Obama em 23 de março de 2010. Junto com a “Lei de Reconciliação da Saúde e Educa- ção”, se tornou o maior projeto de mudança no sistema de saúde americano des- de os programas Medicare e Medicaid que entraram em vigor em 1965. Em abril de 2014, mais de 10 milhões de pessoas já haviam se inscrito no programa desde seu lançamento. Esses números incluem oito milhões de novos assegurados pelo ACA e outros três milhões que se inscreveram para receber o Medicaid durante o mesmo período. Em abril de 2015, o Instituto Gallup informava que o percentual de adultos sem seguros de saúde havia caído de 18% ao fim de 2013 para 11,9% no começo de 2015. A essência do Affordable Care Act é controlar os custos dos planos de saúde e também ampliar os planos de seguros públicos e privados para uma maior parcela da população. Os mecanismos de implementação são através da obrigatoriedade em adquirir o seguro até com o serviço completamente subsidiado, tornando-o assim mais acessível, especialmente para os mais pobres. A lei também garante aos segurados tratamentos básicos e até mesmo internações de doenças graves, independente de sexo e de condições pré-existentes. Os estados da União que aderiram ao projeto também receberam mais verbas federais para outros projetos voltados para a área de saúde pública. Para analistas do governo, se todos tives- sem uma cobertura de saúde, os prêmios pagos por pessoas saudáveis compen- sariam os custos adicionais associados aos cidadãos mais caros. Apresentado ao Congresso dos Estados Unidos em setembro de 2009, foi apro- vado em plenário pelo Senado em 24 de dezembro do mesmo ano, com 60 votos a favor e 39 contra. Todos os democratas e mais dois independentes votaram em favor do projeto, enquanto todos os republicanos votaram contra. A lei acabou recebendo aval da American Medical Association (AMA) e da American Association of Retired Persons (AARP). Já a Câmara dos Representantes acabou também apro- vando o projeto, em 21 de março de 2010, com 219 votos a favor e 212 contra. Cerca de 34 democratas e todos os 178 republicanos votaram contra. Em 28 de junho de 2012, a Suprema Corte dos Estados Unidos garantiu a cons- titucionalidade da lei. Contudo, a Corte afirmou que nenhum estado poderia ser forçado a participar do ACA e da expansãodo Medicaid. Desde antes da sua aprovação, a legalidade do programa tem sido contestada por governadores, líderes de movimentos conservadores e também de sindicatos, além de organiza- ções de pequenos negócios. A opinião pública americana apoiou a ideia de uma reforma no sistema de saúde, contudo pesquisas feitas durante o debate sobre o Affordable Care Act entre 2009 e 2010 mostravam que a maioria do povo tinha uma visão negativa da lei. Em outubro de 2013, cerca de 40% da população era favorável ao Obamacare, enquanto 51% era contrária. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 33 Ao longo da história, a oferta de serviços de saúde segue movimento pendular, oscilando entre o público e o privado.22 Na antiguidade as pessoas usavam remédios caseiros e curandeiros quando adoeciam. No Egito antigo há evidências em antigos papiros de que Imhotep, médico prático, pregador e oficial da corte introduziu um sistema público de ser- viços de saúde com curandeiros pagos pela comunidade. O Código de Hamurabi (1792-50 A.C.) estabelecia um sistema de pagamentos similar ao que atualmente é conhecido como fee-for-service baseado na natureza dos serviços e na capacidade de pagamento dos pacientes.23 Nos três mil anos subsequentes, o en- volvimento do Estado no setor de saúde girou em torno de reforçar regras de compensa- ção para pessoas acidentadas e da proteção das autorreguladas corporações médicas. O financiamento e a provisão de serviços médicos normalmente estavam restritos aos membros da corte, do império, da nobreza ou das forças armadas em caso de guerra enquanto a maior massa populacional ficava desassistida ou à mercê dos curandeiros, parteiras, remédios naturais e práticos. Desde a Idade Média, a sociedade europeia buscou formas de auxílio mútuo para gastos com saúde. O primeiro passo foi dado com as associações de trabalhadores, que criavam fundos para cobrir gastos com funerais, incapacitações etc. Os desprovidos de trabalho procuravam associar-se aos fundos de fraternidade, com objetivos similares. O filósofo Michel Foucault, em seu “O Nascimento da Clínica” narra como a medicina do Século XVIIIe XIX deu repentino salto com a criação dos hospitais que permitiram efetiva observação e controle dos pacientes.24 Na Alemanha, em 1883, as entidades patronais foram, por lei, obrigadas a contribuir para um esquema de seguro-doença em favor dos trabalhadores mais pobres, tendo, posteriormente, o esquema do seguro-obrigatório sido ampliado aos trabalhadores, que passaram a ser obri- gados a contribuir para o esquema seguro-doença, que cobria os riscos de doença temporá- ria, invalidez permanente, velhice e morte prematura. No final do século XIX e inícios do século XX, o modelo de sistemas de saúde baseados no esquema jurídico do seguro, sustentado pelo esforço contributivo dos empregados e dos empregadores, viria a ser adotado por ou- tros países da Europa (p. ex., Áustria, Bélgica, Suíça, França, Luxemburgo e Países Baixos). A Segunda Guerra Mundial fez repensar o papel e as funções do Estado, designadamente no âmbito das políticas sociais. Em 1948, com base nas propostas do “Relatório Beveridge”, é criado, no Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (National Health Service), de inteira responsabilidade do Estado. O Serviço Nacional de Saúde deveria ser: 1) Completo (no sentido de que deveria dispor todos os cuidados de saúde); 2) Universal (isto é, para toda a população e sem qualquer discriminação econômica, social ou geográfica); e 3) Gratuito (pelo menos inicialmente), sendo essencial ou predominantemente financiado com base nos impostos. 22 Preker, Alexander S. (2000). 23 O código é conhecido por ser o primeiro corpo de leis de que se tem notícia fundamentado Do código de Hamurabi foram traduzidos 281 artigos a respeito de relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. A compilação de um código de leis escrito quando ainda prevalecia a tradição oral, ou seja, em época em que as leis eram transmitidas oralmente de geração em geração ou de forma consuetudinária – costumeira. (Wikipédia). 24 Foucault, Michel (1977). FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL34 O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, concebido segundo o modelo de Beverigde, seria, no essencial, replicado por outros países da Europa (p. ex., Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia, Grécia, Espanha, Itália e Portugal). Apenas durante o século XX, os governos da grande maioria dos países passaram a de- sempenhar papel central na política de saúde, seja pelo financiamento ou pela entrega dos serviços e cuidados. O denominado Estado de Bem-Estar se consolidou e se institucionali- zou depois de 1945, favorecido pelo crescimento econômico e a reconstrução que ocorreu nos países depois do conflito armado.25 Atualmente, a grande maioria dos países industrializados, influenciados pelo welfare state, praticamente alcançou o acesso universal mediante um mix de financiamento público e privado. A destruição massiva causada pela 2ª Guerra Mundial, e todas as políticas e esforços de reconstrução e recuperação das rendas pessoais foram centradas em deso- neração de gastos essenciais das famílias – saúde, educação, previdência – e criação de novas cadeias produtivas associadas. A partir da crise de 2008, vários países europeus estão revendo os seus sistemas de benefícios sociais. Existem basicamente quatro fontes principais de financiamento dos cuidados de saúde: impostos, contribuição para esquemas sociais de seguro, subscrições voluntárias de es- quemas privados de seguro e pagamentos diretos por parte dos doentes. Estas podem ser classificadas em sistemas compulsórios (impostos e seguro de saúde social) ou sistemas voluntários (seguro privado e pagamentos diretos).26 Muitos sistemas de cuidados de saúde na região europeia dependem de um misto destas quatro fontes. No entanto, é possível distinguir três categorias de países dentro da União Europeia, agrupados de acordo com o tipo de financiamento obrigatório predominante que caracteriza o sistema nacional de saúde ou o tipo de financiamento obrigatório predominan- te que o país gostaria de desenvolver. Os três grupos são: 1) Sistemas de cuidados de saúde baseados no modelo de Bismarck (i.e. que dependem predominantemente dos seguros), com sistemas de financiamento bem estabelecidos. Neste rol encontram-se, por exemplo, Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Luxemburgo e os Países Baixos; 2) Sistemas de cuidados de saúde baseados no modelo de Beveridge (i.e. que depen- dem predominantemente dos impostos), com sistemas de financiamento bem estabe- lecidos. Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Suécia e Reino Unido podem ser classificados neste Grupo; e 3) Sistemas de cuidados de saúde que há relativamente pouco tempo começaram a mu- dar de um sistema baseado em seguros para um sistema com base em impostos e, consequentemente, que se encontram numa fase de transição. Grécia, Itália, Portugal e Espanha seriam países em transição. 25 Fazendo um paralelo, sabe-se que o serviço de reclusão de malfeitores era inteiramente privado, até que o rei da Inglaterra tornasse qual- quer crime como sendo um crime contra o rei. Com isso, conseguiu degredados para as colônias. 26 Barros, Pedro Pita e Gomes, Jean-Pierre (2003). CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 35 O debate sobre o que os governos devem fazer, quando, e como devem intervir na atividade econômica é central nas questões relacionadas ao próprio desenvolvimento. A teoria econômi- ca seguiu o caminho de identificar as condições em que a intervenção estatal pode melhorar o funcionamento do sistema privado e aquelas em que ela claramente não é eficiente. Parece haver certo consenso internacional, pelo menos no que se convencionou chamar de main- stream economics, de que a intervenção excessiva do Estado na atividade econômica privada acaba limitando o desenvolvimento do setor privado e prejudicando o desenvolvimento. Neste contexto,questões como competição, privatização e regulação passaram a fazer parte do vocabulário dos policy makers da área da saúde, sobretudo durante experiências de refor- mas dos sistemas de saúde em diversos países a partir dos anos 80 e 90. No Brasil não foi di- ferente tendo em vista que o setor de saúde foi profundamente restruturado com a Constituição Federal de 1988, a criação do Sistema Único de Saúde em 1990, e seus paradigmas de uni- versalidade, integralidade e equidade, e com a regulamentação dos planos de saúde em 1998. Não existe consenso, no campo da economia da saúde pelo menos, a respeito de quais ser- viços deveriam ser preferencialmente destinados à prestação pública e aqueles destinados à área privada. Para situar a temática, diversos autores argumentam que o escopo de atuação dos governos envolveria: 1) financiar bens públicos e serviços de saúde com externalidades substanciais para garantir que estes sejam produzidos e ofertados nas quantidades ade- quadas, 2) regular os planos e seguros de saúde privados, ou financiar o seguro público de saúde, para se evitar problemas relacionados à seleção adversa e danos sobre a eficiência e a equidade, e, por fim, 3) subsidiar proteção à saúde para os mais pobres, direta ou indireta- mente.27 Embora estes princípios gerais sejam válidos, na prática os governos vão muito além. O Estado também pode entender a saúde suplementar como forma de ampliação das fontes de financiamento à saúde dos cidadãos.28 O desenvolvimento destes mercados, mesmo em países tradicionalmente marcados pelos sistemas públicos é inegável e a conformação dos setores público e privado se dá na definição das tarefas obrigatórias de cada setor e na interação destes no apoio às políticas públicas. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ou Econômico (OCDE) o sistema de seguro de saúde privado cobre o que se convencionou chamar de pequenos riscos ou suplementares como odontologia, tratamentos ópticos, es- colha de provedores, upgrade nas acomodações hospitalares ou mesmo serviços de luxo não cobertos pelo Estado. Na maioria dos países os seguros privados também cobrem inter- nação e despesas médicas. Entretanto, tal cobertura é mais compreensiva quando o seguro privado fornece o seguro primário para grupos populacionais. Nos outros casos, a cobertura privada se limita aos hospitais privados, frequentemente procedimentos e tratamentos eleti- vos, escolha dos médicos e hotelaria. A diversidade de experiências de coberturas parece indicar que não existe um conjunto típico de coberturas que seja mais segurável pelo setor privado ou pelo setor público. No entanto, existe certo padrão em delegar ao setor público, ou subsidiar o setor privado, para a cobertura de indivíduos de altos custos como os idosos e aqueles portadores de doenças crônicas. 27 Musgrove, Philip (1996). 28 Colombo, F. and Tapay, N. (2004). FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL36 Ao contrário do que ocorre em outros setores econômicos, a intervenção do Estado no setor saúde parece ser mais proeminente em países de alta renda, geralmente aqueles de economias mais orientadas ao mercado, e também são os que iniciaram o welfare state transformado em política compensatória e de criação ativa de produto em razão do esforço de reconstrução pós-2ª Guerra Mundial. Veremos que o Brasil pertence a este Grupo, não pelo lado da alta renda, nem da Guerra, mas pela alta regulação dos mercados de serviços e planos de saúde. No setor de saúde, a experiência29 mostra que a intervenção estatal geralmente se dá pelo uso de cinco instrumentos diferentes, a seguir descritos resumidamente. 1) Criação e disseminação de informação – Aqui se incluem informações sobre riscos à saúde como efeitos do tabagismo e educação pública das condições de higiene. Estes são exemplos de informações direcionadas aos consumidores, mas os governos também informam os provedores de saúde e produtores de insumos de saúde ao dar publicidade a resultados de pesquisas sobre padrões epidemiológicos da população e os efeitos e riscos de procedimentos médicos; 2) Regulação da atividade privada – O governo regula a profissão médica e das outras áreas da saúde, basicamente a partir do estabelecimento de licenças. Também regula o funcionamento de hospitais privados pelo estabelecimento de requisitos mínimos de fun- cionamento ou, indiretamente, pela exigência de acreditação por entidades independen- tes. No setor de planos e seguros de saúde a regulação também é intensa, assim como as regras de importação e uso de equipamentos, medicamentos e na proteção sanitária de alimentos e qualidade da água. Geralmente a regulação é fixada por lei e regulamen- tos e fiscalizada por entes do poder executivo. No Brasil, as Agências Reguladoras têm esse papel no caso dos planos de saúde e dos produtos e medicamentos; 3) Estabelecimento de obrigatoriedades – O governo obriga que os agentes atendam a uma série de exigências. Evidentemente, estar em compliance com as regulações públicas impõe substancial custo ao setor privado. Obrigatoriedades geralmente especificadas em lei e podem ser detalhadas em regulamentações adicionais. Geralmente são obri- gatoriedades de contratação de Seguros Saúde para empregados pelos empregadores ou a contribuição para algum fundo de seguro social com este propósito. Os governos também promovem a atividade de vacinação obrigatória; 4) Financiamento público dos serviços de saúde – Quando o orçamento público destina recursos ao financiamento das ações e serviços de saúde, geralmente via tributação de empresas e indivíduos; e 5) Produção de bens e serviços de saúde diretamente pelo Estado – Muitas vezes o pró- prio setor público se encarrega da produção de bens e serviços e pela sua entrega à população mediante a contratação de funcionários públicos e empresas públicas. Nos países mais pobres essa tarefa é muitas vezes feita pelos próprios Ministérios da Saúde. Em outros países, embora o financiamento seja público, o seu fornecimento se dá me- diante o setor privado segundo regras estabelecidas em contratos. 29 Musgrove, Philip (1996). Op.cit. CAPÍTULO 1 | COMO FUNCIONA A SAÚDE SUPLEMENTAR 37 O uso e a intensidade de cada um desses instrumentos variam muito de acordo com as escolhas sociais acerca da utilização dos mercados ou do Estado como forma de prover os serviços de saúde à sociedade. A Tabela 7 a seguir apresenta alguns dados de participação pública e privada nos últimos dez anos de dados disponíveis e sua variação. Não parece haver regra geral. A Alemanha, por exemplo, entre 2003 e 2013 reduziu a participação do fi- nanciamento público (como % do PIB) enquanto os E.U.A aumentaram, assim como o Brasil. TABELA 7 – RELAÇÃO PÚBLICO/PRIVADO NOS GASTOS COM SAÚDE EM PAÍSES SELECIONADOS Países Gasto total com saúde (% do PIB) Gasto público com saúde (% do gasto total com saúde) 2003 2013 ∆% do indicador 2003-2013 2003 2013 ∆% do indicador 2003-2013 Alemanha 10,9 11,3 3,5 78,5 76,8 -2,1 Argentina 6,8 7,3 7,0 51,7 67,7 30,8 Austrália 8,3 9,0 8,2 66,1 66,4 0,5 Brasil 7,0 9,7 37,5 44,4 48,2 8,7 Canadá 9,5 10,9 13,8 70,2 69,8 -0,5 Chile 7,4 7,7 4,5 36,3 47,4 30,4 Colômbia 5,9 6,8 15,0 82,7 76,0 -8,1 Espanha 8,2 8,9 8,9 70,2 70,4 0,3 Estados Unidos 15,1 17,1 12,9 43,7 47,1 7,7 França 10,8 11,7 8,4 77,9 77,5 -0,5 Grécia 8,9 9,8 10,0 59,8 69,5 16,3 Itália 8,2 9,1 11,3 76,2 78,0 2,5 Japão 8,0 10,3 28,9 80,4 82,1 2,1 México 5,8 6,2 7,9 44,2 51,7 17,1 Mundo 10,0 10,0 -0,8 57,8 59,6 3,1 Noruega 10,0 9,6 -4,5 83,7 85,5 2,1 Países da OECD 11,1 12,3 11,5 59,0 61,4 4,1 Paraguai 6,1 9,0 47,5 33,9 38,5 13,5 Portugal 9,7 9,7 -0,3 68,7 64,7 -5,9 Reino Unido 7,8 9,1 17,3 79,3 83,5 5,4 FUNDAMENTOS, REGULAÇÃO E DESAFIOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL38 Países Gasto total com saúde (% do PIB) Gasto público com saúde (% do gasto total com saúde) 2003 2013 ∆% do indicador 2003-2013
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