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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I PROCESSO DE CONHECIMENTO 1. BREVE REVISÃO DA TEORIA GERAL DO PROCESSO – NOÇÕES BÁSICAS � Lide – “conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida” (Carnelutti) � Mecanismos de composição dos litígios – autotutela, autocomposição, heterocomposição � Meios alternativos de composição dos litígios – conciliação, mediação, arbitragem – procuram dar maior celeridade ao processo, primam pela desformalização, estímulo a julgamentos por eqüidade, desprendimento da legalidade estrita – limites objetivos (matérias que a lei considera indispensável o processo) e limites subjetivos (sujeitos envolvidos - incapazes) � Funções do Estado Moderno – bem comum – paz social – estímulo à “justiça coexistencial” (Cappelletti) – funções soberanas: administrativa, legislativa e jurisdicional – função jurisdicional: missão pacificadora – pacificação com justiça – aplicação da lei ao caso concreto e restabelecimento da paz entre os particulares e manutenção da ordem social – acesso à ordem jurídica justa – processo (método) – normas jurídicas – direito processual � Conceito de Direito Processual – “ramo da ciência jurídica que estuda e regulamenta o exercício, pelo Estado, da função jurisdicional” (Alexandre Freitas Câmara) – “sistema de princípios e leis que disciplinam o processo” (Moacyr Amaral Santos) � Autonomia do direito processual frente ao direito substancial – diversidade de natureza e objetivos: � direito material – estabelece as normas que regulam as relações jurídicas entre as pessoas � direito processual – regulamenta uma função típica estatal – direito público CUIDADO! Conforme afirma Humberto Theodoro Júnior: “Há, em suma, um direito processual que em sua estrutura ordinária merece ser tratado como um ramo independente do direito material. Há, de outro lado, um direito processual que serve à Constituição, e que, ao fazê-lo, não pode continuar sendo enfocado como autônomo. Já então é utilizado com o nítido objetivo de tutelar a situação jurídica material subjetiva em situação de crise, ou seja, de lesão ou ameaça. É simplesmente o instrumento de realização do direito material atingido por agressão ou ameaça ilícita”. � Objetivos do direito processual civil � Imediato – resguardar a ordem jurídica, pacificando os conflitos e assegurando o império da lei e da paz social � Mediato – veículo de proteção dos direitos individuais das partes envolvidas no conflito � Direito processual e sua relação com outros ramos do direito � Lei processual civil: aquela que regula o processo civil, que disciplina a função jurisdicional desenvolvida pelos juízes e tribunais � Lei processual no tempo: incidência imediata – aplica-se a lei que vigora no momento da prática do ato e não a do tempo em que se deu o ato material – não é retroatividade – respeita o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada – alcança o processo no estado em que se encontra quando da entrada em vigor – respeita os efeitos dos atos já praticados – tempus regit actum � Lei processual no espaço: princípio da territorialidade – soberania do Estado – exceção: em matéria de prova, aplica-se a lei estrangeira quando o negócio jurídico material tiver sido praticado fora do Brasil, mesmo que a demanda seja aqui ajuizada, porém não se admite prova que a lei brasileira desconheça (LICC, artigo 13) � Interpretação das leis processuais: LICC, art. 5.º – atender aos fins sociais a que se dirige e às exigências do bem comum – a forma não deve obrigatoriamente prevalecer sobre o fundo (ex.: artigos 244, 249, §§ 1.º e 2.º e 250 do CPC) – fiel interpretação para garantia da segurança jurídica 2. DADOS HISTÓRICOS RELATIVOS AO DIREITO PROCESSUAL � Origens: � Proibição da justiça pelas próprias mãos – julgamento pelo Estado-Juiz – necessidade de regulamentar a atividade da administração da Justiça – surgimento das normas processuais – jurisdição contenciosa (composição de litígios) e jurisdição voluntária ou graciosa (administração de interesses privados merecedores de tratamento especial pelo Estado) � Evolução histórica � Mundo clássico (Grécia) – oralidade, princípio dispositivo, provas documentais e testemunhais, restrições ao testemunho de mulheres e crianças, respeito à livre apreciação da prova pelo julgador (exercia uma crítica lógica e racional, sem se ater a valorações legais prévias em torno de determinadas espécies de prova) � Processo civil romano – três fases: a) período primitivo – legis actiones – ações da lei (eram cinco) – procedimento solene, oral, sem advogados – uma fase perante o magistrado (concedia a ação da lei e fixava o objeto do litígio) e outra perante árbitros (colhiam a prova e prolatavam a sentença) b) período formulário – abolição das ações da lei – o magistrado concedia “fórmulas” de ações que fossem capazes de compor toda e qualquer lide – havia intervenção de advogados – eram observados os princípios do livre convencimento do juiz e do contraditório das partes c) fase da cognitio extraordinaria – desapareceram os árbitros privados – função jurisdicional privativa de funcionários do Estado – forma escrita – pedido, defesa, instrução, sentença, recursos, execução – bases do processo civil moderno � Processo Comum – queda do Império Romano – costumes bárbaros – noções jurídicas rudimentares – retrocesso – fanatismo religioso: juízos de Deus, ordálias, duelos judiciais – processo formal, rígido, acusatório, prova tarifada --- paralelamente a Igreja Católica preservava as instituições do direito romano, adaptando ao direito canônico – da fusão do direito romano com o direito canônico e com o direito germânico surgiu o direito comum (processo comum), que perdurou até o século XVI – escrito, lento e complicado – tortura como meio de obtenção da verdade no processo – tarifa legal da prova (até fins do séc. XVIII) --- Revolução Francesa – livre convencimento do juiz e eliminação dos resquícios da tarifa legal da prova � Processo civil moderno – o processo civil passa a ser visto como instrumento de pacificação social e de realização da vontade da lei – concentração de maiores poderes nas mãos do juiz para produção e valoração da prova � Evolução científica do direito processual: � Fase imanentista – anterior à afirmação da autonomia científica do direito processual – processo como mero apêndice do direito material, mera seqüência de atos e formalidades – direito substantivo/direito adjetivo (impropriedade das expressões) � Fase científica – estudos voltados para a fixação dos conceitos essenciais que compõem a ciência processual (ação, processo, coisa julgada etc.) – nasce a teoria do processo como relação jurídica – maiores nomes do direito processual: Giuseppe Chiovenda, Francesco Carnelutti, Piero Calamandrei, Enrico Tullio Liebman, Adolf Wach, Leo Rosenberg, Alfredo Buzaid, Lopes da Costa, Moacyr Amaral Santos � Fase instrumentalista – fase atual – o processualista se dedica a descobrir meios de melhorar o exercício da prestação jurisdicional, tentando aproximar o máximo possível a tutela jurisdicional do primado da justiça – o processo deixa de ser visto como mero instrumento de atuação do direito material e passa a ser encarado como um instrumento de que se serve o Estado para alcançar seus escopos sociais, jurídicos e políticos – busca assegurar uma tutela jurisdicional adequada e efetiva – grandes nomes: Mauro Cappelletti, José Carlos Barbosa Moreira, Cândido Rangel Dinamarco � Evolução legislativa do direito processual civil brasileiro � Ordenações Filipinas – forma escrita, atosem segredo de justiça, várias fases, diversas audiências, princípio dispositivo em toda a sua plenitude (autor e réu eram donos do processo – a movimentação era privilégio dos litigantes) � Regulamento n.º 737/1850 – primeiro “Código Processual” nacional – só causas comerciais – economia e simplicidade de procedimento � Regulamento n.º 763/1890 – estendeu o Regulamento n.º 737 aos feitos civis � Constituição de 1891 – estabeleceu a dicotomia entre a Justiça federal e a estadual e entre o poder de legislar sobre processo – direito processual da União e códigos estaduais de Processo Civil � Constituição de 1934 – processo unitário – atribuição à União da competência para legislar sobre processo � CPC de 1939 – elaborado à luz das teorias de Chiovenda � CPC de 1973 – verdadeiro “monumento em homenagem a Liebman” � Reformas ao CPC de 1973 e outras normas processuais – revolução no sistema processual, sob a influência dos princípios norteadores da fase instrumentalista do processo – busca do “processo de resultados” – aproximação do processo ao direito material – instrumentalidade e efetividade: idéias que se completam na formação do ideário do processualismo moderno (HTJ) – processo justo – celeridade + segurança jurídica = resultado desejado pelo direito material – novos métodos de composição dos litígios (juízo arbitral, juizados especiais, audiência preliminar etc.) – justiça coexistencial – tutela de direitos metaindividuais 3. PRINCÍPIOS INFORATIVOS DO DIREITO PROCESSUAL 3.1. Princípios Constitucionais � Devido processo legal – due process of law – origem na Carta Magna de João Sem Terra, de 1215 – CF, artigo 5.º, LIV – superprincípio: coordena e delimita os demais princípios que informam o processo – aplica-se a tudo que disser respeito à vida, à liberdade e ao patrimônio, inclusive na formação das leis – idéia de processo justo = regularidade formal + melhor resultado concreto em face do direito material � procedural due process of law – devido processo legal formal – garante as formalidades indispensáveis para que o processo seja devido; decorrem daí o contraditório, a motivação, o juiz natural, a proibição de prova ilícita etc. – garantia de pleno acesso à justiça, acesso à ordem jurídica justa (Kazuo Watanabe) – “ondas renovatórias do direito processual” ou “as três ondas do acesso à justiça” (Mauro Cappelletti): assistência judiciária gratuita, proteção dos interesses metaindividuais e o “novo enfoque do acesso à justiça” (reforma do Judiciário, luta contra o formalismo exacerbado, valorização dos meios paraestatais de solução de conflitos – sucedâneos da jurisdição) � substantive due process of law – devido processo legal substancial (ou material) – relaciona-se ao controle do conteúdo da decisão; é a idéia de equilíbrio, de respeito aos direitos fundamentais – não basta a regularidade formal, as decisões devem ser substancialmente razoáveis e corretas – princípio da proporcionalidade/razoabilidade (princípio da unidade da Constituição, ponderação de interesses) – exemplos no processo civil: concessão de tutela antecipada, fixação de multa diária, etc. � Isonomia – CF, art. 5.º, caput – corolário do devido processo legal – idéia de processo justo – tratamento equilibrado das partes no processo (art. 125, I, CPC) – igualdade substancial e não meramente formal (tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais) – assegurar tratamento que supra as desigualdades naturais existentes entre as pessoas – ex.: artigos 188 e 82, inciso I, do CPC � Juiz Natural – CF, art. 5.º, incisos XXXVII e LIII – duas faces da garantia: em relação ao órgão jurisdicional (juízo competente previamente estabelecido) e em relação à pessoa do juiz (imparcialidade – CPC, arts. 134 e 135 – impedimento e suspeição) � Inafastabilidade do controle jurisdicional – CF, art. 5.º, XXXV – principal destinatário da norma principiológica: o legislador, que fica impedido de elaborar normas que impeçam ou restrinjam o acesso aos órgãos do Poder Judiciário � Contraditório e ampla defesa – CF, art. 5.º, LV – mais relevante corolário do devido processo legal – o contraditório exige que as partes tomem conhecimento de todos os fatos que venham a ocorrer durante o curso do processo, podendo se manifestar sobre eles, ou seja, garante oportunidade à parte de falar sobre as alegações do outro litigante e de fazer prova contrária – por ampla defesa deve-se entender o conjunto de meios adequados para o exercício do contraditório OBS.: 1) Conseqüências: (Humberto Theodoro Júnior) a) a sentença só afeta as pessoas que foram parte no processo, ou seus sucessores; b) só há relação processual completa após a regular citação do demandado; c) toda decisão só é proferida depois de ouvidas ambas as partes. 2) Contraditório diferido ou de exercício protelado ou postecipado – medidas liminares inaudita altera parte • Motivação das decisões judiciais – CF, art. 93, IX – toda decisão judicial deve ser fundamentada, sob pena de nulidade – proteção ao interesse das partes e ao interesse público – controle da atividade jurisdicional – fundamentação adequada (decisão mal fundamentada equivale a decisão não fundamentada) • Tempestividade da tutela jurisdicional – CF, art. 5.º, LXXVIII, acrescentado pela EC n.º 45/04 – o processo não deve demorar mais do que o estritamente necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados por força da garantia do devido processo (Alexandre Freitas Câmara) – CF, art. 93, II, “e” 3.2. Princípios informativos do processo civil � Dispositivo/inquisitivo – a iniciativa da abertura do processo é da parte e o impulso é oficial, ou seja, do juiz, que promove o andamento do feito até o final sem necessidade de provocação das partes – em matéria de provas o sistema é misto: iniciativa das partes e por determinação do juiz (artigo 130 do CPC) OBS.: Derivações do princípio dispositivo: princípio da demanda (artigo 2.º, CPC – não há instauração de processo pelo juiz ex offício) e princípio da congruência ou da adstrição (artigo 128, CPC – o juiz fica limitado ao pedido da parte, apreciando e julgando a lide nos termos em que for proposta) – necessidade de preservar a neutralidade do juiz � Recorribilidade e duplo grau de jurisdição – regra geral, a parte tem o direito de ter sua pretensão conhecida e julgada por dois juízos distintos, mediante recurso, caso não se conforme com a primeira decisão – exceção: feitos de competência originária de tribunais � Boa-fé e lealdade processual – a lei não tolera a má-fé – o juiz tem poderes para atuar contra a fraude processual (art. 129, CPC) e contra a litigância de má-fé (arts. 16 a 18, CPC) � Verdade real – não há valoração prévia de provas em nosso direito – o juiz forma o seu convencimento livremente e tem poderes para buscar a verdade real no processo, determinando a produção das provas que entender necessárias à elucidação dos fatos – busca da justiça – a decisão, entretanto, deve se basear nos fatos e circunstâncias que constam dos autos e a sentença deve ser obrigatoriamente fundamentada � Oralidade – mitigada – identidade física do juiz (art. 132 do CPC), concentração (produção de provas e julgamento na mesma audiência) e irrecorribilidade das decisões interlocutórias � Publicidade – CF, art. 93, IX – exceção: processos que correm em segredo de justiça (art. 155, CPC) � Economia processual – obtenção do maior resultado possível, com o mínimo de atividade – princípio intimamente ligado à celeridade processual � Eventualidade oupreclusão – o processo é feito de fases, cada uma preparando a seguinte e, uma vez passando para a fase posterior, não é possível retornar à fase anterior – o processo caminha para a frente – a preclusão é a perda da faculdade de praticar um ato processual em razão de já ter sido exercido esse direito ou de ter passado o momento adequado para fazê-lo DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Código de Processo Civil – Lei n.º 5.869, de 11/01/1973 Livro I – Do processo de conhecimento Título I – Da Jurisdição e da Ação Capítulo I – Da Jurisdição JURISDIÇÃO – artigos 1.º e 2.º do CPC 1. Conceito � Acepções • Poder – capacidade de decidir imperativamente e de impor suas decisões • Função – dever – encargo que o Estado tem de “dizer o direito”, de promover a pacificação dos conflitos realizando o direito justo • Atividade – atos que os órgãos do Poder Judiciário praticam no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe confere � Poder-dever – poder jurisdicional/dever de jurisdição � Humberto Theodoro Júnior – função estatal – “é a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida”. � Chiovenda – caráter substitutivo – “função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva”. � Carnelutti – lide – “função de busca da justa composição da lide”. 2. Características � Substitutividade – “atividade secundária” � Imparcialidade – “atividade desinteressada do conflito” � Instrumentalidade � Inércia – “atividade provocada” � Presença de lide (controvérsias) � Definitividade (controvérsias) 3. Princípios � Juiz natural � Demanda � Oficialidade � Indeclinabilidade � Indelegabilidade � Inevitabilidade � Improrrogabilidade � Inafastabilidade 4. Espécies CUIDADO! A jurisdição é uma e indivisível. Fala-se em “espécies” apenas para fins didáticos. � Civil e Penal – quanto ao tipo de pretensão submetida ao Estado-Juiz � Inferior e Superior – quanto ao grau em que é exercida � Comum e Especial – em relação ao órgão que a exerce � De direito e De eqüidade – quanto à fonte do direito � Contenciosa e Voluntária – critério da forma CUIDADO! Controvérsias a respeito da Jurisdição Voluntária (ou graciosa) – “nem é jurisdição nem é voluntária” – ausência de “lide” – “interessados” em lugar de “partes” – inexistência de “coisa julgada material” – não há “ação e processo”, mas “requerimento e procedimento” – “administração pública de interesses privados” – “atividade estatal de integração e fiscalização” 5. Escopos � Sociais – promoção do bem comum – eliminação dos conflitos – pacificação com justiça – incentivo à consciência dos direitos próprios e respeito aos alheios � Jurídicos – atuação da vontade concreta da lei – manutenção da integridade do ordenamento jurídico � Políticos – afirmação do poder estatal – assegurar a observância dos direitos fundamentais dos jurisdicionados – participação do jurisdicionado nos destinos da sociedade Análise dos artigos 1.º e 2.º do CPC com base no que foi estudado Capítulo II – Da Ação AÇÃO – artigos 3.º a 6.º do CPC 1. Conceito � Acepções • Direito público subjetivo – direito de provocar a jurisdição – direito ao processo – “pretensão à tutela jurídica” (Pontes de Miranda) � Teoria concretista – o direito de ação se confunde com o mérito, ou seja, só existe de for reconhecida a existência do direito material no resultado do processo � Teoria abstrativista – o direito de ação é abstrato, existe sempre, pouco importa o resultado obtido no processo (existência ou não do direito material) � Teoria eclética – Liebman – natureza abstrata – o direito de ação existe ainda que o demandante não seja titular do direito material afirmado, mas considera a existência de uma categoria estranha ao mérito da causa, as “condições da ação”, que seriam requisitos do direito de agir • Exercício do direito – “ação exercida” – “ação processual” – “demanda” – “pleito” – “causa” – nesse sentido a ação é sempre concreta, porque relacionada a determinada relação jurídico-substancial – “direito de demandar” 2. Elementos da ação – dados de identificação da ação Importância: identificar a presença de litispendência, de coisa julgada etc. – artigo 301, § 2.º, CPC – “tríplice identidade” � Partes – sujeitos � Causa de pedir � Pedido remota – fatos próxima – fundamento jurídico imediato – prestação jurisdicional mediato – tutela do bem da vida 3. Condições da ação Observações importantes: A) O CPC adotou a concepção eclética sobre o direito de ação – Enrico Tullio Liebman – direito ao julgamento do mérito da causa, porém condicionado ao preenchimento de determinadas condições, que devem ser verificadas à luz da relação jurídica deduzida em juízo – “condições da ação” B) Para Alexandre Câmara, são “requisitos do provimento final” C) A ausência de qualquer das “condições da ação” gera o fenômeno da “carência de ação” e a conseqüente extinção do processo “sem resolução do mérito” – exame preliminar à apreciação do mérito e em caráter prejudicial D) Artigos: 3.º, 267, I e VI e 295, I, II, III e parágrafo único, III, todos do CPC � Possibilidade jurídica (do pedido/da demanda) – adequação entre a pretensão posta em juízo e o ordenamento jurídico – Cândido Dinamarco: a impossibilidade jurídica pode estar no pedido, na causa de pedir ou mesmo nas partes � Interesse de agir ou interesse processual – representada pelo trinômio “necessidade/utilidade/adequação” – controvérsias sobre o “interesse- adequação” (questão de forma – sanável) – artigo 4.º do CPC – “ações constitutivas necessárias” � Legitimidade ad causam – pertinência subjetiva da lide • Ordinária – colhe-se a partir do exame da relação jurídica material – defende em nome próprio interesse próprio • Extraordinária – ficção da lei – substituição processual (controvérsias – há quem faça distinção) – legitimação anômala – defende em nome próprio interesse alheio – somente quando houver expressa previsão legal CUIDADO! Legitimidade extraordinária ≠≠≠≠ representação processual 3.1. Momento de verificação das condições da ação � Teoria da asserção – a verificação das condições da ação é feita quando do recebimento da petição inicial – juízo de admissibilidade inicial do procedimento – análise feita à luz das afirmações feitas pelo demandante – se positivo o juízo de admissibilidade, tudo o mais seria decisão de mérito – grande aceitação doutrinária � Vertente eclética – por serem condições de existência, devem estar presentes em todos os momentos do processo – se em qualquer momento faltar uma das condições, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, conforme o artigo 267, VI, do CPC – o CPC adotou esse entendimento: § 3.º do art. 267, do CPC OBS.: A carência de ação é matéria de ordem pública – pode ser reconhecida no exame da petição inicial (primeiro exame de admissibilidade – art. 295 do CPC) – pode ser reconhecida depois da citação do réu, caso este a alegue (art. 301, X, CPC – neste caso não é mais hipótese de indeferimento da petição inicial, mas de julgamento conforme o estado do processo – art. 329, CPC) – a partir daí, pode ser reconhecida a qualquer tempo, de ofício (exceto emgrau de recurso especial ou extraordinário, por falta de prequestionamento) 4. Classificação das ações (considerando a espécie e natureza de tutela que se pretende do órgão jurisdicional) � Ação de cognição • Ação condenatória • Ação constitutiva • Ação meramente declaratória � Ação de execução � Ação cautelar OBS.: ações mandamentais e ações executivas lato sensu DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Código de Processo Civil – Lei n.º 5.869, de 11/01/1973 Livro I – Do processo de conhecimento Título II – Das partes e dos procuradores Capítulo I – Da capacidade processual 1. Do processo e do procedimento � Teoria da relação jurídica processual – Oscar von Bülow – o processo é uma relação jurídica – relação intersubjetiva (entre pessoas), dinâmica, de direito público e que tem seus próprios sujeitos e requisitos (pressupostos processuais) – tem como conteúdo outra relação jurídica (a de direito material) e como finalidade permitir a apreciação desta pelo Estado-Juiz – a mais aceita pela doutrina atual � Teoria do processo como entidade complexa – Cândido Rangel Dinamarco – “o procedimento, realizado em contraditório, animado pela relação jurídica processual” – procedimento realizado em contraditório (aspecto extrínseco) + relação jurídica processual (aspecto intrínseco) � Processo e procedimento para Humberto Theodoro Jr. – “processo é o método, isto é, o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público, enquanto procedimento é a forma material com que o processo se realiza em cada caso concreto” � Processo e procedimento para Alexandre Câmara – “o processo é uma entidade complexa, de que o procedimento é um dos elementos formadores” � Configuração gráfica da relação jurídica processual – divergências – doutrina majoritária: triangular 2. Pressupostos processuais � “são aquelas exigências legais sem cujo atendimento o processo, como relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente” – “são dados reclamados para análise de viabilidade do exercício do direito de ação sob o ponto de vista estritamente processual” (Humberto Theodoro Jr.) E - J A R CUIDADO! Conforme afirma Humberto Theodoro Jr., os pressupostos processuais são requisitos jurídicos para a validade da relação processual e as condições da ação são requisitos a observar, depois de estabelecida a relação processual, para que o juiz possa solucionar a lide (mérito) � Pressupostos de existência e pressupostos de validade do processo: • Pressupostos de existência • Pressupostos de validade � Partes • O processo se instaura mesmo antes de o demandado ser citado. Entretanto, é necessário que haja a indicação do mesmo, pois a propositura de uma demanda sem indicação do demandado ou indicando, por exemplo, como demandado, uma pessoa já falecida, fatalmente levará à conclusão de que se está diante de um processo inexistente • A capacidade de ser parte (pressuposto de existência) está relacionada à própria capacidade de direito, ou seja, todo aquele que tiver aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações terá capacidade de ser parte – (pessoa física, pessoa jurídica, espólio, massa falida, condomínio etc.) • A capacidade processual, ou capacidade para estar em juízo (legitimatio ad processum), refere-se à capacidade de fato ou de exercício, que segue as regras de direito civil, ou seja, a incapacidade civil deve ser suprida pela assistência ou pela representação para que se possa postular em juízo (arts. 7.º, 8.º e 9.º) – a incapacidade é vício que não extingue de imediato o processo, sendo sanável na forma do art. 13 do CPC • A capacidade postulatória (capacidade técnica) é a “aptidão para dirigir petições ao Estado-Juiz” e, em regra, refere-se à figura do advogado Partes – capacidade de ser parte Juiz – órgão investido de jurisdição Demanda – ato de pedir Juiz – competência e imparcialidade Demanda – apta – respeito ao formalismo processual – regularidade formal Partes – capacidade processual e capacidade postulatória OBSERVAÇÕES: a) Substituição processual � Regra geral: a titularidade da ação vincula-se à titularidade do pretendido direito material subjetivo envolvido na lide – exceção: art. 6.º, CPC (substituição processual – só quando autorizado por lei) – conexão de interesse entre a situação jurídica do substituto e a do substituído � Poderes do substituto – amplos em relação aos atos e faculdades processuais – não compreendem atos de disposição do direito material (confissão, transação etc.) � Conseqüência importante: coisa julgada – forma-se em face do substituído, mas, diretamente, recai também sobre o substituto – essa regra vale para ações individuais b) Curador especial – curador à lide – art. 9.º do CPC – representante especial para atuar apenas no curso do processo – não é parte – poderes de representação legal da parte em tudo que diga respeito ao processo e à lide nele debatida – não pode transacionar, renunciar, etc. – faculdade de produzir defesa por negação geral – munus processual (não dá direito a exigir honorários da parte representada) c) Regramento processual das pessoas casadas – arts. 10 e 11 do CPC d) Capacidade processual das pessoas jurídicas – art. 12 do CPC – Súmula 644 do STF e) Incapacidade processual e irregularidade de representação – abrange a capacidade postulatória – art. 13 do CPC – suspensão do processo – prazo para sanar o vício – providências � Juiz • Um órgão devidamente investido de jurisdição é pressuposto para que o processo possa existir; não há processo quando se postula perante órgão sem tal investidura (ex.: delegado, magistrado aposentado) • Para que o processo possa se desenvolver validamente, é necessário que o órgão seja competente e imparcial. Faltando competência e/ou imparcialidade, o processo não se extingue, porém deverá ser remetido para julgamento por órgão devidamente competente e imparcial para julgamento � Demanda • Para que um processo se instaure, é necessário que haja uma provocação, ou seja, que alguém pratique um ato, consistente na apresentação ao órgão jurisdicional, de uma petição inicial • O que caracteriza uma demanda (“ação exercida”) é a presença de partes, pedido e causa de pedir, ou seja, a petição inicial deve obedecer a uma regularidade formal para que o processo possa se desenvolver validamente • Há autores que tratam ainda de outros requisitos processuais objetivos intrínsecos (formalismo processual – citação, respeito ao contraditório, intimações, escolha correta de procedimento, existência de procuração nos autos etc.) e de requisitos processuais extrínsecos ou negativos (inexistência de litispendência, coisa julgada, perempção, convenção de arbitragem, nulidades previstas no ordenamento processual etc.), afirmando que a ausência deles também impede o desenvolvimento válido do processo Capítulo II – Dos deveres das partes e dos seus procuradores – arts. 14 a 35 do CPC 1.Partes do processo � Partes da demanda e partes do processo � “Parte, portanto, em sentido processual, é o sujeito que intervém no contraditório ou que se expõe às suas conseqüências dentro da relação processual” (Humberto Theodoro Júnior) � Autor – adquire a qualidade de parte do processo pelo ajuizamento da demanda � Réu – adquire a qualidade de parte do processo pela citação � Outros – sucessão processual, intervenção de terceiros 2. Deveres das partes e dos procuradores � “Cabe às partes o dever deauxiliar o juízo no descobrimento da verdade e na efetivação das decisões judiciais, sem utilizar expedientes antiéticos” (Alexandre Freitas Câmara) – arts. 14 e 15 do CPC � Responsabilidade por dano processual – subjetiva – arts. 16 a 18 do CPC � Responsabilidade por despesas processuais – arts. 19 a 35 do CPC • Princípio da sucumbência – responsabilidade objetiva do vencido – art. 20, CPC • Princípio da causalidade – é responsável pelas despesas processuais aquele que deu causa à instauração do processo • Fixação de honorários advocatícios Capítulo III – Dos procuradores – arts. 36 a 40 do CPC 1. Advogado � “essencial à administração da justiça” – CF, art. 133 � Capacidade postulatória – pressuposto processual – essencial ao regular desenvolvimento do processo � Lei 8.906/94 – Estatuto da OAB � Atuação em juízo – procuração – mandato judicial – exceção: art. 37, CPC � Procuração geral para o foro (ad juditia) – instrumento público ou particular – poderes especiais � Direitos do advogado – art. 40, CPC Capítulo IV – Da substituição das partes e dos procuradores – arts. 41 a 45 do CPC 1. Substituição de parte � Só em casos expressos em lei – art. 41, CPC � Art. 42 – mudança na situação jurídica material, mas não na formal (esta só se a parte contrária consentir – § 1.º) – é possível a intervenção como assistente � Sucessão causa mortis – art. 43 – não ocorre no caso de ação intransmissível (direito personalíssimo) – suspensão do processo para habilitação 2. Substituição do advogado � Pode ser provocada pela parte ou pelo causídico – arts. 44 e 45 do CPC � No caso de morte ou incapacidade do advogado – suspensão do processo – 20 dias para regularização pela parte – art. 265, § 2.º, CPC
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