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DISCIPLINA ONLINE - UNIP 3º Período/2018 - MÓDULO 1 - FORMAÇÃO CONSTITUCIONAL DO BRASIL.

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DISCIPLINA ONLINE PROFO. ROMMEL DE SÁ - 3° PERÍDO/2018 - DIREITO
DIREITO CONSTITUCIONAL - ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES
Aluna: Izabel Cristina Muniz dos Santos
MÓDULO 1 – FORMAÇÃO CONSTITUCIONAL DO BRASIL
Exercícios
1. O Direito Constitucional
 Antes de tudo, é necessário situar o Direito Constitucional no âmbito da Ciência do Direito, definir seu objeto e as suas várias vertentes sob as quais analisa o seu objeto.
 O Professor José Afonso da Silva (2007, p. 34) define o Direito Constitucional como “o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”.
Como adiante veremos, a Constituição de um Estado traça a organização fundamental de uma sociedade, suas estruturas básicas de poder, os Direitos Fundamentais e os órgãos de poder, logo, a disciplina do Direito que tem por objeto o estudo dessas normas fundamentais acaba por categorizá-lo, também, como Direito Público Fundamental.  Dentro da grande divisão das disciplinas do Direito, o Direito Constitucional se insere dentro do Direito Público.
O Direito Privado disciplina as relações jurídicas entre particulares, nas quais predomina a autonomia da vontade, ou seja, o que as partes convencionaram é o que prevalece, se não houver lei proibindo.
 Já no Direito Público, nas relações jurídicas, prepondera a vontade da lei e não das partes, geralmente são relações de subordinação do interesse privado ao interesse público, seu conteúdo visa um interesse geral e não particular.
Outra questão importante é saber que o Direito Constitucional estuda o seu objeto, a Constituição, sob pelo menos três prismas, como bem informa o professor José Afonso da Silva:
a)  Direito Constitucional Positivo: que tem por objeto o estudo específico de uma determinada constituição de um determinado estado;
b)  Direito Constitucional Comparado: que tem por objeto o estudo comparado de duas ou mais constituições, vigentes ou não, de dois ou mais Estados; e,
c)  Direito Constitucional Geral: que tem por objeto a sistematização dos estudos a respeito de uma teoria geral do Direito Constitucional, seus institutos próprios, a identificação das categorias gerais, comuns, às diversas constituições.
 1.1 Constituição: conceito, classificação e elementos.
A pergunta essencial: o que é uma constituição? Pode não ser tão simples de se responder como incialmente possa parecer, pois na doutrina, há tratados profundos sobre o tema e pontos de vistas distintos.
O próprio nome pode ser variável, ou seja, vários signos podem ter o mesmo sentido. Por exemplo, é comum vermos na doutrina as expressões: texto constitucional, carta suprema, carta fundamental, carta magna, lei das leis, entre outras, significando, todos eles, a mesma coisa.
Outro ponto importante é que “o que é uma constituição” tem também o seu sentido variável no tempo, quanto maior o recorrido histórico que se faça, mais sentidos e conceitos do que é uma constituição se terá, de maneira que é impossível convir a um único conceito definitivo.
 Todavia, por uma questão didática e sem ter a pretensão de exaurir o conceito e o sentido da expressão, de uma maneira geral, compreende-se que uma constituição é a norma suprema, a mais importante que está em vigor em um determinado Estado ou sociedade politicamente organizada.
Sem sombra de dúvidas, essa é uma noção exclusivamente jurídica, mas uma constituição é muito mais que uma norma jurídica. Logo adiante veremos alguns conceitos do que é uma constituição, de forma que o candidato ao exame de ordem possa ter, sinteticamente, uma noção, a mais completa possível, do que é uma constituição.
1.1.1 Conceito:
 Constituição é o conjunto de normas, da mais alta hierarquia, que organiza os elementos constitutivos do Estado (Povo, Território, Finalidade e Soberania), é a Lei Fundamental de uma determinada sociedade organizada politicamente. Como afirma Bulos (2007. p.28), “as constituições revelam a particular maneira de ser do Estado.”. Se desejamos saber como uma sociedade (Estado) está organizada, devemos iniciar nosso estudo por sua constituição.
A constituição regula a Forma de Estado, a Forma de Governo, o modo, aquisição e exercício do poder, estabelece ainda órgãos, direitos fundamentais e suas garantias.
 Acima dissemos que constituição não é apenas uma norma jurídica, ou que, não existe apenas um conceito ou acepção do que é uma constituição, agora, vamos ver em quais sentidos podemos entender o que é uma constituição. Todas essas acepções completam-se no explicar o que é uma constituição.
1.1.2 Concepções
A constituição, então, pode ser entendida de várias maneiras:
a) Sentido Sociológico: é a somatória dos fatores reais do poder operantes dentro de uma sociedade. Este sentido está relacionado à legitimidade de uma constituição, a sociedade tem vários núcleos de poder como os sindicatos, os partidos, as igrejas, os militares, o poder econômico, etc. A Constituição legítima é aquela que representa a maior parcela da sociedade. Esta concepção aponta um valor atual da Constituição, pois o seu conteúdo não pode ficar estagnado no tempo, pois a sociedade muda. Assim, é necessário que a constituição seja adequada a cada momento histórico de uma dada sociedade, o que pode ser feito com ou sem alteração de texto (emendas constitucionais ou interpretação do texto). A ideia de Constituição Sociológica é de Ferdinand Lassalle.
b) Sentido Político: constituição só se refere à decisão política fundamental, ou seja, modo, forma do Estado e direitos fundamentais. Tudo que estiver no texto da constituição, mas que não disser respeito à decisão política fundamental (organização do Estado, dos poderes e direitos e garantias fundamentais), não é, propriamente, constituição, mas lei constitucional. Assim, como explica a doutina, analisando os textos de Carl Schmitt, se faz uma distinção entre constituição (decisão fundamental) e leis constitucionais (quaisquer outros assuntos que não sejam decisão fundamental).
c) Sentido Material: importa o conteúdo da norma. Pode haver norma constitucional fora da constituição. Sob o aspecto material, qualquer norma que trate de questões relativas à organização fundamental do Estado é constituição, não importando que esteja em um texto solene ou não.
d) Sentido Formal: já no sentido formal interessa a forma de nascimento da norma, se foi produzida como um documento solene, diferenciado em relação aos demais, indicando o peculiar modo de ser de um Estado e tudo o mais que a decisão política fundamental entendeu por bem inserir nesse mesmo texto. Nesse sentido, não importa o teor da norma, o seu conteúdo, mas simplesmente o fato de constar de um texto solene chamado de constituição. Ex.: Colégio D. Pedro II do RJ (art. 242, § 2º). Não há nada de fundamental neste texto, mas por constar no texto da constituição brasileira de 1988 é norma constitucional, portanto, faz parte da constituição, e somente pode ser alterado por emenda constitucional.
e) Sentido Jurídico: Constituição é mundo do “dever ser”, norma pura, sem conexão sociológica, política ou filosófica, como pensava Hans Kelsen. A constituição é um ato de vontade de seus criadores, simples imposição coercitiva que organiza o Estado. Há uma hierarquia lógica da constituição, fundada na ideia de que existe uma norma fundamental hipotética (que diz que devemos obedecer à constituição e que dá validade à constituição jurídico-positiva), esta sendo a norma positiva suprema, a mais alta norma do Estado.
Sob a concepção jurídica, em sentido lógico-jurídico, constituição é uma norma hipotética fundamental, uma norma superior à própria constituição vigente que lhe fundamento de validade.
Ainda sob o prisma jurídico, a constituição também pode ser entendida como jurídico-positiva: a norma escrita, suprema, de uma determinada sociedade.
 f) Sentido Culturalista: a constituição é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade que influenciou o seu texto, mas que também por ela é influenciada.1.1.3 Classificação
 A classificação das constituições não é exaustiva, procura atender com maior proximidade ao que é exigido nos concursos e exame de ordem, além do que, não existe propriamente uma classificação certa ou errada, mas busca-se com as classificações compreender um pouco mais do objeto de estudo, observando-o da forma mais analítica possível e sob os mais diversos pontos de vista.
Assim, as classificações que se estabelecem a seguir são aquelas que mais têm sido exigidas nos concursos e exame de ordem e que, certamente, irá ajudar o aluno a melhor fixar o entendimento do que é uma constituição. Vejamos:
Quanto à origem:
a) Outorgadas: são aquelas impostas unilateralmente por uma pessoa ou grupo de pessoa, sem consulta ao povo. Ex. Constituição brasileira de 1967.
b) Promulgada: é a constituição democrática, votada ou popular – são constituições cuja origem se dá numa assembleia constituinte, escolhida pelo povo, que elabora a constituição. Ex. Constituição brasileira de 1988.
c) Cesarista – constitui-se em projeto prévio elaborado por uma pessoa e aprovado por referendo (consulta popular) – Constituição do Chile de Pinochet.
d) Pactuadas: são aquelas em que mais de um titular do poder originário realizam um pacto para estabelecer uma constituição, geralmente entre realeza e legislativo. Ex. Magna Carta de 1215 João Sem Terra e Barões.
Quanto à forma:
 a) escritas: são aquelas formadas por um único texto ou documento solene. Ex. Constituição dos Estados Unidos da América e do Brasil.
b) costumeiras: suas regras se encontram em mais de um texto, não solene nem codificado, formadas através dos usos e costumes. Ex. Constituição da Inglaterra.
Quanto à extensão:
a) sintéticas ou enxutas: são veiculadoras apenas de princípios fundamentais e estruturais do Estado, sem quaisquer outras disposições inúteis ou que não tratem de decisão fundamental. Ex. Constituição dos Estados Unidos da América.
b) analíticas ou prolixas: são constituições minuciosas, todo assunto que foi tido por fundamental foi inserido no texto, normalmente são repetitivas. Ex. Constituição do Brasil.
Quanto ao conteúdo:
a) material: materialmente constitucional será aquele texto que contiver as normas fundamentais à estrutura do Estado, organização, direito e garantias fundamentais;
b) formal: é aquela constituição que elege como critério o processo de formação e não o conteúdo da norma, tudo o que nela estiver contido é constitucional.
Quanto ao modo de elaboração:
a) dogmáticas: são sempre escritas, consubstanciam dogmas estruturais do estado, feita por um órgão constituinte. Ex. Constituição do Brasil.
b) históricas: formadas através de um lento e contínuo processo de formação. Ex. Constituição da Inglaterra.
Quanto à alterabilidade ou estabilidade:
a) rígidas: são aquelas que exigem um processo de alteração solene, mais rígido que para as normas em geral. O quórum de votação e provação é maior, as etapas de discussão mais amplas.
b) flexíveis ou plásticas: são aquelas que o processo de alteração é igual ao das leis ordinárias ou infraconstitucionais, ou seja, o texto constitucional pode ser alterado de maneira mais simples.
c) semi-rígidas: são aquelas que algumas matérias exigem processo solene de alteração (rígida), e outras não (flexíveis).
d) imutáveis: são constituições inalteráveis.
 e) super-rígida: em alguns pontos é rígida, pode ser alterada, mas exige um procedimento solene, em outros é imutável, ou seja, não pode ser alterada.
Quanto à essência:
a) Normativas: são aquelas que formadas a partir de sua conexão com o fato social, ou seja, produzidas de acordo com a vontade do povo;
b) nominais: são aquelas que se constituem num projeto voltado para o futuro, a ser realizada em outro momento histórico;
c) semântica: são constituições idealizadas para proteger e beneficiar aqueles que detêm o poder econômico, social ou de força.
Quanto à ideologia:
a) ortodoxa: são aquelas elaboradas com base em uma única ideologia, como a da China Marxista e da Soviética de 1977.
b) eclética: são aquelas que consagram diversas ideologias, buscando conciliá-las.
Fala-se, ainda, em:
a) Constituição heterônoma: constituição que foi decretada fora do Estado, por outro Estado ou um Organismo Internacional (Constituição Japonesa de 1946);
b) Constituição autônoma: aquela produzida pelo próprio Estado;
c) Constituição Dirigente: é aquela que estabelece um plano de governo, uma direção, não importando o partido que exerce o governo no momento;
d) Constituição garantia: é aquela que prioriza a defesa e a garantia das liberdades;
e) Constituição balanço: é a constituição que registra um estágio da sociedade, reflete o grau de evolução social.
A partir desse estudo, podemos, então, classificar a Constituição Brasileira de 1988 em:
a) Promulgada;
b) escrita;
c) analítica;
d) formal;
e) dogmática;
f) rígida ou super rígida;
g) normativa;
h) eclética;
i) autônoma;
j) dirigente;
1.1.4 Objeto e Conteúdo
Conforme ensina José Afonso da Silva, o objeto da constituição é estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais.
Afirma, ainda que o conteúdo das constituições venha se alterando historicamente, pois o que é considerado fundamental como integrante de seu texto tem mudado de tempos em tempos, de maneira que o que hoje é considerado como conteúdo básico para um documento ser intitulado de constituição, em épocas passadas não o era, ao menos de forma tão extensa como é atualmente.
1.1.5 Elementos
Alguns doutrinadores nomeiam-nos de elementos mínimo-irredutíveis das constituições e outros de elementos das constituições, com isso querendo dizer que se trata de conteúdos mínimos e não passíveis de redução que devem existir dentro do texto da constituição para que assim seja, então, considerada. Se não existirem, não podemos falar propriamente de constituição.
São eles:
a) Orgânicos: são normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder, por exemplo: art. 1º, art. 18, art. 25, 29, 44 e ss., 76, 77, 92 da Constituição do Brasil.
b)  Limitativos: são normas que compõem o elenco de direitos e garantias fundamentais, impondo um limite a atuação estatal: art. 5º a 17, 153 da CF/88.
c) Socioideológicos: constitui-se das normas que revelam a opção do Estado Individualista ou Social, os fins sociais e econômicos, que realizam ou não a justiça social: arts. 3º, 6º, 170 da CF/88.
d) De Estabilização Social: são normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do estado, das instituições democráticas objetivando a paz: arts. 34 a 37 e 136, 137 da CF/88.
e) Formais de Aplicabilidade: são normas que estabelecem regras de aplicação das normas das constituições e de formação das normas em geral que a ela darão aplicabilidade e eficácia: art. 24, § 1º a 4º, art. 59 a 69 da CF/88.
f)  De transição constitucional: são aqueles constituídos de normas transitórias, cuja aplicação se exaure no tempo, esgotando sua aplicabilidade. Ex. as normas que compõem o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
 1.2 Históricos das Constituições Brasileiras.
Nossa história constitucional é bastante prolixa e reflete bem as variações políticas profundas porque passamos ao longo de pouco mais de um século e meio (1824 a 1988). De Estado Ditatorial a Estado Democrático e em sentido inverso, não foram poucas as vezes que assim ocorreu.
Podemos afirmar que tivemos sete constituições e uma Emenda Constitucional equivalente a uma nova constituição (Emenda nº 1/69), sendo que destas as 1824, 1937, 1967 e Emenda nº 01/69, podem ser consideradas outorgadas e, portanto, totalitárias, e tivemos as de 1891, 1934, 1946 e 1988 que foram promulgadas e, portanto, democráticas.
Vejamos, a seguir,sucintamente, os principais pontos de cada uma dessas constituições.
 1.2.1 Constituição de 1824
Foi a primeira constituição brasileira e que surgiu logo após a independência ocorrida em 1822.
A Constituição do Império foi jurada em 25 de março de 1824 e elaborada por um conselho nomeado pelo Imperador D. Pedro I.
O texto da nova constituição estabeleceu a forma unitária de Estado, cujas capitanias hereditárias foram transformadas em províncias (art. 2º), e a forma monárquica de governo, que era hereditário, constitucional e representativo (art. 3º). Estabeleceu a religião oficial como sendo a Católica Apostólica Romana, admitindo, todavia, os cultos domésticos de outras religiões.
Estabeleceu-se a forma quadripartite de divisão de funções de poder, criada por Benjamin Constant, influenciado por Clermont Tonerre.
O Poder Legislativo correspondia à Assembleia Geral, formada por Câmara de Deputados e Câmara de Senadores, estes eleitos após escolha em lista tríplice indicada pelo Imperador.
O Poder Executivo era exercido pelos Ministros de Estado e chefiado pelo Imperador.
O Poder Judiciário era exercido por Juízes e Jurados, garantindo-se aos primeiros a vitaliciedade. O órgão de cúpula era o Supremo Tribunal de Justiça.
O Poder Moderador era a “chave” do sistema de poder do Império e da constituição. Era exercido pelo Imperador, Chefe Supremo da Nação e Primeiro Representante, sendo sua figura sagrada e inviolável, não respondendo por qualquer ato. Como Poder equilibrador das demais funções, podia: dissolver a Câmara dos Deputados, nomear Senadores, suspender magistrados, nomear e demitir livremente Ministros de Estado, entre outras formas absolutas de poder.
O voto era censitário e indireto, com base na riqueza. Havia um rol de direitos fundamentais, mas se mantinha a escravidão. Era uma constituição semirrígida, pois, na parte que não era essencialmente norma fundamental, podia ser alterada livremente, sem o processo solene de emenda à constituição.
1.2.2 Constituição de 1891
Com a proclamação da República houve a necessidade de se elaborar uma nova constituição, o que ocorreu em 24 de fevereiro de 1891.
A nova Constituição estabeleceu a forma federativa de Estado, a forma republicana de governo, tendo ainda transformado as antigas províncias do Império em Estados federados. O Município do Rio de Janeiro transformou-se em Distrito Federal.
Estabeleceu a forma tripartite de poder: Poder Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional, formado por Câmara de Deputados e Senado Federal, o Poder Executivo, exercido pelo Presidente da República, eleito diretamente e o Poder Judiciário, cujo órgão de cúpula passou a ser o Supremo Tribunal Federal.
Houve ampliação da declaração de direitos, com inclusão do “habeas corpus”, e profunda separação entre a Igreja e o Estado.
1.2.3 Constituição de 1934
A terceira constituição brasileira, promulgada em 16 de julho de 1934, manteve a estrutura básica da constituição anterior, como a tripartição de poderes, alterando o Poder legislativo, que passou a funcionar basicamente pela Câmara dos Deputados.
Estabeleceu o voto feminino quando estas exercessem função pública, instituiu o mandado de segurança e ação popular.
O Poder Judiciário passou a ser composto pela Corte Suprema (antigo Supremo Tribunal Federal), Justiça Federal, Justiça Militar e Justiça Eleitoral.
Estabeleceu, ainda, a ordem econômica e social.
1.2.4 Constituição de 1937
Conhecida como constituição polaca, tratou-se de um retrocesso, instituindo uma verdadeira ditadura sob todos os sentidos, já que praticamente instituiu um federalismo nominal, sem efeitos concretos, pois o Presidente da república concentrava extremos poderes.
Outorgada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937 instalou o denominado “Estado Novo”, com a redução dos direitos fundamentais, desconstitucionalização do mandado de segurança e da ação popular, criou os decretos-leis, pelos quais o Presidente da República praticamente exercia todo o poder, legislando e aplicando as leis.
1.2.5 Constituição de 1946
Após o final da segunda guerra mundial, ocorre a redemocratização do Brasil, pois a nova constituição foi promulgada por uma assembleia constituinte em 18 de setembro de 1946.
Mantém-se a tripartição de poderes, institui-se a Justiça do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos, alçou novamente ao texto constitucional o mandado de segurança e a ação popular.
Praticamente restabeleceu os textos de 1891 e 1934, não avançando muito, além disso.
No início da década de 60, do século passado, graves crises institucionais abalam a estruturas políticas, de maneira que após o golpe militar a constituição de 1946 não mais resistiu.
1.2.6 Constituição de 1967
Antes da constituição de 1967, com a deposição do Presidente Jânio Quadros, pelos militares, estabelece-se a ordem constitucional mediante um Ato Institucional que mantém a Constituição de 1946, com várias restrições a direitos, seguidamente publicam-se novos Atos Institucionais, até ser promulgada em 24 de janeiro de 1967.
Basicamente ela estabeleceu a política de “segurança nacional” (usada como instrumento de repressão política).
O Presidente da república é eleito de forma indireta, por um Colégio Eleitoral.
Estabelece-se uma extensiva política de suspensão dos direitos individuais em inúmeras situações de perigo duvidoso.
1.2.7 Constituição de 1969, Emenda Constitucional nº 1.
A Emenda Constitucional nº 01, de 1969, foi o instrumento de outorga de uma nova constituição, que teve por objeto ser mais totalitária que a anterior, de 1967, pois suprimiu as garantias dos parlamentares, ampliou a censura às publicações, estabeleceu eleições indiretas para os governadores.
Uma parte da doutrina entende que não se trata de uma nova constituição, mas a grande maioria entende que a Emenda foi apenas uma forma anômala de outorgar uma constituição, já que o novo texto, inclusive, alterou o nome do Estado.
 A Constituição sofreu várias Emendas, sendo que a de número 26, de 27 de novembro de 1985, convocou uma Assembleia Nacional Constituinte, que foi instalada em 1º de janeiro de 1987.
1.2.8 Constituição de 1988
 A nova constituição, promulgada em 05 de outubro de 1988, foi nomeada por Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, como “Constituição Cidadã”, pois estabelece uma Nova República, cunhada nos sonhos democráticos, na consagração das liberdades públicas, nos direitos sociais e na participação política de toda a sociedade na vida do Estado.
A nova constituição possui nove títulos, consagrando uma extensa declaração de direitos e garantias fundamentais, um rol de direitos sociais, direitos políticos, uma ordem econômica e social fundadas nos valores da justiça social e da função social da propriedade e da primazia do trabalho.
 Inúmeros diretos coletivos e difusos são estabelecidos e mecanismos de sua proteção são criados.
O Ministério Público passa a ter algumas funções fundamentais na proteção da ordem democrática, da cidadania e da proteção da lei e da ordem democrática.
Essa nova Constituição previu um momento de revisão de seus termos, o que ocorreu em 1993, com seis novas Emendas de Revisão, e pelo Poder Constituinte Derivado Reformador foi alterada, até o momento por 70 Emendas Constitucionais.
1.3 Constitucionalismo
É um movimento social, político e jurídico, cujo principal objetivo é limitar o poder do Estado por meio de uma constituição.
1.3.1 Antecedentes históricos do constitucionalismo
Parte da doutrina reconhece demonstrações de Constitucionalismo na antiguidade, denominado Constitucionalismo antigo (século V). Karl Loewenstein reconheceu manifestações Constitucionalistas do povo Hebreu, na conduta dos profetas – os profetas tinham a função de controlar/fiscalizar os atos do poder público. Há demonstrações, também na Grécia Antiga, principalmente em Atenas, da existência de normas superiores, como na ação chamada “graphe paranomon” que fiscalizava os atos normativos, é o antecedente mais remoto do controlede constitucionalidade.
Na idade média em 1215 é outorgada a Magna Carta Libertatun do Rei João I (“João Sem Terra”), que definia uma série de direitos ao povo Inglês. “João Sem Terra” teve este apelido porque de todos os herdeiros foi o único que não recebeu uma parcela de terra do seu pai. Foi um tirano, um dos reis que mais instituiu impostos, contudo foi forçado pelos barões ingleses a assinar tal documento (na prática o documento não teve grande aplicabilidade, mas deixou grande legado histórico para as futuras gerações). Foi escrita em latim propositadamente para que ninguém a compreendesse. É uma constituição pactuada ou dualista, pois foi fruto de duas forças políticas (Rei da Inglaterra x Barões Ingleses). Inobstante a ausência de consequências práticas, a Magna Carta é a origem mais remota do habeas corpus e do devido processo legal. O habeas corpus não era tratado com esse nome, recebia a nomenclatura de liberdade de locomoção. O devido processo legal era tratado como a Lei da Terra, per legem terrae ou “law of the land”.
No século XVII, na Inglaterra, foram editadas leis para concretizar os direitos originariamente previstos na Magna Carta. Ex: Bill of rights (1689), petition of rights (1628) e habeas corpus act (1679). Paralelamente também tivemos os pactos, forais ou cartas de franquias voltadas para proteção dos direitos individuais.
 Nascimento do constitucionalismo moderno no final do Século XVIII surgiu a constituição Norte Americana de 1787 e a constituição Francesa de 1791. Com o advento dessas duas constituições, o constitucionalismo se espalha pelo mundo ex.: Espanha 1812 (constituição de Cádiz), Portugal 1822 (feita à revelia do rei, uma vez que ele estava no Brasil), Brasil 1824.
1.3.2 Modalidades de constitucionalismo:
a) Constitucionalismo Social – é a previsão constitucional dos direitos sociais (direitos de segunda dimensão – são aqueles que o Estado tem o dever de fazer, de agir. Ex: saúde, educação, moradia, alimentação). A primeira constituição a trazer essa nomenclatura foi a do México em 1917. A segunda e mais importante, foi a constituição alemã de 1919 (Constituição de Weimar). No Brasil surgiu na constituição de 1934.
 b) Constitucionalismo do Futuro ou “por vir” – introduzido pelo argentino José Roberto Dromi – É uma tentativa de prever o constitucionalismo das próximas gerações. Segundo ele as futuras constituições devem ser pautadas por alguns valores, tais como: Veracidade – as próximas constituições não podem fazer promessas irrealizáveis, que seguramente não serão cumpridas. Solidariedade - trata-se da colaboração recíproca, não só das pessoas, mas também dos países (solidariedade internacional). Consenso – A constituição do futuro deve ser fruto de consenso democrático. Continuidade – A constituição futura não pode deixar de levar em conta os avanços conquistados. Participação – diz respeito à efetiva participação dos corpos intermediários da sociedade. Integração – previsão de órgãos supranacionais para implementar a integração entre os povos. Universalização – Consagração dos direitos fundamentais internacionais nas constituições futuras. A constituição de 1988 diz que um dos objetivos da república é construir uma sociedade solidária. Por essa razão, Carlos Ayres Brito defende que o direito constitucional brasileiro é traduzido por um constitucionalismo solidário, previsto no art. 3º da CF:
 “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;”
c) Transconstitucionalismo – foi criada por Marcelo Neves e segundo ele é a relação entre o direito interno e o direito internacional para melhor tutela dos direitos fundamentais. Ex.: o princípio pelo qual ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo não está expressamente contido na constituição de 1988, mas está expresso no art. 8º do pacto de San Jose da Costa Rica. “Nemo tenetur se detegere”. Duplo grau de jurisdição previsto no Pacto de San Jose da Costa Rica deve ser aplicado até mesmo aos réus que são julgados em superior instância
d) Constitucionalismo Transnacional – possibilidade de uma criação de uma só constituição para vários países ex.: na Europa houve uma proposta para elaboração de uma constituição única, na ocasião, Holanda e França votaram contra esta elaboração.
e) Constitucionalismo Whig ou Termidoriano: é aquele que defende mudanças constitucionais mais lentas e historicamente graduais. Termidoriano é expressão originária da revolução francesa, o ano termidor que foi o ano da calmaria, após severas batalhas sangrentas. Whig, por sua vez, era um partido conservador inglês.
f) Neoconstitucionalismo: surgiu após a segunda guerra mundial (marco histórico), segundo o pós-positivismo (marco filosófico), tendo como marco teórico a força normativa da constituição e como principal objetivo buscar maior eficácia da constituição – impor deveres e alterar a realidade –, principalmente dos direitos fundamentais.
1.3.2.1 Consequências práticas do Neoconstitucionalismo:
- Maior importância dos princípios constitucionais;
- Aumento da jurisdição constitucional;
- Surgimento da hermenêutica constitucional – a ciência da interpretação da constituição;
- Aumento da eficácia dos direitos fundamentais; ex.: direitos sociais, mandado de injunção;
- Maior ativismo jurisdicional.
1.3.3 Constitucionalismo no Brasil
A evolução histórica do constitucionalismo no Brasil coincide com as transformações substanciais e históricas do próprio Estado, o que nos permite dizer que o constitucionalismo no Brasil pode ser dividido em seis fases.
Primeira fase – Império. Constituição de 1824 previa a existência de um Poder Moderador, tal poder poderia ser utilizado como forma de limitação do Poder.
Segunda fase – República. Constituição de 1891. Previsão da concessão de habeas corpus e controle de constitucionalidade.
Terceira fase - Constituição de 1937. Autoritatismo. Período em que se desenvolvem as ideias contrárias a um constitucionalismo.
Quarta fase - Constituições de 1946. Foi caracterizada pela diversidade e pluralismo no tocante à Assembleia Constituinte, valorizou o trabalho e a livre iniciativa. Adotou o bicameralismo. Surgem então os primórdios do postulado da justiça social e o aparecimento das linhas iniciais do Estado de Direito Social.
Quinta fase - Constituição de 1967. Perda de força do constitucionalismo, pois tal constituição conduziu ao fortalecimento do Poder Executivo, sobretudo, por propiciar mecanismo mais célere de elaboração legislativa, tornando a função do Congresso Nacional secundária.
A Constituição de 1988 - No que se refere à Constituição de 1988, destaque-se a influência direta no seu texto, do jurista português J. J. Gomes Canotilho. Na atual Constituição é clara a Consagração de Novo Estado Social de Direito, não mais admite a edição de decretos-leis pelo Presidente da República, etc.

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