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Artigo Análise das Pirâmides de Alimentos da USDA e da Universidade da Harvard

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ANÁLISE CRÍTICA DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PIRÂMIDE ALIMENTAR DO DEPARTAMENTO 
NORTE AMERICANO DE AGRICULTURA (USDA) E DA PIRÂMIDE ALIMENTAR DA UNIVERSIDADE 
DA HARVARD 
ANA PAULA SOUZA 
 
1. INTRODUÇÃO: 
A história da alimentação e o homem, caminham juntos desde o início da criação da 
vida, pois como um ser heterotrófico, o homem necessita de alimentos para a sua 
sobrevivência (ALBERTS, 1997). 
O homem e seus hábitos, de como se alimentar e a forma de selecionar estes 
alimentos, remontam a antigüidade. Enquanto o homem primitivo tinha como fonte de 
alimentação os vegetais, a evolução da humanidade fez com que este homem adquirisse 
hábitos alimentares mais especializados, como o consumo de carne (MARCHIONI, 2002). A 
carne inicialmente era consumida crua e posteriormente, com a descoberta do fogo, passou a 
ser consumida na forma assada (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Essa diversidade alimentar 
foi fundamental para a sobrevivência, proporcionando-lhe os nutrientes essenciais na dieta. O 
homem para se manter vivo, necessita de vários substratos energéticos e basicamente de 
hidratos de carbono, proteínas e lipídeos, provenientes dos alimentos (SUEN 1998). 
A forma como o homem adquiriu hábitos alimentares, diferenciou-se muito de uma 
civilização para outra. Estes hábitos sempre estiveram ligados a fatores culturais, religiosos, 
sociais e econômicos (GOUVEIA, 1998). Enquanto que em determinados povos certos 
alimentos eram tidos como essenciais, em outros, eram considerados como sagrados ou 
proibidos (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). 
A evolução dos hábitos alimentares se deu de forma bem lenta, de acordo com as 
necessidades e diversidades que o homem foi encontrando. Um exemplo histórico nos é dado 
por gregos e romanos, que durante séculos se alimentaram na posição deitada, mas que na 
Idade Média passaram a comer sentados, pois esta posição permitia que pudessem trinchar 
melhor os grandes assados (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Isto demonstra que embora a 
civilização venha evoluindo, quando se trata de hábitos alimentares, assim como os gregos e 
os romanos, esta evolução se dá de forma muito lenta. Portanto, os hábitos alimentares e a 
forma de consumo dos alimentos de cada civilização, acompanham o homem desde os 
primórdios. A mudança de hábitos alimentares, mesmo que para uma melhor qualidade de 
vida, torna-se dispendioso pois cada civilização mantém seus aspectos culturais, sociais e 
econômicos que determinam seus padrões alimentares (GOUVEIA, 1998). 
 
 
Surgiu então, na área das ciências da saúde, o ramo da Nutrição para orientar estas 
mudanças dos hábitos alimentares, visando uma adequação dos alimentos às necessidades 
nutricionais do organismo (DUTRA, 1998). 
A Nutrição como Ciência, tanto em seus aspectos sociais, econômicos e profissionais, é 
muito recente. Este ramo do conhecimento desenvolveu-se e passou a ter contornos de 
ciência, no início do século XVIII com a Revolução Industrial, mas só tomou impulso após a 
Primeira Guerra Mundial, entre os anos de 1914 e 1918 (VASCONCELOS, 2002). A introdução 
da Nutrição como área da saúde, ocorreu na Universidade de Buenos Aires em 1937 pelo 
médico argentino Pedro Escudeiro, que estabeleceu e divulgou as Leis da Alimentação 
(TIRAPEGUI, 2000). Relegada durante muitos anos a um segundo plano, a Nutrição ganha 
importância fundamental a partir do momento em que o homem toma consciência de que sua 
saúde física e mental, está estritamente ligada à sua alimentação (VASCONCELOS, 2002). 
Com o aumento na expectativa de vida, e a medida que as populações se tornam mais 
urbanas, as sociedades entram em diferentes estágios, que têm sido chamados de transição 
nutricional. Estas mudanças nutricionais e a oferta de alimentos, estão vinculadas ao aumento 
da renda da população e propõem um maior consumo alimentar (MARCHIONI, 2001). Esta 
oferta aliada ao consumo demasiado de alimentos, nem sempre está relacionada a uma boa 
qualidade de vida, pois a alta ingestão de alimentos pode gerar doenças como a obesidade 
(FRANK, 1996). 
A obesidade é o distúrbio metabólico mais comum no homem e o mais antigo 
documentado na história. Sua gênese é decorrente de uma série de fatores de natureza 
genética, ambiental e social, que é desencadeada pelo balanço energético positivo quando a 
ingestão alimentar é maior que o gasto energético (GUEDES, 2003). Conforme NUNES, (1998) 
acredita-se que a natureza da obesidade humana seja poligênica, com forte influência de 
variáveis alimentares. NÓBREGA, (1998) destaca que além dos fatores de risco, genético e 
alimentar, o estilo de vida da família está relacionado ao gasto energético. 
O excesso de nutrientes associado a erros no metabolismo normal, torna-se um risco 
em potencial para desencadear doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão, 
dislipidemias entre outras (KRAUSE, 2002). 
A população americana, é atualmente formada por cerca de 23% de indivíduos obesos 
(WAITZBERG, 2000) e no Brasil, a obesidade tem sido considerada um problema de Saúde 
Pública (OMS, 1998). 
Nos Estados Unidos, várias tentativas foram feitas no sentido de amenizar os 
problemas causados pela obesidade, como melhor adequação dos alimentos e melhoria nos 
hábitos alimentares e na qualidade de vida dos indivíduos (WELSH et al., 1992 a). Conforme 
BURINI, (2000) a maior ingestão energética deve-se aos distúrbios quantitativos e qualitativos 
da ingestão alimentar, motivados por desinformação nutricional. 
Desta forma, a elaboração de um instrumento de educação nutricional, foi a 
alternativa para melhorar os hábitos alimentares da população. O primeiro instrumento 
elaborado, visando a estruturação dos alimentos em um modelo a ser seguido por 
profissionais de saúde, foi a “Roda de Alimentos” (SHILLING, 1995). Este modelo não se 
mostrou eficaz, pois sua estrutura, possibilitava diferentes interpretações, pois caracterizava 
os alimentos na mesma área conforme a função, o que tornou evidente a necessidade de 
outra alternativa (WELSH et al., 1992 b). 
A FAO (Food and Agricultural Organization), que trabalhou juntamente com a (OMS) 
Organização Mundial da Saúde, e World Heath Organization, com a finalidade de representar 
nutricionalmente e visualmente os alimentos considerados essenciais e em quantidades ideais, 
propôs em 1992, um modelo em forma de pirâmide, que veio a substituir a então Roda de 
Alimentos (DUTRA,1998). 
Este instrumento que foi denominado Pirâmide de alimentos, passou a ser utilizado 
pela população americana. Sua utilização estendeu-se a outros países que o adequaram 
conforme seus costumes, incluindo o Brasil (PECKENPAUGH, 1997). 
 
2.OBJETIVOS: 
2.1. GERAL: 
- Comparar e analisar os aspectos estruturais das Pirâmides de Alimentos da USDA e da 
Universidade da Harvard. 
2.2. ESPECÍFICOS: 
- Comparar os grupos de alimentos da Pirâmide da USDA e os da Universidade da Harvard; 
- Comparar e analisar as diferenças estruturais entre as duas Pirâmides; 
- Avaliar as proporções dos alimentos da Pirâmide da Harvard; 
- Propor alterações nutricionais na Pirâmide da Harvard. 
 
3. METODOLOGIA: 
- A pesquisa caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica, onde foram utilizados referências 
de livros, revistas científicas e sites. 
 
4. DESENVOLVIMENTO: 
4.1 ANÁLISE ESTRUTURAL E NUTRICIONAL DAS PIRÂMIDES DA USDA E DA HARVARD 
O guia alimentar da Pirâmide está de acordo com as recomendações da RDA- 
Recommended Dietary Allowances e foi desenvolvido para pessoas saudáveis, acima de dois 
anos de idade (WAITZBERG, 2000). 
O modelo de pirâmide, foi elaborado de forma que os alimentos fossem distribuídos 
em ordem decrescente, conforme as necessidades nutricionais do organismo(DUTRA, 1998). 
O guia alimentar da Pirâmide é norteado por três princípios: variedade, moderação e 
proporcionalidade (WAITZBERG, 2000). Sua estrutura indica que os alimentos situados na base 
devem ter prioridade nas refeições e serem consumidos em maiores proporções que os 
alimentos localizados acima dela (STUMP, 1999). Esta ordem, que indica a quantidade de 
consumo dos alimentos, é determinada conforme as necessidades nutricionais exigidas em 
uma dieta normal (TIRAPEGUI, 2000). 
A dieta ideal aceita atualmente, segundo as recomendações internacionais, preconiza 
um balanço calórico de 45 a 55% do total de calorias diárias provenientes de carboidratos 
complexos; 10% de açúcares; 12 a 13% de proteínas; e 20 a 30% de lipídeos (CELESTE, 2001). 
O modelo geométrico de pirâmide proposto pela OMS e FAO, foi totalmente aprovado, 
dando origem à Pirâmide do Departamento Norte Americano da Agricultura (USDA) (PHILIPPI, 
1999). 
A Pirâmide do USDA, ficou então estruturada da seguinte forma: 
• Na base, estão os carboidratos complexos e refinados, ou seja, cereais, tubérculos e raízes 
como o arroz, macarrão, pães, farinhas, batatas entre outros (SHILLING, 1995). Estes alimentos 
são fontes energéticas e via direta para a formação de ATP (adenosina e trifosfato) pela via da 
glicólise (LEHNINGER, 1995). Os alimentos deste grupo são recomendados nas quantidades de 
6 a 11 porções por dia. devendo satisfazer 50 a 55% da dieta (CELESTE, 2001); 
• Em seguida estão as frutas e as verduras que são alimentos ricos em fibras e que juntamente 
com a água regulam o trânsito intestinal (WILLIAMS, 1997). São compostos por vitaminas hidro 
e lipossolúveis, que exercem diversas funções no organismo, entre elas, a de participar das 
funções enzimáticas, que impulsionam os processos bioquímicos em meio lipídico e aquoso 
nas membranas celulares (LEHNINGER, 1995). Seu consumo é indicado de 3 a 4 porções por 
dia, podendo ser ingeridos até 25 g de fibras diariamente (PHILIPPI, 1999); 
• A seguir, destacam-se os derivados do leite que contém altos teores de cálcio e as carnes que 
são fonte de ferro, indicando o consumo de 2 a 3 porções ao dia, correspondendo a cerca de 
12% da dieta/dia (DUTRA, 1998). Apesar das funções das proteínas no organismo, o seu 
consumo não é considerado elevado quando comparado aos carboidratos. As proteínas 
exercem suas funções adequadamente mesmo nestas proporções, como na construção dos 
tecidos, no transporte de nutrientes hidrofóbicos no plasma, no equilíbrio ácido-base e 
contribuiem com aminoácidos glicogênicos para a gliconeogênese (LEHNINGER, 1995). 
• No ápice da Pirâmide, estão localizados os alimentos caracterizados pelos confeitos, açúcares 
refinados e gorduras, indicando um consumo moderado, ou seja, uma porção por dia (CLARK, 
1998). A princípio, esta indicação devia-se aos altos teores de calorias contidos neste grupo de 
elementos, que poderiam ocasionar o inadequado ganho de peso pois eram considerados 
como “calorias vazias”, pelo baixo valor nutricional e alto valor calórico (SCHLLING, 1995). Esta 
classificação é considerada atualmente, um dos aspectos negativos da Pirâmide do USDA. Este 
consumo indicado como 1 porção por dia, generaliza todos os tipos de gorduras e limitam 
igualmente suas porções. Estes aspectos em relação às porções e seus valores nutricionais, 
serão discutidos adiante na Pirâmide da Harvard. 
Esta Pirâmide de Alimentos do USDA, é a utilizada atualmente em vários países e 
diferenciada conforme os hábitos alimentares de cada população (TIRAPEGUI, 2000). 
Entretanto, uma pesquisa longitudinal realizada por 12 anos na Universidade de Harvard, pelo 
Dr. Walter Willett (professor em epidemiologia e nutrição), que envolveu 121.000 enfermeiras 
e 50.000 homens e que teve como objeto de estudo esta Pirâmide de Alimentos (WILLET, 
2001). Este estudo demonstrou que muitos aspectos precisavam ser revistos, principalmente 
no tocante à redistribuição dos alimentos em sua estrutura (COWLEY, 2002). Os estudos 
revelaram, que os resultados obtidos não foram os almejados, tanto em relação à adequação 
dos alimentos quanto ao aspecto de prevenção de doenças, podendo sua utilização não ser 
tão eficaz como proposto (PERCEGO, 2002). 
Com os avanços científicos, principalmente na área da nutrição, ficou clara a 
necessidade de revisão na composição desta Pirâmide (WILLET, 2001). Esta revisão propõe 
mudanças em sua estrutura, deslocando alimentos de lugar, substituindo-os por outros e 
inserindo novos elementos na estrutura da Pirâmide (WILLET, 2003). 
Desta forma, a Universidade de Harvard, através de extensas pesquisas científicas, 
elaborou uma Pirâmide que objetiva atender às necessidades nutricionais dos indivíduos, 
direcionando-a para uma melhor qualidade de vida (PERCEGO, 2002). Esta Pirâmide (Figura 2), 
sofreu algumas modificações em relação a Pirâmide do USDA e traz, três novos elementos que 
não estavam presentes na pirâmide original: a atividade física, o vinho e suplementos 
vitamínicos. 
As modificações da Pirâmide da Harvard em relação à Pirâmide do USDA, 
caracterizam-se da seguinte forma: 
• Na base: acrescenta um novo elemento, a prática de atividade física como indicação de sua 
prática para uma melhor qualidade de vida. O exercício físico é a forma mais fácil de controlar 
e estabilizar o peso (LANCHA, 2002). O “Centers for Disease Control and Prevention” e o 
“American College of Sports Medicine”, relata que todo adulto deve realizar pelo menos 30 
minutos de atividade física com intensidade moderada todos os dias na semana (NIEMAN, 
1999). Na base da Pirâmide, ainda, substitui os carboidratos refinados por carboidratos 
integrais, como o arroz integral, pão integral e farinha integral. Estes carboidratos integrais 
diferem dos carboidratos refinados por conterem maiores teores de fibras. As fibras contidas 
nestes alimentos auxiliam na regulação do índice glicêmico no sangue além de 
proporcionarem maiores teores de vitaminas e sais minerais (CARPER, 1995). É indicado o 
consumo abundante destes alimentos. Ao lado destes carboidratos integrais foram colocados 
os óleos vegetais, indicando um maior consumo destes óleos vegetais na dieta diária. O 
consumo de gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas, contidas nos óleos vegetais, são 
fundamentais ao organismo pois contém ácidos graxos essenciais como ômega 6 e ômega 3 
que não são sintetizados pelo organismo (BOBBIO, 1992). 
 
• As proteínas vegetais, ganham uma localização central na Pirâmide de Alimentos, indicando 
o consumo de 3 porções por dia. As proteínas vegetais, estão separadas das proteínas animais 
que são recomendadas de 0 a 2 porções por dia priorizando assim o maior consumo das 
proteínas vegetais. As oleaginosas são ricas em ácidos graxos insaturados (ácido oléico, ácido 
linoléico e ácido alfa-linilênico) protetores às doenças cardíacas e são pobres em gorduras 
saturadas (PASCHOAL, 2001). Estudos demonstram diminuição em 50% do risco de 
desenvolver doenças coronarianas com o consumo diário de 30 g de vários tipos de 
oleaginosas como o amendoim, amêndoas, nozes de natal entre outras (FRASER, 1992). Além 
disso, a associação de proteínas vegetais fornece aminoácidos que melhoram 
significativamente o valor nutricional da dieta e vem a substituir o consumo moderado de 
carne bovina (DUTRA, 1998). 
• A carne vermelha e a manteiga, foram colocadas no ápice da Pirâmide, juntamente com os 
carboidratos refinados, especialmente a batata e o pão branco. Esta mudança indica que estes 
alimentos devem ser consumidos com moderação. A carne vermelha é rica em ferro e 
vitaminas do complexo B que são essenciais para o metabolismo normal do organismo 
(GOODMAN & GILMAN, 1996) , entretanto assim comoa manteiga, contém gorduras 
saturadas que possibilitam o aumento do colesterol sérico (CARPER, 1995). Os carboidratos 
refinados são ricos em amido e pobres em fibras, especialmente a batata que quando cozida, 
tem um índice glicêmico de 85%, sendo absorvidos rapidamente no intestino delgado e 
transportados à corrente sangüínea. Esta absorção, sem maiores teores de fibras, leva a um 
esvaziamento gastrointestinal mais rápida pela maior concentração de açúcares, causando 
hiperinsulinemia pelo alto teor de glicose no sangue (GUYTON, 2002). A hiperinsulinemia é 
uma das teorias mais recentes da gênese da obesidade, pois a insulina é lipogênica e impede a 
lipólise contribuindo para o acúmulo de gorduras corporais (PECKENPAUGH, 1997). Esta baixa 
atividade da insulina pode também, levar à redução da atividade do sistema nervoso simpático 
e prejudicar a termogênese (KRAUSE, 2002). 
• O vinho e os suplementos vitamínicos, ganham lugar extra-Pirâmide, indicando o consumo 
destes elementos de forma moderada. O álcool quando ingerido moderadamente de 1 a 2 
cálices por dia (ADA, 1999), previne doenças cardíacas por fortalecer os vasos sangüíneos e 
evitar coágulos (OLSZEWER E., 2000). Os suplementos vitamínicos, quando utilizados em 
estados de hipovitaminoses possibilitam a cura e melhoria dos sintomas desta doença 
(WILLIAMS, 1997). 
As mudanças na Pirâmide da Harvard em relação à Pirâmide do USDA em relação aos 
alimentos, são positivas quando enfatizam a substituição dos carboidratos refinados por 
integrais, pois visam além da qualidade nutricional dos alimentos, o controle do índice 
glicêmico através das fibras (PERCEGO, 2002). Os carboidratos refinados, propostos pela 
Pirâmide da USDA, contém menores teores de fibras, consequentemente aumentam o índice 
glicêmico e a secreção de insulina, podendo levar a doenças como o diabetes e 
hipertrigliceridemias (WILLET, 2001); o seu consumo elevado pode gerar ainda, um ganho de 
peso indesejado, pois a glicose quando em excesso, é armazenada no tecido adiposo na forma 
de triglicerídeos (STRYER, 1995). Com o aumento dos níveis de triacilgliceróis, aumentariam 
também os níveis de VLDL circulantes promovendo um depósito nas artérias, desencadeando 
processos oxidadtivos (LEHNINGER, 1995). Já as fibras, presentes em maiores quantidades na 
Pirâmide da Harvard, que compõem os vegetais, frutas e alimentos integrais, além de 
conterem vitaminas e sais minerais importantes ao metabolismo, permitem a modulação do 
índice glicêmico por diminuírem o tempo de esvaziamento gástrico (CARPER, 1995). As fibras 
solúveis, sofrem fermentação no intestino formando ácidos graxos de cadeia curta como 
acetato, propionato e butirato que são benéficos ao organismo por serem 
hipocolesterolêmicos (VERBEEK et al, 1995). Já as fibras insolúveis, contribuem com a 
formação do bolo fecal e promovem a aceleração do trânsito intestinal, para a desintoxicação 
do organismo (PECKENPAUGH, 1997). As fibras também contribuem com o equilíbrio ácido-
base do organismo pelas propriedades alcalinizantes como sódio, potássio, cálcio, magnésio e 
acidificantes como cloro, enxofre, fósforo contidos nos alimentos (SHILLING, 1995). Conforme 
a “National Advision Commitee on Nutritional Education, NACNE-1983 e o “Diet and 
Cardiovascular Disease” do “Commitee on Medical Aspects of Food and Health Policy- COMA-
1984 é indicado o consumo de 30 g de fibras/dia. Este consumo é verificado apenas por 5% da 
população, o que torna viável a orientação coletiva para o aumento deste consumo, como 
propõe a Pirâmide da Harvard (SHILLING, 1995). 
A caracterização dos óleos vegetais na base da Pirâmide da Harvard, sugere que seu 
consumo seja de 30% da dieta (PERCEGO, 2002), que é semelhante ao RDA que propõe 25% a 
30% deste consumo na dieta. Este consumo, é ainda inferior quando comparado ao rico 
consumo do Mediterrâneo, 35% a 45% na dieta por dia de azeite de oliva extravirgem, onde a 
população apresenta baixos índices de doenças coronarianas (SALINAS, 2002). Estes 
percentuais de gordura indicados na dieta pela Pirâmide da Harvard de 30% na dieta, refere-se 
apenas aos óleos vegetais, enquanto à Pirâmide do USDA generaliza as gorduras saturadas e 
insaturadas, restringindo o seu consumo. Os óleos vegetais são compostos por gorduras 
poliisaturadas e monoinsaturadas que fornecem ácidos graxos essenciais como o ômega 6 
(ácido linoléico) e ômega 3 (ácido alfa-linolênico). O ácido graxo ômega 6, forma o ácido D-
hommo gama-linolênico e origina a prostaglandina E, que inibe inflamações e agregação 
plaquetária, regula o sistema imunológico, aumenta os níveis de AMP cíglico, inibição da 
lipoxigenase que previne a conversão de ácido aracdônico em leucotrienos pró-inflamatórios e 
reduziria a formação de eicosanóides pró-trombóticos e pró-inflamatórios (OLSZEWER, 2000). 
Já o ômega 3, precursor do ácido eicosapentanóico (EPA) e ácido docosaexanóico (DHA) com 
efeito antiinflamatório, reduz a produção de citocinas como as interleucinas IL-1. IL-2, IL-3 e IL-
6 e o fator de necrose tecidual, regula as reações hiperimunes, reduz os níveis de colesterol-
LDL e de triglicerídeos, diminui a agregação plaquetária, diminui os riscos de infarto do 
miocárdio e reduz a reestenose de “bypass” e de angioplastia (OLSZEWER, 2002). A proporção 
indicada de ômega 6 para ômega 3, é de 6:1 (TURATTI, 2002). Entretanto, estudos propõem a 
proporção maior dos ácidos graxos ômega 3 para o ômega 6, pois o contrário pode promover 
disfunções celulares como o câncer, o diabetes e a artrite (LEAF, 1988). A proporção maior de 
gordura ômega-6 para o ômega-3, pode deprimir o mecanismo de vigilância do sistema 
imunológico contra tumores (WATTENBERG, 1990) 
Os óleos de milho, açafrão e girassol possuem o maior teor de ácidos graxos ômega-6 e 
o menor de ômega-3, o que denota proporções desvantajosas à saúde. Já o óleo de linhaça e o 
de canola têm melhor proporção ômega-3/ômega-6 e o azeite de oliva extravirgem, possui 
maiores teores de monoinssaturados considerados protetores de doenças cardiovasculares 
(CARPER, 1995). 
A indicação ao consumo dos óleos vegetais, é adequada quando são atribuídos à dieta, 
preferencialmente em temperatura ambiente. Todos os óleos vegetais sofrem oxidação sob 
altas temperaturas, sendo considerado o óleo mais estável para altas temperaturas o óleo de 
milho, por ter um menor teor de ácidos graxos polinsaturados que são mais sensíveis à 
oxidação (BOBBIO, 1992). Além do que, a maioria dos óleos vegetais contém antioxidantes 
naturais como o óleo de soja que contém tocoferóis, mas estes são inativados sob tratamento 
térmico (PASSOTO, 1998). Os óleos vegetais, devem estar adequados em relação às calorias da 
dieta, pois contém 9 kcal por grama podendo levar ao ganho de peso indesejável (WILLIAMS, 
1997). Lembrando ainda, que as oleaginosas referidas na Pirâmide da Harvard sobre o 
consumo de 1 a 3 porções por dia, também são fonte de gorduras monoinsaturadas e contém 
em média 6 kcal por grama, devendo assim, estarem adequadas em relação às gorduras totais 
da dieta (IBGE, 1996). 
O consumo pela população por alimentos ricos em gorduras tem se mostrado 
crescente e a carne vermelha na forma de fritura, é considerado o modo preferencial por 
jovens e adultos (SOUZA, 2002). Pesquisas têm demonstrado que as maiores fontes de trans 
isômeros (gorduras que aumentam o risco à doenças cardíacas) na dieta são os alimentos 
fritos (MENDES, 2002). Dietas com excesso de calorias, com alto teor de gordura saturada e 
altas doses de colesterol, podem aumentar o nível total de colesterol no sangue (MANDARINO, 
1995). 
Neste sentido, sobre as gorduras saturadas, a Pirâmide da Harvard, propõe o consumo 
moderado de carne vermelha e derivadosem contrapartida, o aumento no consumo de carnes 
brancas e proteínas vegetais ricas em gorduras poli e monoinsaturadas e vitaminas do 
complexo B como a soja e as oleaginosas (WILLET, 2003). Esta proposta, é indicada conforme 
WILLET, (2001) porque o cozimento da carne vermelha em elevadas temperaturas desencadeia 
a produção de aminas heterocíclicas mutagênicas, que apresentam importante relação com o 
câncer de colón e reto. Em relação ao câncer de cólon, não existe uma quantidade segura de 
carne vermelha para o consumo, pois o consumo por uma vez na semana, aumentou as 
chances de desenvolver câncer em 40% dos indivíduos e o consumo diário de 150 g de carne, 
aumenta as chances em 250% (WILLET, 1990). Além disso a carne vermelha apresenta um 
considerável teor de metionina, que quando ingerida em excesso pode elevar os níveis de 
homocisteína, um importante fator de risco cardiovascular. Um aumento de 5 micromol/l nos 
níveis de homocisteína leva a um aumento de 60% nos homens e 80% nas mulheres no risco 
de doenças cardiovasculares. Já as carnes brancas não são ricas em homocisteína. Além disso 
os peixes são importantes fontes de EPA e DHA, que exercem inúmeros benefícios à saúde. Já 
o frango, além de conter baixo teor de gorduras saturadas, apresenta apenas 2,3 mg/100g de 
ácido mirístico, enquanto que a carne vermelha apresenta 56 mg/100g. Esse ácido graxo é o 
principal responsável pela elevação dos níveis plasmáticos de colesterol. 
A soja apresenta muito pouca quantidade de metionina, além de conter aminoácidos 
essenciais, podendo ser considerada um importante substituto. Além desse fato, o alto 
consumo de proteínas de origem animal leva a um aumento na excreção renal de cálcio. Já o 
consumo de proteínas de origem vegetal, em especial a soja, diminui a quantidade de cálcio 
excretada (WILLET, 2001). A soja, tem muitas vantagens como substituta à carne vermelha, 
todavia o consumo da soja não é habitual, ao passo que, o consumo de carne vermelha, é 
considerado preferencial dentre todas as carnes pela população (SOUZA, 2002). Estudos 
sugerem que não há necessidade de erradicar a carne vermelha do cardápio, pois ela pode 
trazer benefícios ao organismo quando consumida adequadamente: sem gordura aparente, 
pois esta gordura é saturada (HOWE, 1992); moderadamente, alternando este consumo com 
carnes brancas e juntamente com vegetais folhosos ricos em ácido fólico, pois estes junto com 
a carne vermelha formam uma estrutura (ácido fólico, B6 e B12) que formam cisteína e não 
homocisteína (WILLET, 2001). 
A Pirâmide também propõe, moderação no consumo de gorduras saturadas 
provenientes do leite e derivados. Estudos revelaram que o consumo de leite integral 
proporcionou o aumento de câncer oral, gástrico, retal, pulmonar e cervical, ao passo que o 
consumo de leite desnatado com 2% de gordura, previne o desenvolvimento de câncer oral, 
gástrico, de cólon, retal, pulmonar, da vesícula biliar, de mama e cervical (METTLIN, 1990). A 
manteiga que é derivada de gordura animal e rica em gordura saturada, está ao lado da carne 
vermelha, no ápice da Pirâmide. Nesta localização deveriam estar também as margarinas 
vegetais, com indicação de consumo moderado, pois estudos demonstram que os níveis de 
gorduras trans é de 20,7% em margarinas cremosas, 32,2% em margarinas duras e 23,1% em 
cremes vegetais (MENDES, 2002). 
Portanto o local destinado as gorduras saturadas na Pirâmide da Harvard, com 
indicação para o consumo moderado, procede. 
Em relação ao álcool e os suplementos vitamínicos, devem ser avaliados com bastante 
cautela. O álcool foi inserido na Pirâmide e por isso indica que o seu consumo pode ser 
benéfico, porém, deve-se atentar que, como o álcool foi colocado ao lado do topo da Pirâmide, 
o consumo deve ser feito de forma moderada (1 a 2 cálices por dia), para que não haja 
distorções. O vinho quando ingerido moderadamente, traz muitas vantagens ao organismo 
prevenindo doenças cardíacas por fortalecer os vasos sangüíneos e evitar coágulos 
(OLSZEWER, 2000). Não obstante, a figura do álcool associada à Pirâmide, pode contribuir 
negativamente com os objetivos de qualidade de vida. A sua caracterização na Pirâmide de 
Alimentos, pode estimular um consumo pré-existente por parte da população. Este risco 
existe, pois o álcool já é consumido de uma forma geral pela população adulta e especialmente 
pela juvenil. Conforme pesquisa realizada no Cesumar, no ano de 2001, englobando 
estudantes universitários na faixa etária entre 17 a 59 anos, o consumo de álcool é de 68,39% 
entre os homens e de 61,20% entre as mulheres, sendo a freqüência deste consumo por 
ambos de 12,37% por três vezes na semana e 4,12% todos os dias (SOUZA, 2002). 
Este consumo mesmo indicado como moderado pela Pirâmide da Harvard, pode 
prejudicar a educação nutricional da população em geral, pois esta indicação pode trazer mais 
malefícios que benefícios. O álcool além de ser uma fonte calórica, é uma droga psicoativa e 
uma toxina e qualquer que seja seu nível de ingestão, afeta o corpo de maneiras não apenas 
energéticas (SIZER, 2003). O vinho contêm fenóis que são desativados por enzimas. Se um 
indivíduo possuir enzimas imperfeitas, os fenóis podem não serem dissolvidos e causar 
enxaquecas (HUNTER, 1991). Entre os transtornos da ingestão de vinho, estão a produção de 
acidez gástrica e em excesso pode causar danos ao coração, fígado, cérebro e causar 
dependência (BECKER, 1989). 
Em segundo lugar, assim como o álcool, os suplementos vitamínicos ocupam lugar 
extra-Pirâmide, sugerindo o seu consumo como forma suplementar às necessidades do 
organismo. Entretanto, o uso destes suplementos vitamínicos deve ser feito de forma 
criteriosa e somente indicados quando houver uma deficiência vitamínica apresentada pelo 
paciente. Quando o indivíduo apresentar alguma patologia ou necessidade fisiológica, estes 
suplementos vitamínicos devem ser prescritos a nível de consultórios e a princípio, por 
médico. O uso indiscriminado ou excessivo de algumas vitaminas pode causar diversos 
prejuízos ao organismo. 
A nova Pirâmide propõe uma suplementação das vitaminas B6, B12, ácido fólico e 
vitamina D como segurança alimentar (PERCEGO, 2002). Entretanto estas vitaminas, assim 
como os minerais, são encontrados em todos os alimentos que compõem a nova Pirâmide, 
como leite, ovos, grãos, carnes magras, vegetais, folhas, legumes, entre outros, o que torna 
desnecessária a suplementação vitamínica em indivíduos saudáveis. Quando um indivíduo 
saudável faz uso de suplementos vitamínicos sem necessidade, ocorre um excesso que leva a 
um desequilíbrio no organismo, denominado hipervitaminose (KRAUSE, 2002). A ingestão de 
vitaminas do complexo B em altas doses, pode ser considerada como medicamento, devendo 
ser cuidadosamente controlada para prevenir toxicidade (AGNOL, 2001). 
A respeito desta toxicidade pode-se citar alguns exemplos: 
- A vitamina B6 (piridoxina) quando em doses acima de 5 mg por dia por um longo período de 
tempo, pode causar falta de coordenação muscular e em alguns casos, severo dano nervoso; a 
vitamina B12 (cobalamina), dispensa um maior consumo, pois a necessidade desta vitamina 
pelo organismo é pequena e a dieta normal fornece até mais que o necessário, ou seja, de 0,6 
a 1,2 mg por dia; a vitamina D, é armazenada no tecido adiposo e é liberada lentamente no 
organismo, aumentando o risco de toxicidade, podendo provocar enfraquecimento ósseo 
progressivo em crianças e hipercalcemia em adultos (WILLIAMS, 1997). O ácido fólico não 
representa grau de toxicidade comprovada, porém, em grandes quantidades pode mascarar a 
anemia ocasionada pela falta de vitamina B12, podendo ocorrer danos irreparáveis no sistema 
nervosocentral (CATHARINO, 2002). 
Desta forma, a associação do álcool e dos suplementos vitamínicos à Pirâmide de 
Alimentos, que é um objeto de educação nutricional direcionado à população saudável, não 
vem de encontro ao seu objetivo e nem `as leis da Nutrição- Qualidade, Quantidade, Harmonia 
e Adequação que regem as diretrizes da boa nutrição e melhora na qualidade de vida 
(TIRAPEGUI, 2000). 
Finalmente, a prática de atividade física associada à Pirâmide de Alimentos, ao 
contrário do álcool e dos suplementos vitamínicos, é positiva pois torna-se mais um elemento 
a ser trabalhado e estimulado junto a população, que visa uma melhoria da qualidade de vida. 
O que condiz com a literatura, pois, conforme NIEMAN (1999), o “Centers for Disease Control 
and Prevention” e “American College of Sports Medicine”, preconiza que todo adulto deve 
realizar pelo menos 30 minutos de atividade física de intensidade moderada todos os dias da 
semana; visto que, esta prática freqüente leva a melhorias na saúde e na prevenção de 
doenças. 
Esta nova Pirâmide de Alimentos proposta pelo Dr. Willet, traz avanços significativos 
para a saúde da população, que contribuem para a qualidade de vida da população. 
Entretanto, tanto nesta Pirâmide quanto na do USDA, há a ausência em sua estrutura, de um 
elemento de fundamental importância para o organismo e ao qual sem ele, todos os 
componentes da Pirâmide de Alimentos não exerceriam as suas funções; sem ele, não haveria 
degradação, absorção, excreção e especialmente vida: A ÁGUA! 
A água é elemento essencial, pois compõe cerca de 70% do corpo. Todos os processos 
bioquímicos ocorrem em meio aquoso e é ela quem nos indica o pH e por razões complexas, 
tem livre acesso às membranas celulares apesar de sua natureza polar (ALBERTS, 1997). A água 
distribui-se por todo o espaço celular e é o meio no qual ocorrem o transporte de nutrientes, 
as reações metabólicas catalisadas enzimaticamente e a transdução de energia química 
(LEHNINGER, 1995). 
A inclusão deste elemento na Pirâmide seria de fundamental importância, visto que a 
FAO (Food and Agricultural Organization) escolheu a água para representar o Dia Mundial da 
Alimentação, com o tema “Água-Fonte Segura da Alimentação” (CHRISTOFIDIS, 2002). 
 
4.2. ÁGUA, ELEMENTO ESSENCIAL NA ESTRUTURA DA PIRÂMIDE DE ALIMENTOS 
As mudanças mais positivas na Pirâmide da Harvard, dizem respeito ao aumento na 
ingestão de fibras, à prática de atividade física diária e o consumo moderado de gorduras 
saturadas. Todavia, estas mudanças seriam mais eficazes quando aliadas ao alto consumo de 
água. Com o aumento da ingestão de fibras, aumenta a necessidade de água para manter a 
movimentação do conteúdo intestinal, evitando o endurecimento das fezes (CARPER, 1995); já 
a atividade física diária demanda água conforme a duração e a intensidade (CLARK, 1998). 
ROCHA, (2000) associa a baixa ingestão de água e o consumo de alimentos saturados, com a 
formação de placas de gorduras nas artérias. 
A água, é o meio no qual se deu a origem dos seres vivos, e é o veículo provedor das 
integrações no meio interno que possibilitam a continuação da vida (ALBERTS, 1997). 
O homem como ser endotrópico e homeotérmico, sobrevive quando mantém o 
equilíbrio das reações entre o meio interno com a biosfera, (DUTRA, 1998). Este equilíbrio, 
impede perdas desnecessárias ao organismo, que depende de substratos para o 
funcionamento do seu metabolismo que utiliza de gasto energético para acoplar reações e 
eliminar seus resíduos (PURVES, 2002). 
Todavia, para que estas reações possam ocorrer, o meio deve estar condicionalmente 
adequado (GOODMAN & GILMAN, 1996). A fluidez e os componentes que participam das 
reações de acoplamento, a intercomunicação entre organelas, as células e sistemas que 
compõem o meio, devem estar em equilíbrio entre si (ROBERTIS, 2001). Estas condições, são 
propiciada pela água e eletrólitos que são provedores do equilíbrio químico e fundamental 
para a manutenção da homeostasia (CINGOLANI, 2004). Os eletrólitos contidos neste meio 
aquoso, quando se deslocam de um lado para outro nas membranas celulares por osmose, 
transmitem informações através de variações elétricas (LANCHA, 2002). 
O equilíbrio é proporcionado pelo balanço hidro-eletrolítico, que é mantido pela 
entrada e saída de água e eletrólitos dos compartimentos aquosos e pelo balanço de líquidos 
que ingressam e egressam do organismo (DOUGLAS, 2002). Este meio de equilíbrio o qual é 
possibilitado pela água e eletrólitos, compõe os líquidos intra e extra celulares que constituem 
cerca de 70% do peso corporal (BERNE, 2000). 
A água no LIC (líquido intracelular), no homem adulto, constitui 50% dos 70% de água 
do peso corporal e é o veículo no qual ocorrem as reações bioquímicas metabólicas (ROBERTIS, 
2001). Se sua fluidez for inadequada, pode interferir negativamente na homeostasia 
(CINGOLANI, 2004). Os outros 20% de água, estão distribuídos nos compartimentos 
extracelulares (LEC): 4,5% no plasma, 13,5% no espaço intersticial e 2% nos líquidos 
transcelulares como líquor, saliva, sêmem, bile, sucos intestinais, urina entre outros (DUTRA, 
1998). 
Para a manutenção destes líquidos corporais, requer-se um equilíbrio hídrico que 
resulta da ingestão e da excreção de água pelo organismo (ALIGIERI, 1999). 
A ingestão de água provém de três diferentes fontes: 1) da ingestão de líquidos que 
representam cerca de 1200 ml/dia; 2) da constituição dos alimentos, que é variável conforme 
o alimento, estando por cerca de 700 ml/dia para uma dieta equilibrada; 3) da oxidação dos 
substratos energéticos, onde a produção de água varia conforme a adequação dos 
macronutrientes pois: a) 0,41 grama de proteína; b) 0,6 grama por grama de carboidrato; c) 
1,07 por grama de lipídeos (DOUGLAS, 2002). Apesar dos lipídeos fornecerem maiores 
quantidades de água em sua oxidação, os indivíduos com maiores quantidades de gorduras 
armazenadas no tecido adiposo, mantém menores teores de água corporais (KRAUSE, 2002). 
Quanto à excreção de líquidos, pode ocorrer por diferentes vias: pelos pulmões, por 
respiração; pela pele, por sudorese; pelas fezes, em menores quantidades e pelo rim que é o 
principal órgão de eliminação de água através da urina, cujo volume mínimo obrigatório é de 
600 ml/dia (DOUGLAS, 2002). Os rins mantém o equilíbrio entre a ingestão e a excreção de 
água e da maioria dos eletrólitos (GUYTON, 2002). A ingestão de menores quantidades de 
água, diminui as concentrações dos minerais que podem precipitar e gerar cálculos renais 
(CARPER, 1995). Os ingressos e egressos de água no organismo, que resultam no equilíbrio 
hídrico, podem ser descritos pelo Quadro 2. A necessidade de água varia conforme idade, a 
temperatura ambiente e a atividade, devendo ser maior a ingestão de líquidos quanto maior 
for a temperatura e a atividade física (FRANK, 2002). 
Em situações fisiológicas normais, a ingestão de água por dia deve corresponder a 100 
ml por kg de peso para crianças até 10 kg, 40 ml por kg de peso para jovens e adultos, 30 ml 
por kg de peso para idosos (DUTRA, 1998). Esta quantidade deve estar aumentada em 
situações de estresse metabólico, como em queimaduras, em cirurgias, em atividades 
exaustivas e em altas temperaturas (WAITZBERG, 2000). A reposição hídrica deve estar 
adequada principalmente, antes, durante e após as atividades físicas, pois a desidratação 
compromete o funcionamento normal do organismo, prejudica o desempenho, podendo levar 
à morte (LONGO, 2001). As perdas de água podem ocorrer por diferentes vias e 
principalmente em decorrência de altas temperaturas do ambiente e de práticas de atividades 
físicas, conforme o Quadro 3. 
 
Quadro 2- Ingestão e excreção de água/dia.Ingressos de água 
Água de Bebida 1.200 ml 
Água dos alimentos 700 ml 
Água das oxidações 300 ml 
Total Ingressos 2.200 ml/dia 
Egressos de Água 
Urina 1.200 ml 
Respiração 400 ml 
Pele 400ml 
Fezes 200 ml 
Total egressos 2.200 ml/dia 
Fonte: Douglas, 2002 
 
Perdas de água pelo organismo. 
Perda de água Temperatura Calor: Exercícios 
insensível: normal: pesados: 
Pele 350 ml 350 ml 350 ml 
Pulmões 350 ml 250 ml 650 ml 
Suor 100 ml 1400 ml 5000 ml 
Fezes 200 ml 200 ml 200 ml 
Urina 1500 ml 1200 ml 500 ml 
Perda total 2500 ml 3400 ml 6700 ml 
Entrada de água para manter o balanço hídrico 2500 ml 3400 ml 6700 ml 
Fonte: Berne, 2000. 
 
No calor e durante a prática de exercícios pesados, o balanço de água só é mantido se 
o indivíduo aumentar a entrada de água para compensar o aumento de sua perda pelo suor, 
pois a excreção de água pelos rins é insuficiente para manter o balanço de água (BERNE, 2000). 
Na prática de atividade física, a ingestão de líquidos deve estar entre 400 a 600 ml 2 a 
3 horas antes da atividade física, 150 a 200 ml a cada 20 minutos. Durante o exercício e após a 
atividade deve-se ingerir cerca de 150% do volume perdido (WOLINSK, 1996). Um dos fatores 
limitantes da capacidade de sustentar o exercício prolongado, é a desidratação induzida pelo 
exercício (LANCHA, 2002). 
A água também mantém a temperatura corporal evitando a morte celular em 
temperaturas muito elevadas no organismo; quando a temperatura ambiente é superior a 32ª 
C, há grandes perdas do LTC devendo-se aumentar o consumo de água em 15% do habitual 
(DUTRA, 1998). 
O consumo de água em quantidades adequadas, é portanto fundamental em 
diferentes situações e etapas da vida. A água ingerida é de alta digestibilidade e é rapidamente 
absorvida desde o estômago até o intestino delgado que é seu maior local de absorção 
(BERNE, 2000). 
As funções deste elemento no organismo, são extraordinariamente variadas e de 
complexa amplitude que vão além da homeostasia. Como origem da vida e veículo para a 
promoção da mesma, a água em sua estrutura polar, é no meio intracelular o ambiente 
adequado onde ocorrem os processos metabólicos bioquímicos (ALBERTS, 1997). Este 
ambiente, é delimitado pela célula, a qual fornece substratos à maquinaria humana e é 
composta por 70 a 80% de água (BRACHT, 2003). 
Para exercer suas funções, a água após ingerida e absorvida no trato gastrointestinal, é 
transportada às células e tecidos pelo líquido intravascular e impulsionada pela força do 
coração (DUTRA, 1998). Por pressão hidrostática é transportada para o líquido extracelular 
onde transporta os gases, os alimentos e produtos do metabolismo celular (ROBERTIS, 2001). 
Nos líquidos trancelulares, a água lubrifica os tecidos, as articulações e as membranas serosas 
que são importantes nos processos digestivos, respiratórios e excretórios (WILLIAMS, 1997). 
Só no trato gastrointestinal são necessários 8 litros de água para os processos digestivos, que 
são reabsorvidos após exercerem suas funções (GUYNTON, 2002). A água no líquor protege o 
cérebro e a medula espinhal e nos olhos os humores mantém a pressão intra-ocular 
(CINGOLANI, 2004). 
A ausência de água diminui a capacidade do organismo em executar uma tarefa mais 
do que a deficiência de um alimento sólido, pois uma redução de 4 a 5% de água corpórea, 
reduz em 20 a 30% a capacidade de trabalho de órgãos e sistemas (DUTRA, 1998). 
A água apesar de ser um elemento vital para a execução das funções do organismo 
(ALBERTS, 1997), não é considerada uma vitamina. Apesar de seu consumo mínimo por dia, 
1200 ml, ser semelhante numericamente às necessidades calóricas diárias, 1200 kcal 
(CUPPARI, 2002), não é considerado um macronutriente. Isto porque está contida nos 
alimentos e é fundamental aos processos efetivos de digestão, absorção, metabolização e 
excreção do organismo (LEHNINGER, 1995). Apesar também de suas inúmeras funções no 
organismo (GUYTON, 2002), não é considerado um elemento funcional. Entretanto, é um 
elemento único e essencial à vida (DEVLIN, 1998). 
 
4.3. SUGESTÕES PARA UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO A PARTIR DA 
PIRÂMIDE DA HARVARD 
A Pirâmide da Harvard, foi estruturada após exaustiva pesquisa científica e os 
resultados apontaram para a necessidade de uma reformulação nutricional visando uma 
melhora na qualidade de vida. Muitos, tipos e proporções dos alimentos caracterizados na 
Pirâmide, não são habituais na população brasileira. Entretanto, verificamos que a obesidade e 
outros distúrbios, estão amplamente relacionados aos alimentos consumidos pela população 
em geral, e percebemos a importância que os hábitos alimentares têm em nossas vidas. Estes 
hábitos alimentares estão vinculados a fatores sociais, econômicos, psicológicos e associados 
ao cotidiano atual, interferem diretamente em nossa alimentação. Estes fatores dificultam a 
mudança alimentar e consequentemente a melhora na qualidade de vida, tornando esta tarefa 
um grande desafio. Nosso papel enquanto profissionais, é contribuir com uma orientação 
nutricional para que a população possa usufruir dos benefícios do conhecimento atual. A 
Pirâmide da Harvard, deve nortear essa orientação, para que a população possa ter uma 
melhor qualidade de vida. 
A utilização da nova Pirâmide, deve entretanto ser criteriosa em alguns aspectos como 
na indicação do álcool , suplementos vitamínicos e gorduras totais. 
Como vimos nesta pesquisa, há vários aspectos positivos na Pirâmide da Harvard, em 
relação à Pirâmide do USDA, como por exemplo a inclusão do consumo de alimentos integrais, 
dos óleos vegetais, das proteínas vegetais entre outros. Todavia, a água apesar de sua 
magnitude, não está caracterizada na figura geométrica que é o objeto mundial de educação 
nutricional, denominado Pirâmide de Alimentos. Este referencial denota que os estudos sobre 
nutrição e qualidade de vida direcionados ao indivíduo enquanto organismo a partir da 
unidade celular, necessitam ser revistos e aprimorados tanto pela FAO, quanto pela Harvard. 
As ciências da Nutrição, são tão complexas quanto parecem e as pesquisas devem 
compreender a nutrição ao indivíduo como um todo. A nutrição humana, é nutrição 
intracelular que ocorre em ambiente aquoso e é dependente de água exógena para sua 
manutenção. 
Desta forma, a água enquanto elemento essencial à vida, deveria ter suas 
propriedades e funções divulgadas aos indivíduos de uma forma que não a apresente isolada 
dos demais nutrientes da Pirâmide de Alimentos. 
A água não deveria ser encarada como mero suplemento à ingestão dos demais 
nutrientes. Ela deveria, muito mais, ser considerada ela própria como um nutriente essencial, 
devendo-se fazer abstração do fato de que ela não pode atuar como fonte energética pois, 
conforme demonstrado, suas funções são de importância capital para o correto 
funcionamento do organismo e, consequentemente, para a saúde. 
A aplicação da Pirâmide da Harvard traz várias vantagens para a saúde da população. 
Esta pesquisa verificou, no entanto, que sua aplicação correta e proveitosa carece em muitos 
aspectos de orientação, baseada em dados científicos, no que tange às proporções de vários 
nutrientes. Além disto, há nutrientes na Pirâmide de Harvard cujo balanço benefício/malefício 
é bastante negativo, caso do álcool por exemplo. E finalmente, esta pesquisa também sugere 
uma orientação mais precisa e incisiva sobre a importância do consumo de água pela 
população, a qual é vital para a qualidade de vida proposta pela Pirâmide de Alimentos da 
Universidade de Harvard. Levando em conta principalmente estes fatores, sugere-se a 
estrutura da figura 3 a qual não inclui o álcool e os suplementosvitamínicos, destacando ainda, 
o consumo ideal de água e os tipos de gorduras a consumir. 
Além da água, outros alimentos podem ainda ser acrescentados à Pirâmide de 
Alimentos, como a canela que melhora a atividade da insulina, capacitando o organismo a 
processar os açúcares de forma mais eficiente (CARPER, 1995). Entretanto para a inclusão de 
outros alimentos, sugere-se um novo estudo. 
 
5. CONCLUSÃO: 
Há vários estudos sobre a melhora da qualidade de vida, especialmente em relação à 
alimentação. O Dr. Willit, em seus estudos, verificou falhas nutricionais na Pirâmide de 
alimentos da USDA e sugeriu modificações. Embora estas alterações sejam recentes e tenham 
oferecido resistência, elas apontam mudanças para uma melhor qualidade de vida da 
população. As mudanças sugeridas pela Pirâmide da Harvard, embora não sejam habituais, 
devem ser observadas, avaliadas, questionadas mas relevadas pois são de natureza científica. 
Negar o conhecimento científico, é fechar os olhos para o futuro e para si enquanto 
profissional. A nutrição, enquanto ciência, é recente e muito se tem a pesquisar e descobrir. 
Sua contribuição para uma melhor qualidade de vida da população é atribuída à pesquisa, que 
qual indicará os caminhos a serem melhorados, restringidos, inovados ou renovados. 
Enquanto não se chega a um consenso sobre qual Pirâmide utilizar e quais alimentos 
substituir, as mudanças sugeridas pela Harvard, devem ser avaliadas, adequadas e 
referenciadas através das Ciências Nutricionais. Por outro lado, como benefício à saúde da 
população, a inclusão da água na Pirâmide de alimentos, torna-se necessidade nutricional. 
Sua introdução na Pirâmide, indicaria a necessidade de seu consumo e 
consequentemente benefícios à saúde. Esta necessidade seria indicada através de sua 
localização na Pirâmide: durante todo o dia, pois localiza-se-ia na base; entre as refeições, pois 
localiza-se-ia entre os alimentos e em maior quantidade durante a prática de atividade física. 
Com este elemento compondo a Pirâmide, poder-se-á educar e estimular o consumo 
ideal de água, juntamente com os outros elementos já caracterizados na Pirâmide alimentar, 
pois conforme MONTGOMERY (1994), o homem para manter uma nutrição saudável necessita 
de seis principais componentes em sua dieta alimentar, carboidratos, proteínas, gorduras, 
vitaminas, minerais e Água. 
Desta forma, a Pirâmide alimentar poderá conter em sua estrutura todos os elementos 
necessários para a boa saúde, o que irá de encontro aos seus objetivos de possibilitar uma 
melhor qualidade de vida. 
Esta melhor qualidade de vida, será proporcionada pela abrangência dos elementos 
contidos em sua estrutura, como os alimentos que foram objeto de pesquisa científica, a 
prática de atividade física e a água como elemento essencial a esta estrutura. Esta orientação 
se dará, através dos profissionais da saúde, que utilizarão a Pirâmide de alimentos como 
instrumento educativo, enfatizando os seus benefícios de forma mais completa. A inclusão da 
água e sua associação ao maior consumo de fibras, aos ácidos graxos ômega 3, ao consumo 
moderado de gorduras saturadas e à prática de atividade física na Pirâmide de alimentos, 
poderá contribuir de forma mais global para a saúde da população. 
A literatura referiu vários benefícios na Pirâmide da Harvard e estes benefícios devem 
ser avaliados e utilizados por profissionais de nutrição levando-se em conta as diferenças 
regionais, sócio-econômicas da população para que esta orientação nutricional traga os 
benefícios almejados. 
A sua qualidade de vida depende da qualidade da sua alimentação. 
(Garcia, 2002) 
 
REFERÊNCIAS: 
ALBERTS, B. Biologia Molecular da célula. Porto Alegre: Artesmedicas. 1997. 
AGNOL, D. Tatyana: Vitaminas do Complexo B, Algumas Considerações: Revista Nutrição Saúde 
e Performance, São Paulo, n.3, v.3, Outubro/Novembro. 2001. 
ALIGIERI, P. Secreções Digestivas. Revista âmbito Farmacêutico. São Paulo. Ano XIII, v.13, n. 
168, Outubro. 1999. 
BECKER, D. J. A comparison of high and low fat meals on postprandial esophageal acid 
exposure. American Jornal of Gastroenterology, 84(7). 1989. 
BERNE, Robert M. LEVY, MATTHEW N. Fisiologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 
1998. 
BERTOLUCCI, Patrícia: Nutrição, Hidratação e Suplementação do Atleta: Revista Nutrição em 
Pauta, São Paulo: Editorial, anoo X, n. 54, Maio/Junho. 2002. 
BOBBIO, F. O. Introdução à Química de Alimentos. 2a ed. São Paulo: Varela, 1992. 
BRACHT, A. Métodos de Laboratório em Bioquímica. São Paulo: Manole, 2003. 
BURINI, C.R.Estilo de Vida saudável, a Fórmula para Longevidade sem Morbidade. Revista 
Nutrição em Pauta, São Paulo: Editorial, ano X, n. 56, Set/ Out. 2000. 
CASSAR, Renata: Congresso Internacional de Nutrição – Viena: Revista Qualidade em Nutrição, 
Novembro 2001 ano 2 n. 11 editora Imen S.P 
CARPER, Jean. Alimentos: O melhor remédio para a boa saúde. 7ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 
1995. 
CATHARINO, R. Rodrigo: Ácido Fólico e Folatos em Alimentos- Uma Revisão: Boletim da 
Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, n.1, v.36, Janeiro/Junho. 
2002. 
CELESTE, K. Roger: Análise Comparativa da Legislação sobre Rótulo Alimentício do Brasil, 
Mercosul, Reino Unido e União Européia: Revista de Saúde Pública- Journalof Public Health, 
Junho 2001-vol 35 n 3 São Paulo.

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